O futuro daquele que desenha o reflexo
"A vida é um mistério tão profundo, que se torna uma face totalmente nova de existência da vida e da morte. Quando uma pessoa pensa por que nasceu, ela está resgatando uma parte de si mesmo que a muito foi esquecida, pelos
homens e pelos deuses."
Inglaterra...
Ao norte de Glasgow, nas noites claras de verão, as estrelas refletem seus nobres brilhos aos sortudos moradores daquela área, em especial Henrique Heavensoul, um jovem, porém dedicado Cavaleiro de Bronze. Sua constelação protetora era a Coroa Austral. Ele treinava algumas crianças para serem futuros defensores de Athena, como ele. Era um rapaz de 18 anos, de cabelos tão pretos que quando eram iluminados por qualquer coisa, refletiam um brilho azulado. Seus frios olhos cinzas eram tão pálidos como a lua, mas eram enérgicos e sinceros. Há um mês, porém, uma carta acabou chegando até suas mãos. Era do Santuário, e o convocava para um torneio. Um torneio que envolveria muitos cavaleiros. Mas, Henrique parecia relutante em aceitar o convite. Há dias ele tinha um mau pressentimento, sentia que algo de muito ruim aconteceria em breve. Ele não sabia o que era, mas acreditava plenamente em sua intuição, ela raramente falhava. E era isso que o deixava preocupado.
"Por que eu não consigo entender essa sensação ruim que tenho? O que é esse mau pressentimento que me domina?" Pensou Henrique.
"O que houve, mestre Henrique?" Perguntou Daniel, interrompendo seus pensamentos.
"Nada, Daniel." Respondeu Henrique, sorrindo. "Absolutamente nada... Bom meninos, hoje encerramos o treino. Amanhã, quero que vocês acordem cedo e estudem bastante. Encontro vocês no mesmo horário, está bem?"
"Sim." Disseram os meninos e foram embora, conversando.
Só Daniel ficou no local. De todos os meninos Daniel era o mais novo entre os discípulos. Com seus 6 anos, era um menino calmo e triste que perdeu os pais muito cedo. Henrique o adotara dois anos depois, quando Daniel tinha 3 anos.
"Vamos para casa Daniel." Disse Henrique, pegando Daniel no colo. "Mal está se agüentando em pé. Tem certeza que quer treinar com os garotos mais velhos?"
"Tenho sim, irmão." Respondeu Daniel. Era comum Daniel chamar Henrique de irmão quando estavam sozinhos, mas, quando treinavam, ele sempre o chamava de senhor ou mestre. "Quero ser forte como você."
Henrique sorriu com o comentário, e se lembrou da infância que teve. Era órfão e foi criado por uma senhora desde pequeno. Quando ele completou 7 anos, ele foi até Glasgow encontrar Christian de Triangulo Austral, que seria seu mestre. Ele ensinou Henrique a louvar e respeitar Athena e a lutar pela justiça. Ele se tornou cavaleiro com 14 anos, quando conseguiu finalmente passar no teste, ao lutar contra Kraven, um rapaz convencido e esnobe. Henrique teve graves ferimentos durante a luta e derrotou Kraven com a Explosão da Coroa Austral. Porém, Henrique quase morreu depois dessa luta. Ficou por mais de 2 semanas vagando pela linha da vida e da morte. Quando ele saiu daquele estado, precisou de um ano para se recuperar das seqüelas que a luta lhe causara. Henrique se mostrou forte e também sábio. Quando o seu mestre morreu, alguns meses depois, vítima de uma doença que não havia cura, disse a Henrique que Athena iluminava sua morte e lhe dava um fim tranqüilo e que ela salvara Henrique, por ter se mostrado forte diante a morte. Desde da morte de Christian, Henrique passou a treinar jovens garotos que o destino colocou em seu caminho.
"Me sinto feliz, por poder ensinar a essas crianças o valor da amizade e da cooperação mútua. Isso realmente é o que eu queria e estou conseguindo ao treinar as crianças e como às senhoras do orfanato dizem sobre as melhoras dos meninos. Mas, essa carta está me inquietando, tenho um pressentimento ruim sobre esse torneio, não só por isso. Com certeza há algo maior e que eu não tenho idéia do que pode ser." Pensou Henrique. "Espero que a minha decisão seja, além de tomada a tempo, acertada."
