Capítulo 10

- Inscrição nos NIEM´s -

Era chegada a hora do almoço. O salão principal estava repleto de alunos e as mesas estavam cheias, com um delicioso banquete. Na mesa da Griffinória, Hermione acabava de chegar agarrada ao seu precioso livro, enquanto Harry e Rony comiam cabisbaixos.

"Nossa! que caras! Descobriram algo?" Hermione estava superanimada e sentou rapidamente, fazendo seu cabelo esvoaçar por cima de Neville, que tremeu achando que fosse Nick-quase-sem-cabeça.

"sim..." disse Harry.

"não..." disse Rony. Ambos desanimados.

Hermione então olha para Harry e coloca o livro ao lado do prato.

"Bem, então comece a contar!"

"Nada de mais. Dumbledore está resfriado" dizia Harry, num muchocho.

"Isso é ótimo! Então o jornal dizia a verdade!" - Hermione sorri e olha para Rony - "E você não foi falar com a enfermeira?"

"eu fui, mas falei direto com o diretor... e ele disse a mesma coisa..." disse Rony, num muchocho melancólico.

Hermione fica calada por um tempo, tentando entender. Para ajudar a amiga, Neville avisa...

"eles tão assim desde que chegaram"

Hermione dá um tapão em cima do livro, fazendo as 5 pessoas mais próximas pularem de suas cadeiras, juntas com seus respectivos pratos.

"Eu tive uma manhã agradável!" disse ela, para desânimo das outras duas pessoas que aguardavam uma notícia reveladora ou no mínimo, uma novidade chocante.

"não precisa me matar por causa disso!" disse Rony, girando a substância marrom que estava em seu prato, com a colher.

"Vocês já parecem mortos. O que aconteceu?"

"Eu fui na sala de Julius e quem tava lá era Victoria..." dizia Harry, lentamente.

"e o que ela fazia lá?" perguntou Hermione, interessada.

"conversava com Julius. Ele também estava lá"

"ai meu Deus. FALA LOGO!" nisso, Harry toma fôlego.

"Eu falei com ele sobre Dumbledore, e após ouvir coisas confusas, Victória me explicou que Dumbledore só estava gripado, então levei um sermão e nunca mais vou voltar lá" Harry falou tudo sem parar para respirar.

"Coisas confusas? Sermão?" Hermione franzia a testa, curiosíssima.

"é, ele disse que não tinha que dizer nada para mim e coisas assim... mas depois acabou dizendo, e no fim levei um sermão dele por ter ido falar com ele ao invés de falar com a professora Minerva. Acho que ele ficou com raiva de mim... e também levei sermão por chamar a professora Victória pelo primeiro nome..." enquanto dizia isso, Harry ficava cada vez mais corado.

"eu disse pra você que ele era um Malfoy" dizia Rony.

"e você já me disse isso há 3 minutos..."

"Harry! Não liga pra ele! Ele também já disse coisas estranhas pra mim, mas o diretor explicou que ele só gostava de assustar as pessoas. Tenho certeza de que ele é uma pessoa boa, ou não seria cavaleiro de Merlim." Hermione começava a encher o prato.

"gosta de assustar pessoas e é bom..." resmungava Rony em voz baixa, para Hermione não ouvir.

"Eu sei, mas acho que ele não foi com a minha cara... Victória é tão mais simpática..."

"Professora Victória" disse Rony, corrigindo o amigo.

"Ela não é Malfoy esquisitona, é? Então pronto, tá explicado. Sua vez, Rony." disse Hermione, encarando Rony.

"minha vez de que?"

"de explicar por que tá assim..."

"ah... peguei uma detenção com o Hagrid e tudo com ele é exagerado..." dizia Rony, derrubando a colher e descansando os braços na mesa.

"detenção com o Hagrid?!? Mas você não foi falar com a enfermeira?"

"Fui... e lá na enfermaria, tava ele e Dumbledore. Não vi a enfermeira. Mas aí eles acharam que eu tava ouvindo atrás da porta, mas eu não tava..."

"e o que eles conversavam?" disse Hermione, colocando uma pitada de sal na coxa de lebre.

"Você não tá prestando atenção... EU-NÃO-TAVA-OUVINDO-ATRÁS-DA-PORTA!" disse Rony, falando as últimas palavras pausadamente.

"ah não? Então por que eles te botaram em detenção e você não fez nada?" e Hermione dá uma mordida na coxa, despreocupadamente.

