Capítulo Dez – O primeiro jogo da temporada

- Harry... Acorda...

Uma voz sussurrou em seu ouvido, uma voz conhecida. Ao ouvi-la, sorriu automaticamente. Era como se aquele tom de voz o fizesse bem, mesmo sem ver a pessoa a quem pertencia. Mas já sabia quem era antes mesmo de abrir os olhos; quando fez isso, só teve a confirmação: Gina sorria para ele, ajoelhada ao lado de sua cama.

- Finalmente acordou, dorminhoco! – ela disse ainda sorrindo.

Foi só então que ele se deu conta e sentou-se rapidamente na cama ao perceber; tinha dormido desde aquela hora que subira para o dormitório! E pior: esquecera-se do encontro com Gina! E agora? Será que ela estava brava? A garota pareceu interpretar seus pensamentos, porque, antes mesmo que ele dissesse alguma coisa, ela o tranqüilizou:

- Não precisa fazer essa cara de assustado... Eu não fiquei brava porque você se esqueceu do nosso encontro.

Ele respirou aliviado e deitou novamente na cama, de lado, de forma que pudesse olhá-la direito. Só que Gina estava embaçada...

- Gina? – ele chamou, colocando uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.

- O que foi?

- Você tá embaçada...

Ela riu e pegou algo na mesa de cabeceira dele.

- Eu tirei os óculos do seu rosto... – ela disse, colocando-os nele. – Você devia estar tão cansado que dormiu sem ao menos tirá-los.

- Que horas são?

- Hum... Deixa eu ver... – ela se entortou toda para olhar o relógio despertador na mesa de cabeceira, para depois se voltar para ele. – Exatamente oito e quinze da noite!

- Tudo isso? – ele arregalou os olhos. – Quanto tempo eu dormi?

- Bem, eu não sei direito que horas você veio pra cá, mas tenho certeza que pelo menos umas duas horas você dormiu... Lembra que a gente tinha combinado de se encontrar às seis? – ele confirmou. – Foi um pouco depois disso que eu comecei a te procurar e, quando eu te achei, você já tava dormindo.

- Ah, é verdade... – ele falou, lembrando-se do que tinha acontecido antes de dormir. – Eu fiquei na cabana do Hagrid quase a tarde toda, acho que só saí de lá umas cinco horas... Não acredito que dormi tanto! E que ainda por cima esqueci de te encontrar!

- Tudo bem, agora já passou... – ela fez um gesto displicente. – Confesso que na hora eu fiquei um pouco chateada, mas depois que vi que você tava dormindo, nem me importei...

- Desculpa, Gi...

- Já falei que tudo bem. Te perdôo. Dessa vez! – ela o ameaçou.

- Não haverá próxima! Prometo!

- Olha que eu vou cobrar, hein?

- Pode cobrar! Mas... como você me achou?

Ela sorriu marotamente.

- Bem... Eu procurei por você, mas não te encontrei e... acabei encontrando o Rony e a Hermione no salão comunal...

- E...

- E eu perguntei para eles se sabiam de você.

- Mas eles não sabiam.

- Não! Só que o meu irmão disse que ia dar uma olhadinha aqui, para ver se te encontrava, e você tava aqui dormindo...

- E por que você não me acordou?

- Ah... Eu fiquei com pena, você parecia tão cansado... Eu e a Mione acabamos subindo para ver também. – ela explicou. – O Rony bem que queria te acordar, na verdade ele queria te dar um susto, mas eu e a Mione não deixamos.

- Mas você devia ter me acordado, você acabou ficando sozinha!

- Que nada! – ela fez novamente aquele gesto displicente. Harry não sabia o porquê, mas qualquer coisa que ela fizesse, ele gostava. – Eu, o Rony e a Mione ficamos lá no salão, eu aproveitei para fazer umas revanches com meu irmão no xadrez... só que ele ganhou tudo! – ela fez um bico. Harry sorriu ao ver isso. – Agora pouco eu subi de novo e resolvi te acordar, porque daqui a pouco vão servir o jantar... Por falar nisso, você comeu?

Harry começou a enrolar para responder. Sabia que ela iria ficar preocupada quando ele dissesse que não comera nada. Não deu outra:

- O quê? Você ficou o dia inteiro sem comer? Ah, mas isso não pode ficar assim! – ela começou a puxá-lo pelo braço, forçando-o a se levantar. – Você não pode passar o dia inteiro sem comer, Harry!

- Mas, Gina...

Vendo que só conseguiria fazê-lo sentar, ela desistiu de puxá-lo e sentou ao seu lado na cama.

- Você anda se esforçando muito nos treinos, Harry... Não é à toa que dormiu tanto! É cansaço! E ainda fica sem comer? Ah, assim não dá, Harry... Você vai acabar ficando doente!

Harry ia tentar argumentar, mas ela não deixou:

- Nem "mas", nem "meio mas", Harry Potter! Olha, você vai tomar um banho, colocar uma roupa limpa, e depois vai me encontrar lá no salão comunal para a gente ir junto jantar, tá? E você vai comer, sem essa de "não tô com fome"! Vai comer sim! Entendido?

O rapaz viu que não teria escolha, então brincou:

- Sim, mãe.

- Eu não sou sua mãe! – ela disse muito rápido. – Vai tomar banho!

- Ah... não fala assim comigo...

- Pára de ser chorão! – ela o empurrou da cama, e ele foi obrigado a levantar. Ela continuou sentada na cama, e ele olhando para ela.

- O que você tá olhando?

- Anh... – ele escolheu as palavras. – É que... sabe, Gina, eu vou ter que me trocar e tal...

A garota ficou mais vermelha que os cabelos e rapidamente se levantou.

- Me... desculpe... – gaguejou e saiu andando, quase correndo. Harry riu.

- Espera, eu tava brincando, Gina!

Ela já estava quase na porta quando ele se interpôs na frente dela, barrando-lhe a passagem. Ela o olhou muito envergonhada.

- Desculpe, Harry, pode ir tomar banho...

Ele riu e segurou-a pela cintura. Ela estremeceu. Ele abaixou o rosto até ela, falando bem no ouvido dela:

- Obrigado por cuidar de mim...

Ela se arrepiou toda e, sorrindo tímida, afastou-o carinhosamente.

- Eu faço isso porque... gosto de você...

Harry sentiu o coração bater mais forte ao ouvi-la dizer isso. Segurou o rosto dela entre as mãos, e beijou-a apaixonadamente. Ela estremeceu novamente, mas deixou-se levar. Quando eles se separaram, ele murmurou, ainda com o rosto muito próximo do dela:

- Eu nunca pensei que pudesse gostar tanto de alguém, Gi...

Ela não disse nada. Apenas olhou-o com uma expressão indecifrável.

- Você promete que sempre vai estar comigo, Gina? – ele insistiu.

Como resposta, ela o abraçou muito forte. Um abraço que só ela sabia dar. Ficaram um tempo assim, até que ela tomou a iniciativa de se separem, acariciou a face dele e foi embora.

Harry ainda ficou olhando a porta, um tempo depois da garota ter saído. Sentia-se tão bem, tudo era tão certo. Tudo estava tão perfeito naquele momento, que nada pôde tirar-lhe o sentimento mágico de seu coração. Nenhuma angústia, nenhum problema o afligia. Mal sabia que um grande problema angustiava Gina.

- Vocês têm que comer! – Harry insistiu.

Era um dia fresco; o sol aparecia, tímido, vez ou outra atrás das nuvens. O vento fustigava as árvores. A manhã anterior ao primeiro jogo de quadribol da temporada tinha chegado. E os jogadores novatos estavam com os nervos à flor da pele de ansiedade e nervosismo.

