Capítulo Dois – A verdade sobre os Dursleys
Harry acordou naquela manhã com a claridade do sol penetrando em seus olhos. Fechou-os com força e virou para o outro lado da cama, tentando dormir novamente. Ainda guardava na memória os resquícios de um sonho, mas não era um pesadelo, como costumava ter, e sim um sonho bom, como não tinha há muito tempo. Porém, a claridade continuava a incomodá-lo. Cobriu-se com o lençol e depois colocou a cabeça debaixo do travesseiro.
Sentiu algo cutucá-lo no braço, que estava caído para fora da cama. Seja lá o que fosse, era insistente, pois não parou nem quando o rapaz puxou o braço para perto de si. Resignado, resolveu tirar o lençol e o travesseiro de cima de sua cabeça e abrir os olhos. Assim que o fez, viu a imagem borrada de uma coruja branca à sua frente.
- Ah... Edwiges, por que você me acordou? – perguntou com a voz embargada de sono.
Como resposta à pergunta, a coruja começou a bicá-lo mais furiosamente e, talvez, até um pouco irritada. Harry se deu por vencido e finalmente resolveu acordar. Sentou e tateou na mesa de cabeceira ao seu lado, procurando pelos óculos. Quando finalmente os encontrou, colocou-os sobre o rosto, e o quarto entrou em foco. Olhou para Edwiges ao seu lado, que ainda o encarava com seus olhos amarelos, como se estivesse esperando alguma coisa.
- O que você quer, Edwiges? – ela abriu o bico, e Harry subitamente entendeu o que queria dizer. – Você tá com fome? Mas não tinha saído para caçar ontem à noite? – Harry perguntou olhando a janela que tinha deixado aberta para quando a coruja retornasse.
Edwiges voou em direção à sua gaiola e olhou para o dono, como se o chamasse para ver alguma coisa. Harry se levantou lentamente e foi até lá. Quando olhou para dentro da gaiola, fez uma expressão de nojo.
- Argh... Você bem que poderia jogar fora seus restos de comida depois de comê-los, não é, Edwiges? – o rapaz apontou para os restos do que um dia fora um rato.
A coruja soltou um pio de indignação e deu as costas para o dono. Harry soltou um risinho baixo e disse:
- Não fique brava... Eu vou descer e depois eu volto com alguma coisa do café da manhã para você, tá? – a coruja se virou e bicou o dono carinhosamente. Harry, porém, acrescentou, apontando para dentro da gaiola: - Mas só se você levar embora os restos desse rato...
Edwiges piou desanimada, mas ainda assim pegou os restos do pobre animal morto no bico e saiu voando pela janela com eles. Harry ainda a ficou olhando se distanciar para depois ir se sentar na sua cama. Espreguiçou-se e, a seguir, olhou para o seu relógio que estava na mesa de cabeceira. Eram sete e meia da manhã ainda.
Levantou e já ia sair do quarto quando bateu os olhos no calendário que estava na parede. Todos os dias, olhava aquele calendário e riscava os dias que passavam, contando os que faltavam para o dia 1º de setembro, quando finalmente retornaria à Hogwarts. Mas ainda faltava muito tempo. Estava apenas no dia 25 de julho. Bem, pelo menos seu aniversário seria dali a seis dias. Se bem que seus aniversários nem sempre eram muito bons. Para falar a verdade, apenas uns dois tinham sido agradáveis. Quando completou onze anos e recebeu a notícia de que era um bruxo e no ano passado, quando Rony e seu pai vieram buscá-lo para passar o resto das férias na Toca, e a mãe de Rony tinha preparado uma pequena festinha para Harry. De resto, seus aniversários sempre eram chatos e entediantes, já que os passava na casa dos tios, e o desse ano caminhava para ser do mesmo modo.
Resolveu descer para o café da manhã. Tinha-se passado uma semana desde aquele dia em que recebera aquela carta de Gina, e acontecera tudo aquilo. Depois daquele dia, não mais fora visitar a casa que era de sua avó e se a Profª. McGonagall, Hagrid, ou qualquer outra pessoa estiveram por lá, Harry não saberia dizer. Não houvera nenhuma notícia de ataques a trouxas nesse meio tempo (pelo menos não sabia, já que não assistia muita televisão), e Harry agradecia por isso. Sempre ficava se sentindo muito mal quando algo parecido acontecia.
Além disso, Harry trocou algumas cartas com os amigos durante esse tempo. As cartas de Gina eram freqüentes, e Harry gostava disso. Sempre que recebia uma carta da namorada se sentia menos só. Rony mandou apenas uma carta nesse meio tempo e explicou que estava indo quase todos os dias ajudar os gêmeos na loja (por mais que a Sra. Weasley ficasse apavorada pelos filhos saírem todos os dias, devido aos ataques); disse também que já tinha convidado Hermione para passar o resto das férias na Toca e que ainda esperava uma resposta dela (Harry recebeu uma carta logo depois da amiga, contando que iria para a casa de Rony). Além disso, disse que a Sra. Weasley tinha mandado outra carta para Dumbledore, pedindo que Harry pudesse passar o resto das férias com eles, mas ainda não receberam resposta.
