8 – Novos casamentos, velhos inimigos.

         Draco acordou na manhã seguinte dando um pulo. No momento em que despertou lembrou-se de onde estava e do "perigo" que tinha corrido durante a noite, ralhou consigo mesmo por ter sido imprudente a ponto de dormir em "território inimigo". Mas suas preocupações eram infundadas, foi o que ele constatou depois de uma minuciosa analise de si mesmo. Estava tudo no lugar, inclusive seu mais novo cabelo vermelho. "Falando em cabelo vermelho... Cadê o Weasley?!", Draco pensou olhando para a cama vazia de Rony com desconfiança.

         - Draco...? – disse uma voz feminina e suave vinda da porta. – Draco! O que aconteceu com o seu cabelo?! – Gina exclamou já começando a dar risada.

         -  Oi Virgínia! Eu não te vi entrar... – ele começou a sorrir, mas logo que lembrou do estado atual do seu lindo cabelo loiro fechou a cara – Seus irmãos, eles não são umas gracinhas de cunhados?... – disse bufando.

         Ela entrou, encostou a porta silenciosamente e foi abraçar o namorado.

         - Está lindo... – ela riu aceitando o beijo afoito que Draco lhe deu.

         Ele não estava muito a fim de conversa já que desde a estação de trem ele não encostava na namorada. Tinha sido um longo ano longe dela e ele estava ansiando por recuperar o tempo perdido... Ansiando tanto que Gina achou melhor interromper.

         - Vai com calma, Draco... Estamos na minha casa... – ela disse de olhos fechados, enquanto ele dava mordidinhas em seu pescoço. Quando percebeu que ele estava conseguindo derreter seu bom senso ela realmente se afastou, dois passos para longe dele, uma distância que ela considerou segura.

         - Eu senti tanto a sua falta... – ele fez um muxoxo abraçando-a pela cintura novamente. Gina não conseguia entender como ele podia se mover tão rápido. Ele escorregou uma das mãos para baixo da cintura de Gina e com a outra mexia em seu cabelo, ela passou os braços em volta do pescoço dele aceitando passivamente seus carinhos. Um barulho de passos na escada acordou os dois e eles se separaram.

         Toc, toc! – Gina... – a voz de Hermione visivelmente constrangida soava do lado de fora – Sua mãe está reclamando da demora... Se vocês não descerem logo ela vai mandar o Carlinhos subir! – finalizou em tom de ameaça.

         Gina ajeitou a roupa amassada e Draco moveu os lábios dizendo um palavrão baixinho.

         - Pode entrar, Mione, a gente já vai...

         Quando a garota entrou, não teve nem tempo de ser cumprimentada pelos ocupantes do quarto. Ela bateu os olhos no gritante cabelo rubro de Draco e caiu na gargalhada. Antes de ficar irado, o ex-louro ficou chocado. Nunca tinha visto a "sangue ruim que se acha o máximo" dar risada como uma garota normal, e ele nunca tinha imaginado que ela risse. Gina abaixou a cabeça querendo segurar a risada. Era uma cena realmente cômica: Hermione Granger rindo abertamente da cara de Draco Malfoy. Isso era mais revoltante que um tapa, na opinião dele.

         - Ah, vamos lá, todo mundo rindo da minha cara! – ele cruzou os braços, sério – O que tem de tão engraçado nesta piadinha infantil daquela dupla de Weasleys?

         Hermione respirou fundo pra recuperar o fôlego e olhou pra Draco surpresa.

         - O que tem de engraçado? – ela não se segurou e voltou a gargalhar – Você está RUIVO Malfoy! RUIVO!

         Nesse ponto Gina não se agüentou mais e caiu na gargalhada também. Draco lançou para a namorada um olhar extremamente furioso. Era uma conspiração?!

         - As duas risonhas podem dar licença para que eu me troque? Ou além de ruivo vocês querem que eu desça de pijama? – ele disse contrariado, apontando para o pijama de Rony.

***

         -  Finalmente! Achei que você não ia mais sair daí! – protestou Gina que tinha cansado de ficar em pé e estava sentada no chão do corredor – A Hermione cansou de te esperar e já desceu...

         - E daí? Como se eu quisesse a companhia da sangue... – ele parou sob o olhar reprovador de Gina - ...da sua amiga.

         Draco deu um suspiro resignado quando entrou na cozinha e os irmãos Weasley caíram na gargalhada. Incluindo Percy, que se dividia entre uma risada histérica e uma postura adulta. O senhor Weasley e Carlinhos já tinham saído para trabalhar e Draco agradeceu aos céus por pelo menos isso. A senhora Weasley, que preparava algumas panquecas, ouviu a barulheira dos filhos e deduziu que o genro tivesse finalmente descido. "Ô menino dorminhoco", ela pensou antes de se virar para dizer bom dia.

