Capítulo 2
- a visão de Hermone -
A manhã do sábado passou como um piscar de olhos. Harry mal podia esperar para que chegasse a hora que Hermione e seus pais viriam buscá-lo em sua casa. Já tinha arrumado sua mala, onde guardou os últimos bolos da Sra. Weasley, sua vassoura e todo o seu material escolar, além dos presentes que ele havia ganho nos anos anteriores. Esse ano, ele ainda não havia recebido nenhum presente de seus amigos, exceto Dumbledore que mandou uma outra coruja pela tarde. Ela trazia a carta e um pequeno pacote embrulhado num papel vermelho e brilhante que aparentava guardar um relógio ou outra coisa pequena. Ansioso para ver o que era, Harry desembrulhou primeiro o presente e deixou a carta de lado. A caixa era feita de madeira envernizada e tinha uma pequena fechadura trancada que foi aberta facilmente com a ajuda da varinha. Dentro da caixa, ainda menor, havia um pequeno dodecaedro prateado que cabia na palma da mão. Harry segura o dodecaedro com os dedos e ergue à altura dos olhos examinando cuidadosamente e tentando adivinhar o que era. Como que obedecendo aos seus pensamentos, uma linha horizontal surge do nada na superfície do dodecaedro e começa a crescer até dar a volta completa no objeto. Harry olha silenciosamente quando o objeto se divide ao meio liberando uma luz tão forte que fez com que Harry sentisse seu rosto queimar como se andasse no sol por horas. Ofuscado com aquilo, ele larga o objeto no chão e coça os olhos, sem entender porque Dumbledore mandaria algo assim. Com certeza não iria ficar cego definitivamente. O diretor do colégio sabia a diferença entre presentes interessantes e perigosos, coisa que Hagrid passa longe de saber. Ainda de olhos fechados e vendo estranhas luzes através das pálpebras, Harry hesitou um pouco antes de abrir novamente os olhos, mas o fez assim que começou a ouvir uma música suave e relaxante. Era como se estivessem ali, várias Veelas recitando uma melodia composta especialmente para Harry. Ele sentia que estava perto do paraíso e que estaria sendo levado até ele, nos braços das veelas e que no paraíso todos os seus problemas acabariam e ele teria a vida que sempre sonhou em ter, ao lado de seus pais. Sem se deixar levar completamente pela canção, ele volta seus pensamentos ao quarto e vê que, próximo ao teto, voava um pequeno ponto dourado brilhante, lembrando uma versão miniaturizada do pomo dourado. Sem qualquer outro barulho além da música, o ponto vai descendo vagarosamente em direção ao dodecaedro jogado no chão até que entra nele e o dodecaedro se reconstitui. A canção acaba e Harry volta a ouvir o barulho do vento e de sua tia Petúnia falando mal da vida alheia pelo telofone na sala. Edwiges estava de olhos fechados e parecia ter aprofundado mais ainda em seu sono. Sua respiração era vagarosa e forte. Harry pega o presente, guarda de volta na caixa e coloca sobre a escrivaninha. Em seguida, com um sorriso no rosto pois por mais tempo que convivesse em Hogwarts ele sempre se impressionaria com aquelas coisas, Harry abre a carta de Dumbledore e a lê.
"Caro Harry Potter,
Vim através desta carta lhe avisar que não há nada com o que se preocupar a respeito de sua viagem para a casa da família Granger. Muito provavelmente a alegria que sentiu o fez esquecer de maiores preocupações e não tomar os devidos cuidados, mas eu não o culpo disso. É verdade que Voldemort está completamente desaparecido e até agora não deu sinal de estar planejando algum ataque a você ou à escola. Mas também é óbvio que ele está planejando e por isso é preciso que seus cuidados sejam redobrados, mas isso não é motivo para esquecer de seus amigos ou se enclausurar em um quarto escuro. Devo confessar que a princípio não achei uma boa idéia passar o fim das férias fora de sua casa, mas após reler a carta da senhorita Granger cheguei à conclusão que iria acabar me sentindo mal por não deixá-lo ir. Asseguro que você e sua amiga terão a devida proteção durante este período e que ao menor sinal de alguma atividade suspeita, ambos serão informados imediatamente. Espero que aproveite a sua estadia ao máximo e que não deixe de continuar praticando Oclumancia. É fato que você já está dominando essa técnica até certo ponto, mas é sempre bom aperfeiçoar cada vez mais. Em tempos difíceis como esses, toda prática será de grande valia. Alguns membros da ordem estarão protegendo você e a senhorita Granger durante esse período, de maneira discreta e segura para que não estraguem o seu passeio nem causem problemas com os pais dela. No mais, apenas quero parabenizá-lo por mais este aniversário e desejar-lhe que esse ano seja de grande aprendizado e felicidade. Este pequeno presente é algo simples, mas que você talvez esteja precisando. É um raro exemplar de uma fada d´água, pequenas criaturas que projetam dentro de seus pensamentos as músicas mais belas que você possa sonhar. Muito usadas por quem sofre de insônia, mas é sempre bem vinda em qualquer situação, principalmente quando se está passando por tantos problemas. Elas induzem ao sono rapidamente, sem alterar suas capacidades de proteção. Use-a bem e tome cuidado caso chegue a não conseguir dormir sem elas. Viciam facilmente (eu que o diga).
Atenciosamente
Alvo Dumbledore
PS: ao abrir a caixa, mantenha o rosto distante. Pode causar ofuscação temporária e deixar pequenas marcas na pele durante alguns minutos."
"hum..." pensava Harry, que só agora achou que seria melhor ter lido a carta antes de abrir o presente. Se tivesse um espelho, ele teria se arrependido mais. Grandes rodelas brancas surgiam em todo o seu rosto e os fios de cabelo mais próximos da face soltavam uma fumaça estranha. Ele olhava para a coruja e imaginava se ela continuaria dormindo por muito mais tempo que o normal, agora que ela tinha ouvido a música da fada. Ele dobra a carta e a guarda na mala, junto com o presente.
"como eu pude me esquecer...?!" pensava Harry, relembrando das primeiras linhas de Dumbledore. Ele aceitou o convite de Hermione com tanta rapidez que nem deu tempo de pensar que poderia ser mais uma armadilha de Voldemort. Nem passou por sua cabeça em avisar a Dumbledore ou à sra. Figgs sobre isso. Ele apenas pensava em sair dali e passar mais alguns dias com pessoas agradáveis, como tem feito nos anos anteriores ao ficar com os Weasley. Mas ele também pensou agora que, com o ministério em seu encalço, Voldemort teria muito menos chances de atacá-lo assim, tão facilmente. Como ele sumiria com Harry sem que ninguém soubesse? Como conseguiriam passar pela vigilância constante da Sra. Figgs e do Fletcher?
"será que eles também vão comigo até a casa de Hermione?" pensava Harry. "claro que não! é muita gente! quem será que vai nos proteger? os pais de Hermione não aparentam saber nada sobre tudo isso. Bem, não custa nada ir perguntar..."
...
A tarde de domingo havia chegado. Após visitar a Sra. Figgs e ter certeza de que estava tudo tranquilo, Harry voltou para seu quarto e ficou lá o resto do dia. No jantar, sua tia Petúnia passou uma estranha gororoba pela portinhola embaixo da porta do quarto, mas Harry não arriscou comer aquilo. O mesmo foi feito durante o café da manhã e se ele passasse mais alguns dias naquela situação, seu quarto acabaria fedendo com a quantidade de pratos entulhados no canto. Harry matava a fome com os doces que recebeu da Sra. Weasley, mas eles não durariam muito. De fato, enquanto Harry estava sentado nos degraus em frente à porta de sua casa, com um braço sobre a mala e o outro sobre a gaiola de Edwiges, ele segura o último bolo e o encarava tentando se lembrar de algum feitiço de multiplicação.
"não posso fazer mágica" pensava Harry, constantemente, tentando se livrar da tentação.
