Capítulo 4

- O perdão -

"CRACK"

E Hermione surge no meio de um grande hall repleto de estátuas de minotauros próximos à parede. Tochas presas às grossas e altas colunas de pedra iluminavam o lugar que estava deserto. Hermione olha ao redor, ainda segurando o dado quebrado, quando Julius aparata bem à sua frente novamente, assustando-a.

"Onde estou?" perguntou Hermione, dando passos para trás.

"No tribunal da corte suprema, onde irá dar o seu depoimento sobre o ocorrido momentos atrás." respondeu Julius, avançando em sua direção.

"Vão me mandar para Azkaban?"

"Você além de usar magia sem permissão, também usou uma maldição proibida e a pior de todas, provavelmnete por vontade própria. É claro que não iria para a prisão. No mínimo, você teria suas memórias apagadas e perderia a capacidade de lançar feitiços, além de ser mandada para algum lugar trouxa de onde sairia completamente sozinha e sem passado. Mas isso requer muito esforço e pessoalmente considero a execução como o melhor castigo." disse seriamente Julius, olhando diretamente em seus olhos. "mas não é o seu caso."

Hermione bate as costas em uma das colunas de pedra e aperta o dado, assustada. Julius pára e estende a mão ao longo de um grande tapete vermelho que havia no centro do salão, deixando escapar um pequeno sorriso como se estivesse se divertindo com aquilo.

"a senhorita deve seguir este caminho e estarei ao seu lado."

Hermione olha ao longo do tapete até ver um grande portão de madeira reforçado com ferro. Dois grandes octogramas estavam entalhados na madeira do portão.

"Dumbledore e os outros a aguardam" disse Julius, tentando acalmá-la mais.

"quem são vocês? Quem é você?"

"Meu nome é Julius, senhorita Granger. Sou um dos cavaleiros de Merlim, membro da sagrada tríade." - dizia Julius com uma pitada de orgulho em sua voz - "eu e meus companheiros estamos aqui por sua causa"

"p-por minha causa?" Ela gaguejava. Não entendia se deveria ou não confiar naquele homem. Aparentemente ele era conhecido de Dumbledore e foi ajudar Harry, mas isso poderia significar que ela seria sua inimiga já que ela tentou matá-lo. Mesmo assim, a expressão do homem não lhe transmitia medo mas sim uma certa segurança. Ele parecia ser alguém extremamente poderoso, apesar de jovem.

Ele guarda a varinha dentro de suas vestes e cruza os braços por trás das costas.

"Sim. Dumbledore nos contou sobre você e sua capacidade. Ele também contou sobre a visão que você teve e nos chamou para protegê-la pois achou melhor nossa presença para assegurar que tudo se esclareça." Julius era firme como um soldado. Hermione desencosta da coluna, ainda segurando o dado com força.

"então o que aconteceu? Por que eu não lembro de nada?"

"o conselho a aguarda para ouvir o seu depoimento. Devemos nos apressar." então Julius segura o braço de Hermione e a guia pelo tapete em direção ao portão. Ele apertava o braço com força e só notou isso ao ver como ela erguia desconfortavelmente o ombro.

"perdão... é o costume..." Julius solta o braço e a deixa ir só.

"eu não sei o que aconteceu exatamente, mas... obrigada... por me impedir de matar o Harry" dizia Hermione, olhando em frente.

"não impedimos. Você apenas não pôde fazer isso. O que fizemos foi não deixar que fugisse."

Ao se aproximar do portão, duas estátuas de minotauro ganham vida e descem de seu pedestal, ficando cara a cara com Julius e Hermione. Ela pára e olha para Julius esperando ele dizer uma espécie de senha, mas ele nada diz. Apenas encara os minotauros que voltam aos seus lugares após uns segundos. A porta se abre, revelando um outro salão iluminado por uma forte luz que entrava em janelas no alto do teto esférico. No fim do tapete vermelho, havia uma grande mesa em forma de semi círculo, com bandejas cheias, taças, candelabros e 16 cadeiras à sua volta. Todas estão ocupadas, exceto por uma. A cadeira vazia era a segunda da direita para a esquerda, entre as cadeiras onde estavam sentados Gllandow e a jovem bruxa que Hermione havia visto. Fudge estava na ponta esquerda, enquanto Dumbledore estava em uma das cadeiras ao centro. Todos os outros bruxos eram velhos e tinham uma estranha aparência, como se cada um tivesse uma característica peculiar que os diferenciavam uns dos outros. Tanto na vestimenta quanto na aparência.

