Capítulo Vinte – Brincando com fogo

O mês de abril passou como um sopro, e maio ia pelo mesmo caminho. Já estavam quase na metade do mês, e o clima estava bem mais agradável. Era comum ver alunos mais novos se refastelando sob o sol da primavera nos jardins. Já para os mais velhos, a coisa era diferente: os únicos momentos de descanso foram o feriado de Páscoa, e as duas visitas à Hogsmeade. Nessas vezes, Harry decidiu ir se distrair, e finalmente conheceu a loja dos gêmeos, que era bem pequena, comparada às outras, mas fazia grande sucesso.

Hogwarts parecia ferver nesses últimos meses; quanto mais os exames de fim de ano se aproximavam, mais se viam alunos cansados e estressados pelos cantos do castelo. Os quintanistas e setimanistas eram os mais prejudicados; diversas vezes, Harry presenciou explosões de raiva e nervosismo nos corredores de alunos desses anos, e a que mais o assustou foi a vez em que Peta Spencer gritou no meio do corredor do quarto andar com Colin Creevey. Pelo que Harry tinha entendido, Colin tinha esquecido de devolver um livro importante para ela, e a garota, sempre de tão bom humor, explodiu de tanto nervosismo. No início, tanto Colin quanto todos os outros que presenciaram a cena ficaram pasmos, mas depois de um tempo, Colin se recuperou e tascou um beijo na menina, deixando-a totalmente sem ação. Daquele dia em diante, os dois começaram a namorar, o que desanimou muito Dino Thomas, mas por um lado fez Harry se sentir um pouco mais aliviado. Significava um problema a menos nos treinos de quadribol. Porém, problemas com quadribol era o que menos faltava.

Harry insistia em treinar o time com mais afinco para a final contra a Corvinal, que realmente estava com um time muito bom, mas quanto mais se aproximavam os exames, mais Harry era obrigado a diminuir a carga de treinos. Colin, Peta e Jonnathan pareciam prestes a enlouquecer por causa dos N.O.M.s, e realmente não adiantava forçá-los a treinar. Harry estabeleceu uma meta de dois a três treinos por semana, mas ela dificilmente era cumprida; geralmente eram dois treinos, mas tiveram semanas em que houve apenas um.

Agora que Dino finalmente tinha desistido de dar em cima de Peta, que estava comprometida, Harry pôde desfrutar de mais horas de paz nos treinos. Pelo menos Colin tinha parado de implicar com o garoto, mas essa regra não se aplicava a Jonnathan. Para variar, ele ainda insistia em continuar com sua implicância com Dino, como se ele fosse culpado por ter substituído Gina. Já as provocações com Harry eram constantes e ele tinha dúvidas se não seriam eternas. Todos os treinos, sem exceção, surgia alguma discussão entre ambos, sendo, às vezes, controlada pelos outros; porém, na maioria das vezes, ninguém conseguia fazê-los parar de discutir, e a polêmica só acabava quando um dava um fora tão grande no outro que não havia mais como argumentar. Esse era o momento perigoso, porque eram nessas horas que os dois ameaçavam começar uma briga física, que sempre era impedida por Rony, Dino e Colin.

O mundo fora das paredes de Hogwarts ameaçava desmoronar; depois do ataque à Estação King's Cross, houve um período mais calmo, que infelizmente durou pouco. Quase todos os dias, a manchete do Profeta Diário era mais algum dos ataques dos seguidores de Voldemort. Na maioria das vezes havia mortos ou desaparecidos. O hospital de St. Mungus estava sempre cheio, e o Ministério da Magia era um caos completo.

A situação era perturbadora. Exatamente por isso, Sirius parecia ter parado de mandar cartas. Em uma das poucas delas, ele não deu certeza se ainda poderia continuar a escrever com freqüência para Harry. O padrinho sempre dizia que estava muito ocupado com seu trabalho no Ministério e na Ordem e, pelo sigilo que ele dava a isso, Harry tinha uma séria desconfiança se não seria algo relacionado a espionagem, o que o deixava realmente preocupado. Sirius parecia correr muito perigo, e Harry ficava com o coração aos pulos toda vez que via Edwiges, imaginando se ela estaria lhe trazendo notícias boas ou ruins. Ele não queria perder mais ninguém. Porém, até o momento, a coruja das neves não tinha trazido nenhuma notícia pior do que as que Harry via nos jornais.

Rony tinha a mesma ansiedade que Harry. Ele ficava totalmente nervoso quando via Píchi, sua pequena corujinha, ou então Hermes trazendo-lhe notícias de sua família. Geralmente, elas eram as mesmas. O Sr. Weasley estava atolado de serviço no Ministério, assim como Percy, sem contar a pressão da imprensa sobre ele; a Sra. Weasley continuava com suas idas e vindas do hospital, junto com Carlinhos e Gui (que finalmente tinha conseguido sua licença). Gina ainda não tivera nenhuma melhora significativa, e os curandeiros tinham receio de que ela estivesse regredindo no tratamento.

Desde aquela conversa louca no banheiro das garotas, Harry não viu mais Murta. Às vezes, ele até esquecia de que ela tinha prometido lhe ajudar, de tanta coisa que tinha para fazer, mas havia outros momentos em que ele achava que a fantasma tinha esquecido da promessa de ajudá-lo. O fato é que ela nunca tentou achá-lo para dar alguma informação que tivesse descoberto, mas Harry não se atrevia a ir procurá-la. Depois daquele dia em que Murta o beijou, o banheiro nunca mais ficou inundado (para alegria de Filch, que sempre tinha que limpar o aguaceiro que Murta fazia), e também não mais se ouviram gemidos de lá. Muitas meninas voltaram a freqüentar o banheiro, e certa vez Hermione comentou com Rony e Harry que dificilmente via Murta lá. Harry achou aquilo muito estranho, mas sempre acabava se esquecendo do assunto, pois sua cabeça estava mais cheia com outras preocupações.