Desde a briga de sexta feira, ele não tinha visto seus tios nem seu primo. Apenas ouvia quando chegavam em casa ou quando ligavam a televisão e raras vezes os via de relance, quando saía do quarto para tomar banho. Harry não achava isso ruim e com razão, pois esses dias foram os mais tranquilos de todo o verão. A Sra. Figgs varria o chão da calçada enquanto um de seus gatos estava ao seu encalço, acompanhando o movimento da vassoura com os olhos. Ela estava vigiando qualquer coisa suspeita, mas disfarçando muito bem pois sua aparência e a forma de encarar os outros era tão comum que por um momento Harry havia esquecido quem ela realmente era. Ao escutar a barriga roncar, implorando para repor o buraco que havia no lugar do almoço, Harry respira fundo e abre a boca para morder o último bolo e aproveitar ao máximo o seu gosto, mas antes que ele pudesse fazê-lo um barulho de carro parando em frente à casa dos Dursley chama sua atenção. Harry levanta os olhos e reconhece o pai de Hermione ao volante. Um largo sorriso toma o seu rosto, mas é sufocado rapidamente ao olhar para os outros bancos e não ver mais ninguém. Apenas o pai dela estava num carro brilhante, azul.
"Harry Potter, acertei? Lembra de mim? Acredito que já me tenha visto algumas vezes, mas nunca chegamos a falar um com o outro. Prazer em conhecê-lo finalmente! Meu nome é Alaor Granger." disse de maneira amigável, o sorridente pai de Hermione. Ele aparentava ser uma pessoa simpática e educada. Com o cabelo bem penteado, camisa de tecido liso branco e mangas curtas, a primeira impressão que Harry teve foi que a família de Hermione seria a primeira família trouxa normal que ele iria conhecer. Harry pensou naquele instante que não se daria muito bem, pois viu como o pai de Hermione o olhou. Ao contrário dos bruxos que sempre olhavam direto para a sua cicatriz, Alaor olhou direto para as suas vestes. Camisa de malha amassada e calça jeans desbotada e folgada, não era uma roupa muito apresentável. Era mais algo que todos usariam para ficar em casa, mas essas roupas eram as únicas que ele tinha. Seus tios nunca se importaram em comprar algo novo para ele, apenas repassando as peças usadas pelo gigante Duda.
"sim, sou eu. Prazer em conhecê-lo" disse Harry, timidamente, enquanto se levantava e limpava a calça da areia acumulada no chão. Ele pega suas coisas e se aproxima do carro vagarosamente, equanto o pai de Hermione abre o porta malas e sai para ajudá-lo a guardar tudo.
"Hermione queria muito vir, mas hoje ela acordou um pouco indisposta ou deveria dizer muito? Ela realmente queria vir e para que ela nao viesse, deve ter sido algo grande. Não se preocupe! Pelo menos não é nada com seus dentes! hoho!" comentava Alaor enquanto colocava a mala de Harry no carro.
"er.. será que não tem problema em eu ir? Se ela está doente, então talvez..." dizia Harry
"oh não! Claro que não! Pode vir sem medo, Harry! De fato não foi nada contagioso! Ou melhor, algo que você nunca vai ter que se preocupar! hehe! Você sabe... coisas de garotas!" dizia Alaor, dando uma piscadela. Harry ruboresce-se enquanto imaginava o que o pai dela queria dizer realmente.
Alaor coloca a mão sobre os olhos para se proteger do sol e olha direto na casa.
"bonita casa a sua. Onde estão os seus tios?" disse Alaor, olhando para a janela coberta pela cortina.
"eles... não estão em casa! Mas tudo bem. Eles sabem que vou sair agora." disse Harry, tentando encobrir o fato que eles estavam em casa mas não queriam receber visita. Alaor percebe mais ou menos a situação em que se encontra, pois Hermione havia lhe explicado muitas e muitas vezes como os tios de Harry eram e pediu para que não arrumasse mais problemas para ele.
"Bem, já que é assim, devemos ir então! hehe! Você coloca a gaiola atrás, por favor?" disse Alaor enquanto se dirigia para o banco do motorista. Harry suspira aliviado e coloca Edwiges no banco de trás. Em seguida ele vai para a frente e se senta, colocando o cinto. Eles partem, seguidos atentamente pelo olhar da Sra. Figgs que havia parado de varrer por uns instantes e também pelo tio Válter, que espiava a rua por uma fresta na cortina. Um suspiro de alívio umedece a janela e Válter volta-se para o interior de sua casa.
"Aquele moleque já foi embora! DUDA! DESÇA! ESTÁ NA HORA!" disse Válter, ofegante enquanto ia apressadamente para a cozinha como se estivesse atrasado para algo. Duda desce com uma grande mochila nas costas, bufando e reclamando do peso. Tia Petúnia sai da cozinha, junto com Válter, carregando uma grande mala. Os três entram sorrateiramente na garagem, guardam tudo no carro e entram nele.
"Tem certeza de que isso é necessário? Aquele garoto não vai voltar por pelo menos um ano, Válter!" dizia Petúnia, enquanto a porta automática da garagem abria.
"É melhor não arriscar! não quero aquela coisa perturbando a vida de nossa família! Se ele mudar de idéia e quiser voltar para cá, vai encontrar a casa vazia! E não adianta dizer mais nada, não vou voltar atrás! Merecemos umas férias!" dizia Válter, dando ré. Sua fala era apressada e espremida na papada, como se ele tivesse evitando que alguém mais escutasse. Duda estava no banco de trás, lutando para colocar o cinto. Apenas ele ocupava dois lugares e uma grande área do campo de visão do retrovisor.
Ao saírem na rua, reparam como a sra. Figgs olhava desconfiada para eles. Válter abre a janela e força um sorriso que resulta numa horrível careta de deboche.
"Estamos saindo de férias! Talvez não voltemos por um mês!" disse Válter.
"hum... eu não perguntei!" replicou, rispidamente, a sra. Figgs ainda na encenação de sua personagem. Ela vira-se e volta para casa tão rápido que quase chuta o gato que estava o seu encalço.
"velha ranzinza e ignorante. Tomara que todos os seus gatos morram." resmungava Válter, indo embora com sua família.
...
Harry e Alaor seguiam viagem em uma rodovia com poucos carros. Harry olhava as montanhas no horizonte, através da janela, pensando em como seriam seus próximos dias. Estava tão concentrado que mal podia escutar a música que tocava no rádio e Alaor fazia questão de acompanhar. Desde que saíram, não disseram nenhuma palavra então Alaor resolve quebrar o gelo.
"Bem, Harry... como foi o seu verão?"
"ahn?" respondeu imediatamente, voltando o olhar para dentro do carro. "ah sim... foi bom. Não fiz muita coisa, mas foi tranquilo."
"hehe! não se preocupe Harry. Hermione me contou tudo o que eu precisava saber de você! Talvez até mais. Sempre que as aulas acabam, ela conta tudo o que acontece no colégio e você está presente em grande parte de suas histórias. Eu não entendo muito bem das coisas que acontecem por lá, ou talvez a Hermione não explique direito, mas o que entendi é que vocês sempre são perseguidos não é verdade?"
"er... é sim, mas nessas férias ele não fez nada. Digo... se tivesse feito algo, o diretor teria nos informado."
"O diretor? Esse tal de Draco deve ser muito chato! hehe! Não sei como ainda não foi expulso. Hermione disse que o pai dele é muito influente, mas ora... isso não é motivo pra deixar alguém assim no colégio!" dizia Alaor tentando parecer aborrecido, mas falhava grotescamente.
"ah sim... Draco! É! Ele é muito chato. E agora que é monitor, piorou." dizia Harry, percebendo que Hermione não contou ´tudo´ para os pais. Ela estava certa. Não adiantaria de nada deixá-los preocupados com essa história de Lord Voldemort, até porque não era ela o seu alvo principal.