"é que eu tava parado atrás da porta quando Hagrid abriu... mas não ouvi muito da conversa, só ouvi o final. Eles diziam algo sobre não dizer alguma coisa até a hora certa..."

Hermione pára de mastigar para ouvir tudo. Neville boceja pois é a segunda vez que vai ouvir a história...

"não sei do que eles falavam, mas eu vi o diretor escondendo uma poção que não sei qual era na manga da roupa dele. E Hagrid fez questão de me levar pra longe, mas eu ainda perguntei como ele estava e o diretor só disse que tinha pego um resfriado, mas ele estava com uma voz horrível e tossia muito"

"pra mim isso é um resfriado..." murmurava Neville. Hermione ergue o dedo pedindo silêncio e Rony continua.

"Então fora do colégio, Hagrid pediu que eu não contasse nada a vocês dizendo que vocês não aceitariam a notícia com a mesma facilidade que eu aceitei, mas eu não sei que notícia é essa!"

"mas se soubesse, contaria!" disse Hermione.

"Claro! Vocês são meus amigos! Eu nunca mentiria!" disse Rony, firmemente, tentando erguer o braço mas sem sucesso.

Harry engasga e começa a tossir quando Dino, que estava ao lado mas não prestava atenção, lhe dá um tapa nas costas desbloqueando a traquéia.

"eu... preciso contar algo a vocês..." disse Harry, tomando fôlego.

"Agora não Harry. Termine, Rony."

"bem... eles achavam que eu tinha ouvido algo, mas eu não ouvi... e mesmo assim o diretor disse que só tava com resfriado! Não sei por que me disse isso se achava que eu já sabia da doença do diretor!"

"é porque o que eles estavam conversando não era sobre isso..." dizia Neville, entendiado e rodando a colher no seu prato. Já teve tempo suficiente pra chegar a essa conclusão.

"e sobre o que era?!" Rony olha Neville que dá de ombros.

"Rony, Neville tá certo..." - disse Hermione, fazendo Neville se encher de orgulho e estufar o peito - "...se o diretor mentiu quanto ao resfriado, o que acho improvável, então eles estão escondendo dois segredos de nós!"

"eu... realmente tenho que contar algo a vocês" Harry se esforçava em receber atenção, mas Rony continua falando.

"se você tá dizendo... Bem, depois eu salvei uma garotinha e ganhei 5 pontos..."

"que ótimo!" disse Hermione.

"mas ela perdeu 5 também, e ficamos na mesma. Depois eu carreguei um monte de caixas com coisas sensíveis ao sol e perdi a sensibilidade nos braços. Nesse meio tempo, Hagrid me contou o tipo de pessoa que Julius era, e ainda é, quando tava no colégio."

"o que ele disse?" Hermione pareceu mais interessada.

"O que eu já sei e vocês não querem acreditar. Ele é um maldito Malfoy que trai os amigos e não gosta de trouxas ou sangues-rui..." - Nisso, Hermione se assusta e fecha a cara - "digo, ou gente que não é puro-sangue... desculpa..." - E Rony abaixa a cabeça timidamente, procurando um buraco para se jogar dentro.

"...tudo bem..." disse Hermione, abaixando a cabeça e encarando o prato, pensativa.

"é sério! Desculpa! É que quando eu fico pensando naquele otário do Draco, eu começo a pensar nas coisas que ele diz e me dá mais raiva, aí eu fico falando as coisas que ele diz porque eu fico pensando nas coisas..." Rony falava sem parar, explicando-se.

"eu sei Rony. Tudo bem. Eu tô aqui pensando que se você estiver certo sobre o Julius, como é que Dumbledore confia tanto nele? E como ele se tornou membro da corte suprema?"

"pessoal, Voldemort vai atacar o colégio!" Harry fala de uma vez, fazendo Rony tremer.

"Você é louco?" disse Rony

"Julius me disse." - então, os três amigos ficam em silêncio, esperando mais explicações.

"ele... digo, Victória me disse ontem que os três estavam aqui porque tinha grandes chances de Voldemort atacar o colégio esse ano... Julius confirmou."

"E porque só tá nos dizendo agora?!?!" Rony estava indignado.

"é que eu jurei pra ela que não ia contar..."

"ora, por favor, né Harry!?! Se a gente ficar se enganando, vai ser pior!" disse Hermione.

"desculpa.. mas eu contei agora, tá bom? Não precisa reclamar." Harry encolhia cada vez mais

"Então, pode ser que o diretor e Hagrid estivessem falando sobre isso dentro da enfermaria!" disse Rony, empolgando-se pela dedução.

