N/A: Esse capítulo é dedicado à minha amiga maravilhosa, Lolo, que fez aniversário e merece um presente especial. Espero que o capítulo esteja à altura do que você merece, miga! Te adoro muitão! Beijos!
Capítulo Onze – De beijos, brigas e mágoas
A partida de quadribol entre Grifinória e Sonserina conseguiu aumentar, se isso era possível, a rivalidade e a rixa entre as Casas. Como conseqüência da vitória grifinória, os sonserinos estavam mais irritadiços, e as discussões entre alunos das duas Casas explodiam nos corredores. Rony e Hermione, assim como os outros monitores, estavam tendo muito trabalho em relação a isso, além de ainda estarem organizando o tal "evento misterioso". Em dada ocasião, na qual dois alunos do segundo ano, cada um de uma Casa, brigaram no saguão de entrada, a Profª. McGonagall foi obrigada a intervir e tirar cinqüenta pontos de cada aluno, além de aplicar-lhes penosas detenções. Isso acalmou os ânimos de grifinórios e sonserinos, que passaram apenas a se agredir verbalmente, como faziam sempre em qualquer época ou circunstância.
O próximo jogo da Grifinória seria contra a Lufa-lufa, e só no mês de março, bem depois das férias de inverno. Isso daria um grande espaço de tempo para que o time fosse treinado; por isso, Harry resolveu "dar um tempo" nos treinos, o que era muito favorável tanto para os jogadores que estavam em ano de N.O.M.s, quanto para os que não estavam, já que em meados de dezembro, os professores, em todos os anos, aplicariam alguns exames para avaliarem o desempenho dos alunos.
Ao mesmo tempo, a primeira visita do ano ao povoado de Hogsmeade estava se aproximando. Geralmente, alunos de sexto e sétimo ano não se interessavam muito pela visita, depois de tantas vezes que já tinham ido, mas esse ano era diferente; todos estavam muito curiosos para conhecer a nova loja de logros do povoado: "Gemialidades Weasley", a loja que Fred e Jorge abriram no verão. Burburinhos a respeito corriam pelo castelo, já que os donos eram os alunos mais arruaceiros dos últimos tempos de Hogwarts. Algumas vezes alguém perguntava sobre a loja para Rony, ou Gina, já que os dois eram irmãos dos donos. Rony ficava muito pomposo quando isso acontecia, mas Gina nem se importava e respondia tímida às perguntas dos colegas.
Depois daquelas ameaças no final da partida de quadribol, Draco Malfoy nunca mais dirigiu a palavra a Harry, nem para provocá-lo, como sempre fazia. Às vezes, ele ainda dizia alguma injúria para Rony ou Hermione, mas nunca mais para Harry, a quem dirigia apenas olhares rancorosos. Isso era muito estranho, e Harry já estava começando a ficar desconfiado. Chegava a imaginar que Malfoy fosse mesmo cumprir sua promessa, de se vingar, mas depois esquecia o assunto. Tinha coisas mais importantes a se preocupar do que Draco Malfoy. E uma dessas coisas era Sirius.
Desde aquela última carta, o padrinho não mandara mais nenhuma notícia. Harry estava ficando preocupado, afinal Sirius prometera na carta que viria a Hogwarts, e até o momento não se manifestara. Harry imaginava se o atraso dele não se devia ao trabalho misterioso que arranjara (e isso já tinha feito o rapaz perder muito tempo quebrando a cabeça para descobrir do que se trataria), mas afligia-lhe a possibilidade de ser outra coisa, ou seja, algo relacionado a Voldemort. O bruxo das trevas ainda continuava parado, o que inquietava ainda mais Harry; fazia-o alimentar o pressentimento de que alguma coisa muito ruim estava para acontecer.
No entanto, as suas perguntas foram respondidas num fim de tarde de uma quarta-feira, depois de um exaustivo questionário para nota de Transfiguração. A aula era a última do dia, e a Profª. McGonagall aplicou uma prova surpresa (o que todos reclamaram muito). Eram vinte questões dissertativas sobre transfiguração humana (uma matéria complicada e chata), e a única coisa boa era que, depois que o aluno terminasse sua prova, a professora o liberava da classe; a grande maioria deles saiu uns quinze minutos antes da aula terminar, mas Harry preferiu ficar e responder com calma todo o questionário. Estava empacado na questão quatorze; já tinha feito todas as outras, mas essa estava incomodando-o.
O rapaz encostou na cadeira e olhou o teto, para ver se a resposta caía do céu. É, respostas não caem do céu, e essa não contrariou a regra. Harry olhou o relógio: faltava cinco minutos para o tempo se esgotar. Correu os olhos pela classe e constatou que era o último a ficar na sala; quer dizer, o penúltimo, porque Hermione ainda estava concentrada na sua prova, mas isso não queria dizer nada, afinal a garota sempre ficava até o último minuto conferindo todas as questões pelo menos um milhão de vezes. Além disso, Hermione tinha o costume de ficar por último para tirar suas dúvidas a respeito da prova com o professor, e naquele dia não seria diferente.
Harry olhou novamente para sua prova, apoiando o queixo na mão direita, e tamborilando os dedos da mão esquerda na mesa. É, não iria lembrar a resposta daquela questão mesmo... Poderia enrolar... se bem que enrolação não funcionava com a McGonagall. Mas era melhor do que deixar em branco.
Ele, então, pegou sua pena, molhou-a na tinta e escreveu um monte de besteira com palavras difíceis. Talvez a professora considerasse alguma coisa... É, teria que rezar para ela considerasse algo com aquela resposta ridícula que escreveu, mas era melhor do que nada.
Depois de escrever sua resposta, Harry guardou o resto do material na mochila, colocou-a nas costas e levantou. Iria entregar aquela prova e ir embora, senão dali a pouco até a Hermione iria sair mais cedo do que ele! No caminho para a mesa da professora, olhou para a amiga, concentrada na prova. Ela percebeu que ele a olhava e levantou a cabeça, sorrindo para ele, e depois voltou-se novamente para a prova.
- Anh, professora? – ele chamou assim que chegou na mesa da mestra. Ela estava abaixada sobre algumas outras provas, corrigindo-as.
- Ah, Harry, é você? – ela levantou a cabeça. – Terminou?
- Sim. – ele respondeu entregando a prova para ela, que correu os olhos pelo papel. – Estava difícil.
- Não para quem estudou...
- Mas era prova surpresa!
- Por isso que é preciso estudar todos os dias, Harry!
O rapaz revirou os olhos. Não adiantava mesmo argumentar com um professor sobre esse assunto. Ele suspirou, despediu-se da professora e ia embora, quando ela falou, num tom de voz mais baixo do que antes:
- Espere, Harry, eu preciso falar com você. – ele se voltou intrigado para ela, que correu os olhos até Hermione, ainda fazendo a prova, e depois voltou-se para ele. – Será que você pode esperar lá fora, e depois eu o chamo para conversarmos?
- Claro, professora. Tudo bem. – ele respondeu, ainda sem entender o que ela queria, e saiu da classe, encostando na parede do lado da porta, a fim de esperar o chamado da professora. Depois de uns dez minutos, a porta da sala se abriu, e Hermione saiu da classe, dizendo:
- Muito obrigada, professora. A senhora me tirou um peso da consciência! Boa noite!
- Boa noite, Hermione. – a voz da professora ecoou de lá de dentro.
Hermione, com um sorriso de orelha a orelha, fechou a porta e fez uma cara de espanto ao ver Harry ali parado.
- Por que você ainda tá aqui?
- A McGonagall quer falar comigo. Pediu para esperar. E você, ficou para pedir para ela te falar a nota?
Hermione corou.
- Eu sou tão previsível assim?
