10 – A festa do ano.
Programa do dia: um tour pela Mansão Malfoy.
E foi bem longa essa excursão...
Também, pudera! Draco fez questão de levar Gina a todos os aposentos da casa, começando pelo andar de baixo e pelos jardins. Essa etapa foi até rápida, e terminou na cozinha, onde os elfos estavam quase escondidos. Esses, por sinal, ficaram incrivelmente tensos quando o casal entrou no cômodo. "Isso é uma cozinha?!", pensou Gina admirada com o tamanho do lugar. Pensou na cozinha de sua casa e no trabalho que sua mãe tinha nela há anos e ficou um pouco incomodada.
- Ai, senhor! – choramingou novamente a elfa torcendo seu paninho encardido – Mikka já disse! Não tem nada! Ai que vergonha! Mikka envergonha o senhor Malfoy! – a criatura falava e batia furiosamente a cabeça contra a porta do forno – Mikka envergonha! Mikka elfa muito, muito, muito inútil!
Gina tentou falar para a elfa para de se flagelar, mas recursos verbais não adiantaram de nada, ela ainda se debatia e choramingava sua "inutilidade" e sua "vergonha". A ruiva torcia as mãos de nervosismo do mesmo jeito que os elfos torciam suas toscas vestes. Tomado por um impulso Draco pegou a elfa pelo nó do seu trapinho, que segurava a "roupa" de Mikka no pescoço e a ergueu na altura dos seus olhos.
- Qual é o problema?!
A criaturinha tremia e evitava encarar o seu senhor nos olhos.
- Mikka... Mikka avisou o senhor Malfoy...Mas o senhor veio para a cozinha mesmo assim... Mikka não querer envergonhar a família... – ela começou a soluçar, mas Draco a advertiu que se ela chorasse ele ia ficar imuito bravo mesmo/i e ela parou imediatamente – Não ter nada pra servir para a menina! Snif, snif... E Mikka sabe que não tem nada mais feio do que não servir nada para os convidados do senhor Malfoy...
Diante dessa resposta Gina repetiu que não queria nada, se esforçando para ser gentil e fazer os elfos se sentirem a vontade com ela. Um pequeno avanço foi feito quando eles esboçaram um leve sorriso de simpatia na direção dela. Draco ficou muito constrangido quando a histeria da elfa doméstica, finalmente, fez sentido em sua mente. Como era possível que ele não tivesse mesmo nada para servir num dia importante como aquele?
Foi um "surto Malfoy" (Gina encarregou-se de dar o apelido mais tarde), ele sentiu-se um péssimo anfitrião, muito pouco cortês, praticamente um sangue ruim de tão mal educado... Argh! O tal surto de finesse do louro só passou quando eles saíram da cozinha e Gina teve um acesso de riso pelos modos pomposos que o namorado assumira de repente, sem nenhuma explicação aparente.
- Você está tão estranho hoje, Draco! – ela disse ainda sorrindo, seguindo-o escada a cima.
- Você ainda não viu nada... – ele murmurou num tom impossível de classificar.
Depois da cozinha, Draco começou a apresentar os quartos. Ele não demorou a notar que os quadros dos homens família não estavam mais lá. "Séculos de Magia Negra que tiveram que ser devidamente apagados para o bem da sociedade", ele pensou ironicamente, fingindo ignorar que preferia que pelo menos o retrato de seu pai tivesse ficado. Ele nada comentou a respeito com Gina, que estava mexendo um tudo, com a típica curiosidade e a falta de comedimento dos Weasley. Pra que estragar a alegria dela com essas besteiras? Ela ficava tão linda rindo como criança...
Eles visitaram todos os quartos, um a um...
Draco fazia questão de explicar a origem, a função decorativa e prática e, é claro, o preço de cada objeto que eles encontravam pelo caminho (que na verdade nem eram muitos). A ruiva estava tão entretida no seu passeio inusitado que não se importou que Draco estivesse tão irritante, apresentando sua própria casa como se fosse um guia de museu.
