Dia 4
Com o grito maravilhado de Rony Weasley ("O correio chegou!"), Diana ergueu a cabeça para ver as dezenas de corujas sobrevoando o Salão Principal. Ela nunca recebia nada, mas adorava a revoada de corujas nas manhãs de quinta e sábado.

Só que aquela quinta-feira ia ser diferente. Ela reconheceu Hermes Trimegisto, a coruja-marrom da casa de seus pais, e estremeceu. A velha coruja pousou no seu ombro suavemente e esticou a pata com um pergaminho enrolado. Diana colocou a coruja na mesa e ofereceu-lhe suco de abóbora, depois de recolher o pergaminho. Era grosso - carta longa.

Mesmo longa, a carta de seu pai não continha qualquer surpresa. Primeiro, os elogios por ter salvado Snape. Depois, o cuidado com o que ela poderia revelar. Lembranças da mãe e recomendações para que se mantivesse agasalhada. Frustrada, ela dobrou a carta, sentindo-se culpada. Ela ainda tinha raiva, mas amava seus pais. E sabia que eles a amavam. O que fazia a situação toda muito, muito complicada.

Naquele dia, ela não recebeu nenhum recado e assistiu a todas as suas aulas. Pela primeira vez em dias, almoçou regularmente no Grande Salão. Foi depois das aulas de Artimancia do prof. Vector, que ela foi abordada pela Profª Sprout.

- Ah, Diana, querida, vejo que está livre. Gostaria muito que visse isso.

Levou-a à estufa, dizendo:

- Não precisa se preocupar. Absolutamente todo o ar na estufa foi renovado e a mandrágora envenenada está devidamente acondicionada.

- A senhora descobriu alguma informação, Profª Sprout?

- Das mais alarmantes, minha jovem - Ela entrou na estufa. - Há uma coisa que quero que você veja.

A Profª Sprout levou Diana à mesa de laboratório onde jazia a mandrágora envenenada.

- Esta é a mandrágora que envenenou Harry Potter e o Prof. Dumbledore. Tudo indica que ela seja centenas de vezes mais potente do que a mandrágora que envenenou o Prof. Snape. Com certeza não são a mesma planta. O que não se pode entender é por que esse veneno afeta algumas pessoas e outras não.

- Está na cara que é algum tipo de gás liberado pela mandrágora.

- Foi isso que eu descobri: uma combinação de substâncias atuam na mandrágora, que se torna uma espécie de veículo excipiente do veneno. Ao morrer, a mandrágora torna-se parte do veneno, soltando um gás específico.

- Acho que entendi. A mandrágora foi alimentada por diferentes venenos, para produzir um gás que só ela é capaz de produzir, e ainda assim, só quando ela morre.

- Isso mesmo. O mais alarmante é que esse gás é contagioso para as mandrágoras. Todas as da estufa morreram.

Diana ficou alarmada:

- Não pode ser! Vou precisar de mandrágoras adultas para a Poção Restaurativa!

- É mais garantido você usar os espécimes dos estoques do Prof. Snape. Aqueles com certeza não estão contaminados.

A voz característica do mestre de Poções soou atrás das duas:

- Com certeza meus espécimes não estão contaminados pelo veneno.

Diana virou-se e sorriu:

- Olá, Prof. Snape. Eu estava indo até as masmorras.

Severo disse:

- Fui informado de que estaria aqui. Perdoem-me por ter me intrometido desta forma, mas não pude deixar de ouvir o que estavam conversando - dirigiu-se à Profª Sprout. - Madame, suponho que tenha sido capaz de isolar as substâncias que atuaram na mandrágora.

- Certamente, professor - ela pegou sua varinha e agitou-a em frente a um pedaço de pergaminho. - Eis a lista. Mas o gás é muito traiçoeiro. Ainda falta algo nele que não consegui descobrir.

- Talvez isso não seja necessário - disse Snape, pegando o pergaminho e percorrendo os olhos sobre a lista. - Hum, como eu imaginei. Se me derem licença, preciso voltar imediatamente ao meu laboratório. Srta. Adrian, poderia me acompanhar, por favor?