Foi numa aula de Defesa Contra as Artes das Trevas que Harry novamente começou a pensar no assunto. Harry, Rony e Hermione tinham sido uns dos primeiros a chegar na sala, que estava ocupada apenas por poucos sonserinos e menos grifinórios ainda. Os três ocuparam carteiras no fundo da classe, que eram os lugares geralmente ocupados pela maioria das meninas, que preferiam ficar à máxima distância que pudessem da Profª. Stevens. O contrário acontecia com os meninos, que sentavam todos na frente. Harry e Rony só sentavam no fundo para ficarem próximos de Hermione; Rony vivia insistindo em sentar mais para frente, mas Hermione era irredutível. A garota tinha tanta raiva da professora, que Harry chegou a pensar se não seria pessoal. Porém, quando perguntava sobre o assunto com a amiga, ela se desviava e acabava não respondendo.

- Rony, você precisa deixar de ser tão desleixado! – Hermione recriminava o namorado, enquanto sentavam nas últimas carteiras encostadas na parede. – Você ainda nem olhou a matéria que eu te passei, né? Eu já te falei que se você quiser, eu te explico tudo o que você perdeu! Ou então você pode pedir para os professores, o que não pode é continuar assim! Os exames já são...

- Mês que vem, Mione! – Rony completou por ela, sentando na carteira do lado da janela. Hermione, com uma cara muito emburrada sentou do lado dele. – Eu ainda tenho muito tempo... E, além disso, não vou procurar por professor nenhum, imagina só! Eu indo procurar explicação com o Snape! "Professor, o senhor pode me explicar a Poção da Imaginação?" – e ele começou a imitar a voz baixa e rouca de Snape. – "Não tenho nada a ver com a sua incompetência, Weasley!" E aí eu digo: "Vai comer bosta, seboso!" E ele me põe em detenção... Mais uma desgraça na minha vida? Não, muito obrigado!

Harry não agüentou e riu. Enquanto se sentava ao lado de Hermione e colocava a mochila sobre a mesa, notou que, não muito longe deles, estava Katherine Willians, olhando por trás do livro de Defesa Contra as Artes das Trevas para Rony e Hermione como se eles fossem loucos.

- Seu teimoso! – Hermione disse indignada. – Eu posso te ensinar, então!

- Pra você ficar pegando no meu pé mais do que já pega? E ficar me criticando? Não mesmo!

- Seu cabeça dura!

- Você que é uma sabe-tudo!

Mais uma discussão costumeira entre os dois. Harry nem se importava mais. Olhou para Willians, que ainda os observava com visível desgosto. Lançando-lhe um olhar de profundo desprezo, Harry disse apenas com o movimento dos lábios:

"Tá olhando o quê?"

"Vocês são problemáticos ou o quê?"

"Vai te catar!"

Ela mostrou a língua para ele e voltou à sua leitura. Harry deu de ombros e, quando ia começar a descarregar sua mochila, teve uma péssima visão, que quase lhe deu vontade de vomitar. Draco Malfoy e seus capangas, Crabbe e Goyle, estavam se aproximando. Harry fingiu que não viu e continuou a tirar as coisas da mochila.

- Hem, hem.

Harry sabia que era Malfoy, por isso mesmo continuou a mexer na mochila, por mais que já tivesse descarregado tudo que precisava. Porém, Rony e Hermione pararam de discutir (o que ainda poderia ser considerado bem mais produtivo, em vista da perspectiva de falar com Malfoy) e olharam para o sonserino. Harry tinha uma vontade imensa de simplesmente ignorá-lo, como estava se acostumando a fazer, mas não pôde fazê-lo depois das palavras dele:

- E então, Weasley? – ele provocou com a típica voz arrastada. – Eu soube que sua irmã está pra morrer... Ainda bem que seu pai agora é Ministro, não é? Pelo menos vão poder bancar um enterro decente...

Rony se levantou prontamente, as orelhas perigosamente vermelhas. Ele só não avançou porque Hermione e Harry, que tinham se levantado também, o seguraram.

- Não vale a pena. – Hermione disse ao pé do ouvido de Rony, mas Malfoy ouviu.

- Seguindo ordens de uma mulher, agora, Weasley? Eu não sabia que a sangue-ruim mandava em você...

Aconteceu muito rápido. Em um instante, Rony estava seguro por Harry e Hermione, mas no outro ele estava em cima de Malfoy, dando um soco certeiro no olho dele. Malfoy cambaleou para trás, e seu supercílio abriu, escorrendo sangue. Assim que notou isso, Malfoy revidou, dando um soco no lábio de Rony, que também começou a sangrar. Os alunos que estavam na sala se levantaram, alguns incentivando a briga, outros assustados. Hermione soltou um grito do lado de Harry, que se adiantou e foi segurar Rony, que já estava pronto para revidar o soco de Malfoy.

- ME SOLTA, HARRY, EU VOU ACABAR COM ELE! – Rony gritou, tentando se desvencilhar do amigo, mas Harry o segurou com toda a força que conseguia. Por um lado, sabia que Rony tinha razão, e que Malfoy merecia mesmo uma boa surra, mas não podia deixar o amigo fazer isso. Rony era monitor e já estava com problemas demais sem precisar de uma detenção ou alguma outra punição pior.

- Se acovardando, Potter? – Malfoy provocou, os olhos brilhando, enquanto o sangue contrastava com sua pele pálida. Harry não disse nada e apenas olhou para Malfoy; ainda se ocupava em segurar Rony, que se debatia furiosamente. – Disseram por aí que foi uma pena a estação estar tão cheia naquele dia... – Harry sabia que ele estava falando do dia do ataque a King's Cross. Ficou se perguntando se ele não estaria lá também... Seu pai certamente deveria estar... – Se a Weasley estivesse sozinha, seria mais fácil se divertir com ela. Parece que ela é bem gostosinha sem o uniforme de Hogwarts... Fico me perguntando se você sabe disso, Potter... Ah, duvido, você é lento ou, devo dizer, otário demais, não é?

Num instante, Harry estava segurando Rony; no outro, ele estava em cima de Malfoy, no chão, esmurrando cada pedacinho nojento do sonserino que conseguia encontrar. Não via nem escutava nada, só queria machucar Malfoy, fazê-lo pagar muito caro pelo que acabara de dizer. Seu sangue fervia, e ele sentia-o latejar nas suas têmporas. Suava de ódio. Malfoy não tinha o direito, não podia sequer ter ousado pensar aquilo... quanto mais falar...