Ele continuou a caminhar lenta e melancolicamente, deixando sua mente vagar por aí, enquanto seus passos o levavam para a casa onde ele morava com o seu irmão. Mas sua mente estava longe, mais precisamente em Atenas, o lar da deusa Athena, e no torneio que seria realizado no local. "Será que devo ir a esse torneio? Eu não sei o que pensar, pois algo nubla meus pensamentos. Temo, sobretudo pela vida dessas crianças. Muitos homens tentaram maltratar essas crianças, que eu consegui salvar. Mas se eu me afastar, quem me garante que eles não matem as crianças?"
De noite...
Henrique saiu da casa onde morava com Daniel e começou a caminhar sem rumo. Em seu coração, ele sabia que uma escolha teria de ser feita, porém, sua alma ainda relutava. Era algo que ele não entendia, mas sabia que tinha de ser feito. "Eu tenho que decidir... e tenho que decidir logo, se eu vou para Atenas, ou fico aqui." Pensou Henrique. Ele caminhou até o alto de uma colina, e lá se sentou, pensando em seus problemas.
"Oh, Coroa Austral, guia-me em minha jornada. Mostra o caminho para a vitória." Comentou Henrique, olhando as estrelas. "Será que devo rumar para o Santuário, ou devo ficar aqui e treinar até chegar ao nível dos meus rivais... O Santuário. O local onde Athena observa todo o mundo. O local onde a disputa começará e só os melhores sobrevivem."
"E onde os guerreiros de Athena se reúnem quando o mal volta a Terra." Completou uma voz. "Como vai acontecer agora."
Henrique se virou e viu uma jovem de longos cabelos roxos, olhos violeta, vestida com um longo vestido negro e com um tridente em sua mão esquerda. Ela tinha asas brancas e olhava seriamente para Henrique. Ele se levantou e se colocou em posição de luta, pronto para reagir a qualquer coisa. Porém, a jovem não se alterou nem um pouco. Apenas observou o rapaz que estava na sua frente. Alto, de olhos cinzas como a lua, cabelos tão pretos que podiam se confundir com o vestido dela. Ela não sabia a idade dele, mas supunha que ele tivesse uns 18 anos. Não pode deixar de sorrir quando ele tomou uma posição de luta. Henrique estranhou a jovem. Era muito pálida, parecia uma estátua trazida à vida.
"Não tenha medo. Eu vim em paz." Disse a jovem, quebrando o silêncio.
"Quem é você?" Perguntou Henrique.
"O meu nome é Pandora e vim lhe dar um recado. Deve ir ao Santuário, pois seus pressentimentos têm fundamento e você será necessário lá. Muito mais necessário do que pensas ser."
"Como você sabe que eu tenho esses pressentimentos? O que você é?"
"Eu... eu sou uma humana que servia a Hades. Mas eu não estou mais entre os vivos, e agora tenho uma chance de redimir meus erros passados. Isso é suficiente, ou eu vou ter que contar minha vida inteira para você acreditar."
"Não precisa, eu acredito no que diz." Respondeu Henrique. "Mas, me diga, por que você veio me avisar do perigo? Eu devia ter percebido isso sozinho."
"E você percebeu, apenas duvidou de seus instintos e intuições. E elas não costumam falhar Henrique." Respondeu Pandora. "A batalha começará em breve, e você precisa ser rápido em sua decisão. Não posso forçá-lo a nada, você tem o livre arbítrio para decidir o que você vai fazer."
Henrique ficou pensativo, meditando sobre as palavras de Pandora. O que ela dizia fazia muito sentido a Henrique, que sabia que tal coisa iria acontecer. Depois de uns cinco minutos de silêncio absoluto, Henrique respondeu, com uma voz potente, e livre de qualquer dúvida.
"Eu irei ao Santuário. Parece que eu adiei muito essa decisão, mas finalmente eu a fiz. Tenho que ir o mais rápido possível para Atenas."