O coração de Diana quase ficou descompassado, e ela seguiu-o pelos corredores, olhando aquelas capas negras fazendo acrobacias no ar, incapaz de acompanhá-lo no seu passo apressado. Ela tentou puxar conversa:

- Eu queria pedir desculpas sobre ontem.

- Como assim?

- O Sr. Malfoy. Eu não consegui avisá-lo sobre quem ele realmente é.

Snape observou-a:

- Ele é o pai de Draco.

Diana abaixou a voz:

- Ele também é muito inteligente, perspicaz, e dizem que é inclinado para as artes das trevas. Eu queria avisá-lo, mas...

- Bem - disse Severo, com um sorrisinho -, eu sabia que ele era pai de Draco, e isso foi informação suficiente para saber que ele certamente não era inocente. Isso e a quantidade de álcool que ambos consumimos.

- Oh - fez Diana.

- Não precisa se sentir vexada, Srta. Adrian.

- Então ainda está de pé o que ficou combinado ontem?

Eles entraram na masmorra pelo retrato do cavalheiro magro de bigodes finos sem que Severo tivesse respondido à pergunta dela.

- Devemos trabalhar sem demora - disse Severo, sem preâmbulos. - Ao visitar o Sr. Potter, ontem, fui brindado com uma informação muito preciosa a respeito do veneno. Estou perseguindo uma linha específica de pesquisa de antídoto.

Diana tirou sua capa e colocou-a no sofá, perguntando:

- Em que posso ajudar, Prof. Snape?

- Mantendo o combinado de ontem; seja sincera. - Eles se olharam, e Diana sorriu. - Ah, enquanto isso, poderia também cortar aqueles figos da Abissínia em fatias muito finas?

- Sim, senhor - Diana pôs-se a trabalhar. - O senhor tem notícias do Prof. Dumbledore? Ele melhorou?

- Estive na enfermaria de manhã. O Diretor continua inconsciente. Eu tenho uma teoria a respeito, mas prefiro não divulgá-la no momento para não causar pânico.

Diana se alarmou:

- Professor, o senhor acha que o Prof. Dumbledore pode...

- ...morrer? - completou Severo. - Não, acho que não. Mas pode acontecer algo ainda pior.

A moça ficou a imaginar o que poderia ser pior do que isso, mas não disse uma palavra. Severo a observou:

- Srta. Adrian, considerando nosso combinado, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta.

- Sim, professor?

- Por que prefere não me chamar pelo meu primeiro nome?

Ela enrubesceu e evitou olhá-lo:

- Ora, isso não seria apropriado.

- Foi o que disse da primeira vez. Agora estou perguntando o verdadeiro motivo. De repente as mãos dela tremiam tanto que ela não conseguia cortar os figos abissínios. Disfarçando, ela juntou todos num montinho, dizendo:

- Ora, e que motivo seria esse?

- É o que estou lhe perguntando. Algo a deixa desconfortável?

- Não - mentiu descaradamente. - Tudo bem.

- Você me prometeu sinceridade - ele chegou perto dela.

Ela suspirou:

- Olhe, professor, pensando bem, acho que estou ficando um pouco desconfortável.

- O motivo? - ele chegou ainda mais perto.

Diana tentou se afastar, cabeça baixa:

- Eu não sei onde o senhor quer chegar. Não sei o que quer que eu lhe diga.

- A verdade - ele a encarava insistentemente. - Somente a verdade e nada mais. Por que não quer que sejamos amigos?

- Isso não seria apropriado, senhor - disse Diana, baixinho, as faces coradas. - Acho até que é contra as regras da escola.

- Bobagem. Nada nas regras da escola proíbe a confraternização entre alunos e professores - Ele se aproximou ainda mais dela e abaixou a voz. - Confraternização de qualquer tipo. Eu chequei.

Diana estremeceu e tentou se afastar dele, mas sentiu que a parede estava bem perto das suas costas. Se ela não tomasse cuidado, estaria encurralada. Ela tentou ir para o lado, mas Severo cortou sua passagem. Correção: ela estava encurralada contra a parede. Ela começou a ficar assustada.