De tão concentrado na sua própria luta com Malfoy, Harry não pôde reparar que, agora, Rony tinha se atracado com Crabbe e Goyle, e que Dino e Simas tinham vindo ajudá-lo. Ouvia gritos de meninas e incentivos de meninos, mas não ligava para nada disso. Só queria esmurrar Malfoy, machucá-lo até que sangrasse por cada poro...

Mas Malfoy logo se recuperou do susto de ter sido atacado por Harry e, logo, deu um grande chute no estômago do garoto. Harry ficou sem ar, e Malfoy aproveitou a deixa para empurrá-lo, fazendo com que batesse a cabeça na quina de uma carteira. Harry sentiu a parte de trás da sua cabeça abrir, perto do ouvido esquerdo, e seus cabelos logo ficaram empapados de sangue no local. Os óculos caíram com o impacto, fazendo com que as lentes rachassem e a ponte entre elas se partisse.

Mesmo apenas enxergando um Malfoy embaçado pela falta das lentes e pela tontura causada pelo machucado, Harry conseguiu se recompor e dar um soco no meio da cara nojenta de Malfoy, e ele cambaleou por alguns instantes, segurando-se na ponta de uma carteira. Harry ia partir novamente para cima dele, quando uma voz se sobrepôs à barulheira:

- PETRIFICUS TOTALUS!

O que Harry sentiu em seguida foi seus braços e pernas juntando-se ao corpo, que ficou inteiramente imóvel. Ele caiu de costas no chão, sem conseguir mover um músculo sequer, e a única visão que tinha era do teto sobre si. Um após outro, ele ouviu o ruído surdo de outros corpos caindo no chão como ele. Depois, somente um silêncio ensurdecedor. Era possível ouvir a respiração de cada um, tal era o silêncio.

- Saiam do caminho!

Passos apressados, esvoaçar de capas, murmúrios ansiosos e novamente silêncio. CLEC, CLEC, CLEC. O som de saltos altos. O chão vibrava sob a cabeça de Harry. Ele ouvia, do lado do seu ouvido esquerdo, o som do gotejar ritmado do sangue que caía do seu ferimento. Novamente silêncio. PING... PING... PING... Harry viu o rosto invertido de Samantha Stevens sobre sua cabeça, demonstrando clara reprovação. Não lembrava de tê-la visto com uma cara tão feia antes. Por um instante, Harry viu também decepção nos olhos azuis intensos que o miravam. Ela apontou a varinha bem na direção da cicatriz dele e, por um segundo, ele temeu pelo que ela faria a seguir.

- Finite Incantatem!

A reação foi instantânea. Assim que o jato de luz que saiu da varinha dela o tocou, Harry pôde novamente sentir seu corpo. Ele flexionou os dedos, para depois apoiá-los no chão e sentar-se. Levou, por impulso, a mão no ferimento atrás da cabeça; sua mão se banhou em sangue quente. Ele levantou os olhos para ver a professora e, por um milésimo de segundo, os dois se olharam nos olhos. O azul dos olhos dela estava mais escuro do que nunca, e os orbes estavam tão estreitos que quase não era possível vê-los. Havia clara decepção nos olhos dela ao encarar Harry e, pela primeira vez, ele não sentiu aquela inquietação ao observá-los. Sentiu, sim, um frio na espinha o percorrer; parecia que ela era capaz de matá-lo apenas com o olhar.

- Na parede, Potter! – ela gritou, apontando a varinha para o lugar onde queria que ele ficasse.

O tom dela era tão duro e autoritário, que Harry não ousou demorar mais que um segundo para ir para o local que ela mandou. Ele se postou ao lado de Hermione, que o olhou ansiosa; ela parecia à beira de um ataque de nervos e tremia violentamente, como se fosse com ela mesma que tudo estivesse acontecendo. Ela se virou, e Harry acompanhou seu olhar. Viu Samantha, com um olhar gelado, apontar sua varinha para Rony, que estava caído de bruços no chão, petrificado como Harry estava anteriormente. Havia um grande rasgo no uniforme do amigo na altura do braço direito, onde havia um ferimento aberto também.

Hermione tremeu; a garota não tirava seus olhos da ponta da varinha da professora, apontada para Rony. A amiga estava se controlando para não gritar ou correr, pelo que parecia. Harry achou aquilo realmente esquisito; Hermione parecia mais desesperada do que qualquer um.

Mas Samantha não retirou o feitiço de Rony; ela preferiu correr sua varinha até Malfoy e tirar o dele primeiro. O sonserino estava em um estado lamentável (o que deixou Harry muito orgulhoso de si mesmo por alguns instantes); seus cabelos, sempre tão arrumados, estavam quase tão despenteados quanto os de Harry. Ele se levantou com certa dificuldade; o lado direito do seu rosto estava manchado pelo sangue que saía do corte no supercílio.

- Na parede, Malfoy! – Samantha gritou, apontando a varinha para a parede oposta. Malfoy rapidamente se postou no lugar que ela mandou, porém, ele ia chegando cada vez mais perto de Katherine Willians, que por sua vez, se afastava mais e mais, olhando com certo asco para o garoto.

Um a um, Samantha retirou os feitiços paralisantes dos garotos. Goyle, Simas, Dino, Crabbe e, por último, Rony. Hermione estava prestes a ter um colapso ao lado de Harry, e só sossegou um pouquinho quando viu a professora retirar o feitiço de Rony.

Samantha colocou cada aluno em um extremo da classe, sempre nas paredes. Ninguém ousava dizer nada, ou fazer o menor ruído que fosse. Dava para escutar o som distante das aulas do Hagrid nos jardins.

Depois de observar cada um dos alunos, com aquele olhar gélido e estreito, a mestra se encostou à sua mesa, ainda empunhando a varinha. Com a voz mais rouca e grossa do que nunca, ela falou:

- Nunca mais... Nunca mais eu quero presenciar um showzinho como esse na minha classe. É uma ordem! – muitos tremeram ou se encolheram. – E não queiram me ver irritada. O que estão vendo agora não é um terço do que eu sou de verdade!

"Fico me perguntando como são os três terços.", Harry pensou com sarcasmo. Samantha molhou os lábios antes de continuar.

- Eu quero que todos os engraçadinhos que estavam envolvidos fiquem depois da aula. Não vou perder tempo brigando com vocês. Resolveremos isso mais tarde, pois agora teremos aula, que é o que deveríamos estar fazendo nesse instante.