No final da tarde, depois de se demorarem horas em cada um dos aposentos do segundo pavimento, eles chegaram ao lugar que Draco estivera esperando o dia todo para mostrar. Mas ele não permitiu que ela entrasse correndo e pulando como tinha feito a tarde toda. Ao contrário, obrigou-a a parar na porta e fez cara de mistério. Só então Gina se acalmou da empolgação em que estava mergulhada e deu uma boa olhada no namorado. "Ai que lindo...", ela se derreteu, "Ai como eu sou ridícula!", ela se recompôs. Ela notou como ele parecia muito mais adulto e sério estando dentro de sua própria casa. Lembrou-se que há poucos minutos, tinha achado muito engraçado ver os elfos o chamarem de "Senhor Malfoy" mas, prestando atenção, era isso que ele era. O jovem Sr. Malfoy... Achou lindo e meio triste. Mas quando ele sorriu daquele jeito que ela já tinha visto tantas vezes a tristeza se dissipou totalmente.
- Esse é um lugar muito especial... – ele começou fazendo parecer muitíssimo mais especial do que ele dizia. – Eu quero te mostrar.
- O que é?! – ela mordia o lábio inferior. Deduziu que fosse o maior quarto da casa, porque era a porta do fim do corredor, no meio, e era a única porta dupla no andar de cima. "Será que era o quarto dos pais dele?", ela se perguntava achando que não havia melhor lugar pra os donos da casa fazerem seu quarto do que no maior aposento da casa. Mas achou melhor não perguntar, porque podia deixar Draco chateado.
- Era pra ser o quarto dos meus pais, mas nunca foi. – ele respondeu as dúvidas de Gina sem saber – Meu pai achava que batia muita luz... – ele disse com uma expressão nostálgica e os olhos postos em algum lugar distante. Foi muito rápido, logo ele estava falando com a garota denovo – Sempre esteve assim, vazio, mas sempre foi meu lugar preferido da casa. Mais do que o porão! – ele deu uma piscadela marota, fazendo graça com famoso porão da casa dos Malfoy que já havia guardado material de Arte das Trevas e, hoje, só guardava ar úmido.
Gina levou as mãos à cintura ansiosamente.
- Oh! Se é melhor que o porão deve ser bom mesmo! – ela aderiu ao clima descontraído, mas na verdade, estava quase pulando na maçaneta.
Com um movimento brusco Draco abriu a porta e, simultaneamente a entrada de Gina, disse:
- Não é nada demais... – a falsa modéstia estava pulando em cada sílaba dessa frase. Gina não deixou de notar isso.
Lúcio tinha razão: entrava luz demais! Tão logo Draco abriu as portas o corredor inteiro se encheu da luz do dia e os dois tiveram que apertar as pálpebras até seus olhos se acostumarem a forte luminosidade. Quando finalmente parou de lacrimejar Gina abriu os olhos e a boca ao mesmo tempo, mas nenhum som saiu dela. O que ela viu não era "nada demais" como tinha dito Draco, mas era "especial" como ele também tinha dito.
Um quarto do tamanho da sala de jantar, as paredes forradas com uma tinta mágica aveludada azul. Não de uma cor só, mas que ia do azul sólido até o quase branco, num degradê irregular. O cômodo estava totalmente vazio, dava pra ver a poeira dançando contra a luz do Sol. Como num quadro, o sol se punha no centro da janela e Gina ficou em silêncio só olhando.
- Eu não disse que era especial? – ela ouviu a voz de Draco sussurrando e sentiu seus braços em volta de sua cintura e seu queixo se apoiando em seu ombro.
- É sim! – ela sorriu extasiada e falou baixo – Muito obrigada por me trazer aqui! – ela girou o corpo ficando de frente para o rapaz – Não só nesse lugar especial, mas na sua casa. Foi importante pra mim... Obrigada.
Ele sorriu de um jeito diferente e a beijou. Um beijo afobado demais pra uma ocasião tão lenta e contemplativa. Gina achou que ele estava estranho com todo aquele papo de "lugar especial" mas nem passou pela sua cabeça enche-lo de perguntas no meio de um beijo tão bom quanto aquele.
Tão bom e tão rápido...
Draco abriu as portas da janela (que na verdade dava para uma grande varanda que Gina não tinha visto ainda) e permitiu que uma brisa gelada entrasse.