"Eu acho que vocês não deveriam deixar que ele fizesse tudo o que faz. Se demonstrarem que não estão ligando para o que ele diz, então ele vai perder o interesse em aborrecê-los."
"mas é difícil ignorar..." Harry sabia que Draco fazia aquilo não apenas para aborrecê-lo. O seu preconceito com relaçao aos três e agora que por culpa deles, seu pai estava na prisão de Azkaban, as perseguições não iriam se limitar a provocações bobas nos corredores do colégio.
"Sei como é. Quando eu era jovem também tinham uns garotos que me perseguiram, mas tudo acabou bem. Vocês também vão se sair bem dessa."
"..." Harry não respondeu. Sem dúvida os problemas que estava passando agora não são iguais aos do pai de Hermione.
"Você já tem que suportar tios que não gostam de você. Não pode deixar que mais gente apareça na sua vida para pertubá-lo!"
Nessa hora Harry fica com vergonha. Não fazia idéia de que Hermione tinha contado essas coisas para seus pais. A quem mais ela contou? Provavelmente a todos os seus amigos trouxas...
"desculpe falar neles, Harry. Hermione me fez prometer que não tocaria nesse assunto, mas eu não pude deixar de mencionar. Fico indignado em pensar que seus únicos parentes vivos o tratam desse jeito. Por favor, sempre que precisar de alguma coisa não deixe de nos contar." Alaor tentava dar apoio a Harry, percebendo que o clima não estava ficando muito bom.
"tudo bem, senhor. Obrigado." respondeu Harry, que não queria falar sobre seus tios principalmente depois dele ter mencionado que eram seus únicos parentes vivos. Até um certo tempo atrás, Harry se viu na esperança de deixar aquela casa e ir morar com seu padrinho, mas agora ele se via numa espécie de armadilha. Não poderia sair de lá e seu padrinho estava morto. Durante esse verão, Harry fez muito esforço para evitar pensar nisso, mas agora foi como se tudo o que tivesse feito tinha sido em vão. Um ódio de si mesmo o tomou repentinamente e se não fosse pelo pai de Hermione estar ali, ele teria socado o painel do carro tantas vezes quanto fosse necessário para sua raiva passar.
"ah, e se for contar algo, use a coruja! Criaturas interessantes! Se não fosse pela nossa filha, nunca que eu iria imaginar que elas tinham um senso de direção tão bom. E parecem extremamente inteligentes, além de bonitas! hoho!" dizia Alaor, levando a conversa por um caminho mais ameno.
Edwiges dá um pio de satisfação e ergueu a cabeça, talvez esperando mais elogios. Tanto elogio em tão pouco tempo alimentou o seu ego e foi capaz de despertá-la completamente, pois estava quase dormindo devido ao balanço do carro. Harry sorri e se acalma mais, pensando que já faz muito tempo que tudo aquilo aconteceu e ele não deveria mais se aborrecer pois não há mais nada o que fazer.
"ah sim, são animais muito inteligentes. Lá no colégio existem dezenas delas. Tem um salão apenas para as corujas! Voce deveria ver! Tem de todos os tipos e tamanhos. Rony, um amigo nosso, tem uma coruja bem pequena, cabe na palma da mão. Sempre que precisamos entregar alguma mensagem rápida, usamos ela!" comentava Harry, ajudando Alaor na sua tentativa de amenizar o diálogo.
"Sim! Hermione me conta tudo! É Chichi, não é? Ou Pichi, sei lá... Eu até teria uma coruja dessas em casa. Ia economizar muito na hora de mandar alguma encomenda! hoho! Mas acho que as pessoas iriam se assustar se eu começasse a mandar coisas por corujas. Além do mais, por mais inteligentes que elas sejam, parece que não sabem ir ao banheiro. Aquele gato já dá um trabalhão e não sei se Hermione teria paciência para cuidar de outro animal! hoho!"
Edwiges olha indignada, pois ela não era imunda. Só sujava a gaiola quando estava dormindo, mas sempre que estava acordada ela ia para outro canto quando precisasse. Bem à frente, um carro havia batido em uma das árvores na beira da estrada. Muita fumaça saía de lá e duas pessoas estavam em pé, aparentemente discutindo. Alaor diminui a velocidade e se aproxima vagarosamente para ajudar. Quando chegam mais perto, Harry reconhece os dois vultos. Eram Fletcher e Tonks, numa tentativa frustrada de parecerem trouxas. Fletcher era o que mais parecia com um trouxa, apesar de não ter uma boa aparência. Com barba mal feita, paletó surrado e chapéu de aba, ele encarava o veículo com um olhar de pesar. Tonks discutia exacerbada, atrás de seus grotescos óculos escuros que Harry não ficaria surpreso se tivessem sido comprados em uma loja de logros, seu longo vestido estampado de girassóis que se camuflaria facilmente caso o lugar tivesse algum girassol, um grande relógio prateado reluzente no pulso e tamancos grossos, sem deixar para trás o seu cabelo vermelho.
"Seu bêbado idiota! É claro que não foi um dragão! Não existem dragões aqui!" gritava Tonks, ameaçando disparar um raio dos seus óculos na cara de Mundungus. Este não se impressiona só com isso.
"Mas eu vi! passou bem rente ao carro e quase batemos nele! Se eu não desvio um tantinho assim..." - e mostra o tantinho com os dedos - "...teríamos virado cinzas!"
"Então onde ele está!? sumiu?! ou se escondeu na copa dessa pequena árvore?!"
"er... não vi para onde ele foi..." Fletcher coçava a cabeça por baixo do chapéu. Alaor pára o carro ao lado dos dois, que se calam imediatamente. Eles abrem um sorriso e Mundungus puxa Tronks para perto de si, num abraço forçado. Não era só tentando fingir serem trouxas que eles falhavam. Fingir ser um casal feliz também não estava dando certo. Harry se controla para não cair na gargalhada na frente dos dois, em respeito ao esforço deles. Ele também estava um pouco aliviado ao saber quem era que iria protegê-los durante essa última semana.
"precisam de ajuda? Alguém está ferido?" perguntou Alaor, que obviamente não conhecia os dois.
"não não! hehehehehe! já chamamos um guincho! Foi um acidentezinho de nada! essas coisas acontecem, não é?" dizia Tonks enquanto abraçava Mundungus também. Era perceptível pela cara que ele fazia, que alguma coisa ela estava fazendo nas costas dele.
"que bom. Então acho que vou seguindo viagem. Até mais, hehe!" disse Alaor. Eles seguem e o casal acena para os dois. Harry também acena de volta.
"Dumbledore vai gostar de saber que você bebe em serviço..." dizia Tonks, por trás de seus dentes cerrados e sob um sorriso forçado.
"Pára de apertar! Eu não bebi, ok? Pode ter sido um bicho papão! Você sabia que odeio Dragões? principalmente os verdes!" argumentava Fletcher, enquanto se virava para o carro. Ele puxa a varinha de dentro do paletó e diz "reparo" fazendo o carro voltar ao seu formato original, com cuidado para que ninguém os tenha visto. Os dois entram no carro e voltam para a estrada. Dessa vez é Tonks quem dirige.
...
Eram 3:45 da tarde e o sol estava encoberto por nuvens que aos poucos foram tomando conta do céu, dando um aspecto de fim da tarde. A temperatura caiu um pouco e o vento estava forte, balançando as cortinas estampadas de flores de um quarto no primeiro andar de uma bela casa de madeira. Pintada de branco, jardim bem cuidado, cerca de madeira também branca, calçada impecavelmente limpa, um toldo azul na frente da garagem colada à casa e um tapete ligeiramente velho e usado com uma inscrição de "Bem-vindo" deixava aquela casa em quase perfeita harmonia com todas as outras da rua. À excessão de uns poucos moradores que colocavam cestas de basquete na porta da garagem, no lugar do toldo, ou ainda alguns que deixavam em seu jardim uma bela árvore bem podada, as casas daquele bairro eram simetricamente idênticos. Somado à calmaria e pouco movimento de carros na rua, aquela comunidade poderia muito bem ser a mais organizada do mundo. Voltando ao quarto no primeiro andar, dentro dele Hermione estava de perfil olhando para o espelho na porta do seu guarda-roupas. Ela mantinha uma expressão calculista em seu rosto, enquanto se examinava dos pés à cabeça. Descalça, cabelos presos e usando um simples vestido amarelo e um casaco semi transparente, lembrando um pouco os trajes do colégio, Hermione por algum motivo olhava o espelho com um ar de reprovação.
