Capitulo IV – Más Notícias
- Remus. Posso entrar? – perguntou a voz tímida pela porta aberta.
- Sim, entre. – respondeu levantando a cabeça que estivera apoiada nos braços sobre a mesa de madeira maciça.
Passos leves no carpete maltratado e o ranger da cadeira sob o peso da velha senhora que acabara de entrar.
- Você está com uma aparência horrível, Remus! – ela comentou assustada apalpando o rosto do amigo e analisando seu aspecto. – Eu acho melhor chamar uma das enfermeiras. Tenho certeza que a Srta. Robbie cuidará muito bem do senhor. – ela continuou em palavras rápidas enquanto se levantava.
- Não, Minerva, querida! – ele disse segurando a mão da amiga cuidadosamente, como que com medo de machucar os frágeis ossos da mulher já idosa. – Não. Eu não preciso de médico algum.
- Como não? Veja seu rosto! Você me parece terrivelmente doente! – Minerva estava visivelmente horrorizada.
- Cento e cinqüenta...
- O que você disse?
- Cento e cinqüenta homens acabam de morrer. Cento e cinqüenta dos nossos homens...
Não houve resposta.
A verdade dura parecia demais para ser aceita em segundos tão curtos como aqueles. A velha senhora voltou a se sentar na cadeira forrada, talvez sem acreditar plenamente se suas pernas agüentariam todo seu peso naquele momento.
- Mas... como?
- Uma missão de reconhecimento. Cento e cinqüenta homens foram mandados para a região de Baltmore Ville há uns dois dias para que pudéssemos ter alguma informação sobre o exército inimigo. Logo após seria mandado um ataque furtivo que acabaria com algumas defesas inimigas. Pois bem, eles nos descobriram e pelo que me informaram, nos atacaram com um grupo triplamente maior do que nossos soldados. Um verdadeiro massacre. Não sobrou um soldado sequer. Só ficamos sabendo do que aconteceu porque um dos nossos mensageiros havia ido até o acampamento para coletar as informações já adquiridas. Você sabe tão bem quanto eu de como precisamos dessas informações o mais breve possível.
- Remus... o que faremos?
- Eu não sei, Minerva. Eu definitivamente não sei. Não sei quanto tempo mais poderemos resistir a isso. É impossível ignorar o fato que estamos num numero infinitamente menor do que esses comensais.
Minerva McGonagall olhou para ele com os olhos marejados cheios de uma infinita compreensão. E uma vez mais, segurou as mãos do diretor da Ordem de Defesa falando com uma voz sussurrada:
- Mas nós temos fé. – disse com muita convicção, mas sem uma crença real.
***
Gina andava distraidamente pelos corredores, fitando os próprios pés.
Suas idéias estavam todas embaralhadas e ela precisava dormir urgentemente.
As enormes olheiras denunciavam a crise, mas parecia impossível que
ela pudesse descansar em paz nessa situação.
Já na última noite ela havia dormido muito mal. Cochilos de meia hora, no máximo, em intervalos de no mínimo duas horas. Precisava de um calmante, não agüentava mais a sensação de pesar e o sono que se apoderava dela.
Pois mais que suas pálpebras latejassem, cada vez que deitava a cabeça sobre o travesseiro, pensamentos estranhos invadiam sua mente e ela não conseguia dormir. Talvez fosse bom ir até a ala de enfermagem à procura de um sonífero qualquer.
Ainda estava olhando para os sapatos quando esbarrou em alguém que corria apressadamente pelos corredores. Era David, um daqueles bruxos "quebra-galhos" que havia sido contratado para auxiliar os soldados. Sem ter conhecimentos de guerra, ele, assim como a própria Gina não podiam batalhar.
Na verdade, tudo não passava de uma tremenda injustiça. Há cinco anos Gina morava naquele castelo, acompanhava aulas, auxiliava as enfermeiras e preparava relatórios. Por que Lupin nunca a deixara participar de uma campanha?
- Srta. Weasley! Oh, Weasley... me ajude! Você viu a Granger por aí?
- Hermione? O que aconteceu?
- McGonagall está chamando ela. Parece que vai haver uma reunião de emergência e estão convocando-a.
Por que não a haviam chamado também?
- Você já passou pelo quarto dela? – perguntou tentando parecer indiferente.
- Mas é claro! Foi o primeiro lugar que passei!
- Eu não sei. Eu não vejo ela há três horas, David. Desde que saí do meu próprio quarto. A propósito, você passou por lá?
Ele respondeu manejando a cabeça afirmativamente. Preferindo não falar como se tomando fôlego.
- Sim. Pensei que talvez vocês duas estivessem conversando por lá. Mas ela não está. Não está em lugar algum! Já andei por pelo menos um terço desse castelo e ninguém a viu!
- M-mas... como?
- Eu não sei!
- David... avise McGonagall... eu vou procurar por ela.
***
Acordara tossindo bastante naquela manhã, agora durante a tarde parecia
que sua saúde já havia melhorado consideravelmente. As enfermeiras
haviam tratado bem dele. Sem toda aquela brutalidade contada nas lendas da
Ordem.
Afinal... os vilões também possuíam coração.
Os médicos disseram aquilo que ele já havia deduzido há eras. Vistoriar as masmorras não era a melhor maneira de curar-se daquela gripe. E ele teria dois dias de repouso. Depois disso, era hora de voltar ao serviço.
Sem problemas. Dois dias deviam ser suficientes para fazer o que ele precisava fazer.
Olhando para a mesa de cabeceira ao lado de sua cama, ele resolveu ler a carta recém chegada uma última vez antes de ter de queimá-la. Jogar pelos dois lados era difícil, e ele tinha que acabar com todas as provas que pudessem denunciá-lo de uma possível traição.
Será que aquele líder mesquinho pensava realmente ser fácil adquirir informações por ali? Aliás, como era mesmo seu nome? Não sabia. Sabia que ele achava que estar infiltrado na base inimiga fazia fácil descobrir as informações de guerra.
Estava lá há apenas dois meses! Um reles ajudante da segurança, nem ao menos descer aos aposentos da elite ele podia, imagine se conseguiria invadir os escritórios dos generais...
Se ele tivesse que morrer, levaria toda a Ordem com ele! Oras, tratavam-no como um escravo! Há quanto tempo não recebia uma recompensa pelo que fazia?
Não era hora de remorsos. Obviamente que ele não podia simplesmente se unir a Voldemort. Ela havia visto as torturas, ele havia perdido parentes, tudo por causa daqueles malditos comensais que agora dividiam a mesma base que ele. Teria vingança... teria vingança de tudo e de todos aqueles que um dia se colocaram em seu caminho.
Passando os olhos rapidamente pelo pergaminho ele memorizou. Releu todas aquelas palavras pomposas que tentavam convencê-lo de que se importavam com ele e que estariam ali caso precisasse deles.
"Grato,
Remus J. Lupin,
Diretor da Ordem de Defesa e Resistência."
Bufou uma última vez antes de queimar a carta e sair quarto apressadamente. Tinha que arranjar um jeito de conseguir os documentos que o tal Excelentíssimo Senhor Lupin achava que ele devia conseguir. Era fácil falar enquanto se estava sentado confortavelmente em sua cadeira de couro, seguro atrás de sua escrivaninha de madeira polida.
Sinceramente, ele não sabia porque continuava trabalhando para aquelas
pessoas nojentas...