Com um estrondo, a porta bate após os dois passarem.

"fique aqui no meio. Estarei com você" disse Julius. Eles ficam parados bem no centro da sala, onde convergiam todos os olhares. Quadros pendurados ao longo da parede também olhavam para Hermione. Provavelmente eram pessoas que uma vez já sentaram naquelas cadeiras.

Uma velha bruxa se levanta. Ela tinha curtos cabelos escuros crespos e pele morena. Usando um grosso manto que cobria o seu corpo completamente, seus grandes olhos negros atentos e calmos não fugiam do olhar de Hermione. Tinha o nariz pequeno e alto e muitas rugas em seu rosto.

"Senhorita Granger" - dizia a bruxa com uma voz penetrante - "já estamos a par de todos os acontecimentos e já fomos alertados por Alvo Dumbledore que isso iria acontecer. Também estamos cientes de que foi a senhorita quem o informou de tudo e está aqui agora para tentar esclarecer nossas dúvidas."

"Eu não lembro o que aconteceu. Só sei o que vi enquanto estava desmaiada!" dizia Hermione.

"tenha calma. Não estamos aqui para acusá-la ou inocentá-la, só estamos aqui para saber da verdade." disse a velha bruxa.

"se me permite interromper, senhora Brestinge, tenho meus motivos para acreditar na completa inocência da senhorita Granger." disse Dumbledore, que parecia não estar seguindo alguma regra ou etiqueta naquela situação pois alguns bruxos cochicharam entre si.

"tenho certeza que sim, mas tenho meus motivos para acreditar que os seus motivos não provam a inocência completa dessa garota, senhor Dumbledore. Em tempos como os nossos, é preciso agir com extrema cautela e cooperar o máximo que for necessário. Já perdemos muito tempo devido a essa falta de cooperação" e a velha dirige o seu olhar para Fudge, que se ajeita na cadeira. Ela então volta-se para a jovem bruxa sentada ao lado da cadeira vazia.

"Victoria Helenna, onde está a criatura?"

A jovem bruxa ergue as mãos sobre a mesa e nela surge a criatura, presa numa pequena jaula. Ela ainda estava inconsciente.

"A senhorita sabe o que é essa criatura?" perguntou a senhora Brestinge.

"Sim... Um Pecclar azul..." dizia Hermione com uma voz fraca. Ela temia falar o que não devia.

"e a senhorita sabe do que ela é capaz?"

"sim... ela consegue se incorporar às pessoas, dominando seus movimentos e suas vontades."

"e sabe de onde elas surgem?"

"essas espécies existem no leste da ásia ou em locais de grande altitude." Hermione respondia a tudo, como se fosse uma aula em Hogwarts.

"e onde você poderia ter entrado em contato com essa criatura?" perguntou um outro velho bruxo, de aparência oriental e dois longos filetes de barba caindo-lhe do queixo.

"eu... não sei"

"claro que não sabe. Ninguém nunca sabe" disse um bruxo de baixa estatura e grossos cavanhaques, enquanto se escorava no encosto da cadeira impacientemente.

"Hermione, lembre-se de sua viagem." dizia Dumbledore.

"Eu lembro, mas não visitamos montanhas. Apenas lugares quentes e úmidos."

"devo supor que a senhorita também não lembra de ter mantido contato com nenhum bruxo." disse o homem dos grossos cavanhaques.