"Muito bom." Disse Pandora. "Bom, eu tenho que ir. Mas voltarei sempre que for possível. Até logo, Henrique de Coroa Austral."
"Até uma próxima vez, Pandora." Respondeu Henrique.
Pandora sumira do mesmo jeito que aparecera. Henrique desceu a colina e foi até a casa onde morava com Daniel e foi até o quarto do menino. Como um bom irmão, Henrique cobriu o irmão com uma colcha e saiu do quarto sem fazer barulho, para não acordar o menino. Depois disso, ele foi até seu quarto e ajeitou suas coisa para ir até Atenas. Entre seus pertences, ele levava a foto de seus alunos e a de seus amigos. Terminado esse trabalho, Henrique foi até a porta da casa, e ficou lá parado. Sabia que alguém estava vindo.
"James, não se esconda, eu sei que está aí." Disse Henrique.
"Henrique, o que decidiu?" Perguntou o rapaz.
"Boa noite para você também James. Eu decidi que vou para o torneio em Atenas." Respondeu Henrique.
"Antes tarde do que nunca, não é?" Disse James sorrindo.
"É mesmo, meu amigo. Mas, eu preciso de um favor seu."
"Pode falar Henrique, se for algo que eu puder fazer, eu o farei."
"Preciso que você continue o treinamento dos meninos enquanto eu estiver fora. Eles vão aceitar você, pois eles já o conhecem e também porque você me ajuda algumas vezes no treinamento." Pediu Henrique. "Eu não sei a quem mais posso pedir esse favor James. Eu temo pelos meninos, especialmente por Daniel, os homens dessa região só esperam que eu me afaste deles, para iniciar uma matança."
"Eu entendo sua preocupação e o seu medo Henrique. E entendo que essa foi uma das coisas que mais adiou sua decisão." Respondeu James. "Mas eu treinarei as crianças, e se algum desses homens tentar algo contra eles, eu mesmo cuido dele."
"Obrigado James. Agora, eu tenho que falar com a senhora Alandra."
"Então vamos lá, Henrique."
Ambos seguira até uma pequena pousada próxima a casa de Henrique. Eles entraram na pousada, e seguiram até a lareira, onde uma senhora estava repousando.
"Boa noite, Alandra." Disse James.
"James, Henrique, a que devo a honra dessa visita?"
"Senhora Alandra, eu gostaria que, por favor, cuidasse das crianças por mim." Disse Henrique. "Pelo menos, até eu voltar de novo. Eu irei até o Santuário, competir e resolver algumas coisas. James continuará o treinamento dos garotos enquanto eu estiver fora."
"Pode deixar, Henrique. Eu cuidarei deles."
"Nós cuidaremos deles. E eu os treinarei do mesmo jeito que você os treinava." Disse James.
"Eu agradeço por tudo. Agora, eu tenho que partir. Cuidem-se, meus amigos."
"Boa sorte Henrique."
Henrique sorriu e saiu sem dizer mais nenhuma palavra. "É como Pandora disse, a batalha começará em breve. Eu só queria saber quem é esse novo mal."
"Adeus, grande Inglaterra. Agora, o meu destino é o berço da civilização ocidental, Atenas."
E rumou para Atenas, com o pensamento fixo em seus próprios passos, e em que direção eles o levariam. "Eu juro que defenderei Athena nem para isso eu tenha que vir a perecer durante o combate. Esse é o meu juramento e só quando o perigo passar, eu poderei voltar para a Inglaterra para terminar o treinamento dos garotos." Pensou Henrique e desapareceu no meio da noite.
No Santuário...
O treinamento dos jovens para se tornarem cavaleiros e defenderem Athena é intenso. Mas, mesmo num lugar como aquele, os jovens tinham momentos para refletir em paz. Caminhando pelo Santuário, o jovem Alessandro observa o horizonte. A noite estava bastante clara, e ele via todas as constelações brilharem. Procurando um pouco, ele conseguiu achar sua constelação protetora, Erídano. Ele estava calmo, até sentir um poderoso cosmo muito próximo. Mas, Alessandro conhecia muito bem o dono daquele cosmo. Era Demétrius, que estava numa montanha mais alta, observando as estrelas. Ele parecia conversar consigo mesmo, mas Alessandro conseguiu ouvir uma das frases que ele dizia.