- Não, é que eu te conheço há mais de cinco anos já. Só por isso. – ele respondeu displicente.
Ela riu.
- Tá, então é melhor você não deixar a professora esperando! – ela recomendou. – A gente se vê mais tarde.
- Até mais.
E enquanto ela ia embora, ele abria a porta.
- Licença, professora...
- Ah, eu já ia mesmo chamar você, Harry! – ela respondeu, mandando que entrasse. Ele encostou a porta, e depois se dirigiu até a frente da mesa dela. A professora parou de mexer nos seus papéis e olhou para ele. – Na verdade, não sou bem eu que quero falar com você, Harry... É outra pessoa...
- Como assim? – ele perguntou sem entender.
- Você ainda lembra a senha da sala de Dumbledore?
- Lembro, mas... – "será que tinha acontecido alguma coisa?", perguntou a si mesmo, sentindo uma inquietação súbita. – O diretor quer falar comigo?
A Profª. McGonagall logo o tranqüilizou.
- Não se preocupe, sei o que deve estar pensando, e não é nada disso. Tem uma pessoa lá esperando-o, só isso.
"Uma pessoa?", Harry pensou, já sorrindo ao imaginar quem era.
- Sirius?
A professora sorriu.
- Por que você não vai lá e descobre por si mesmo?
- Claro, obrigado, professora!
Ela assentiu com a cabeça, e ele saiu em disparada pela porta. Mal podia crer, será que Sirius viera mesmo? Estava esperando isso há muito tempo, por preocupação com o padrinho e também pelo monte de coisas que queria conversar com ele. Foi quase correndo pelo castelo e chegou mais rápido do que o previsto em frente ao gárgula de pedra que guardava a passagem para a sala do diretor. Parou derrapando no lugar, e sua mochila quase caiu de suas costas. Com urgência, disse:
- Pudim de leite!
O gárgula girou e revelou a passagem. Harry entrou quase correndo e tratou de subir, de dois em dois degraus, a escada circular. Mas parou de correr, e sua excitação acalmou um pouco quando ouviu vozes alteradas vindas de lá de dentro:
- Mas o senhor precisa entender que... – reconheceu a voz de Sirius.
- Você é que não está entendendo, Sirius! – a voz de Dumbledore respondeu. Harry sabia que era muita falta de educação ficar escutando atrás das portas, mas a sua curiosidade foi mais forte.
- Dumbledore... O senhor tem que acreditar em mim, se continuar com isso...
- Eu não vou voltar atrás, Sirius! Não agora! Em nenhuma das duas decisões!
- Pois eu não sou o único a ter essa opinião... Tenho certeza de que Snape também tem, é a única coisa com que concordamos na vida...
- Severo nunca me apresentou uma única queixa sobre isso.
- Mas eu sei que ele não a queria aqui desde o começo... – uma outra voz comentou.
- Snape nunca disse nada porque é um covarde! – a voz de Sirius voltou a falar. – Ou talvez eu esteja enganado, e ele esteja compactuando com...
- JÁ CHEGA, SIRIUS! – Dumbledore se exaltou, e a sala entrou em um silêncio profundo depois disso.
Harry parou para pensar se deveria mesmo bater na porta depois dessa. O clima deveria estar bem pesado lá dentro, porque não ouvia mais nada. Não seria nada bom entrar naquele momento, com certeza pensariam que ele estava ali ouvindo tudo. A verdade é que ele estava, mas não queria que descobrissem. Esperou algum tempo até ouvir novamente a voz de Dumbledore, só que bem mais ponderada agora. Isso fez com que se enchesse de coragem para bater na porta.
Dumbledore parou imediatamente de falar, e Harry o ouviu murmurar alguma coisa para que atendessem a porta. O som de passos pôde ser ouvido, e a porta se abriu. Harry surpreendeu-se ao ver quem era; não esperava que ele estivesse ali também.
- Remo?
Remo Lupin sorriu daquele seu jeito compreensivo para ele. Estava com os olhos caídos, pálido e com a aparência cansada. Harry se lembrou que a lua cheia tinha acabado apenas alguns dias antes.
- Você está aí há muito tempo, Harry? – ele perguntou, e Harry quase deu um sobressalto.
- Cheguei agora. – mentiu.
- Mande-o entrar, Remo. – Dumbledore disse lá de dentro.
Remo deu passagem, e Harry entrou. A sala do diretor continuava a mesma. Fawkes ainda estava em seu poleiro, mas parecia prestes a morrer, pois suas penas estavam bastante cinzentas, e ela não tinha uma aparência nada boa; algumas penas caíam de sua cauda. Enquanto Remo encostava a porta, Harry viu Dumbledore sentado atrás de sua mesa, com a aparência mais cansada do que a de Remo, e aparentando ter realmente a idade que diziam ter. Sirius estava sentado em uma cadeira à frente da mesa, com os braços cruzados e a cara emburrada, que foi desfeita quando viu Harry.
- Vejo que Minerva o avisou como eu pedi. – Dumbledore falou.
- É sim, ela me avisou assim que eu terminei minha prova.
- Hum, você teve prova? – Remo fez uma careta quando passou perto de Harry. – Que chato para você...
- Coloca chato nisso... – Sirius comentou sarcástico, ainda de braços cruzados. Dumbledore olhou para ele, como um pai olha para um filho desobediente, e levantou-se:
- Creio que vocês dois tenham muito para conversar. Eu peço licença, porque tenho algumas coisas importantes para resolver. Remo, você pode me ajudar?
- Claro, Dumbledore.
Dessa forma, os dois se retirarem juntos para a sala ao lado, a Sala dos Quatro Grandes, que Harry conhecera no ano anterior. Assim que eles saíram, Sirius relaxou e soltou os braços, comentando chateado:
- Que droga, Dumbledore é muito persistente! Depois eu é que sou o teimoso!
Harry se sentou na cadeira disposta ao lado do padrinho, de modo que ficou de frente para ele. Sabia que ele estava se referindo à discussão que tivera com Dumbledore antes, mas não tinha a mínima idéia do que dizer a ele. Resolveu brincar com o padrinho:
- Mas você é mesmo um teimoso, Sirius...
- Ah, você também? – ele choramingou. Harry riu. – Esquece isso... – Sirius sorriu. – Eu não te chamei aqui para falar sobre teimosia, porque se fôssemos falar sobre isso, você estaria no topo da lista de teimosos, Harry.
O rapaz fez uma careta.
- Também não é assim...
Sirius abriu mais o sorriso e fez uma cara descrente. Depois bagunçou o cabelo do afilhado e falou:
- Eu disse que viria e vim, não é?
- Você demorou! Eu já tava ficando preocupado...
- Eu estive meio atrapalhado com o meu trabalho...
- Sei... O "trabalho misterioso". Adianta eu perguntar o que é?
- Não.
- Sabia...
- É sério, Harry... Olha, eu queria mesmo te contar, mas não posso. Faz parte das regras. Pouquíssimas pessoas sabem o que eu faço, não é nada com você.
- Tá bom...
- Mas eu tô falando sério!
Harry deu de ombros.
- Mas o que você queria tanto conversar comigo, Sirius?
O padrinho suspirou cansado e desanimado.
- Na verdade, eu estava adiando isso... É tão desagradável!
- Ah, já sei então o que é... – Harry falou, lembrando-se da insistência de Sirius em um assunto. – Você vai insistir de novo naquela história de "ficar longe da Profª. Stevens", não é?
Sirius fechou a cara novamente.
- Na verdade não era sobre isso, mas já que você tocou no assunto, você tem me obedecido? Pelo menos uma vez na vida?
- Sirius, como é que você quer que eu me afaste dela? – Harry perguntou indignado. – Ela é minha professora, você quer que eu bole aula?