Para Harry, a noite anterior tinha sido tranqüilizadora. Depois de Gina tê-lo acordado, ele pôde colocar seus pensamentos em ordem. A dor de cabeça desaparecera por completo (precisava lembrar de agradecer ao Hagrid pelo remédio), o tempo que dormira durante a tarde o renovara, e a preocupação e cuidado que Gina lhe dirigira o animaram melhor do que qualquer outra coisa (no jantar ela empurrou dois pratos cheios de comida para ele).

Agora, Harry tentava fazer o mesmo com a namorada e, além dela, Colin e até mesmo Jonh, que era o mais difícil, já que Harry não gostava dele, e ele não gostava de Harry; mesmo depois da bronca que tinha lhe dado no dia anterior, o garoto ainda se mostrava bastante rebelde, talvez um pouco menos por causa do esporro, mas ainda assim, implicante. Harry decidiu não se importar, ao menos hoje; não dizia isso para ele, mas precisava do garoto no jogo; ele era o artilheiro que marcava mais gols e com ele contava, intimamente, que a Grifinória obtivesse uma grande vantagem.

Devido ao nervosismo pela partida, esses três não queriam comer. Peta e Dênis (que tinha se esforçado e acordado mais cedo) eram justamente o contrário: comiam como se fosse a última coisa que fariam na vida, pareciam estar competindo até. Mas talvez isso também fosse nervoso.

- Vamos, gente! – Harry pediu pela quarta ou quinta vez. – Vocês precisam comer, eu não quero ver ninguém indisposto na hora do jogo!

Rony, que apenas observava as tentativas de Harry para persuadir os três, resolveu interferir. Mas tanto Harry, quanto Hermione, repararam que o ruivo estava comendo menos do que o normal essa manhã. Harry sabia o porquê: o amigo sempre ficava muito ansioso em dias de jogo também.

- É melhor vocês seguirem o conselho do Harry... É melhor estar bem alimentado antes do jogo, todos nós vamos nos esforçar muito e não podemos estar de estômago vazio...

- Você diz isso porque não é você que vai jogar pela primeira vez, hoje, Rony! – Gina exclamou.

- E contra a Sonserina! – Colin completou.

- Mas a estréia do Rony também foi contra a Sonserina, não foi, Rony? – Hermione perguntou ao namorado.

- Isso! É verdade, a Mione tá certa! Eu estreei contra a Sonserina e comi antes do jogo! E não fiquei tão nervoso assim como vocês!

Hermione colocou a mão na boca para segurar o riso. Gina fez o mesmo. Harry não conseguiu reprimir seu riso, no entanto. Ele lembrava muito bem do dia da estréia de Rony no time; ele não estava apenas nervoso, estava apavorado!

- É, Rony, eu me lembro daquele dia! – Gina disse com sarcasmo. – Daquela vez uma colher voadora quase me acertou!

- E ele esparramou suco de abóbora na mesa toda! – Peta lembrou, interrompendo por um segundo sua fúria em comer.

- Também não foi bem assim... – Rony falou emburrado, cruzando os braços, com as orelhas vermelhas de vergonha.

- Ah, Rony... Foi assim mesmo... – Hermione o desmentiu, ainda rindo.

A partir daí, Rony não disse mais nada. Então, Harry retomou sua missão de fazer Gina, Colin e Jonh comerem.

- Gi... – ela o olhou com aquela cara de "não adianta me chamar assim". – Gina, come... Ontem você me obrigou a comer, e eu comi, não foi? Faz isso hoje... por mim...

- Você sabe o que é isso, Harry? Chantagem! – ela virou a cara. – Eu não vou olhar para essa sua cara de cachorro sem dono!

Isso foi o bastante para que Rony, Hermione e todo o resto do time rissem da cara dele. Harry emburrou a cara.

- Puxa, Gina, não precisa falar assim...

Ela virou-se para ele, com uma cara de pena. Suspirou e pegou uma maçã.

- Você venceu. Satisfeito?

- Satisfeitíssimo! – ele desfez a cara emburrada e se voltou para Colin. – Você nem tocou nas salsichas, Colin...

- Viu, agüenta que agora é a sua vez! – Gina disse ao amigo, mordendo a maçã.

Colin, a exemplo de Gina, suspirou e pegou uma maçã antes que Harry começasse a insistir. Jonh olhou para os dois e exclamou:

- O que há com vocês? Não têm fibra? Não conseguem resistir?

Harry lançou-lhe um olhar assassino. Ele fez pouco caso e teimou:

- Não vou comer, Potter, não adianta insistir!

Ao invés de fazer o que ele queria, ou seja, ficar pedindo para ele comer, Harry fez o contrário e disse, fazendo pouco caso também:

- Quem disse que eu ia insistir para você comer, Cavendish? Você faz o que quiser, tô pouco me importando...

Jonnathan, como todos os outros, ficaram boquiabertos e sem entender nada. Hermione, porém, fez uma expressão igual à quando se tem uma idéia genial e exclamou:

- Ei, eu sei o que é isso! Harry, você...

O rapaz rapidamente fez com que a amiga se calasse, quase sufocando-a com mão. Ela tirou a mão dele da boca dela e disse baixinho:

- Isso é "psicologia reversa", não é?

- Acertou de novo, Mione, mas se você contar para o Cavendish vai estragar tudo!

- Eu sei, eu sei! Mas não precisava me sufocar, né?

Cinco minutos depois disso, Jonnathan encheu o copo de suco de abóbora e fez um prato com ovos.

O jogo seria às dez horas. Quando deu nove e meia, Harry chamou o time para ir ao campo. Conseguiu fazer com que todos comessem e ficassem um pouco mais calmos, bem pouco, mas já era alguma coisa. Dênis estava tão trêmulo que Colin perguntou se ele estava passando mal, depois de comer tanto, mas só era nervoso mesmo.

Para a sorte de Harry, ninguém notou que ele mesmo não comera quase nada e que estava deveras impaciente e agitado. Sentia como se fosse seu primeiro jogo como capitão. Verdade que já estava no comando do time há um ano, mas era diferente. No ano anterior, era como se todos comandassem o time, já que os gêmeos e as meninas eram até mais experientes que ele e sabiam muito bem o que fazer. Esse ano era diferente; o time era todo novo e fora ele que fizera a seleção dos novatos. Treinara os jogadores utilizando suas próprias táticas e sabia que eles precisavam do comando dele, diferente dos veteranos do outro time, que já estavam tão acostumados a jogar que sabiam perfeitamente como agir. E, ainda mais pelo jogo ser contra a Sonserina, não podia mesmo fracassar; tinha que mostrar para todo mundo que seu time era bom e que tinha potencial. Um bolo se formou na sua garganta; será que era assim que Olívio se sentia quando comandava o time?

No vestiário, todos colocaram, em silêncio, os últimos artefatos necessários e pegaram suas vassouras. Sentaram-se nos bancos para ouvirem o que Harry tinha a falar. Todos olhavam ansiosos para o capitão, que andava de um lado para outro, não conseguindo mais esconder seu próprio nervosismo também. Ninguém disse nada. Geralmente Jonnathan soltava uma indireta bem sarcástica para Harry numa situação assim, pelo menos ele sempre fazia isso antes do capitão começar a falar, porém, dessa vez, ele ficou quieto; talvez também tivesse um bolo na garganta que o impedisse de falar, assim como com os outros. Peta fazia umas caretas que davam a impressão que ela vomitaria se abrisse a boca.

Harry, ainda andando de um lado para outro, estava tentando pensar no que diria para acalmá-los, de forma convincente, já que ele também estava longe de estar calmo. O bolo na garganta não deixava as palavras saírem. Depois de dois minutos que Harry ficou andando de um lado para outro, Peta gritou, quase arrancando os cabelos:

- Ah! Pára de fazer isso, Harry, você vai acabar enlouquecendo a gente!