"As estrelas brilham muito essa noite. É sinal de boas e más notícias." Foi isso que Alessandro conseguiu ouvir.
"Pelo que sei, ainda falta alguns cavaleiros que moram longe, ou que treinam crianças para serem futuros cavaleiros. E entre eles, está um dos cavaleiros mais misteriosos que vai batalhar pela armadura de Câncer." Comentou Alessandro. "Henrique de Coroa Austral, o mais experiente dos cavaleiros de bronze."
"E o que você tem contra esse Henrique, Alessandro?" Perguntou Demétrius.
"Eu posso não o conhecer, mas sinto algo estranho nele. Algo muito diferente do que nós conhecemos." Respondeu Alessandro. "Você o conhece Demétrius?"
"Sim, eu o conheço. Eu já o vi uma vez, quando eu fui ver os treinamentos na Inglaterra. Ele é uma boa pessoa e um grande mestre para as crianças que treinam com ele. Pareceu-me um tanto melancólico, mas é com certeza um grande cavaleiro. Mas o cosmo dele não é agressivo, a não ser que o provoquem." Disse Demétrius.
"Então ele deve ser alguém com quem não se deve conversar, não estou certo?"
"Na verdade, não está Alessandro. Henrique é uma pessoa com quem se pode conversar, apesar do seu jeito arredio com os outros, quem o conhece há mais tempo diz que ele é uma boa pessoa. E eu concordo com eles, pois conversei com Henrique durante a minha estada lá, e nós nos demos super bem. Temos opiniões iguais sobre o significado de ser um cavaleiro defensor de Athena. Ele é muito mais experiente do que nós em muitos pontos além da idade. Ele sabe como é encarar a morte de frente, pois para conseguir a armadura de Coroa Austral, ele quase morreu na batalha." Explicou Demétrius calmo.
"E pelo que vejo, você espera que ele aceite o convite para participar do torneio?"
"Sim, eu espero. Espero que ele venha para Atenas, será um adversário e tanto para quem for lutar com ele. Vai ser uma das melhores lutas que veremos nesse torneio."
Alessandro se calou e se voltou a caminho do Santuário. Demétrius observou a reação do cavaleiro de Erídano com naturalidade. "Também tem a mesma impressão que eu, de que algo acontecerá em breve no Santuário. Algo que provavelmente estará além do nosso controle e conhecimento. E creio que não somos só nós dois que achamos isso meu amigo, Henrique parece ter o mesmo pensamento que nós, só que é muito mais profundo e talvez até mais antigo. Talvez a vinda de Henrique e o encontro de nós três no torneio não será uma mera coincidência, mas sim uma obra do destino. O torneio será o prelúdio de um novo desafio. Mas qual será esse desafio? É isso que eu preciso descobrir" Pensou Demétrius.
"Quem pode realmente saber ao certo o que está por vir? Talvez só Athena saiba." Disse Demétrius, depois sumindo pelas montanhas.
"Não sabe o quanto está certo, Demétrius de Escultor. Só Athena sabe o real perigo que os aguarda. Ela e... uma outra pessoa que eu não conheço." Disse um vulto para si mesmo, ao ouvir a pergunta de Demétrius. "Parece que você e Henrique sabem do que está por vir."
O vulto na verdade era o espírito de Pandora, que vigiava todo o Santuário. "Espero que consigam vencer o próximo desafio que está por vir." Pensou Pandora. "Torço para que consigam vencer esse novo inimigo que surgirá." E desapareceu nas sombras, voltando a vagar por lugar que talvez nunca saibamos ao certo.
"O dia não tem nenhum significado sem à noite, cuja qual se ergue à realidade do mundo. E sem essa realidade, o dia só serve como o despertar das idéias desumanas e cruéis, vindas dos confins da alma humana, pois a
noite é o colírio de todos os males que destroçam e turvam a visão da
humanidade dos monstros e quimeras da sociedade moderna."