- Professor, o que -

- Eu sei o que você sente por mim - disse ele, sem rodeios. - Está... enamorada, não está?

Diana desejou ardentemente que o chão se abrisse para que ela pudesse se enfiar dentro dele. Seu corpo todo tremia, e ela experimentava emoções conflitantes. Havia um medo real, mas que a excitava. Até o ar começou a lhe faltar.

- Eu... eu...

- Não quero lhe fazer mal, Diana - A voz dele tinha perdido o tom áspero. - Mas preciso de sua sinceridade. Por favor...

Ela se sentia exposta, humilhada, encurralada e sem tem para onde correr. Só queria que ele parasse com aquilo, que tudo acabasse. Sem se dar conta, havia lágrimas correndo por seu rosto, a cabeça baixa, as pernas trêmulas. De repente, um toque gentil no queixo a fez erguer o olhar para se confrontar com dois faiscantes olhos negros, que a olhavam com intensidade.

- Criança tola - disse Severo, com ternura. - Não sabe que eu me sinto da mesma maneira?

Diana sentiu o coração falhar, e viu dentro dos olhos uma sinceridade translúcida. Era verdade! Severo gostava dela. Ela não podia acreditar.

Ela abriu a boca, mas nada parecia sair. Que patética!

Diana sentiu um braço envolvendo-a pela cintura, apertando-a contra o corpo dele. Os longos e finos dedos dele enxugaram as lágrimas do rosto dela, ao mesmo tempo acariciando-lhe as faces. Diana viu os olhos de Severo se fixarem em seus lábios, e ele sussurrou, enquanto inclinava a cabeça para frente:

- Não tenha medo...

As emoções de Diana chegaram ao pique máximo. Uma sucessão vertiginosa de pensamentos ricocheteava todos os cantos de sua mente em apenas poucos segundos. "Ai, não. O que ele está fazendo? Será que ele vai fazer o que eu penso que ele vai fazer? Oh, Merlim! Eu acho que ele vai me beijar! Ele vai me beijar! Beijar a mim! O que eu faço? Ele está me beijando! Ele está me -"

Todas aquelas vozes se silenciaram quando os lábios dele encostaram gentilmente nos dela. Reinou silêncio total em sua cabeça, ainda mais quando ela fechou os olhos.

Era um toque mágico, diferente de tudo que ela podia possivelmente ter pensado. Os lábios de Severo não eram ásperos ou frios. Eram quentes, macios e cheios, pressionando os dela com delicadeza e firmeza. Se ele não a estivesse segurando pela cintura, Diana certamente teria caído, de tão mole que tinha se tornado. Só ao sentir os lábios dele é que Diana pôde saber que os próprios lábios dela também eram quentes, carnudos e macios.

De repente, ela sentiu um toque úmido e insistente contra seus lábios. A surpresa daquele toque tão diferente a fez abrir os lábios e eles foram invadidos com paixão pela língua de Severo, que procurou a dela. Umidade, calor e paixão provaram se espalhar por todo o seu corpo.

Nunca, em todos os seus sonhos mais loucos, Diana tinha sentido coisa semelhante. Seu corpo todo tilintava, formigava de maneira elétrica, e ela sentiu-se viva como jamais antes. A pressão suave do corpo dele contra o seu, vasto e quente, a fazia se sentir segura naqueles braços. Seu respiração falhava, e sua cabeça girava, inebriada de tantas emoções novas e intensas. O tempo parecia ter parado - e ela queria que ele jamais continuasse.

Ainda com os olhos fechados, Diana sentiu os lábios quentes deixando os seus, e ficou imóvel ainda uns segundos, a sensação de formigamento se intensificando no corpo, a boca entreaberta. A voz melodiosa a retornou à realidade:

- Perdoe-me - Severo se afastou e Diana abriu os olhos. - Eu me deixei empolgar. Jamais tive a intenção de magoá-la.

- Professor...

Ele a interrompeu, os olhos sorrindo:

- Por favor... Chame-me de Severo.

