N/A: Esse capítulo é dedicado à minha querida amiga Any, por ser tão legal comigo e também como presente de Natal adiantado... :D

Esse é um capítulo bem... original. Espero que gostem ;) Bjks

Capítulo Dezenove – O feitiço Materialius

- Eu não acredito! – Hermione gritou eufórica, levantando-se num salto e praticamente se jogando em cima de Rony em um abraço apertado.

- Mione, você vai sufocá-lo! – Harry riu, enquanto se levantava e observava Rony tentando respirar entre os cabelos cheios da namorada.

- Desculpa... – ela disse, se afastando do abraço, mas ainda segurando as mãos de Rony nas suas. Por sua vez, ele parecia hipnotizado olhando para ela. – Acho que me empolguei... – ela completou, envergonhada.

- Eu também estava com saudades. – Rony falou, sem desgrudar os olhos de Hermione.

- Percebo que estou sobrando! – Harry brincou, fingindo estar indo embora.

- Fica aí! – seus dois amigos disseram juntos.

Rony se desvencilhou por um minuto da namorada, e ele e Harry abraçaram-se como irmãos.

- Também senti sua falta, cara. – Rony falou, dando um soco no braço de Harry, que sorriu.

- Mas como você chegou? Desde quando está aqui? Por que demorou tanto? – Hermione perguntou tudo ao mesmo tempo e muito rápido. – E por que está tão abatido? – ela perguntou com preocupação.

- Uma pergunta de cada vez, Mione. – Rony riu e segurou a mão dela.

- Ok, então responda por partes. – Harry falou, enquanto os três se sentavam em círculo.

Rony sorriu levemente.

- Eu cheguei hoje mesmo, há bem pouco tempo. Antes de vir aqui só passei no meu quarto para deixar as minhas coisas, pensei que encontraria vocês na sala comunal, mas depois lembrei que deveriam estar aproveitando a tarde livre nos jardins. A torre estava completamente vazia.

- Mas eu ainda não entendi como...

- Por que você não me deixa explicar, por favor, Mione? – Rony disse em tom brincalhão. Hermione fez um bico, mas tentou controlar sua excitação depois disso. Harry não pôde deixar de sorrir ao ver essa cena.

- Como eu estava dizendo... – ele recomeçou. – Cheguei hoje, vim no Nôitibus Andante. Como não havia ninguém realmente disponível lá em casa para me acompanhar, e minha mãe não queria de jeito nenhum que eu viesse sozinho... – Rony fez uma careta. - ...a Profª. McGonagall desaparatou na Toca e me acompanhou até aqui. Então vocês imaginam como a viagem foi divertida; se eu falei três palavras durante todo o caminho foi muita coisa. E além disso ela parecia estar bastante aborrecida com alguma coisa.

- Mas ela mesma me disse que não sabia que você viria. – Harry falou.

- Ninguém sabia. Nós resolvemos de última hora lá em casa, e aí meu pai mandou uma carta para o Dumbledore avisando e combinando tudo. – Rony suspirou. – O diretor foi realmente muito legal com a gente esse tempo todo... Ele cuidou de muita coisa que seria muito complicado para a gente no meio disso tudo.

- Ele é mesmo um grande homem, como o Hagrid diz... – Harry comentou.

- Mas por que vocês resolveram tudo de última hora? – Hermione perguntou. – Aconteceu alguma coisa?

- Bem, acho que contei para vocês na minha última carta que eu estava me revezando com a minha mãe no hospital, porque não tinha mais ninguém para ficar lá. – Harry e Hermione assentiram, e a garota reclamou:

- Aliás, essa carta foi há muito tempo... Pensei que tivesse esquecido de mim...

- Eu nunca me esqueceria de você, Mione... – Rony sorriu, e se aproximou do rosto da garota para beijá-la. Harry preferiu olhar o céu e fazia sons de impaciência só para encher a paciência deles.

- Tá bom, pode voltar, Harry... – Hermione falou, e quando ele abaixou a cabeça para ver os amigos, viu a amiga muito corada e Rony bastante sorridente.

- Depois vocês fazem isso, porque eu detesto passar por "vela". – Harry brincou, e os amigos riram.

- Então, como eu dizia, não deu para mandar nada para vocês porque eu realmente não tinha tempo nem cabeça para escrever... – Rony recomeçou. – Eu e minha mãe nos revezávamos no hospital, porque, vocês sabem, não é legal deixar um parente sozinho num lugar como esse...

- Vocês estavam certos. – Hermione comentou. – Eu me lembro que quando eu era pequena, uma vez, minha avó materna ficou doente, e minha mãe não deixava ela sozinha de maneira alguma...

- Pois é. – Rony concordou tristemente. O clima de descontração que eles tinham construído estava desmoronando aos poucos. – Foi isso que nós fizemos, mas meus pais achavam que eu também não podia ficar longe da escola para sempre... Eu fiquei meio dividido, queria voltar, mas também não queria deixar eles lá sozinhos agüentando essa barra.

- Mas eles não estão sozinhos, Rony. Sua família é grande, tem muita gente para ajudar.

- Eu sei, Mione, mas mesmo assim eu sempre sinto que preciso ajudar de alguma maneira. Eu quero, entendem?

Harry assentiu. Sentia-se dessa maneira muitas e muitas vezes.

- Mas de qualquer maneira eu acabei voltando. Carlinhos conseguiu uma licença no seu trabalho, e ele veio para ajudar. Gui também está tentando, mas aqueles duendes do Egito são realmente burocráticos. Quando o Carlinhos veio, meus pais disseram que não havia mais motivo para que eu perdesse mais aulas, ou acabaria perdendo o ano letivo também...

- Nisso eles estão certos. – Hermione interrompeu. – Você já perdeu muita coisa, Rony, e...

- Mionezinha, por favor, não me lembre de estudo agora! – Rony implorou. Harry riu.

- Ela copiou cada palavra que os professores disseram durante esse tempo, Rony. – Harry falou sarcástico. – Não precisa se preocupar.

- Eu realmente imaginei que isso fosse acontecer... – Rony lamentou em tom de brincadeira, o que fez Hermione ficar ligeiramente aborrecida.

- E ela me fez copiar também.

- Claro, eu não ia copiar sozinha!

Rony riu e suspirou, soltando por um instante a mão de Hermione para se apoiar com ambas as mãos no chão às suas costas, observando o céu, que assumia um tom vermelho pálido. O sol se punha atrás das colinas ao longe, e havia um clima tranqüilo no lugar, sendo adornado pelo som da brisa de fim de inverno agitando as copas das árvores. Impossível imaginar que tanta coisa ruim estava acontecendo no mundo fora dos terrenos de Hogwarts.

Ou até dentro deles.

- Estava sentindo falta disso. – Rony falou, fechando os olhos, sentindo a brisa na sua face. Hermione o olhou um tanto apreensiva. – É incrível como damos mais valor à vida quando uma coisa dessas acontece.

Harry sentiu assim que as palavras foram ditas o quanto Rony deveria estar sofrendo. No entanto, ele estava ali, firme, continuando a viver e dando valor à vida. Deveria estar sendo terrivelmente difícil passar por tudo aquilo, mas ainda assim ele resistia. Harry sentiu uma grande admiração pelo amigo, e ao mesmo tempo, um súbito sentimento de vergonha pela sua fraqueza. Sim, ele tinha sido fraco; infantil e egoísta, também. Às vezes achava que seus problemas eram maiores do que os de todos ao seu redor. Engano seu, eles não eram.