- Mas... – Hermione disse fracamente, e a professora girou sua longa cabeleira na direção dela, um olhar de puro ódio pela garota ter ousado falar.

Todos encaravam a monitora com um misto de incredulidade e espanto. Hermione olhou nervosamente para Rony, que estava do outro lado da classe, ao lado de Parvati Patil, boquiaberto, e pareceu que a visão de Rony tão machucado a incentivou a prosseguir.

- Professora... eles não deveriam ir para a ala hospitalar? Estão machucados... Seria o mais...

- Eu pedi sua opinião, Srta. Granger? – Samantha perguntou autoritariamente. Hermione tremeu, mas tinha um olhar de raiva contida para com a professora. – O seu defeito é se intrometer na hora errada. Fique quieta, ou levará uma punição como os outros. – ela disse com gelo na voz e completou, olhando ao redor. – Isso serve para todos.

Harry sentiu uma súbita raiva pela professora; ela não tinha o direito de falar assim com Hermione, que não disse nada de mais. Rony estava mais vermelho que os cabelos, e só não disse nada porque Parvati deu-lhe uma grande cotovelada para que ficasse calado.

Samantha começou a caminhar pela classe, olhando cada aluno. Seus saltos faziam o barulho característico enquanto caminhava.

- Todos permanecerão na sala. – ela falou. – Nada de ala hospitalar ou curativos para vocês. – ela completou, encarando os alunos briguentos. – Não quiseram se bater, agir como trouxas? Machucaram-se por conta própria, e merecem sentir a dor de seus ferimentos. – ela olhou diretamente para Harry. – Aprender com a própria dor...

Ela caminhou novamente até sua mesa, sentando-se calmamente sobre ela, com as pernas cruzadas. Correu o olhar mais uma vez pelos alunos e falou:

- Isso está errado... – ela apontou a varinha para Rony, e Hermione tremeu. – Grifinórios perto de grifinórios... – e apontou, depois, para Crabbe, que estava ao lado de Pansy Parkinson. – Sonserinos perto de sonserinos... Tsk, tsk... Vocês acham que eu vou mesmo ser boazinha com vocês? – ela sorriu maliciosamente. – Grande engano... Nenhuma turma me desafia assim e sai barato... Não mesmo...

Muitos alunos tremeram, outros engoliram em seco. Hermione tremia tanto que Harry começou a se preocupar que ela fosse ter um ataque ali. Samantha encarava a sala como se estivesse estudando-a.

"Harry, eu não te preveni para ficar longe dela por nada!"

Talvez Sirius realmente tivesse razão, afinal...

- Vocês terão um trabalho hoje. – a mestra disse subitamente. – Para nota. E não é qualquer nota. Vai entrar na nota dos seus exames. – o queixo de Hermione caiu até o chão. Muitos tiveram a mesma reação que ela também. – Por isso, realmente espero, para o bem de vocês, que façam com empenho. – ela disse brandamente.

Ela sorriu, aquele sorriso que não chegava aos olhos, e saltou da mesa, ficando de pé.

- Será feito em duplas. Eu mesma as escolherei. – todos engoliram em seco. Realmente estavam ferrados. – Duplas mistas... Meninos e meninas... Sonserinos e grifinórios...

- COMO É QUE É? – Malfoy gritou.

Samantha se virou para ele, tentando parecer educadamente surpresa.

- Obviamente eu não entendi direito o que senhor quis dizer, Sr. Malfoy... – ele engoliu em seco, mas já era tarde demais. – Explique-se melhor, por favor.

- Bem, eu... – ele pigarreou, tentando encontrar palavras suficientes. – Eu não vou trabalhar junto a um grifinório sujo!

Muitas exclamações de raiva, indignação e xingamentos se sobrepuseram a essa frase do sonserino. Harry achou que ouviu claramente Simas xingar Malfoy de "filho de... uma boa mãe".

- Se o senhor não está contente... – Samantha simulou uma voz compreensiva. – PROBLEMA SEU!

Malfoy tremeu visivelmente depois do grito ressonante que a professora deu. Ela apontou a varinha para ele, que tremeu mais ainda.

- Já que está tão ansioso, Sr. Malfoy será o primeiro a ter uma dupla...

Ela correu a varinha pela classe, passando por todas as garotas grifinórias até parar, exatamente, em ninguém menos que Hermione.

- O QUÊ? – Rony não se conteve.

- Como, Sr. Weasley? – a professora perguntou, olhando para Rony, que estava decididamente cor de fogo. Ela não desviou a varinha da posição, bem na direção de Hermione.

Rony ia abrir a boca para dizer algo, mas antes que o fizesse, olhou para a namorada, que lhe lançou um olhar significativo para que não dissesse nada. Bufando, ele disse apenas:

- Nada, professora.

- Foi o que eu pensei. – ela disse calmamente, finalmente desviando a varinha de Hermione e apontando-a para Malfoy. – O que está esperando afinal, Sr. Malfoy? Faça dupla com a Srta. Granger. AGORA!

Muito a contragosto, Malfoy se aproximou. Ele e Harry trocaram um olhar de puro ódio. Harry estava meio à frente de Hermione, impedindo a passagem do sonserino, e a professora disse:

- Saia daí, Sr. Potter! Está atrapalhando!

Harry viu, do outro lado da classe, um Rony desesperado olhando e gesticulando para ele. O rapaz entendeu a mensagem e disse, bem baixo, de modo que somente Malfoy ouvisse:

- Se você ousar fazer alguma coisa com ela, vai pagar caro. – e se afastou, deixando o sonserino passar, o que ele só fez depois de lançar um olhar estreito e furioso para Harry.

- O senhor, Sr. Potter... – Samantha falou, apontando a varinha para Harry. – Pode ficar com... – ela correu o olhar pelas sonserinas e sorriu ao ver uma. – Com a Srta. Willians.

- O QUÊ? – incrivelmente, Harry, Willians e Malfoy gritaram as palavras ao mesmo tempo.

Harry se pegou em profundo desespero. Willians? Fazer dupla com ela? Aquilo era o fim, decididamente era. O que Samantha pretendia?

Contrastando com a situação, a professora apenas os olhou calmamente. Parecia até estar se divertindo com tudo aquilo.