- Não, Harry, mas... – ele bufou. – Ela não tem falado com você, se dirigido a você? Não digo em aula, mas fora dela?
Harry se lembrou daquele dia, que ela fez insinuações sobre a morte de seus pais na frente da classe. Mas era melhor não contar isso; se falasse despertaria toda a raiva de Sirius por aquela mulher, e ele lhe daria um sermão de meia hora sobre ficar afastado dela.
- Não, Sirius.
O padrinho suspirou aliviado.
- Que bom... Então continue assim, Harry. Ela é sua professora, só isso.
Harry pensou em comentar com ele sobre o que descobrira a respeito dos dois, por Hagrid, mas achou indiscreto. Se um dia Sirius quisesse contar isso para ele, o faria.
- Se não era sobre isso, o que era então, Sirius?
- Voldemort.
- Ah, claro! Mesmo quando ele tá parado, ainda me atormenta a vida! – Harry explodiu.
- É, eu sei, e não é só a sua, Harry, acredite. Dumbledore me contou que você não tem mais aqueles sonhos com ele.
- E eu não sei se isso é bom ou ruim.
- Somos dois, então. – Sirius suspirou cansado. – Isso está tirando o sono de muita gente, Harry... Não dá para saber o que ele quer! É como andar no escuro, não temos a mínima idéia do que ele vai fazer... Mas eu tenho a impressão de que será algo grande, muito grande, algo catastrófico... Como ele fazia naqueles tempos...
Harry não disse nada. Cada vez mais o peso dos acontecimentos caía sobre ele. Aquilo era sério... Era nessas horas que queria ter mais um daqueles sonhos... Não importava se fosse ruim ou se sua cicatriz doesse. Seria melhor do que ficar naquela ansiedade.
Sirius percebeu a expressão de Harry e disse, colocando a mão no ombro dele:
- Eu queria tanto que você fosse um adolescente normal, Harry... – o rapaz olhou para o padrinho, que tinha uma expressão carregada de pesar. – As suas preocupações deveriam ser somente as provas no fim do semestre e não isso.
Harry recostou na cadeira.
- Eu já me acostumei...
- Ninguém se acostuma com uma coisa dessas...
- E eu tenho escolha?
Sirius tirou a mão do ombro do afilhado e, a exemplo dele, recostou na cadeira, olhando para a parede como se não a visse.
- Eu tenho medo do que você ainda vai ter que passar na sua vida, Harry... Tenho medo do futuro...
Harry não disse nada, apenas abaixou os olhos. Não tinha medo do que pudesse acontecer com ele mesmo, mas sim com o que pudesse acontecer com os outros à sua volta. Talvez fosse isso o que Sirius sentia também. Olhou para o padrinho: ele tinha os olhos vidrados no nada, uma expressão de tristeza no rosto. Subitamente, abaixou a cabeça, levantando-a depois e olhando para Harry com uma expressão totalmente diferente; como se quisesse esquecer aquilo que dissera e ocupar a cabeça com outra coisa, mesmo que não o fizesse esquecer de verdade.
- E você? Não vai me contar as novidades? – Harry franziu as sobrancelhas. Sirius sorriu. – Eu quero saber em detalhes a sua vitória no quadribol sobre a Sonserina!
Harry riu, e começou a contar tudo para o padrinho. Quase esqueceu as suas preocupações. Narrou em detalhes tudo o que acontecera na partida e, depois disso, ele e Sirius começaram a conversar muito sobre o que estava acontecendo na vida de cada um, tentando não entrar no assunto Voldemort. Sirius contou que ele e Remo estavam providenciando um novo julgamento para Bicuço, para que ele também conseguisse a liberdade; Harry fez uma nota mental de contar isso a Hagrid.
- E como vai o namoro, Harry? – Sirius perguntou em certo ponto da conversa.
Instantaneamente o rapaz sorriu.
- Ah... tudo bem... Você sabe...
- Não, eu não sei... – Sirius disse com um sorriso maroto.
- E o que você quer saber?
- Ah... Como vocês estão... Se estão ainda só nos beijos ou... – ele fez uma expressão bastante significativa. Harry arregalou os olhos ao entender aonde ele queria chegar.
- Sirius! Eu ainda não posso fazer isso com a Gina! O Rony me mataria!
- Ah, é mesmo... – Sirius disse em tom desanimado. – Eu esqueci que ela tem seis irmãos que te linchariam se você tentasse alguma coisa... Seis raivosos Weasleys...
- Além do mais... – Harry começou, pensando no assunto. – A Gina é tão... delicada... Eu tenho medo de assustá-la se apressar as coisas, entende?
- O que eu entendo, Harry, é que ouvindo você falar desse jeito dá para perceber que você está apaixonado.
- Apaixonado?
- Sim.
- Você acha?
- Eu tenho certeza. – Sirius riu. – Sabe, seu pai também veio com essa história...
- Como assim? – Harry perguntou, já se animando na possibilidade de saber algo mais sobre seu pai.
- Ah, ele veio dizendo a mesma coisa quando eu fiz a mesma pergunta para ele. Porque a Lílian é muito meiga, delicada, blá, blá, blá... Eu dizia que ele era um lento, isso sim.
- Bom saber que você me acha um lento! – Harry falou indignado. Sirius riu novamente.
- Eu na sua idade... – o padrinho começou a falar, mas logo parou, como se lembrasse de algo. – Ah, deixa pra lá... O que importa é que você está apaixonado... O filho de Tiago Potter apaixonado... E ela?
Harry parou para pensar um instante. Apaixonada? Gina estaria apaixonada por ele? Se já era estranho pensar que ele, Harry, estava apaixonado... Gina... bem, às vezes ela parecia, mas outras... Ah, não tinha como saber, simplesmente não conseguia entendê-la. Olhou para Sirius: ele continuava a olhá-lo com uma expressão interrogativa. No momento em que Harry ia finalmente dizer algo, a porta da sala se abriu.
Harry e Sirius olharam para a porta e, no mesmo instante em que viu a pessoa que estava entrando, Sirius se levantou com ímpeto e fúria estampada no rosto. Harry entendeu muito bem o porquê disso; parada à porta, com uma expressão idêntica à de Sirius no rosto e no olhar, estava Samantha Stevens.
Sem tirar os olhos de Sirius, ela fechou a porta às suas costas, a expressão de fúria passando lentamente à de diversão, e um sorriso irônico se formando em seu rosto. Trajava, como sempre, um de seus provocantes vestidos negros. Correu rapidamente o olhar pela sala e constatou que Harry também estava lá; sorriu para ele, e o rapaz sentiu um arrepio na espinha. Depois ela voltou seu olhar para Sirius, que ainda permanecia de pé, os punhos cerrados e os olhos estreitos. Com um riso sarcástico, a Profª. Stevens disse:
- Ora, ora... Mas quem eu vejo? Sirius Black?
- O que você está fazendo aqui, Samantha? – ele perguntou quase num rosnado.
Ela sorriu irônica.
- Caso ninguém tenha te informado, eu sou professora daqui. Além do mais, eu é que deveria te perguntar isso, Sirius, mas... – ela olhou para Harry. - ...imagino para o que você veio. Olá, Harry. – ela cumprimentou com um sorriso.
- Anh... Oi, professora. – o rapaz cumprimentou sem jeito. Sirius fuzilou o afilhado com o olhar, e Harry respondeu com um olhar que dizia "E você queria que eu fizesse o quê?".