Harry tinha chegado à cozinha agora, e cumprimentara aos tios e ao primo com um "bom dia", que não foi respondido. Nem se importou e sentou-se à mesa, servindo-se de leite e passando manteiga num pequeno pãozinho que tinha sobrado na cesta. Tio Válter lia o jornal matutino e de vez em quando resmungava alguma coisa. Tia Petúnia parecia muito concentrada numa revista de fofocas enquanto bebericava um pouco de café. Duda estava jogando um minigame que tinha ganho em seu aniversário enquanto acabava com o bolo de laranja, enchendo a boca grande com dois pedaços de cada vez.
Os Dursleys pareciam ter desistido (um pouco) de implicarem com Harry. Intimamente, o rapaz achava que eles tinham tomado uma tática alternativa de ignorar completamente sua presença, o que não o incomodava nem um pouco. Só precisava fingir que não existia e viver sua vida. E era realmente muito bom não ter que ouvir as reclamações do tio Válter sobre si, as gritarias de tia Petúnia com ele e as provocações de Duda.
No mesmo momento que tio Válter reclamava sobre o aumento excessivo da gasolina, ouviram o clique da portinhola de correio. O que aconteceu a seguir seria até cômico, se Harry não estivesse tão acostumado com isso: tio Válter abaixou o jornal, tia Petúnia levantou os olhos da revista, e Duda paralisou o jogo; e todos olharam simultaneamente para Harry, que entendeu e, resignado, levantou para apanhar a correspondência. Só precisava levantar, apanhar as cartas, entregá-las ao tio e depois voltar ao seu café da manhã. Não era tão irritante assim. Fez exatamente isso e, quando ia beber o último gole de leite e acabar com o último pedaço de pão, tio Válter disse:
- Guida está nos convidando para passar uns dias na sua casa...
Harry sentiu o estômago revirar. Tia Guida (que na verdade não era sua tia, já que era irmã de tio Válter) era uma mulher muito parecida com o irmão: alta, socada, cara púrpura e bigodes (um pouco mais ralos que os de tio Válter). Ela, como os Dursleys, odiava Harry profundamente e sempre implicava com ele. Ela morava numa casa onde criava cachorros (os quais tinham como diversão predileta correr atrás de Harry). Era por todos esses motivos que o rapaz sentia o estômago revirar à simples menção do nome dela, quanto mais saber que ela convidara-os a visitarem sua casa.
Por isso, Harry pegou o último pedaço do bolo de laranja só para ter um motivo para permanecer mais um tempo na cozinha e ouvir a conversa que viria a seguir. Duda ainda ficou tateando o prato à procura do pedaço e quando viu que ele já estava na boca do primo, fez uma expressão muito suína e emburrada. Harry lançou um sorrisinho irônico para o primo e, enquanto mastigava lentamente o bolo, pensou que se Duda fosse um bruxo (o que era impossível) e se transformasse em um animago (o que era mais impossível ainda, já que Duda não tinha inteligência suficiente), ele com certeza se transformaria em um porco.
- Ela diz para nós irmos no próximo fim de semana... – tio Válter disse para a esposa, enquanto olhava a carta.
- "Nós"? – tia Petúnia perguntou um pouco preocupada. – Mas ela quer dizer quantos de "nós"?
- "Nós três". – tio Válter respondeu, numa referência óbvia a ele, a esposa e o filho, o que excluía Harry da visita e o fazia ficar bem mais animado.
- Mas não podemos deixá-lo aqui, sozinho! – tia Petúnia apontou o sobrinho com a cabeça, e Harry achou irônico que agora lembrassem que ele estava ali.
Duda, nesse momento, paralisou o jogo novamente e olhava feio para os pais, prestes a armar o maior escândalo, já que achava que Harry provavelmente acabaria com todos os seus brinquedinhos idiotas se ficasse sozinho em casa. Tio Válter pareceu notar, porque se levantou rapidamente e disse, antes de beijar a esposa na bochecha e mexer no cabelo do filho:
- Resolvemos isso quando eu voltar do trabalho.
E saiu. Tia Petúnia levantou e foi mexer em alguma coisa no armário, novamente voltando à indiferença para com o sobrinho. Duda pareceu se acalmar um pouco, pois voltou sua atenção novamente ao minigame. Harry engoliu o último pedacinho do bolo e aproveitou a distração para surrupiar uma pêra para levar a Edwiges.