         - Bom dia querid... Pelos deuses!! – ela exclamou com os olhos pregados nos novos cabelos de Draco. – O que te aconteceu?!

         Draco sorriu ironicamente, olhou de soslaio para os gêmeos e disse:

         - Seus filhos aqui – pôs as mãos nos ombros dos gêmeos simpaticamente – Acharam que eu precisava de um tapa no visual... "E eu acho que eles precisam de um tapa na cabeça", ele completou mentalmente.

         Molly parou na frente dos dois e deu um tapinha na cabeça de cada um, fazendo Draco rir.

         - E eu acho que vocês dois precisam crescer! – ela repreendeu sem poder conter o riso, e os gêmeos acabaram por rir também.

         Depois de comer rapidamente Draco anunciou que precisava ir embora pra cuidar de alguns assuntos legais. Sob protestos de Gina e Molly e sob apoio total de Rony de dos gêmeos Draco levantou-se e se preparou para desaparatar (ele prestou os exames necessários durante sua temporada na França), quando um "plop" desviou sua atenção. Ele não conseguia acreditar, era simplesmente o fim dos tempos, o apocalipse acontecendo em sua vida! "Não! Eu NÃO VOU ficar aqui e agüentar isso!", decidiu.

         - Se comporte! – disse mau humorado e, depois de dar um beijo na boca de Gina, "plop", desaparatou.

         O autor do primeiro "plop" olhava para todos com um olhar bastante chocado. Ele demorou alguns segundos pra organizar os pensamentos e começar a falar.

         - Bom dia pessoal... – acenou para todos ainda com a testa franzida. Ele sentou-se a mesa, cumprimentou mais intimamente Rony e Hermione e deu um beijo no rosto de Molly. Olhava discretamente com súbito interesse para Gina...

         - O que houve, querido? – Molly perguntou notando a expressão estranha do visitante.

         Ele olhou para o rosto de cada um dos presentes, terminou de mastigar seu pedaço de panqueca, afastou a franja bagunçada do rosto e disse:

         - Não é nada. É que... – ele sorriu como se um pensamento bobo lhe tivesse passado pela cabeça – Aquilo que eu ví desaparatando quando cheguei era o Malfoy ruivo?

         Todos soltaram uma risadinha aliviada e Gina, que estava sentada ao seu lado, colocou a mão no ombro do rapaz e disse pacientemente.

         - Era realmente o Draco Malfoy ruivo que você viu desaparatando. Temos algumas novidades pra te contar, Harry...

         E durante quase toda a manhã, os irmãos Weasley tentaram explicar para Harry Potter que Gina estava namorando com o Malfoy, com o consentimento dos pais dela. Essa parte ele até entendeu com facilidade.

Difícil foi explicar porque diabos ele estava ruivo...

***

         Não foi apenas Harry que estranhou o tom avermelhado das madeixas de Draco, os funcionários do Ministério da Magia, onde ele teve que ir resolver os assuntos referentes a sua casa. Ouvindo os burburinhos nos corredores, até mesmo Sirius Black quis dar uma espiadinha e não pode se furtar a um comentário.

         - Sabe, Malfoy, se você me permite dizer, meu afilhado iria adorar ver você assim...ruivo.

         - Não se preocupe, Black. – Draco disse muito contrariado – Ele já viu.

***

         Apesar de todo o escândalo do jovem senhor Malfoy ficou decido que a mansão demoraria alguns meses para ser liberada. Ele não pode fazer nada além de se conformar e alugar um apartamento pequeno no centro de Londres, num prédio para bruxos acostumados a conviver e trabalhar com trouxas. Ele não gostou muito da idéia de ter que conviver com musica trouxa (ele tinha um vizinho fanático por Oasis) e quase pirou quando soube que costumavam existir vistas de trouxas em alguns apartamentos. Mas tudo isso lhe pareceu melhor do que viver na casa dos Weasley e correr o risco de acordar um dia desses com sardas. Além do que ele achava que seria muito difícil conviver com Gina sem poder "fazer nada".

         Ele e Gina se viam quase todos os dias, Draco costumava busca-la em casa e eles passavam o dia juntos, fazendo as coisas típicas de namorados (ex: sorvete, cinema bruxo, pub´s, brigas de ciúmes e, algumas vezes, jogos de Quadribol...). Arthur nunca permitiu que Gina dormisse no apartamento de Draco, mas isso certamente não impediu que eles dessem umas "escapadas" as vezes...

Isso durante o verão, quando ele acabou, Gina resolveu ir para a Faculdade de Ciências Medi-bruxas, que ficava nos arredores de Londres. Era um curso de quatro anos e Gina não quis ir morar no campus (porque era mais caro e, claro, porque sua mãe não permitiria que a "menininha" dela ficasse longe de casa).