- Bem... – a professora começou a se aproximar, seus saltos fazendo o ruído característico a que Harry já estava se acostumando. Fawkes, em seu poleiro, remexia-se incomodada. A Profª. Stevens parou próxima a Sirius, e Harry viu que os punhos dele tremeram ligeiramente. – Se quer mesmo saber, Sirius... Eu vim aqui falar com o diretor sobre um assunto que duvido muito que você não saiba qual é.
- Ele me contou o despropósito.
- Despropósito? – ela fez tom de deboche. – Você acha mesmo? Pois, que eu saiba, também foi um despropósito Dumbledore iniciar um membro na ordem que, pelo menos aparentemente, era um condenado fugitivo de Azkaban... Coincidência, não acha?
Sirius parecia estar se segurando para não bater nela. Ele olhou rapidamente para Harry, e depois para a mulher à sua frente.
- Por que você não cala essa sua boca, Samantha?
- Ah, eu esqueci... Desculpe-me... – ela disse com sarcasmo. – Eu esqueci que não se pode falar absolutamente nada na frente do Harry aqui... – ela se virou para o rapaz. – Eu sinto muito mesmo, Harry, será que dava para você apagar da sua memória o que ouviu aqui?
Sirius chegou a dar um passo à frente, mas se conteve antes de levantar a mão. Harry ficou apenas observando tudo boquiaberto; quase queria saber no quê daria aquilo. Por um lado, não pôde deixar de concordar intimamente com a mulher: ninguém realmente dizia nada para ele. Não era nenhuma mentira, e ele odiava isso.
Respirando muito fundo para tentar se acalmar, Sirius se virou para o afilhado e pediu:
- Harry, será que a gente pode conversar uma outra hora, em um outro lugar? Longe de certas pessoas...
A Profª. Stevens soltou uma gargalhada alta e estridente. Por um segundo, Harry lembrou-se daquelas bruxas más dos contos infantis ao vê-la gargalhar daquela maneira; a diferença era que as bruxas de contos de fadas eram feias, velhas e tinham o nariz pontiagudo com uma berruga bem na ponta dele, exatamente o oposto de Samantha Stevens. Ainda com o sorriso no rosto, ela disse para Sirius:
- Você é patético falando desse jeito, sabia? Nem parece o Sirius Black que eu conheci...
- A diferença entre mim e aquele Sirius é que hoje eu sei muito bem quem você é, coisa que o antigo Sirius não sabia. – ele disse com os olhos brilhando de raiva.
Ela apenas sorriu e girou nos calcanhares, seus cabelos negros e ondulados acompanhando o movimento com uma certa sensualidade. Com as mãos entrelaçadas nas costas, ela caminhou até o poleiro de Fawkes, que se agitou ainda mais e emitiu alguns pios fracos.
Por alguns minutos, os três ficaram em silêncio. Harry sentia como se estivesse sentado sobre um formigueiro; queria ir embora, aquilo estava se transformando em uma discussão pessoal entre Sirius e Samantha, e ele não queria permanecer ali: sentia que estava sobrando. Levantou e tentou ir embora, mas Sirius o deteve. O padrinho tinha a expressão carregada, e observava a mulher do outro lado da sala, como que esperando o que ela iria fazer. Harry permaneceu na sala, mas estava se sentindo cada vez mais desconfortável. O silêncio foi interrompido quando a Profª. Stevens disse com uma voz mais baixa e rouca que o normal:
- Eu sou a pessoa que sempre fui. E sempre serei.
Fawkes pegou fogo e se transformou em uma bola vermelha e brilhante. Depois de um grito alto, transformou-se em cinzas fumegantes. Tinha morrido para renascer das cinzas mais tarde.
Depois disso, a Profª. Stevens se virou, olhando diretamente para Sirius. Não possuía mais aquele brilho de sarcasmo no olhar; era quase... dor, talvez decepção. Mas tão rápido como apareceu, esse brilho sumiu, e foi substituído pelo antigo olhar que Harry tanto desgostava de encarar. Com um sorriso enviesado, ela disse:
- Esse assunto está acabado. E mesmo que não estivesse, não seria nem aqui e nem agora que seria resolvido. – seu olhar correu rapidamente para Harry, e ela sorriu, para depois voltar-se novamente a Sirius. – E sobre o outro assunto: nem você, nem ninguém vai poder esconder para sempre tudo o que ele tem que saber. Ele vai descobrir. Por si mesmo, ou por um outro alguém. – ela se voltou definitivamente para Harry e dirigiu-se a ele dessa vez: - Não espere que lhe digam as coisas, Harry. Não tente descobri-las assim. Se fizer isso nunca saberá todas as verdades que devem ser ditas. Descubra por si mesmo. Só assim você saberá.
Boquiaberto, Harry se virou para o padrinho, que deu um passo à frente, pronto para descarregar toda sua raiva naquela mulher, mas não o fez, pois a porta da Sala dos Quatro Grandes se abriu, e por ela saíram Remo e Dumbledore.
Ao ver a Profª. Stevens de um lado da sala e do outro Sirius, este com uma expressão assassina no rosto, Dumbledore claramente entendeu o que estava se passando. Sem mostrar ter se alterado minimamente em seu humor, ele comentou:
- Ainda bem que não quebraram nada da minha sala.
Remo olhou preocupado para Sirius, que virou o rosto e falou com uma raiva contida:
- Eu peço licença para me retirar, Dumbledore. O ar está meio pesado aqui desde o momento em que essa mulher entrou.
A Profª. Stevens deu um sorrisinho de deboche. Dumbledore suspirou cansado.
- Tudo bem, Sirius, pode ir. Nós conversaremos mais tarde. Imagino que queira conversar mais com Harry, por isso você pode dar uma volta pelo castelo com ele. Não há problema algum, já que você é um homem livre agora.
Sirius assentiu com a cabeça e, antes de sair, ainda perguntou:
- Você vem conosco, Remo?
- Acho que não, Sirius... – ele respondeu. – Eu...
- Temos coisas a conversar ainda. – Dumbledore respondeu pelo ex-professor.
Novamente, Sirius assentiu e fez um sinal para que Harry o acompanhasse. Antes de seguir o padrinho pela porta, o rapaz acenou com a cabeça em despedida para os outros e ainda viu quando Fawkes, minúscula, botava a cabecinha amarrotada para fora das cinzas.
Depois de fechar a porta atrás de si, Harry acelerou o passo para alcançar Sirius, que já estava quase no fim do lance de degraus da escada circular. Ele caminhava com o passo pesado e as mãos nos bolsos, o olhar focado para frente e a cara mais emburrada do que nunca.
Quando saíram pela passagem do gárgula e começaram a andar pelos corredores vazios do castelo, Harry pensou em dizer alguma coisa, algo sobre o que tinha acontecido. Lembrou-se de tudo que Hagrid lhe contara sobre Sirius e a professora, mas tirou isso da cabeça. Não seria bom falar disso agora, por mais que quisesse. Então veio-lhe à mente o que ela disse no final, sobre o que ele ainda não sabia e que todos não queriam lhe contar. Sim, ele sempre teve certeza de que havia muita coisa sobre ele que as pessoas, principalmente Dumbledore, não queriam lhe contar, mas o que ela sabia a respeito? Ele não conhecia essa mulher nem há seis meses, o que será que ela sabia sobre ele? Sirius quebrou seus pensamentos quando cortou o silêncio:
- Esqueça tudo o que aquela mulher disse.
- O quê, por exemplo? Sobre tudo que eu não sei? Coisas que você provavelmente deve saber e não me conta...
Sirius parou de andar e olhou severamente para o afilhado.
- Se há coisas que você não sabe, Harry, é porque não está preparado para sabê-las. Ainda não chegou a hora de descobri-las.