"Ninguém recebe um peso maior do que pode carregar." Onde tinha ouvido essa frase mesmo? Não importava. Talvez tivesse mesmo que passar por tudo o que passava. Talvez houvesse um motivo... Mas, pensando bem, era comum pensar que seus próprios problemas eram maior do que os de todos os outros? Isso poderia ser chamado de egoísmo, mas todos somos um pouco egoístas às vezes, não é? Não era desculpa.

- Como você ficou assim, Rony? Você emagreceu muito desde a última vez que nos vimos... – Hermione comentou com preocupação, tirando Harry de seus devaneios. Ele percebeu que tinha viajado por muito tempo, pois parecia que os amigos tinham conversado algumas coisas, e ele tinha perdido o fio da meada. Agradeceu por não terem notado isso.

Rony sorriu levemente. Harry sentia que ele estava tentando descontrair o ambiente quando disse:

- Acho que é por causa da minha péssima habilidade na cozinha.

- Você tem cozinhado mesmo? – Harry perguntou. – Disse isso na carta, que eu me lembre.

- Tenho. – Rony falou parecendo que estava perdendo toda a sua dignidade. – Não riam e, principalmente, não contem para ninguém!

- Qual o problema em cozinhar? – Hermione perguntou indignada.

- É coisa de mulher... – Rony disse muito enojado. Harry riu.

- Vocês são dois machistas! – a garota exclamou ofendida. – Isso é ridículo!

- Se te faz sentir melhor, Rony, eu também tinha que cozinhar quando morava com os Dursleys... – Harry falou.

- Ah, então você entende o meu sofrimento, amigo!

- Não posso acreditar em vocês dois! – Hermione bufou. Rony se aproximou dela e deu-lhe um carinhoso beijo na bochecha, rindo. Não pareceu diminuir a indignação da garota.

- Não vai me ganhar desse jeito, Ronald Weasley!

- Eu não preciso, já ganhei! – ele riu, abraçando-a por trás. Harry sorriu ao ver isso, mas não conseguia desgrudar os olhos dos do amigo. Eles não pareciam vivos como sempre. Eram escuros e tristes.

Ele está tentando desviar do assunto.

Mas não se podia fazer isso com Hermione Granger por perto.

- Você ainda não falou como ficou assim. – ela insistiu, aceitando o abraço dele. – Agora vou ter que te engordar, Rony!

- Não sou um porquinho para ser engordado. – ele tentou se desviar novamente.

Harry desejou que Hermione parasse de fazer perguntas. Estava claro que Rony não queria respondê-las, e Harry podia entendê-lo. Mas Hermione era obstinada.

- Por que está assim? – ela perguntou mais uma vez.

Rony suspirou profundamente, e encostou o queixo no ombro da namorada, desanimado. Ela olhava para ele de lado, e Harry tinha certeza que ela não perguntava por curiosidade, mas sim por preocupação. Mas às vezes é melhor não perguntar, mesmo que se faça isso por bons motivos.

- Ele não quer falar, Mione. – Harry decidiu intervir.

Ela pareceu ignorar o comentário do amigo.

- Se você não contar as coisas para a gente, Rony, não poderemos ajudá-lo. De que adianta ficar guardando essas coisas para você? Só vai te fazer se sentir pior, e sozinho...

- Eu não queria ficar chateando vocês com isso, nem estragar esse momento divertido lembrando dessas coisas... – ele disse com o olhar vago.

- Que besteira! – Hermione exclamou, desvencilhando-se do abraço e olhando firmemente para o namorado. – Sabe que não nos importamos com isso, queremos te ajudar, não é, Harry? – ela se virou procurando apoio no amigo.

Ele suspirou, e por um instante lembrou-se de Sirius.

- Já me senti como você, Rony. E eu geralmente converso com Sirius. Faz com que me sinta melhor... Se você quiser conversar com a gente...

Hermione observou ansiosa enquanto Rony mudava sua posição na grama, parecendo estar se decidindo. Quando a garota ia dizer algo, ele começou:

- Na verdade, não tenho dormido nem comido direito nas últimas semanas. Nos últimos dias, mais especificamente. Geralmente eu e minha mãe nos revezamos no hospital, mas essa última semana eu passei quase todas as noites lá. Ela tem andado muito cansada atualmente e, bem, vocês sabem, ela não é tão jovem quanto qualquer um de nós. Ficamos com medo que ela ficasse doente também, e todos nós resolvemos que ela deveria passar mais noites em casa. Difícil foi convencê-la, mas ela estava tão exausta que não teve como insistir mais. Às vezes meu pai e meus irmãos iam para o hospital, mas eles são realmente ocupados, então ficava complicado.

Ele fez uma pausa por alguns instantes, no qual Harry e Hermione permaneceram calados.

- Eu não conseguia dormir muito no hospital, dava umas cochiladas, mas era só. Não podia dormir também porque tinha que ficar a maior parte do tempo vigiando Gina... – ele respirou fundo. Harry sentiu que estava apreensivo pelo que o amigo estava por dizer. – Ela não tem estado muito bem esses dias. Desde a última vez não teve mais melhoras, e está... instável. Ela não tem respondido bem às doses de Poções que está recebendo e... ah, quando eu a olhava daquele jeito... Tenho medo de que ela não acorde mais...

Rony fechou os olhos, mordendo os lábios e suspirando. Hermione o abraçou em um gesto de conforto. Harry sentiu algo que não gostava de sentir; estava com pena do amigo.

- Rony... – Hermione murmurou.

- Foi por isso que eu voltei também. – ele continuou. – Minha mãe já está melhor, e quase enlouqueceu por eu estar ficando no hospital quase todas as noites. Não tínhamos contado a ela. Agora que Carlinhos chegou, ele poderá ajudá-la. Fred e Jorge chamaram Lino Jordan para substituir um deles na loja, assim os dois se revezam para ajudar também. Mas eu ainda queria estar lá com eles... me sinto um inútil sem poder fazer mais nada.

- Não fale assim! – Hermione exclamou. – Rony, você fez tudo o que podia! Mais até do que podia! Não pode continuar assim, ou vai ficar doente também! – ela o olhou com amor. – Vou cuidar de você daqui pra frente.

Rony se deitou no colo dela e fechou os olhos. Harry se virou e preferiu ficar observando o lago. Tinha anoitecido, e a superfície dele estava muito escura. Podia ouvir os barulhos distantes da agitação no castelo.

"- O que você faria se tivesse a chance de acabar com Voldemort? Nesse instante?

- Eu o mataria."

Harry cerrou os punhos inconscientemente.

"Não existem coincidências..."

- Então é essa a situação do time?

- Isso mesmo. – Harry confirmou. Ele e Rony caminhavam lentamente pelo gramado úmido do orvalho da noite, suas vassouras apoiadas em seus ombros. Era uma manhã nebulosa de sábado, mas o sol brilhava pálido atrás das nuvens.