"não!" - hermione levanta um pouco sua voz, mas se controla - "digo, eu lembro que não mantive contato com nenhum bruxo. Nem lá nem aqui! Exceto pelas cartas que mandava para o diretor e meus amigos. Mas esse bicho não veio dentro de nenhuma carta."

"quem são esses amigos?" perguntou um bruxo alto e magro, com um estranho chapéu grosso e felpudo , além de um forte sotaque Russo.

"Harry e os Weasleys. Víctor também..."

"Weasleys?" disse o russo.

"estudantes do meu colégio e filhos de um funcionário do ministério. Também são amigos de Potter." disse Dumbledore.

"e Víctor?"

"campeão de Durmstrange e participante do torneio Tribuxo." Dumbledore explicava.

Brestinge senta em sua cadeira dando um longo suspiro e entrelaçando os dedos das mãos.

"qual era o conteúdo das cartas? O que eles te mandaram? Alguma carta sumiu?" dizia o bruxo de grossos cavanhaques, mais impaciente.

"eram só cartas. Nada além de pergaminhos. Ainda tenho todos eles guardados em casa." dizia Hermione, se irritando com a impaciência do velho.

"Isso é uma grande perda de tempo." - resmungou o russo. - "não estamos progredindo aqui."

"talvez devêssemos requisitar essas cartas" sugeriu o bruxo oriental.

"não vamos conseguir nada. Talvez nem uma poção da verdade a faça dizer o que queremos saber." dizia o russo.

"Então essa criatura surgiu do nada! É isso!? Ora, por favor..." dizia uma bruxa com longos cabelos lisos que pareciam chegar ao chão e pele tão clara que chegava a lembrar um fantasma.

Todos os que estavam sentados começam a sussurrar, como se debatessem a situação sem chegar a nenhuma conclusão.

"silêncio." - disse Brestinge e então todos se calam - "não provamos nada aqui, apenas que essa audiência está sendo inútil. Não entenderemos os motivos dessa criatura querer matar Potter, até ela acordar. Sua inocência também não foi provada e portanto, você será mantida em Azkaban até que tudo se esclareça."

"Não! Eu não tive culpa! Eu não sei quem foi, mas não tive culpa!" - Hermione dá um passo à frente, mas Julius a segura pelo ombro. Ela se vira para olhá-lo - "Você disse que eu não iria para lá!"

"e não vai. Não, se não merecer." disse Julius. Por pouco Hermione não dá um soco nele, mas Dumbledore fala.

"Concordo com a senhora, mas estamos nos esquecendo de algo que nunca foi usado aqui e por isso estamos nos precipitando em nossas decisões."

"e o que seria isso?" disse Brestinge

"Hermione só deverá ir para Azkaban enquanto sua inocência não for provada, se a vítima não conceder o seu perdão."

"é verdade! então, traga-o!" disse Bestringe, como se estivesse aliviada por não ter que mandar Hermione para a prisão. Pela aparência de cada rosto, era como se metade dos bruxos ali acreditassem em sua inocência.

"ele deve chegar a qualquer momento..." disse Dumbledore e imeditamente depois o portão abre, dando passagem a Harry e Tonks. Hermione o encara pois sabia que ele era sua única esperança de sair dali livre, mas sua felicidade foi momentânea pois ele fugiu de seu olhar e não parecia muito alegre em vê-la.

"muito bem..." - disse Brestinge, enquanto Harry parava ao lado de Hermione sem olhar para ela. - "Harry Potter, você está ciente do que aconteceu? Está ciente de que a garota ao seu lado, Hermione Granger, lançou um feitiço proibido contra você, na tentativa de matá-lo?"

"sim..." disse Harry com voz baixa e rouca.

"Por falta de provas e devido à estranha situação em que nos encontramos, achei que o melhor a fazer era mante-la prisioneira em Azkaban até que tudo fosse esclarecido. Você concorda comigo?"

"bem..." - Harry parou para pensar. - "...não. Quero que ela volte para casa."

Hermione sente-se um pouco aliviada, mas não tanto quanto supostamente deveria estar.