Saiu de fininho da cozinha e subiu as escadas em direção ao seu quarto, pensando. Provavelmente, ou melhor, com certeza, os Dursleys não o levariam junto para visitar Tia Guida (o que era um alívio, já que ele não queria ir mesmo). Mas também não o deixariam ficar sozinho em casa e... não podiam deixá-lo com a Sra. Figg, como sempre faziam, porque ela falecera... só que eles não sabiam disso. Ainda. Harry sentiu o nó na garganta de novo e lembrou que ainda não contara à tia Petúnia que a mãe dela falecera. Tinha prometido a Dumbledore que contaria, já que o diretor não tinha conseguido avisá-la, mas o fato é que ainda não tinha tido coragem (e nem ânimo) de contar. Não tinha a mínima idéia de como a tia reagiria e, além disso, não tivera nenhuma oportunidade de falar (deu essa desculpa a si mesmo).
Entrou no quarto disposto a pensar em qualquer coisa que não fosse nisso. Viu Edwiges dormindo em sua gaiola. Não quis acordá-la e, por isso, colocou a pêra ao lado da coruja. Quando ela acordasse, comeria a fruta.
Feito isso, foi até a tábua solta do assoalho (onde guardava seus artefatos de magia) e procurou por alguma tarefa da escola que ainda tinha que fazer. Era difícil, porque já tinha feito a maioria delas, já que quase sempre não tinha nada para fazer. Depois de procurar por alguns minutos, achou o dever de Poções. Era o único que tinha sobrado, porque estava enrolando tremendamente para fazê-lo. Suspirou e tentou pensar que não era a melhor coisa a se fazer, mas ainda assim ocuparia sua cabeça e não pensaria em coisas piores.
Naquela noite, Harry fez questão de descer mais cedo só para saber o que os tios decidiriam sobre onde ficaria enquanto eles viajavam. Se não fizesse isso (disse para si mesmo enquanto estava sentado na mesa da cozinha, esperando tio Válter voltar do trabalho para jantar, e assistindo a um programa chato na televisão junto com Duda enquanto a tia preparava a comida), seria o último a saber com certeza, mesmo sendo o principal interessado.
Tio Válter demorou mais do que o normal naquela noite e só chegou às nove horas. Quando o marido chegou, foi um alívio para tia Petúnia, porque Duda já estava fazendo um escarcéu devido à demora da janta. Tia Petúnia rapidamente foi atender o marido e guardar sua pasta. Enquanto a esposa fazia isso, tio Válter entrou esbaforido na cozinha e estacou assustado quando viu que o sobrinho já estava ali; provavelmente pensava que Harry demoraria para descer (como sempre, porque o rapaz evitava o máximo que conseguia ter contato com os tios; era o último a chegar na mesa para as refeições e o primeiro a sair) e, dessa forma, poderia decidir tranqüilamente sobre o que faria com o sobrinho durante o tempo que passariam fora. Mas isso não aconteceu e, depois do susto, tio Válter resmungou alguma coisa sem sentido, disse "boa noite" ao filho (que nem respondeu) e sentou-se à mesa.
Tia Petúnia voltou logo e, antes de servir o jantar, lançou um olhar significativo para o marido, que entendeu. Os minutos demoravam a passar. Tio Válter cansou a todos com a sua narrativa sobre o trabalho e depois foi a vez de tia Petúnia, contando como andava o processo de separação da vizinha. Parecia que os dois tinham combinado falar sobre coisas totalmente fúteis e sem sentido durante todo o tempo, na esperança de que Harry se retirasse e pudessem conversar à vontade. Mas o rapaz não fez isso e, controlando sua vontade de subir e fazer qualquer coisa que não fosse ouvir falar sobre brocas e fofocas, ficou lá, esperando que o assunto recaísse sobre a viagem. E foi depois de muito tempo que aconteceu. Duda, com a boca cheia do terceiro pedaço de pudim, perguntou:
- E ele vai viajar com a gente? – disse isso se referindo a Harry exatamente como todos os Dursleys faziam: fingindo que ele não estava presente.
Os tios gelaram ao ouvirem isso e se entreolharam. Harry, que estava observando a toalha de mesa com muita atenção, virou rapidamente a cabeça para olhar os tios quando ouviu a pergunta do primo. Tio Válter notou e tentou mudar de assunto, mas Duda interrompeu o pai e continuou, gritando:
- Ele não pode ir! E também não pode ficar aqui em casa, ele iria quebrar todas as minhas coisas!
Tio Válter abria e fechava a boca, parecendo um peixe, tentando achar uma solução. Depois de alguns instantes, ele bateu na mesa e exclamou:
- Já sei! Ele pode ficar com a Sra. Figg! – e virou-se para a esposa, que estava de pé, recolhendo os pratos. – Não é mesmo, Petúnia?
Tia Petúnia suspirou, e um brilho fraco passou pelos seus olhos, quando disse:
- Não, não pode. Parece que ela ainda está viajando. A casa está abandonada há mais de um ano...
Harry, que estava calado desde que descera do quarto, resolveu falar:
- Ela não está viajando. – ninguém deu muita atenção às palavras, e tio Válter já ia dizer alguma coisa, quando Harry o interrompeu, aumentando o tom de voz para que fosse ouvido: - E ela não vai voltar mais.
