Capítulo Quinze – O baile
Apesar do frio intenso, o castelo de Hogwarts fervia mais do que nunca naquelas férias de inverno. Fora das grandes paredes de pedra da escola, parecia que cada centímetro do lugar estava coberto por flocos de neve. Era quase impossível ver alguém nos jardins, com exceção de Hagrid, mas até ele passava mais tempo dentro do castelo também. Harry às vezes tinha vontade de ficar lá fora, mas Hermione o proibiu de sair até que estivesse curado da sua tosse. O rapaz não teve escolha; realmente a amiga poderia ser bastante persuasiva quando queria.
Por todos os corredores se viam alunos excitados com a proximidade do baile. Os estudantes que estiveram presentes no último Baile de Inverno, dois anos antes, não viam a hora de repetir a dose. Os alunos que não foram ao outro baile não conseguiam se conter de ansiedade por esse que se aproximava.
A cada canto do castelo, em todas as horas do dia, era possível ver um ou outro aluno convidando alguém para ser seu par no baile. Dessa vez não era obrigatório um par (o que Harry apreciou muito), mas mesmo assim todos se apressavam para conseguirem os seus com medo de ficarem sozinhos. Já para Harry, isso não era um problema. O rapaz não tinha a mínima vontade de convidar alguém, e mesmo que tivesse, não tinha quem chamar, apesar de ter sido convidado por três garotas: uma do quarto ano ("Essa é uma gracinha, Harry" disse Rony, antes que Hermione lhe desse um dolorido beliscão no braço), uma do quinto ("Sinceramente, antes só do que mal acompanhado, amigo...") e uma do sétimo ("Aceita, Harry! Se você não aceitar, eu mesmo o faço! Ai! Ai, Mione!" outro beliscão seguido de um tapa.).
Na verdade, Harry pensou em duas opções para esse baile: primeira – não ir ("Nem pensar, Harry!" disse Hermione. "Você tem que distrair a cabeça!"), segunda – ir sozinho. Decidiu-se pela segunda opção. Talvez fosse bom mesmo distrair a cabeça, como a amiga mesma dissera. A única distração de Harry nessas férias tinha sido ler, lia tanto que já estava com medo de virar uma versão masculina de Hermione. A maioria dos livros eram sobre quadribol, pois dessa forma ele aproveitava para aprender novas táticas para o time; estava planejando recomeçar os treinos quando as férias acabassem, já que o jogo contra a Lufa-lufa não estava tão distante assim. Hermione aprovava as leituras do amigo e indicava livros, enquanto Rony o reprovava, isso quando não fazia piadinhas. Mas, de qualquer maneira, nenhum dos dois tinha muito tempo para isso, já que estavam deveras ocupados com os preparativos para o baile ou com o serviço de monitoria. E quando tinham tempo livre, Harry preferia se afastar para não dar uma de "vela".
A decoração no castelo estava bastante esmerada aquele ano. Os enfeites estavam por toda a parte, desde os corredores e salas, até mesmo nos banheiros. As armaduras cantavam músicas natalinas quando alguém passava na frente delas, e certa vez Neville foi pego para dançar pela estátua de Georgina, a louca, o que rendeu muitas risadas e piadas dos alunos que assistiram à cena. Até mesmo os fantasmas estavam animadíssimos: Nick-Quase-Sem-Cabeça era visto em todos os cantos cantando e dançando sozinho, o Barão Sangrento parecia muito menos mal humorado do que de costume, diferente de Pirraça, que finalmente voltara da outra dimensão a que fora mandado e agora estava mais mal criado do que nunca (ele só tomava cuidado para não encontrar a Profª. Stevens no seu caminho). Murta Que Geme certa vez encontrou Harry no banheiro e chorou rios de lágrimas porque ele ainda não tinha ido visitá-la no banheiro feminino. Harry deu uma desculpa qualquer, mas foi difícil convencer a fantasma de que ele não podia ser seu par no baile. Murta saiu chorando, e o corredor do seu banheiro agora vivia constantemente inundado, para desespero de Filch, que tinha que limpar tudo.
Na tarde do dia de Natal, algumas horas antes de começar o baile, Harry se encontrava no salão comunal, sentado perto da lareira ardente, lendo "Grandes times da Europa – Uma coletânea dos campeões de quadribol". Lá fora a neve parecia ter dado uma trégua, e a grande maioria da população masculina da escola estava nos jardins. Já a população feminina se encontrava nos dormitórios e nos banheiros se aprontando para o baile. Harry ficou impressionado com a quantidade de garotas que viu irem e virem no salão comunal em um pequeno intervalo de meia hora. Perdeu a conta quando estava no número sessenta e dois. Era realmente difícil não perder a conta, já que a maioria passava em bandos. Complicado também era se concentrar na leitura, com todos os gritinhos que elas davam. Desde que voltara do almoço de Natal, ele estava tentando ler o capítulo dezenove do livro, mas estava empacado nas páginas 125 e 126. Lia, relia, e não entendia nada, porque uma vez era um grito, outra vez barulho de alguém correndo, outra o buraco do retrato se abrindo. Estava quase desistindo e indo para os jardins, quando mais uma vez a passagem da Mulher Gorda abriu, e Hermione entrou afobada. Ela ia passar por Harry sem falar com ele, de tão distraída, quando ele limpou a garganta, e ela o notou:
- Ah, não tinha te visto aí, Harry!
- Eu percebi. – ele falou, fechando o livro e colocando-o de lado.
Hermione pegou o livro e olhou ansiosa para ele. Até ela já estava se preocupando com esse novo hábito do rapaz de se acabar de ler.
- Você não acha que tá exagerando?
- Não, isso vai ser muito bom quando eu voltar a treinar o time da Grifinória. – ele respondeu casualmente. Ela suspirou e colocou o livro de lado.
- Por que você não dá uma volta nos jardins?
Harry deu de ombros.
- Talvez. Você e o Rony já terminaram o serviço de hoje?
- Oh, sim! – ela disse animada, sentando ao lado do amigo no sofá. – Já está tudo preparado para o show da noite! – a garota rapidamente colocou a mão na boca.
Harry riu. Há muito tempo que sabia, catando aqui e acolá nas conversas dos amigos, que as Esquisitonas viriam tocar no baile, mas nunca tinha comentado com eles para que não desanimassem. Harry sabia que eles adoravam esconder um "segredo da escola" dele.
- E você já veio se arrumar para o baile?
- Vim sim, eu não sei como os garotos conseguem se arrumar tão em cima da hora! O Rony tá lá fora, jogando bola de neve nos outros... – ela balançou a cabeça de um lado para outro. – Uma tremenda criancice...
Harry se levantou e falou sorrindo:
- Então acho que vou lá também!
O queixo de Hermione caiu.
- Até você, Harry?
Ele riu e acenou em despedida para a amiga. Ela suspirou novamente e se dirigiu para a escada dos dormitórios femininos.
Harry foi caminhando devagar pelos corredores, apreciando a decoração. Algumas coisas ele mesmo tinha ajudado a fazer, para passar o tempo. Foi ele, Hagrid, o Prof. Flitwick e a Profª. McGonagall que montaram a enorme árvore do Salão Principal. Quando estava no hall de entrada, teve uma visão bastante desagradável: Draco Malfoy acabava de vir dos jardins, sozinho. Desde aquela briga na ala hospitalar, Harry decidira ignorá-lo. Mas o sonserino não perdia uma única oportunidade de provocá-lo:
- Ei, Cicatriz! Ainda curtindo sua dor-de-cotovelo?