O rapaz parou de andar, olhando para os jogadores. Um pouco envergonhado, disse:

- Me desculpem...

- É, tenho que concordar com a Peta; isso realmente irrita, Harry... – Rony disse.

- Você tá bem, Harry? – Gina perguntou preocupada.

- Tudo ótimo! – ele respondeu rápido.

- Não parece... – Jonnathan falou indiferente. – Você vai acabar abrindo um buraco no chão, Potter.

Todos sorriram ao ouvir isso. Harry olhou pela porta do vestiário para o campo e viu que os professores e alunos começavam a se acomodarem. Encostou na parede, como sempre fazia, e resolveu tentar falar tudo o que tinha planejado para os jogadores. Não seria fácil, mas eles pareciam esperar que ele dissesse alguma coisa. Realmente, dava a impressão de que eles precisavam que alguém lhes dissesse algumas palavras de encorajamento para que entrassem e fizessem o que tinham que fazer.

- Bem... – Harry respirou fundo. – Vamos jogar contra a Sonserina, e não vou enganar vocês dizendo que será fácil; pelo contrário, vai ser duro, eles têm vassouras melhores do que as nossas, e sabem jogar. Mas nos preparamos muito para isso, e tenho certeza de que vamos nos sair bem. Além disso, eles também têm jogadores novos, que estão estreando hoje, portanto, não pensem que são os únicos.

Encorajado por estarem escutando-o, Harry continuou:

- Quando vocês entrarem naquele campo, tenho certeza de que esquecerão esse nervosismo de agora. O antes de uma partida sempre é o pior do que a partida em si. Façam o que sabem: joguem quadribol e tudo sairá bem. Vocês treinaram muito! É, eu sei que fui duro com vocês durante todo esse tempo, mas todo o tempo que passaram aqui não foi em vão. – Harry olhou para Jonnathan, que devolveu com um olhar indiferente. – E ninguém vai cobrar de vocês coisas que não podem oferecer. Eu quero que joguem como sempre jogaram, vocês não precisam provar nada para ninguém. Vocês são bons, por isso foram escolhidos. Apenas sejam vocês mesmos.

"O que vocês precisam saber é que um jogo entre Grifinória e Sonserina nunca foi e nunca será um jogo limpo, e muito menos seguro. Não quero assustá-los, mas vocês sabem disso apenas assistindo aos jogos. Por isso, eu peço que sigam meu conselho: tomem cuidado, não só com balaços, mas com os jogadores, porque eles são violentos."

Harry, então, começou a dar as instruções específicas que tinha planejado:

- Colin, Dênis, vocês precisam ser os mais atentos; eu quero que vocês cuidem principalmente dos artilheiros, e também dêem cobertura para o Rony, sempre que for preciso.

- Mas e você, Harry? – Colin perguntou.

- Não quero que se preocupem comigo, eu estou acostumado e me viro sozinho.

- Mas você é o apanhador, Harry! – Gina protestou. – Você é um dos, se não é o mais perseguido pelos batedores adversários!

- Eu consigo me virar, esqueceram que a minha vassoura é bem mais rápida que a deles? Além disso, já estou acostumado com o jeito deles, eu consigo me desviar.

Gina cruzou os braços, ainda não concordando com ele. Harry não se importou e voltou a dar as instruções:

- Gina, Peta e Cavendish: vocês precisam tomar muito cuidado com as investidas deles. A Sonserina joga muito em cima de impedir o jogo adversário, isto é, eles vão tentar de todas as formas impedi-los de marcar. Para evitá-los, trabalhem os passes e sempre tentem achar a pessoa que esteja em melhor posição para lançarem a ela, para que essa pessoa marque.

Os três concordaram, e mesmo Jonnathan não discordou. Harry se voltou para Rony:

- Rony, você sabe como eles são. – o amigo acenou afirmativamente com a cabeça. – Então, tome cuidado: eles tentarão furar as balizas de qualquer maneira, não importa se você estiver nelas, ou se tiverem que te tirar de lá. Você me entende, né?

- Claro, eu sei como eles são trapaceiros, Harry, não precisa me lembrar isso...

- Certo. Então, acho que já disse que tinha pra dizer. – Harry respirou fundo novamente. Sentia como se uma pedra de gelo estivesse bem no fundo do seu estômago. Os outros também pareciam sentir a mesma coisa. – Como eu falei antes, sejam vocês mesmos e façam o que sabem fazer melhor.

Harry olhou novamente pela porta do vestiário e viu que todos já pareciam acomodados em seus lugares nas arquibancadas. O novo narrador dos jogos, Ernie Macmillan, da Lufa-lufa, já estava dando as primeiras informações do jogo para os espectadores. Harry, pela terceira vez, respirou fundo e se virou para os jogadores:

- Vamos, já está na hora.

Eles, então, entraram em campo. E nenhum deles parecia realmente confiante. "Tomara que isso passe quando estiverem no ar", Harry pensou, lembrando-se, vagamente, do seu primeiro jogo de quadribol. Sim, podia entender o que todos aqueles garotos atrás dele estavam sentindo... Mas isso passaria assim que sentissem o vento no rosto e a maravilhosa sensação de estar em campo.

Jonnathan parecia um sonâmbulo, andando para onde o levassem; Gina roía as unhas, um hábito que Harry não sabia que ela possuía até vê-la, naquele momento, fazendo isso. Peta abria e fechava a boca várias vezes; dava a impressão de estar falando sozinha. Colin parecia muito interessado em tirar uma sujeira imaginária da ponta de seu bastão; Dênis parecia um robô andando.

Rony também parecia bastante nervoso; talvez o clima estivesse influenciado-o, mas Harry sabia muito bem que Rony sempre ficava ansioso em uma partida. O amigo tinha uma grande vontade de ser importante, de ser reconhecido, e sabia que se desempenhasse um bom papel no quadribol, isso aconteceria. Para o seu nervosismo em partidas, contribuía o fato da maioria de seus irmãos terem jogado também e sido grandes jogadores.

Harry, por sua vez, ainda permanecia com o bloco de gelo no estômago. Sim, bloco, porque parecia ter aumentado de tamanho. Ter visto todos os professores presentes, incluindo a Profª. McGonagall, a Profª. Stevens (muito emburrada ao lado de Snape) e até mesmo Dumbledore não ajudou muito. Uma coisa que tinha a intenção de ajudar, mas aumentou o tamanho do bloco no seu estômago, foi ver uma grande faixa vermelha e dourada que Hagrid e mais outros colegas, como Hermione, Neville, Dino e Simas seguravam, dizendo: "Pra frente, leões. A copa é nossa!"

- E aí vem o time da Grifinória! – Ernie irradiou. – Liderados por Potter, com Weasley nas balizas, Cavendish, Spencer e Weasley como artilheiros e os irmãos Creevey de batedores!

Ao lado de Ernie, a Profª. McGonagall parecia (poderia ser apenas imaginação de Harry, mas que parecia, parecia) um pouco decepcionada por não mais ter um narrador que torcia para a Grifinória irradiando os jogos, como Lino Jordan fazia.