Pela primeira vez em muito tempo, os Dursleys se voltaram para olhar Harry e prestaram atenção ao que ele falava. Tia Petúnia perguntou, dirigindo-se ao sobrinho e ainda segurando os pratos sujos nas mãos:
- Como assim não vai voltar mais?
Harry resolveu despejar a verdade e nem se importou se ia doer. Nenhum dos Dursleys se importara com ele em nenhuma circunstância mesmo...
- Ela não vai voltar mais porque ela... – respirou fundo ao lembrar. - ...morreu.
Tia Petúnia largou os pratos que segurava, e eles caíram no chão com estrépito, quebrando-se em muitos pedaços. Ela cambaleou e quase caiu, isso só não aconteceu porque tio Válter se levantou da cadeira e a amparou. Ele também ficou bastante surpreso enquanto Duda parecia ter ouvido a previsão do tempo; provavelmente ele não sabia que a Sra. Figg também era sua avó, assim como era de Harry. Os Dursleys preferiam esconder isso do filho a admitir que ele tinha uma avó bruxa.
- Do que você acha que está brincando, moleque? – tio Válter perguntou alterado e com a cara mais púrpura do que nunca, ainda segurando tia Petúnia, que estava muito pálida.
- Eu não estou brincando. – Harry disse muito sério. – Eu estive com ela durante todo o ano que ela esteve longe daqui e eu até a vi poucos minutos antes de morrer.
Duda agora parecia curioso. Tio Válter ficou um pouco pálido, enquanto tia Petúnia estava branca como papel. Ninguém falou nada até que Harry se manifestou novamente:
- Se vocês quiserem, eu posso contar como aconteceu, aliás, eu até precisava mesmo contar. O diretor da minha escola me pediu isso, porque ele não conseguiu avisá-los.
Duda agora estava apoiando os grandes cotovelos na mesa e de pé, tentando ouvir melhor, tamanha era sua curiosidade. Tia Petúnia percebeu, porque olhou assustada para o filho e em seguida para o sobrinho.
- Não fale mais nada! – ela disse com uma voz fina e rouca, dirigindo-se a Harry. Desvencilhou-se do marido e se apoiou fortemente na mesa para não cair, antes de ordenar, voltando-se para o filho:
- Vá para o seu quarto, Duda.
- Não! – ele se exaltou. – Eu quero ouvir! Não quero ir para o meu quarto!
- VÁ AGORA! É UMA ORDEM! – tia Petúnia gritou, e Duda se encolheu. Provavelmente a mãe nunca gritara dessa forma com ele.
- Ouça sua mãe e suba, Duda. – tio Válter disse muito mais controlado que a mulher, o que era difícil. – Não discuta.
Ainda assustado, Duda obedeceu e saiu. Tio Válter fechou a porta e esperou os passos do filho silenciarem, para depois ajudar tia Petúnia a se sentar na cadeira onde ele mesmo estava sentado anteriormente. Ele, porém, permaneceu de pé, do lado da esposa. Tentando soar calmo, disse para Harry:
- Explique direito essa história.
Harry estreitou os olhos. Não agüentou e despejou tudo que estava entalado na sua garganta há anos, a sua voz soando alterada e quase descontrolada:
- Por que eu deveria? – Harry percebeu que se levantou e que estava começando a gritar. – Vocês por acaso se preocuparam alguma vez em me explicar alguma coisa? "Nunca faça perguntas", essa era a regra que me impunham aqui sempre! E quando eu perguntava alguma coisa, o que vocês faziam? Vocês mentiam! Mentiram quando disseram que os meus pais morreram num acidente de carro, esconderam por anos e anos que eu era e sou um bruxo!
Tia Petúnia estava trêmula e assustada, mas prestava a maior atenção às palavras do sobrinho, como nunca fizera antes. Tio Válter cerrou os punhos, sua cara muito vermelha e, em dois passos, chegou até onde Harry estava, e puxou-o pelo colarinho de sua camisa com brutalidade. Harry sentiu o bafo quente do tio e as gotas de saliva que pulavam de sua boca e molhavam o rosto de Harry quando o tio gritou:
- SEU INGRATO! NÃO VÊ QUE O QUE FIZEMOS FOI O MELHOR PARA VOCÊ! NÓS TENTAMOS FAZER COM QUE VOCÊ NÃO SE TRANSFORMASSE NA MESMA ABERRAÇÃO QUE SUA MÃE E SEU PAI ERAM!
