Capítulo Um – Recordações do passado

Era uma tarde ensolarada na Rua dos Alfeneiros. Uma tarde quente e brilhante de verão. Alguns passarinhos cantavam alegremente ao mesmo tempo que as crianças faziam arruaça na rua, brincando e aproveitando as férias escolares. Os raios do sol dançavam sobre as flores de diferentes cores no jardim bem cuidado do n.º 4. Esses mesmos raios penetravam no menor quarto desta mesma casa, iluminando o dever escolar de um rapaz de quase dezesseis anos chamado Harry Potter.

Mas esse dever não era nada comum, assim como o rapaz que estava fazendo-o. Era uma tarefa particularmente chata de História da Magia, uma das matérias que entravam no currículo da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde Harry estudava desde os seus onze anos de idade. Magia? Sim, Harry Potter era um bruxo, e como se isso não fosse bastante, ele não era um bruxo comum, tampouco. O nome "Harry Potter" era conhecido em todo o mundo da magia; todos os meninos e meninas, todos os homens e mulheres, de qualquer parte do mundo e que fossem bruxos, conheciam a história de Harry Potter.

Isso se devia ao fato de que, aproximadamente quinze anos atrás, Harry tinha quase acabado com o bruxo mais maligno que se conheceu. "Quase", porque esse bruxo ressurgira há mais de um ano, utilizando-se de magia negra e do próprio Harry para isso. Esse bruxo era tão terrível, que a simples menção de seu nome enchia de terror o coração dos bruxos. Por essa razão, a maioria das pessoas o nomeava de "Você-Sabe-Quem" ou "Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado", mas seu verdadeiro nome, o nome pelo qual Harry e alguns poucos bruxos o chamavam, era Lord Voldemort.

Há pouco menos de quinze anos, em uma noite de dia das bruxas, Voldemort foi até a casa onde Harry e seus pais, Lílian e Tiago Potter, estavam vivendo (e se escondendo). Lá, o Lord das Trevas duelou com o pai de Harry e o venceu, matando assim, Tiago Potter. Depois, o bruxo maligno foi atrás de Harry e sua mãe. Lílian tentou, em vão, proteger o filho, que era apenas um bebê aparentemente indefeso na época. Contudo, Voldemort a matou sem piedade e, quando voltou sua varinha para o pequeno Harry, pronto para conjurar o feitiço mais maligno de todos, o Feitiço da Morte, ninguém sabe como, mas ele não conseguiu matar o menino. Assim que o feitiço atingiu Harry, ricocheteou e atingiu o próprio Voldemort, transformando-o em uma mera sombra sem poderes nem forças, que vagou sem destino durante dez anos.

Quanto a Harry... A ele restou apenas uma cicatriz fina em forma de raio no meio de sua testa. Harry ficou conhecido como "o menino que sobreviveu", mas nunca soube disso tudo até o seu aniversário de onze anos, quando descobriu que era um bruxo e que estava matriculado na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Desde o dia em que entrou em Hogwarts, sua vida mudou completamente e drasticamente. Harry se viu frente a frente com um novo mundo, uma nova vida. Na escola, que mais era um lar, Harry fez amizades sólidas e duradouras, encontrou o amor e conheceu um pouco de sua própria história, que sempre fora um completo mistério para ele. No entanto, Harry passou inúmeras vezes, em Hogwarts, por perigos de vida. Encontrou Voldemort em algumas ocasiões e, em todas, escapou, talvez por sorte ou, quem sabe, por sua bravura e ousadia. Mas não podia apagar de sua memória todas as dores e sofrimentos que esses encontros lhe trouxeram...

Mesmo assim, além de ser o "famoso Harry Potter", ele era também um adolescente. A cicatriz sem dúvida era sua característica mais marcante, mas Harry era um rapaz alto e magro (na verdade, ele sempre fora um pouco baixo para sua idade, mas no seu quinto ano em Hogwarts passou por algumas situações que o fizeram crescer, magicamente), de joelhos ossudos, cabelos negros e rebeldes, e olhos extremamente verdes. Além disso, Harry usava óculos redondos, os quais não tirava para nada, já que não conseguia enxergar direito sem eles.

Mas nesse momento, Harry estava mais preocupado com o seu dever de História da Magia. Eram trinta questões enfadonhas sobre vários fatos da história dos bruxos, como revoltas de duendes, invenções, bruxos famosos, entre outros. Já tinha feito vinte e sete questões, mas ainda faltavam três que não conseguia achar em seu livro.

28. Ignatia Wildsmith nasceu em 1227 e faleceu em 1320. Ficou conhecida por ter inventado um novo meio de transporte entre os bruxos, que facilitou muitíssimo suas vidas. O que ela inventou?

29. Fulbert, o medroso, é famoso por ter se tornado tão covarde que nunca se aventurou a sair de casa. Quando ele morreu e como?

30. Qual o nome da primeira mulher britânica a apitar uma partida de quadribol?

Harry se espreguiçou em sua cadeira. Já estava cansado de fazer aquela lição chata, terminaria mais tarde. Olhou para a gaiola vazia de Edwiges, a sua coruja correio. Os bruxos costumavam utilizar corujas para levarem e trazerem cartas, esse era o principal meio de comunicação dos feiticeiros. Edwiges era a coruja de Harry; de olhos amarelos e penas brancas como a neve, ela era extremamente temperamental, mas competente também. A coruja fora o primeiro presente de aniversário de Harry (que fosse bom, porque seus tios sempre lhe davam coisas velhas e imprestáveis) em toda a sua vida. Fora o atual professor de Trato de Criaturas Mágicas, guarda-caça e amigo de Harry, Rúbeo Hagrid, que presenteara o rapaz com essa coruja quando este fez onze anos.

Olhando para a gaiola vazia de sua coruja, que estava fora entregando uma carta, Harry lembrou de como era bom estar em Hogwarts e sentiu saudade. Lá sim era o seu verdadeiro lar. Fora em Hogwarts que Harry conhecera seus melhores amigos, Rony Weasley e Hermione Granger (os dois namoravam, na verdade, sempre se gostaram, mas não queriam admitir). Fora lá também que Harry descobriu que amava Gina Weasley (irmã caçula de Rony e, agora, namorada de Harry). Sentia falta dos banquetes, do quadribol (esporte favorito dos bruxos, que era jogado em vassouras. Harry era o capitão do time de sua casa em Hogwarts, a Grifinória, enquanto que Rony era o goleiro do time), e até das aulas e dos professores, exceto o Prof. Severo Snape, que era o mestre de Poções e sempre implicava demais com Harry.