"A vida é um mistério tão profundo, que se torna uma face totalmente nova de existência da vida e da morte. Quando uma pessoa pensa por que nasceu, ela está resgatando uma parte de si mesmo que a muito foi esquecida, pelos
homens e pelos deuses."
Inglaterra...
Ao norte de Glasgow, nas noites claras de verão, as estrelas refletem seus nobres brilhos aos sortudos moradores daquela área, em especial Henrique Heavensoul, um jovem, porém dedicado Cavaleiro de Bronze. Sua constelação protetora era a Coroa Austral. Ele treinava algumas crianças para serem futuros defensores de Athena, como ele. Era um rapaz de 18 anos, de cabelos tão pretos que quando eram iluminados por qualquer coisa, refletiam um brilho azulado. Seus frios olhos cinzas eram tão pálidos como a lua, mas eram enérgicos e sinceros. Há um mês, porém, uma carta acabou chegando até suas mãos. Era do Santuário, e o convocava para um torneio. Um torneio que envolveria muitos cavaleiros. Mas, Henrique parecia relutante em aceitar o convite. Há dias ele tinha um mau pressentimento, sentia que algo de muito ruim aconteceria em breve. Ele não sabia o que era, mas acreditava plenamente em sua intuição, ela raramente falhava. E era isso que o deixava preocupado.
"Por que eu não consigo entender essa sensação ruim que tenho? O que é esse mau pressentimento que me domina?" Pensou Henrique.
"O que houve, mestre Henrique?" Perguntou Daniel, interrompendo seus pensamentos.
"Nada, Daniel." Respondeu Henrique, sorrindo. "Absolutamente nada... Bom meninos, hoje encerramos o treino. Amanhã, quero que vocês acordem cedo e estudem bastante. Encontro vocês no mesmo horário, está bem?"
"Sim." Disseram os meninos e foram embora, conversando.
Só Daniel ficou no local. De todos os meninos Daniel era o mais novo entre os discípulos. Com seus 6 anos, era um menino calmo e triste que perdeu os pais muito cedo. Henrique o adotara dois anos depois, quando Daniel tinha 3 anos.
"Vamos para casa Daniel." Disse Henrique, pegando Daniel no colo. "Mal está se agüentando em pé. Tem certeza que quer treinar com os garotos mais velhos?"
"Tenho sim, irmão." Respondeu Daniel. Era comum Daniel chamar Henrique de irmão quando estavam sozinhos, mas, quando treinavam, ele sempre o chamava de senhor ou mestre. "Quero ser forte como você."
Henrique sorriu com o comentário, e se lembrou da infância que teve. Era órfão e foi criado por uma senhora desde pequeno. Quando ele completou 7 anos, ele foi até Glasgow encontrar Christian de Triangulo Austral, que seria seu mestre. Ele ensinou Henrique a louvar e respeitar Athena e a lutar pela justiça. Ele se tornou cavaleiro com 14 anos, quando conseguiu finalmente passar no teste, ao lutar contra Kraven, um rapaz convencido e esnobe. Henrique teve graves ferimentos durante a luta e derrotou Kraven com a Explosão da Coroa Austral. Porém, Henrique quase morreu depois dessa luta. Ficou por mais de 2 semanas vagando pela linha da vida e da morte. Quando ele saiu daquele estado, precisou de um ano para se recuperar das seqüelas que a luta lhe causara. Henrique se mostrou forte e também sábio. Quando o seu mestre morreu, alguns meses depois, vítima de uma doença que não havia cura, disse a Henrique que Athena iluminava sua morte e lhe dava um fim tranqüilo e que ela salvara Henrique, por ter se mostrado forte diante a morte. Desde da morte de Christian, Henrique passou a treinar jovens garotos que o destino colocou em seu caminho.
"Me sinto feliz, por poder ensinar a essas crianças o valor da amizade e da cooperação mútua. Isso realmente é o que eu queria e estou conseguindo ao treinar as crianças e como às senhoras do orfanato dizem sobre as melhoras dos meninos. Mas, essa carta está me inquietando, tenho um pressentimento ruim sobre esse torneio, não só por isso. Com certeza há algo maior e que eu não tenho idéia do que pode ser." Pensou Henrique. "Espero que a minha decisão seja, além de tomada a tempo, acertada."