Harry nem olhou para ele e continuou a andar, mas Malfoy se interpôs na sua frente, impedindo a passagem, com aquele mesmo sorriso debochado e irritante nos lábios.
- Com medo de mim, Potter?
Harry encarou os olhos dele com desprezo.
- Sai da minha frente, Malfoy.
- Vai sozinho no baile?
- Isso não é da sua conta.
- Ah, claro, esqueci que você é do tipo "cachorro fiel". Ainda fica pensando na pobretona mesmo depois de ela ter lhe chutado?
Harry sacou a varinha e apontou bem na garganta de Malfoy.
- Cala a boca. – rosnou entredentes.
- Potter! – uma voz veio da direção das masmorras. Harry não precisou olhar para saber que era Snape. – Guarde essa varinha, Potter! – ele falou assim que chegou perto dos alunos. Malfoy sorriu.
- E se eu não quiser? – Harry provocou.
- Vinte pontos a me...
- Espere, Severo! – uma voz feminina falou.
Os três olharam para quem era e viram a figura esguia da Profª. Stevens. Pela primeira vez, ela não estava usando um vestido negro. Estranhamente, trajava uma calça de couro bastante colada ao corpo e uma blusa cacharrel roxa. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, e isso lembrava a Harry uma pessoa, ele só não sabia quem. A professora tinha um sorriso nos lábios e as mãos na cintura. Sem tirar os olhos de Snape, ela se aproximou. Com aquela sua voz rouca, ela falou:
- Deixe que eu cuido disso, Severo.
Snape tinha um olhar assassino no rosto.
- Não acho uma boa idéia.
- Pois eu acho. – ela sorriu, um sorriso que conseguia ser mais falso e debochado até do que o sorriso de Malfoy. – A propósito, parece que o diretor está à sua procura. Eu o encontrei no corredor do quarto andar, e ele me pediu para que te chamasse para vê-lo se o encontrasse.
Snape desfez o olhar assassino e respirou fundo, parecendo preocupado com alguma coisa. A professora continuou sorrindo para ele, cruzou os braços e deu uma risadinha:
- Você vai ficar aí plantado no chão, ou vai falar com Dumbledore? Parecia urgente...
Bufando, Snape começou a se distanciar, batendo os pés, mas não antes de encarar a Profª. Stevens com um olhar malicioso e ameaçar:
- Se isso não for verdade, você vai se ver comigo!
- Ui, tô morrendo de medo, Severo... – ela provocou, rindo. Snape foi embora parecendo prestes a soltar fogo pelo nariz de gancho.
Samantha descruzou os braços, e suspirou desanimada, olhando de Harry para Malfoy, e depois para Harry novamente:
- Abaixe a varinha, Sr. Potter. – ela mandou, categórica. Harry, mesmo um pouco a contragosto, achou melhor não contrariar. – E quanto ao senhor, Sr. Malfoy, pare de ser criança e deixe de provocar as pessoas. – ela se virou para Malfoy. – Isso não é atitude de pessoas espertas. – completou, em um tom provocativo.
- Como?
- Retire-se, Sr. Malfoy.
- Mas...
- Retire-se! Agora!
Pelo tom dela, até mesmo Harry teria vontade de sair correndo. Malfoy, depois de bufar como Snape, saiu na direção das masmorras, batendo os pés. Samantha se virou para Harry com um olhar decepcionado.
- Vejo que não seguiu meu conselho, Harry... Precisa controlar seu temperamento... Você pode se dar muito mal assim...
Harry guardou a varinha nas vestes e cruzou os braços:
- Posso saber por quê, Samantha?
Ela sorriu.
- É só um conselho...
- Ok, vou tentar segui-lo.
- Ótimo. – ela se aproximou dele, sorrindo e colocando a mão no ombro dele. Seus rostos estavam muito próximos, e ele pôde sentir o perfume embriagante e forte dela. – Nos vemos no baile hoje à noite, então. – e, antes de ir embora, ela piscou para ele.
Harry ainda ficou um tempo parado no meio do hall, olhando-a se distanciar, sua cabeça muito confusa. Porém, depois de alguns instantes, resolveu continuar seu caminho para os jardins.
A neve ainda estava bem alta, o que tornava difícil a caminhada. O vento estava bastante gelado, e Harry precisou ajeitar o cachecol em volta do pescoço para não se resfriar. Procurou com os olhos por Rony e o achou perto do lago, atirando uma bola de neve que passou raspando pela cabeça de Simas. Além dos dois, estavam presentes Dino e Neville também. Harry se abaixou e enrolou uma generosa bolota de neve. Fez mira e atirou; a bola acertou em cheio a cabeça ruiva de Rony.
- Ai! – ele exclamou, virando-se para ver quem fizera aquilo. Harry riu com gosto. – Isso não tem graça, Harry!
Simas, Dino e Neville também riram. Harry se aproximou, pulando a neve e encarou o amigo cruzando os braços.
- Como não? Não é uma guerra de bolas de neve?
- É, mas...
Porém Rony parou de falar e começou a rir quando Harry foi atingido por uma bola atirada por Dino. Harry se virou para o colega, e falou:
- Agora é guerra!
E os cinco passaram a atirar bolas de neve para todos os cantos, às vezes acertando até mesmo quem não tinha nada a ver com isso. Passaram um bom tempo guerreando, até que começou o entardecer, e todos concordaram que já era tempo de irem se arrumar para o baile. Simas estava bastante animado, pois iria com Lilá Brown. Dino ainda não tinha par, mas prometia arranjar um no baile mesmo. Neville contou a Harry, bastante orgulhoso de si mesmo, que iria com uma quintanista da Lufa-lufa.
Já no dormitório, os cinco começaram a trocar suas roupas pelas vestes a rigor, enquanto comentavam sobre o baile. Simas não parava de se vangloriar por ir com Lilá, Dino retrucava prometendo encontrar um par melhor, Rony parecia contente demais com sua nova veste a rigor (presente dos gêmeos no ano anterior, como Harry lhes pedira quando entregou a eles o dinheiro do Torneio Tribruxo), e Neville preferia não entrar na conversa. Harry estava brigando com seu cabelo, mesmo sabendo que aquilo era uma batalha perdida; já tinha colocado suas vestes verdes e se mirava no espelho, tentando pentear o cabelo rebelde. Uma espinha particularmente feia tinha aparecido no canto de sua boca.
- Quem sabe se você usar um feitiço? – perguntou Neville, se aproximando de Harry para se olhar no espelho também.
- Você tá falando da espinha? – Harry perguntou. Simas e Dino agora tinham entrado em uma calorosa discussão sobre qual era a garota mais bonita do ano.
- Não, do cabelo. Ele nunca fica direito?
- Nunca, é de família.
- Ah... – Neville suspirou, ajeitando seu cabelo, que parecia já ser arrumadinho de nascença.
- E você, Rony? – perguntou Simas. – Vai com sua monitora, né?
Rony alargou o sorriso.
- A garota mais bonita do colégio...
- Esse tá apaixonado... – Dino lamentou. – Um baita atraso de vida.
- Despeitado. – Simas alfinetou. – Tá falando assim só porque não tem par. Sem ofensa, Harry. – ele completou.
Harry deu de ombros.
- Mas eu vou arranjar uma garota, vocês vão ver! – Dino insistiu. – Querem apostar?
Simas riu.
- Certo, vamos apostar, mas... de um jeito diferente!