Draco não tinha intenção de prosseguir os estudos porque, segundo ele, cuidar dos negócios da família lhe tomaria todo o tempo. Mas sob a influência de Gina e Molly e sob a implicância de Hermione e Rony ele resolveu entrar na Universidade de Estudos da Diversidade das Práticas Mágicas Através dos Tempos, onde ele cursava História do Surgimento e Evolução das Praticas Proibidas da Magia e seus Seguidores Através dos Tempos. Ele gostou muito porque o nome da instituição e do curso eram tão longos que maquiavam bem o assunto que ele estava estudando: a Magia Negra através dos Tempos. Desde criança achara as Artes das Trevas muito interessantes, mas achou que se não a praticasse nunca poderia estuda-la. Quase deu pulos de alegria quando viu que podia estudar Arte das Trevas e ser um cidadão respeitável ao mesmo tempo. Ele não resistiu...

E, setembro Gina apareceu de surpresa no apartamento do namorado, com um enorme sorriso no rosto.

         - Você não sabe! – ela disse e já foi entrando, sem nem ligar que Draco estivesse de roupão.

         - Não, não sei...

         - O Rony e a Mione vão casar! – ela encolheu os ombros meigamente.

         "Que emocionante...", ele pensou tediosamente e sentando no sofá.

         - Ah é? E daí?

         Um balde de água fria no entusiasmo no Gina, ela olhou tristemente para os próprios a sapatos.

         - Poxa... Eu venho toda contente e você me recebe assim? – ela fez bico.

         Ele abraçou a garota e beijou-a docemente na bochecha.

         - Desculpe Gina, mas é que eu não consigo ficar empolgado pra um casamento que eu nem vou!

         - Como não vai? – ela disse ofendidíssima – Você vai ter coragem de fazer essa desfeita pra minha família?!

         Desfeita? Draco não tinha dito por mal, apenas não achou que seria convidado, e explicou isso para a namorada.

         - Credo, Draco! O que você acha que nós somos? – ela cruzou os braços- Como você, meu namorado, não ia ser convidado? Você foi convidado sim! Claro que se você não quiser ir eu não posso fazer nada... – ela terminou com a inconfundível chantagem emocional.

         Ele suspirou miseravelmente imaginando o que seria uma festa de Weasleys, mas não podia recusar, podia? Todas as possibilidades de desculpas passaram rapidamente pela sua cabeça. Não, não podia.

         - É claro que eu vou Virgínia...

***

         A primeira atitude de Draco foi sair com a namorada pra comprar um presente pro casal. Mais do que educação havia uma dose de maldade na escolha do presente: uma cama - Caríssima! – feita de uma madeira nobre, em estilo moderno, "Porque esses dois não saberiam apreciar uma antigüidade". Gina só viu com bons olhos a atitude do rapaz, ela o recompensou pela generosidade com muitos, muitos, muitos beijos. Ela não teria tido essa reação tão positiva se tivesse visto o cartão que acompanhou o presente, escrito a mão por Draco.

"Ronald e Hermione,

         Sempre soube que vocês eram feitos um para o outro (que casal poderia ser mais perfeito que um Weasley e uma Sangue Ruim?) e desejo que vocês sejam felizes. Lembram quando eu dizia que faria questão de ver esse casamento? Pois é, eu estava falando sério...

         Espero que apreciem meu presente, porque ele provavelmente vai ser a coisa mais cara e de mais bom gosto que vocês vão ganhar.

Draco Malfoy

PS: Um único pensamento me tortura: que tipo de crianças vocês vão 'produzir' nessa cama? Espero realmente não ser responsabilizado por um pequeno de cabeça vermelha de cabelos lanzudos."

         A festa estava muito cheia, "Que pobreza...", pensou Draco, e muito animada, "Que divertido!", pensou Gina. E mesmo fazendo pose de tédio, Draco se divertiu bastante naquela tarde. E Rony e Hermione estavam tão radiantes que nem se irritaram com o bilhete mal criado de Draco, e apenas agradeceram o presente efusivamente. Draco ficou paralisado de susto quando Hermione lhe deu um abraço em agradecimento.

         - Obrigada Malfoy! – ela disse educadamente – E Sangue Ruim é a mãe! – concluiu não tão educadamente.

         Rony não foi tão longe, mas apertou a mão do louro.

         - Vou gostar de ver seus filhos nascerem todos ruivos, cunhado. – o noivo disse sarcasticamente.

         Draco apenas deu risada, sem levar nenhuma daquelas coisas a sério. Os noivos tinham acabado de virar as costas quando Draco ouviu uma voz simpática atras de si e virou rapidamente.