Ele continuou a caminhar lenta e melancolicamente, deixando sua mente vagar por aí, enquanto seus passos o levavam para a casa onde ele morava com o seu irmão. Mas sua mente estava longe, mais precisamente em Atenas, o lar da deusa Athena, e no torneio que seria realizado no local. "Será que devo ir a esse torneio? Eu não sei o que pensar, pois algo nubla meus pensamentos. Temo, sobretudo pela vida dessas crianças. Muitos homens tentaram maltratar essas crianças, que eu consegui salvar. Mas se eu me afastar, quem me garante que eles não matem as crianças?"
De noite...
Henrique saiu da casa onde morava com Daniel e começou a caminhar sem rumo. Em seu coração, ele sabia que uma escolha teria de ser feita, porém, sua alma ainda relutava. Era algo que ele não entendia, mas sabia que tinha de ser feito. "Eu tenho que decidir... e tenho que decidir logo, se eu vou para Atenas, ou fico aqui." Pensou Henrique. Ele caminhou até o alto de uma colina, e lá se sentou, pensando em seus problemas.
"Oh, Coroa Austral, guia-me em minha jornada. Mostra o caminho para a vitória." Comentou Henrique, olhando as estrelas. "Será que devo rumar para o Santuário, ou devo ficar aqui e treinar até chegar ao nível dos meus rivais... O Santuário. O local onde Athena observa todo o mundo. O local onde a disputa começará e só os melhores sobrevivem."
"E onde os guerreiros de Athena se reúnem quando o mal volta a Terra." Completou uma voz. "Como vai acontecer agora."
Henrique se virou e viu uma jovem de longos cabelos roxos, olhos violeta, vestida com um longo vestido negro e com um tridente em sua mão esquerda. Ela tinha asas brancas e olhava seriamente para Henrique. Ele se levantou e se colocou em posição de luta, pronto para reagir a qualquer coisa. Porém, a jovem não se alterou nem um pouco. Apenas observou o rapaz que estava na sua frente. Alto, de olhos cinzas como a lua, cabelos tão pretos que podiam se confundir com o vestido dela. Ela não sabia a idade dele, mas supunha que ele tivesse uns 18 anos. Não pode deixar de sorrir quando ele tomou uma posição de luta. Henrique estranhou a jovem. Era muito pálida, parecia uma estátua trazida à vida.
"Não tenha medo. Eu vim em paz." Disse a jovem, quebrando o silêncio.
"Quem é você?" Perguntou Henrique.
"O meu nome é Pandora e vim lhe dar um recado. Deve ir ao Santuário, pois seus pressentimentos têm fundamento e você será necessário lá. Muito mais necessário do que pensas ser."
"Como você sabe que eu tenho esses pressentimentos? O que você é?"
"Eu... eu sou uma humana que servia a Hades. Mas eu não estou mais entre os vivos, e agora tenho uma chance de redimir meus erros passados. Isso é suficiente, ou eu vou ter que contar minha vida inteira para você acreditar."
"Não precisa, eu acredito no que diz." Respondeu Henrique. "Mas, me diga, por que você veio me avisar do perigo? Eu devia ter percebido isso sozinho."
"E você percebeu, apenas duvidou de seus instintos e intuições. E elas não costumam falhar Henrique." Respondeu Pandora. "A batalha começará em breve, e você precisa ser rápido em sua decisão. Não posso forçá-lo a nada, você tem o livre arbítrio para decidir o que você vai fazer."
Henrique ficou pensativo, meditando sobre as palavras de Pandora. O que ela dizia fazia muito sentido a Henrique, que sabia que tal coisa iria acontecer. Depois de uns cinco minutos de silêncio absoluto, Henrique respondeu, com uma voz potente, e livre de qualquer dúvida.
"Eu irei ao Santuário. Parece que eu adiei muito essa decisão, mas finalmente eu a fiz. Tenho que ir o mais rápido possível para Atenas."