"o colégio não parece muito protegido contra Vocês-sabem-quem..." comentou Neville.

"Não é tão fácil de entrar aqui! Você saberia se tivesse lido Hogwarts, uma história. E além do mais, tem Dumbledore, Julius, Victoria e Gllandow! Voldemort não iria atacar assim de qualquer jeito..."

"Me sinto mais seguro aqui do que em casa" disse Rony.

"Bem... depois que me inscrever em Defesa contra a arte das trevas, eu vou..." Hermione pára, olhando alguém atrás de Rony. Os outros também olham.

Atrás dele estava a mesma garotinha do acidente da aula de Vôo com uma aprência jovial e descontraída. Cabelos negros na altura dos ombros, pele morena e olhos escuros. Estava sorridente e levemente corada.

"oi Rony..." dizia ela, balançando-se nos pés para frente e para trás.

"er, oi..."

"foi você quem me ajudou hoje de manhã, não foi?"

"sim. Ia ser uma queda feia..."

Repentinamente, a garota dá um beijo na bochecha de Rony e vai embora para a ponta da mesa, sem dizer mais nada. As amigas dela a esperavam e estavam rindo. Rony vira-se para os três, que estavam fazendo qualquer outra coisa menos olhando ele. Harry parecia curiosamente concentrado na comida, enquanto Hermione prendia o riso pois lia alguma coisa extremamente engraçada na última página do livro, que por sinal estava de cabeça pra baixo. Neville brincava desanimado com a comida.

"queria ter essa sorte com as garotas..." resmungava Neville.

"Hermione!" Disse Rony, fazendo-a fechar o livro e olhar para ele com uma cara bem séria.

"sim?"

"o que vai fazer depois da inscrição?"

"ah sim, eu vou falar com o professor Julius. Vou tirar tudo isso a limpo."

"não Mione! Ele não pode saber que eu falei essas coisas para vocês!"

"Harry, se Voldemort vai atacar o colégio, a gente também devem saber!"

"mas se ele souber que eu conto tudo para vocês, não vai me dizer mais nada!"

Hermione fica em silêncio, se convencendo de que Harry tinha razão.

"deve ter algo a ver com a tentativa de fuga da prisão..." disse Rony.

"pode ser... tudo bem, Harry... não conto nada, mas você vai ter que arrumar um jeito de sempre ficar arrumando informações com ele. Mas mesmo assim eu vou pesquisar algo sobre ele, pra ver se essa história que Rony disse, é verdade."

"Não fui eu quem disse, foi Hagrid!"

Eles continuam almoçando em silêncio, que é quebrado por Harry. Ele não se aguentava mais e tinha que comentar...

"Qual era o nome dela, Rony?" disse Harry se referindo à garotinha, debochando.

"E eu sei? pergunta pra ela!" Respondeu prontamente, como se já estivesse esperando a pergunta.



"ela não é muito nova pra você, Rony?" disse Hermione, também debochando.

"olha, se vão ficar falando nisso, eu vou embora" Rony parecia irritado e vermelho.

"Aí vem ela!" disse Neville. Rony ergue a cabeça rapidamente e olha de lado, mas não vinha ninguém. Os 3 caem na gargalhada.

"Tá bom! Eu vou embora! Tchau!" e Rony faz menção de se levantar.

"vai ter que passar pela cadeira dela, Rony" disse Hermione.

"eu vou pelo outro lado."

"Ah, Rony, deixa de besteira! Senta aí!" disse Harry. Rony acomoda-se de novo.

"e você não pode falar nada. Gina só falava em você!" diz Rony, tentano passar a 'placa' de centro das atenções para o amigo.

"ela está crescida, Rony. Se não fosse sua irmã, até que..." dizia Harry enquanto Hermione e Neville riam.

"cala boca!"

..........

Após o almoço, durante a tarde, os corredores de acesso às salas dos professores estavam meio cheios pois era o horário das inscrições para as turmas de Niem´s esse ano. Rony e Neville tinham ido se inscrever em Herbologia juntos com Dino, Simas, e Lilá enquanto Harry e Hermione foram se inscrever em poções. Ela teria ido com os outros, mas achou melhor acompanhar Harry para se encontrarem com Snape que tinha a fama de ser muito rigoroso com a turma de NIEM, principalmente os alunos da Griffinória.