"Eu to parecendo tão gorda..." murmurava Hermione, comprimindo a barriga com as mãos. De fato ela estava até melhor, mas convencê-la do contrário seria o mesmo que convencer Severo Snape que Griffinória merecia ganhar pontos extras, ao invés de perder. Hermione não admitia, mas estava nervosa com a visita de Harry. Ela queria parecer não estar muito ansiosa e ao mesmo tempo não queria dar a impressão que pouco se importava com ele. Em toda a sua vida era a primeira vez que um amigo vinha passar uns dias em sua casa e ela queria causar a melhor impressão possível. Já bastou seus pais acharem estranho ela convidar um garoto e se Harry começasse a pensar o mesmo, ela não saberia o que fazer. Muitas vezes ela pensava onde estava com a cabeça quando resolveu chamá-lo ou o que os seus amigos da griffinória diriam se soubessem. E se alguém do profeta diário tomasse conhecimento disso? Durante o quarto ano ela já passou por uma situação assim, mas naquela época as coisas eram diferentes. Todas as atenções estavam voltadas para 'Harry, o louco' e agora eles tinham coisas mais importantes com o que se preocupar, como o desaparecimento de Voldemort. Para variar, o jornal relatou boatos como se fossem verdade absoluta sobre suspeitas de locais onde Voldemort foi visto, mas o próprio Dumbledore respondia em suas cartas para Hermione que eram apenas notícias para vender mais. Hermione estava ciente do risco que ela correria se Harry saísse de sua casa, mas ela foi convencida de que não deveria se preocupar com nada e que tudo daria certo.
Hermione vira de frente para o espelho e segura o seu melhor sorriso por alguns segundos, enquanto examinava os seus dentes. Seus pais não acreditaram na história de que os dentes ficaram normais por causa de um acidente, mas o que importa é que ela se achava mais bonita. Sua cama estava bagunçada e um livro aberto no lugar do travesseiro. Hermione passara a manhã lendo "A magia e os mistérios do novo mundo", um livro sobre o a magia no continente americano antes e após sua colonização. Ao lado do guarda-roupa, estava o seu baú aberto e dentro dele todo o seu material escolar desde o primeiro ano.
O barulho conhecido do carro de seu pai parando em frente á casa, a tirou de sua profunda análise sobre si mesma. Hermione se debruça na janela e reconhece Harry no banco de passageiros. Ela deixa escapar um grande sorriso e corre até a porta de seu quarto, mas antes de abrir, se acalma e respira fundo.
"Devagar Hermione. É só o Harry." dizia para si mesma.
Ao segurar a maçaneta, um estranho calafrio passa pelo seu corpo. Como se estivesse adormecendo ali mesmo, todo o lugar à sua volta parece estar sumindo. O som ambiente das aves piando vai se tornando distante e a luminosidade do quarto mais fraca. Incapacitada de mover um músculo, Hermione apenas assiste a tudo ficando completamente escuro. Sem tempo suficiente para pensar uma palavra, ela se vê na sala de sua casa que agora estava coberta por um tom cinza. Na ausência de cores, ela vê o seu gato dormindo no sofá e aparentemente era noite pois pela janela ela via tudo completamente negro.
"Bi-bichento?" disse Hermione que parecia não ser ouvida pois o gato continua dormindo.
Para sua surpresa, ela se vê descendo as escadas compassadamente, segurando sua varinha. Com um olhar vago e ausência de expressão, a Hermione que descia as escadas usava uma roupa diferente e tambem não podia ver a Hermione que a pouco estava ansiosa por receber seu amigo. Nesse momento, o gato acorda e olha para Hermione, que se aproximava da porta. Ele solta um estranho chiado, mas é silenciado por Hermione que apontou sua varinha e disse "Quietus". Sem estar impressionado, o gato salta no rosto de sua dona, fazendo-a gritar e arremessá-lo no chão. A hermione que assistia a tudo pensou em ajudar o gato, mas era incapaz de realizar um movimento. Se era por causa de uma forte magia ou por medo do que estava acontecendo, não saberia dizer. O gato cai em pé e se vira para a dona que passava a mão no rosto e olhava o sangue que saía de um arranhão. Ela sorri enquanto olhava a mão.
"depois eu cuido de você..." disse Hermione antes de apontar a varinha novamente para o gato. Ele tenta correr, mas ela lança um feitiço que o atinge em cheio. "Petrificus Totalus!" e o gato cai duro no chão, como uma estátua. Hermione sai da casa.
Mais uma vez o cenário muda. Agora, ela se via ao ar livre em frente a um balanço em uma praça que havia no bairro. Era noite e tudo ainda estava cinza. Pelas folhas de árvores balançando, ela percebeu que um forte vento estava soprando, mas ela não podia sentir. Harry estava sentado sob a árvore, abraçado aos seus joelhos, com o rosto descansando sobre eles. Ele olhava para o horizonte, como que admirando os raios que caíam além dos morros.
"Harry! Saia daí! Você corre perigo!" gritou Hermione, inutilmente. Ela tinha certeza de que a outra Hermione estava vindo para cá, mas Harry não podia ouví-la. Podendo se mover, Hermione se aproxima de Harry e abaixa para segurar em seu braço, mas ela o atravessa como se fosse um fantasma. Então Harry olha em sua direção e diz "Mione?"
"você me vê? Consegue me ver? Consegue me ouvir? Harry!" dizia Hermione, eufórica.
"levante-se, Potter" disse sua própria voz, por trás de Hermione. Ela olha para trás e se vê segurando a varinha e o rosto arranhado. Harry se levanta.
"o seu rosto... o que houve?" disse Harry, parado.
"você tem mais coisas com o que se preocupar agora, Potter. Meu rosto é um mero detalhe." dizia Hermione, com um estranho sorriso no rosto. A outra Hermione se levanta e afasta dois passos para poder ver a cena.
"por favor, me desculpe. Eu não queria dizer aquelas coisas. Eu errei." disse Harry com uma voz apreensiva ao ver a varinha na mão dela.
"hum hum hum" - Hermione ria - "Você vai pagar por tudo o que fez, Potter. Vou fazer agora, o que o idiota do Voldemort nunca foi capaz de fazer!"
Ela ergue a varinha em direção a Harry e grita "AVADA KEDRAVA!"
"NÃO!!!" - A Hermione que assistia a tudo, age por impulso e se coloca entre a varinha e Harry. Apesar de tudo estar cinza, um forte brilho verde saindo de sua varinha a ofusca. Hermione fecha os olhos e vira o rosto antes que o feitiço a atingisse, mas nada acontece. Ela escuta o impacto do feitiço em Harry e logo depois, ele caindo no chão. - "Harry!!!" - Hermione vira-se e vê ao corpo de Harry caído no chão, sem vida. Ela olha de volta para Hermione e a vê gargalhando alto, enquanto quatro pessoas vinham de longe, correndo em direção aos dois.
"POR QUE FEZ ISSO?" Hermione gritou, inaudível. Ela salta com as mãos voltadas em direção ao pescoço da outra Hermione, mas ela apenas se vira e vai embora. As pessoas que vinham longe começam a gritar.
"Hermione! Hermione!" - eram as vozes de seu pai e sua mãe. - "Hermione! Acorde!".
Todo o cenário escurece completamente e Hermione se vê sozinha no meio do nada.