Todo ano, quando as férias de verão chegavam, Harry sempre ficava esperando ansiosamente pelo dia em que voltaria para sua escola. Esse era mais um motivo para Harry ser... diferente. Ele não gostava muito das férias de verão, mas tinha um bom motivo para isso. Durante essa época do ano, tinha que voltar para a casa de seus parentes trouxas (aqueles que não são bruxos), os Dursleys. Petúnia e Válter Dursley eram os tios de Harry e pais de Duda, o primo chato e gordo do rapaz. Esse parentesco se devia ao fato de tia Petúnia ter sido irmã da mãe de Harry. Depois que Lílian e Tiago Potter morreram, Harry acabou indo morar com os tios, que detestavam magia e qualquer coisa relacionada a isso, o que quer dizer que odiavam Harry e o tratavam de forma miserável.

Harry suspirou resignado e levantou de onde estava, indo em direção à janela e apoiando-se no parapeito desta. Tinha que suportar esse tempo na casa dos tios... E o pior era que o tempo estava demorando para passar; fazia apenas duas semanas desde que voltara de Hogwarts e já estava tremendamente entediado. Com os cotovelos apoiados no parapeito da janela e o queixo nas mãos, Harry olhou para a paisagem lá fora. O céu ainda estava claro e o sol brilhava. E nada disso conseguia melhorar o humor do rapaz.

Subitamente, viu algo no horizonte; pareciam pequenos pontinhos que se aproximavam. Assim que chegaram mais perto, Harry conseguiu divisar duas corujas vindo em sua direção. O rapaz saiu da frente da janela quando as duas corujas entraram afoitas por ela e pousaram em cima de sua cama. Uma delas era branca como a neve: Edwiges, enquanto que a outra era uma coruja das torres, que provavelmente era de uma das corujas de Hogwarts.

Harry sentou na beirada de sua cama e desamarrou, primeiramente, a carta que estava na pata da coruja das torres. Assim que fez isso, ela saiu voando pela janela. A seguir, desprendeu a carta que estava na pata de Edwiges e acariciou-a. Ela deu bicadinhas carinhosas no dono para depois ir até sua gaiola, descansar.

Pegou a carta que Edwiges trouxera e foi com um sorriso que reconheceu a letra caprichada de Gina. Sentiu um doce aroma emanar do envelope e teve uma imensa vontade de poder estar, nesse mesmo momento, perto da namorada. Mas não podia, então, contentou-se em ler essas palavras:

Querido Harry,

Recebi sua carta e fiquei muito feliz quando isso aconteceu. Mas também fiquei preocupada, não quero que fique chateado! Se bem que dá para entender, deve ser bem chato aí na casa de seus tios, espero que eles não estejam te tratando mal. Quando Rony me contou como eles te tratam, eu fiquei chocada e insisti para que meus pais deixassem você vir mais cedo para a nossa casa nessas férias. Eles bem que queriam, mas não depende somente deles. Mamãe mandou uma carta para Dumbledore, perguntando se você não poderia vir mais cedo para cá, mas ele disse que era melhor esperar um pouco. Eu sinto muito mesmo... Eu quero tanto te ver, Harry, estou com tanta saudade!

Nesse ponto Harry sorriu um pouco desanimado. Também sentia saudade de Gina, mas pelo que Dumbledore lhe dissera um pouco antes do ano letivo terminar, Harry teria que ficar um bom tempo com os Dursleys nessas férias (e Harry tentava não pensar, se bem que era bem isso que achava, que teria que passar os dois meses de férias inteirinhos na casa dos tios). E o que Alvo Dumbledore dizia deveria ser obedecido. Dumbledore era o diretor de Hogwarts e um mestre muito sábio. Sempre ajudava Harry e lhe dava conselhos valiosos. E confiava muito no rapaz, por isso, Harry entendia (ou tentava entender) quando esse senhor de barbas brancas e compridas dizia que o rapaz teria que permanecer na casa dos Dursleys nesse verão. Mas pelo menos era bom saber que Gina também sentia sua falta...

Bem, deixa isso pra lá... Pelo menos por enquanto. Vou te contar as novidades, tenho muitas!

Para começar, Fred e Jorge conseguiram abrir uma lojinha de logros em Hogsmeade (mas não me pergunte como eles abriram a loja tão rápido... Acho que eles já tinham feito negócio antes mesmo de saírem de Hogwarts. E muito menos me pergunte como conseguiram dinheiro para isso... Eles dizem que andaram fabricando aquelas "Gemialidades Weasley" e venderam muitos artigos em Hogwarts ano passado, mas eu não acredito. Eles podem até ter conseguido vender bastante, mas não foi só de vendas que conseguiram todo esse dinheiro!).

Harry sorriu abertamente quando leu isso. Na verdade, fora ele mesmo quem dera esse dinheiro para os gêmeos. No final de seu quarto ano em Hogwarts, Harry venceu o Torneio Tribruxo, uma competição entre as três maiores escolas de magia da Europa, em que cada escola elegia um campeão para representá-la. No entanto, tudo fora um plano muito bem bolado por Voldemort para conseguir pegar Harry e ressurgir utilizando o sangue do rapaz. O plano foi bem sucedido e Voldemort realmente ressurgiu, mas não conseguiu matar Harry, que escapou. Porém o rapaz nunca se perdoou por não ter conseguido salvar a vida de Cedrico Diggory (o outro campeão de Hogwarts, que venceu o torneio junto com Harry). No final, Harry acabou sendo considerado o campeão do torneio e ganhou um bom prêmio em dinheiro, que não quis e entregou para os gêmeos empregarem no que quisessem, com a única ressalva de que comprassem vestes a rigor novas para Rony, o que Fred e Jorge fizeram logo depois de ganharem o dinheiro. Lendo a carta, Harry se sentiu feliz pelos gêmeos terem conseguido abrir a loja com a ajuda.

Ah, mas isso não importa. O importante é que eles abriram mesmo a lojinha. Mamãe ficou um pouco decepcionada no início, pois queria que eles ingressassem no Ministério da Magia, assim como papai e Percy, mas agora ela está muito feliz e orgulhosa, porque os gêmeos até que estão vendendo bem, apesar da concorrência com a Zonkos. Já papai ficou muito contente desde o início, pois depois de toda essa complicação que o Ministério da Magia (depois da destituição de Cornélio Fudge e dos ataques de... bem, você sabe... depois disso, o ministério está uma loucura!) está passando, papai disse que era mesmo melhor que Fred e Jorge não entrassem no meio de tudo isso (sem contar que eles não levam o menor jeito para "altos cargos no ministério"... Imagina só, Fred e Jorge vestindo roupas sociais e sendo importantes? Do jeito que eles são brincalhões isso nunca vai acontecer...). Sabe, todo dia os dois vão lá para a loja utilizando pó de flu e trabalham muito; chegam cansados em casa até! Mas nós os estamos ajudando também. Rony os acompanha quase todo dia e eu vou às vezes também. E é bastante divertido (como não poderia deixar de ser... já pensou, trabalhar com aqueles dois malucos?).