Harry convocou um treino de última hora com os jogadores do time da Grifinória. Foi difícil achar um horário, mas a Profª. McGonagall deu um jeito; conseguiu reservar o campo pela manhã e, à tarde, seria o tempo da Lufa-lufa. Harry já tinha pensado seriamente em assistir ao treino deles, mas por outro lado achava injusto, já que nenhum treino seu foi assistido pelos oponentes. Na verdade, os únicos que geralmente espiavam treinos eram os sonserinos, que mesmo assim tinham perdido para a Corvinal recentemente, a qual estava com um time muito bom, e Harry de forma nenhuma gostaria de se assemelhar, por menor que fosse, aos sonserinos.

Para reservar o campo, Harry foi correndo à sala da Profª. McGonagall na noite de sexta. Porém, tinha outro motivo além do treino. Lembrava-se muito bem da pressão da professora sobre si para conseguir um novo goleiro, e da descrença dela de que Rony voltaria a tempo. Na realidade, Harry também chegou a duvidar disso. Mas mesmo assim ele precisava mostrar a ela que estava certo...

- Eu disse que Rony voltaria a tempo, professora.

Ela tinha acabado de anotar na sua prancheta o horário do treino da Grifinória no sábado. Seu rosto se contorceu numa careta quando ele mencionou isso. Harry sorriu por dentro.

- Tinha razão, no final, Harry. – ela falou, visivelmente aborrecida. Ele não se importou com isso, até gostou mais. – Mas foi por pouco...

- Com risco é mais gostoso... – ele sorriu vitorioso.

A professora suspirou.

- Bella estava certa. Você realmente é...

- Presunçoso? – ele perguntou.

Ela assentiu, e ele sorriu.

Mais difícil do que arranjar um horário foi convencer Peta, Colin e, principalmente, Jonnathan do treino. Eles estavam na biblioteca quando Harry os abordou:

- Outro treino?! – Jonnathan perguntou aborrecido. – Fala sério, a gente tem mais o que fazer!

Harry teve vontade de esganá-lo, mas se controlou corajosamente.

- Por que precisa de outro treino, Harry? – Colin perguntou.

- É, você não tinha dito que iríamos ter uma folga no sábado? – Peta perguntou, fechando um grosso volume sobre Herbologia.

- O Rony voltou. – Harry informou. – Precisamos treinar o time com ele.

- Dane-se o time, eu preciso passar nos N.O.M.s! – Jonnathan exclamou.

Harry o olhou com desprezo. Peta se encolheu na cadeira, como se o olhar fosse para ela.

- Se não está contente, saia do time! – Jonnathan bufou, mas não respondeu. Harry correu o olhar pelos três. – Quero todos no campo amanhã! – e saiu da biblioteca sem olhar para trás.

Convencer Dênis e Dino foi mais fácil. Dênis só não gostou da parte de acordar cedo, enquanto Dino se animou bastante com a idéia. Harry entendeu perfeitamente o porquê:

- E nada de ficar dando em cima da Peta, Dino.

- Qual é, Harry? Vai ficar controlando isso também? – ele reclamou.

- Você que sabe, mas da próxima vez o Colin arranca a sua cabeça com um balaço.

Dino engoliu em seco.

Harry e Rony já tinham chegado ao vestiário e trocado as roupas normais pelas vestes vermelhas e douradas do uniforme de quadribol. Durante todo o caminho, eles tinham vindo conversando sobre quadribol ou amenidades. Harry e Hermione tinham feito um pacto silencioso de não mencionarem Gina nas conversas a menos que o próprio Rony o fizesse. Aparentemente estava dando certo, porque ele parecia bastante disposto, ainda que meio distante às vezes. Harry preferia não comentar nada também; falar de Gina era muito difícil para ele da mesma maneira.

- Não pensei que as coisas fossem estar tão complicadas por aqui na minha ausência. – Rony comentou, referindo-se à situação do time, e brincou em seguida: - Parece que sou mesmo indispensável!

- Também não se empolga... – Harry falou, enquanto vestia as grossas luvas de couro e encostava a porta do armário com o corpo. – Mas de certa maneira... tenho que admitir que você fez falta...

Rony sorriu.

- Eu já imaginava! – ele disse orgulhoso de si mesmo, num tom brincalhão.

Harry suspirou e se encaminhou até uma caixa grande, onde estavam as bolas. Que ironia! Agora sei como a Profª. McGonagall se sente. Mas a diferença era que Rony só estava brincando...

Ele abriu a caixa e tirou uma bolinha dourada com asas de lá de dentro. Rony acompanhou Harry com os olhos enquanto ele levantava, o pomo de ouro seguro entre os dedos da mão direita, e caminhava até sua Firebolt, colocando-a sobre o ombro.

- Vai voar?

- Vou treinar um pouco. – Harry respondeu. – Com toda essa necessidade de treinar os outros eu tenho sido um pouco displicente comigo mesmo. Você vai ficar aqui?

- Tá doido? – o amigo perguntou, pegando sua vassoura também. – Eu quero voar, faz eras que eu não subo numa vassoura!

Os dois, então, se encaminharam para o campo, onde Rony ficou voando em torno dos aros, e Harry perseguindo e capturando o pomo seguidamente, sempre dando uma vantagem de um ou dois minutos para voltar a procurá-lo. Depois de quase quinze minutos, Rony gritou para Harry, do outro lado do campo:

- Eles chegaram!

Harry abaixou os olhos e viu três pontinhos na grama; não precisava forçar seus olhos míopes para saber que eram Peta, Colin e Jonnathan.

- Vai descendo que eu só vou achar o pomo! – Harry gritou e viu Rony se encaminhar para o chão.

Harry procurou com os olhos rapidamente o pomo e abriu um sorriso quando o encontrou; no lugar onde estava, lhe renderia uma boa diversão. Ele praticamente deitou no cabo da vassoura e direcionou-a para o chão. Quando estava bem próximo do grupo de jogadores, deu um giro em torno deles, fazendo com que os cabelos de Peta se agitassem e despenteassem; passou bem próximo a Jonnathan, que gritou:

- Tá maluco?

Harry pousou suavemente, descendo da vassoura enquanto Rony o olhava surpreso, assim como Peta e Colin, e Jonnathan furioso. O rapaz apenas mostrou o pomo seguro na sua mão esquerda e disse:

- Estava na sua orelha, eu tinha que pegá-lo.

- Exibido. – Jonnathan bufou. Harry não se importou, era exatamente o que queria.

- Onde estão os outros?

- Dino Thomas se apresentando, capitão! – Dino disse descontraído aproximando-se. – Olá para todos! Oi, Peta! – ele piscou para a menina, que sorriu. Colin ficou muito vermelho.

Rony observava aquilo se segurando para não rir, olhando incrédulo para Dino. Harry rolou os olhos, e perguntou antes que algo acontecesse:

- E Dênis?

- Atrasado. – Jonnathan resmungou.

Harry suspirou. Por que sempre tinha que ser complicado?

- Seria melhor se começássemos logo...

- Já sei o que fazer! – Colin disse animado, sem desgrudar os olhos de Peta e Dino. – Por que você não vai chamá-lo, Peta?

- Eu? Quem deveria chamá-lo é você! – ela reclamou. – Você é o irmão dele!

- Ok, então vamos nós dois! – ele resolveu, puxando-a pela mão sem lhe deixar alternativa. Dino ficou visivelmente desanimado.

- Eu avisei. – Harry cochichou para ele. – Por que ainda insiste?

- Ela é uma gracinha, Harry, vai dizer que não notou? – Dino perguntou indignado.