- Eu acho que vocês não têm noção do que está acontecendo... Todos vocês! – mas ela olhava apenas Harry. – Vocês armaram toda essa bagunça na minha classe e ainda querem privilégios? Vocês imaginaram por algum segundo sequer que eu iria facilitar? Está claro que não me conhecem... Eu não admito o que aconteceu aqui hoje.

- Mas os outros alunos não precisam pagar pelo erro de meia dúzia! – Willians exclamou subitamente. Todos a encararam como se ela fosse de outro planeta. Samantha lhe lançou um olhar indescritível.

- Como disse, Srta. Willians? – ela perguntou secamente.

- Eu disse, professora, que se alguns alunos erraram, os outros não precisam pagar pelo erro também. É injusto!

Samantha olhou a garota por alguns instantes intermináveis antes de dizer:

- Vinte pontos a menos para a Sonserina. – urros exasperados por parte dos sonserinos puderam ser ouvidos. Os grifinórios estavam boquiabertos. Talvez pela primeira vez na vida, grifinórios e sonserinos concordavam que o que a professora tinha acabado de fazer era realmente injusto. Mas o pior ainda estava por vir. – Pela sua intromissão, senhorita, o seu trabalho valerá o dobro da nota.

- Mas eu não disse nada e vou acabar levando a culpa também? – Harry exclamou desesperado, sem conseguir se conter.

- Se disser mais alguma palavra, Sr. Potter valerá o triplo. – a professora disse secamente. O queixo de Harry caiu. – Agora sente junto com a Srta. Willians onde eu mandei antes que eu fique mais irritada...

Bufando de raiva, Harry caminhou batendo os pés até onde Samantha tinha mandado. Malfoy o acompanhou com um olhar furioso durante todo o caminho. Quando se colocou ao lado de Willians, viu que a garota estava prestes a soltar fogo pelos olhos; ela encarava com ódio a professora, murmurando palavras incompreensíveis. Harry podia entendê-la, pois sentia o mesmo.

Depois dessa exibição de autoridade da Profª. Stevens, ninguém mais ousou reclamar de nada. Parecia até que os alunos estavam respirando mais devagar com medo de que a mestra reclamasse de mais alguma coisa. Naquele fim de tarde, algo inimaginável e impossível estava acontecendo; pela primeira vez, grifinórios e sonserinos estavam unidos num único sentimento: raiva pelo que a professora estava fazendo-os passar. Ninguém nunca tinha feito algo parecido com eles. Snape costumava cometer injustiças semelhantes contra a Grifinória, mas nunca contra a Sonserina também. Naquele momento, Samantha estava conseguindo ser mais odiada do que qualquer outro professor de Hogwarts.

Ela separou o restante dos alunos em duplas do mesmo estilo que as primeiras; Rony fez par com Pansy Parkinson, para total desespero do garoto. Porém, as mais desesperadas de longe e mais dignas de pena pela parte dos grifinórios eram Parvati e Lilá, que acabaram sobrando para duplas de Crabbe e Goyle. Praticamente, elas estavam sozinhas para fazer o trabalho; era sabido que os dois sonserinos não sabiam nem falar direito, quanto mais realizar um trabalho complicado como o que Samantha passou para a sala.

Uma redação de três rolos de pergaminho sobre tudo, exatamente tudo, que ela tinha lhes ensinado desde o começo do ano até o momento. Ela colocou na lousa como queria a redação: "Descreva, com suas palavras, as diferentes formas de torturas físicas e psicológicas aprendidas, demonstrando exemplos e ilustrando com desenhos."

- Vocês têm mais trinta minutos de aula. – ela falou, olhando um relógio de pulso de prata que usava. Os alunos quase desmaiaram de desespero; obviamente não era tempo suficiente. – Mas eu serei generosa e permitirei que fiquem o tempo que precisarem na classe. Não tenho pressa. – ela completou com aquele sorriso cínico.

Dois segundos depois os alunos estavam escrevendo freneticamente, comentando baixinho o que tinham que fazer. Por mais que elas pipocassem em cada mesa, não havia tempo para discussões. Todos estavam muito mais preocupados com as próprias notas do que com as habituais picuinhas entre grifinórios e sonserinos. O único som na sala era o barulho frenético da pena riscando o pergaminho, ou então o das páginas sendo viradas nos livros. O sol se punha lá fora, dando um tom avermelhado ao ambiente, mas ninguém se importava se estava anoitecendo ou não; o importante era terminar aquela redação o mais cedo e o melhor possível.

Era terrivelmente complicado trabalhar junto à Katherine Willians. Harry teve que fazer um esforço homérico para não discutir a cada três segundos com a garota. Eles discordavam de absolutamente tudo. Depois de começarem duas vezes a redação e não conseguirem escrever mais nada devido às desavenças, a própria Willians sugeriu que dividissem o trabalho de uma forma de que um não precisasse se intrometer na atividade do outro. Harry tinha mais facilidade com os conceitos da matéria do que ela, por isso que ficou com a parte mais chata: redigir o texto. Já Willians se responsabilizou pelo desenho que precisavam apresentar, o que Harry apreciou bastante; em matéria de desenho, ele não sabia fazer nem uma árvore decente, imagine pessoas, que era, de certa maneira, o que a menina estava fazendo.

Enquanto Harry escrevia o melhor que conseguia fazer, ele ouvia o barulho constante de Willians ao seu lado riscando o papel. Às vezes, quando parava de escrever por alguns instantes para procurar algo no livro ou simplesmente estralar os dedos, ele observava a garota desenhando. Ela podia ser chata e irritante, mas uma coisa Harry não podia negar: a menina desenhava excepcionalmente bem. Ela estava fazendo a gravura de duas pessoas, uma mulher e um homem, e a mulher estava lançando uma maldição no homem.

- O que você tá olhando? – Willians se virou de súbito, encarando Harry. – Não deveria estar escrevendo?

- Como percebeu que eu tava olhando?

- Eu sinto quando as pessoas estão me olhando desenhar. – ela falou simplesmente. – Eu odeio quando me observam desenhando.

- Tá bom, não vou mais olhar. – ele deu de ombros, e pegou novamente a pena, mas Willians segurou seu queixo e o fez se virar para vê-la; a mão dela estava quente e suada. Harry já ia protestar quando ela falou:

- Não se mexe. É só um minuto. – ela estreitou os olhos para vê-lo melhor. –Preciso de um modelo. Já que você não tá fazendo nada mesmo, eu vou usá-lo.