- Como assim? – Neville perguntou. Harry se virou para ver os colegas. Rony tinha parado de tentar esconder as sardas do rosto usando um feitiço quando uma delas explodiu.
- Vamos apostar... – Simas começou, sorrindo marotamente. - ...quem vai com a garota mais bonita. – ele olhou para Rony. – Imparcialmente.
- Mas nós três já temos par, não podemos trocar. – Neville disse, referindo-se a ele, Simas e Rony.
- Ora, você não confia no taco da sua companheira, Neville? Eu confio na Lilá para vencer!
- Depois fala de mim... – Rony debochou. – Outro que tá apaixonado...
- Não tô não! – Simas negou como se isso fosse um tipo de doença.
- Mas espera um pouco! – Neville interveio. – Nós três não vamos poder trocar porque estamos comprometidos, mas o Dino e o Harry não estão!
- Boa, Neville! – Rony falou. – Nós não vamos trocar, mas e vocês? Não têm vínculo com nenhuma garota, podem muito bem trocar se não encontrarem a certa...
- Então vamos estabelecer uma regra! – Simas falou, um sorriso que demonstrava que tinha acabado de ter uma idéia. – Ninguém vai poder trocar de par. Nem vocês dois! – ele apontou para Harry e Dino. – Por isso escolham bem, porque não vai ter volta! Vai valer o primeiro par que todos nós dançarmos!
Todos se entreolharam. Rony e Neville aprovaram a idéia, enquanto Harry e Dino ponderavam. O primeiro que falou foi Dino:
- Eu topo! Vou conseguir um par melhor do que vocês todos juntos, e vou ganhar!
- E vocês? – Simas perguntou aos outros.
Neville sorriu e concordou, parecendo animado. Rony parecia um pouco indeciso, mas depois concordou, dizendo que também confiava em Hermione para ganhar. Harry não achava uma boa idéia, não estava com muita vontade de sair procurando um par.
- E você, Harry? Topa? – Simas perguntou. Estava bastante empolgado.
Rony o olhou de um jeito esquisito. Harry o encarou de volta e depois os colegas. Dino completou, tentando persuadi-lo:
- Vai ser divertido, Harry! Além disso, você não tá comprometido mesmo! Pode ir com quem bem entender...
Harry ponderou o que o colega tinha dito. Sorriu enviesado. Quer saber? Ele tinha que se divertir, ficar sendo fiel à lembrança de Gina era besteira, ela não tinha lhe dispensado? Então, ele agora estava sozinho e podia se aproveitar disso! Encarou Simas com um grande sorriso, e disse:
- Eu topo. Prometo que vou encontrar um par que vai arrasar com o de vocês!
Rony parecia surpreso com a resposta do amigo, mas não disse nada. Simas alargou o sorriso e foi buscar alguma coisa no seu malão. Neville perguntou, franzindo as sobrancelhas:
- Mas o que vamos apostar, afinal?
Simas voltou, trazendo algo que tinha pego no malão. Ele estendeu a mão, mostrando uma moeda de ouro:
- Cada um aposta um galeão. Quem ganhar vai ter cinco galeões no final...
- Vamos apostar dinheiro? – Rony torceu o nariz.
- Deixa de ser pão-duro, Rony! – Dino falou, procurando uma moeda nas suas coisas também. – Seu pai é Ministro da Magia, vai dizer que não tem um galeão?
- Ter eu tenho, mas...
- Que minha avó nunca saiba disso! – Neville disse, indo buscar uma moeda também.
- Que nossos pares do baile nunca descubram, isso sim! – Simas falou. – Já pensou se elas descobrirem? Estaremos ferrados!
Harry riu. Não tinha mesmo um par até agora, então nem se importava. Pegou um galeão nas suas coisas também e falou para Rony:
- É só uma brincadeira, Rony... A Mione não precisa saber...
Rony ainda parecia indeciso, mas Simas provocou:
- Vai dar pra trás, Rony?
- Claro que não! – ele respondeu convicto e pegou uma moeda no seu malão. – Eu confio na Mione, e se eu ganhar, vou dar um presente para ela!
- Você realmente tá apaixonado, né, Rony? – Dino perguntou. Rony deu de ombros.
Simas pegou um saquinho roxo berrante e colocou sua moeda nele, abrindo-o mais para que os outros também o fizessem. Cada um depositou sua moeda ali, e Neville perguntou:
- Com quem vai ficar?
- Vamos deixar aqui no quarto mesmo... – Simas falou, procurando com os olhos algum lugar seguro. – Ali! – ele disse, apontado para o alto de um armário. – Vou colocar ali!
Ele tentou colocar o saquinho lá, mas não alcançava. Harry arrancou o artefato das mãos do colega e colocou lá por si mesmo. Desde que tinha entrado no Portal dos Tempos no ano anterior era o mais alto entre os cinco, maior até do que Rony.
- Certo! – Simas falou em um tom quase formal. – Senhores, acabamos de selar um pacto! Isso fica só entre nós cinco, mais ninguém pode saber. – todos assentiram. – E agora, vamos ao baile!
O salão comunal da Grifinória estava muito colorido naquela noite. Diferente do preto dos uniformes, os alunos exibiam vestes de diferentes cores, as meninas usando vestidos cada vez mais deslumbrantes, parecendo concorrerem umas com as outras. Harry, Rony, Simas, Dino e Neville desceram logo depois de selarem a aposta, e os que já tinham pares foram acompanhar suas parceiras. Rony abriu um sorriso de orelha a orelha quando viu Hermione, trajando um belo vestido bege, que combinava com seus cabelos castanhos, presos em um coque que deixava alguns cachos soltos. Simas também ficou bastante sorridente ao ver Lilá com um vestido rosa-bebê, os cabelos soltos e enfeitados com uma tiara.
No começo, Dino revirava a cabeça à procura de uma garota desacompanhada, mas parecia que todas as grifinórias já tinham pares. Do outro lado da sala, Harry pôde ver a artilheira do time de quadribol, Peta Spencer, usando um vestido laranja e conversando animadamente com Colin. Não muito longe deles estava Jonnathan Cavendish, acompanhado de uma menina do quarto ano, parecendo emburrado como sempre. A menina ao seu lado tinha uma expressão chateada, e Harry achou que ela tinha feito uma má escolha indo com o garoto. Realmente Harry não tinha ido com a cara dele.
Harry, Dino e Neville resolveram descer para o Salão Principal depois que Dino desistiu de achar uma garota da Grifinória que estivesse descomprometida. Neville parecia bastante nervoso à medida que se aproximavam de lá. Porém, os três pararam de andar quando ouviram vozes alteradas no corredor do segundo andar. Eles se esconderam atrás da estátua de Wendelin, a esquisita, e ficaram observando a discussão. Mesmo se não estivessem curiosos, teriam que passar por ali, e não seria nada agradável serem descobertos por aqueles dois que falavam em altas vozes. Tentando enxergar por trás de Dino e Neville, Harry conseguiu ver quem eram: Katherine Willians e Draco Malfoy.
A garota estava irritada como sempre, mas dessa vez parecia ainda mais. Malfoy, por sua vez, dava a impressão de estar se divertindo com a raiva da prima. Harry sentiu, bem no fundo do estômago, uma certa pena da garota. Ele estava tão furioso com Malfoy desde o que ele lhe fizera, que começou a pensar que qualquer pessoa deveria ser melhor que ele, talvez até mesmo Snape... Não, isso já era exagero.
- Eu já disse que não vou ao baile com você, Draco! – ela gritou. – Que insistência! Você não se enxerga?