"que assim seja. É a primeira vez que isso acontece e por isso, se me permite perguntar, por que? Por que quer que ela volte?"

"porque..." - e Harry pensa novamente - "...não sei. Talvez seja melhor assim."

"não sabe....." resmungou o bruxo de grossos cavanhaques.

"digo... Hermione não seria capaz de fazer o que fez. Bem, ela fez, mas... não acredito que tenha sido ela. Eu ouvi o que ela disse e da forma como ela disse, não pareceu ser ela. Mesmo que a gente tivesse brigado, ela não iria me matar se estivesse consciente." disse Harry, explicando o melhor que podia mas com um pouco de nervosismo.

"o que ela disse?" perguntou Brestinge.

"que iria fazer o que o idiota do Voldemort não conseguiu fazer." disse Harry abaixando o tom de voz ao longo da frase.

"espere... você disse que haviam brigado?" perguntou o russo.

"sim... nos desentendemos pouco antes dela vir atrás de mim." disse Harry. Hermione sentiu-se bem próxima de ir direto para Azkaban após ele ter dito isso.

"creio que isso seja relevante" disse a bruxa dos longos cabelos.

"ainda assim não explica a criatura." disse Brestinge.

"Talvez ela mesma tenha invocado a criatura, para se fazer passar por inocente." disse o russo.

"não. Se ela tivesse feito isso, teríamos registro. Sabemos quando um menor de idade faz algum feitiço." esclareceu Fudge.

"não se ela tivesse feito enquanto estivesse no colégio." insistia o russo.

Então um pesado silêncio invade o local e só é quebrado por Harry ao ver que Hermione tremia e quase chorava, tentando arrumar uma forma de provar que não tinha sido ela.

"escutem. Eu já disse que ela deve voltar para casa. Isso já basta, não?"

"não se ela for realmente a culpada. Você foi a vítima, mas não necessáriamente será a única." dizia o russo obviamente irritado com o tom de voz de Harry.

"não posso garantir que meus alunos saiam do colégio com criaturas criadas por eles mesmos, pois não há uma proteção quanto a isso. Mas esse tipo de magia ainda não é do nível dela, senhores e senhoras..." dizia Dumbledore.

"o senhor mesmo disse que ela era excepcional, senhor Dumbledore. Seus conhecimentos e poderes não estão limitados ao quinto ano de uma escola." dizia o bruxo oriental.

Hermione sentiu seu ego inflando momentaneamente, mas o ânimo se foi ao pensar que seria mandada para a prisão.

"são apenas suposições, colegas. Nada foi provado contra ela e a vítima a perdoou. Vocês, mais do que mim, sabem o que a lei diz nessa situação." disse Julius, que até então só ouvia a tudo.

"Está certo. Acho que não podemos mais tirar conclusão nenhuma aqui, então ela pode voltar. Mas aconselho que tome cuidado com o que fizer, pois sua situação não é das melhores." dizia Brestinge.

"sim senhora." disse Hermione de cabeça baixa como se fosse realmente uma criminosa.

todos os bruxos e bruxas se levantam e desaparatam, exceto por Gllandow e Victoria. Julius tira a mão do ombro de Hermione e ela abraça Harry, que ainda não a olhava direto nos olhos. Sem se importar com isso, ela sussura "desculpe" em seu ouvido, mas ele ainda não retribuiu o abraço.

"Tonks, você sabe aonde levá-lo?" disse Julius.

"sim. Dumbledore me contou o que devo fazer e já tenho a chave do portal."

"bem... então, devo partir. Leve a garota para a casa dela também, por favor."

"sim..."

E julius olha para seus dois companheiros. Gllandow com um grande sorriso malicioso no rosto e Victória ainda séria, segurando a jaula do Pleccar. Eles acenam com a cabeça e desaparatam. Julius também.

"para onde Harry vai?" disse Hermione, ainda abraçada com Harry, também evitando encará-lo.

"para o quartel da ordem. Os seus parentes saíram em uma viagem de férias e mesmo que ainda estivessem em casa, não seria uma boa idéia mandá-lo de volta depois de tudo."