Aquilo fora a gota d'água para Harry. O rapaz empurrou tio Válter com toda a força que tinha, fazendo com que o soltasse e ainda cambaleasse um pouco. Descontrolado, deu alguns passos para trás e gritou, apontando o dedo em riste para os tios:
- VOCÊS NUNCA TENTARAM FAZER O MELHOR POR MIM! VOCÊS SEMPRE ME TRATARAM COMO LIXO! E OS MEUS PAIS NÃO ERAM ABERRAÇÕES! VOCÊS SIM É QUE SÃO ABERRAÇÕES! VOCÊS SÃO SUJOS, SÃO HIPÓCRITAS! VOCÊS VIVEM EM SEU MUNDINHO TENTANDO FINGIR QUE AS COISAS NÃO ACONTECEM LÁ FORA, MAS SABEM QUE ELAS ACONTECEM! VOCÊS TÊM TANTO MEDO QUE ESSA PORCARIA DE REPUTAÇÃO QUE VOCÊS ACHAM QUE TÊM SEJA ABALADA, QUE FAZEM DO PRÓPRIO FILHO UM COMPLETO IDIOTA E ESCONDERAM DELE A PRÓPRIA AVÓ!
Tio Válter estava com os punhos tão fechados e apertados, que suas mãos estavam vermelhas. Ele estava roxo de raiva e parecia prestes a avançar para cima de Harry para lhe dar uma surra, quando tia Petúnia se levantou e o segurou. Com a voz trêmula e quase morrendo na garganta, ela pediu:
- Por favor, Válter... Eu preciso saber...
Ele pareceu ceder ao pedido da mulher. Seus dedos das mãos se abriram e respirava fundo, ainda olhando profundamente para Harry com ódio estampado no rosto. Harry fazia o mesmo, sustentando o olhar do tio. Tia Petúnia se colocou na frente do marido, talvez para impedir que ele tentasse alguma coisa contra Harry antes que ele explicasse o que ela queria saber. Depois de respirar muito fundo e parecendo que estava fazendo um grande esforço para engolir o orgulho, ela perguntou para o sobrinho:
- Você sabe que ela... era... sua avó?
- Ela me contou em uma carta que escreveu antes de morrer e deixou para mim, para que me fosse entregue depois que ela morresse. – Harry explicou, um pouco mais controlado. – Ela me contou tudo.
Tia Petúnia soltou um riso sarcástico e disse com uma raiva contida:
- Ah, é? E ela te contou também que traiu meu pai?
- Ela não o traiu! Ela foi enganada!
- ELA O TRAIU SIM! E DA TRAIÇÃO NASCEU AQUELA BASTARDA DA LÍLIAN!
- MINHA MÃE NÃO ERA UMA BASTARDA! – Harry gritou e bateu na mesa com força, fazendo com que os copos que estavam sobre ela tremessem e tombassem.
- Ah, ela era uma bastarda sim. – tia Petúnia disse, como se quisesse dizer tudo aquilo há muito tempo. – Aquela vadia da minha mãe traiu o meu pai, que era um homem tão bom, que a perdoou! Minha mãe se aproveitou de um momento em que meu pai estava fora para traí-lo com aquele... – ela fez uma expressão de deboche. - ... aquele bruxo que ela disse que era namorado dela na época em que ela estudava naquela escola de anormais! Ela achava que eu não sabia... é claro que na época que aconteceu eu não fazia a mínima idéia, eu era muito pequena... Mas depois... ah, depois eu descobri tudo! Eu ouvia as conversas deles... as conversas dela com meu pai... e o pior, o pior era que aquele homem com quem ela traiu meu pai tinha a coragem de aparecer lá em casa, para ameaçar meu pai! O meu bom pai! E o meu pai ainda... cuidava da Lílian como se ela fosse sua filha! Deu seu sobrenome a ela! – tia Petúnia despejava tudo isso com extrema amargura. – Às vezes eu achava que ele chegava a gostar mais dela do que de mim! De mim, que era sua filha legítima! E depois... – ela riu. Um sorriso sem alegria. - ...depois eles descobriram que Lílian era uma... bruxa... Há... "descobriram"... Que nada... eles já sabiam! Como não poderia ser? Afinal ela era filha de dois anormais! E ficaram orgulhosos quando ela recebeu aquela... carta! Se eles soubessem que eu também... arre!
Ela respirou fundo para pegar fôlego e continuar, gritando:
- E depois a Lílian e aquele Potter com quem ela se casou fizeram o favor de se explodirem! E foi uma pena que você não tenha se explodido junto com eles também! Se você tivesse morrido naquele dia, eu não teria precisado cuidar de você durante todos esses anos!
Tia Petúnia parou de falar, respirando muito rápido. Sorria vitoriosamente, como se falar tudo aquilo para o sobrinho fosse a coisa que ela mais queria na vida. Harry, ao contrário dela, sentia o sangue latejar em suas veias. Com uma certa carga de fúria na voz, perguntou:
- Se eu sou o estorvo que vocês sempre dizem que eu sou, por que não me mandaram para um orfanato quando eu fui deixado na porta de vocês? Ou então por que não me deixaram para ser criado pela minha avó, que seria imensamente melhor do que viver com vocês?
Os tios voltaram à palidez de repente, e o sorriso que estava estampado no rosto de tia Petúnia se desfez quase magicamente. Ela abaixou os olhos e não disse nada, assim como tio Válter, que estava muito quieto e parecendo envergonhado.