- a visão de Hermone -
A manhã do sábado passou como um piscar de olhos. Harry mal podia esperar para que chegasse a hora que Hermione e seus pais viriam buscá-lo em sua casa. Já tinha arrumado sua mala, onde guardou os últimos bolos da Sra. Weasley, sua vassoura e todo o seu material escolar, além dos presentes que ele havia ganho nos anos anteriores. Esse ano, ele ainda não havia recebido nenhum presente de seus amigos, exceto Dumbledore que mandou uma outra coruja pela tarde. Ela trazia a carta e um pequeno pacote embrulhado num papel vermelho e brilhante que aparentava guardar um relógio ou outra coisa pequena. Ansioso para ver o que era, Harry desembrulhou primeiro o presente e deixou a carta de lado. A caixa era feita de madeira envernizada e tinha uma pequena fechadura trancada que foi aberta facilmente com a ajuda da varinha. Dentro da caixa, ainda menor, havia um pequeno dodecaedro prateado que cabia na palma da mão. Harry segura o dodecaedro com os dedos e ergue à altura dos olhos examinando cuidadosamente e tentando adivinhar o que era. Como que obedecendo aos seus pensamentos, uma linha horizontal surge do nada na superfície do dodecaedro e começa a crescer até dar a volta completa no objeto. Harry olha silenciosamente quando o objeto se divide ao meio liberando uma luz tão forte que fez com que Harry sentisse seu rosto queimar como se andasse no sol por horas. Ofuscado com aquilo, ele larga o objeto no chão e coça os olhos, sem entender porque Dumbledore mandaria algo assim. Com certeza não iria ficar cego definitivamente. O diretor do colégio sabia a diferença entre presentes interessantes e perigosos, coisa que Hagrid passa longe de saber. Ainda de olhos fechados e vendo estranhas luzes através das pálpebras, Harry hesitou um pouco antes de abrir novamente os olhos, mas o fez assim que começou a ouvir uma música suave e relaxante. Era como se estivessem ali, várias Veelas recitando uma melodia composta especialmente para Harry. Ele sentia que estava perto do paraíso e que estaria sendo levado até ele, nos braços das veelas e que no paraíso todos os seus problemas acabariam e ele teria a vida que sempre sonhou em ter, ao lado de seus pais. Sem se deixar levar completamente pela canção, ele volta seus pensamentos ao quarto e vê que, próximo ao teto, voava um pequeno ponto dourado brilhante, lembrando uma versão miniaturizada do pomo dourado. Sem qualquer outro barulho além da música, o ponto vai descendo vagarosamente em direção ao dodecaedro jogado no chão até que entra nele e o dodecaedro se reconstitui. A canção acaba e Harry volta a ouvir o barulho do vento e de sua tia Petúnia falando mal da vida alheia pelo telofone na sala. Edwiges estava de olhos fechados e parecia ter aprofundado mais ainda em seu sono. Sua respiração era vagarosa e forte. Harry pega o presente, guarda de volta na caixa e coloca sobre a escrivaninha. Em seguida, com um sorriso no rosto pois por mais tempo que convivesse em Hogwarts ele sempre se impressionaria com aquelas coisas, Harry abre a carta de Dumbledore e a lê.
"Caro Harry Potter,
Vim através desta carta lhe avisar que não há nada com o que se preocupar a respeito de sua viagem para a casa da família Granger. Muito provavelmente a alegria que sentiu o fez esquecer de maiores preocupações e não tomar os devidos cuidados, mas eu não o culpo disso. É verdade que Voldemort está completamente desaparecido e até agora não deu sinal de estar planejando algum ataque a você ou à escola. Mas também é óbvio que ele está planejando e por isso é preciso que seus cuidados sejam redobrados, mas isso não é motivo para esquecer de seus amigos ou se enclausurar em um quarto escuro. Devo confessar que a princípio não achei uma boa idéia passar o fim das férias fora de sua casa, mas após reler a carta da senhorita Granger cheguei à conclusão que iria acabar me sentindo mal por não deixá-lo ir. Asseguro que você e sua amiga terão a devida proteção durante este período e que ao menor sinal de alguma atividade suspeita, ambos serão informados imediatamente. Espero que aproveite a sua estadia ao máximo e que não deixe de continuar praticando Oclumancia. É fato que você já está dominando essa técnica até certo ponto, mas é sempre bom aperfeiçoar cada vez mais. Em tempos difíceis como esses, toda prática será de grande valia. Alguns membros da ordem estarão protegendo você e a senhorita Granger durante esse período, de maneira discreta e segura para que não estraguem o seu passeio nem causem problemas com os pais dela. No mais, apenas quero parabenizá-lo por mais este aniversário e desejar-lhe que esse ano seja de grande aprendizado e felicidade. Este pequeno presente é algo simples, mas que você talvez esteja precisando. É um raro exemplar de uma fada d´água, pequenas criaturas que projetam dentro de seus pensamentos as músicas mais belas que você possa sonhar. Muito usadas por quem sofre de insônia, mas é sempre bem vinda em qualquer situação, principalmente quando se está passando por tantos problemas. Elas induzem ao sono rapidamente, sem alterar suas capacidades de proteção. Use-a bem e tome cuidado caso chegue a não conseguir dormir sem elas. Viciam facilmente (eu que o diga).
Atenciosamente
Alvo Dumbledore
PS: ao abrir a caixa, mantenha o rosto distante. Pode causar ofuscação temporária e deixar pequenas marcas na pele durante alguns minutos."
"hum..." pensava Harry, que só agora achou que seria melhor ter lido a carta antes de abrir o presente. Se tivesse um espelho, ele teria se arrependido mais. Grandes rodelas brancas surgiam em todo o seu rosto e os fios de cabelo mais próximos da face soltavam uma fumaça estranha. Ele olhava para a coruja e imaginava se ela continuaria dormindo por muito mais tempo que o normal, agora que ela tinha ouvido a música da fada. Ele dobra a carta e a guarda na mala, junto com o presente.
"como eu pude me esquecer...?!" pensava Harry, relembrando das primeiras linhas de Dumbledore. Ele aceitou o convite de Hermione com tanta rapidez que nem deu tempo de pensar que poderia ser mais uma armadilha de Voldemort. Nem passou por sua cabeça em avisar a Dumbledore ou à sra. Figgs sobre isso. Ele apenas pensava em sair dali e passar mais alguns dias com pessoas agradáveis, como tem feito nos anos anteriores ao ficar com os Weasley. Mas ele também pensou agora que, com o ministério em seu encalço, Voldemort teria muito menos chances de atacá-lo assim, tão facilmente. Como ele sumiria com Harry sem que ninguém soubesse? Como conseguiriam passar pela vigilância constante da Sra. Figgs e do Fletcher?
"será que eles também vão comigo até a casa de Hermione?" pensava Harry. "claro que não! é muita gente! quem será que vai nos proteger? os pais de Hermione não aparentam saber nada sobre tudo isso. Bem, não custa nada ir perguntar..."
...
A tarde de domingo havia chegado. Após visitar a Sra. Figgs e ter certeza de que estava tudo tranquilo, Harry voltou para seu quarto e ficou lá o resto do dia. No jantar, sua tia Petúnia passou uma estranha gororoba pela portinhola embaixo da porta do quarto, mas Harry não arriscou comer aquilo. O mesmo foi feito durante o café da manhã e se ele passasse mais alguns dias naquela situação, seu quarto acabaria fedendo com a quantidade de pratos entulhados no canto. Harry matava a fome com os doces que recebeu da Sra. Weasley, mas eles não durariam muito. De fato, enquanto Harry estava sentado nos degraus em frente à porta de sua casa, com um braço sobre a mala e o outro sobre a gaiola de Edwiges, ele segura o último bolo e o encarava tentando se lembrar de algum feitiço de multiplicação.
"não posso fazer mágica" pensava Harry, constantemente, tentando se livrar da tentação.