- Você diz isso de todas, Dino.

- Não de Pansy Parkinson.

- Aí seria desespero.

- Weasley, eu poderia falar com você? – Harry ouviu a voz de Jonnathan. Rony olhou intrigado para o garoto, mas respondeu:

- Claro.

Harry acompanhou com os olhos enquanto Rony e Jonnathan se afastavam para conversar. Dino comentou ao seu lado.

- Nossa, esse garoto é esquisito, não é?

- Cavendish?

- É, ele é... revoltado. – Dino contorceu o rosto numa careta. – E eu acho que ele implica comigo, sabia?

- Então você não sabe o que é implicância de verdade... – Harry lamentou, deixando Dino confuso. Ele desejou poder saber o que Rony e Jonnathan conversavam.

Não demorou muito para que Peta e Colin voltassem trazendo Dênis com uma torrada cheia de manteiga na mão. Colin se apressou em desculpar-se, mas os atrasos de Dênis estavam se tornando tão comuns que Harry nem perdia seu tempo se importando. Todos se encaminharam aos vestiários, onde Harry começou explicando a tática que usariam contra o time da Lufa-lufa. Num determinado momento, quando Harry explicava o que Colin e Dênis teriam que fazer, Jonnathan interveio:

- Eu não concordo!

"Novidade...", pensou Harry sarcasticamente.

- Por quê? – ele se contentou em dizer, cruzando os braços.

- Acho muito mais inteligente deixar os dois batedores cobrindo os artilheiros. O goleiro pode ficar muito bem sozinho.

- Isso desequilibraria o time. – Harry falou. – Os dois batedores acabariam ficando muito juntos! Além disso, a Lufa-lufa está com ótimos artilheiros, e Rony precisa de um batedor para ajudá-lo com eles!

- Mas os artilheiros são muito mais importantes! Nós precisamos dos batedores para podermos jogar mais livres!

- Todos são importantes! – Harry exclamou, já começando a se irritar.

- Que eu saiba quem marca os gols são os artilheiros... – Jonnathan provocou.

- E que eu saiba quem marca cento e cinqüenta pontos é o apanhador. – Harry falou no mesmo tom. – E, no entanto, não estou querendo proteção nenhuma, diferente de você...

Jonnathan se levantou.

- Você é muito prepotente, Potter! – ninguém ousava interferir na discussão. – Não tenho idéia de como conseguiu chegar a capitão sem entender nada de quadribol!

Isso foi a gota d'água para Harry. Seu corpo tremendo de raiva, ele deu dois passos de modo que pudesse olhar mais de frente para Jonnathan.

- Mas quem é o capitão aqui sou eu, não você, Cavendish. E enquanto eu estiver aqui, você vai ter que seguir as minhas orientações.

Jonnathan saiu batendo os pés, furioso.

Harry suspirou.

- Ok, vamos começar o treino, vocês podem ir para o campo agora. – ele disse para os jogadores restantes, que seguiram pela mesma porta pela qual Jonnathan tinha saído.

Harry sentou num banco para tentar se acalmar um pouco. Aquele garoto conseguia tirá-lo do sério. Quando levantou os olhos, viu que Rony não tinha saído com os outros.

- Há quem suporte isso? – ele perguntou desanimado.

- Você realmente tem um problema. – foi a resposta do amigo.

- Muitos...

Rony fez uma de suas características caretas e se levantou. Harry o acompanhou até saírem do vestiário. Os outros jogadores já estavam no ar.

- O que você e Cavendish estavam conversando? – Harry perguntou subitamente.

- Quando? – Rony perguntou distraído.

- Aquela hora, um pouco antes de irmos para o vestiário.

- Ah, sim. – Rony suspirou. – Falávamos de Gina...

Harry levantou uma sobrancelha. Sentiu-se incomodado.

- O que ele queria saber?

- Sobre o estado dela... – Rony falou vagamente. – Eu falei, afinal ele é amigo dela, não é?

- É sim...

Enquanto dava impulso na vassoura e subia, sentindo o vento fresco da manhã no rosto, Harry sabia que não tinha gostado desse interesse de Jonnathan em Gina.

Aquele sábado era um dia perfeito para uma partida de quadribol. O sol brilhava fracamente, e o vento estava ameno. No campo, as torcidas de Grifinória e Lufa-lufa gritavam, incentivando seus times. Os sonserinos cantavam músicas depreciativas contra a Grifinória, enquanto os corvinais não tinham preferências; qualquer um dos times que ganhasse ali iria enfrentá-los, e ambos eram bons.

Era possível que aquele fosse um dos jogos mais longos da história de Hogwarts; ao menos para Harry, era o mais longo dentre todas as suas partidas. Fazia quase duas horas que ele estava procurando o pomo de ouro, mas sem sucesso, o que o deixava cada vez mais aborrecido. Precisava achar o pomo rápido, pois a vantagem da Lufa-lufa estava exorbitantemente grande.

Rony estava tendo dificuldades em bloquear as goles; como Harry previra, os artilheiros da Lufa-lufa eram realmente bons, assim como a goleira, que parecia estar fechando o gol. Mas isso não era desculpa para os artilheiros grifinórios; Jonnathan quase não fazia passes para Dino, e isso causou várias perdas de posse da bola. Ao mesmo tempo, Colin quase não tinha oportunidade de rebater algum balaço "acidentalmente" em Dino; como precaução, Harry pediu que ele ficasse mais perto da área de Rony, deixando com Dênis a função de ajudar os artilheiros.

Como compensação aos excelentes artilheiros e goleira da Lufa-lufa, tanto seus batedores, como o apanhador, eram péssimos. Os batedores por vezes rebatiam balaços nos seus próprios companheiros, e o apanhador parecia não conseguir distinguir a goles do pomo de ouro. Isso era o que mais irritava Harry; com um oponente tão fraco, mesmo assim, ele não estava conseguindo capturar a bendita bolinha dourada. Às vezes colocava a mão no rosto somente para se certificar se sua "cegueira" não era por falta dos óculos, mas eles estavam lá.

- Thomas se atrapalha com um balaço, mas ainda consegue segurar a goles. – Ernie Macmillan irradiava. – Ele passa para Cavendish, que desvia de dois adversários, e lança para Spencer, que se agarra na vassoura para evitar um balaço. Ela lança e... AH, fura o gol! – ele não conseguiu esconder a insatisfação. – E a Grifinória diminui para 290 a 150!

Harry ouviu isso com alívio e excitação ao mesmo tempo; a vantagem da Lufa-lufa era de 140 pontos agora, e se ele pegasse o pomo nesse instante, a Grifinória ganharia com a pequena margem de dez pontos. Não era um bom resultado, mas os levava para a final de qualquer maneira, e ainda era melhor do que permanecer jogando, arriscando-se a tomar mais gols e cansando o time.

Ele deu uma guinada na vassoura, tentando achar o pomo. Pelo canto dos olhos viu o apanhador da Lufa-lufa procurando ao redor do gol do seu próprio time. Era inútil, Harry já tinha vasculhado por lá diversas vezes e não tinha achado nada. Se ao menos ele visse um brilho dourado... mas que não fosse o reflexo de algum relógio, por favor! Harry já tinha se enganado dessa maneira duas vezes na partida.