- Como?

- Já falei para não se mexer!

Durante aproximadamente um minuto, os dois apenas ficaram se olhando; Willians parecia estar decorando as feições do rapaz para passá-las para o papel, enquanto Harry, aborrecido, tentava não se mexer. Ele suspirou aliviado quando ela soltou seu queixo e se pôs a desenhar novamente, permitindo que ele pudesse voltar ao seu próprio trabalho.

Anoiteceu. Passou-se muito tempo até que as primeiras duplas começassem a entregar suas redações. Pelo canto dos olhos, Harry viu alguns de seus colegas saindo; Neville, que fazia dupla com Emília Bullstrode, saiu bastante abatido e apático da sala. Rony saiu soltando fogo pelas orelhas, discutindo com Pansy Parkinson sobre alguma coisa do trabalho. Quando Harry finalmente completou os três pergaminhos e largou a pena sobre a carteira, encostando-se na cadeira e se espreguiçando, ele viu Lilá e Goyle entregando sua redação. Lilá parecia exausta, enquanto Goyle tinha a mesma expressão aparvalhada de sempre.

Quando os dois saíram, o olhar de Harry cruzou com o de Samantha, que estava começando a ler os trabalhos. Ela sorriu ao ver o rapaz, e lançou novamente aquele olhar que tanto o incomodava. Não parecia mais tão irritada como antes. Harry estreitou seus olhos para ela e desviou o rosto.

Com o movimento, notou que restavam somente duas duplas na sala. Ele e Willians, e mais uma: Hermione e Malfoy. Durante alguns segundos, Harry os observou: Hermione parecia estar tiranizando o trabalho, bem ao seu estilo mandão; ela mandava e desmandava no sonserino, que reclamava a todo instante, mas Hermione continuava a dar ordens. Harry não conseguiu deixar de sorrir diante daquela situação cômica; ou Hermione estava realmente preocupada com o trabalho, ou ela estava se vingando à sua maneira de Malfoy. Harry achou que eram as duas coisas ao mesmo tempo.

- AH! – Willians exclamou ao seu lado, e Harry se virou para vê-la. A garota, como ele, tinha se encostado na cadeira, os olhos fechados, se espreguiçando. – Acho que não vou conseguir segurar um lápis novamente por uma semana... – ela suspirou.

Harry aproveitou a oportunidade e pegou o desenho para vê-lo. Como se sentisse, Willians rapidamente abriu os olhos e tentou pegar o papel das mãos de Harry, mas ele colocou ao longe do alcance dela.

- Me dá isso aqui, Potter! – ela disse nervosa.

- Não antes de ver. Eu faço parte do trabalho também, esqueceu? Tenho meus direitos! – ele olhou atravessado para ela, que bufou.

- Como poderia esquecer? – ela disse gelada. – Se foi exatamente por sua culpa que a classe toda teve que fazer esse trabalho idiota...

- Não fui só eu! – ele exclamou, e Willians fez "shhh", apontando a professora, que os olhava. Harry abaixou o tom de voz, contrariado. – O seu "priminho", como sempre, provocou.

- Draco é um bestalhão assim como você. Todos os garotos são... – ela cruzou os braços. – Ou do contrário não ficariam lutando como selvagens. Agora me devolva! – ela esticou o braço, tentando alcançar o papel nas mãos de Harry.

- Nem pensar! Só depois que eu ver se você não melou minha nota! – ele olhou o desenho e não deixou escapar: - Nossa... parece até uma foto!

As bochechas de Willians ficaram levemente coradas pelo comentário, e ela aproveitou-se da estupefação de Harry para arrancar o papel de suas mãos. Enquanto ela o depositava sobre a mesa para escrever os nomes deles no rodapé, Harry ficou observando a gravura. Estavam representados, como ele tinha visto antes, um homem e uma mulher, mas agora que estavam terminados, eram muito melhor definidos. Harry reconheceu detalhes seus no homem da figura; os cabelos eram ligeiramente despenteados como o dele, e as feições do rosto eram bem parecidas com as suas próprias. De fato, Willians o tinha usado como modelo. Harry só não gostou da parte em que o homem da gravura estava sendo atingido pela maldição; dava-lhe a sensação de que era ele que estava ali.

- Você já teve aulas de desenho? – Harry perguntou à garota, enquanto ela dava os últimos retoques na gravura com o lápis seguro pela mão enluvada.

- Não. – ela respondeu simplesmente. – Faço só pra me distrair, mas às vezes é útil, como agora.

- Anh...

Willians levantou novamente o papel, analisando-o com um olho só e fazendo uma careta.

- Poderia ter ficado melhor... mas serve.

- Ótimo! – Harry exclamou, fazendo menção de se levantar. – Vamos entregar essa porcaria toda desse trabalho, que não agüento mais isso aqui.

- Não.

Harry a olhou como se ela tivesse problemas mentais.

- Por que "não"?

Willians deu um olhar estreito na direção da professora, com um leve sorriso nos lábios.

- Vamos humilhar essa professora...

- Como é que é?

Enquanto retirava do meio das vestes sua varinha, ela perguntou:

- Você fez essa redação direito, né, Potter?

- Fiz o melhor que pude. – ele disse emburrado.

- Espero mesmo. – ela tocou com a ponta da varinha o desenho, murmurando um feitiço, e instantaneamente as figuras tomaram movimento, como se fossem um quadro bruxo. A mulher do desenho abria a boca para dizer algo e, da sua varinha, saía um feitiço que atingia o bruxo da gravura. Harry estava boquiaberto.

- Puxa...

- Agora podemos entregar. – Willians disse com um sorriso maroto no rosto.

Os dois se levantaram, e Harry notou que Malfoy os acompanhava com o olhar. Às suas costas, Harry ouviu Hermione exclamar:

- Escreve logo o que eu tô dizendo, Malfoy! Ou vamos ficar nesse lugar para sempre!

Foi Willians que entregou o trabalho. Quando Samantha o recebeu, sua face tomou uma leve expressão de divertimento, e ela provocou:

- Não podia perder uma chance de se mostrar com seus dotes artísticos, não é, Srta. Willians?

A garota sorriu falsamente.