Foi nesse momento que o time da Sonserina entrou, todos caminhando de nariz empinado, trajando as tradicionais vestes verdes e prateadas. Harry observou melhor as caras novas do time, já que não teve oportunidade de, ao menos tentar, fazer isso antes. Draco Malfoy, durante os dois meses que antecederam o jogo, fez o maior mistério que pôde ao redor dos novos jogadores. Havia quatro novatos no time de Malfoy: dois artilheiros, que mais pareciam parentes de Crabbe e Goyle, de tão grandes, mas não eram os dois guarda-costas de Malfoy, já que eles eram muito estúpidos para jogarem quadribol; o goleiro, um menino meio franzina, mas que Harry desconfiou: geralmente os jogadores da Sonserina eram escolhidos pelo tamanho, porém, se esse menino foi escolhido, mesmo sendo pequeno, deveria ser muito talentoso; contudo, o que mais intrigou Harry foi uma novidade na Sonserina: o último novato era, na verdade, uma novata. Isso era muito diferente, já que o time da Sonserina tinha fama de não aceitar mulheres nele. Mas agora havia uma única garota entre os grandalhões do time, uma batedora, e ela se chamava...

- Katherine Willians! – Gina exclamou estupefata. – Eu não acredito que essa nojenta tá no time deles!

- Ah, mas isso já devia se prever... – Peta fez uma expressão desanimada. – Como eu não pensei nisso antes, como eu não descobri? Malfoy provavelmente a colocou no time só para conseguir ficar com ela!

- Como é que é? – Colin perguntou curioso.

- A escola toda comenta que Malfoy tá atrás dessa garota e não consegue nada! Com certeza ele só a colocou no time para impressioná-la... – Peta fez uma careta de nojo.

Harry, ao contrário dela, não estava preocupado com os problemas amorosos de Malfoy, ou com o quê que a escola comentava. Precisava era saber se a garota era boa na sua posição, mas isso só poderia saber na hora do jogo... Talvez... talvez Malfoy não a tivesse escolhido só porque estava a fim dela... Snape não permitiria isso, do jeito que ele queria ganhar da Grifinória...

Ernie apresentou o time da Sonserina, assim como fez com o da Grifinória, ou seja, sem favoritismos. A Profª. McGonagall, que deveria estar feliz com isso, parecia cada vez mais decepcionada. Talvez ela ralhasse muito com Lino, mas gostasse do jeito que ele irradiava as partidas, afinal.

Madame Hooch se aproximou do meio do campo, levando consigo a caixa que continha as quatro bolas do jogo, ainda fechada. Depositou-a no chão e fez sinal para que os jogadores, de ambos os times, se aproximassem. Assim que eles fizeram isso, ela disse com sua voz grave:

- Eu quero um jogo limpo! E sem violência!

Harry teve vontade de rir ao ouvir aquilo. Um jogo entre Grifinória versus Sonserina calmo e pacífico? Nem dali a duzentos anos... E pela cara dos jogadores sonserinos, que encaravam com ferocidade os grifinórios, os quais não deixavam por menos, devolvendo o olhar (pareciam estar menos nervosos agora), o pedido da Madame Hooch seria solenemente ignorado.

- Capitães! – a professora de vôo esbravejou. – Apertem-se as mãos!

Harry e Malfoy apertaram as mãos, cada um apertando mais a mão do outro, com a clara intenção de tentar quebrar os ossos do rival. Faíscas saíam dos olhos de ambos, e qualquer um que se interpusesse entre eles poderia sair chamuscado pelo fogo que cruzava ali. Malfoy sorriu, aquele sorriso frio e irônico que ele sempre usava, os olhos encarando Harry com desprezo. Por sua vez, Harry sentiu que estreitava os olhos, encarando Malfoy com superioridade. Quando iam soltar as mãos, Malfoy apertou mais a mão de Harry e disse, num sussurro, para que só o outro ouvisse:

- Dessa vez você não perde por esperar, Potter. Você vai perder e vai ser humilhado por mim, em frente a toda a escola.

- Isso é o que você sonha, Malfoy... – Harry respondeu, no mesmo tom venenoso que o outro usava. – Mas sonhos, na maioria das vezes, não são reais...

E puxou sua mão, forçando Malfoy a soltá-la. O sonserino o olhou por cima, seus olhos cintilando de ódio. Harry não desviou o olhar, e os dois ficaram apenas se encarando, com raiva, até o momento em que Madame Hooch mandou que todos se colocassem em suas posições.

Os jogadores, tanto da Grifinória, quanto da Sonserina, levantaram vôo, posicionando-se; os apanhadores mais à cima, enquanto que os demais faziam um círculo abaixo deles. Harry e Malfoy se encararam pela última vez no céu, antes que Madame Hooch soltasse as bolas: primeiro, os balaços, que passaram velozes pelos jogadores e se espalharam pelo campo; o pomo de ouro, diferente dos outros, esvoaçou ao redor de Harry e depois Malfoy e, em seguida, sumiu no céu cheio de nuvens. Madame Hooch segurou a goles e, depois de alguns segundos que pareceram durar a eternidade, lançou-a.

- E o jogo começa! – Ernie narrou animado. – A goles é apanhada pelo novo artilheiro grifinório, Cavendish, que dispara na direção das balizas adversárias! É interceptado pelo artilheiro adversário, Klint, mas... desvia! Como é rápido!

Harry estava, no momento, preocupado em observar o jogo, enquanto vigiava Malfoy pelo canto do olho, a uma distância segura; o nervosismo totalmente esquecido agora que estava no ar. O sonserino também se preocupava, pelo menos agora, em fazer o mesmo que Harry, apenas observar o jogo. Os dois sabiam muito bem que encontrar o pomo no começo do jogo era quase impossível e, além disso, não era vantagem nenhuma, pois o melhor era esperar obter-se alguma vantagem em pontos para acabar o jogo.

Jonnathan voava rapidamente, desviando de artilheiros que tentavam barrá-lo no caminho. Ele ainda carregava a goles, e Harry já estava ficando irritado. Sabia que o garoto não era muito de passar a bola, mas de tanto que se conversou sobre os passes, esperava que ele não continuasse a se achar tão auto-suficiente. Mas viu que estava enganado. Peta estava em uma ótima posição, sozinha, e mesmo assim ele não passou. Estava preferindo ir sozinho na direção do gol. Harry resolveu ir até lá, para mandá-lo passar a goles; deu um impulso brusco na Firebolt, mas quando chegou, tudo aconteceu tão rápido que não teve tempo de falar nada.

- Atrás de você, Jonh! – Gina gritou.

O garoto se virou e só teve tempo de abaixar, tentando não desequilibrar e cair da vassoura. Um balaço fora arremessado bem na direção da cabeça dele, e Jonnathan, para não cair, deixou a goles escapar de suas mãos, sendo apanhada por um dos artilheiros grandalhões adversários. A torcida da Grifinória urrou de desapontamento.

Harry olhou para cima, a fim de ver quem tinha atirado o balaço. Viu aquela garota, Willians, sorrindo vitoriosa. Então ela não estava ali só porque Malfoy estava a fim dela, afinal... ela interceptara Jonh na hora certa... O olhar de Harry cruzou com o dela. A garota estreitou os olhos, e o encarou com um ar superior, para depois girar o bastão e sair em disparada na direção contrária.

Os artilheiros sonserinos estavam com a posse da goles agora; devido ao tamanho, eles não eram muito rápidos, o que ajudou para que os artilheiros grifinórios os alcançassem. Mas não adiantou muita coisa, já que, o tamanho dos três não era nem comparado ao dos outros, para que pudessem interceptá-los. Gina e Peta eram as que mais tinham dificuldades, por serem meninas; mas nem por isso os sonserinos as respeitavam: eles não se importavam se tinham que passar por cima delas, e isso fez com que Peta quase levasse uma trombada do maior deles.

Colin rebateu um balaço na direção do jogador que quase atropelou Peta, e o grandalhão se desequilibrou um pouco. Jonnathan, aproveitando a oportunidade, teve uma grande presença de espírito e deu um esbarrão no sonserino, que deixou a goles cair. Gina disparou na direção da goles, para apanhá-la, e não viu que um outro artilheiro estava indo na mesma direção dela, impossível saber se para apanhar a goles ou tirar Gina da jogada. Harry não esperou para ver e também saiu em disparada na mesma direção.