Quando pegavam a carta que receberam com os resultados dos NOM´s, Harry lembrou que deveria falar com Dumbledore a respeito do erro na correção e foi repreendido por Hermione, que disse que ele deveria ter feito isso há mais tempo. Após se desculpar, eles vão primeiro fazer a inscrição pois se fossem falar com o diretor, poderia ser que perdessem o prazo das inscrições.

Ao chegarem perto das escadas que levavam à masmorra de Snape, Harry e Hermione vêem que a fila de alunos não era tão grande. Provavelmente a menor turma de todo o colégio. A grande maioria eram de Sonserinos, mas mesmo assim nem todos estavam lá.

"Por que não consigo tirar o pensamento de que vamos ser comidos vivos?" dizia Harry em voz baixa.

"não fique nervoso na frente de Snape. Não ligue pro que ele disser. Temos apenas que nos inscrever e sair daqui o quanto antes" Hermione respondia.

"Potter e sua amiga sangue ruim!" sibilou a voz de Draco bem atrás dos dois, fazendo os alunos que estavam na frente da fila se virarem. Alguns começaram a rir, já acostumados com Draco fazendo piadinhas com os alunos da Griffinória.

Harry e Hermione viram para trás e vêem Draco com seus dois trasgo-seguranças, mas ao contrário de outras vezes, Draco não estava com seu sorriso cínico no rosto, mas sim uma expressão de raiva. Hermione segura a mão de Harry e aperta com bastante força.

"Nos deixe em paz, Malfoy" disse Harry.

"Paz é o que vocês não vão ter caso se inscrevam nessa turma, Potter. E eu estou torcendo pra que isso aconteça."

"Não tenho medo de você, Malfoy. Nem de você, nem de Snape. Vamos nos matricular nessa turma e vamos terminar os dois anos intactos, ou então..." dizia Harry.

"...ou então vão contar pro diretor pra ele vir salvar vocês?" - interrompeu, Draco - "Ou preferem ir correndo pra mamãezinha, chorando e dizendo que a escolinha está difícil? Ah, não, esqueci que você não tem mãe, Potter"

"Não fala da minha mãe, idiota!" gritou Harry que deu um passo à frente, mas Hermione o segura pela mão. Alunos na fila começam a rir.

"Me bate Potter! Me bate se tem coragem! Mostra do que o herói de Hogwarts é feito!" Draco agora voltava a ter o sorriso cínico no rosto.

"Vontade não me falta, Malfoy!" Disse Harry, sem pensar.

"Sr. Potter" - a sombria voz de Snape na porta de sua sala fez com que Hermione e Harry se virassem. Os alunos param de rir. - "que desagradável surpresa vê-lo aqui. Eu estava ouvindo uma certa desordem e não sei porque, achei que fosse você."

"Professor! Draco Malfoy, ele..." Harry tentava se explicar, mas Snape ergue o dedo como se tivesse dado um bote na ponta do nariz de gancho e Harry se cala.

"Só fale quando eu mandar, Potter. Vejo que insatisfeito por ter perturbado minhas aulas e meus alunos, você resolveu dar suas caras por aqui também. Eu já esperava que a senhorita Granger..." - e Snape a encara fixamente com um olhar de desprezo - "...estivesse querendo entrar na minha turma, mas você aqui é uma surpresa um tanto quanto... nauseante..."

"Talvez o senhor não tenha se livrado de todos os palermas, professor." disse Draco, fazendo o resto dos alunos rirem. Snape mantinha sua expressão séria, mas não repreendeu o aluno o que fez Harry ferver a cabeça, enquanto Hermione o segurava com as duas mãos, agora.

"Sr. Malfoy, talvez isso ocorra durante o ano letivo... Quanto às ameaças de agressão, Potter, suponho que já saiba que não tolero esse tipo de comportamento por aqui, muito menos em frente à minha sala. 10 pontos a menos para a Griffinória." dizia Snape, lentamente, como se estivesse se deliciando a cada palavra.

"Não temos nenhum ponto para você tirar, Snape!" disse Harry, sem pensar nas consequências.

Todos os alunos se calam.

"Então não vejo outra solução a não ser dar 10 Pontos para o Sr. Malfoy como forma de justiça. E Mais 10 para ele, por sua falta de respeito comigo, Senhor Potter." - Os alunos da Sonserina vibram em silêncio.

Harry ameaça responder comentando sobre o senso de justiça do professor, mas Hermione sussurra em seu ouvido que ele tem que calar a boca.

"Venham aqui, vocês dois. Quero evitar mais problemas e, se possível, evitar a sua presença nas minhas aulas..." disse Snape, virando e entrando em sua sala.