- Espero que a senhora goste. A parte escrita foi o Potter quem fez, então não sei se está muito bom...

Harry a olhou com raiva.

- Está bom.

- Eu tenho certeza que sim. – Samantha disse com um sorriso. – Podem ir agora. E Sr. Potter... – ela o chamou, quando Harry já estava se virando, louco para ir embora dali. – Espero que não tenha se esquecido de permanecer para combinarmos sua punição.

- Mas os outros...

- Os outros estão lá fora, esperando o meu chamado. O senhor pode esperar com eles.

Harry assentiu, muito aborrecido, e saiu junto de Willians. Quando os dois cruzaram a porta, e Harry a encostou, a garota se virou para ele.

- Nossa trégua termina aqui, Potter.

- Eu mal podia esperar para que ela acabasse...

Willians lhe deu um sorriso cínico.

- Boa sorte. Vai precisar...

E ela foi embora, andando calmamente. Harry suspirou. Tinha sido uma longa tarde, e pior que ainda não tinha acabado.

Observando ao redor, ele viu Rony o chamando alguns metros adiante. O amigo estava sentado no chão, encostado à parede. Os outros alunos, que eram Dino, Simas, Crabbe e Goyle, estavam espalhados em outros cantos do corredor. Harry se aproximou do amigo e deixou-se escorregar pela parede, sentando no chão ao seu lado.

- Tô acabado...

- Que duplinha que você pegou, hein? – Rony ironizou. – Katherine Willians... que sorte a sua...

- Nem me fale. Essa garota é um terror.

E Harry narrou em poucas palavras sua aventura para conseguir fazer o trabalho junto com a sonserina. Rony deu uma risadinha baixa quando Harry terminou; ele reparou que o corte no lábio do amigo agora estava bem feio: cheio de sangue pisado. Passou a mão no seu próprio ferimento na cabeça e viu que o mesmo tinha acontecido com ele também.

- Pelo menos ela te ajudou em alguma coisa. – Rony comentou depois que Harry terminou de falar. – Aquela Parkinson é uma incompetente completa!

- Por quê?

- E você ainda pergunta "por quê"? – Rony exclamou indignado. – Aquela menina é mais burra do que uma porta! Sinceramente, acho que ela não conseguiria distinguir uma maldição de um feitiço nem que os dois dançassem na sua frente mostrando cartazes dizendo o que eram!

Harry riu.

- Você está muito acostumado com a Mione, Rony... Ela é inteligente demais perto dessas garotas...

- Ah, mas essa sonserina é burra demais! Por Merlin, não sei como ela conseguiu passar nos exames até agora. Eu não sou um exemplo de inteligência, mas também não sou um tonto completo!

Harry deixou seu corpo escorregar mais um pouco até estar quase deitado no chão.

- Por falar na Mione, ela ainda não saiu, né? – Rony perguntou sério.

- Não. Ficou por último, como sempre.

- É, só que ela não está lá sozinha... – o amigo mordeu o lábio superior. – Aquele nojento tá lá com ela.

- Não se preocupe. – Harry falou sorrindo. Rony o olhou com a sobrancelha erguida. – Pelo que eu vi, ela está lidando muito bem com ele.

Não demorou muito para que Rony comprovasse o que Harry tinha dito com os próprios olhos. A porta da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas se abriu, e por ela saíram Hermione e Malfoy; este parecia totalmente esgotado. Hermione exclamou irritada:

- Eu não acredito que você escreveu aquela besteira no final! Será que você não tem cérebro? Vamos perder pontos por isso, sabia?

- Granger, se você disser mais alguma coisa...

- Você vai fazer o quê? – Rony perguntou entredentes, levantando e colocando os braços na cintura.

Malfoy olhou para Rony como se fosse vomitar.

- Tenho pena de você, Weasley. Não consigo imaginar como você pode agüentar essa garota todo o tempo! Ela é de enlouquecer qualquer um!

Enquanto Malfoy se afastava, batendo os pés, até se aproximar de Crabbe e Goyle, Hermione vinha na direção de Rony e Harry, abafando risadas. Rony a olhava intrigado.

- Você tá bem, Mione? O que aquele cara fez com você?

- Acho que a pergunta mais adequada seria "o que ela fez com ele", Rony... – Harry disse sarcástico, quase deitado no chão, com as mãos sobre a barriga.

Hermione controlou suas risadinhas.

- Sinceramente, essa foi uma das experiências mais divertidas que eu tive!

- Você é masoquista ou o quê, Mione? – Rony perguntou alarmado. – Decididamente ele deve ter feito algo com você!

- Vocês não têm noção do quanto foi divertido! – Hermione continuou, ainda rindo. – Malfoy realmente sofreu nas minhas mãos, foi muito engraçado!

- Eu imagino. – Harry falou. – Se ele não fosse tão idiota, eu sentiria pena dele.

- Ah, Harry. – Hermione disse subitamente, pegando algo de dentro das suas vestes e jogando em cima do amigo, que apanhou o objeto no susto. Eram seus óculos, mas não estavam mais quebrados. – Eu os recolhi do chão quando estava saindo e consertei para você. Tem que ser mais cuidadoso.

- Como eu poderia ser cuidadoso no meio daquela confusão? – ele se defendeu, colocando no mesmo instante as lentes sobre os olhos. – Ah, como eu estava sentindo falta de ver o mundo nítido...

- Putz... – Rony deixou escapar junto com uma risada. A porta da sala se abriu no mesmo instante, e a cabeça de Samantha Stevens apareceu.

- Vocês podem entrar agora. – ela disse seca, e colocou a cabeça para dentro novamente.

- Acho melhor eu ir embora, então. – Hermione suspirou, olhando um pouco preocupada para o namorado e o amigo. – Se cuidem, ok? E depois vão cuidar desses ferimentos com a Madame Pomfrey.

Rony piscou para a namorada, tentando tranqüilizá-la, enquanto Harry se contorcia todo para sair de sua posição desajeitada e se levantar.

- O máximo que pode acontecer é a Sa... – Harry logo se corrigiu. – ... a Profª. Stevens nos dar uma detenção.

- Que é o que seguramente vai acontecer. – Rony completou.

- Eu estou falando sério, meninos. – Hermione disse. – Não brinquem com fogo. Essa professora não é flor que se cheire...