Gina agarrou a goles, e virou a vassoura, para ir na direção do gol, e só então notou o sonserino que vinha na sua direção. Não havia tempo para escapar, e ele estava mesmo disposto a colidir com ela. Harry praticamente deitou na vassoura e, quando o artilheiro estava quase a um metro da garota, deu um encontrão forte nele, impedindo-o de colidir com Gina. Nesse instante, sentiu a dor do cotovelo do adversário bem na região dos seus rins, e uma dor excruciante o invadiu. O outro sentiu apenas o impacto, e se segurou na vassoura. Harry também teve que fazer o mesmo, mas para não cair por causa da dor.

- Pênalti! – Draco Malfoy protestou, aproximando-se do local.

- Você tá bem? – Gina perguntou, chegando mais perto de Harry, ainda segurando a goles. Ele fez um gesto afirmativo com a cabeça, a dor começando a melhorar um pouco.

Madame Hooch se aproximava do local, acompanhada dos outros jogadores. Alguns torcedores estavam de pé para verem melhor o incidente. Harry e Gina viram quando Malfoy se aproximou do artilheiro que Harry colidira e perguntou como ele estava; ao receber um monossilábico indicando que não tinha se machucado, Malfoy mandou:

- Então finja que se machucou! – o garoto, então, começou a segurar a barriga, fingindo ter sido atingido ali, o que era uma mentira deslavada, já que Harry colidiu com ele no braço.

- Isso é trapaça! – Gina gritou.

- Na guerra vale tudo! – Malfoy retrucou, com uma expressão sagaz, logo substituída por uma fingida revolta quando Madame Hooch se aproximou.

- O que aconteceu aqui? – ela perguntou, examinando o artilheiro sonserino, que "gemia" de dor.

- Potter colidiu com Taylor, professora! E sem bola! – Malfoy acusou, fazendo a maior cena. – Isso é pênalti!

Todos os outros jogadores, incluindo os goleiros, vieram ver o que estava acontecendo. Colin e Dênis seguravam os bastões na defensiva, no caso de precisarem usá-los.

- Professora, ele ia colidir com a Gina! – Harry protestou, ainda segurando com a mão direita a parte onde se localizavam os rins, sentindo a dor. – Ele ia massacrá-la se não fosse impedido!

O artilheiro grandalhão fingiu um grito de dor, ainda segurando a barriga.

- A senhora viu, professora? – Malfoy insistiu. – Potter feriu gravemente Taylor, e a senhora não vai fazer nada?

- O senhor tem razão, Sr. Malfoy. Pênalti para a Sonserina! – Madame Hooch apitou.

- Isso é injustiça, professora! – Gina reclamou indignada e apontou para o artilheiro adversário, que tinha parado de gritar de dor ao ouvir a decisão da juíza. – Ele nem foi atingido na barriga como finge! Ele não está sentindo nada, Malfoy é que o mandou fingir!

- Eu vi o incidente, Srta. Weasley! – a juíza respondeu com severidade. – E não insista, ou serei obrigada a lhe aplicar uma penalidade!

A professora saiu voando na direção das balizas da Grifinória. Os outros sonserinos a acompanharam, incluindo o artilheiro "machucado", que parecia ter se curado magicamente. Antes de ir embora, Malfoy ainda lançou um olhar vitorioso para Harry, provocando-o. Rony olhou para Harry e fez uma de suas caretas características: a de conformação; e depois voou para as balizas, a fim de esperar o pênalti ser cobrado. Jonnathan, com uma cara muito brava, veio na direção de Harry e Gina:

- Viu o que você fez, Potter?

Harry ia responder algo nada agradável, mas Gina o fez por si mesma, o que pareceu atingir mais Jonnathan do que qualquer resposta que Harry poderia ter dado:

- Se não fosse pelo Harry, Jonh, eu provavelmente já estaria na ala hospitalar! Portanto, vê se pára com essa implicância idiota!

O garoto não disse nada, mas a expressão dele mostrava claramente o quanto aquilo o magoou. Foi embora, se posicionando não muito distante das balizas, para pegar a goles depois do pênalti ser cobrado. Gina, depois de perguntar mais uma vez se Harry estava bem, foi se posicionar por lá também.

- E está mesmo confirmado! – Ernie irradiou. – Pênalti para a Sonserina! Parece que o próprio artilheiro atingido, Taylor, irá cobrar! Madame Hooch apita, Taylor lança e... marca! Ele abre o placar, dez a zero para a Sonserina!

Rony passou muito perto, mas não conseguiu defender. Peta pegou o rebote e voou rapidamente na direção das balizas contrárias. Depois de desviar do batedor, ela e Gina fizeram uma tabela rápida, e Gina lançou para Jonnathan, sozinho perto das balizas adversárias. Ele lançou a goles, mas o goleiro da Sonserina fez uma bela e difícil defesa. Jonnathan deu um soco no ar de raiva.

Não estava nada bom para a Grifinória. Harry pensava nisso preocupado, já se ocupando mais em procurar o pomo e sempre de olho em Malfoy. Passados mais quinze minutos de jogo, o placar ficou em trinta a dez para os sonserinos. Peta conseguiu marcar um belo gol para a Grifinória, mas em compensação a Sonserina marcou dois. E nos dois gols, Rony foi atrapalhado por balaços. Aquela batedora, Willians, estava se ocupando em perturbar Rony no gol. Em uma das vezes que passou perto de Dênis, Harry preveniu-o a tentar interceptar os balaços que a garota rebatia. Funcionou, porque a Sonserina deixou de marcar nos dez minutos seguintes. Enquanto isso, depois de uma tabela muito bem feita com Gina, Jonnathan conseguiu marcar o segundo gol da Grifinória. Foi então que Malfoy decidiu colocar Willians para atrapalhar os artilheiros, o que deixou Rony mais tranqüilo nas balizas.

Quando o goleiro da Sonserina – que, seguindo as previsões de Harry, parecia ter talento – defendeu um bom arremesso de Gina, Harry viu: o pomo esvoaçava próximo à baliza sonserina. Malfoy não tinha visto, estava do outro lado do campo, dando instruções ao batedor. Aproveitando a chance, Harry deu impulso na Firebolt e disparou na direção das balizas. Abaixou-se na vassoura para desviar de um balaço que roçou seus cabelos e fez a curva nas balizas. Agora o pomo esvoaçava, ligeiro, perto das arquibancadas ocupadas pelos professores. Harry continuou seguindo, os olhos presos na bolinha de ouro, utilizando-se de sua visão periférica para saber quando desviar de alguma coisa.

- Warrington passa para Klint, que desvia de um balaço lançado por Dênis Creevey, e se dirige para o gol da Grifinória... – Ernie narrou. – Mas... esperem! Parece que o apanhador da Grifinória viu alguma coisa! E é o pomo de ouro!

Isso chamou a atenção de Malfoy, que rapidamente acelerou sua Nimbus 2001 na direção de Harry. O rapaz não se importou e continuou na perseguição ao pomo, imprimindo maior velocidade à Firebolt. Percebeu vagamente que Malfoy estava a apenas alguns metros atrás dele, isso quando o pomo descrevia voltas em torno da baliza protegida por Rony. Harry, contando que Malfoy estivesse apenas atrás dele e não tivesse visto ainda o pomo, tentando desviar a atenção do apanhador sonserino, subiu aproximadamente quinze metros, ainda observando pelo canto do olho o pomo esvoaçar perto da arquibancada da Corvinal. Não deu outra: Malfoy fez exatamente o que Harry queria e subiu junto com ele; quando estavam bem alto, Harry rapidamente mergulhou quase verticalmente, focando o pomo e seguindo na direção dele. Malfoy percebeu tarde demais, e Harry teve a certeza de que ele estava muito longe ao olhar, de relance, para trás. Era só ele e o pomo agora, mas...