Harry e Hermione seguem juntos, enquanto os alunos ficavam rindo e uivando baixinho à medida que eles passavam.

"Você está morto esse ano, Potter!" Disse Draco em voz alta. Harry pensa em voltar e dar um soco nele, mas Hermione continua sussurrando em seu ouvido para ter calma.

Eles entram na sala e a porta fecha logo em seguida. Snape estava sentado em sua cadeira, pegando uma pena e abrindo um pergaminho. Harry vê a penseira de Snape ali na mesa e lembra do infeliz dia em que colocou a cara ali. Tudo o que ele conseguiu foi fazer Snape odiá-lo mais ainda e descobrir que seu pai era um completo idiota quando jovem.

"Sentem-se" ordenou Snape, anotando algo no pergaminho. Harry e Hermione se sentam nas duas cadeiras em frente à mesa, ainda de mãos dadas.

"muito bem, senhorita Granger. Quero ver seus resultados." Snape sequer olhou para a garota.

Ela entrega o pergaminho para o professor, que lê cuidadosamente.

"hum..." - Snape parecia rosnar, desapontado pelo que estava vendo - "parabéns, senhorita Granger. Já esperava que entrasse em minha turma esse ano. É um prazer..." - Snape fala essa palavra como se estivesse cravando uma adaga na barriga - "...tê-la conosco."

"obrigada..." disse Hermione em voz baixa enquanto pegava os resultados que Snape estava entregando.

"Agora você, Potter." disse Snape, anotando o nome de Hermione na lista de alunos.

Harry desenrola o pergaminho receioso, mas entrega. Snape agarra e começa a ler rapidamente.

"hum..." - dessa vez ele não parecia rosnar. Era até visível uma ponta de sorriso torto no canto de sua fina boca. - "dizem que não sei apreciar uma boa piada, Potter. Mas tenho uma aqui na minha frente."

"o que?!!" disse Harry, surpreso.

"Silêncio, Potter." - Snape continua falando, enquanto enrola o pergaminho - "ao contrário da senhorita Granger, que reconheço ter algum mínimo de potencial, o senhor não demonstra ter o mesmo desempenho. Esses resultados são obviamente uma fraude e ficarei muito contente em mostrá-los ao diretor."

"Mas tem o carimbo e a assinatura da líder da autoridade máxima de exames!" disse Harry, aflito.

"Não me faça pedir silêncio mais uma vez, Potter." - Snape dá uma pausa para respirar - "eu estou vendo a assinatura, mas há formas de fraudar esse documento e ele deverá passar por uma examinação minunciosa para averiguar sua veracidade. Contudo, vou solicitar também uma recontagem de pontos e vou pedir que os resultados sejam entregues direto à diretoria. Podem se retirar."

Hermione ergue a mão rapidamente, assustando Harry.

"o que é, senhorita Granger?" Disse Snape sem olhar para ela, guardando os resultados de Harry numa gaveta.

"Harry precisa desse documento para se inscrever nas outras aulas."

"Seria falta de ética se eu permitisse que ele andasse com uma fraude por aí, tentando enganar outros professores, senhorita Granger. Podem se retirar."

Hermione lança a mão ao ar, mais uma vez. Harry quase fala para ela deixar pra lá, mas Snape é mais rápido.

"É a última vez, senhorita Granger. O que quer dizer, agora?"

"Harry está inscrito nas aulas de poções? O senhor tem algum comprovante de que ele foi inscrito?"

"por enquanto não está inscrito, mas se por alguma ironia do destino ele realmente tiver tirado uma nota descente em Poções, não terei outra escolha. Podem se retirar."

"mas, professor, o senhor tem algum comprovante que possa..." dizia Hermione, com a mão erguida.

"Senhorita Granger, não me faça colocá-la em detenção. Seria humilhante para uma monitora e também seria irritante para mim, tê-la por perto. Então, só vou pedir mais uma vez em benefício mútuo, que se retirem da sala."

Harry se levanta primeiro e puxa Hermione, antes que ela quisesse dizer algo mais. A porta abre como que obedecendo aos pensamentos de Snape e os alunos que estavam fora, se calam. Pareciam bastante excitados enquanto comentavam sobre os dois. Harry sai da sala puxando Hermione com força, sem perceber.

Ao sairem, outro aluno entra e a porta fecha. Os dois seguem em silêncio enquanto são acompanhdos pelos olhares fulminantes dos alunos ali parados. Ao passar por Draco, ele não diz nada mas fica olhando para eles enquanto acha graça de algo.