Os artilheiros da Lufa-lufa faziam uma bela tabela entre si quando Harry o viu: o pomo esvoaçava próximo à baliza esquerda de Rony, que estava muito ocupado protegendo os aros para percebê-lo. No momento em que Harry acelerou a Firebolt, Colin rebateu um balaço na artilheira da Lufa-lufa, que se abaixou rapidamente, e o balaço veio na direção de Harry, que foi obrigado a desviar-se. Ele acelerou mais, e passou bem em frente da mesma artilheira, que se assustou e deixou a goles cair, sendo apanhada por Peta. Harry entrou num mergulho atrás do pomo, que se movimentava em círculos ao redor do aro, na direção do chão. Ernie gritou alarmado:

- Parece que Potter viu o pomo! Ele está num mergulho quase vertical atrás dele, enquanto Thompson voa desesperadamente tentando alcançá-los! Se Potter apanhar agora, a Grifinória vence!

Houve uma onda de gritos eufóricos vindos da Grifinória, enquanto a torcida da Lufa-lufa tentava estimular seu apanhador. Harry não escutava; estava mais preocupado em se concentrar no pomo: tinha que pegá-lo agora, ou as coisas ficariam muito ruins para a Grifinória. A sua vassoura estava quase inclinada verticalmente quando ele se aproximou bem do pomo; faltavam apenas uns três metros para colidir com o chão. Harry esticou o braço, sentindo a bolinha fria entre os dedos, e rapidamente mudou o curso da vassoura, evitando a batida com o chão. Madame Hooch apitou, indicando o fim de jogo.

- Harry Potter apanhou o pomo! – Ernie narrou, não conseguindo disfarçar seu desânimo. – A Grifinória virou a partida e ganhou por uma vantagem de apenas um gol! 300 a 290! Praticamente um empate!

A torcida da Grifinória vibrava, mas Harry não estava nada feliz quando pousou sobre a grama fofa, sentindo o pomo bater as asas inutilmente na sua mão. Para ele, o desempenho da Grifinória tinha sido péssimo. Não lembrava de alguma vez o time ter ficado tantos pontos atrás no placar. Ao mesmo tempo, ele mesmo tinha achado seu próprio desempenho horrível; poderia ter pego o pomo bem mais cedo senão estivesse tão desconcentrado.

Enquanto observava os outros jogadores pousando, sendo que os da Lufa-lufa estavam terrivelmente desalentados por terem deixado a vitória escapar dos seus dedos, Harry decidiu dar as costas e caminhar na direção do vestiário. Seu corpo estava moído de cansaço, e sua cabeça latejava; mais uma vez ele tinha tido um sonho estranho e acordara com a cabeça doendo. Porém, naquele momento, ele não sabia se a cabeça doía por causa do sonho ou pelo nervoso que estava sentindo.

Quando entrou no vestiário, ainda ouvia os sons abafados dos gritos de lá de fora. Bufando de irritação, Harry sentou num dos bancos, soltando o pomo, que começou a esvoaçar pelo lugar. Ele arrancou as luvas, e levou as mãos suadas aos cabelos. Se ele não estava maluco por causa desse time, certamente aquela dor de cabeça o enlouqueceria.

- Ah, estou exausta! – Harry ouviu a voz de Peta, somada ao barulho de vários passos. O time estava chegando. – Pensei que esse jogo não acabaria nunca mais!

- Também, o Potter ficou enrolando para pegar o pomo! – era Jonnathan com certeza.

- Por que você não cala a boca? – Rony perguntou com irritação evidente na voz.

- E você, Weasley, que abriu as pernas? Nunca vi tanto gol junto!

- Ora, seu!

Harry levantou a cabeça a tempo de ver um Rony muito vermelho sendo segurado por Dino, que escorria suor. Os outros também não estavam muito diferentes; Peta estava vermelha como um pimentão, só que não de raiva como Rony, e seus cabelos estavam grudados na testa suada. Colin tinha colocado a mão no ombro de Jonnathan, que estava encharcado de suor, para o caso de ele querer tentar avançar sobre Rony, contido por Dino, que dava sinais de que não agüentaria por muito tempo. Dênis parecia tão cansado, que nem se importou com a briga iminente; sentou-se em um dos bancos, apreciando o tão esperado momento de descanso.

- JÁ CHEGA! – Harry gritou, e só nesse momento todos perceberam sua presença. Rony parou de tentar se desvencilhar de Dino, que ainda o segurava não parecendo confiar no colega. Jonnathan se virou rapidamente para olhar Harry com raiva.

- A gente não tinha te visto aí, Harry... – Peta falou.

Harry se levantou, suspirando de desânimo e cansaço. Olhou para todos, e falou:

- Não vai adiantar nada se ficarem brigando entre si. Só vão piorar as coisas, e isso é o que menos precisamos. Eu não quero ninguém provocando ninguém aqui, entenderam? – ele perguntou, olhando diretamente para Jonnathan.

- Eu não falei nenhuma mentira! – ele protestou. – Weasley deixou todas passarem, e você parecia estar fugindo do pomo!

- E eu não vi você passar uma bola! – Harry esbravejou. Peta, Colin e Dênis se encolheram. – Você perdeu várias vezes a posse de bola porque é um fominha e marcou pouquíssimos gols, porque eu vi que a maioria foi a Peta que marcou! No entanto, não estou vendo ninguém te acusar!

Jonnathan não respondeu. Parecia estar tentando achar alguma resposta à altura, mas ao mesmo tempo não podia negar tudo o que Harry tinha dito. Ninguém mais disse nada também.

Passados alguns minutos, Harry tornou a falar:

- Não quero mais nenhuma briga por aqui, está entendido? Se não repararam, agora temos uma final pela frente, com a Corvinal, e vamos jogar muito melhor do que jogamos hoje! Vamos treinar e vamos jogar quadribol, esquecendo de vez essas picuinhas pessoais! Alguma objeção?

O tom de Harry era tão duro que nem Jonnathan se atreveu a discordar, pela primeira vez na vida.

Harry esperou alguns minutos, antes de recolher sua vassoura e se encaminhar para a saída. O pomo ainda esvoaçava pelo vestiário, fazendo um barulho irritante nos ouvidos de Harry. Ele bufou, esticou o braço e apanhou o pomo mais rápido do que nunca, e caminhou batendo os pés até um dos armários. Ninguém disse nada enquanto isso, apenas o observavam. Harry abriu a porta com violência e enfiou o pomo lá dentro, batendo a porta em seguida com estrondo. Enquanto ele saía, os olhares surpresos dos outros o acompanhavam silenciosos.

Ele andou muito depressa pelo gramado sem pensar para onde iria a seguir; sua cabeça latejava de dor, e seu sangue fervia nas veias. Estava literalmente de saco cheio! Não suportava mais aquele idiota do Cavendish, com seus argumentos estúpidos! A insistência de Dino em Peta lhe enervava, e mais ainda o ciúme ridículo de Colin! Dane-se que eles todos tivessem ficado chocados com a sua explosão! Qualquer um deles já era de enlouquecer sozinho, imagina todos juntos! Era de subir pelas paredes!

Já dentro do castelo, Harry se pegou subindo as escadas de dois em dois degraus, bufando de irritação, até que chegou no topo e parou quando viu duas pessoas que não estavam no campo de quadribol: Severo Snape e Samantha Stevens.