Um balaço veio do nada na direção dele. Concentrado como estava no pomo, não percebeu, e esse descuido lhe custou uma pancada bruta do balaço no meio do seu rosto, bem no nariz. Pôde escutar o barulho de vidro quebrado quando seus óculos se partiram, e alguns cacos caíram na sua bochecha, abrindo cortes superficiais. No mesmo instante, diminuiu a velocidade da Firebolt, e colocou a mão no rosto. Assim que tocou o nariz, soltou um grito de dor: ele estava quebrado. Quando tirou a mão do rosto e olhou-a, viu que ela estava manchada do sangue que escorria de seu nariz.

- Tem que ser mais esperto, Potter! – uma voz feminina debochou às suas costas. Quando Harry se virou, viu Katherine Willians levantar as sobrancelhas, obviamente zombando dele.

- Você rebateu o balaço no meu rosto de propósito! – ele acusou enfurecido, tentando limpar o sangue que escorria do seu nariz e entrava na sua boca, fazendo-o sentir o gosto amargo deste.

- Não há nenhuma regra que me proíba de fazer isso... – ela afirmou petulante. – Você é que deveria estar mais atento.

O pior era que ela estava certa. Nos dois sentidos. Ela não contrariou as regras, e ele estava mesmo desatento. Com certeza ela não estava no time porque Malfoy estava a fim dela... ela era competente. E muita fria. Gina e Hermione tinham razão, afinal. Essa garota era mesmo muito nojenta, não era à toa que Malfoy era seu primo.

Madame Hooch tinha paralisado o jogo e se aproximava. Harry rapidamente tratou de esfregar o rosto para tirar o sangue. Provavelmente tinha ficado um serviço muito porco, então ele permaneceu com a mão na frente da boca e do nariz, para esconder o sangue. Os jogadores se aproximavam também, incluindo os goleiros. Harry viu quando Malfoy chegou perto da prima e parabenizou-a pelo que fizera. Ela pareceu não se importar com o elogio, porque deu as costas e voou para o outro lado do campo. Gina fuzilou Willians com o olhar, antes da batedora ir embora.

- O senhor está bem, Sr. Potter? – Madame Hooch perguntou, tentando olhá-lo, o que ele não permitiu. Se ela visse que ele sangrava e pior, se ela percebesse que o seu nariz tinha quebrado, com certeza iria forçá-lo a ser atendido na beira do campo, o que daria a chance perfeita para Malfoy procurar sozinho pelo pomo de ouro.

- Tudo bem, professora. Só os meus óculos que quebraram... – ele respondeu, tirando os óculos do rosto e entregando-os a ela para que consertasse, já que ele não conseguiria ver através das lentes quebradas e não dispunha de varinha no momento.

- Oculos Reparo! – a juíza murmurou, batendo a varinha nas lentes. No mesmo instante, os óculos ficaram como novos, e ela os entregou a Harry, que teve o cuidado de colocá-los no rosto sem mostrar o ferimento no rosto. Ainda sentia o gosto amargo do sangue que escorria do nariz para a sua boca. – O senhor tem certeza de que está mesmo bem?

- Sim, professora, pode recomeçar o jogo.

Madame Hooch pediu a goles para Peta, que a segurava, e se dirigiu ao centro do campo, para dar o reinicio à partida. Gina olhou desconfiada para Harry antes de seguir para o centro do campo também. Harry escondeu o ferimento de Gina também; sabia que, se ela o visse, ficaria preocupada, e isso atrapalharia seu desempenho. Rony ainda lançou um olhar para o amigo mais desconfiado do que o de Gina antes de ir embora.

O jogo recomeçou em um ritmo mais frenético do que antes. Cada lance era uma batalha; estava se tornando cada vez mais violento. Colin quase levou um bastão no ouvido ao dividir um lance com o batedor sonserino. Jonnathan levou uma cotovelada tão forte na nuca por um dos artilheiros rivais, que teve que ficar dois minutos na beira do campo, para se recuperar da tontura.

A batedora sonserina voltou a rebater balaços em Rony, fazendo com que ele deixasse passar mais um gol, e o placar ficou em quarenta a vinte. A partir daí, Rony ficou tão furioso que começou a não mais se importar em desviar dos balaços para defender as balizas. Harry estava prevendo a hora que alguma coisa aconteceria com o amigo, por isso pediu a Dênis que prestasse bastante atenção nos balaços que iam na direção de Rony.

- Cavendish intercepta Taylor, que perde a goles para o grifinório! Ele passa para Spencer, que desvia de um balaço e lança para Weasley, em ótima posição. A artilheira arremessa a goles para a baliza sonserina e... fura o jovem goleiro! Quarenta a trinta!

Harry ficou um pouco mais aliviado ao ouvir isso. Tinham encostado no placar, e os artilheiros grifinórios pareciam ter se acostumado um pouco com o talentoso goleiro adversário, já conseguindo enganá-lo com mais eficiência do que no começo. No momento, o rapaz procurava pelo pomo. Estava preocupado, mesmo que estivessem melhor no placar, o jogo estava cada vez mais violento, e temia que alguma coisa mais grave acontecesse com seus jogadores. Colocou a mão no nariz; ainda doía, mas o sangue parecia ter estancado. Era difícil respirar, porque o sangue pisado dentro do nariz atrapalhava a passagem do ar.

- Por que você não vai cuidar desse nariz quebrado, Potter?

Era Malfoy. O sonserino emparelhou com Harry e provavelmente viera debochar do rapaz. Harry resolveu fazer o jogo dele.

- Não se preocupe, Malfoy. Eu consigo pegar o pomo antes de você mesmo nessas condições.

Malfoy riu.

- Tentando ser sarcástico, Potter? Você não consegue. Mas estou falando sério. Você não deve estar conseguindo respirar direito desse jeito. Vá se tratar enquanto eu pego o pomo pra você...

Foi a vez de Harry rir.

- É, eu estava certo. Então você mandou mesmo a sua prima rebater um balaço na minha cara só para eu ficar fora do jogo? Se enganou, Malfoy, eu não vou sair daqui enquanto não estiver com o pomo entre os dedos.

- Quem se enganou foi você, Potter. Eu não mandei Katherine rebater o balaço em você, ela rebateu porque quis. Ela não é como os outros, que são enganados pela sua imagem de "Potter perfeito"; ela sabe muito bem que você não é assim e por isso resolveu te mostrar do que é capaz.

- Aposto que você enumerou todos os meus defeitos em uma das milhares de vezes que deu em cima dela. – Harry provocou. – Mas parece que não deu muito certo, né? Toda escola comenta dos foras que ela te dá.

Malfoy arreganhou os dentes; Harry tinha atingido seu ponto fraco.

- Olha aqui, Potter. – ele colocou o dedo em riste para Harry. – Você não tem o direito de ficar comentando sobre minha vida pessoal por aí!

- Então vê se cala essa sua boca grande e pára de me encher a paciência! – Harry retrucou, acelerando a Firebolt e subindo alguns metros com ela, para tentar enxergar o pomo de cima. Pôde ver, lá embaixo, quando Jonnathan marcou o quarto gol da Grifinória, empatando o jogo.

- Você não tem nenhuma moral para me falar uma coisa dessas, Potter! – Malfoy alcançou-o novamente, e voltou a provocá-lo.