Malfoy riu.
- Kathy, priminha... Você não tem escolha...
O rosto dela se contorceu, mas ela tentou manter a pose rígida.
- Posso saber por quê?
- Por causa disso! – Malfoy rapidamente arrancou a luva preta que ela sempre usava (que dessa vez combinava com o vestido negro dela), e a garota arregalou os olhos de surpresa, escondendo a mão em questão de segundos. Harry bem que tentou ver o que ela escondia, mas não era possível. Neville quase soltou um "Oh", mas Dino foi mais rápido e tapou a boca do colega.
- Devolva minha luva, Draco! – ela não mantinha mais a pose. Parecia perturbada.
- Não antes que diga que vai ao baile comigo... – ele provocou, girando a luva maliciosamente bem em frente aos olhos dela. – Eu sei seu grande segredo, esqueceu?
Ela empalideceu e abaixou os olhos, parecendo procurar uma resposta, que aparentemente não chegou. Apertava com força a mão esquerda ainda enluvada sobre a mão direita. Depois de alguns segundos, ela se forçou a encarar o primo, e falou, um tom que demonstrava humilhação:
- Eu vou com você, então. – Malfoy abriu um enorme sorriso. – Mas devolva minha luva agora!
- Dê sua palavra de honra, Kathy.
- Eu dou! Agora devolva! – ela realmente parecia desesperada.
Ele passou a luva para ela, e a garota colocou-a em poucos segundos, preocupando-se em manter as mãos longe de Malfoy, mostrando que temia que ele repetisse seu ato. Harry sentiu extremo nojo ao ver isso; realmente Malfoy era mesmo repugnante. Dino e Neville pareciam compartilhar do mesmo sentimento que Harry e tinham os olhos arregalados.
- E agora... – Malfoy disse, aproximando-se da prima, que recuou até encostar na parede. – Que tal selarmos isso?
Ele aproximou seu rosto do dela, mas quando os lábios estavam a centímetros de distância, ela virou a cara. Malfoy bufou de raiva, distanciando-se, e cruzou os braços. Porém, rapidamente, ele tomou uma pose de bonzinho e falou:
- Tudo bem, eu espero até que você se sinta preparada. Sou bem paciente...
O sonserino se virou e deu o braço para ela. A garota o olhou com desprezo, mas mesmo assim aceitou o braço, fechando a mão direita para se certificar de que a luva estava bem presa. Dessa forma, os dois se distanciaram. Quando eles pareciam longe do alcance de sua voz, Dino comentou, boquiaberto:
- Vocês viram o que eu vi?
- Sim... – Neville concordou, parecendo surpreso demais para articular uma frase mais inteligente.
- Foi nojento. – Harry disse.
- Totalmente... – Neville assentiu de novo. Dino cruzou os braços e falou:
- Isso é que desespero para conseguir um par... Malfoy realmente deve estar com a bola baixa...
- Isso não é desculpa para fazer aquilo! – Neville finalmente conseguiu juntar mais de uma palavra numa frase. – Aquilo foi chantagem!
- Sinceramente... Deu pena da Willians, mesmo ela sendo esquisita...
Harry não pôde deixar de concordar intimamente. Um silêncio caiu sobre eles até que Dino resolvesse falar mais uma vez:
- Bem, vamos esquecer isso e aproveitar nosso baile! Eu ainda quero ganhar aquela aposta!
Neville riu, enquanto os três começaram a andar.
- Eu já tô bem na frente de vocês! Já tenho um ótimo par!
- Pois eu não tô vendo ele... – Dino provocou. Harry deu uma risadinha baixa.
- Vou encontrá-la no Salão Principal! – Neville disse, reunindo toda sua dignidade. – Vocês vão ver! Eu vou mostrá-la a vocês!
Harry e Dino puderam constatar que realmente Neville não estava mentindo. Assim que chegaram ao Salão Principal, que estava apinhado de alunos esperando as portas se abrirem, Neville, com um enorme sorriso vitorioso, apontou para uma garota muito bonita, loira, de olhos claros, que parecia estar esperando alguém. Dino e Harry se entreolharam chocados; nenhum dos dois pensara que Neville realmente tinha um par tão bom. Neville riu e acenou para a menina:
- Ei, Bianca!
A garota se virou para ver quem a chamava e sorriu graciosamente. Acenou para Neville, que novamente sorriu vitorioso para os colegas antes de ir se encontrar com o seu par. Dino estava boquiaberto, Harry pasmo.
- Você viu isso, Harry?
- Vi sim, mas não acredito...
- Neville, hein? Surpreendente...
- Parece que a gente tá enrascado, Dino... – Harry brincou, encostando na parede descontraído. Aquela aposta toda estava realmente lhe divertindo. – Você acha que vamos conseguir encontrar um par à altura dos que têm os outros?
- Quanto a você, eu não sei... – ele retrucou, ajeitando a gola. – Mas eu tenho certeza que vou!
- Bastante confiante, você...
- Tem que ter esperança, não é? Se eu não arranjar um par, tenho certeza de que o Simas vai me encher a paciência com isso até o fim dos meus dias!
Nesse momento, as portas se abriram. Harry, que estava observando distraído se havia mais alguém desacompanhado que não fosse ele ou Dino, quase pulou de susto. Houve um certo alvoroço na entrada dos alunos, que rapidamente foi controlada pela Profª. McGonagall e por Hagrid. Dino queria entrar logo que as portas abriram, mas Harry achou melhor esperar. Quando havia poucos alunos restando, os dois entraram.
Um som alto invadiu os ouvidos de Harry. Ele rapidamente direcionou o olhar, e viu um palco montado onde as Esquisitonas abriam a festa com uma música rápida e animada, que lembrava muito o rock dos trouxas. Vários gritos excitados correram o salão, e já havia pares dançando na pista. As mesas das Casas tinham sumido. Ao redor da pista de dança havia mesas redondas, onde cabiam umas sete ou oito pessoas. Também havia mesas com barris de cerveja amanteigada e outras bebidas, cercadas por pratos com aperitivos. Do outro lado do salão estavam os professores, e lá havia outros barris com outros tipos de bebidas, que Harry supôs serem alcoólicas. A maioria dos professores ainda estavam sentados nas mesas, conversando ou bebendo. Harry quase riu ao ver Madame Pomfrey dançando com o Prof. Flitwick, que tinha que esticar os braços para alcançar as mãos da enfermeira. Alguns fantasmas também estavam presentes, esvoaçando por entre os alunos.
- Eu vou pegar uma cerveja amanteigada para esquentar! – Dino falou animado, e Harry o seguiu. Enquanto o colega enchia sua caneca, Harry olhou curioso para uma bebida vermelho-sangue que estava intocada.
- O que é isso?
Dino olhou e riu.
- "Bafo de dragão". Eu já bebi uma vez, até que é gostoso. Experimenta.
- Com esse nome, você tem certeza de que é mesmo bom?
- Veja por si mesmo, ora.
Um pouco hesitante, Harry resolveu experimentar e encheu o copo até a metade. Saía um vapor avermelhado da bebida. Dino o incentivava a beber, enquanto entornava a caneca de cerveja amanteigada. Harry deu o primeiro gole e quase cuspiu o líquido.
- É forte! – disse, batendo a mão no peito.
- Espera alguns segundos. – Dino aconselhou e, para surpresa de Harry, ficava na boca um gosto exótico, mas muito gostoso.
- Ei, isso é bom!
- Agora bebe de novo!