Desde a briga de sexta feira, ele não tinha visto seus tios nem seu primo. Apenas ouvia quando chegavam em casa ou quando ligavam a televisão e raras vezes os via de relance, quando saía do quarto para tomar banho. Harry não achava isso ruim e com razão, pois esses dias foram os mais tranquilos de todo o verão. A Sra. Figgs varria o chão da calçada enquanto um de seus gatos estava ao seu encalço, acompanhando o movimento da vassoura com os olhos. Ela estava vigiando qualquer coisa suspeita, mas disfarçando muito bem pois sua aparência e a forma de encarar os outros era tão comum que por um momento Harry havia esquecido quem ela realmente era. Ao escutar a barriga roncar, implorando para repor o buraco que havia no lugar do almoço, Harry respira fundo e abre a boca para morder o último bolo e aproveitar ao máximo o seu gosto, mas antes que ele pudesse fazê-lo um barulho de carro parando em frente à casa dos Dursley chama sua atenção. Harry levanta os olhos e reconhece o pai de Hermione ao volante. Um largo sorriso toma o seu rosto, mas é sufocado rapidamente ao olhar para os outros bancos e não ver mais ninguém. Apenas o pai dela estava num carro brilhante, azul.
"Harry Potter, acertei? Lembra de mim? Acredito que já me tenha visto algumas vezes, mas nunca chegamos a falar um com o outro. Prazer em conhecê-lo finalmente! Meu nome é Alaor Granger." disse de maneira amigável, o sorridente pai de Hermione. Ele aparentava ser uma pessoa simpática e educada. Com o cabelo bem penteado, camisa de tecido liso branco e mangas curtas, a primeira impressão que Harry teve foi que a família de Hermione seria a primeira família trouxa normal que ele iria conhecer. Harry pensou naquele instante que não se daria muito bem, pois viu como o pai de Hermione o olhou. Ao contrário dos bruxos que sempre olhavam direto para a sua cicatriz, Alaor olhou direto para as suas vestes. Camisa de malha amassada e calça jeans desbotada e folgada, não era uma roupa muito apresentável. Era mais algo que todos usariam para ficar em casa, mas essas roupas eram as únicas que ele tinha. Seus tios nunca se importaram em comprar algo novo para ele, apenas repassando as peças usadas pelo gigante Duda.
"sim, sou eu. Prazer em conhecê-lo" disse Harry, timidamente, enquanto se levantava e limpava a calça da areia acumulada no chão. Ele pega suas coisas e se aproxima do carro vagarosamente, equanto o pai de Hermione abre o porta malas e sai para ajudá-lo a guardar tudo.
"Hermione queria muito vir, mas hoje ela acordou um pouco indisposta ou deveria dizer muito? Ela realmente queria vir e para que ela nao viesse, deve ter sido algo grande. Não se preocupe! Pelo menos não é nada com seus dentes! hoho!" comentava Alaor enquanto colocava a mala de Harry no carro.
"er.. será que não tem problema em eu ir? Se ela está doente, então talvez..." dizia Harry
"oh não! Claro que não! Pode vir sem medo, Harry! De fato não foi nada contagioso! Ou melhor, algo que você nunca vai ter que se preocupar! hehe! Você sabe... coisas de garotas!" dizia Alaor, dando uma piscadela. Harry ruboresce-se enquanto imaginava o que o pai dela queria dizer realmente.
Alaor coloca a mão sobre os olhos para se proteger do sol e olha direto na casa.
"bonita casa a sua. Onde estão os seus tios?" disse Alaor, olhando para a janela coberta pela cortina.
"eles... não estão em casa! Mas tudo bem. Eles sabem que vou sair agora." disse Harry, tentando encobrir o fato que eles estavam em casa mas não queriam receber visita. Alaor percebe mais ou menos a situação em que se encontra, pois Hermione havia lhe explicado muitas e muitas vezes como os tios de Harry eram e pediu para que não arrumasse mais problemas para ele.
"Bem, já que é assim, devemos ir então! hehe! Você coloca a gaiola atrás, por favor?" disse Alaor enquanto se dirigia para o banco do motorista. Harry suspira aliviado e coloca Edwiges no banco de trás. Em seguida ele vai para a frente e se senta, colocando o cinto. Eles partem, seguidos atentamente pelo olhar da Sra. Figgs que havia parado de varrer por uns instantes e também pelo tio Válter, que espiava a rua por uma fresta na cortina. Um suspiro de alívio umedece a janela e Válter volta-se para o interior de sua casa.
"Aquele moleque já foi embora! DUDA! DESÇA! ESTÁ NA HORA!" disse Válter, ofegante enquanto ia apressadamente para a cozinha como se estivesse atrasado para algo. Duda desce com uma grande mochila nas costas, bufando e reclamando do peso. Tia Petúnia sai da cozinha, junto com Válter, carregando uma grande mala. Os três entram sorrateiramente na garagem, guardam tudo no carro e entram nele.
"Tem certeza de que isso é necessário? Aquele garoto não vai voltar por pelo menos um ano, Válter!" dizia Petúnia, enquanto a porta automática da garagem abria.
"É melhor não arriscar! não quero aquela coisa perturbando a vida de nossa família! Se ele mudar de idéia e quiser voltar para cá, vai encontrar a casa vazia! E não adianta dizer mais nada, não vou voltar atrás! Merecemos umas férias!" dizia Válter, dando ré. Sua fala era apressada e espremida na papada, como se ele tivesse evitando que alguém mais escutasse. Duda estava no banco de trás, lutando para colocar o cinto. Apenas ele ocupava dois lugares e uma grande área do campo de visão do retrovisor.
Ao saírem na rua, reparam como a sra. Figgs olhava desconfiada para eles. Válter abre a janela e força um sorriso que resulta numa horrível careta de deboche.
"Estamos saindo de férias! Talvez não voltemos por um mês!" disse Válter.
"hum... eu não perguntei!" replicou, rispidamente, a sra. Figgs ainda na encenação de sua personagem. Ela vira-se e volta para casa tão rápido que quase chuta o gato que estava o seu encalço.
"velha ranzinza e ignorante. Tomara que todos os seus gatos morram." resmungava Válter, indo embora com sua família.
...
Harry e Alaor seguiam viagem em uma rodovia com poucos carros. Harry olhava as montanhas no horizonte, através da janela, pensando em como seriam seus próximos dias. Estava tão concentrado que mal podia escutar a música que tocava no rádio e Alaor fazia questão de acompanhar. Desde que saíram, não disseram nenhuma palavra então Alaor resolve quebrar o gelo.
"Bem, Harry... como foi o seu verão?"
"ahn?" respondeu imediatamente, voltando o olhar para dentro do carro. "ah sim... foi bom. Não fiz muita coisa, mas foi tranquilo."
"hehe! não se preocupe Harry. Hermione me contou tudo o que eu precisava saber de você! Talvez até mais. Sempre que as aulas acabam, ela conta tudo o que acontece no colégio e você está presente em grande parte de suas histórias. Eu não entendo muito bem das coisas que acontecem por lá, ou talvez a Hermione não explique direito, mas o que entendi é que vocês sempre são perseguidos não é verdade?"
"er... é sim, mas nessas férias ele não fez nada. Digo... se tivesse feito algo, o diretor teria nos informado."
"O diretor? Esse tal de Draco deve ser muito chato! hehe! Não sei como ainda não foi expulso. Hermione disse que o pai dele é muito influente, mas ora... isso não é motivo pra deixar alguém assim no colégio!" dizia Alaor tentando parecer aborrecido, mas falhava grotescamente.
"ah sim... Draco! É! Ele é muito chato. E agora que é monitor, piorou." dizia Harry, percebendo que Hermione não contou ´tudo´ para os pais. Ela estava certa. Não adiantaria de nada deixá-los preocupados com essa história de Lord Voldemort, até porque não era ela o seu alvo principal.