"Assim você arranca o braço dela, Potter" alfinetou Draco, e o resto dos alunos começam a rir.

"Seja mais delicado com sua namorada" disse um dos alunos na fila, apenas aumentando a baderna.

Harry solta a mão de Hermione imediatamente, mas continua seguindo a passos firmes e Hermione vai junto sem olhar para trás, ignorando qualquer comentário.

Após duas curvas, ao chegarem no começo das escadas que desciam para o resto do castelo, Harry bate com a palma da mão na parede, embaixo do quadro de três donzelas taverneiras servindo um cavaleiro. Eles olham para baixo e Harry encosta a cabeça na parede. Hermione pára, preocupada.

"Por que? Por que? Por que ele continua assim? Por que ele não me deixa em paz?" sibilava Harry, apertando os dentes e segurando um choro de raiva. Ele começava a ficar bem vermelho.

"Harry, calma. Vai dar tudo certo. Enquanto Dumbledore estiver no colégio, tudo vai dar certo!" consolava Hermione, colocando a mão sobre o ombro de Harry.

"Eu sei... é como o Draco disse. Eu vou sair correndo contar ao diretor pra ele vir me salvar, porque eu não posso fazer isso sozinho"

"Não dê ouvidos àquele idiota. Ele só quer te perturbar, Harry."

"E agora? Snape pegou meus resultados! Eu não vou poder me inscrever em mais nada e vou perder esse ano" dizia Harry, aflito.

"Oh Harry, você pode se inscrever sim. É só explicar aos professores o que está acontecendo e tudo vai se resolver. Eu vou com você pra ajudar."

Harry vira e abraça Hermione.

"Harry, o importante agora é manter a calma. Pelo menos, agora você não vai mais precisar falar com o diretor. Snape vai fazer isso por você e tudo vai se resolver." disse Hermione, abraçando Harry também.

"valeu mesmo pela ajuda. Se eu viesse sozinho, acho que já estaria expulso do colégio" dizia Harry, se acalmando.

"hehe, o mesmo digo eu, Harry"

"nada disso! Você consegue se controlar nessas horas..." dizia Harry, quando é interrompido pela voz de Max.

"ora, ora, aí estão os meus primeiros amigos no colégio" - Max subia as escadas, sorridente. - "eu procurei por você o colégio inteiro!"

Harry solta Hermione, que leva a mão à cabeça.

"Desculpa, Max! Eu tive que vir com o Harry e pensei em me encontrar com você depois. Se eu soubesse que viria agora, nós três tínhamos ido juntos." Hermione se explicava, ficando vermelha.

"hehe, não tem problema! Também não marcamos horário, né?" Max chega ao fim das escadas, bem em frente aos dois.

"Pode ficar, Hermione. Eu vou tentar me inscrever em transfiguração. A professora Minerva é mais fácil de lidar..." dizia Harry.

"problemas com Snape? Tô com medo do que ele possa fazer. Não sei se ele gosta de alunos novos."

"Ele não gosta de ninguém, Max. Mas você é da Sonserina, não vai ser tão ruim." Harry tentava incentivar.

"tomara, hehe"

"Max... desculpa, mas eu tenho que ir com o Harry pra ajudar a fazer as inscrições. Surgiram uns problemas, e..." Hermione se explicava, mas ele interrompe.

"Tudo bem! Pode ir com ele, não precisa explicar! Pelas caras, parece que você também não tá muito afim de voltar pra lá" dizia Max, indicando o caminho pra sala de Snape.

"não é só isso, Max. Eu realmente tenho que ir com ele"

"eu sei, eu sei. Boa sorte Harry e Hermione. Desejem-me sorte também." dizia Max, inspirando fundo e criando coragem.

"hehe, boa sorte..." Harry respondeu, desanimadamente. Hermione também deseja sorte e Max se dirige à sala de Snape, enquanto os dois desciam as escadas.

"Que droga. Eu combinei de mostrar o colégio pra ele..." pensava Hermione, em voz alta.

"Vejo que gostou do seu fã..." dizia Harry, com um sorriso cheio de insinuações.

"que fã, o que!... Ele é irmão de Hugo!" respondia Hermione, sem jeito.

"mas você disse que ele não tinha irmãos..."

"é, ele disse isso porque não ia dizer que tinha irmão bruxo, né? Eu também não disse que estudava aqui então não tinha como ele saber. Mas bem... você vai fazer o que, mesmo? Transfiguração, feitiços, defesa e trato?"