Harry deu um outro gole e agora a bebida parecia mais agradável ao paladar. Era um gosto estranho, parecia refrigerante misturado com cerveja, porque ao mesmo tempo era amargo e doce. Harry encheu o copo até a boca, e ele e Dino começaram a caminhar pelo salão.
Dino certamente teria um torcicolo depois desse baile, já que ele não parava de virar a cabeça de um lado para outro à procura de um par que lhe agradasse. Harry preferia observar as pessoas. As Esquisitonas agora tocavam uma música um pouco mais lenta, o que fez com que mais professores entrassem na pista. Dumbledore dançava muito sorridente com a Profª. McGonagall. No centro da pista, Harry ficou enjoado ao ver Draco Malfoy dançando com Katherine Willians como se estivesse exibindo-a em algum concurso.
- Ei, Harry!
O rapaz olhou para ver quem o chamava, e viu Hermione acenando para ele de uma mesa onde estavam ela, Rony, Simas e Lilá. Harry cutucou Dino e mostrou para ele a mesa. Os dois se dirigiram até o lugar.
- Ainda procurando um par, vocês dois? – Simas provocou assim que os colegas sentaram na mesa. Rony riu, enquanto as meninas pareciam confusas.
- Eu, particularmente, estou fazendo uma seleção, entendem? – Dino falou.
- Isso é desculpa sua. – Rony disse.
- Ah, francamente, vocês falam de garotas como se fôssemos um prêmio, ou coisa assim! – Hermione protestou. – Que coisa sem graça!
- Ei, Lilá, você sabe se a Parvati já tem par? – Dino perguntou.
- Já, pode esquecer, ela foi com um menino muito lindo da Corvinal... – Simas olhou cheio de ciúmes para a namorada. Dino suspirou desanimado.
- Quer dizer que você também está à procura de um par, Harry? – Hermione perguntou. – Fico feliz que esteja se animando para alguma coisa...
- É, quem sabe a noite não possa ser divertida, no final das contas... – o rapaz divagou, bebericando seu bafo de dragão, que agora parecia extremamente picante.
- AH!
Todos olharam assustados para Dino.
- O que foi, criatura? – Lilá perguntou horrorizada.
- Quem é aquela garota? – ele perguntou, apontando para uma menina morena que usava um vestido azul colado ao corpo e que estava pegando ponche numa mesa próxima.
Hermione e Lilá olharam imediatamente para a menina, e se viraram de volta com expressões idênticas de reprovação nos rostos. Foi Hermione que falou primeiro:
- Larissa Hamilton. Corvinal.
- Uma tremenda galinha. – Lilá completou.
- Não importa! – Dino falou, batendo na mesa. – Por um dia só não tem problema, ela vai ser meu par!
E ele largou sua cerveja amanteigada e saiu decidido da mesa, deixando os outros abobados. Em um instante, as cinco cabeças dos colegas se viraram, e eles puderam ver Dino abordar a garota e, em poucos segundos, os dois já estavam na pista de dança.
Simas, Rony e Harry se entreolharam imediatamente. Ambos concordaram que Dino tinha feito uma boa escolha, a garota era realmente bonita. Numa voz de provocação, Simas falou:
- Agora só falta você, Harry...
- Falta pra quê? – Hermione perguntou desconfiada.
- Para arranjar um par no baile, Mione... – Rony respondeu visivelmente sem graça.
- Ah, tá...
- O baile só está começando... – Harry falou, dando mais um gole na bebida, que agora tinha um gosto adocicado.
As Esquisitonas começaram a tocar outra música, bem mais animada que as duas anteriores, e Simas convidou Lilá para dançar. Rony e Hermione preferiram esperar a próxima música, e Hermione falou, parecendo curiosa:
- Você parece bem mais animado, Harry... Aconteceu alguma coisa em especial?
Rony quase engasgou com sua cerveja amanteigada.
- Nada, não, Mione... – Harry respondeu. – Só achei que já que eu ia vir mesmo, teria que aproveitar a noite.
- Fico feliz por você. – ela respondeu, olhando intrigada para o namorado. – Você tá bem, Rony?
- Ótimo.
Harry transformou rapidamente uma risada em um acesso de tosse.
- Você precisa cuidar dessa tosse, Harry. – Hermione falou.
- Sim, sim, Mione...
Mas Harry ficou meio indeciso se a amiga tinha caído mesmo na encenação. Realmente não era legal enganá-la, mas Rony estaria bastante encrencado se a garota descobrisse a aposta.
Na próxima música, Hermione já estava impaciente e batia os pés no chão, compassadamente. Harry tinha que se segurar para não rir da cena. Rony não parecia muito a fim de dançar, e Harry sabia o porquê. Simplesmente, Rony não sabia dançar. E estava morrendo de vergonha de dar vexame. Mas Hermione não parava de lançar olhares a ele. Quando a música terminou, Hermione se levantou nervosa e falou:
- Rony, se você não me convidar AGORA para dançar, eu danço com outro! – Rony engoliu em seco e não disse nada. A garota, muito vermelha, bufou de raiva e se virou para Harry: - Harry, você quer dançar comigo?
- E-eu? – Harry gaguejou.
- Ah, isso não! – Rony disse levantando-se de supetão. Harry percebeu que o amigo se lembrou das regras da aposta. – Er... Vamos dançar, Mione... – as orelhas dele estavam muito vermelhas, e ele olhava para Harry como se pedisse socorro.
- Ah, bom! Pensei que nunca fosse falar! – Hermione disse muito irritada, puxando Rony pelo braço. Ele ainda lançava olhares desesperados para Harry, que disse:
- Deixa ela te conduzir!
Mas, no meio de todo aquele barulho, ele realmente duvidou que Rony tivesse ouvido. Rindo, ele observou os amigos dançarem. Hermione tinha muita desenvoltura, mas Rony era lamentavelmente desajeitado. Harry riu e parou de olhar. Correu os olhos pelo salão e viu Peta e Colin dançando com exuberância, fazendo com que as pessoas ao redor se afastassem. Hagrid dançava com a Profª. Sprout, e Harry quase soltou uma gargalhada ao ver um Snape indignado dançando com uma alegre Profª. Sinistra.
Harry ainda permaneceu alguns minutos a mais na mesa, terminando sua bebida, que estranhamente o deixava bastante elétrico. Somente agora que realmente estava pensando se não tinha sido besteira ter entrado naquela aposta... Não tinha par e, ao mesmo tempo, não tinha cara-de-pau de abordar uma garota e convidá-la. Além disso, não fazia seu tipo convidar uma garota só por convidar... Podia ser besteira, mas ele se achava um pouco romântico. Não via graça em ficar com uma garota sem gostar dela... Achava isso muito... vazio. Talvez estivesse perdendo seu tempo... se bem que pelo menos estava distraindo a cabeça depois de muitas semanas.
- Oi, Harry!
Ele levantou os olhos, saindo de seus pensamentos, e viu Cho Chang, uma bonita garota japonesa do sétimo ano pela qual ele já teve uma certa "queda". Ela estava suada e ofegante de dançar.
- Oi, Cho. Esteve dançando?
- Estive sim. – ela respondeu, sentando-se.
- E então, qual o seu par?
- Flávio Montgomery. Você o conhece, é o capitão do time da Corvinal.
- Ah, sei... – Harry falou, lembrando-se de uma vez que jogou contra ele.
- Ele foi buscar umas bebidas... – ela sorriu. – Estamos namorando, sabe?
Harry sorriu sinceramente.
- Que ótimo, fico feliz por você, Cho!