"Muito bom." Disse Pandora. "Bom, eu tenho que ir. Mas voltarei sempre que for possível. Até logo, Henrique de Coroa Austral."
"Até uma próxima vez, Pandora." Respondeu Henrique.
Pandora sumira do mesmo jeito que aparecera. Henrique desceu a colina e foi até a casa onde morava com Daniel e foi até o quarto do menino. Como um bom irmão, Henrique cobriu o irmão com uma colcha e saiu do quarto sem fazer barulho, para não acordar o menino. Depois disso, ele foi até seu quarto e ajeitou suas coisa para ir até Atenas. Entre seus pertences, ele levava a foto de seus alunos e a de seus amigos. Terminado esse trabalho, Henrique foi até a porta da casa, e ficou lá parado. Sabia que alguém estava vindo.
"James, não se esconda, eu sei que está aí." Disse Henrique.
"Henrique, o que decidiu?" Perguntou o rapaz.
"Boa noite para você também James. Eu decidi que vou para o torneio em Atenas." Respondeu Henrique.
"Antes tarde do que nunca, não é?" Disse James sorrindo.
"É mesmo, meu amigo. Mas, eu preciso de um favor seu."
"Pode falar Henrique, se for algo que eu puder fazer, eu o farei."
"Preciso que você continue o treinamento dos meninos enquanto eu estiver fora. Eles vão aceitar você, pois eles já o conhecem e também porque você me ajuda algumas vezes no treinamento." Pediu Henrique. "Eu não sei a quem mais posso pedir esse favor James. Eu temo pelos meninos, especialmente por Daniel, os homens dessa região só esperam que eu me afaste deles, para iniciar uma matança."
"Eu entendo sua preocupação e o seu medo Henrique. E entendo que essa foi uma das coisas que mais adiou sua decisão." Respondeu James. "Mas eu treinarei as crianças, e se algum desses homens tentar algo contra eles, eu mesmo cuido dele."
"Obrigado James. Agora, eu tenho que falar com a senhora Alandra."
"Então vamos lá, Henrique."
Ambos seguira até uma pequena pousada próxima a casa de Henrique. Eles entraram na pousada, e seguiram até a lareira, onde uma senhora estava repousando.
"Boa noite, Alandra." Disse James.
"James, Henrique, a que devo a honra dessa visita?"
"Senhora Alandra, eu gostaria que, por favor, cuidasse das crianças por mim." Disse Henrique. "Pelo menos, até eu voltar de novo. Eu irei até o Santuário, competir e resolver algumas coisas. James continuará o treinamento dos garotos enquanto eu estiver fora."
"Pode deixar, Henrique. Eu cuidarei deles."
"Nós cuidaremos deles. E eu os treinarei do mesmo jeito que você os treinava." Disse James.
"Eu agradeço por tudo. Agora, eu tenho que partir. Cuidem-se, meus amigos."
"Boa sorte Henrique."
Henrique sorriu e saiu sem dizer mais nenhuma palavra. "É como Pandora disse, a batalha começará em breve. Eu só queria saber quem é esse novo mal."
"Adeus, grande Inglaterra. Agora, o meu destino é o berço da civilização ocidental, Atenas."
E rumou para Atenas, com o pensamento fixo em seus próprios passos, e em que direção eles o levariam. "Eu juro que defenderei Athena nem para isso eu tenha que vir a perecer durante o combate. Esse é o meu juramento e só quando o perigo passar, eu poderei voltar para a Inglaterra para terminar o treinamento dos garotos." Pensou Henrique e desapareceu no meio da noite.
No Santuário...
O treinamento dos jovens para se tornarem cavaleiros e defenderem Athena é intenso. Mas, mesmo num lugar como aquele, os jovens tinham momentos para refletir em paz. Caminhando pelo Santuário, o jovem Alessandro observa o horizonte. A noite estava bastante clara, e ele via todas as constelações brilharem. Procurando um pouco, ele conseguiu achar sua constelação protetora, Erídano. Ele estava calmo, até sentir um poderoso cosmo muito próximo. Mas, Alessandro conhecia muito bem o dono daquele cosmo. Era Demétrius, que estava numa montanha mais alta, observando as estrelas. Ele parecia conversar consigo mesmo, mas Alessandro conseguiu ouvir uma das frases que ele dizia.