Falando em Rony, ele me pediu para te mandar um abraço quando fosse escrever essa carta e também pediu desculpas por ainda não ter mandado nenhuma carta. Como já te falei, ele está ajudando bastante os gêmeos e está bem ocupado. E no tempo livre, ele faz os deveres de Hogwarts e, é claro, manda cartas gigantescas para a Hermione (você sabe como eles são...). Parece que ela está passando as férias na casa dos avós e talvez ela também não tenha te mandado cartas porque não tem corujas por lá (ela manda as respostas das cartas do Rony pelo Píchi, quando ele leva as cartas do meu irmão). Ah, e quase ia me esquecendo! (o Rony tá aqui do lado e me lembrou). Ele disse que logo vai te mandar uma carta, contando as novidades, se bem que eu já estou contando tudo! O Rony vai ficar bravo comigo quando souber... (ele já foi embora, está saindo para ir para a loja junto com os gêmeos, só veio se despedir de mim).

Mudando de assunto, tenha uma notícia muito legal para te dizer: adivinha só, meu pai foi escolhido como um dos candidatos a novo Ministro da Magia! Dá pra acreditar? Mas é verdade! Eu estou te mandando junto com essa carta a edição do Profeta Diário em que saiu uma notícia falando sobre isso. Nós aqui ficamos muito felizes quando soubemos (mamãe quase desmaiou de emoção!).

Harry ficou imensamente feliz quando leu isso. Nenhuma família no mundo merecia mais algo assim do que os Weasleys, que eram pessoas muito boas e também eram bem pobres... O Sr. Weasley trabalhava na Seção do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas, no Ministério da Magia e, apesar de ter sido promovido no ano passado, ainda ganhava mal. Os Weasleys viviam humildemente em uma casa um pouco torta, a Toca (que Harry achava que era um paraíso, de tão aconchegante e acolhedora) e quase não tinham dinheiro para manterem filhos em Hogwarts. Harry olhou para um rolinho de papel que tinha vindo junto com a carta, uma edição do Profeta Diário, como Gina falara. Separou-o de um lado; depois leria as notícias. Continuou com a carta:

Além de papai, há outros candidatos que estão concorrendo também. Acho que são uns quatro ou cinco, não lembro direito... As eleições serão feitas na semana que vem. Na verdade, não é bem assim que se costuma escolher os novos ministros, mas devido às circunstâncias (havia muita discórdia no conselho dos bruxos que geralmente escolhem o ministro), foi resolvido que adotariam o método trouxa de votação (adivinha de quem foi a idéia? Só podia ser meu pai mesmo... Mas parece que gostaram tanto da sugestão que o colocaram como candidato). Somente poderão votar os bruxos maiores de idade, ou seja, os maiores de dezessete anos, que é a maioridade bruxa. Papai até que está tendo uma boa aceitação dos eleitores (ele está em segundo lugar nas pesquisas); quem está em primeiro é ninguém mais ninguém menos que Lúcio Malfoy... Eca! Só espero que ele não seja eleito... Se isso acontecer nem imagino o que virá depois... Se as coisas já estão ruins agora, ficariam muito pior...

Era realmente impossível simplesmente conceber a idéia de ter Lúcio Malfoy como Ministro da Magia... Os Malfoy eram bruxos das trevas, aliados a Voldemort (apesar de quase ninguém acreditar nisso, já que eles eram uma família muito tradicional). Harry, entretanto, tinha certeza disso, pois já vira Lúcio Malfoy atuando como Comensal da Morte. Já o filho dele, Draco Malfoy, que estudava no mesmo ano que Harry em Hogwarts, só que era da Sonserina, parecia não ter a mínima vocação para um comensal. Talvez até fosse, mas não tinha vocação. Harry o via somente como um garoto extremamente mimado e arrogante. Draco também era capitão do time de quadribol e jogava na mesma posição de Harry, ou seja, apanhador, (e tudo isso por pura inveja de Harry) mas até o momento, o time da Grifinória sempre ganhou todas as vezes contra o da Sonserina, pelo menos quando Harry estava jogando.

Contudo, Lúcio Malfoy como Ministro da Magia seria mesmo o caos! Se sem um aliado seu no comando, Voldemort já estava cometendo todos os ataques e mortes que fazia, com Malfoy de ministro isso só iria piorar! Harry realmente torceria muito para que o Sr. Weasley vencesse as eleições...

Por falar nisso, Harry, as coisas aqui no mundo da magia só estão piorando a cada dia... Eu não queria te contar essas coisas, não queria ficar te preocupando, mas o Rony disse que você iria querer saber... Ele disse que você sempre reclama de ser o último a saber das coisas quando está aí... Então, não tenho escolha. Mas me prometa que não vai ficar esquentando a cabeça, tá? Pelo menos, tente... Por mim...

Vou parar de enrolar e te contar tudo de uma vez. Bem, Harry, ele... quer dizer, Você-Sabe-Quem, está pior do que nunca agora... Parece que ele está furioso por alguma coisa que aconteceu há pouco tempo (você deve saber mais do que ninguém; acho que é sobre aquela história que você não quis contar direito sobre o que aconteceu em Hogwarts ano passado...).

Harry sabia mesmo muito bem do que se tratava... No final de seu quinto ano (foi há apenas algumas semanas, mas às vezes parecia tão perto e tão longe ao mesmo tempo...), o rapaz encontrou Voldemort mais uma vez. E ele estava atrás de algo muito importante, a Profecia Sagrada. Quem soubesse o que ela dizia, poderia mudar o futuro, se assim o desejasse... E era exatamente isso que Voldemort queria. Mas Harry o impediu. Eles tiveram um duelo violento e Harry chegou a pensar que iria morrer, porém, mais uma vez, conseguiu escapar. E além disso, viu a profecia e até a sabia de cor, só que não conseguiria contar a ninguém, nem que quisesse. E Harry não entendera absolutamente nada do que ela queria dizer... Sempre ficava se perguntando o porquê de ter sido escolhido para vê-la, porque somente os escolhidos tinham esse privilégio e sempre achava que tinham se enganado ao escolherem-no. Porque não conseguia entender nada de tudo aquilo! Talvez ele fosse muito burro mesmo... Mas tinha uma pessoa que sabia direitinho o que significavam todas aquelas palavras confusas e esse alguém era Alvo Dumbledore, que também vira a profecia. Harry sabia, intimamente, que Dumbledore entendia perfeitamente todas aquelas palavras e rimas confusas das linhas daquela profecia. Mas isso não era nada perto do que aconteceu depois... algo que foi muito mais doloroso para Harry... e que não queria lembrar agora. Forçou a sua atenção na carta:

Bem, esses são os boatos que correm, que ele está mesmo muito furioso por alguma coisa que aconteceu e quer descontar. Ah, Harry, ninguém mais está seguro... O medo já tomou conta de todos, houve mais ataques e, em poucos dias, muitas pessoas morreram. Houve uma família inteira que foi atacada e... todos morreram. Disseram que a Marca Negra estava no céu e os... corpos dos membros dessa família estavam estendidos por toda a casa... com marcas... foi horrível. Ninguém mais confia em ninguém. Não há mais uma única pessoa que se atreva a fazer novas amizades com bruxos desconhecidos. As pessoas evitam sair de casa e protegem seus lares com os mais variados tipos de feitiços protetores. E nas poucas vezes que se atrevem a sair na rua, ninguém se fala direito e nem se cumprimenta... Todos estão com muito medo. É horrível... Os meus pais contaram que tudo está ficando igualzinho a como era quinze anos atrás... Disseram que esses são os tempos negros... Harry, toma cuidado, por favor... Você está entre os trouxas e, talvez, aí seja ainda mais perigoso que aqui... Não sei... mas, se cuida...