- É, resolvi dar uma chance a mim mesma... Mas... – ela franziu as sobrancelhas. – E você, Harry? Está sem par?
- Por enquanto. – ele respondeu divertido, mas duvidando de suas próprias palavras.
- Ah, certo... – ela acenou para um garoto do outro lado do salão. – Eu vou lá com o Flávio. Espero que se divirta, Harry. – disse, levantando-se.
- Você também, Cho.
E ela foi embora também, deixando Harry sozinho novamente. O rapaz suspirou desanimado. Passaram-se alguns minutos até que resolvesse levantar e pegar algo para beber. Quando chegou à mesa das bebidas, ele viu o tal do "Bafo de dragão", mas resolveu mudar para a boa e velha cerveja amanteigada dessa vez. Estava enchendo uma caneca, quando ouviu uma voz rouca chamando-o ao seu lado. Ele conhecia aquela voz. Virou-se e deu de cara com o rosto de Samantha Stevens.
Harry não pôde deixar de reparar em como ela estava deslumbrante. Não usava aqueles costumeiros vestidos negros, e sim um de cor de vinho tinto, que colava ao seu corpo e realçava suas formas. O decote era ousado como sempre, mas seus cabelos estavam arrumados de uma forma diferente: uma trança longa, traçada com fios prateados, que ia quase até a cintura e dava ao seu rosto um certo tom inocente, que era desmentido pelos seus olhos e o sorriso misterioso. Ela, novamente, tinha aquele olhar que tanto o incomodava, aquele olhar que parecia penetrar dentro de seus pensamentos, que parecia ver o que ele estava sentindo... Harry engoliu em seco, mas não desviou seus olhos dos dela.
- Sozinho, Harry? – ela perguntou com aquela voz rouca.
- É... Estou sem par...
- Eu também. – ela respondeu, levando à boca fina a taça de champanhe que segurava e dando um grande gole na bebida. – É uma pena, eu queria tanto dançar...
Harry sentiu o estômago afundar alguns metros, e quase engasgou com a cerveja amanteigada, assim como Rony tinha feito alguns minutos antes. Ela não estava insinuando nada, estava? Era melhor fingir que não tinha ouvido... Ele levantou a cabeça, observando o teto estrelado. A lua cheia cintilava.
- Er... a festa está bem bonita, não é?
- É mesmo. – ela respondeu. – Já houve um baile como esse aqui, não é?
- Sim, foi no mesmo ano do Torneio Tribruxo.
- Sei... Mas esse baile poderia ser um pouco mais interessante...
Harry preferiu ignorar que ela estava lhe olhando daquele jeito novamente. Ele se preocupou em beber a cerveja amanteigada, que já estava quase acabando. Sentia-se bastante desconfortável, e sua cabeça começou a trabalhar freneticamente pensando numa forma de sair dali. Mas nenhuma idéia surgiu, até que o momento que ele temia chegou. Samantha, sem nenhum embaraço, perguntou:
- Você quer dançar comigo, Harry?
Ele tossiu e pigarreou alto para se controlar. Dançar? Ela estava lhe convidando para dançar? Ele estava delirando... Não, ela estava delirando! Isso era loucura, era bizarro! Ele, Harry, dançar com ela? Uma professora? Justamente essa professora? Justo a mulher que Sirius repetia cinco mil vezes de que era para ele se afastar? Ele olhou para ela, que o encarava pacientemente à espera de uma resposta. Engasgando, ele perguntou:
- Eu? Dançar?
- Sim, está vendo mais algum "Harry" por aqui? – ela retrucou impaciente.
- Mas... professora...
- Ah, que mania a sua de me chamar assim! – ela sorriu e prosseguiu mais brandamente. – Aqui não sou sua professora, sou apenas "Samantha", ok?
- Sim, mas é que...
- Não tem problema nenhum dançarmos, Harry! E eu estou tão ansiosa para me mexer um pouco... e essa música que está tocando é maravilhosa...
Ela se virou para olhá-lo novamente, um olhar tão suplicante e, ao mesmo tempo, tão firme e determinado, que ele não conseguiu resistir. Colocou a caneca de lado, e estendeu sua mão pedindo a dela. Samantha sorriu sedutoramente, e aceitou a mão dele, tocando-a de leve. Por um segundo, Harry sentiu sua cicatriz arder, e respirou mais forte. Ela não notou. Estava mais interessada em manter o contato com os olhos dele, aquele brilho estranho no azul das orbes. Harry piscou e desviou os olhos, conduzindo-a para a pista de dança.
Algumas cabeças se viraram para olhá-los, principalmente quando eles se posicionaram na pista. Samantha logo posicionou a mão livre de Harry na cintura dela, e o rapaz sentiu um arrepio ao tocá-la. Ele estava terrivelmente nervoso, sentia o suor frio nos cantos do rosto, e sua mão escorregava na dela, de tão suada que estava. A respiração dele estava ligeiramente descompassada e, por sua vez, ela parecia estar se divertindo de causar essas sensações no rapaz. Samantha segurou sua mão na dele, posicionando a outra em seu ombro, e começou a conduzi-lo ao ritmo da música, que era lenta e delicada. As luzes estavam fracas, fazendo com que o lugar estivesse à meia luz, de forma que Harry conseguia ver o azul dos olhos dela cintilando naquele ambiente soturno. Ela o girava com graça, e Harry pôde perceber que ela realmente sabia dançar. Ele nem precisou se preocupar em não pisar nos seus pés ou nos dela; a mulher dançava tão bem que o contagiava a dançar bem também, como se estivesse sob o efeito de alguma poção. Era como se aqueles olhos azuis misteriosos e aquele perfume forte e embriagante dela dessem-lhe forças para dançar sempre melhor, e nunca querer parar. Ele não conseguia desgrudar o olhar dela, dos seus olhos mais precisamente... era como se estivesse totalmente enfeitiçado por aquele brilho...
Harry estava completamente ciente de que as pessoas os observavam, mesmo que ainda estivessem dançando. Mas ele não podia ver direito seus rostos, já que só conseguia ver Samantha à sua frente. De relance, viu um Simas boquiaberto olhando para ele enquanto dançava com Lilá. Malfoy tinha desistido de se exibir com seu par e, na realidade, parecia surpreso demais até mesmo para dançar, e Willians aproveitou para se desvencilhar dele. Rony e Hermione dançavam girando rapidamente para dar chance de ambos verem o que Harry estava fazendo. Até mesmo alguns professores os observavam: Dumbledore tinha um olhar preocupado, assim como a Profª. McGonagall, e os dois conversavam entre si enquanto dançavam. Snape, que não estava dançando, tinha um olhar nostálgico no rosto; mais do que isso, essa nostalgia demonstrava também raiva e ressentimento, quase como se ele estivesse vendo algo que já vira antes...
Samantha se afastou levemente, e Harry percebeu a deixa. Eles se separaram, e Harry, ainda segurando a mão dela, girou-a, para depois os dois se juntarem novamente. Era incrível como ele sabia o que fazer e tinha perdido todo o nervosismo. Era só olhar para ela, para seus olhos azuis, que ele perdia toda a timidez e se deixava levar. Não importava que o olhar dela tivesse aquele brilho inquietante, não importava que a sua cicatriz ardesse de vez em quando... Só importava que ele estivesse dançando com ela, sentindo a música, sentindo a magia...