- Não é da sua conta onde eu estava, Severo! – a mulher gritou muito aborrecida. Snape tinha um olhar acusador no rosto. Harry se escondeu atrás de uma estátua para escutar.

- Você deveria estar no campo, como os outros, mas no entanto não apareceu lá... Se você andou fazendo alguma coisa que não devia, Stevens, eu...

- Vai fazer o quê? Contar para o Dumbledore? Você não tem provas, Severo...

O rosto do mestre se contorceu e seus olhos se estreitaram maliciosamente. Harry admirava a professora por continuar com o nariz tão empinado; Snape lançava-lhe um olhar de dar medo em qualquer um.

- Além disso... – ela continuou, venenosamente. – Onde você estava, também? Duvido que estivesse no campo, assistindo a uma pacata partida de quadribol...

Harry poderia rir. "Pacata" era o pior adjetivo para se qualificar uma partida como aquela que acabara de ter.

- Eu estava trabalhando. – Snape respondeu num tom duro. Samantha gargalhou escandalosamente.

- Faz-me rir... Você é que devia estar aprontando uma...

- Fico me perguntando por que veio parar aqui, Stevens... – Snape disse maldosamente. – Foi por causa do seu mestre?

O coração de Harry disparou. Mestre? A palavra "mestre" o lembrava... não poderia ser...

Lord Voldemort?

Samantha permaneceu em silêncio enquanto Snape falava. Ela não demonstrou nenhuma reação, nem de raiva ou indignação. Absolutamente nada. Porém, foi o que Snape disse depois que fez Harry ficar mais curioso...

- Ou foi por causa do Potter?

Harry arregalou os olhos. O que ele tinha a ver com isso?

Mestre...

Samantha gargalhou novamente.

- Você é hilário, Severo. – ela falou, girando sua longa cabeleira negra e postando suas mãos na cintura bem delineada pelo vestido. Ela aproximou seu rosto do de Snape, até que seus olhos ficassem a milímetros de distância. – Por que não vai cuidar de sua vida? Ou então por que você não toma bem no seu...

O ruído das vozes no hall de entrada se sobrepôs ao palavrão que viria a seguir, e também, para o desespero de Harry, à frase que Snape disse depois disso. Harry se viu obrigado a sair dali e se desviar do seu caminho habitual para a torre da Grifinória para não ser visto.

Enquanto andava atalhos que conhecia há bastante tempo (resultado de quase seis anos vivendo em Hogwarts), ele foi pensando no que tinha escutado. Mestre? Seria Samantha uma... não, ele não conseguia acreditar... ela poderia ser uma Comensal da Morte? Mas, ao mesmo tempo, se fosse, por que Dumbledore a contrataria para o cargo de Defesa Contra as Artes das Trevas? Ou será que ele não sabia disso?

E o que ele tinha a ver com tudo isso? Será que ela estava atrás dele a mando de Voldemort? Não, isso não fazia sentido... Não fazia o estilo do bruxo; Voldemort costumava vir atrás de Harry por conta própria, não mandava ninguém no seu lugar. Parecia que ele tinha uma necessidade de acabar com Harry com suas próprias mãos...

Mas então por que todo esse interesse de Samantha para com ele? Seria apenas... simpatia?

"Você é tão atraente quanto seu pai, Harry."

Aquela dança...

"Harry, eu não te preveni para ficar longe dela por nada! Eu tive motivos para fazer isso! Eu acho que a conheço bem melhor do que você!"

Ele tomou uma decisão e mudou seu caminho; ao invés da torre da Grifinória, seu destino passou a ser um certo banheiro de meninas no primeiro andar.

O banheiro estava totalmente inundado quando Harry entrou. Seus sapatos, em contato com o chão, produziam um som aquoso. Ele viu que quase todas as torneiras estavam abertas, enchendo as pias e conseqüentemente vazando e caindo no chão. Isso só podia significar uma coisa: Murta estava deprimida.

Harry caminhou pelas pias, fechando as torneiras, uma a uma. Quando passou por uma delas, que não estava aberta, parou; havia uma cobra minúscula gravada nela, e Harry se lembrava muito bem disso: ali era a entrada da Câmara Secreta. Harry desejava nunca mais entrar em um lugar tão horrível como aquele.

Depois de fechar, todas as torneiras, ele caminhou pelo banheiro, procurando por Murta. Não havia perigo de nenhuma garota achá-lo ali; já era difícil alguém ir àquele banheiro por causa da fantasma que o assombrava, pior ainda quando ela inundava o lugar. Estava seguro por enquanto.

Não foi difícil achá-la. Harry seguiu os soluços altos dela, e a encontrou no último boxe, que estava com a porta entreaberta. Ele a empurrou levemente e viu Murta de costas, agachada sobre o vaso, chorando.

- O que aconteceu, Murta?

Ela se virou depressa, tão surpresa que não conseguir dizer uma única palavra por muito tempo; apenas se ouviam as constantes goteiras das torneiras que Harry não tinha fechado direito. Murta estava com os olhos lavados por lágrimas, e seu óculos perolado estava um pouco torto no rosto. Boquiaberta, ela perguntou:

- Você? O que está fazendo aqui?

Harry gaguejou. Não podia falar que viera colher informações sobre Samantha Stevens, então falou a primeira coisa que veio à sua cabeça:

- Vim te visitar.

No mesmo momento que disse a frase, Harry se arrependeu. Murta abriu um sorriso de orelha a orelha e flutuou até ele, tentando abraçá-lo, mas acabou passando por ele, e Harry quase congelou quando ela fez isso. Tremendo de frio, ele virou para vê-la atrás dele.

- Murta, não faz isso!

Ela não se importou. Parecia feliz demais para se importar com qualquer coisa.

- Você veio mesmo me ver? Não acredito!

- Bem, eu estou aqui, não é? – ele falou, pensando se tinha mesmo feito a escolha certa vindo ali. Não tinha nenhuma certeza se Murta poderia ajudá-lo a descobrir mais coisas sobre a misteriosa Profª. Stevens, mas também não podia permanecer no escuro. Tinha que descobrir o que ela poderia querer com ele.

Murta deu uma risadinha escandalosa e flutuou até a janela mais alta, sentando no peitoril. Ela observou Harry de cima a baixo, e por muito tempo, o que o deixou bastante constrangido. O rapaz se encaminhou até a parede do outro lado e escorregou por ela, sentando no chão. Realmente estava exausto. Bem que poderia ter descansado um pouco antes de ter vindo. Ou então atrasado essa "visita".

Maldita curiosidade...

- Você estava jogando? – Murta perguntou de repente, parecendo querer iniciar um assunto.

- Estava. – Harry respondeu laconicamente.

- Ganhou ou perdeu?

- Ganhei.

- Dizem que você é muito bom. – ela sorriu. – Gostaria de te ver jogar um dia...

- É só ir ao campo.

- Eu não gosto de ficar perto de muitas pessoas...

- Então fica difícil.

Ela bufou. Harry fechou os olhos. Sentia que poderia dormir em qualquer lugar. Sua cabeça estourava de dor. Realmente não tinha sido uma boa idéia vir. Tinha que arranjar um jeito de entrar no assunto que queria sem fazer Murta entrar em prantos. Difícil missão.

- Eu soube que você e aquela ruivinha terminaram.