"eu... eu..." Hermione tentava dizer algo.

"sim?"

"...não é nada..."

"pode dizer, querida."

"não. Deixa pra lá. Já chega de idéias estúpidas." dizia Hermione apertando mais ainda o abraço.

"Tonks..." - Harry quebrou o seu silêncio - "Hermione pode vir comigo?"

"hummm..." pensava Tonks se isso seria uma boa idéia.

"eu vou saber me defender se ela vier me atacar de novo...." disse Harry num tom de brincadeira, mas as duas não estavam muito nesse clima.

"Harry... é perigoso... e se aparecer outro bicho daqueles?" disse Hermione.

"então ele vai ter que procurar outra pessoa pra se incorporar, porque você não é muito boa em lançar maldições daquele porte..." dizia Harry afastando-se para olhar nos olhos de Hermione. Ele sorria aliviado ao ver que fizeram as pazes. Hermione também.

"ai ai..." - suspirava Tonks, olhando no relógio. - "mas antes você tem que pedir aos seus pais e arrumar sua mala."

"Harry.." disse Hermione, ignorando Tonks.

"hum?"

"feliz aniversário"

...

Ao mesmo tempo em que Harry colocava os seus pés naquele grande salão para perdoar Hermione, algo iria acontecer em Azkaban. Lucius Malfoy, preso há poucos meses, estava caído em sua cela. Um lugar aparentemente infinito, sem paredes ou teto. O céu era completamente negro e o chão cinza, repleto de poeira, pedregulho, rocha quebrada, buracos e esqueletos estranhos. De onde vinha a iluminação, não dava para saber, mas um círculo de cerca de 60 m² em torno do prisioneiro era a fronteira entre o chão empoeirado e o nada. Por mais que alguém andasse em linha reta, é como se estivesse dando voltas e mais voltas, sempre chegando no mesmo lugar. Mesmo sem os dementadores para sugarem qualquer lembrança de alegria, todo aquele isolamento do resto do mundo era suficiente para deixar qualquer pessoa louca e sem a menor noção de tempo. Um fraco zumbido ecoando nas paredes invisíveis era o único som local. Talvez fossem os lamentos e murmúrios de antigos prisioneiros que morreram nesta cela e agora jaziam presos nela por toda a eternidade, tentando levar Lucius à loucura.

Os piores criminosos eram colocados em uma cela dessas e poucos chegavam ao fim da pena, vivos. Lucius ainda vestia seu traje de comensal da morte, mas ele estava rasgado em vários lugares e completamente empoeirado. Seu rosto e suas mãos estavam cheias de escoriações que ganhou arrastando-se naquele lugar, em busca da saída. Quem o conheceu antes, não o reconheceria agora. Sua aparência imponente estava agora substituída por uma fraca e desgastada, cansado e sem energia sequer para levantar-se. Um caminho logo atrás feito na poeira, marcava o lugar por onde ele havia se arrastado antes de se dar por vencido.

Então, saindo da parede invisível como se estivesse atravessando um portal, um dos guardas de Azkaban que estavam substituindo os dementadores, entra trazendo um prato com a refeição do dia. Era uma estranha poção preparada na prisão, que tinha gosto de pântano mas era o suficiente para manter alguém vivendo durante 24 horas. Ao ouvir os passos, Lucius abre os olhos e ergue o olhar pois não tem forças para erguer a cabeça. Foi realmente reconfortante ver que o mundo ainda existia, mas ainda assim sabia que não iria vê-lo muito em breve. Seus pensamentos estavam voltados em Lord Voldemort, achando que havia sido abandonado.

"Malfoy... desde o colégio eu sabia que você não era coisa boa. Agora veja só o seu estado." - dizia o guarda que tinha estudado na mesma época de Lucius - "eu poderia acabar com você aqui mesmo, Malfoy, mas não vou me tornar alguém como você. Tenho pena de você. Todo aquele orgulho não está ajudando agora, não é?"