- E quando vai ser a hora, Sirius? – Harry quase gritou de raiva. Estava cheio daquilo, cheio de todos lhe esconderem o que ele queria saber. Estava farto de sempre lhe dizerem as coisas com meias palavras. Estava cansado de ter que esperar que lhe dissessem as coisas, ou então correr atrás para descobrir por si mesmo tudo o que deveria saber. – Afinal de contas, quando vai chegar essa hora? Um dia é porque eu não tenho idade suficiente, no outro é porque não estou preparado... Quando eu vou saber?
Com um olhar quase condescendente, Sirius apoiou ambas as mãos nos ombros de Harry.
- Às vezes, Harry, é melhor a gente não saber a verdade. Ela dói. Se você não pode saber de certas coisas, é para que não sofra...
- E de que adianta viver numa mentira? Numa fantasia? – Harry suspirou longamente. – Sirius, eu estou cansado de não saber quem eu sou. Qualquer um sabe mais sobre mim do que eu mesmo! Você não viu? Até a Profª. Stevens parece saber mais sobre mim do que eu!
O olhar do padrinho voltou a ficar endurecido.
- Eu já falei para você esquecer o que ela disse. Você não pode levar em consideração o que aquela... aquela vaca diz! – Harry percebeu o quanto Sirius odiava aquela mulher; nunca o tinha ouvido se referir a alguém desse modo, com tanta raiva. O mais próximo disso era quando ele falava de Rabicho. – Você entendeu, Harry? Não ouça o que ela diz! Você promete que vai fazer isso?
Sirius apertava com tanta força os ombros de Harry que chegava a doer. O rapaz apenas acenou levemente com a cabeça, e Sirius o soltou e começou a andar de novo. Harry o acompanhou, ainda pensando no que tinha ouvido. Sim, poderia deixar de lado agora sua vontade de saber mais, mas só por agora; se Sirius ou qualquer um pensava que ele iria esquecer isso estavam muito enganados. Olhou para o padrinho; será que valia a pena comentar com ele sobre o que descobrira quando conversou com Hagrid? Talvez não..., pensou, virando o rosto.
- Quanto você sabe? – Sirius perguntou de supetão. Harry o olhou intrigado.
- Do que você está falando?
- Sobre mim e Samantha... – ele disse isso com mais tristeza na voz do que Harry já o vira fazer em qualquer outra circunstância. – Ou pelo menos... o que você pensa sobre isso?
Harry suspirou. O que diria a ele? Simplesmente diria que descobriu que os dois eram namorados antigamente? Isso já era invasão de privacidade... Decidiu seguir uma outra alternativa.
- Por que você tá perguntando isso?
- Você não disse que tinha coisas que queria saber? Isso deve ser uma dessas coisas, não é?
- Eu acho que você não entendeu direito, Sirius... Tem muitas coisas que eu quero saber sim, mas você não precisa ficar me contando coisas suas, pessoais, se não quiser. Eu quero saber sobre mim, sobre meus pais, sobre você também, mas você não precisa...
Sirius fez um gesto para que ele se calasse. Olhou para os lados e, depois disso, abriu com cautela uma porta próxima. Certificando-se de que não havia ninguém ali, ele fez um sinal chamando o afilhado para entrar na sala com ele. Harry assim o fez.
Era uma das salas de aula, e estava vazia a essa hora. Depois que Harry entrou, Sirius encostou a porta e cruzou a sala, chegando até a janela e apoiando os cotovelos no parapeito. Sem entender direito o que acontecia, Harry se pôs ao lado do padrinho na janela, e olhou para ele, como que pedindo uma explicação.
- Harry... – ele começou com a voz rouca. – Eu tenho meus motivos para não gostar de Samantha e querer te ver longe dela.
- Eu... acho que te entendo... – Harry decidiu falar. Sirius estava sendo sincero com ele, e se achou no dever de ser sincero também.
- O que você sabe?
- Hagrid me contou... Eu não queria comentar isso com você porque... sei lá, eu achei que era algo que você não queria me dizer, mas...
- Tudo bem, Harry. – Sirius o interrompeu. – Eu tento não falar desse assunto porque é como se fosse uma espécie de... fuga do que quero esquecer. Mas às vezes não tem como deixar de falar nisso. Não fique tão desconfortável... – ele o olhou de uma forma compreensiva.
Harry respirou fundo.
- Eu soube que você e a professora eram namorados quando mais jovens...
Sirius suspirou e se virou na janela para olhar por ela. Harry fez o mesmo. Dava para ver o sol se pondo atrás do lago, que assumia um tom avermelhado. Alguns alunos caminhavam pelos jardins.
- Sim, isso é verdade... – Sirius quebrou o silêncio que se formara, mas ainda não olhava para Harry. O rapaz decidiu permanecer como o padrinho e ficar apenas encarando a paisagem lá fora.
- Tudo bem se você não quiser falar sobre isso, Sirius...
- Não, não tem problema, Harry... Eu... te devo uma explicação sobre isso também. Não tenho como te pedir que se afaste dela sem ao menos lhe dar uma explicação.
Harry não respondeu nada. Sirius pareceu interpretar, acertadamente, essa reação como um "sim".
- Nós namorávamos sim, Harry. Começou no meu sexto ano em Hogwarts, eu tinha a mesma idade que você. Não é para me gabar, mas... – ele deu uma risadinha baixa. - ...eu era muito popular entre as garotas. Mas eu queria só uma: Samantha. E sabe por quê? Porque ela era difícil. Ela não era como as outras, ela me desafiava... Ela, por si mesma, já era um desafio. Eu fiz uma promessa a mim mesmo que a conseguiria. Mas o que eu não sabia era que iria me apaixonar por ela.
- E você a conseguiu?
- Consegui. Demorou, mas eu consegui. Nós começamos a namorar e, ao contrário do que todos pensavam, esse namoro durou. Meus namoros nunca duravam mais que um mês. Esse durou mais de um ano. Eu nunca amei ninguém como a amei, Harry... Nunca ame uma mulher assim... Você acaba sofrendo mais do que vivendo...
Harry desviou o olhar da paisagem e voltou-se para o padrinho. Ele continuava com a mesma expressão vazia, triste. Seus olhos brilhavam, e ele piscava muitas vezes. Harry entendeu. Sirius queria chorar, mas não conseguia. Queria e não queria ao mesmo tempo. Ele não era do tipo que expunha suas fraquezas, mas como todo mundo, as possuía. Novamente, Harry voltou o olhar para a paisagem do outro lado da janela. Sabia que o padrinho não queria que ele sequer pensasse que estava quase chorando.
- Doeu muito quando ela me decepcionou. – ele continuou. – Eu tenho um defeito: confio cegamente nas pessoas de que gosto. Quando elas me decepcionam, o meu mundo desmorona... Aconteceu isso daquela vez. Ela me decepcionou muito... ela fez algo que para sempre vou lembrar, e sempre vai doer quando lembrar. Você se importa se eu não contar o que era?
- Claro que não, Sirius. Fale o que você quiser.
- Obrigado. – ele fez uma longa pausa. – Depois disso, nós terminamos. Ou melhor, eu terminei com ela. Foi a coisa mais difícil que eu fiz, mas eu tinha certeza de que era o certo e até hoje não me arrependo. A partir de então, eu nunca mais a reconheci... Ela nunca mais foi a mesma, nunca mais foi a... – ele engoliu em seco. - ...a minha "Sam". Acho que ela nunca foi de fato. A verdade é que tudo não passou de uma ilusão. Eu me iludi, me enganei com ela. Foi muito difícil descobrir que tudo era só uma fantasia... Eu pensei que nunca fosse me recuperar. É claro que eu superei, a vida nunca pára... Mas, se eu dissesse que esqueci, estaria mentindo. Eu nunca vou esquecer tudo o que ela significou para mim, mas ao mesmo tempo eu sei que essa mulher de agora não é aquela que eu acreditava conhecer... É como se aquela mulher que eu conheci tivesse morrido. Essa não é ela...