Eles estavam muito próximos agora. Harry sentia mais do que nunca aquele perfume forte invadir suas narinas, e não conseguia desviar seus olhos dos dela nem por um único segundo. Ele sentia a pele fria dela na sua mão molhada pelo suor, e se arrepiava ao tocar as curvas dela na cintura... O seu estômago revirava e parecia que havia uma pedra de gelo ali, mas isso não era importante. Seu coração batia tão rápido que chegava a doer em seu peito. Seus pêlos da nuca estavam arrepiados, e ele sentia as gotas de suor escorrendo nas suas têmporas, a cicatriz ardendo de tempos em tempos. A sua franja estava começando a grudar na testa suada, e sua mão escorregava na dela, mas ele mesmo forçava-se a continuar e a segurá-la com firmeza. Eles giravam no mesmo lugar, a música lenta e a meia luz os conduzindo...
- Você é tão atraente quanto seu pai, Harry. – ela disse com aquela voz rouca de sempre.
- Você acha? – ele não se preocupou com seu pai naquele momento, se preocupava somente com o que ela achava dele, Harry.
- Talvez você seja mais atraente, até...
Harry não conseguiu reprimir um sorriso, e recebeu um de volta. Dessa vez, excepcionalmente, o sorriso nos lábios finos dela chegava aos seus olhos, que cintilavam refletindo as estrelas no teto encantado. Ele estava começando a ficar tonto com aquele perfume, mas não deixava de olhá-la, mesmo que aquele brilho o incomodasse tanto. Sua cicatriz deu uma outra pontada, mas ele novamente não se importou. Não queria ouvir seus pensamentos, mas um fiozinho de razão parecia lutar contra a vontade de Harry em adormecê-lo:
"O que eu estou fazendo? Isso é loucura, por que estou dançando com ela? E por que não quero parar? Por que estou gostando tanto? Fique longe dela... não, eu não consigo... Eu quero estar aqui, quero dançar com ela... Por que estou suando? Porcaria de cicatriz que não pára de encher o saco! Por que ela me olha desse jeito? E por que o perfume dela é tão bom, mesmo sendo tão forte? Estou tão gelado quanto ela, isso é nervosismo? Droga, e se ela perceber que eu estou nervoso? Não, eu não estou nervoso. Isso não significa nada, ela também está gelada... Isso é loucura, eu tenho que parar! Mas não posso parar no meio da música! Meu Deus, as pessoas estão olhando! Droga, não dá para eles virarem o rosto, não? Por que eu tô fazendo isso? Isso não deve estar acontecendo, não é possível! É loucura, eu estou enlouquecendo! Por que não consigo desviar o olhar? Por que eu quero ficar aqui e dançar? Por quê?"
Contudo, tanto seus pensamentos, como a dança, foram interrompidos bruscamente pelo fim da música. Eles se separaram, e Harry não sabia se ficava aliviado ou chateado. Tinha sido tão bom, mas ao mesmo tempo tão... estranho... Todos no salão estavam batendo palmas freneticamente para as Esquisitonas, muitos pedindo bis. Harry batia palmas vagamente, ainda olhando um tanto embaraçado para Samantha, que tinha um grande sorriso no rosto, aquele mesmo sorriso enigmático de sempre. Ela não olhava para ele. Harry encarou o chão, e depois levantou os olhos para ver as Esquisitonas reverenciando o público e se ajeitando para novamente tocarem. Sem pensar no que fazia, Harry se afastou, e ainda pôde ver Samantha olhando-o de esguelha. Mas ela não disse ou fez nada para impedi-lo de ir embora, e ele agradecia por isso; não saberia o que explicar se ela lhe perguntasse algo.
Harry foi andando sem saber aonde ir, desviando-se das pessoas que começavam a dançar novamente. Sua cabeça estava uma confusão completa, e o pior era que ela doía, latejava de dor... Não era mais a cicatriz, era a cabeça toda que estava dolorida. Seu corpo inteiro estava quente agora, não mais gelado como antes, e o suor escorria pelo seu rosto. O cabelo estava totalmente molhado pelo suor, e a gola das suas vestes parecia sufocá-lo. Respirando descompassado, ele chegou perto de uma mesa de bebidas e procurou por algo para se acalmar. Mas só havia cerveja amanteigada, que era quente demais, e aquela outra bebida, "Bafo de Dragão", que parecia ter sido bebida somente por ele mesmo, porque o barril ainda estava cheio. Mas nenhuma das duas servia, ele precisava de algo gelado. Procurou mais um pouco e finalmente encontrou uma jarra de suco de abóbora. Encheu um copo inteiro e, quando foi levá-lo à boca, viu que sua mão tremia.
As pessoas dançavam animadamente na pista, ao som de uma música rápida. Novamente o ambiente estava claro, as luzes tinham voltado a ser fortes. Harry sentia que precisava sair dali senão sufocaria... Deixou o copo na mesa e saiu quase correndo dali, indo na direção dos jardins. O hall de entrada estava completamente deserto, e ele se apressou em abrir uma fresta nas portas de carvalho para sair.
Nos jardins, o clima estava bastante frio, mas não nevava. Ainda havia neve sobre a grama, mas ela já estava mais baixa do que à tarde. Harry pôde ver alguns poucos casais que aproveitavam o jardim para ficarem sozinhos. Começou a andar sem rumo, procurando um lugar para sentar e pensar. Chegou à cabana do Hagrid, e sentou nos degraus de pedra que levavam à porta da casa. O céu real não estava estrelado como o do Salão Principal, mas a lua cheia era de verdade, ligeiramente encoberta pelas nuvens.
Harry encostou sua cabeça no batente da porta, olhando o céu vagamente. O que ele tinha na cabeça para ter feito aquilo? Droga, não deveria ter aceitado dançar com ela! Por que fizera isso? Sentia como se estivesse brincando com fogo... e aquilo não era brincadeira! Sirius falava tanto para ele se afastar dela, e ele não obedecia! Ah, Sirius... tinha esquecido completamente dele... Ainda tinha mais, Sirius ainda gostava de Samantha, e agora Harry havia dançado com ela, e dançado daquele jeito! Isso não estava nada bom, estava péssimo! Como encararia Sirius agora? Certamente o padrinho ficaria muito decepcionado... ainda mais, ele ficaria magoado... Droga, por que tinha feito isso? Porcaria de cabeça que não parava de doer!
Ele fechou os olhos, sentindo ainda mais a dor na sua cabeça aumentando. Dava a impressão de que ela iria explodir se não fizesse algo... Uma imagem surgiu na sua cabeça... ele viu um homem, de cabelos compridos... sujo... e sentiu uma raiva enorme dele... viu a si mesmo partindo para cima do homem... viu outras pessoas... um homem se transformando em lobo... um se transformando em rato e fugindo... dementadores...
Ao abrir seus olhos novamente, Harry sentiu mais do que nunca a cabeça latejar e, no seu coração, reviveu a frustração e a tristeza que essa lembrança carregava.
Harry entrou pela passagem do retrato da Mulher Gorda rezando para que não encontrasse ninguém no salão comunal. Tinha passado muito tempo nos jardins, tanto que o baile já tinha terminado, mas ele sabia que ainda havia alunos espalhados por todo o castelo sem a mínima vontade de ir para a cama. E não queria encontrar ninguém. A cabeça ainda doía um pouco, mas não tanto quanto outrora. Tudo que ele mais queria era deitar na sua cama e dormir direto até o dia seguinte...