Lucius olha diretamente no guarda para ver quem é. Ele não diz nada, pois está cansado demais para falar e precisa da pouca energia que lhe resta para conseguir comer.

"Agora você teve o fim que mereceu. Não vai durar muito." e o guarda coloca o prato no chão, longe de Malfoy. Ele volta por onde veio e desaparece na parede invisível, mas resquícios de sua voz ainda ecoam no grande vazio juntando-se aos murmúrios dos mortos.

Lucius tentaria se arrastar até o lugar onde o guarda saiu, mas ele já fez isso várias vezes e nunca conseguia sair. Então ele decide arrastar-se em direção ao prato, mas não consegue ir mais do que 30 centímetros. Então ele desiste e fecha os olhos, esperando ter mais energia quando acordasse.

"esperava mais de você, Lucius" disse uma voz vinda do nada.

Lucius reconhece essa voz sombria como sendo a de Voldemort. Ele abre os olhos mais uma vez e tenta olhar onde consegue ver sem precisar mexer a cabeça, mas não o vê.

"que vergonha. Meus valorosos comensais, todos se dando por vencidos. Até mesmo você, Lucius. Perdeu sua confiança em mim? Talvez eu deva perder a minha em você..."

"n... não..." dizia Lucius, ainda procurando por Voldemort.

"Eu sei que você achou que eu não viria mais. Eu sei que você achou que havia sido abandonado. Enquanto você perdia sua confiança e desacreditava mais e mais em mim, eu estava reunindo forças e pensando em uma forma de te resgatar."

"L... Lord..."

"mas tudo bem. Serei benevolente com você. Eu sei pelo que está passando agora e pelos seus feitos no passado, vou lhe dar uma segunda chance. Você falhou ao buscar a profecia e falhou agora ao confiar em mim, mas lhe perdôo."

"obrig... ado.." e então Lucius fecha os olhos e descansa a cabeça no chão.

O prato com a poção toma uma forma inconsistente e toda a poção vaza. Em seguida o prato se transforma numa cobra que se arrasta sorrateiramente até próximo do rosto de Malfoy.

"mas agora vou exigir muito mais de vocês. Todos vocês terão que reconquistar minha confiança. Você deverá abdicar de tudo. Esteja consciente que a partir de agora todo o mundo será contra nós. Todos aqueles incrédulos e tolos, que acham estar com a razão, se voltarão contra nós. Não nos resta muito a não ser lutar abertamente com eles e faremos isso daqui! Essa será a nossa fortaleza, Lucius, e você deverá se mostrar ser meu aliado!"

Ele ainda estava de olhos fechados, mas consciente.

"Agora você deve beber o meu sangue, Lucius. Com isso marcará nossa união e fortalecerá o nosso laço. Todos os comensais estão fazendo isso Lucius. Mas esta é só a primeira prova de sua fidelidade. Se não for merecedor de minha confiança o que beberá não será meu sangue, mas sim o meu veneno. Vê como sou benevolente? De um jeito ou de outro, você sairá deste lugar. Merecendo ou não minha confiança, você não passará mais um minuto neste lugar. Agora beba, Lucius. Prove-me que nunca deixou de ser quem eu achei que era."

Lucius abre os olhos e vagarosamente segura a cobra com uma de suas mãos. Depois, levando-a à boca, ele morde com a pouca força que lhe resta e um filete de sangue escorre, gotejando no chão. Lucius sente suas forças voltarem. Aos poucos, a energia que parecia ter abandonado o seu corpo para sempre, retorna redobrada. Ele ergue a outra mão e aperta a serpente, que silva uma última vez antes de se decompor e virar poeira bem na sua frente.

Lucius põe-se de pé e olha para as mãos, que parecem ter o sangue de volta em seus vasos. O murmúrio dos mortos fica mais alto como se estivessem lamentando a perda de mais uma companhia. Toda a vida e força de Lucius retornou e agora o que ele tinha a fazer era esperar mais um dia, quando o guarda viesse trazer sua comida. Os comensais retornaram mais fortes que antes.