"Eu acho que vocês não deveriam deixar que ele fizesse tudo o que faz. Se demonstrarem que não estão ligando para o que ele diz, então ele vai perder o interesse em aborrecê-los."
"mas é difícil ignorar..." Harry sabia que Draco fazia aquilo não apenas para aborrecê-lo. O seu preconceito com relaçao aos três e agora que por culpa deles, seu pai estava na prisão de Azkaban, as perseguições não iriam se limitar a provocações bobas nos corredores do colégio.
"Sei como é. Quando eu era jovem também tinham uns garotos que me perseguiram, mas tudo acabou bem. Vocês também vão se sair bem dessa."
"..." Harry não respondeu. Sem dúvida os problemas que estava passando agora não são iguais aos do pai de Hermione.
"Você já tem que suportar tios que não gostam de você. Não pode deixar que mais gente apareça na sua vida para pertubá-lo!"
Nessa hora Harry fica com vergonha. Não fazia idéia de que Hermione tinha contado essas coisas para seus pais. A quem mais ela contou? Provavelmente a todos os seus amigos trouxas...
"desculpe falar neles, Harry. Hermione me fez prometer que não tocaria nesse assunto, mas eu não pude deixar de mencionar. Fico indignado em pensar que seus únicos parentes vivos o tratam desse jeito. Por favor, sempre que precisar de alguma coisa não deixe de nos contar." Alaor tentava dar apoio a Harry, percebendo que o clima não estava ficando muito bom.
"tudo bem, senhor. Obrigado." respondeu Harry, que não queria falar sobre seus tios principalmente depois dele ter mencionado que eram seus únicos parentes vivos. Até um certo tempo atrás, Harry se viu na esperança de deixar aquela casa e ir morar com seu padrinho, mas agora ele se via numa espécie de armadilha. Não poderia sair de lá e seu padrinho estava morto. Durante esse verão, Harry fez muito esforço para evitar pensar nisso, mas agora foi como se tudo o que tivesse feito tinha sido em vão. Um ódio de si mesmo o tomou repentinamente e se não fosse pelo pai de Hermione estar ali, ele teria socado o painel do carro tantas vezes quanto fosse necessário para sua raiva passar.
"ah, e se for contar algo, use a coruja! Criaturas interessantes! Se não fosse pela nossa filha, nunca que eu iria imaginar que elas tinham um senso de direção tão bom. E parecem extremamente inteligentes, além de bonitas! hoho!" dizia Alaor, levando a conversa por um caminho mais ameno.
Edwiges dá um pio de satisfação e ergueu a cabeça, talvez esperando mais elogios. Tanto elogio em tão pouco tempo alimentou o seu ego e foi capaz de despertá-la completamente, pois estava quase dormindo devido ao balanço do carro. Harry sorri e se acalma mais, pensando que já faz muito tempo que tudo aquilo aconteceu e ele não deveria mais se aborrecer pois não há mais nada o que fazer.
"ah sim, são animais muito inteligentes. Lá no colégio existem dezenas delas. Tem um salão apenas para as corujas! Voce deveria ver! Tem de todos os tipos e tamanhos. Rony, um amigo nosso, tem uma coruja bem pequena, cabe na palma da mão. Sempre que precisamos entregar alguma mensagem rápida, usamos ela!" comentava Harry, ajudando Alaor na sua tentativa de amenizar o diálogo.
"Sim! Hermione me conta tudo! É Chichi, não é? Ou Pichi, sei lá... Eu até teria uma coruja dessas em casa. Ia economizar muito na hora de mandar alguma encomenda! hoho! Mas acho que as pessoas iriam se assustar se eu começasse a mandar coisas por corujas. Além do mais, por mais inteligentes que elas sejam, parece que não sabem ir ao banheiro. Aquele gato já dá um trabalhão e não sei se Hermione teria paciência para cuidar de outro animal! hoho!"
Edwiges olha indignada, pois ela não era imunda. Só sujava a gaiola quando estava dormindo, mas sempre que estava acordada ela ia para outro canto quando precisasse. Bem à frente, um carro havia batido em uma das árvores na beira da estrada. Muita fumaça saía de lá e duas pessoas estavam em pé, aparentemente discutindo. Alaor diminui a velocidade e se aproxima vagarosamente para ajudar. Quando chegam mais perto, Harry reconhece os dois vultos. Eram Fletcher e Tonks, numa tentativa frustrada de parecerem trouxas. Fletcher era o que mais parecia com um trouxa, apesar de não ter uma boa aparência. Com barba mal feita, paletó surrado e chapéu de aba, ele encarava o veículo com um olhar de pesar. Tonks discutia exacerbada, atrás de seus grotescos óculos escuros que Harry não ficaria surpreso se tivessem sido comprados em uma loja de logros, seu longo vestido estampado de girassóis que se camuflaria facilmente caso o lugar tivesse algum girassol, um grande relógio prateado reluzente no pulso e tamancos grossos, sem deixar para trás o seu cabelo vermelho.
"Seu bêbado idiota! É claro que não foi um dragão! Não existem dragões aqui!" gritava Tonks, ameaçando disparar um raio dos seus óculos na cara de Mundungus. Este não se impressiona só com isso.
"Mas eu vi! passou bem rente ao carro e quase batemos nele! Se eu não desvio um tantinho assim..." - e mostra o tantinho com os dedos - "...teríamos virado cinzas!"
"Então onde ele está!? sumiu?! ou se escondeu na copa dessa pequena árvore?!"
"er... não vi para onde ele foi..." Fletcher coçava a cabeça por baixo do chapéu. Alaor pára o carro ao lado dos dois, que se calam imediatamente. Eles abrem um sorriso e Mundungus puxa Tronks para perto de si, num abraço forçado. Não era só tentando fingir serem trouxas que eles falhavam. Fingir ser um casal feliz também não estava dando certo. Harry se controla para não cair na gargalhada na frente dos dois, em respeito ao esforço deles. Ele também estava um pouco aliviado ao saber quem era que iria protegê-los durante essa última semana.
"precisam de ajuda? Alguém está ferido?" perguntou Alaor, que obviamente não conhecia os dois.
"não não! hehehehehe! já chamamos um guincho! Foi um acidentezinho de nada! essas coisas acontecem, não é?" dizia Tonks enquanto abraçava Mundungus também. Era perceptível pela cara que ele fazia, que alguma coisa ela estava fazendo nas costas dele.
"que bom. Então acho que vou seguindo viagem. Até mais, hehe!" disse Alaor. Eles seguem e o casal acena para os dois. Harry também acena de volta.
"Dumbledore vai gostar de saber que você bebe em serviço..." dizia Tonks, por trás de seus dentes cerrados e sob um sorriso forçado.
"Pára de apertar! Eu não bebi, ok? Pode ter sido um bicho papão! Você sabia que odeio Dragões? principalmente os verdes!" argumentava Fletcher, enquanto se virava para o carro. Ele puxa a varinha de dentro do paletó e diz "reparo" fazendo o carro voltar ao seu formato original, com cuidado para que ninguém os tenha visto. Os dois entram no carro e voltam para a estrada. Dessa vez é Tonks quem dirige.
...
Eram 3:45 da tarde e o sol estava encoberto por nuvens que aos poucos foram tomando conta do céu, dando um aspecto de fim da tarde. A temperatura caiu um pouco e o vento estava forte, balançando as cortinas estampadas de flores de um quarto no primeiro andar de uma bela casa de madeira. Pintada de branco, jardim bem cuidado, cerca de madeira também branca, calçada impecavelmente limpa, um toldo azul na frente da garagem colada à casa e um tapete ligeiramente velho e usado com uma inscrição de "Bem-vindo" deixava aquela casa em quase perfeita harmonia com todas as outras da rua. À excessão de uns poucos moradores que colocavam cestas de basquete na porta da garagem, no lugar do toldo, ou ainda alguns que deixavam em seu jardim uma bela árvore bem podada, as casas daquele bairro eram simetricamente idênticos. Somado à calmaria e pouco movimento de carros na rua, aquela comunidade poderia muito bem ser a mais organizada do mundo. Voltando ao quarto no primeiro andar, dentro dele Hermione estava de perfil olhando para o espelho na porta do seu guarda-roupas. Ela mantinha uma expressão calculista em seu rosto, enquanto se examinava dos pés à cabeça. Descalça, cabelos presos e usando um simples vestido amarelo e um casaco semi transparente, lembrando um pouco os trajes do colégio, Hermione por algum motivo olhava o espelho com um ar de reprovação.