- Obrigado por me levar na sua casa também e por me mostrar para a sua família. Foi muito corajoso... – ele alisou o rosto dela delicadamente e sorriu – Foi terrível como interação social, mas como experiência espiritual foi único! – Gina deu risada, mas Draco não gargalhou como ela. Apenas a acompanhou com um sorriso leve. "Ele definitivamente tem algo errado hoje...", Gina pensou parando de rir com dificuldade. – Eu posso te trazer aqui mais vezes, se você quiser...
- Eu ia adorar! – ela disse abraçando-o e deixando a cabeça descansar no peito dele – Mas me conta, você pretende morar aqui?
- Pretendo. E você?
- Eu o quê? – ela perguntou alegre e distraída.
Draco riu silenciosamente enquanto afagava seus cabelos. Então ergueu o rosto dela delicadamente, pelo queixo, e a olhou por um bom tempo. Ela o encarava curiosa e inocentemente.
- Weasleys! – Draco exclamou finalmente. Agora a expressão de Gina era toda interrogação. E ele riu.
Riu de achar graça, de irritação, de nervoso, de arrependimento prematuro e de felicidade. Deu risada até seus olhos começarem a lacrimejar e até Gina cruzar os braços e fazer bico em sinal que não estava gostando de ser o motivo da piada. E ele parou de rir e a abraçou com força pela cintura e, novamente, a beijou afoitamente. Isso a fez pensar que ele estava ficando mais esquisito a cada minuto que passava: Primeiro começava a rir sem motivo, depois dava esses beijos desesperados... "Deve ser a emoção de estar em casa novamente!" ela deduziu em pensamento. Quando eles se separaram perceberam que, de algum modo, tinham ido parar no chão, meio sentados, meio deitados. Draco, com o rosto ligeiramente corado pelas risadas, olhou no fundo dos olhos da namorada.
- Eu realmente tentei ser sutil e tornar isso mais fácil... Mas não deu certo. Porque você, menina vermelha, não é NADA sutil. – ele riu e ela fez-se de indignada –O que eu estou tentando dizer é que essa casa é grande mais pra uma pessoa só...
Gina apertou os olhos por um momento. Mordeu o lábio. Enrolou uma mecha de cabelo. "Ele não está dizendo que... Não, não está! Até parece... Mas se não é isso o que pode ser?". Não podia ser mais nada além daquilo, ela sabia. Finalmente ela sorriu, deitou a cabeça para o lado, e disse com um pouco de manha, olhando para os próprios joelhos:
- Você está me pedindo em casamento, Malfoy?
A voz dele soou cheia de surpresa.
- Não! Estou apenas querendo que você passe a noite aqui! – Gina fez uma cara genuinamente constrangida e Draco não teve coragem para manter a mentira – Não, não, é brincadeira! É claro que eu estou te pedindo em casamento!
- Está mesmo? – a idéia lhe pareceu subitamente absurda.
Ele fez que sim com a cabeça, tendo a mesma impressão que ela.
- Não faça esse tipo de piadinha comigo, Draco! – ela quase implorou, com os olhos marrons cintilando.
Ele tirou algo do bolso do casaco e colocou contra a luz.
- Eu tenho até um anel caso você aceite... – e o anel reluzia dourado sob a luz avermelhada do Sol poente. – E então Weasley? O que você me diz? – um tom de tensão pairava na voz de Draco. Ele estava em pânico e achou que estava prestes a dizer algo muito ridículo - Quer se casar comigo? – e foi assim que Draco Malfoy disse a frase mais absurda da sua vida.
- Sabe de uma coisa? – ela pegou violentamente o anel da mão dele e pôs no dedo – Eu quero! Antes que você desista...
O anel no dedo de Gina. A luz laranja do por do Sol. O olhar meio atônito, meio extasiado de Draco olhando direto para aqueles cabelos vermelhos. O silêncio parecia tão caótico que os dois tiveram a impressão que ele fazia mais barulho do que uma banda de rock.
E eles ficaram ali, só olhando um pro outro, beijando, ouvindo atentamente as suas próprias respirações. E quando a Lua já ia alta eles foram dar a notícia ao mundo.
Ou melhor, aos Weasley...
***
- Deixa eu entender: vocês vão casar? Assim, como a mamãe e o papai, eu a Mione, o Gui e a Fleur? Tipo, casar, com festa e padrinhos e tudo mais? Até que a morte os separe? Minha irmãzinha e o Malfoy?
