Espero que as pessoinhas gostem! ^^"
Capitulo V – Prisão de Gelo
Ron tinha o rosto esmagado contra a janela. Por que se sentia tão mal?
Talvez fosse porque essas suas primeiras vinte e quatro horas haviam sido tremendamente desgastantes e que até agora não houvera nenhuma notícia boa. Talvez fosse porque ele aparentemente acabara com o dia de outras duas mulheres. Talvez fosse porque ele tinha uma família (até grande demais) e não sentia como tal. Ou talvez fosse a junção de tudo isso e um pouco mais.
Estava cansado. Estava extremamente cansado, mas o sono parecia uma idéia absurda e distante. Na verdade, não era exatamente uma idéia cogitada. Ele estava simplesmente olhando para a neve que caia vagarosamente do lado de fora.
Ah... a neve...
Ela parecia tão pura, tão calma. Era capaz de fazê-lo sentir-se melhor, fosse por um segundo sequer. Ele sentia-se como se os problemas não mais existissem, embora estivessem apenas começando.
Mas agora se sentia tão confuso. Parecia que havia saído de sua vida nas trevas para passar a viver uma vida de trevas. Onde tudo fica cada vez mais e mais confuso e ele não mais podia saber se valia realmente viver.
Que pergunta idiota. Obviamente valia a pena viver. Ele não sabia o porquê. Mas valia a pena viver e ele acreditava firmemente nisso. Talvez, viver fosse a única coisa que realmente valesse a pena naquele mundo estranho.
E talvez, viver valesse a pena por causa da família.
Sim. Essa era uma nova teoria que vinha se firmando na sua cabeça aos poucos. Afinal, cada vez que ele pensava no sentido da sua vida, ele lembrava-se de Gina. Lembrava-se de como ela sorrira quando o vira acordado. De como as mãos delas tocaram freneticamente o seu rosto, tentando descobrir se ele era realmente real.
Aquilo lhe causara muito gosto. Talvez por saber que podia trazer alegria para alguém. Será que os outros de sua família ficariam tão felizes em vê-lo quanto a pequena Gina?
Ele não sabia. Mas uma coisa era certa. Ele faria de tudo para concertar seu erro. Arranjaria um jeito de fazer Gina sorrir de novo, como sorrira na noite passada, quando ele acordara. Ele vinha se sentindo muito mal... vira nos olhos das duas mulheres que havia tirado de lá todas as esperanças possíveis e imaginaiveis...
Isso deveria tirar um pouco do peso que ele sentia carregar nas costas.
Mas... o que era aquilo?
***
Passos rápidos. Ele tinha que fazer isso de maneira ágil. Tinha tudo planejado. Infiltraria-se nos corredores subterrâneos já descobertos, entraria furtivamente pelas salas, usando da passagem secreta na parede. Entraria no alçapão sob o tapete e seguiria se arrastando até o lado de fora, por onde subiria no tubo de ventilação até chegar ao corredor.
Com esse caminho já teria evitado no mínimo sete guardas e três senhas. E com certeza dezenas de armadilhas também. A partir dali, seria preciso muita sorte para entrar na sala de reuniões ileso. Mas era um risco que ele teria de correr, caso quisesse permanecer vivo.
Algumas tossidas forçadas faziam com que sua ida pelo caminho da sala de enfermagem não parecesse suspeita. Mas seria preciso muito jogo de cintura para que pudesse seguir seu caminho sem chamar atenção.
Mas afinal, ele era um espião, e era pra isso que estava ali. Sim... ele era Elian Davis... ele era espião da Ordem... e ele devia fazer o que Remus Lupin mandasse. Mas por quê? Por que ele tinha que obedecer aquele homem? Remus nunca fizera nada por ele. Pelo contrário, sua mãe estava morta justamente por lutar ao lado daquele maldito!
Não era hora de questionar e sim de agir. Conseguindo a papelada necessária ele seguiria para o quartel general das forças de defesa e ordenaria que o tirassem daquele fim de mundo. Trabalharia no castelo da Ordem a partir de lá. Chega de masmorras! Ele queria um cargo digno à sua pessoa.
Havia finalmente chegado ao seu primeiro destino. A estatua da deusa Vênus
era a marca. Agora bastava entrar pela passagem e...
- Boo, Elian...
***
Onde Hermione estava?! Havia mais de uma hora que estava correndo de um lado
a a outro do castelo. Onde ela estava? Ninguém a vira. Ninguém
ouvira falar dela nas ultimas horas.
Gina sentiu os estômago revirar só de pensar no pior. E se ela tivesse feito alguma besteira? E se a pressa o tivesse sido demais para ela?
Oh não. Não Hermione. Ela sempre fora uma mulher muito sensata, sempre enfrentara tudo com coragem e determinação. Já tinha enfrentado coisas tão piores e nunca havia fraquejado na sua sanidade. Não seria agora que aconteceria.
O frio aumentava de acordo com que o dia ia embora. Já estava começando a escurecer do lado de fora, e Gina torcia para que a amiga estivesse sã o suficiente para saber que deveria permanecer dentro do castelo. Mas era óbvio que ela estaria, ninguém saía num tempo como aquele! Estava nevando desde cedo e o nível da neve do lado de fora ficava cada vez mais alto.
E por mais que ela quisesse pensar que tudo estava bem, que tudo não passava de simples paranóia sua, Gina não conseguia deixar de imaginar o pior para amiga. Não podia deixar de imaginar que ela poderia estar agora morta, soterrada sob toda aquela neve. Talvez ela estivesse gritando por socorro. Talvez ela estivesse pedindo ajuda. E ninguém iria até ela...