- Vocês não vão responder? – Harry perguntou com raiva.
Tia Petúnia levantou os olhos para ver o sobrinho e encará-lo com ódio. Tio Válter continuava quieto, apenas olhando de esguelha para a esposa. Com a voz contida, mas que não escondia a amargura de muitos anos, tia Petúnia falou:
- Eu fiz um pacto com Lílian.
- Como assim? – Harry perguntou sem entender.
Tio Válter parecia extremamente envergonhado de alguma coisa e desviava o olhar tanto de Harry quanto da mulher. Tia Petúnia, porém, só parecia ter uma grande mágoa dentro de si que fora guardada durante anos a fio. Fixando o olhar no nada, como se estivesse lembrando de acontecimentos dolorosos, ela recomeçou a falar:
- Eu fiz um trato com ela. Ninguém nunca tinha sequer imaginado que eu, assim como Lílian, também era uma... bruxa.
Harry ficou boquiaberto e não conseguiu acreditar nas palavras que tinha acabado de ouvir. Tia Petúnia, uma bruxa? Isso não fazia sentido... Se bem que... ela também era filha de sua avó Arabella e... ela era uma bruxa... Mesmo o pai tendo sido um trouxa, com uma mãe bruxa ela poderia muito bem ter o sangue mágico também, mas... mesmo assim, não fazia sentido!
Tio Válter agora tinha sentado naquela mesma cadeira de costume. Colocou o rosto entre as mãos e, com a voz muito sentida, disse, dirigindo-se à mulher:
- Você contou mesmo, Petúnia...
- Contei, Válter. – tia Petúnia disse sem nenhuma emoção na voz e ainda olhando para o nada. – E agora que comecei, vou terminar.
Ela, subitamente, olhou profundamente nos olhos de Harry quando explicou:
- Sim, eu era uma bruxa. Ainda que meu pai fosse normal, minha mãe não era e eu peguei isso dela. – ela disse isso parecendo estar com nojo, como se a magia fosse um tipo de doença contagiosa. – Mas eu não peguei o suficiente para ser uma bruxa poderosa, para ser uma bruxa de verdade. Eu não lembro direito como era o nome que se dava a bruxos assim... os que nascem quase sem poderes...
- Aborto? – Harry sugeriu.
- Isso. Só que eu era um... semi-aborto. Eu tinha pouquíssimos poderes, mas ainda assim, eram poderes. Eu podia... levitar algumas coisas de vez em quando... ou... rachar vidros... coisas sem importância. Não era uma bruxa de verdade. Quando completei onze anos, eu não recebi a carta. Meus pais acharam que eu não era uma bruxa, que eu tinha descendido totalmente do meu pai e não tinha nada parecido com minha mãe. Mas eu tinha. Eu tinha esses... poucos poderes. Quando Lílian recebeu a carta e eles ficaram orgulhosos daquele jeito por ela ser mesmo uma bruxa... ah, como me senti mal naquele dia... Eu também era! Mas eu não tinha culpa que não era poderosa! Então eu me convenci de que tudo aquilo era uma grande besteira e que era bom mesmo eu não ser anormal como Lílian.
"Os anos passaram, encontrei Válter e começamos a namorar. E ele, assim como eu, achou tudo aquilo um monte de besteira quando eu contei. E eu tive uma idéia. Se era para ser uma bruxa medíocre, era melhor não ser. Era melhor ser normal. Eu engoli o meu orgulho e pedi ajuda à Lílian. Minha mãe dizia que ela era uma boa aluna naquela escola maluca, então eu pensei que provavelmente ela deveria saber como retirar esses poderes de mim. E eu contei tudo isso para ela e perguntei se não havia alguma forma de retirar esses poderes, e ela disse que sim. Que era um... encantamento difícil, mas que ela o faria. E fez. Ela já tinha saído da escola naquela época e, portanto, podia fazer magia à vontade. Lílian retirou os meus poderes e eu me tornei uma pessoa normal. Finalmente poderia viver tranqüila, poderia casar com Válter e ter minha vida, livre daquilo."
"Mas eu estava em dívida com Lílian. Antes de fazer o encantamento, ela disse que se precisasse de alguma coisa, não hesitaria em cobrar essa dívida. Lílian não era burra, e eu sabia que ela cobraria o que fez, mais cedo ou mais tarde. É, ela não era tão boazinha como todos dizem. Ela era esperta. Não me ajudou somente com o intuito de me ajudar... E se quer mesmo saber, eu não a culpo por isso. Porque eu faria a mesma coisa. Se ela precisasse de ajuda, eu não hesitaria em cobrar a dívida depois. Nós nos odiávamos. Não era apenas uma rivalidade entre irmãs, nós não nos gostávamos mesmo, e não havia nada que mudaria isso. Eu, porque sempre soube da verdade sobre ela. E ela, porque não gostava mesmo de mim. No início, eu acho que ela não sabia que não era filha do mesmo pai que eu, mas depois... Depois que ela foi para aquela escola, eu tenho a impressão de que ela descobriu muitas coisas... E nem a nossa mãe sabia que ela tinha descoberto tudo isso..."