"isso! Você também, né?"

"vou... e mais outro tanto de matérias..." Hermione falava cansada como se já estivesse no meio do ano letivo.

"mas pra você isso não é problema" dizia Harry confiante.

"sei não. Esse ano eu enlouqueço de vez..."

"que otimismo..." disse Harry surpreso por vê-la reclamando de matérias.

...............

Após falarem com os professores Flitwick, McGonagall e Hagrid, que não reclamaram pela falta do documento com os resultados dos NOM´s, Harry e Hermione se dirigiam à sala de Julius. Os professores deram pergaminhos assinados a Harry, comprovando que ele estava pré-inscrito nas matérias e a situação iria se regularizar quando os novos resultados chegassem à diretoria.

Perto da sala de Julius, Harry sentia seu rosto corar mais uma vez o que chamou a atenção de Hermione.

"o que foi?"

"você fala por mim, ok?"

Estranhamente, muitos alunos vagavam por esses corredores como se a sala de Julius fosse uma espécie de ralo que sugava a todos. Em meio aos comentários animados, eles ouviram que Julius não estava exigindo notas altas e era por isso que tantos alunos estavam correndo para se inscreverem.

Apesar da rapidez com que as inscrições eram feitas, a fila estava grande e os dois tiveram que esperar alguns minutos antes de serem atendidos. Ao entrar na sala, a cara de surpresa de Hermione era a mesma que Harry fez quando entrou pela primeira vez. Harry olhava para os lados procurando Victória, mas apenas Julius estava ali sentado em sua mesa, aguardando.

"er... boa tarde, professor" dizia Hermione, fechando a porta.

"precisavam vir os dois ao mesmo tempo?" disse Julius, encarando Hermione.

"é que..." Hermione ia explicar, mas Julius diz pra eles se sentarem.

Após se sentarem, Hermione entrega o seus resultados e Julius examina cuidadosamente, levantando as sobrancelhas, impressionado.

"são excelentes resultados" dizia ele, ainda lendo.

Hermione dá uma cutucada em Harry com o cotovelo, sorrindo.

"Para uma nascida trouxa, você parece ter grande força. Estou impressionado." dizia Julius, enrolando o pergaminho.

Agora Hermione não estava tão alegre. Incomodada com o comentário, ela pega o pergaminho e resolve comentar também.

"perdão professor..." e ela dá uma pausa enquanto o professor anota o seu nome na grande lista de alunos. Após isso, ele ergue a cabeça.

"sim?"

"desculpe... é que eu achei que o senhor quis dizer que quem é nascido trouxa não tem capacidade de ser bruxo... estou certa?"

"Claro que não" - Julius abaixa o rosto para ir escrevendo o nome de Harry na lista. Hermione sorri, mas ele continua - "eu quis dizer que existem excessões como você"

Harry então olha para Hermione e vê a hora dela levantar da cadeira exaltada e fazer um discurso, mas ela não levanta.

"perdão, mas eu não acho isso" disse Hermione, com indignação na voz.

"claro. Cada um tem o direito de achar o que quiser, mesmo que seja defendendo os bruxos nascidos trouxas ou até os meio-trouxas. Seus resultados, Sr. Potter."

"eu..." Harry ia explicar, mas Hermione interrompe.

"Então quer dizer que para o senhor, os trouxas são inferiores?? Como alguém assim consegue chegar até onde o senhor chegou?" Hermione ficava mais vermelha e aumentava o tom de voz.

"eu não disse isso e não é preciso falar mais alto. Se não concorda comigo, eu posso tentar mostrar o meu ponto de vista..." - Julius cruza as mãos - "Até onde eu sei, por experiência própria tanto no trabalho quanto na minha vida inteira, os bruxos nascidos trouxas ou aqueles que não são puro-sangue, como chamam, são os que trazem mais problemas. Estatisticamente, a maioria não consegue desenvolver seus poderes satisfatoriamente e são de fácil controle tanto pelo uso da magia quanto por outros meios. Daqueles que se tornam fortes, boa parte perde o controle sobre si ou perde a sanidade, não sei dizer, e acabam criando sérios problemas para a comunidade mágica. E posso dar um exemplo que vocês conhecem muito bem. Tom Riddle."

O professor se cala e os dois continuam em silêncio. Harry esperando a reação de Hermione e ela pensando em uma resposta com o olhar baixo. O silêncio segue por alguns segundos.