Acho que vou terminando por aqui... E quase ia me esquecendo de outra coisa! Os resultados dos exames já chegaram (devem estar logo chegando aí os resultados dos seus, me manda uma coruja quando receber, eu quero saber, tá?). Eu até que fui bem (o Rony ficou zombando de mim, disse que eu tô virando uma outra Hermione, só porque eu fui bem! Hunf!). O Rony também teve um índice muito bom nos N.O.M.s, conseguiu fazer doze pontos! Parece que dessa vez ele se esforçou mesmo. Mamãe e papai ficaram muito orgulhosos e o "Roniquinho" ficou mais vermelho que os cabelos... (estou rindo que nem uma idiota aqui sozinha só lembrando da cena) Os gêmeos passaram raspando, com dez pontos. Já a Hermione... você já até imagina, né? Bem, ela mandou uma carta eufórica para o Rony contando que fez nada mais, nada menos que dezenove pontos!!! Na carta dizia que ela tinha alcançado o recorde da escola (mas não o bateu... Ela contou que não disseram na carta de quem era o recorde) e que receberia uma medalha quando voltasse à escola. Ela está realmente muito feliz.

Vou me despedindo por aqui, Harry... Estou com saudade de você... Penso em você sempre! E você, tem pensado em mim? Hein? Ah... eu queria que pudéssemos nos ver logo, acho que não agüentaria esperar dois meses para te encontrar em Hogwarts... Sabe, eu estou até pensando em mandar eu mesma uma carta para o professor Dumbledore, será que ele ia ficar bravo? É que eu não agüento mais... Continua escrevendo enquanto isso... Espero que você esteja bem e continue bem. Se cuida! (E não olha para nenhuma garota, tá?)

Beijos afetuosos e carinhosos de sua namorada e companheira,

Gina

P.S. 1: eu fiquei falando tanto das cartas do Rony para a Mione e acabei escrevendo uma carta enorme também... (risos)

P.S. 2: olha dentro do envelope que você vai encontrar uma surpresa! Depois eu te explico como consegui isso... (Eu tenho meus métodos! Toda garota tem!)

P.S. 3 (esse é o último, prometo): Amo você!

Harry sorriu abertamente ao ler essas últimas linhas. Gina era mesmo muito especial. Sentia que, a cada momento, a amava mais. E sentia também a necessidade de estar com ela... Como sentia sua falta... Fechou os olhos e lembrou dela, do seu beijo... do seu perfume... da sua pele macia... dos seus cabelos perfumados... Ah, como queria tê-la ao seu lado agora... Se estivesse com ela não se sentiria tão vazio como estava agora...

Abriu os olhos e colocou a carta dela de lado. Olhou para o Profeta Diário jogado de um lado na cama. Não iria lê-lo agora, não queria se aborrecer. Pegou o envelope, curioso para ver o que Gina tinha lhe mandado. Qual não foi sua surpresa e alegria ao ver aquilo! Sorriu. Era uma foto: uma foto sua e de Gina abraçados. Estavam sorrindo e acenando, debaixo daquela árvore onde se beijaram da primeira vez. Às vezes, o seu próprio eu fotográfico roubava um beijo da garota. Mas quem poderia ter tirado aquela foto? O único que conhecia em Hogwarts que fazia isso era... Colin Creevey... Se bem que ele era do mesmo ano que Gina, talvez fosse isso mesmo.

Colocou a foto na pequena mesa que ficava na cabeceira de sua cama. Não tinha nenhum porta-retrato, por isso deixou a foto na mesa mesmo, encostada no despertador, para que ficasse de pé. Sabia que ninguém mexeria ali; tia Petúnia entrava pouquíssimas vezes no seu quarto (a grande maioria das vezes só para fazer a limpeza, mas ela não limpava muito bem, talvez fosse só porque esse era o quarto de Harry, já que o resto da casa nunca tinha nenhuma poeira). Ainda ficou fitando a foto por algum tempo e depois se voltou para a carta que a coruja das torres tinha trazido.

Como Gina previra na carta, o envelope vinha endereçado com tinta verde esmeralda e um lacre de cera púrpura, com o brasão de Hogwarts, para:

Sr. H. Potter

O Menor Quarto da Casa

Rua dos Alfeneiros 4

Little Whinging

Surrey

Harry abriu a carta e viu que ela era bem curta. Eram estas palavras que estavam escritas:

Prezado Sr. Potter;

Temos o prazer de informar que o V.Sa. passou com louvores nos exames de fim de ano da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, obtendo 15 (quinze) Níveis Ordinários em Magia (N.O.M.s). Poderá, dessa maneira, ingressar no sexto ano letivo do curso.

Em poucos dias será enviada a lista do material escolar para o próximo ano letivo.

Pedimos desculpas pela demora da obtenção e envio do resultado, e agradecemos pela compreensão.

Atenciosamente,

Minerva McGonagall

Diretora Substituta

O rapaz ficou boquiaberto. Quinze! Quinze pontos! Será que não tinham se enganado? Não era possível! Quinze! Nunca tirara uma nota tão boa assim em toda a sua vida! Não que suas notas fossem ruins, eram boas, mas... nunca pensou que poderia conseguir tantos pontos... Ficaria feliz com dez pontos, imagine quinze! Era bom demais para ser verdade!

Ficou tão eufórico que não agüentou; levantou de um salto e correu para a escrivaninha. O dever de História da Magia ainda estava sobre a mesa. Pegou-o, olhou-o rapidamente e o jogou para trás em seguida. Que o dever fosse para o espaço! Precisava mandar uma carta, urgentemente!

Procurou por algum pergaminho em branco e, depois de um tempo revirando as gavetas, achou. Molhou a pena na tinta e escreveu febrilmente:

Minha querida Gina,

Você não vai acreditar!!! Acabei de receber a carta de Hogwarts e adivinha quantos pontos eu fiz nos N.O.M.s? Quinze!!! Quinze pontos! Dá pra acreditar? Eu ainda estou eufórico, nunca tirei uma nota tão boa assim! Eu nem consigo acreditar, se você estivesse aqui, pediria para me beliscar para ver se isso é mesmo verdade. Pensando melhor... não, eu pediria para você me dar um beijo, ou dois... ou mais... (sorriso maroto).