"E ela cobrou mesmo. Foi depois de alguns anos. Eu já estava casada, Duda já tinha nascido. Nós vivíamos sempre longe deles, principalmente depois que meu pai morreu. Depois que ele se foi, não havia mais motivo para me aproximar deles. Eu não gostava nem da Lílian e nem da minha mãe. E eu não deixei mesmo o Duda saber que tinha uma avó como aquela. Pra quê? Para ele virar um anormal também? Não mesmo, eu não queria isso para o meu filho. Mas um dia, um dia Lílian veio até a minha casa. Ela também já estava casada, e você já tinha nascido também. Ela veio até aqui, sozinha. Ela também teve que engolir o orgulho, como eu tinha feito daquela outra vez. E ela me contou o que estava acontecendo."
"Ela disse que ela, o marido e você estavam sendo perseguidos por um bruxo das trevas... Um bruxo que estava, principalmente, atrás de você... Parece que ele queria te matar por um motivo que ela sabia, mas não quis contar. E ela estava desesperada. Estava se escondendo e disse que tinha certeza, não sei como ela tinha essa certeza, só sei que tinha, de que você não iria morrer, mesmo que esse bruxo tentasse te matar. Mas quanto a ela e o marido, ela já não estava tão certa. Na verdade, eu achei que ela estava bem certa de que iria morrer, como morreu mesmo. Ela disse que não sabia em quem confiar e que não teria vindo ali se essa não fosse sua última esperança. Ela me contou que, se ela e o marido morressem, você não teria para onde ir, e ela não queria que você acabasse indo para um orfanato. Eu percebi aonde ela queria chegar e perguntei porque ela não te deixava com a avó, nossa mãe. E ela disse que não estava muito certa se ela também sobreviveria ao que estava acontecendo. Todos poderiam morrer, e isso era só uma questão de tempo. Mas por algum motivo, ela tinha certeza de que você não morreria e, em nome da dívida que eu tinha para com ela, Lílian me pediu que, se você não tivesse para onde ir caso ficasse sem os pais, que eu deveria te criar. Aquilo foi horrível para mim, mas não tive como recusar. Eu prometi que te criaria caso fosse necessário. Aquele dia foi a última vez que vi Lílian viva."
"Um pouco depois, ela e o marido morreram. Explodiram. E eu queria mesmo que ela estivesse errada quanto a você sobreviver, mas ela não estava. Você sobreviveu e veio parar bem na soleira da minha porta! E eu sabia que a partir daquele momento, eu não tinha escolha a não ser te receber e te criar."
"A minha mãe, que tinha saído de casa logo depois da morte do meu pai, acho que para ajudar naquela guerra que estava acontecendo entre vocês, voltou para sua casa, aqui na vizinhança. Ela achou estranho que eu tivesse te aceito aqui, mas nunca descobriu a verdade. E por algum motivo, ela não queria que você soubesse que era neto dela. Os anos passaram. Sempre que nós não podíamos ficar com você, te deixávamos para minha mãe cuidar. Às vezes, até dava para você ficar conosco, mas ela queria cuidar de você, e para mim, era um alívio. Eu me livrava de você por uns tempos, e ela não me aborrecia. Isso diminuiu um pouco quando você começou a crescer e entender as coisas. Acho que ela tinha um pouco de medo que você notasse alguma coisa, ou descobrisse a verdade. E enquanto isso, nós tínhamos que te agüentar. Tínhamos que suportar você aqui em casa. Prometemos a nós mesmos, eu e Válter, que você não seria a pessoa que nos ligaria de novo àquele mundo de gente estranha. E por isso nunca te contamos o que você realmente era. Mas não teve jeito, aconteceu tudo aquilo, e você acabou descobrindo a verdade e indo estudar naquela escola de malucos. Pelo menos, você não nos importuna durante quase o ano todo, mas sempre vem encher nossa paciência em todas as férias!"
Tia Petúnia parou de falar. Parecia cansada e como se tivesse desabafado tudo o que queria. Estava vermelha de raiva e respirava fundo muitas vezes. Tio Válter não falava nada, só mantinha a cabeça baixa entre as mãos.
Harry não conseguia acreditar em tudo que tinha ouvido. Estava tonto com tudo aquilo. Nunca imaginara... nunca supôs... Era por isso que eles o agüentavam ali. Por pura obrigação. Era por isso que sempre lhe impuseram uma vida miserável. Por isso sempre implicaram com ele por qualquer coisa.
Tia Petúnia parecia ter finalmente recuperado o fôlego e completou, gritando:
- E TUDO PORQUE VOCÊ NÃO SE EXPLODIU TAMBÉM JUNTO COM AQUELE ANORMAL DO SEU PAI E AQUELA BASTARDA DA SUA MÃE! NO FINAL, A CULPA FOI TODA SUA!