Gina massageou as têmporas com impaciência. Era, precisamente, a décima sétima vez que Ronald repetia a pergunta com aquele olhar embasbacado. E ela ia explicar tudo pela décima sétima vez, mas Hermione tomou suas dores e achou por bem levar o marido pra dar uma volta e poupar a família do escândalo que faria quando saísse do estado de choque e entendesse o que "casamento" significava.
- Talvez um pouco de ar ajude a conectar os neurônios... – ela disse levando o ruivo pelo braço para fora da Toca.
Na noite anterior os recentes noivos chegaram a Toca para contar as novidades, apenas Molly e Arthur estavam em casa. Contar as novidades não é um termo apropriado, porque Draco não contou nada. Ele pediu formalmente a mão de Gina para o pai dela, como um bom menino faria (sim, ele se sentiu idiota por isso). Draco o fez por dois motivos básicos: porque ele achava adequado ir levando Gina da saca de seus pais sem mais nem menos e porque temia que o homem tivesse um ataque cardíaco se não participasse da decisão também. Eles passaram cerca de uma hora conversando a portas fechadas, enquanto Gina contava para a mãe como tudo tinha acontecido.
- Você acha que pode mesmo casar com a minha Virgínia? – Arthur perguntou cheio de preocupação.
"Acha que pode?! Ele enlouqueceu? Eu tenho mais condições de sustentar a Gina do que ele!", ele pensou achando muito estúpida essa pergunta. Claro que na passagem do pensamento para as palavras as coisas mudaram um pouco de enfoque.
- Tenho certeza de que posso. O Ministério liberou todos os bens da minha família, então condições financeiras não são problema.
Ele sorriu paternalmente e colocou a mão no ombro do rapaz.
- Não estou falando de dinheiro, menino. Isso eu sei que você tem. – um leve sarcasmo, tão leve que quase não dava pra perceber – Estou falando de amor. Casamento não é brincadeira. Não dá para casar por atração física, por aventura, para chocar as pessoas... É um compromisso para toda a vida. Você acha que pode arcar com isso?
Opa. Isso era sério. Na verdade Draco tinha pensado vagamente a esse respeito. Dormir e acordar com Gina todos os dias... O pensamento viajou e Arthur deu alguns segundos para Draco refletir. Falar com ela todos os dias... E brigar... dormir e acordar com ela... E ter filhos... E ser parte da família dela... Era muita coisa na qual ele ainda não tinha pensado ainda...
E agora, quanto mais ele pensava, mais perfeito parecia.
- Eu tenho certeza que posso. – disse com um sorriso cheio de franqueza.
E assim a primeira parte da missão tinha terminado.
Pela manhã, Molly mandou corujas a todos os filhos, pedindo que viessem almoçar em casa no dia seguinte, para que todos pudessem fazer uma grande celebração. "Todos os Weasley...", Draco pensou no tamanho da casa, e engoliu seco.
Não foi tão apertado quanto a mente pessimista de Draco tinha imaginado. A senhora Weasley armou uma grande mesa do lado de fora da casa (depois do jardim ser devidamente desgnomizado) e durante um animado almoço todo clã Weasley foi informado do casamento. As reações foram as mais variadas, desde Rony tendo falta de ar até a uma dança muito bizarra dos gêmeos.
No momento seguinte ao da notícia do casamento, quando todos brindavam, uma pessoa mais atenta teria visto Penélope Clearwater, a eterna namorada de Percy, cutucá-lo por baixo da mesa e dizer baixinho:
- Você não tem vergonha Percy?! Sua irmã caçula já está casando e nós dois aqui nesse noivado eterno? Que papelão...
Ele engasgou com a cerveja amanteigada mas prometeu que depois de Draco e Gina seria a vez deles. Ela não deu muito crédito, mas pelo menos agora teria algo que jogar na cara dele quando ele começasse a fugir do assunto. "Você prometeu, Percy Weasley...", ela pensou bebendo alegremente a cerveja amanteigada.