- É mesmo, Malfoy? Pois eu estou me lixando para o que você pensa ou deixa de pensar. – ele acelerou a vassoura, novamente, saindo de perto do rival.

- A escola toda comenta que a Weasley só está com você por interesse, você sabia? – Malfoy disse com veneno, atrás de Harry. O rapaz se voltou para olhá-lo. Os olhos cinzentos do sonserino brilharam de satisfação. Harry sabia que ele só estava tentando provocá-lo, mas alguma coisa dentro dele fez com que permanecesse ali, para ouvir.

- O que você disse, Malfoy?

- Exatamente o que você ouviu. Todo mundo fala que a Weasley só está com você porque quer popularidade, afinal, namorando Harry Potter, ela conseguiria isso de um jeito ou de outro.

- Isso é besteira... Você está inventando isso, e mesmo que a escola comentasse isso, é mentira.

- Você já parou para pensar, Potter... – ele destilou ainda mais seu veneno. - ...que nunca nenhuma garota vai estar com você por quem você é? E sabe por quê? Porque você não é real... Você é apenas um nome, uma lenda, Harry Potter... – ele finalizou, fazendo questão de frisar o nome inteiro de Harry.

O rapaz teve o ímpeto de voar até Malfoy e meter um soco bem no meio daquela cara convencida dele, e ia fazer isso, mas foi interrompido pelo grito de Ernie, ampliado magicamente:

- E o goleiro da Grifinória foi atingido em cheio por um balaço! Nossa, ele não parece muito bem... Klint aproveita para marcar e colocar o placar em cinqüenta a quarenta!

Harry se virou rapidamente e viu que Rony estava quase se desequilibrando da vassoura. Ele se segurava o estômago, parecendo que ia vomitar. Provavelmente tinha sido atingido ali. Imediatamente, Harry esqueceu que devia um soco a Malfoy, e saiu em disparada na direção das balizas defendidas pelo amigo.

- Rony, você está bem? – perguntou com urgência ao chegar perto do amigo, que olhou para Harry, ainda com a mão na boca e não se conteve. Vomitou ali mesmo.

Harry virou o rosto para não ver. Com os olhos, procurou Madame Hooch e fez um sinal para ela, pedindo tempo. Ela não viu, então ele gritou:

- Tempo! Eu quero tempo!

Ela não ouviu novamente, estava ocupada observando os jogadores. Harry se voltou para Rony e pediu para que ele descesse para a beira do campo. O amigo protestou, mas Harry o obrigou a fazer isso. Ainda com a mão na boca, Rony desceu, e Harry disparou para perto de onde estavam os outros. Gina e Peta tabelavam, e Madame Hooch estava por perto.

- O que há com vocês todos, eu pedi tempo! – gritou.

Madame Hooch finalmente percebeu e apitou, gritando para que todos descessem para um recesso de cinco minutos. Harry chamou seus jogadores, e todos eles se encaminharam para onde Rony tinha pousado antes. O goleiro estava ajoelhado, vomitando todo seu café da manhã na grama. Assim que pousou, Gina desmontou a vassoura e foi até o irmão, perguntando se ele estava bem e ajudando-o a se levantar. Muito pálido, ele levantou e olhou para os outros, parecendo estar muito envergonhado de ter vomitado na frente deles.

- Como você tá, Rony? – Peta perguntou.

- Melhor agora... – ele respondeu um pouco rouco, e depois limpou a garganta para voltar a falar. – Acho que foi tudo dessa última vez... – comentou, desanimado, apontando para o que tinha deixado na grama.

- É melhor você ser atendido, Rony... – Harry sugeriu. – Eu vou chamar a Madame Pomfrey, ela está aqui mesmo para uma emergência como essa. – e se virou para ir atrás da enfermeira, mas Rony o deteve, segurando-o pelo braço.

- Não, Harry, não precisa. Não posso deixar as balizas desprotegidas, nem por alguns minutos. A Sonserina iria avançar muito no placar.

- Rony, parece que você não entendeu! – Gina protestou. – Você não está bem, acha que vai conseguir proteger as balizas desse jeito?

Harry concordava com Gina, sabia que Rony não estava em condições. Uma pancada de um balaço não era qualquer coisa. Voltou-se para Dênis e perguntou, com severidade:

- E você, Dênis, onde estava na hora que o Rony precisou de você? Eu te disse para ficar de olho nos balaços que iam na direção dele! – o garoto abaixou os olhos, culpado. – Ah, eu sabia que aquela Willians tava a fim de te ferrar, Rony, ela não parava de rebater na sua direção! – Harry praguejou.

- Com licença, Potter, mas você não deve brigar com o Dênis por causa disso. – Jonnathan interveio. – Ele e Colin estavam me ajudando, rebatendo alguns balaços nos artilheiros sonserinos que me atrapalhavam.

- Isso porque você foi um fominha, e não me passou a goles, Jonh! – Peta acusou muito brava.

- Quantas vezes eu tenho que dizer para você passar a bola, Cavendish! – Harry explodiu. – Será que você não pode me escutar uma vezinha só?

- Eu faço o que eu quiser, Potter, e não é você que vai mandar em mim! – ele gritou exaltado. – E, você, Peta, é mesmo uma fofoqueira! Precisava falar isso?

- Você é que é um egoísta, Jonh! – ela apontou o dedo bem no meio dos olhos do garoto, com o rosto muito vermelho. Era estranho vê-la assim, porque a garota geralmente era a mais "cabeça fresca" do grupo. – Se você não fosse tão fominha, eu poderia ter marcado! Eu estava numa ótima posição!

- Você nunca ia conseguir furar a defesa daquele goleiro irritante da Sonserina! – o outro retrucou, parecendo se segurar para não dar uma bofetada na cara da menina.

- PAREM VOCÊS DOIS! – Harry gritou. Ao vê-los brigarem assim, sentiu-se um pouco culpado por ter começando tudo quando reprimiu Jonnathan.

O garoto e Peta pararam de desferir acusações entre si quando Harry gritou, mas ainda se encaravam com ferocidade, um muito perto do outro. Colin se interpôs entre eles, para impedir que se pegassem numa outra briga. Harry enfiou as mãos nos cabelos, nervoso, e olhou para Madame Hooch, longe. Ela já os chamava para recomeçarem o jogo. Precisava ser rápido e prático agora.

- Rony... – ele começou, olhando para o amigo. – Você tem certeza que consegue continuar?

- Se você consegue com esse nariz quebrado, Harry, eu vou conseguir. – ele replicou, e Harry deu um sobressalto. Então ele sabia? Pensou que não tivessem notado, mas... todos os outros jogadores tinham expressões de que concordavam com Rony. – Você só achou que a gente não ia perceber, né? – o amigo continuou, ao ver o atordoamento do amigo.

- Tudo bem. Vamos voltar. – Harry prosseguiu. – Rony, então você toma cuidado, tá? Não é para não deixar alguns gols entrarem que você vai se arriscar, entendeu? Você vai se desviar dos balaços quando for preciso, mesmo que isso custe que a goles entre. Fui claro?

Rony assentiu com a cabeça. Harry continuou.

- Dênis, você vai passar a rebater os balaços no nosso campo agora, mais perto de Rony. Colin, você vai cuidar dos artilheiros no campo adversário. – virou-se para Jonnathan, falando num tom que não admitia resposta: - Cavendish, por favor, passe a goles quando for necessário! Gina, Peta, isso continua valendo para vocês duas também. Eu vou tentar achar esse pomo de um jeito ou de outro e acabar com o jogo, tudo bem?