Nesse instante, ouviram o estampido de vidro sendo quebrado. Todos os copos, todos os vidros das janelas e dos armários estavam quebrando, um a um. Tia Petúnia e tio Válter ficaram desesperados. E Harry percebeu que era ele mesmo que estava fazendo tudo aquilo. Tio Válter se levantou de onde estava e já ia partir para cima de Harry, ao mesmo tempo que começou a gritar alguma coisa; mas não conseguiu fazer nenhuma das duas coisas. Assim que Harry o olhou, ele parou onde estava, com a boca aberta e paralisado.
Harry sentiu que não agüentaria mais. Cerrou os punhos e, sentindo o sangue latejar em sua cabeça, disse, dirigindo-se à tia:
- Você tinha inveja da minha mãe. Inveja porque ela era uma bruxa poderosa, porque ela era bonita, porque... porque ela arrumou um marido de verdade e não um porco como ele! – apontou tio Válter, com a mão trêmula. – VOCÊ NUNCA SUPORTOU QUE ELA FOSSE MELHOR DO QUE VOCÊ EM TUDO!
Pá. Tia Petúnia dera um tapa estalado na face esquerda de Harry. Depois disso, ela retirou a mão rapidamente e abaixou os olhos. Harry colocou a mão na face que ela batera, sentindo a quentura nas bochechas. Mas todo o seu corpo estava quente. De raiva. Respirou fundo e disse, sem olhar para a tia:
- Sinta-se livre do pacto que fez com a minha mãe. Vocês não precisam mais agüentar o estorvo. Eu nunca mais colocarei os pés nessa casa, ou não me chamo Harry Potter!
Saiu batendo os pés e, antes de abrir a porta da cozinha, olhou para o tio, que no mesmo instante se apoiou na mesa para não cair. Harry se virou para a porta, e ela abriu sem ele precisar mexer na maçaneta. Quando a porta abriu, alguém que estava ouvindo atrás da porta caiu aos seus pés. Era Duda.
- Filho! – ouviu os tios gritarem numa mesma voz atrás de si.
Nem se importou com o que aconteceria depois. Pulou Duda para poder sair da cozinha e saiu andando em direção às escadas. Ainda ouvia os gritos do primo e as tentativas de explicação de tio Válter e tia Petúnia. Subiu as escadas de dois em dois degraus. Não precisou abrir a porta de seu quarto, ela abriu sozinha.
Entrou e foi direto onde estava o seu malão. Edwiges piou confusa de sua gaiola. Abriu o malão com violência, tal era a raiva que estava sentindo. Foi até a escrivaninha e reuniu tudo o que era seu que estava ali. Penas, pergaminhos, tintas, deveres escolares, cartas... Juntou tudo e, de qualquer jeito, jogou-os no malão. Depois foi até a tábua solta do assoalho, levantou-a com força e recolheu todo seu material restante de magia que estava ali. Seus livros, seus antigos presentes de natal e aniversário, a Capa de Invisibilidade herdada de seu pai, o Mapa do Maroto, o álbum de retratos de seus pais... Pegou tudo e jogou-os no malão.
Ia pegar o que estava na mesa de cabeceira, mas parou antes de fazê-lo. Viu a foto de sua mãe e pegou o retrato lentamente. Olhou-o por alguns segundos e depois viu a foto sua e de Gina, que também estava na mesa. Recolheu-a e, com cuidado, depositou as duas fotos dentro do malão. Depois voltou até a mesa, colocou o relógio no pulso, abriu a gaveta, pegou a correntinha que pertencera à sua mãe e a varinha, e depositou as duas no bolso da calça.
Foi até o armário pegar as roupas. Pegou a primeira que viu: uma camisa velha, grande e rasgada que era do Duda. Olhou para aquilo com raiva e jogou-a no chão. Aquilo não era seu. E decidiu recolher o que realmente lhe pertencia ali: as vestes de Hogwarts, a sua veste a rigor para ocasiões especiais e a Firebolt, sua vassoura de corrida. Colocou as roupas no malão e fechou-o, levantando-o com a mão esquerda. Na direita, mantinha a Firebolt segura; foi até o lugar onde estava a gaiola de Edwiges e pegou-a com a mesma mão que segurava a vassoura. A coruja piou indignada pela violência com o que o dono a pegara, mas Harry falou:
- Dê adeus a esse lugar, Edwiges. Nós nunca voltaremos mais aqui.
E saiu do quarto sem ao menos olhar para trás.
Desceu as escadas pulando os degraus e, quando chegou à sala, ouviu uma discussão acalorada entre os três Dursleys na cozinha. Nem olhou para aquela direção. Assim que chegou na porta de saída, ela também se abriu como todas as outras. Atravessou a soleira da porta, deixando para trás tudo o que passara ali.