Felizmente, suas preces pareciam ter sido ouvidas, e não havia absolutamente ninguém no salão comunal da Grifinória. Harry subiu os degraus para os dormitórios masculinos de dois em dois, rapidamente chegando ao seu quarto. Porém, ali não teve tanta sorte como antes. Ouviu vozes vindas de lá de dentro, mas não teve outra alternativa senão entrar. Simas, Dino e Neville estavam no quarto, trocando as vestes a rigor pelos pijamas. Assim que Harry abriu a porta, Simas falou irônico:
- Vejam só quem chegou! O par da Profª. Stevens!
Harry fechou a porta atrás de si e não respondeu. Não estava com a mínima vontade de comentar o assunto, e seguiu em silêncio para sua cama, sentando na beirada e começando a tirar os sapatos.
- Para quem não queria arrumar um par, você até que arranjou um par muito bom, não é, Harry? – Simas provocou novamente. – Como você fez? Chegou para ela e a convidou? Assim, sem mais nem menos?
Harry levantou os olhos irritado, e jogou os sapatos que tinha acabado de tirar para longe. Depois de um longo suspiro, ele falou:
- Foi ela que me convidou.
- Ela? – Neville repetiu incrédulo.
- Você tá brincando... – Dino completou.
- Tô falando sério, foi ela.
- Mas e aí? – Dino perguntou. – Foi bom?
- Do que você tá falando?
- Oras, não se faça de inocente, Harry! – Simas disse. – Você só dançou com a professora mais linda que já pisou aqui em Hogwarts! O péssimo é que isso significa que você ganhou a aposta...
Harry se largou na cama. Aposta? Nem lembrava mais dessa besteira... Neville queria começar a dizer algo, mas sua voz foi sufocada por gritos que vinham do salão comunal:
- RONALD WEASLEY! VOCÊ FEZ O QUÊ?
Rapidamente, Harry se sentou de novo. Neville fechou a boca, esquecendo completamente o que iria dizer. Simas e Dino tinham os olhos arregalados. Harry não precisou pensar muito para saber de quem era aquela voz: Hermione.
- EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO! COMO VOCÊ PÔDE, EU PENSEI QUE VOCÊ FOSSE DIFERENTE!
Também não foi preciso usar muito os miolos para juntar dois mais dois e perceber que a garota deveria se referir à aposta... Só podia ser isso. Ela devia ter descoberto... Hermione não era idiota, ela percebia quando algo estava errado...
- HERMIONE! VOLTA AQUI, MIONE!
Era a voz de Rony. Porém, logo sua voz também cessou. Harry olhou para seus colegas, e os outros três lhe devolveram olhares extremamente assustados. Simas falou amedrontado:
- Ela descobriu...
A porta do dormitório se abriu, e um Rony totalmente desanimado e acabado entrou. Ele nem ao menos olhou para os colegas e foi direto sentar na sua cama, colocando a cabeça entre as mãos. Harry se levantou e sentou ao lado do amigo, apoiando a mão no ombro arcado dele, num gesto de apoio. Os outros não disseram nada, apenas observavam.
- A Mione descobriu? – Harry perguntou.
Rony assentiu e levantou a cabeça, olhando para Harry com uma expressão chorosa.
- Você sabe como ela é, ela não deixa nada passar... Não tive como esconder, ela acabou dando voltas e voltas, e me fez falar...
- Você o quê? – Simas perguntou. – Você falou?
Rony assentiu novamente. Simas parecia inconformado.
- Você tá maluco, por acaso, Rony? E se ela contar para a Lilá?
- Eu não tive escolha, tá legal? – Rony retrucou irritado. – Não tive como não contar, a Mione é esperta, ela conseguiu me fazer falar! Eu não queria, tá?
- E você foi burro!
- Vai com calma, Simas! – Harry gritou, levantando-se. Neville e Dino pareciam não saber o que fazer. – Pega leve! Você não vê que o Rony tá mal? Se alguém aqui foi burro, fomos todos nós em termos essa idéia idiota de apostar! Foi uma brincadeira de mau gosto!
- Mas você bem que aceitou, né? – Simas retrucou. – E parece que entrou para ganhar, porque escolheu bem a Prof. Stevens para seu par!
- Você não sabe do que está falando!
Simas bufou irritado e caminhou até o armário, se esticando todo para pegar o saquinho roxo que continha os cinco galeões. Quando conseguiu pegá-lo, ele o atirou para Harry, que levou um susto, mas conseguiu apanhá-lo.
- Isso é seu... Você ganhou...
- Eu não quero isso! – Harry atirou, irritado, o objeto para Simas, que o apanhou no susto também.
- Você não tem que querer. Já fez tudo, não foi? Já dançou com a Prof. Stevens, a mulher mais bonita da festa! Devíamos ter colocado também uma regra proibindo que se pudesse escolher professoras como pares, mas agora já era!
Ele atirou novamente o saquinho para Harry, que estava completamente estupefato com tudo aquilo. Dino e Neville compartilhavam disso. Rony observava tudo quieto, parecendo chateado demais para dizer alguma coisa.
- Já falei que não quero isso! – Harry disse furioso, abrindo o saquinho e tirando as moedas de lá. Guardou uma no bolso, e distribuiu as outras, fazendo questão de jogar a de Simas na cara dele. – EU NÃO QUERO, ENTENDEU? Foi idiotice, foi besteira, foi uma coisa estúpida a se fazer! Eu não ganhei, ninguém ganhou! Todo mundo saiu perdendo, se você quer saber! E vamos parar com essa discussão idiota porque eu já tô de saco cheio e quero dormir!
Dizendo isso, ele se enfiou na sua cama, fechando o dossel para não ver ninguém. Deitou olhando o teto, sem conseguir pregar os olhos, devido à adrenalina que corria no seu sangue e o deixava totalmente acordado. Ouviu o som dos outros terminando de se trocar e entrando nas suas camas também. O silêncio caiu no quarto e, por muitos minutos, Harry permaneceu paralisado, apenas encarando o teto. Demorou muito até que se acalmasse e resolvesse abrir o dossel para se trocar, afinal ainda estava com a roupa de festa. Porém, assim que arrastou as cortinas, viu Rony sentado na sua cama, ainda vestido, encarando vagamente a cama do amigo. Ele olhou Harry, parecendo muito chateado.
- Estava pensando se você ainda estaria acordado.
Harry percebeu que ele precisava de apoio. Os olhos dele estavam inchados, e ele parecia totalmente desanimado de tudo. Respirando fundo, Harry perguntou:
- Você quer conversar?
Rony o encarou com tristeza e assentiu, mas não disse nada.
- Foi tão sério assim com a Mione?
- Muito sério... – a voz dele estava tremida e embargada. – Ela ficou furiosa, disse que não era um prêmio ou coisa assim para estar envolvida numa aposta... Mais que furiosa, ela ficou desapontada comigo...
- Mas vocês se gostam, Rony... – Harry não sabia o que dizer, e ao mesmo tempo queria muito ajudar o amigo. – Ela vai acabar te perdoando...
- Eu não sei... O pior é que eu sei que ela tem razão, ela tem motivos para ficar chateada...
- Tem, mas... isso vai passar, Rony. Ela vai esquecer, vocês vão se acertar...
- Mas e se isso não acontecer? – a voz dele estava quase morrendo, e ele parecia fazer muito esforço para não chorar.
Harry se levantou e sentou ao lado do amigo. Colocou a mão no ombro dele, encarando-o nos olhos.
- Vai acontecer, Rony. Vai acontecer.
Rony não disse nada, e Harry também preferiu permanecer em silêncio. Em seu íntimo, ele esperava que a briga de Rony e Hermione tivesse um fim diferente da dele e de Gina...