Os gêmeos, dançaram sem música, deram a volta na mesa e foram importunar o cunhado ameaçando deixa-lo ruivo novamente – Para entrar no clima familiar...- como dissera Jorge. Mas eles não cumpriram a ameaça porque Molly tinha dito que os dois ficariam verdes com bolinhas roxas se fizessem alguma gracinha no almoço.
Naquela mesma tarde eles marcaram a data para dali um mês. Cedo? Pode ser, mas os irmãos Weasley temiam o mesmo que Gina tinha temido no dia em que Draco lhe pediu em casamento: que ele desistisse. E Draco tinha pressa de não precisar passar tanto tempo na Toca...
Na semana seguinte Gina e sua mãe ficaram ocupadas enviando as corujas com os convites. Tudo escrito a mão como era costume dos Weasley, apesar dos protestos de Draco que queria comprar pergaminhos de prata padronizados e chiquérrimos. E a lista de convidados era bem longa... Nos dias que se seguiram Draco passava diariamente na Toca para ver como iam os preparativos e dar uma olhada nas respostas que chegavam aos convites. Ele tinha estado ocupado re-mobiliando a sua casa e não teve tempo de elaborar a lista de convidados com Gina. Pra que? Que ela chamasse quem quisesse, ele não tinha mesmo muita gente pra convidar... "Bando de parasitas inúteis!", era o que lhe vinha a mente quando pensava em seus velhos colegas da Sonserina. Mas Crabbe e Goyle, pelos anos de bons serviços prestados, os rapazes o time de quadribol e Pansy estavam na pequena relação de pessoas que Draco tinha em mente. Claro que, na hora de mandar as corujas, Gina convenientemente "esqueceu" de Pansy...
Muitas cartas chegaram. De Lenina, Colin (que perguntava se podia tirar fotos para o álbum de casamento), de Parvati Patil e sua irmã, de Neville, etc... Inclusive do corpo docente de Hogwarts e da direção das casas Sonserina e Grifinória (como era costume quando um aluno se casava ou fazia algo digno de cumprimentos). E do Ministério da Magia (porque Arthur era um funcionário de muitos anos, e tinha o respeito e a admiração de todos).
Mas a melhor de todas foi a última.
Gina relutou em mostrar ao noivo, tentou esconder e mudar de assunto, mas isso serviu apenas para deixá-lo mais desconfiado e curioso. Era uma tarde de quarta-feira muito abafada...
- Porque eu não posso ver? – ele disse impaciente, enquanto Gina sorria sem graça.
- Você pode ver... claro que pode! Mas porque você ia querer ver? É só mais uma carta... – ela disfarçava tremendamente mal.
Ele cruzou os braços e a encarou, esperando que ela notasse que não ia convence-lo. ela não demorou a desistir e entregou-lhe o pergaminho.
"Gina,
Então você vai mesmo casar? Uau! O que eu posso dizer?
Parabéns e boa sorte.
Harry Potter"
- Virgínia... – ele falou devagar, respirando profundamente e tentando não gritar – Eu vou fazer uma pergunta bem simples: Porque você está recebendo uma carta do Potter?! – o velho jeito de cuspir o nome do rival.
Ela sorriu docemente, pra tentar acalma-lo, mas não teve coragem de chegar muito perto.
- Porque ele recebeu o convite do nosso casamento...
- NÃO! – ele berrou, mas logo voltou ao tom de voz normal- Ele não recebeu, porque eu disse que não queria ele aqui. E eu me recuso a acreditar que você convidou o Potter, pro nosso casamento!
- Draco não fique tão bravo, vai... Ele é meu amigo e amigo da família. Eu tinha que convida-lo! Não seja tão dramático!
A boa e velha briga temática. Essa foi especialmente difícil de terminar, nenhum dos dois estava disposto a dar o braço a torcer: Draco insistia para que Gina arrumasse um meio de "desconvidar" Harry e ela dizia que não o faria porque queria que ele fosse e porque sua família ficaria ofendida. Draco perdeu a briga quando Gina teve um ataque de fogo Weasley e chorou de raiva, dizendo que não podia fazer essa desfeita pra um amigo... "Tão grifinório...", ele suspirou resignado. Mas haviam tantas coisas para fazer antes do grande dia, que ele esqueceu o Menino-Que-Sobreviveu bem depressa. O casal nunca tinha imaginado que casar desse tanto trabalho!