Harry abriu os olhos subitamente, virando a cabeça para olhar a fantasma. Murta parecia muito feliz.

- É verdade?

- É sim... – ele respondeu desanimado.

- Quem terminou? Você ou ela?

- Ela.

- Uhhh. – Murta saiu do parapeito e esvoaçou até parar em frente a Harry. – Isso quer dizer que você está sozinho?

Harry engoliu em seco. Ela estava querendo chegar ao ponto que ele estava imaginando?

- Digamos que... bem... estou temporariamente... indisponível para esses assuntos.

Murta murchou imediatamente. Ela flutuou novamente, ficando de costas para Harry.

- Estou tão sozinha... – ela choramingou.

- Era por isso que estava chorando?

Ela assentiu, olhando tristemente para ele. Harry se levantou, tendo uma idéia de como abordá-la sobre o assunto da professora.

- Murta, eu queria te perguntar...

- Eu deveria estar muito, muito brava mesmo com você! – ela o interrompeu bruscamente. Harry arregalou os olhos.

- Por quê?

- Porque você não quis ir ao baile comigo e nunca mais me visitou!

Harry tinha vontade de chutar alguma coisa. Realmente era preciso muita paciência com Murta.

- Não dava pra ir com você, Murta...

- E por quê? – ela perguntou emburrada, cruzando os braços.

- Porque... – o que iria dizer? Se falasse o que pensou: "você está morta, isso é um bom motivo", ela certamente começaria a chorar. Decidiu-se por enrolar. – Porque eu não estava animado para esse baile, sabe? Eu acabei indo sozinho e saindo bem cedo...

"Só espero que ela não tenha ouvido nada sobre eu ter dançado com Samantha...", ele pensou desesperadamente.

Murta o olhou por trás dos óculos perolados como se o estudasse.

- Tudo bem! – ela disse de súbito. – Eu não queria ir mesmo. Muita gente...

Harry suspirou aliviado. Agora era o momento certo. Ele se encostou na parede, encarando Murta com seu olhar mais doce e inocente.

- Sabe, Murta, eu estava pensando... Você se lembra daquela vez que a gente ficou conversando no banheiro dos garotos?

Ela abriu um grande sorriso maroto.

- Como poderia esquecer?

- Bem... – ele começou, sentindo-se animado por estar dando certo. – Aquele dia, você me contou uma coisa que me fez pensar...

Murta franziu a testa.

- Não me lembro disso. – ela riu. – Só me lembro de ter visto você só de toalha!

Harry sentiu as bochechas quentes e quase engasgou com a própria saliva.

- Mas você tinha ido lá por outro motivo... – ele se recuperou e prosseguiu com o plano. – Você foi me contar que tinha ouvido uma conversa sobre mim... entre o Prof. Snape e a Profª. Stevens...

Murta o olhou com uma expressão que Harry não conseguiu decifrar.

- Percebo que você não veio aqui só para ver meus lindos olhos castanhos...

"Ai, não... Ela vai começar a chorar de novo."

Mas Murta parecia ter mudado muito nos últimos tempos. Ou talvez ela sempre tenha sido assim, afinal.

- Tudo bem. – ela falou rapidamente, encarando Harry com perspicácia. – O que você quer saber?

Depois de se recuperar da estupefação inicial, Harry falou:

- Você ouviu mais alguma conversa, Murta?

Ela moveu a cabeça de um lado para o outro.

- Não.

Harry bufou. Tinha sido estupidez vir ali.

- Mas... eu posso te ajudar a ouvir, se quiser...

Ele levantou os olhos rapidamente e a encarou intrigado.

- Como?

- Tenho meus métodos. – ela sorriu marotamente. – Posso descobrir facilmente se eles estão juntos conversando e te avisar... Há certas vantagens em ser um... bem, você sabe.

- Mas eu seria descoberto, Murta... – ele já estava começando a se animar com a idéia.

- Você tem aquela capa! – ela disse indignada. – Eu sei muito bem que burlar regras não é um problema para você!

Harry sorriu.

- Ok, então você vai me ajudar?

- Com uma condição.

- Qual? Você quer que eu venha te visitar mais vezes?

Ela negou.

- Eu sei que não adianta. Você acabaria não vindo.

Harry ergueu uma sobrancelha.

- Se não é isso, o que é, então? – perguntou, tendo um certo receio da resposta.

Murta deu uma risadinha ao mesmo tempo marota e encabulada, mas o olhou muito séria quando falou:

- Eu quero um beijo.

- O quê?

Certamente não tinha ouvido direito.

- Um beijo.

Estava maluco. A dor de cabeça deveria estar afetando sua sanidade.

- Murta, eu não entendi direito... Você disse que...

- Você é surdo ou o quê? Um B-E-I-J-O! É só o que eu quero.

Ele a olhou como se ela pertencesse a outro planeta.

- Isso é impossível, Murta. Totalmente impossível! Eu estou vivo e você está... bem, você está morta!

- Você tem que ficar me lembrando disso? – Murta choramingou. Harry se perguntou como ela poderia esquecer. – Mas isso não é problema.

- Como não? – ele perguntou embasbacado.

Ela sorriu.

- Eu aprendi um feitiço recentemente. Chama-se "o feitiço Materialius". Foi a Grey Lady que me ensinou. Ele materializa um... – ela pigarreou. - ...fantasma... pelo tempo que lhe for necessário. Isso pode ser feito apenas uma vez, e eu ainda não fiz, então... não há problema algum.

- É claro que há problemas, Murta. – Harry começou a enumerá-los nos dedos. – Um, você não pode realizar feitiços; só vivos podem fazê-lo. Dois, você precisaria de uma varinha...

- Você tem uma varinha!

- Tenho, mas...

- Está com você?

- Claro, eu sempre estou com ela.

- Então está tudo certo! – ela finalizou com um grande sorriso.

- Nada está certo, Murta! – ele disse desesperado. Aquilo era loucura, mas seria ainda pior se Murta estivesse certa. De maneira alguma Harry gostaria de beijá-la! Isso era louco, era bizarro! "Jogar charme" para cima dela a fim de conseguir uma informação era uma coisa; beijá-la era outra totalmente diferente.

- Harry, você não está me entendendo. – ela falou lentamente, como se ele fosse uma criança de cinco anos de idade. – Quem disse que eu vou fazer o feitiço?

- E não vai? – ele perguntou animado com a possibilidade de ela desistir.

- Não, você vai.

Agora Harry estava duvidando da sanidade mental de Murta. Se bem que ela nunca foi o que se poderia chamar de "normal". Porém, mais louco que ela era ele, que estava ali, tendo essa conversa maluca com ela.

- Espera um pouco, Murta... Você...

- Pega a sua varinha.

- O quê?

- Pega a sua varinha! Está com ela, não é? Então pegue!

Harry tirou a varinha do meio das suas vestes de quadribol perguntando-se por que estava fazendo isso.

- E agora?

- Aponta pra mim.

Ele suspirou. Ou aquilo era um sonho, ou ele realmente estava maluco. Apontou a varinha para ela, de qualquer maneira.

- Agora diga "Materialius". – ela instruiu.

- Materialius! – ele repetiu mecanicamente, e um jato de luz vermelho pálido saiu de sua varinha, atravessou Murta direto, bateu na parede oposta e ricocheteou no teto. – Isso não vai dar certo.