Foi no meio desses pensamentos insanos que ela o viu. Descendo a escadaria à passos apressados, ajeitando o casaco sobre os ombros e calçando as luvas. E toda a sua preocupação sobre Hermione pareceu esvair-se em apenas um segundo, pois lá estava ele. Ron Weasley. Seu irmão... vivo.
Parecia impossível desgrudar os olhos dele. Ela o seguia com os olhos sem dizer uma palavra sequer. Ele não a notara ali ainda, mas ela não se importava. Apenas observava de longe. Observava ele chegar ao pé da escada, observava ele arrumar o gorro sobre os cabelos ruivos uma última vez, e observava-o olhar para ela.
E foi então que ela sentiu um arrepio percorrendo sua espinha. Fora pega de surpresa por aquele olhar estranho. Não estava pronta para olhar para os olhos do irmão sem vê-lo. Não estava pronta para olhá-lo e ver ali um desconhecido.
Mas apesar de tudo. Ele sorriu.
***
Correr. Ele havia visto um corpo na neve! Tinha certeza que vira! Fora difícil
distinguir a massa escura no meio da neve branca nos primeiros cinco minutos,
mas então ele teve certeza, era um corpo... um corpo humano jogado na
neve.
Obviamente a pessoa estava inconsciente. Provavelmente até morta! Mas ele teria de descer lá para saber. Talvez um minuto a mais que ele passasse em seu quarto podia ser suficiente para matar aquela pessoa, caso estivesse viva.
Era hora de ser útil para alguma coisa.
Mas todos os seus planos ficaram em segundo lugar ao avistar ela. Encarando-o. Olhos inquisidores e ao mesmo tempo assustados.
Bem, ele tinha de correr.
***
- Tem um corpo na neve. – ele disse tirando-a do transe.
- O quê?
- Tem um corpo jogado na neve. – e dizendo isso pela segunda vez correu até a porta de entrada.
Mas como assim? Ele sairia na neve para... para o quê mesmo? Procurar um corpo na neve? Oh não! Hermione!
- Ron! Ron espere! – mas foi aí mesmo que ela estancou. Não. Aquele não era seu irmão. Aquele não era Ron. Então como, diabos, ela iria chamá-lo? Ele era Ron, e ponto final. – Hermione! Hermione está desaparecida!
Ele parou, a porta ainda aberta e a neve açoitando seu rosto. Ele falou, palavras duras e rápidas.
- Então corra... ou pode ser tarde demais.
***
- HERMIONE! – Gina chamava. Mas o rosto pálido da amiga não respondia. Ela sentia a neve aumentando sobre seus ombros e seus ossos doendo no frio. Precisavam voltar. Precisavam voltar para dentro do castelo.
Ron rapidamente tirou seu casaco e cobriu a garota, que continuava imóvel, a pele já azulada pelo frio e os lábios roxos cobertos de uma fina camada de gelo. Não havia tempo para checar o pulso. Não havia tempo para checar a respiração. Era pegá-la e correr. Ou talvez todos se soterrassem na tempestade de neve que começava a ficar cada vez mais forte.
Gina observou o ex-irmão ruivo pegar a amiga no colo e tentar dar uma passada na neve fofa. Os pés afundaram e ele perdeu o equilíbrio, levando os dois corpos ao chão. Logo ela correu para ajudar. Precisariam de um trabalho em equipe dessa vez.
- Gina! Avise as enfermeiras. Assim que entrarmos lá, precisamos que levem a Srta. Granger imediatamente para ser tratada! – ele gritava tentando fazer-se ouvir entre o barulho do vento que os atormentava.
- Mas... mas... – ela não queria ir. Eles precisavam de ajuda, Ron não conseguiria carregá-la sozinha em meio aquela tempestade!
- Vá logo!
Sim... talvez ela ajudasse mais voltando ao castelo do que parada na neve. Com esses pensamentos ela correu o mais rápido que pôde, lutando contra o frio, até a base.
Ron ainda estava ofegante. Todos os músculos de seu corpo faziam um esforço qualquer para tirá-los dali. Os pés ainda afundados na neve alta pareciam não querer se mover, Ron teve de fazer um esforço imenso para sair do lugar que estava.
O corpo de Hermione estava caído não mais que um metro a sua frente, e rastejando ele a alcançou. Pegando-a no colo novamente. Mas como fazer para levantar? Os joelhos apoiados na neve não lhe deram uma firmeza suficiente e o bruxo caiu uma vez mais. Hermione sob si, ele não podia sentir a respiração dela no seu rosto. Era bom que ele agisse rápido. Talvez os dois morressem em meio a tanta neve.
Era hora de mudar de tática. Movendo os braços com dificuldade, ele colocou o corpo de Hermione sobre seu ombro direito e usou a mão esquerda para apoiar-se e levantar. Um primeiro sucesso. Trataria de manter-se firme em pé desta vez.
Os pés afundavam lentamente em toda aquela brancura que forrava o chão. Puxando a perna com força, foi capaz de tirar uma das pernas de seu buraco e apóia-la alguns centímetros à frente. Mas foi preciso força demais e logo aquele pé estava novamente soterrado um buraco na neve.
Ele levaria anos para chegar até a porta principal do castelo. Precisaria usar outra via. Mas não haviam janelas utilizáveis, não haviam portas dos fundos ou qualquer vestígio de uma passagem qualquer. Estavam abandonados na neve e teriam que lutar para chegar são e salvos no aquecimento seguro do castelo.
A tempestade pareceu aumentar mais, ou talvez fosse simplesmente o sentimento de cansaço excessivo que Ron sentia naquele momento. Puxando o outro pé, ele esforçou-se para dar uma passada larga mas a falta de equilíbrio fez com que afundasse novamente pouco à frente.
Estavam condenados...