Acho que estou me acalmando um pouco. Bem, recebi sua carta e...

- DESÇA AQUI AGORA, MOLEQUE! – a voz esganiçada de tia Petúnia gritou da cozinha. Harry suspirou. O que ela poderia querer agora? Que saco, bem no meio da carta... Ia fingir que não tinha ouvido e já estava pronto para continuar a escrever quando ouviu a voz novamente:

- VENHA RÁPIDO! AGORA! MOLEQUE PREGUIÇOSO!

Harry bufou de raiva. Olhou para a carta. Queria terminá-la, mas também queria contar a notícia o mais rápido possível para Gina... Resolveu escrever mais algumas linhas rapidamente:

Ah... desculpe, Gina, mas vou ter que parar por aqui... Minha tia tá me chamando, quer dizer, tá lá em baixo gritando que nem uma louca para que eu desça... Desculpe a letra tremida também, é que estou escrevendo depressa, quero que você saiba de qualquer jeito essa notícia e o mais rápido possível. Prometo que respondo a sua carta o mais rápido possível, logo que eu puder, tá?

Beijos do seu Harry

P.S. 1: Estou com muitas saudades de você também!

P.S. 2: Mande um abraço para o Rony e diga para ele não ficar se apressando em escrever logo para mim, fala para ele escrever quando puder. Mande lembranças para o resto de sua família também e boa sorte para os gêmeos na loja e para o seu pai na eleição.

P.S. 3: Te amo! (E digo o mesmo: não olhe para nenhum outro garoto!)

P.S. 4: Eu acabei te copiando com todas essas observações... Mas você não se importa, né?

Harry rapidamente fechou a carta e foi até a gaiola de Edwiges, que estava tirando uma soneca. Rezando para que ela não estivesse de mau humor, acordou-a, cutucando-a:

- Edwiges... Ei, Edwiges...

A coruja tirou a asa de cima da cabeça e olhou para Harry quase fazendo uma expressão de desagrado.

- Edwiges, será que você pode entregar essa carta para mim? – a coruja continuou com a expressão de desagrado. – Por favor...

Um pouco contrariada, ela estendeu a pata para o dono amarrar a carta nela.

- Obrigado, Edwiges! Eu prometo que depois você vai poder descansar o quanto quiser! – Harry disse isso e a coruja saiu voando pelo céu avermelhado, já que estava começando o entardecer.

- JÁ FALEI PARA DESCER, MOLEQUE!

Novamente o grito de tia Petúnia. Contrariado, Harry desceu arrastando os pés. Assim que chegou na cozinha, viu que Duda estava devorando um pacote inteiro de bolachas doces (há muito tempo que o regime de Duda tinha acabado. Tia Petúnia e tio Válter finalmente chegaram à conclusão de que Duda não conseguiria emagrecer) e assistindo à televisão. O primo continuava o mesmo gordo chato de sempre, mas agora era um pouco mais baixo que Harry (e Duda reparou isso também, porque agora provocava menos o primo.) Tia Petúnia ainda tinha a mesma cara de cavalo e o pescoço grande, para espiar os vizinhos pela janela; ela estava preparando algumas coisas no fogão.

- Finalmente desceu! Como você é preguiçoso! – ela reclamou sem ao menos retirar os olhos do que estava fazendo.

- Eu estava ocupado... – Harry falou com raiva.

- Ocupado com o quê? – ela perguntou. – Você não faz nada na vida...

Harry sentiu que estava ficando quente de raiva. Respirou fundo e, tentando se controlar, perguntou:

- O que você quer de mim, tia Petúnia?

Ela parou o que estava fazendo e pegou um pedaço de papel que estava sobre a mesa. Olhou-o rapidamente e depois o meteu na mão de Harry.

- Vá até o mercado e compre essas coisas. Hoje um amigo do Dudinha vem passar alguns dias conosco e vou fazer uns doces. E não demore, quero tudo isso aqui mesmo o mais rápido possível!

Harry revirou os olhos enquanto tia Petúnia pegava algumas libras em um pequeno pote no armário. Ela contou o dinheiro e o meteu furiosamente na mão de Harry, antes de completar:

- E não quero que compre besteiras, compre somente o que coloquei na lista!

O rapaz já ia dar as costas e ir embora, quando Duda esperneou:

- Mãe! Você falou para ele comprar quantos potes de sorvete?

- Dois, Dudinha... Um de chocolate e um de morango...

- Só dois?

- Ah... Não fique bravo, filhinho... GAROTO! VOLTA AQUI!

Harry bufou e se voltou para olhar a tia, que estava na porta da cozinha.

- Compre mais dois potes de sorvete... Deixa eu ver... Mais um de chocolate e outro de creme... E não demore pela rua para que eles não derretam!

Ela disse isso e bateu a porta da cozinha bem na cara do sobrinho. Harry suspirou e se virou para finalmente sair.

- E pensar que tive que parar de escrever para a minha namorada por causa dessa chata e desse porco gordo...

E saiu tentando ser o mais rápido possível para acabar logo com aquilo.

Harry tinha feito todas as compras que tia Petúnia mandara. Foram tantas, que o rapaz estava tendo que carregar um monte de sacolas pesadas. E para piorar, o mercado não era muito perto do n.º 4 da rua dos Alfeneiros, portanto, o rapaz estava tendo mais trabalho para carregar todas aquelas sacolas cheias, e a cada passo elas pereciam ficar mais pesadas. E pensar que tudo aquilo que tinha comprado iria para a barriga grande de Duda em pouco tempo... Era um desperdício...

Estava andando na rua das Magnólias agora. Havia poucas pessoas na rua e de muito em muito tempo algum carro passava. Já era quase noite. Estava andando a esmo, sem pensar, quando parou em frente a uma das casas. Olhou para ela. Aquela era a casa onde a Sra. Figg tinha morado. Sentiu um aperto no coração quando lembrou disso.

Arabella Figg, ou melhor, Arabella Figg Evans era uma velha senhora que morava na vizinhança dos Dursleys desde que Harry se entendia por gente. Todas as vezes que os tios não podiam cuidar do sobrinho, Harry ficava com ela. Mas o que ele nunca soubera, era que aquela velhinha pacata era sua avó, mãe de Lílian Evans Potter.

Harry soube disso há apenas algumas semanas, em Hogwarts. A sua avó tinha sido, durante todo o ano que passara, professora de Defesa Contra as Artes das Trevas na escola. Mas o rapaz nunca soubera que ela era a sua avó até o dia... até o dia em que ela faleceu, assassinada por ninguém menos que Lord Voldemort. Sim... mais uma vez, fora Voldemort... Nesse mesmo dia, Harry leu uma carta que ela tinha lhe deixado, contando toda a verdade. Contando que era sua avó... contando o porquê de ter escondido tudo isso dele durante todos esses anos... E Harry chorou naquele dia. Chorou por ter perdido sua avó e por ter estado com ela todo esse tempo, tão perto de alguém que era tão importante para ele e sem saber disso...