         - Então esse é o namorado da minha irmãzinha! – um ruivo cabeludo (que Draco deduziu ser Gui) e uma moça muito bonita lhe cumprimentavam.

         - Muito prazer, Draco Malfoy. – ele apertou a mão de ambos e se dirigiu a Gui – Me disseram que você é uma pessoa legal! – ele disse sinceramente, porque era isso que sempre ouvia quando de falava de Gui Weasley.

         - Prazer, cara! – ele tinha um aperto de mão mais forte do que Draco esperava. – Me disseram que você é um cretino... – Fleur cutucou-o com o cotovelo - ...Mas eu estou vendo que isso não é verdade. – um sorriso amarelo.

         Alguém chamou pelo nome do ruivo, ele acenou pedindo um minuto, voltou-se para Draco e deu de ombros.

         - Tenho que ir... A gente se vê por aí Malfoy!

         Quando ele estava bem, longe Draco comentou com a namorada:

         - O único dos seus irmãos que não tentou me matar!

         - Sorte sua! – ela riu – Se ele tentasse provavelmente conseguiria...

Só tiveram dois momentos críticos nas bodas, um deles foi quando Gina queria porque queria dançar e Draco recusou-se veementemente a dançar aquela dança "tão plebéia". Gina ficou enfurecida.

         - Então fique aí sentadinho príncipe, porque EU vou dançar com alguém que queria dançar comigo. – ela disse virando as costas.

         A segunda situação foi conseqüência da primeira. Draco ficou sentado conversando com uma "senhora muito interessante que sabia tudo sobre aquelas máquinas de voar", que ele descobriu no fim da noite ser a Joanne Granger, a mãe da noiva. Em certo momento ele olhou para a pista de dança e viu a cena mais revoltante que ele podia imaginar: SUA namorada dançando com a única pessoa com quem ela não poderia. Harry Potter. Ele não teve dúvidas, levantou da cadeira e foi até lá. Meio bruscamente ele pegou no braço da namorada.

         - Ei, Potter, dançando com a minha noiva sem pedir a minha autorização? – ele disse sorrindo, em tom de brincadeira. Claro que ninguém acreditaria que ele estava mesmo brincando, seu olhar assassino denunciava.

         "Noiva?!", Harry e Gina pensaram na mesma hora.

         - Draco não faça escândalo! Eu não sou sua noiva! – Gina soltou-se de Draco e levou as mãos aos quadris.

         Furiosamente Draco tirou um de seus anéis e botou no dedo anular da ruiva.

         - É minha noiva agora! – e voltou-se para Harry – E aí, Potter, fiquei sabendo que você salvou o mundo, é verdade?

         Harry olhou-o com raiva, fechou as mãos, mas conteve o tom de voz.

         - Fiquei sabendo que você entrou pra família Weasley, é verdade? Quem diria...

         A tensão era tanta que quase podia ser pega com as mãos. Quem visse de longe e não conhecesse a situação, acharia que era um grupo de amigos conversando, mas todos sabiam que não havia nenhuma amizade ali. Ninguém teve coragem de interferir, mas estavam todos preparados para fazer algo se a agressão física começasse.

         - É, eu acho que realizei seu sonho, não é? Podemos dizer que até nisso eu passei na sua frente. – indicou Gina com os olhos – Quem diria...

         - Fico me perguntando o que seu papai ia pensar disso, Malfoy.

         Draco aproximou-se com um sorriso sinistro, e pousou a mão no ombro de Harry. Gina prendeu a respiração, assim como todos os que observavam a situação.

         - Apelando, Potter-Perfeito? – ele cerrou os dentes – Achei que quem descia o nível aqui era eu...

         Harry abriu a boca pra retrucar, mas Gina achou que era seu dever manter a ordem na festa de seu irmãos.

         - Parem agora! – ela disse tentando não berrar – Vocês dois são adultos, tem que parar com essas criancices! Esse é o casamento do Rony e da Mione e eu juro que mato vocês dois se vocês armarem um escândalo!

         Harry sorriu para Gina, pediu licença e sumiu da vista dos dois pisando duro. A ruiva, muito vermelha de raiva puxou Draco para um canto mais vazio e o repreendeu.

         - Que coisa mais feia, Draco!

         Ele olhou-a inocentemente.

- Desculpe, mamãe...

Ela não riu.

- Eu falo sério! Vocês nunca vão se acertar?

         Draco não respondeu. Nem naquele dia, nem nunca, mas o tempo respondeu por ele. Não. Draco Malfoy e Harry Potter nunca tiveram um relacionamento amigável nem nada parecido com isso. O máximo que eles conseguiram foi se suportar com um pouco mais de educação, mas mesmo isso era bem raro.

Algumas coisas nunca mudam...