- Vai sim, você não está se concentrando!

Era realmente a coisa mais esquisita do mundo estar ali, no banheiro feminino, aprendendo um feitiço com uma fantasma. Cada coisa bizarra que acontecia na vida de Harry...

- Então como eu faço?

- Concentre-se em mim, e me imagine viva...

- Você tem certeza que isso funciona?

- Claro que tenho! Faz logo! – ela pediu impaciente.

Harry suspirou e fechou os olhos, imaginando do melhor jeito que podia uma Murta viva. Era complicado, mas depois de um tempo ele conseguiu. Quando reabriu os olhos, apontou a varinha para ela e repetiu o feitiço. Dessa vez, a luz, agora de um vermelho intenso, não ricocheteou em lugar algum; pelo contrário, atingiu Murta em cheio, e ela brilhou por alguns poucos segundos. Quando a luz se dissipou, Harry deixou o queixo cair.

À sua frente estava Murta Que Geme, do mesmo jeito que ele conheceu, exceto por um motivo: ela não era mais transparente. Como ele, tinha a pele branca, mas visivelmente real. Dava a impressão de que Harry poderia tocá-la se quisesse. Murta estava materializada, como se tivesse voltado à vida.

- Você conseguiu! – ela gritou, feliz como Harry nunca a tinha visto.

A garota, não um fantasma, que estava à sua frente pulou de alegria, tocando cada parte do corpo que podia encontrar. Primeiro, ela tocou o rosto, os cabelos, e depois passou as mãos pelos braços, apertando-se, como se não acreditasse no que estava acontecendo. Harry estava tão estupefato que não conseguia dizer absolutamente nada.

Depois de algum tempo para realmente ter certeza de que era real, Murta olhou para Harry. O sorriso que ela tinha no rosto se desfez, e ela ficou séria subitamente. Em três passos, ela ficou a poucos centímetros de Harry. Ele engasgou. O que ela ia fazer agora? Ela não estava falando sério quanto ao beijo, estava?

A menina tirou os óculos e os guardou num bolso do seu uniforme de Hogwarts. Harry notou, pela primeira vez, que ela era da Lufa-lufa, ao observar o texugo bordado na roupa dela. Murta soltou os cabelos, que antes estavam presos em uma "maria-chiquinha", e Harry notou que os olhos dela eram realmente bonitos, como ela mesma disse. Provavelmente nunca reparou porque eles sempre estavam atrás das grossas lentes dos óculos e, também, porque eles geralmente eram transparentes. Com os cabelos soltos, ela melhorava bastante a aparência, ainda que ainda tivesse um rosto arredondado demais e um nariz ligeiramente proeminente. Ela sorriu.

- E então? Estou esperando...

Harry gaguejou. Não tinha a mínima idéia do que fazer. Não se lembrava de algum dia ter estado tão perdido na vida.

- Bem, Murta...

- Não me chama assim. – Harry ergueu uma sobrancelha. Ela sorriu novamente. – Meu nome é Maria Roberta. Murta era apenas um apelido idiota que me colocaram...

- Ah... – Harry desejava com todas as forças que aquilo não estivesse acontecendo.

- Harry, você não vai me beijar? É pra isso que eu estou assim!

O rapaz pigarreou, pensando no que fazer. Se fosse embora, iria ferir os sentimentos dela e decepcioná-la, e decididamente iria se sentir um canalha depois disso. Mas se ficasse, teria que beijá-la, e não queria isso. Olhou para ela. Parecia bastante ansiosa.

Respirando fundo, Harry aproximou seu rosto do dela. Quando seus lábios estavam a centímetros, ele a beijou na bochecha.

- Não é assim! – ela reclamou. – É assim que eu quero!

E ela segurou o rosto dele entre as mãos e o beijou nos lábios. No início, de tão surpreso que estava, Harry nem ao menos fechou os olhos, mas depois foi se acostumando e cerrou as pálpebras. Murta beijava de um jeito bastante... peculiar. Começou com um selinho, mas depois ela começou a lamber os lábios dele, e Harry teve a certeza absoluta de que ela nunca tinha feito isso nem na sua vida ou na pós-vida.

Era esquisito beijá-la. Além de não conseguir tirar do seu pensamento que estava beijando uma fantasma, Harry não sentia absolutamente nada ao beijá-la. Nenhum arrepio ou dormência percorreu seu corpo, como acontecia quando beijava Gina, e ele associou isso à falta de sentimento entre ele e Murta. Era um beijo... vazio. Mas ao mesmo tempo, era bastante engraçado. Quando o nariz de Murta pressionou o seu próprio com força, no momento em que ela mudou o lado do beijo, Harry teve vontade rir, porque a parte acima do seu lábio superior começou a coçar depois que ela fez isso. Porém, ele se controlou, pois sabia que seria indelicado de sua parte rir no meio do beijo.

Ao mesmo tempo, também era estranho ser beijado. Geralmente era ele que beijava. Era uma sensação esquisita não comandar o beijo e, ainda mais, ser comandado por alguém tão inexperiente como ela. Porém, antes que pudesse sequer tentar ensiná-la, sentiu algo frio nos lábios. Ao abrir os olhos, viu Murta se afastando dele. Ela estava transparente de novo, mas seu olhar não era mais aquele tristonho de antes. Murta parecia a pessoa mais feliz do mundo, ou melhor, a fantasma mais feliz.

- Isso foi ótimo. – ela disse encabulada.

Harry não disse nada. Não podia dizer a ela que foi estranho, bizarro, esquisito e totalmente cômico.

- Foi divertido. – foi a única palavra que ele conseguiu encontrar.

Ela sorriu.

- Obrigada, Harry. Nunca vou me esquecer. Será minha melhor lembrança.

Harry se sentiu um canalha. Ela estava levando tudo tão a sério, e ele ali, achando divertido... Será que ela poderia estar gostando dele? Sentiu pena dela.

- Você já amou alguém, Murta?

- Amar é uma palavra muito forte. – ela respondeu. Harry nunca pensou que ela pudesse dizer algo tão maduro. – As pessoas dizem "eu te amo" muito fácil... Na maioria das vezes, não é verdadeiro. Podemos até pensar que é, mas nosso coração, no fundo, sabe que não é verdade...

"O que há entre nós, Harry, não é amor! Pode ser carinho, respeito, admiração, amizade... Mas não é amor! Amor... amor é outra coisa!"

As palavras de Gina ecoaram na sua cabeça como se estivessem sendo repetidas num gravador. Será que ela estava certa? Mas ele gostava dela... gostava? Só "gostava"? Ou a amava? O que poderia chamar de "amor", afinal? Nunca amara ninguém, no sentido do que há entre um homem e uma mulher... Não, não poderia estar errado, ela que estava! Mas... ah, não conseguia entender!

- Eu morri muito jovem para dizer que realmente amei alguém. – Murta falou. – Gostar, eu gostei... mas amar... é diferente.

- Fantasmas podem amar, não é?

Ela sorriu.

- Talvez... quem sabe um dia?

- Tomara que você consiga...

Harry nunca imaginara que Murta pudesse ser mais do que a fantasma chorona que assombrava o banheiro das garotas.

N/A: Surpreendente, não? Espero que tenham gostado. A primeira pessoa que leu isso disse que riu o tempo inteiro :D Beijinhos e até o próximo capítulo! ;)