Mais uma vez o silêncio tomou conta do ambiente. Sirius passou a mão pelos cabelos e depois se forçou a olhar pela janela novamente. Harry não disse nada. Sentiu-se um egoísta. Às vezes ficava achando que tudo acontecia com ele, que ele sim tinha motivos para ficar triste. Não enxergava que as pessoas sofriam à sua volta. Sirius já tinha sofrido muito. Sim, estava sendo egoísta.
- Você entende agora, Harry? – ele perguntou, virando-se para olhar o afilhado bem no fundo dos olhos. – Entende por que eu insisto tanto para que você se afaste dela? Eu não quero que ela te machuque como fez comigo. Essa mulher é traiçoeira, não é à toa que eu a chamo de "cobra". Eu não me perdoaria se permitisse que ela te fizesse sofrer ao menos um milésimo do que ela fez para mim... Você entende?
Harry acenou com a cabeça afirmativamente. Sirius deu um meio sorriso, triste. Depois de respirar profundamente, ele disse:
- Obrigado por me ouvir, Harry. Contar isso para você me fez bem de alguma maneira, no final das contas...
Harry sorriu.
- Você sempre me escuta, Sirius. Fico feliz de, alguma vez, poder te ajudar tanto como você me ajuda.
O padrinho mordeu o lábio inferior e, mais uma vez, apertou o ombro do afilhado. Depois soltou-o, virando-se novamente para a janela.
- Eu vou passar uns dias aqui em Hogwarts, Harry. – disse de súbito. – Se você precisar que eu te "escute", vou estar aqui. – ele sorriu para o afilhado.
- Você só pode estar brincando! – Harry falou, já se sentindo eufórico.
Sirius riu baixinho.
- Não estou... Você vai ter seu padrinho por perto por alguns dias, isto é, se você quiser... De repente, você não quer e...
- Você tá maluco? É claro que eu quero! – o rapaz sentiu que abrira um sorriso de orelha a orelha.
Sirius se virou para olhá-lo, abrindo um daqueles sorrisos que ele só dava em ocasiões especiais. Colocou a mão na cabeça do afilhado de maneira carinhosa. Harry sorriu; era nessas horas que agradecia aos seus pais por terem escolhido Sirius para seu padrinho.
Era uma manhã preguiçosa e fria de uma quinta-feira quando Harry descia sozinho e apressado as escadas do castelo. Tinha acordado mais tarde do que o normal e, por isso, acabara se atrasando para o café da manhã. Talvez nem conseguisse chegar a tempo e tivesse mesmo que seguir direto para a aula de Feitiços. Felizmente, não se atrasara tanto quanto pensava. Quando chegou no salão principal, a grande maioria dos alunos estava presente, assim como todos os professores. Talvez ainda desse tempo de comer alguma coisa.
- Bom dia! – cumprimentou Rony e Hermione enquanto se sentava à frente deles.
- Bom dia! – Hermione disse, levantando os olhos de um livro de Aritmancia.
- Dormiu além da conta hoje, não foi? – Rony perguntou, mordendo uma torrada.
- Acabei indo dormir tarde ontem. – Harry respondeu, não conseguindo esconder um bocejo. Quando estava enchendo o copo com suco de abóbora, olhou para os lados e notou que alguém muito importante não estava presente. – Onde está Gina?
- Com os amigos... – Rony respondeu de boca cheia.
- Que coisa feia, Rony! – Hermione o repreendeu, fechando com estrondo o livrão que lia. – A Gina cansou de te esperar, Harry. Ela está lá do outro lado com os amigos. – ela disse, indicando Gina do outro lado da mesa, sentada de frente à Peta e Colin e ao lado de Jonnathan Cavendish. A garota estava muito sorridente enquanto conversava com o colega que, milagrosamente, não estava emburrado.
- Você não vai lá falar com ela? – Rony perguntou depois de engolir o que comia.
- Agora não. – Harry respondeu ligeiramente aborrecido. – Ela diria que eu estava atrapalhando se fosse lá agora que ela está com os amigos...
Hermione e Rony se entreolharam de um jeito esquisito, mas não disseram nada. Depois de um tempo, no qual Harry se serviu de cookies e um pedaço de bolo de laranja, Rony perguntou animado:
- Você viu quem está sentado na mesa dos professores?
- Não. – Harry respondeu sem ligar muito para o assunto. Rony fez uma careta.
- Se você não tivesse acordado tão tarde... – Hermione alfinetou. – Teria visto Dumbledore apresentá-lo para os alunos...
Harry paralisou antes de morder seu cookie e rapidamente olhou para a mesa dos professores. De primeira viu a quem os amigos se referiam: Sirius conversava muito alegre com Remo. Com certeza o padrinho deveria estar muito contente de poder estar ali, na frente de todos, como não fazia há muito tempo.
- Que pena que eu perdi isso...
- O diretor falou que Sirius e o Prof. Lupin vão ficar algum tempo em Hogwarts. – Hermione disse. – Você sabia?
- Sirius me contou ontem.
- Então foi por isso que você sumiu depois da aula... – Rony falou.
- É, nós ficamos conversando por um bom tempo. – informou, mordendo seu cookie.
- Será que Sirius e o Prof. Lupin vieram por causa do "evento"? – Rony perguntou para Hermione, que rapidamente colocou o dedo na boca dele.
- Nenhuma palavra sobre isso, Rony! Não queremos que o Harry descubra as coisas antes da hora, não é? – Hermione falou, sorrindo misteriosa para o amigo, que suspirou.
- Adianta se eu perguntar pela décima vez que evento é esse?
- Não! – os amigos responderam juntos.
Harry bufou e deu de ombros.
- Mas acho que logo você saberá! – a amiga disse. – Afinal, a data não está muito longe...
Novamente, Harry deu de ombros e decidiu se concentrar no seu café da manhã. Porém, foi interrompido pelo tilintar de uma colher em uma taça de cristal. A Profª. McGonagall pedia silêncio.
O burburinho no salão foi silenciando aos poucos e, logo, todos prestavam atenção na figura de Dumbledore, de pé, com um sorriso no rosto e não parecendo mais tão cansado quanto no dia anterior, quando Harry o vira em sua sala.
- Antes de se dirigirem para as suas aulas do dia, gostaria de dar-lhes dois avisos importantes e que são do interesse de todos. – muitos alunos fizeram sons desanimados, pensando que aí viria alguma proibição do zelador Filch. Dumbledore sorriu mais ao perceber isso. – O primeiro aviso é sobre a visita ao povoado de Hogsmeade. Como sabem, esse ano a primeira visita do ano demorou para acontecer por motivos de força maior.
Harry, assim como a maioria dos alunos, desconfiava o porquê disso: devido aos ataques de Voldemort nas férias, provavelmente Dumbledore preferiu adiar a primeira visita, que geralmente acontecia no dia das bruxas.
- Porém, resolvemos adiantar a visita, que ocorreria somente no segundo sábado de dezembro. No próximo sábado, os alunos a partir do terceiro ano poderão visitar Hogsmeade.
Alguns murmúrios de excitação percorreram as mesas, já que muitos alunos estavam ansiosos para visitar a mais nova sensação de Hogsmeade: a loja dos gêmeos Weasley. Dumbledore pediu silêncio novamente e voltou a falar:
- Vale lembrar que somente aqueles que possuem as autorizações dos responsáveis poderão fazer a visita.
Harry olhou para a mesa dos professores, na direção de Sirius, e viu quando o padrinho piscou para ele. Provavelmente ele já tinha feito uma autorização e dado para Dumbledore. Ou então tinha falado com o diretor pessoalmente mesmo.