"Eu to parecendo tão gorda..." murmurava Hermione, comprimindo a barriga com as mãos. De fato ela estava até melhor, mas convencê-la do contrário seria o mesmo que convencer Severo Snape que Griffinória merecia ganhar pontos extras, ao invés de perder. Hermione não admitia, mas estava nervosa com a visita de Harry. Ela queria parecer não estar muito ansiosa e ao mesmo tempo não queria dar a impressão que pouco se importava com ele. Em toda a sua vida era a primeira vez que um amigo vinha passar uns dias em sua casa e ela queria causar a melhor impressão possível. Já bastou seus pais acharem estranho ela convidar um garoto e se Harry começasse a pensar o mesmo, ela não saberia o que fazer. Muitas vezes ela pensava onde estava com a cabeça quando resolveu chamá-lo ou o que os seus amigos da griffinória diriam se soubessem. E se alguém do profeta diário tomasse conhecimento disso? Durante o quarto ano ela já passou por uma situação assim, mas naquela época as coisas eram diferentes. Todas as atenções estavam voltadas para 'Harry, o louco' e agora eles tinham coisas mais importantes com o que se preocupar, como o desaparecimento de Voldemort. Para variar, o jornal relatou boatos como se fossem verdade absoluta sobre suspeitas de locais onde Voldemort foi visto, mas o próprio Dumbledore respondia em suas cartas para Hermione que eram apenas notícias para vender mais. Hermione estava ciente do risco que ela correria se Harry saísse de sua casa, mas ela foi convencida de que não deveria se preocupar com nada e que tudo daria certo.
Hermione vira de frente para o espelho e segura o seu melhor sorriso por alguns segundos, enquanto examinava os seus dentes. Seus pais não acreditaram na história de que os dentes ficaram normais por causa de um acidente, mas o que importa é que ela se achava mais bonita. Sua cama estava bagunçada e um livro aberto no lugar do travesseiro. Hermione passara a manhã lendo "A magia e os mistérios do novo mundo", um livro sobre o a magia no continente americano antes e após sua colonização. Ao lado do guarda-roupa, estava o seu baú aberto e dentro dele todo o seu material escolar desde o primeiro ano.
O barulho conhecido do carro de seu pai parando em frente á casa, a tirou de sua profunda análise sobre si mesma. Hermione se debruça na janela e reconhece Harry no banco de passageiros. Ela deixa escapar um grande sorriso e corre até a porta de seu quarto, mas antes de abrir, se acalma e respira fundo.
"Devagar Hermione. É só o Harry." dizia para si mesma.
Ao segurar a maçaneta, um estranho calafrio passa pelo seu corpo. Como se estivesse adormecendo ali mesmo, todo o lugar à sua volta parece estar sumindo. O som ambiente das aves piando vai se tornando distante e a luminosidade do quarto mais fraca. Incapacitada de mover um músculo, Hermione apenas assiste a tudo ficando completamente escuro. Sem tempo suficiente para pensar uma palavra, ela se vê na sala de sua casa que agora estava coberta por um tom cinza. Na ausência de cores, ela vê o seu gato dormindo no sofá e aparentemente era noite pois pela janela ela via tudo completamente negro.
"Bi-bichento?" disse Hermione que parecia não ser ouvida pois o gato continua dormindo.
Para sua surpresa, ela se vê descendo as escadas compassadamente, segurando sua varinha. Com um olhar vago e ausência de expressão, a Hermione que descia as escadas usava uma roupa diferente e tambem não podia ver a Hermione que a pouco estava ansiosa por receber seu amigo. Nesse momento, o gato acorda e olha para Hermione, que se aproximava da porta. Ele solta um estranho chiado, mas é silenciado por Hermione que apontou sua varinha e disse "Quietus". Sem estar impressionado, o gato salta no rosto de sua dona, fazendo-a gritar e arremessá-lo no chão. A hermione que assistia a tudo pensou em ajudar o gato, mas era incapaz de realizar um movimento. Se era por causa de uma forte magia ou por medo do que estava acontecendo, não saberia dizer. O gato cai em pé e se vira para a dona que passava a mão no rosto e olhava o sangue que saía de um arranhão. Ela sorri enquanto olhava a mão.
"depois eu cuido de você..." disse Hermione antes de apontar a varinha novamente para o gato. Ele tenta correr, mas ela lança um feitiço que o atinge em cheio. "Petrificus Totalus!" e o gato cai duro no chão, como uma estátua. Hermione sai da casa.
Mais uma vez o cenário muda. Agora, ela se via ao ar livre em frente a um balanço em uma praça que havia no bairro. Era noite e tudo ainda estava cinza. Pelas folhas de árvores balançando, ela percebeu que um forte vento estava soprando, mas ela não podia sentir. Harry estava sentado sob a árvore, abraçado aos seus joelhos, com o rosto descansando sobre eles. Ele olhava para o horizonte, como que admirando os raios que caíam além dos morros.
"Harry! Saia daí! Você corre perigo!" gritou Hermione, inutilmente. Ela tinha certeza de que a outra Hermione estava vindo para cá, mas Harry não podia ouví-la. Podendo se mover, Hermione se aproxima de Harry e abaixa para segurar em seu braço, mas ela o atravessa como se fosse um fantasma. Então Harry olha em sua direção e diz "Mione?"
"você me vê? Consegue me ver? Consegue me ouvir? Harry!" dizia Hermione, eufórica.
"levante-se, Potter" disse sua própria voz, por trás de Hermione. Ela olha para trás e se vê segurando a varinha e o rosto arranhado. Harry se levanta.
"o seu rosto... o que houve?" disse Harry, parado.
"você tem mais coisas com o que se preocupar agora, Potter. Meu rosto é um mero detalhe." dizia Hermione, com um estranho sorriso no rosto. A outra Hermione se levanta e afasta dois passos para poder ver a cena.
"por favor, me desculpe. Eu não queria dizer aquelas coisas. Eu errei." disse Harry com uma voz apreensiva ao ver a varinha na mão dela.
"hum hum hum" - Hermione ria - "Você vai pagar por tudo o que fez, Potter. Vou fazer agora, o que o idiota do Voldemort nunca foi capaz de fazer!"
Ela ergue a varinha em direção a Harry e grita "AVADA KEDRAVA!"
"NÃO!!!" - A Hermione que assistia a tudo, age por impulso e se coloca entre a varinha e Harry. Apesar de tudo estar cinza, um forte brilho verde saindo de sua varinha a ofusca. Hermione fecha os olhos e vira o rosto antes que o feitiço a atingisse, mas nada acontece. Ela escuta o impacto do feitiço em Harry e logo depois, ele caindo no chão. - "Harry!!!" - Hermione vira-se e vê ao corpo de Harry caído no chão, sem vida. Ela olha de volta para Hermione e a vê gargalhando alto, enquanto quatro pessoas vinham de longe, correndo em direção aos dois.
"POR QUE FEZ ISSO?" Hermione gritou, inaudível. Ela salta com as mãos voltadas em direção ao pescoço da outra Hermione, mas ela apenas se vira e vai embora. As pessoas que vinham longe começam a gritar.
"Hermione! Hermione!" - eram as vozes de seu pai e sua mãe. - "Hermione! Acorde!".
Todo o cenário escurece completamente e Hermione se vê sozinha no meio do nada.