Olhou para a casa à sua frente e sentiu aquele antigo nó na garganta. Olhou no relógio de pulso. Seis e meia da tarde, logo seria noite. Não estava tão atrasado assim... Quando chegasse à casa dos tios poderia dar uma desculpa qualquer para tia Petúnia e nem ligava se ela lhe desse uma bronca ou ficasse sem jantar. Resolveu entrar na casa de sua avó, só por alguns minutos, só para olhar um pouquinho...

Empurrou o portão com o corpo, já que suas mãos estavam todas ocupadas pelas sacolas. E ele abriu. Estranhou um pouco, não deveria estar aberto. Na verdade, tentou abri-lo, mas intimamente pensava que estaria trancado. Não importava. Entrou e encostou o portão com o pé.

Caminhou até a porta e tentou empurrá-la. Também estava aberta. Estranhou novamente, mas não teve medo. Entrou, depositou as pesadas sacolas no chão e fechou a porta atrás de si.

Estava na sala de estar. Olhou ao seu redor e viu que estava do mesmo jeito que se lembrava. Exceto por não cheirar mais a gato. Alguns móveis estavam cobertos por panos brancos, talvez por terem estado por tanto tempo sem serem usados. Reparou em uma estante, onde estavam alguns retratos antigos. Aproximou-se dela e começou a olhar os retratos. O primeiro em que bateu o olho era uma foto amarelada pelo tempo, de uma menina, uma garotinha de uns seis anos de idade, de cabelos ruivos e olhos claros... olhos... verdes, sim eram verdes. Ela estava muito sorridente.

Harry sorriu tristemente quando viu essa foto e sentiu que seus olhos estavam molhados. Piscou e olhou novamente para a foto. Pegou o retrato na mão e ficou olhando-o por algum tempo. Lembrava dessa foto... essa menina na foto era Lílian, sua mãe, quando era apenas uma criança. Recordou-se com um aperto no peito do dia em que vira esse retrato pela primeira vez; na época, não sabia que aquela na foto era sua mãe. Fora apenas um ano atrás. Tinha ido passar a noite na casa da Sra. Figg, ainda não sabia que ela era uma bruxa e muito menos que era sua avó. E naquele dia, vira esse mesmo retrato e ficou olhando-o. Mas a Sra. Figg tinha ficado assustada e não o deixara mais ver a foto. Foi só quando leu a carta que ela lhe deixara que entendeu o porquê disso. A Sra. Figg, que na verdade era a Sra. Evans, tinha ficado com medo que Harry ficasse desconfiado... ela tinha muito medo de que Harry descobrisse a verdade e da reação que ele teria quando soubesse, por isso, nunca contou que era sua avó. Mas o rapaz não ficou nervoso quando descobriu, só... triste... triste por nunca ter tido uma avó, mesmo com ela ao seu lado todos esses anos... Ele nunca tivera ninguém na vida, nunca tivera os pais, que morreram tão cedo e... tinha a avó, mas não sabia disso...

- O que está fazendo aqui, Harry? – uma voz perguntou, interrompendo os pensamentos do rapaz. Por um instante, pensou ter ouvido a voz de sua avó e se virou rapidamente para vê-la, mas não era ela. Era alguém que lembrava ela...

Minerva McGonagall.

Porém, Harry não deixou de ficar assustado ao vê-la. Minerva McGonagall era a professora de Transfiguração em Hogwarts e diretora da Grifinória. Além disso, ela tinha sido a melhor amiga da avó de Harry, tinha estudado em Hogwarts junto com ela. E também era a madrinha de sua mãe, Lílian, como tinha descoberto ao ler a carta que a avó tinha lhe deixado.

- Eu... – Harry estava tão surpreso que as palavras não saíam como queria de sua boca. – Eu... bem...

A Profª. McGonagall sorriu e olhou profundamente para Harry através das lentes de seus óculos quadrados, com aros de tartaruga. Aproximou-se do rapaz e abaixou os olhos, para ver o que ele tinha nas mãos. Sorriu tristemente ao constatar que era o retrato de sua afilhada. Levantou os olhos a seguir, a fim de ver o rapaz.

- Você não deveria estar na casa de seus tios, Harry?

- Eu... estava... mas... mas a minha tia me mandou vir comprar umas coisas para ela e... – Harry indicou as sacolas de compras. A Profª. McGonagall fez uma expressão reprovadora e murmurou alguma coisa parecida com "esses trouxas". Harry continuou:

- E... eu passei por aqui e resolvi entrar só... só para dar uma olhada...

Ela acenou com a cabeça, como se compreendesse e desviou o olhar, para fitar o teto. Harry estava um pouco confuso com aquela situação e algumas perguntas surgiram em sua cabeça. Decidiu perguntar a que mais o estava incomodando:

- Anh... professora... Posso perguntar o que a senhora está fazendo aqui?

- Pode. E já perguntou. – Harry se sentiu um pouco envergonhado; ela abaixou os olhos. – Eu vim aqui para arrumar as coisas de Arabella... Dumbledore está cuidando dos trâmites legais, sabe... anh... eu nem sei como falar essas coisas para você... ele está cuidando da herança, essas coisas... e eu vim aqui para guardar os pertences dela, arrumar um pouco a casa... Na verdade, nós nem sabemos o que vai vir depois... sobre... quem vai ficar com as coisas dela, a casa... No começo nem eu, nem Dumbledore queríamos pensar nisso, mas chega um momento que é preciso... A verdade é que Arabella não deixou testamento e ninguém sabe direito para quem vão as coisas dela... Por lei devem ir para os parentes mais próximos, que no caso são você e sua tia...

- Eu não quero as coisas da minha avó. – Harry disse isso muito rápido e percebeu que foi grosso. A professora se virou rapidamente para olhá-lo. – Eu... eu não preciso, eu não quero... ficar com as coisas dela só vai me trazer lembranças... difíceis... Por mim, a minha tia pode ficar com elas... eu não quero.

- Entendo... Deve estar sendo muito difícil para você, não é?

- É... mas... está passando... um pouco... – Harry olhou para o retrato na sua mão. – Vai passar... como passou... ou quase, das outras vezes...

Harry sentiu uma mão em seu ombro. Era da professora. Olhou para ela, que estava fitando o retrato de Lílian também. Ela olhou para Harry e disse, depois de soltar a mão do ombro dele:

- Fique com esse retrato.

- Ficar com ele? – o rapaz se espantou. – Mas...

- É a sua mãe... se você não quer as outras coisas de Arabella, pelo menos por enquanto, eu entendo, mas... acho que com o retrato de sua mãe você gostaria de ficar, não é?