- O segundo aviso, e talvez o mais importante, é sobre um evento que acontecerá no Natal. – Harry olhou intrigado para os amigos à sua frente, que apenas sorriram, cúmplices. – Eu e os professores conversarmos muito e decidimos que os alunos merecem algo diferente esse ano. Para isso, os monitores e monitores-chefes se encarregaram de organizar esse evento. Tomando como exemplo o sucesso que tivemos dois anos atrás, resolvemos promover um Baile de Inverno.
Comentários excitados, principalmente da parte das meninas, explodiram no salão entre os alunos. Harry olhou rindo para Rony e Hermione, que sorriam entusiasmados para o amigo.
- Então era disso que vocês faziam tanto mistério...
- Ah, Harry, a gente não podia contar... Só os monitores e professores sabiam... – Hermione disse.
- Alguma vantagem, além de serviço extra, tem que se ter por ser monitor, né? – Rony falou. Hermione torceu o nariz para o namorado, que sorriu e a abraçou. – E dessa vez, Harry, não vou precisar ficar procurando par, porque eu já tenho um...
- Daquela vez, Rony Weasley, nós só não fomos juntos porque você não me convidou... – Hermione provocou.
- Nós não fomos juntos porque você foi com o "Vitinho"...
Olhando aqueles dois quando uma nova discussão surgia entre eles, Harry riu e voltou seu olhar para o outro lado da mesa: Gina também comentava animada com os amigos sobre o baile. Ela percebeu que Harry a olhava e sorriu para ele. É, ele também tinha par para esse ano...
Novamente o som do tilintar de uma colher numa taça fez os alunos silenciarem. Quando o silêncio novamente se instalou no ambiente, Dumbledore voltou a falar:
- O baile será realizado no dia de Natal e dessa vez estará aberto a todos os alunos, de todos os anos. O traje será formal, e é recomendável que venham em pares e... que aprendam a dançar... – ele completou com um risinho. – Poderão conseguir maiores informações com os monitores de suas Casas. A lista para os alunos que ficarão nas férias e, conseqüentemente, para o baile, já está no saguão de entrada para ser assinada. É só, podem seguir para suas aulas do dia.
Dumbledore se sentou e cochichou algo com a Profª. McGonagall ao seu lado. Enquanto isso, os professores já levantavam, e os alunos também, sempre comentando sobre o baile. Rony e Hermione foram abordados por um monte de alunos grifinórios sedentos por saber mais sobre isso. Vendo que os amigos ficariam ocupados por um bom tempo, Harry se levantou e foi até onde Gina estava. Ela estava levantando também, e ia sair para suas aulas junto com os amigos. Harry a segurou pela mão antes que fosse embora.
- Ei!
Ela se virou para olhá-lo e sorriu. Peta, Colin e Jonnathan também se viraram, e Peta disse animada:
- Bom dia, capitão! Veio convidar seu par para o baile?
- Mas é claro! – Harry respondeu sorrindo. – Tenho que ser rápido, afinal ela é uma das garotas mais bonitas da escola, se não é a mais...
Gina corou e riu encabulada.
- Pára com isso, Harry...
Peta suspirou e cruzou os braços.
- Realmente o amor é lindo, mas como eu não sou a garota mais bonita da escola e não tenho namorado, tenho que esperar ser convidada... Que triste! – ela disse em um tom chateado e brincalhão ao mesmo tempo.
- Não seja por isso. – Colin disse em um tom galanteador, estendendo a mão. – Quer ser meu par, Srta. Spencer?
- Oh! – ela exclamou, colocando uma mão no peito e aceitando a mão de Colin. – Estou lisonjeada, Sr. Creevey!
Gina ria, enquanto os dois saíam juntos, ainda continuando com o teatro. Jonnathan estava com seu mau humor característico e perguntou para Gina:
- Você não vem com a gente?
- Eu vou daqui a pouco, Jonh.
- Não se atrase ou vai levar uma bronca do Snape. – ele disse seco e foi embora. Harry agradeceu por isso; não agüentava mais aquela cara feia por perto.
- Você veio mesmo para me convidar, Harry? – Gina perguntou sorrindo.
- Claro! E para fazer isso também... – e tentou beijá-la, mas ela não deixou.
- Aqui não!
- Mas...
- Depois.
Ele bufou.
- Você vai ou não ao baile comigo?
- Deixa eu pensar... – Harry cruzou os braços, impaciente. Ela riu. – Tá bom, eu aceito!
Ele riu.
- Você não vai mesmo deixar eu te beijar?
- Já disse que aqui não! – ela o beijou na bochecha. – Depois a gente se fala. Eu preciso ir porque minha primeira aula é Poções, você entende, né?
- Você vai me trocar por aquele seboso do Snape?
Ela suspirou.
- Tchau, Harry!
Ele a segurou pela mão novamente.
- Nem um beijinho?
Ela revirou os olhos e deu um selinho rápido nele.
- Tchau!
E saiu apressada. Harry deu de ombros e colocou a mochila nas costas. Havia poucos alunos no salão. Notou que Rony e Hermione não estavam mais lá, o que significava que teria que ir sozinho para a aula. Mas o que ele não notou era que alguém o seguira enquanto saía do salão principal. Quando estava subindo as escadas para o primeiro andar, uma voz arrastada o chamou:
- Potter!
Harry reconheceu aquela voz. Reconheceria em qualquer lugar.
- Ninguém merece... – praguejou e se virou. – O que você quer, Malfoy?
Draco Malfoy estava parado alguns degraus abaixo, com uma expressão sagaz no rosto. Dava a impressão de estar aprontando alguma. Rapidamente, galgou alguns degraus e alcançou o rival, mas subiu alguns degraus a mais, de modo que Harry precisava levantar a cabeça para olhá-lo. Com um meio sorriso, perguntou:
- Você ainda se lembra daquilo que eu te disse no fim do jogo de quadribol?
- Não. – Harry respondeu cínico, mentindo só para provocá-lo. Claro que se lembrava.
Malfoy pareceu entender isso. Desceu alguns degraus e ficou na mesma linha que Harry e fez algo totalmente surpreendente e muito esquisito: colocou a mão direita sobre o ombro esquerdo do rival. Harry arregalou os olhos.
- Pois então eu vou refrescar sua memória: eu vou me vingar, Potter. Pode esperar.
Bruscamente, Malfoy retirou sua mão do ombro de Harry, que sentiu um puxão na sua nuca. Colocou a mão nela, mas não sentiu nada diferente.
- Você fala demais, Malfoy.
O loiro sorriu.
- Veremos.
E subiu as escadas, deixando um Harry confuso e intrigado para trás.
Harry recostou na cadeira e se espreguiçou, soltando um longo bocejo. Ele, Rony e Hermione estavam estudando há pelo menos duas horas no salão comunal, obviamente, por pressão de Hermione. Os três teriam prova de História da Magia na primeira aula do dia seguinte, sexta-feira, e pelo jeito que o Prof. Binns falou, seria uma prova bastante difícil.
- O que você tá fazendo, Harry? – Hermione perguntou ao ver o amigo fechando seus livros e guardando-os na mochila. – Ainda temos todo o capítulo seis para estudar!
- Chega, Mione... Eu não agüento mais! – ele resmungou em resposta.
- Eu concordo com o Harry. – Rony disse de supetão, deitando a cabeça sobre a mesa. – Já cansei também! Além do mais tô com sono!
- Mas a gente tem muita coisa para estudar ainda! – Hermione insistiu. – Aliás, vocês têm, porque eu já comecei a estudar desde a semana passada e...