"o que me diz, senhorita Granger?" disse Julius.

"eu... eu não posso confirmar nada ainda..." dizia Hermione, ainda pensando em alguma saída.

"Bem... Creio que meus motivos pra achar que você é excessão, são bem lógicos."

"então o que deveria ser feito? Proibir nascidos trouxas de estudar magia?!" disse Hermione, erguendo o olhar desafiadoramente.

"seria uma solução razoável. Se dependesse de mim, nenhum nascido trouxa ou meio-trouxa estudaria magia. Não que eu não goste de trouxas ou bruxos nascidos trouxas, mas é uma questão de segurança."

"Ainda bem que escolher isso não depende do senhor, ou eu não estaria aqui. Sinceramente, não entendo como alguém que pensa assim conseguiu uma posição na corte suprema. Por mim, isso nunca aconteceria." dizia Hermione, deixando Harry cada vez mais surpreso. Agora ele imaginava que ela seria expulsa, no mínimo, e o pior é que seria por causa do professor que há duas horas ela estava defendendo.

"então, ainda bem que isso não depende da senhorita... Hermione Granger..." - e Julius descruza as mãos, arrumando os papéis na sua mesa - "...a senhorita como monitora sabe muito bem também que ao contrário de permitir que nascidos trouxas estudem aqui, uma detenção, suspensão ou até pedido de expulsão dependem sim de mim."

Hermione gela.

"mas vou ignorar tudo o que aconteceu, porque entendo a sua posição. Não é a primeira que fala assim na minha frente e não vai ser a última. Só espero ter deixado meus motivos claros e se você encontrar outros que provem o contrário do que eu disse, por favor me mostre." - Julius encara Harry - "Seus resultados, Sr. Potter"

"er... eu... eu..." - Harry engole seco - "professor, é que houve um problema."

"que problema, Potter?" a forma como Julius perguntou se assemelhou a Snape quando fala o sobrenome de Harry.

"eu, digo, o professor Snape, ele ficou com meus resultados para pedir uma recontagem de pontos..." Harry parecia bem nervoso. Hermione, ao seu lado, apenas olhava o chão, pensativa.

"por que ele fez isso?"

"é que ele achou que houve um erro..."

"por que ele achou?"

"acho que, bem, é porque todos foram... Impressionantes... como os de Hermione"

Julius respira fundo e olha a lista de alunos.

"Eu não exijo bons resultados, Sr. Potter, mas seria bom ter certeza de que minhas aulas serão difíceis e exigirão uma certa perícia..."

"sim, senhor. Eu sei. Não se preocupe, tenho certeza de que meu resultado nessa matéria foi Impressionante!"

"e nas outras não?" Julius encara Harry.

Harry engole seco de novo e pensa um pouco, mas resolve dizer a verdade.

"não..."

"então por que não avisou antes?"

"é que... eu achava que precisava dos resultados pra me inscrever nas aulas. Mas eu ia avisar!"

"muito bem... podem se retirar..."

Harry achou que Julius não acreditou nele, pela forma como o olhava. Ele e Hermione se levantam.

"Eu ia falar com Dumbledore depois que me inscrevesse!" insistia Harry.

"eu acredito, Sr. Potter. Você não está na Griffinória à toa." - e Harry se sente mais aliviado - "A propósito, antes que eu me esqueça de novo..."

O professor pega dois papéis e entrega a Harry e Hermione.

"automaticamente estão inscritos no clube de duelos. As aulas serão ministradas pela professora Victória e pelo professor Gllandow. Aí estão os horários de Defesa contra a arte das trevas e das reuniões do clube."

Eles iam saindo da sala, quando Hermione ainda vira para falar uma última coisa.

"professor... desculpe..." Ela estava meio aborrecida.

"não precisa se preocupar, senhorita Granger. Uma vez que você não seja como os nascidos trouxas que não desenvolvem seu potencial, ou então como aqueles iguais a Tom Riddle, não há motivos para se desculpar. A senhorita está indo bem e tem minha simpatia."

Hermione se vira e sai da sala com Harry enquanto outro aluno entrava. Eles seguiam para fazer as inscrições de Hermione, passando por vários alunos que chegavam para fazer a inscrição em Defesa contra a arte das trevas.

"não liga, Hermione..." dizia Harry, vendo a cara da amiga.

"Estou tentando, Harry, mas é impossível" - Hermione dizia firmemente - "Eu vou fazer ele mudar de idéia! Ele tem que mudar!"