***
E como quando estamos ocupados o tempo passa depressa, o dia do casamento chegou num piscar de olhos. Depois de muita discussão, ficou decidido que a cerimônia aconteceria na Mansão Malfoy, porque era óbvio que, por mais boa vontade que os Weasley tivessem, era impossível para a Toca comportar tanta gente. E como Gina queria de qualquer jeito um casamento ao ar livre, ele aconteceria nos enormes jardins frontais da casa. Os elfos haviam espalhados mesas brancas com delicados arranjos de rosas vermelhas por todo o espaço livre, havia um pequeno altar a moda dos bruxos, com algumas velhas inacabáveis - Caríssimas! – Draco tinha feito questão de frisar um milhão de vezes. Pequenas estrelinhas colocadas em pontos estratégicos garantiriam a iluminação quando anoitecesse. A decoração estava bem simples, mas nem por isso tinha sido barata.
- Draco! – Gina havia exclamado ao ver a fatura da festa – Como você conseguiu gastar tanto dinheiro nessa festa? Essas rosas são de ouro ou coisa assim?
Ele revirou os olhos nas órbitas, deu uma olhada na quantia que estava gastando (não, ele nem tinha se preocupado com o total) e disse com cara de decorador profissional.
- Virgínia, o mais simples é o mais caro. E o mais elegante também... E não as rosas não são de ouro, mas são importadas da Holanda. Você não esperava que eu comprasse qualquer porcaria para o nosso casamento, não é?
Mas Gina, vestida com seu vestido branco e delicado, segurando seu buque de rosas vermelhas com força, como se ele estivesse mantendo-a de pé, não estava preocupada com gastos. Estava mais preocupada, em não tropeçar nas próprias pernas, em não sorrir demais e nem de menos, em não desarrumar o cabelo (embora Penélope tivesse garantido que Claude Popom era o melhor cabeleireiro da Inglaterra). Suas mãos suavam e ela respirava devagar, embora seu coração batesse loucamente no peito. Draco não estava muito diferente, mas mantinha a pose muito melhor. Ele sorria levemente, fingindo que seu coração não queria sair pela boca. Ele estava cinco vezes mais nervoso do que ela, embora ela nunca fosse desconfiar disso.
O que dizer? Foi um casamento, cheio de promessas de amor eterno, respeito, perpetuação da espécie, respeito às leis mágicas e alegria. Como um bom casamento deve ser... E como são as celebrações mágicas, ela foi suave e rápida (Para que ninguém dormisse. Os bruxos são sábios...), seguida de uma festa memorável. Memorável não, histórica. Além de ser um casamento totalmente inusitado, pasmem, Draco não arrumou um jeito de ir ofender Harry Potter, embora ele tenha ficado na festa até o final. Claro que ele nem cumprimentou esse convidado, mas isso não vem ao caso, eles não brigaram e isso é tudo de que as pessoas se lembraram. E Harry retomou o velho namoro com Parvati nessa festa...
Até mesmo Rony acabou por quebrar sua resistência e se divertir dançando e comendo... E como tinha comida! Toda a simplicidade da decoração contrastava com a opulência do jantar que Draco mandou preparar, com as opiniões de Molly, é claro (aqui cabe dizer que Mikka deu pulos de alegria quando chegaram os carregadores com sacolas e sacolas de comida). Foram servidas sopas de entrada, catorze tipos de pão, carnes de leitão e de aves exóticas... Hermione saiu lamentando que devia ter engordado uns vinte quilos (exagero dela, claro...).
Quando o relógio bateu as quatro da manhã, Draco e Gina entraram numa belíssima carruagem alugada (já que a da família Malfoy foi confiscada pelo Ministério) e foram em direção às ilhas gregas, onde passariam as próximas duas semanas em lua-de-mel. Mesmo assim a festa prosseguiu animada até que o dia amanhecesse. A bagunça foi tanta que os elfos domésticos precisaram de três dias inteiros para limpar tudo, coisa que eles fizeram cantando e pulando, é claro.
Muitos anos depois as pessoas ainda comentavam sobre a festa de casamento que foi chamada de "Símbolo da perpetuação da paz no mundo mágico" e "Festa do Ano", pelo Profeta Diário daquela manhã de domingo.