Todos eles assentiram. Voltaram, então, para onde estavam Madame Hooch e os jogadores da Sonserina, todos muito emburrados pela espera. A juíza ralhou com Harry pela demora e o puniu, não permitindo mais que pedisse tempo. Harry nem respondeu, de tão nervoso que estava. Olhou para Malfoy, que sorria petulante para ele. A prima dele estava ao seu lado, e Harry lançou um olhar assassino a ela, que lhe devolveu um de deboche. O rapaz não se importava que o acertasse de propósito, mas era muito diferente quando fazia isso com seus amigos. Estava começando a ter a mesma opinião que Gina, Hermione e mais um monte de garotas da Grifinória que conhecia tinham sobre a sonserina: ela era mesmo uma idiota nojenta.

Madame Hooch mandou que todos levantassem vôo e se posicionassem. Feito isso, ela lançou a goles, que foi apanhada por Gina, logo interceptada por um artilheiro sonserino. Harry desviou a atenção visual do jogo, somente ouvindo os comentários que Ernie irradiava. Precisava achar o pomo de qualquer jeito, tinha que acabar logo com esse jogo antes que mais alguém se machucasse. Pelo canto do olho, observava Malfoy, do outro lado do campo.

Rony realmente não tinha se recuperado, e deixou passar três gols. Jonnathan conseguiu marcar mais um, e o placar ficou crítico: oitenta para a Sonserina contra cinqüenta pela Grifinória. A cada segundo ficava mais necessário que Harry encontrasse o pomo, sabia que Rony estava dando o seu melhor, mas ele não estava bem, e a vantagem da Sonserina aumentaria. Mas aquela bolinha não estava em lugar nenhum!

Harry já estava começando a ficar impaciente, quando viu, do outro lado do campo, uma coisa que fez seus olhos se arregalarem e seu coração disparar de desespero: Malfoy disparou na direção de alguma coisa e, apertando os olhos, Harry divisou um brilho dourado. Era o pomo de ouro, e Malfoy o vira primeiro!

Como um relâmpago, Harry disparou na sua Firebolt. Ia muito inclinado na vassoura, tentando fazê-la ir mais rápido, mas sabendo que tinha atingido seu limite. Por mais rápida que fosse, a vassoura não ia mais rápido do que aquilo. Ele nem olhava por onde ia, à sua frente só via Malfoy perseguindo o pomo. Precisava chegar até ele, precisava!

- Vamos, anda, anda, anda! – mandou desesperado à vassoura, como se isso fosse adiantar alguma coisa.

- Os apanhadores estão atrás do pomo! – Ernie irradiou, eufórico. A Profª. McGonagall estava de pé, dando pulinhos no mesmo lugar de aflição. – E Malfoy, o apanhador sonserino, está bem mais perto do pomo que Potter, que vem em disparada atrás!

As torcidas, de todas as Casas, estavam de pé. Hagrid, Hermione, Simas e Dino deixaram a faixa de apoio cair. Até mesmo os professores levantaram de suas cadeiras quando os dois apanhadores passaram como relâmpagos próximos deles. Os jogadores tinham parado de jogar para verem o desfecho da disputa. Warrington, um dos artilheiros sonserinos, deixou a goles cair, boquiaberto.

- Anda, anda, por favor! – Harry pediu desesperado à sua Firebolt, o coração aos pulos pela mera hipótese de ser vencido pela primeira vez por Malfoy.

O sonserino estava muito próximo do pomo. Sorria de satisfação quando esticou o braço esquerdo, quase sentindo o metal entre os dedos, a ponta deles quase tocando o pomo...

Mas seu braço, assim como todo o seu corpo, foi desviado por um forte impacto do seu lado esquerdo, e ele gritou de dor. Harry conseguiu chegar a tempo e deu um encontrão forte em Malfoy, impedindo-o de agarrar o pomo de ouro, que esvoaçou mais à frente, se distanciando dos apanhadores.

- Potter, seu maldito! – ele esbravejou, seus olhos quase saltando das órbitas de tamanha raiva e frustração.

- Você já merecia isso há muito tempo, Malfoy! – Harry gritou também, lembrando-se com raiva do que o outro falara a respeito de Gina.

- Você vai sofrer por isso, Potter! – Malfoy bradou, dando uma cotovelada proposital bem no nariz quebrado de Harry, que gritou muito alto pela dor.

- Seu desgraçado! – e devolveu a cotovelada bem na barriga de Malfoy, fazendo-o perder o ar por alguns instantes. Estava cansado de ser bonzinho, ele merecia isso e muito mais há séculos!

Com raiva, os dois começaram a se esbarrar, focalizando, ainda, o pomo à frente deles. A bolinha esvoaçava ligeira, dando voltas e mais voltas, alheia à guerra dos apanhadores atrás dela. Ela começou a descer rapidamente, Harry e Malfoy a acompanhando, nunca deixando um de esbarrar com mais força no outro.

Os dois entraram em um mergulho quase vertical e em alta velocidade, acompanhando o pomo com os olhos. Estavam se aproximando cada vez mais do chão, e era coisa certa que colidiriam. Harry não viu outra alternativa a não ser a solução que se formou em sua mente. Sem parar para pensar, ele deu um esbarrão mais forte do que os outros em Malfoy, tirando-o da reta por um segundo e desequilibrando-o, e então executou o plano maluco que se formou na sua cabeça: pulou da Firebolt, o braço estendido na direção do pomo. Caiu no chão de cara, sentindo a dor do impacto, e rolando em seguida; mas isso não importava; sentiu o metal gelado entre seus dedos: tinha pego o pomo de ouro e vencido.

Malfoy, desequilibrado, caiu de sua vassoura também, e bem em cima de Harry, que sentiu quando o cotovelo do rival furou suas costelas. Malfoy rolou também, e parou na mesma posição que Harry, ou seja, de bruços sobre a grama. Os dois estavam um de cara para o outro. Harry não conseguiu se segurar e aproveitou a oportunidade: com um sorriso vitorioso no rosto, mostrou para o rival que o pomo estava entre seus dedos, balançando a bolinha bem na frente dos olhos de Malfoy. Ele mordeu o lábio inferior, suas pálpebras tremendo de raiva. Os olhos dele estreitaram-se e brilhavam de um jeito muito maligno. Ainda no chão, disse com rancor e veneno na voz:

- Você vai pagar por isso, Potter. Eu vou me vingar por toda a humilhação que você já me fez passar, hoje e todos esses anos. E o preço será muito caro, até mesmo para você. Eu vou rir do sofrimento que a minha vingança vai te causar. Você acha que é invencível, não é? Pois todos nós temos nosso dia de azar, e o seu está próximo. Eu vou me encarregar disso.

Draco Malfoy levantou, ainda com certa dificuldade. Antes que fosse embora, mas sem olhar para ele, Harry disse:

- Eu vou ficar esperando, Malfoy.

O outro não disse mais nada, e Harry ficou ouvindo o som dos os passos dele pisando a grama fofa.

- E Harry Potter apanhou o pomo de ouro em uma jogada espetacular! A Grifinória vence de virada: duzentos a oitenta!

Harry sorriu ao ouvir isso e se virou, ainda sentindo o corpo todo dolorido, ficando de costas na grama, de modo que podia ver os jogadores da Grifinória, com sorrisos estampados nos rostos, descendo para cumprimentá-lo e festejar. Tinham vencido. Ele tinha vencido. Não era apenas um nome, uma lenda... Ele ajudara aquele time de novatos a alcançar a vitória. Ouvia os gritos de satisfação da torcida da Grifinória, e até das da Corvinal e Lufa-lufa, que sempre torciam contra a Sonserina. Mas uma frase não saía de sua cabeça...

"Pois todos nós temos nosso dia de azar, e o seu está próximo. Eu vou me encarregar disso."

Maldito Malfoy.