O rapaz sorriu e murmurou:

- Obrigado.

Nesse instante, ouviram um barulho de algo sendo arrastado lá dentro. Harry se assustou, mas a professora não. Alguém entrou esbaforido na sala, carregando uma grande caixa. Era um homem muito grande, de barbas e cabelos pretos e vastos, que escondiam quase por inteiro o seu rosto. Harry o reconheceu. Era Rúbeo Hagrid.

- Onde eu coloco essa caixa, professora Minerva? – ele perguntou apoiando a caixa no chão, de modo que quando levantou os olhos, viu Harry. O meio gigante se assustou tanto que quase caiu para trás. – Harry? O que está fazendo aqui?

- Ele veio... dar uma passadinha aqui... – a Profª. McGonagall disse, lançando um olhar significativo para Hagrid, que compreendeu e disse, um pouco tristonho:

- Ah... E você, como está, Harry?

- Bem...

O amigo se aproximou de onde estavam Harry e a professora, e disse, com uma expressão de satisfação e fitando o rapaz:

- Olhe só como você está grande, Harry! Você cresceu bastante desde a última vez que o vi... Já é um rapaz e logo será um adulto! E pensar que eu te peguei nos braços quando era apenas um bebê...

Harry sorriu e disse, um pouco envergonhado:

- Eu não cresci tanto assim...

- Ah, mas cresceu sim... – agora foi a professora que disse. Parecia que tanto ela quanto Hagrid tinham entrado num acordo silencioso para mudarem de assunto. – Você já me passou em altura, se bem que eu sou somente uma velha baixinha mesmo... – ela riu, seguida de Hagrid. Harry não teve como não fazer o mesmo. Nunca tinha visto a professora brincar assim e rir.

- E você, Hagrid? Veio ajudar a professora? – Harry perguntou.

- Anh, sim, eu vim... Dumbledore me pediu... – Hagrid se empinou orgulhoso como em todas as vezes que o diretor lhe confiava algo importante.

Harry olhou para o lado e viu as sacolas de compras. Subitamente se lembrou de que tinha realmente demorado. Olhou o relógio e viu que eram quase sete horas da noite.

- Eu tenho que ir! – disse rapidamente e, depois de olhar o retrato que estava em sua mão, guardou-o dentro da roupa (que por sorte, era uma camisa velha do tio Válter, com muitos bolsos grandes).

- Mas, já? – Hagrid perguntou.

- É... – Harry olhou para os dois. – Se eu demorar mais um pouco a tia Petúnia me esgana vivo... – ele foi até as sacolas e as pegou do chão. Era um pouco difícil, pois eram muitas. – Eu tenho que levar essas compras para ela...

- Mas você vai sozinho? – a professora perguntou preocupada. – É perigoso, já anoiteceu. Hagrid, vá junto com ele.

- Sim, professora. – Hagrid disse e já estava tentando ajudar Harry com as compras, mas ele não deixou; lembrou de uma coisa.

- Ah... Hagrid, obrigado, mas é melhor não. Se os meus tios te virem, vai dar a maior confusão...

- Então eu te acompanho, Harry. – a professora ofereceu.

- Também não, professora, obrigado. Os meus tios iriam perceber rapidinho que a senhora também é uma bruxa... – ele olhou para as roupas dela, vestes de bruxo. – Vocês sabem como eles são, eles odeiam os bruxos e se me virem com vocês, a bronca vai ser maior...

- Mas eles não vão brigar com você, não é? – Hagrid perguntou.

- Ah... talvez um pouquinho... por eu ter demorado...

- Isso não mesmo, eles já estão te fazendo trabalhar carregando essas coisas e ainda vão te tratar mal quando chegar em casa? Esses malditos trouxas...

Hagrid estava um pouco nervoso e isso impressionou um pouco Harry. Hagrid sempre ficava assustador quando estava nervoso.

- Olha, Hagrid... – Harry tentou acalmá-lo. – Tá tudo bem, você sabe que eles são assim mesmo, eu não me importo. Mas eu preciso mesmo ir...

- Mas, Harry, é perigoso, você sabe... – a professora disse.

- Eu vou rápido, não se preocupem. Até mais.

Harry saiu rapidamente depois que a professora abriu a porta. Hagrid foi com ele até o portão, junto com a professora, e o abriu para que passasse. Harry ainda olhou para eles e sorriu antes de ir embora, quase correndo.

Foi o mais rápido que pôde e já estava até esperando a bronca que viria quando chegasse à casa dos tios. Assim que chegou, tocou a campainha depois de fazer um grande contorcionismo com as sacolas para alcançá-la. Quem atendeu foi a tia Petúnia.

- ONDE VOCÊ ESTEVE QUE DEMOROU TANTO? – ela perguntou à guisa de boa noite.

- Eu... a fila do caixa no mercado estava muito grande. – inventou.

- ISSO NÃO IMPORTA! EU FALEI PARA NÃO DEMORAR!

- Falou para mim, mas não para a moça que estava cuidando do caixa... – Harry disse com sarcasmo na voz.

Ela bufou de raiva e saiu de frente da porta, dizendo:

- Vamos, entre logo.

Harry entrou e encostou a porta com dificuldade por causa das sacolas. Viu que tio Válter já tinha chegado do trabalho e estava sentado no sofá, vendo televisão. O tio olhou de esguelha para o sobrinho e disse:

- Esse moleque é um imprestável, mesmo... Não devia ter dado essa tarefa para ele, Petúnia. É quase certeza que as coisas vão dar errado quando é ele quem as faz.

O rapaz estava se controlando muito para não explodir de raiva.

- Mas se eu não mando ele fazer essas coisas, aí é que ele não faz nada da vida mesmo, só atrapalha. – tia Petúnia disse para o marido e se virou para Harry. – E você, o que está fazendo aqui parado? Leve essas coisas para a cozinha agora!

Harry suspirou e fez isso. Deixou as compras em cima da mesa da cozinha de qualquer jeito e ouviu a voz de tia Petúnia gritar da sala:

- E já vou avisando que é nada de jantar para você!

O rapaz não disse nada, mas não se importava. Não estava com fome mesmo, tudo o que queria era ir para o seu quarto e não ver mais a cara de nenhum Dursley na sua frente pelo resto da noite. Voltou para a sala, onde tio Válter estava vendo televisão no sofá e tia Petúnia estava apoiada no mesmo sofá, atrás do marido. Os dois pareciam muito entretidos vendo uma notícia do jornal da noite. Harry já ia subir as escadas quando ouviu o apresentador do noticiário falar algo que o fez dar meia volta e prestar atenção na notícia.