"As estrelas brilham muito essa noite. É sinal de boas e más notícias." Foi isso que Alessandro conseguiu ouvir.
"Pelo que sei, ainda falta alguns cavaleiros que moram longe, ou que treinam crianças para serem futuros cavaleiros. E entre eles, está um dos cavaleiros mais misteriosos que vai batalhar pela armadura de Câncer." Comentou Alessandro. "Henrique de Coroa Austral, o mais experiente dos cavaleiros de bronze."
"E o que você tem contra esse Henrique, Alessandro?" Perguntou Demétrius.
"Eu posso não o conhecer, mas sinto algo estranho nele. Algo muito diferente do que nós conhecemos." Respondeu Alessandro. "Você o conhece Demétrius?"
"Sim, eu o conheço. Eu já o vi uma vez, quando eu fui ver os treinamentos na Inglaterra. Ele é uma boa pessoa e um grande mestre para as crianças que treinam com ele. Pareceu-me um tanto melancólico, mas é com certeza um grande cavaleiro. Mas o cosmo dele não é agressivo, a não ser que o provoquem." Disse Demétrius.
"Então ele deve ser alguém com quem não se deve conversar, não estou certo?"
"Na verdade, não está Alessandro. Henrique é uma pessoa com quem se pode conversar, apesar do seu jeito arredio com os outros, quem o conhece há mais tempo diz que ele é uma boa pessoa. E eu concordo com eles, pois conversei com Henrique durante a minha estada lá, e nós nos demos super bem. Temos opiniões iguais sobre o significado de ser um cavaleiro defensor de Athena. Ele é muito mais experiente do que nós em muitos pontos além da idade. Ele sabe como é encarar a morte de frente, pois para conseguir a armadura de Coroa Austral, ele quase morreu na batalha." Explicou Demétrius calmo.
"E pelo que vejo, você espera que ele aceite o convite para participar do torneio?"
"Sim, eu espero. Espero que ele venha para Atenas, será um adversário e tanto para quem for lutar com ele. Vai ser uma das melhores lutas que veremos nesse torneio."
Alessandro se calou e se voltou a caminho do Santuário. Demétrius observou a reação do cavaleiro de Erídano com naturalidade. "Também tem a mesma impressão que eu, de que algo acontecerá em breve no Santuário. Algo que provavelmente estará além do nosso controle e conhecimento. E creio que não somos só nós dois que achamos isso meu amigo, Henrique parece ter o mesmo pensamento que nós, só que é muito mais profundo e talvez até mais antigo. Talvez a vinda de Henrique e o encontro de nós três no torneio não será uma mera coincidência, mas sim uma obra do destino. O torneio será o prelúdio de um novo desafio. Mas qual será esse desafio? É isso que eu preciso descobrir" Pensou Demétrius.
"Quem pode realmente saber ao certo o que está por vir? Talvez só Athena saiba." Disse Demétrius, depois sumindo pelas montanhas.
"Não sabe o quanto está certo, Demétrius de Escultor. Só Athena sabe o real perigo que os aguarda. Ela e... uma outra pessoa que eu não conheço." Disse um vulto para si mesmo, ao ouvir a pergunta de Demétrius. "Parece que você e Henrique sabem do que está por vir."
O vulto na verdade era o espírito de Pandora, que vigiava todo o Santuário. "Espero que consigam vencer o próximo desafio que está por vir." Pensou Pandora. "Torço para que consigam vencer esse novo inimigo que surgirá." E desapareceu nas sombras, voltando a vagar por lugar que talvez nunca saibamos ao certo.
"O dia não tem nenhum significado sem à noite, cuja qual se ergue à realidade do mundo. E sem essa realidade, o dia só serve como o despertar das idéias desumanas e cruéis, vindas dos confins da alma humana, pois a
noite é o colírio de todos os males que destroçam e turvam a visão da
humanidade dos monstros e quimeras da sociedade moderna."