Ela quase obedeceu, mas voltou à razão em tempo:

- Isso não seria correto, professor... - Incrível como sua voz soava falsa e amarga em seus ouvidos. - O senhor está doente, não está em seu juízo perfeito.

- Não há nada de errado com meu coração, só com minha memória. E meu coração bate por você, Diana.

- Mas... Isso é errado. Eu sou sua aluna.

A expressão de alegria e doçura deixou os olhos de Severo, que se desvencilhou.dela, afastando-se.

- É claro - A voz dele tornou-se amarga, e ele deu as costas a ela. - Como eu pude pensar que você iria querer ser vista com um homem acusado de ser comensal da morte?

Diana ficou chocada:

- Isso não é verdade! Eu...

Foi interrompida:

- Ah, entendo. Então é por eu ser professor, mais velho e feio?

- Não! Como pode dizer isso?

Ele se virou, irritado:

- Vamos, Srta. Adrian. Estou mais do que consciente de que minha aparência não me faz um candidato para romance. A senhorita realmente não me considera tão ignorante do que eu vejo no espelho, considera? Um mestre de Poções velho, ensebado, pálido, cabelo gorduroso, dentes amarelados?

- Eu não acho nada disso! - disse Diana.

- Então não me rejeite - ele segurou as mãos dela entre as dele, e elas eram compridas e firmes. Ele falava muito rápido, animado e excitado como uma criança. - Deixe-me fazer-lhe a corte. Se você preferir, eu peço a Alvo que lhe dê aula de Poções, para que ninguém a acuse de favorecimento. Eu prometo ser muito respeitoso e fiel. Nem lhe farei propostas indevidas de intimidade até o casamento. Aliás, pretendo pedir a seus pais permissão para fazer a corte, tudo na mais estrita tradição, como é costume em sua família.

- Não! - Diana não pôde evitar gritar. - Por favor, não faça isso, não procure minha família! - Ela tentava evitar as lágrimas. - É tudo tão...

- Desculpe. Por favor, me perdoe. Eu deveria saber que isso tudo a chocaria. Eu deveria ter ido mais devagar. Não pretendia pressioná-la.

- Não é isso - disse Diana, confusa. - É que... - Ela sentiu as lágrimas rolando, uma vergonha quente a subir-lhe o rosto. - Há algo que eu preciso lhe dizer. Acho que o senhor não vai querer nada comigo.

- Diana, querida - Ele beijou-lhe as mãos - Isso não aconteceria jamais.

- Eu não sou quem pensa que sou - Ela abaixou a cabeça, soluçando. - Eu não tenho sangue puro.

- Como assim?

- Eu não sou uma Adrian! - disse ela, chorando. - Eu sou adotada. Voldemort matou meus pais porque eles eram trouxas. Os Adrian me adotaram quando souberam que se tratava de uma criança mágica.

- Mas... - Severo estava estupefato. - Mas Diana...

- O senhor é um sangue-puro. Jamais vai querer qualquer coisa com uma sangue-ruim feito eu!

Ela se desvencilhou dos braços dele e saiu a toda velocidade pela masmorra afora, cega de tristeza, aos prantos. Não tinha corrido muito quando deu um encontrão numa pessoa sólida.

Lúcio Malfoy.

- Ei, ei, ei - disse ele. - Srta. Adrian, o que aconteceu?

Sem fôlego, ela sacudiu a cabeça, soluçando. Lúcio a encarou:

- Alguém a importunou? Uma menina puro-sangue como você pode ser alvo de cobiça para muitos jovens - Ele retirou um lenço sofisticado de dentro das vestes e ofereceu. - Aqui, tome.

Intrigada com o motivo pelo qual o Sr. Malfoy estava sendo tão gentil com ela, Diana pegou o lenço rendado. E quando o fez, sentiu um puxão abaixo do umbigo. Era uma chave de portal!

- Seu glorioso destino a espera, jovem Diana - ela ouviu Malfoy dizer, antes de lançar um Feitiço de Estuporação, e depois Diana não viu nem ouviu mais nada.