"...e havia uma estranha figura, uma espécie de marca verde, que flutuava no céu no local." O apresentador disse isso, e a cena mudou para imagens de uma casa, totalmente destruída. Uma marca verde pairava mesmo sobre a casa, uma marca que tinha a forma de um crânio com a boca aberta, de onde saía uma cobra. Harry reconheceu aquela marca, era a Marca Negra. A marca de Voldemort. Quando o bruxo, ou algum de seus servos, matava alguém, sempre deixava essa marca em cima do lugar. Agora o rapaz prestava mais atenção do que nunca na notícia.

"Parece que a casa foi invadida, mas não foi obra de ladrões, porque não levaram absolutamente nada. Os quatro membros da família, o pai, a mãe e os dois filhos pequenos foram encontrados mortos dentro da residência. O mais intrigante, além da estranha marca que pairava no céu, era que os corpos não tinham marcas nem de tiros e muito menos de qualquer outra arma." Enquanto o apresentador falava, imagens da casa destruída e dos corpos, cobertos por plásticos pretos, eram mostrados. A Marca Negra foi mostrada diversas vezes. "Os corpos somente estavam com os olhos muito arregalados e com expressões assustadas. Não havia impressões digitais no local e os investigadores da polícia estão se empenhando em desvendar o caso. Esse foi o quinto ataque desses criminosos misteriosos, mas o primeiro em Londres. Aconteceram mais ataques parecidos no interior da Inglaterra. Algumas pessoas sugerem que a Scotland Yard deveria entrar no caso, para evitar novas mortes. O primeiro ministro fez hoje um pronunciamento, pedindo calma para a população. Nenhum especialista conseguiu explicar como a estranha marca estava no céu, sendo que não havia nenhum tipo de projetor holográfico por perto. As investigações prosseguem e a população está começando a ficar alarmada."

Harry ficou boquiaberto ao ver aquilo. Tinha sido trabalho de bruxos, trabalho de seguidores de Voldemort, com toda a certeza. Olhou para os tios que estavam ocupados demais comentando entre si a notícia para notarem o sobrinho. Harry aproveitou e subiu rapidamente as escadas. Antes de entrar no seu quarto, ainda ouviu risadas vindo do quarto de Duda, provavelmente o primo e o amigo estavam ali dentro.

Entrou no quarto e fechou a porta atrás de si, encostando nela em seguida. Deixou o corpo escorregar até que sentasse no chão. Respirou fundo. Aquilo não podia estar acontecendo, não podia! Mas estava. Voldemort estava mesmo empenhado em fazer tudo voltar a ser como era quinze anos atrás. Estava matando bruxos e trouxas, sem nenhuma piedade. Parecia que, por não ter conseguido até agora matar Harry, o bruxo estava matando qualquer outra pessoa, só para descontar sua fúria. E estava matando inocentes... destruindo lares e vidas...

O rapaz fechou os olhos e encostou a cabeça na porta. Por quê? Por que isso tinha que acontecer? Já não bastava todos os inocentes que Voldemort tinha matado, ainda mataria mais? Não suportava isso, era injusto! De súbito, lembrou de uma coisa e abriu os olhos. Durante todo esse tempo, desde que voltara de Hogwarts, nunca mais tivera nenhum sonho...

Isso porque Harry e Voldemort tinham uma estranha ligação, pelo feitiço que não deu certo quando o bruxo tentou matar o rapaz, que fazia com que Harry sonhasse e às vezes até visse o que Voldemort estava fazendo no mesmo tempo em que acontecia. Bastava apenas que Voldemort pensasse em Harry ou tivesse algum sentimento de ódio por ele... Mas agora... Não tivera nenhum sonho como esse, será que... Voldemort tinha desistido de matá-lo? Não, isso não era possível... Ele odiava muito Harry para deixar de lado essa vingança... Mas o que será que ele estava planejando agora?

Harry se levantou e se aproximou de sua cama. Viu que as cartas que tinha recebido pela tarde ainda estavam espalhadas. Sentou e pegou o Profeta Diário, que estava jogado a um canto. Abriu o jornal e passou os olhos nas manchetes. Viu a notícia que falava da nomeação dos candidatos a Ministro da Magia, viu outras manchetes menos importantes e finalmente achou o que queria: era uma notícia que falava sobre os ataques de Voldemort.

Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado ataca novamente

Agora os bruxos estão mesmo cientes de que Você-Sabe-Quem está de volta, e com força total. Ontem, mais um ataque de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado aconteceu. Foi na residência da família tradicional dos Allerton. A Marca Negra estava projetada no céu, enquanto que dentro da casa estavam os corpos dos três membros da família, mortos pela mais terrível das três maldições imperdoáveis, a Maldição da Morte.

O casal Allerton tinha um filho que completaria onze anos em dois meses e ingressaria na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts nesse mesmo ano. O menino, assim como seus pais, foram mortos, provavelmente por seguidores de Você-Sabe-Quem. Os corpos tinham marcas de picadas de cobra em todos os lugares.

Esse foi apenas mais um ataque de Você-Sabe-Quem, mas o primeiro a uma residência. Além dos muitos ataques que já foram feitos entre os trouxas, alguns ataques a bruxos foram feitos também, mas nenhum como esse até agora.

O Ministério da Magia foi contatado pelo Profeta Diário para maiores informações, mas eles se negaram a comentar. Depois da destituição de Cornélio Fudge, todas as aparências de controle no ministério foram desmascaradas e é sabido entre todos o completo estado de caos em que se encontra o governo. Os candidatos para o cargo de ministro já foram escolhidos e as eleições, que serão feitas seguindo os modelos trouxas, serão realizadas no dia vinte e cinco de julho.

Harry, assim que terminou de ler, jogou o jornal de um lado e deixou-se cair na cama, com os braços abertos. Ficou olhando para o teto por algum tempo, pensando em tudo isso. Depois de um tempo, mexeu no meio da roupa e achou o que queria: o retrato de sua mãe. Pegou-o e ficou um tempo olhando para ela. Não era uma foto bruxa, portanto, ela não se mexia. Mas mesmo assim, ficou ali, olhando para a menina sorridente na foto. Se não fosse por Voldemort, ela estaria viva nesse momento... Ela, seu pai... sua avó... tantas pessoas estariam vivas, tantas famílias estariam juntas e felizes...

Colocou o retrato na mesa ao lado da cabeceira da cama, junto com a foto sua e de Gina. Olhou para as duas, Gina e sua mãe, e por um instante as achou um pouco parecidas... Mas era só imaginação. Pegou uma correntinha de ouro, com um pingente de esmeralda, que estava dentro da gaveta, junto com a varinha. Ficou olhando para ele por algum tempo. Pertencera à sua mãe, e fora sua avó que lhe dera no ano anterior. Guardava essa corrente como a um talismã. Sempre que precisava, olhava-a e se sentia melhor. Não saberia precisar por quanto tempo ficou fazendo isso, olhando para a corrente e deslizando-a pelos dedos. Só soube que depois de muito tempo, fechou os olhos e caiu em sono profundo.