- Mione, já são onze e quinze! – Rony reclamou, puxando o braço de Harry que continha o relógio de pulso e quase o esfregando no rosto da garota. – Como você quer que a gente vá bem na prova se babarmos de sono em cima dela?
Depois que Rony largou seu braço, Harry ficou olhando seu relógio, lembrando que não vira Gina desde o almoço. Ficou um pouco preocupado. Será que ela ainda estava pelo castelo? Não, depois dessa hora os alunos nem podiam andar pelo castelo, e Gina não era do tipo que quebrava regras...
- Vocês viram a Gina? – perguntou, interrompendo uma nova discussão entre os amigos.
Rony e Hermione pararam de falar e olharam confusos para Harry.
- Eu não a vejo desde o almoço... – Rony disse.
- Talvez ela já tenha ido dormir... – Hermione sugeriu. – Mas eu não a vi desde o almoço também...
- Será que ela ainda tá pelo castelo? – Harry perguntou preocupado.
- Eu vou ver se ela tá no dormitório dela, esperem aí. – Hermione disse, levantando-se e subindo as escadas.
- Agora que você falou... – Rony comentou depois de algum tempo, enquanto encostava a cabeça na cadeira. – É estranho mesmo não termos visto a Gina... Ela geralmente fica aqui no salão de noite, né?
- E hoje a gente tinha combinado de se encontrar... – Harry lembrou.
- Vai ver ela foi dormir mais cedo mesmo.
- Nós três teríamos visto! Afinal, a gente tá aqui há bastante tempo, estudando.
- Tem razão... Ah, sei lá... De repente ela foi dormir muito, muito cedo.
Harry fez uma cara de descrente. Rony parecia não ter acreditado muito no que acabara de dizer também. Passados mais alguns minutos, Hermione voltou apressada, com uma expressão ligeiramente preocupada.
- Ela não está no dormitório também. – informou assim que se sentou junto com os garotos.
- Como não? – Rony perguntou.
- Simplesmente não está, Rony! Eu falei com aquela amiga dela, a Peta, e ela me contou que não viu a Gina desde o fim das aulas do dia.
- Então ela está pelo castelo! – Harry deduziu.
- A essa hora! – Rony exclamou. – Mas o que será que ela está fazendo por aí?
- É proibido. – Hermione lembrou.
Eles pensaram por alguns instantes e, subitamente, Harry teve uma idéia, que o fez levantar de um salto.
- Vou procurá-la.
- Você enlouqueceu, Harry? – Hermione perguntou. – Não é permitido sair a essa hora! Como monitores nós não podemos permitir que...
- Então eu saio sem vocês verem! Eu tenho uma Capa de Invisibilidade, lembram-se? E posso achar a Gina com o Mapa do Maroto. Vocês podem simplesmente fingir que não sabem disso...
- Harry, não! – a amiga insistiu. – Mesmo que façamos isso, alguém pode te ver!
- Quantas vezes eu já saí, e ninguém me viu!
- Então eu vou com você! – Rony decidiu, se levantando também. – Não posso deixar minha irmã andando sozinha por aí a essa hora!
- Você fica! – Hermione o puxou pelo braço e o fez sentar novamente. – Quer perder seu cargo, por acaso?
- Mas é minha irmã, Mione!
- Ela está certa. – Harry disse. – Você fica, Rony. Assim vocês estarão aqui se a Gina aparecer.
- Mas você tem que ficar também, Harry! – Hermione insistiu.
- Eu já decidi. Finjam que não me viram.
E então, Harry deu as costas aos amigos, e subiu rapidamente as escadas, tentando fazer o mínimo de barulho para não acordar os alunos que já estavam dormindo. Quando chegou no seu dormitório, andou pé ante pé, para não acordar os colegas. Neville roncava alto do outro lado do quarto. Foi direto no malão e pegou as coisas de que precisaria. Antes de se cobrir com a capa herdada do pai, resolveu olhar o Mapa do Maroto:
- "Juro solenemente não fazer nada de bom." – e tocou o pergaminho com a varinha. Instantaneamente, apareceram linhas que formaram o mapa do castelo de Hogwarts. Correu os olhos pelo mapa e viu, próximo à entrada secreta do salão comunal da Grifinória um pontinho denominado "Gina Weasley".
Sentiu-se aliviado por vê-la; no final, nem precisaria ir atrás dela. Porém, reparou que o pontinho movimentava-se muito rápido, e entrou bruscamente no salão comunal. Depois de apagar o mapa e guardá-lo no malão junto com a capa, Harry saiu o mais rápido que pôde do quarto, sem fazer barulho, e desceu as escadas que davam no salão. Ao chegar lá, encontrou, de pé, um Rony confuso e bravo ao mesmo tempo, e uma Hermione preocupada.
- Eu vi a Gina no mapa! – Harry falou assim que chegou. – Ela passou por aqui?
- Passou, e como um relâmpago! – Rony disse. – Nem falou com a gente!
- Eu vou falar com ela! – Hermione disse preocupada.
- A gente espera aqui, então. – Harry retrucou.
- Não, é melhor não... Eu vou e falo com ela... Talvez demore, é melhor vocês irem dormir...
- E como você acha que a gente vai dormir sabendo que ela está assim? – Rony perguntou.
Hermione deu de ombros e, depois de recolher desajeitada seu material da mesa, subiu apressada as escadas que levavam aos dormitórios femininos. Rony bufou e começou a ajeitar seu material também. Harry se aproximou dele:
- Como a Gina estava?
- Não parecia nada bem... Estou preocupado.
- Eu também. O que será que aconteceu?
- Não faço idéia... Ah, mas se alguém fez alguma coisa para ela, eu... – Rony parou de falar e olhou para Harry. – Você sabe alguma coisa que não quer me dizer, Harry?
- Não! – respondeu surpreso. – Sei tanto quanto você, Rony...
O amigo respirou fundo e soltou longamente o ar pela boca.
- Harry, você é meu amigo, mas... se você fizer alguma coisa para a Gina, eu...
- Mas eu não fiz nada! – Harry respondeu bravo. – Estou tão preocupado quanto você, Rony!
O amigo abaixou a cabeça e só disse alguma coisa depois de muito tempo:
- Me desculpe, acho que me excedi. É que, quando se trata da minha irmã, eu... perco a cabeça.
- Como se fosse muito difícil você perder a cabeça, não é? – Harry debochou, um pouco irritado pela desconfiança do amigo.
- Eu já pedi desculpas, tá legal?
Harry não respondeu, e começou a juntar suas coisas de qualquer jeito. Rony fez o mesmo. Harry percebeu que não seria legal ficar nesse clima com o amigo. Que seja, dessa vez daria o braço a torcer.
- Vamos esquecer isso.
Rony grunhiu.
- Rony!
- Tá...
Harry não disse nada. Passou mais algum tempo.
- Tudo bem. – Rony disse. – Eu só fiquei preocupado com ela... E sei que você também.
- Amanhã eu vou conversar com ela.
Rony concordou com a cabeça.
- Eu também. Falaremos com Hermione primeiro, e depois a gente fala com ela.
- Certo.
Rony novamente fez que "sim" com a cabeça e não conseguiu reprimir um bocejo. Harry sorriu.
- É melhor dormirmos.
- Tem razão... – e bocejou novamente. – Amanhã resolvemos isso.
Dessa forma, os dois subiram juntos e foram dormir. Rony logo adormeceu, mas Harry ainda ficou por um bom tempo virado na cama para o lado da janela, observando a claridade que penetrava por ela. O sono o tinha abandonado por completo, e ele não conseguia parar de pensar em Gina. Aquele sentimento de que algo ruim estava para acontecer não o deixava dormir. Pressentia que sua vida estava para mudar. E para pior.