Os outros alunos estavam entrando. Hermione olhou deles para Harry e Rony, e disse:

- É melhor vocês irem antes que as coisas piorem. Tomem cuidado.

Harry e Rony acompanharam a garota com o olhar enquanto ela se afastava, e Harry se perguntou o que ela sabia que ele ignorava.

- UMA ESTUPIDEZ! – Samantha gritou, andando de um lado para outro na sala de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Os quatro grifinórios e os três sonserinos estavam sentados em carteiras de aula, observando em silêncio a professora dar seu sermão, andando de um lado para outro na frente deles. Estava muito escuro lá fora e, certamente, eles todos tinham perdido o jantar, a sobremesa e as sobras de tudo isso. Harry ouviu o estômago de Rony roncando umas duas vezes. Mas era óbvio que ninguém se atrevia a dizer absolutamente nada.

Samantha estava dando um enorme sermão que já devia ter passado de uns quarenta minutos. Ela ia e voltava, andando ora para um lado, ora para outro, e outra vez entre os garotos. Seus saltos faziam o barulho característico, e a cabeleira cacheada dela girava a cada passo que dava. Seu rosto estava vermelho de raiva, fazendo com que os olhos azuis se ressaltassem.

- Vocês têm noção do que fizeram? – ela perguntou.

Harry achava que esse escândalo todo que ela estava fazendo era porque ela tinha tomado o caso como um desaforo pessoal. Qualquer outro professor, até mesmo Snape, já teria deixado o caso nas mãos do diretor. Harry preferia que ela mesma cuidasse de tudo, mesmo que significasse uma punição pior; de maneira alguma queria ver o olhar de decepção de Dumbledore novamente.

- Pois eu vou lhes dizer, mocinhos. Vocês agiram como trouxas. Foram ridículos e insensatos. Em que mundo vocês vivem? Bruxos não lutam como feras indomadas, eles usam varinhas! Quer dizer, bruxos inteligentes... não bruxos idiotas como vocês.

Ela aguardou alguns instantes, deixando que suas palavras surtissem efeito. Malfoy estava visivelmente furioso pelas acusações dela, mas nem ele, nem ninguém, disse nada.

- O que eu ensino pra vocês? Defesa Contra as Artes das Trevas! E o que vocês usam para se defender? Os punhos! Ridículo! Inaceitável! Se queriam se portar como trouxas, que fizessem isso fora da escola! Principalmente, fora da minha sala!

Samantha bufou. Seus olhos exalavam sua profunda indignação.

- Um desaforo! Isso foi um desaforo, e eu não posso aceitar de maneira alguma! Com que cara eu vou ficar na frente dos outros professores se não tomar uma atitude firme?

- A senhora vai tirar muitos pontos da gente? – Crabbe perguntou com sua voz semelhante a um grunhido. Harry ficou surpreso que ele conseguisse construir uma frase.

Samantha gargalhou escandalosamente.

- Pontos, Sr. Crabbe? Vocês não precisam se preocupar tanto com isso... – todos a olharam embasbacados. – Tirarei cinqüenta pontos de cada Casa, o que sai muito barato. Eu não gosto muito de tirar pontos, acho ineficaz. – Simas pareceu tremer. – Prefiro punir os alunos responsáveis, e puni-los exemplarmente...

Ela andou até sua mesa e sentou-se sobre ela com as pernas cruzadas, encarando a classe com um sorriso cínico.

- Eu soube recentemente que Rúbeo...

- Rúbeo? – Dino perguntou.

- Rúbeo Hagrid. – a professora completou com desagrado. Harry ficou surpreso em saber que era assim que ela chamava Hagrid. – Pois bem, como eu dizia... Rúbeo está precisando de ajuda com suas criaturas. – todos fizeram caretas. – E vocês vão ajudá-los. Eu soube também que já houve punições como essas aqui em Hogwarts e que elas foram bem sucedidas.

Ela umedeceu os lábios finos antes de continuar.

- Rúbeo está tendo alguns problemas em alimentar alguns Thestrals que estão na floresta, e pelo que sei, ele também está tendo certas dificuldades com alguns hipogrifos selvagens. A tarefa de vocês será ajudá-lo. Vocês entrarão com Rúbeo na Floresta Proibida. Vou perguntar a ele qual será a noite em que ele vai entrar e depois lhes avisarei.

- Na Floresta Proibida? – Malfoy perguntou com a voz fraca. Harry sabia que o sonserino não gostava nada da floresta. Certa vez, Malfoy não teve uma experiência muito agradável na floresta, e Harry pôde ver o quanto ele era covarde. – De noite?

- Sim, Sr. Malfoy. – Samantha falou. – Na Floresta Proibida, de noite. O que foi, está com medo do Bicho Papão, é?

Malfoy ficou vermelho, enquanto os grifinórios abafavam risadinhas. Samantha correu os olhos pelos garotos, com uma expressão pensativa.

- Acho que não será necessário todos irem à floresta. Um de vocês pode ter uma detenção diferente, o restante irá junto com Rúbeo. Alguém se voluntaria?

Todos, exceto Harry e Rony levantaram a mão. Os dois estavam acostumados demais com as criaturas do Hagrid para se preocuparem com uma detenção como essa. Além disso, já estavam acostumados com a Floresta Proibida. Harry não via problema algum em entrar lá, e sabia que Rony também não, contanto que não tivessem que visitar uma certa aranha chamada Aragogue e sua família.

Samantha deu uma risadinha baixa e completou:

- Porém, devo avisá-los de que essa detenção será comigo.

Rapidamente, todos abaixaram as mãos. Depois da exibição de poder e autoritarismo da professora na aula, ninguém mais a via somente como a bela professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Como eu pensei... – ela falou, observando os garotos que tinham abaixado suas mãos. – Bem... – ela saiu da mesa, ficando de pé. – Acho que vou ter que escolher um de vocês, então.

Ela apontou para Dino, que arregalou os olhos de susto, mas a professora logo começou a correr seu dedo pelos outros garotos. Permaneceu com o dedo apontado muito tempo para Malfoy e, posteriormente, Rony. Harry tinha um mau pressentimento, e ele se confirmou: Samantha parou o dedo exatamente nele.

- O senhor, Sr. Potter. O senhor vai ter sua detenção comigo. Alguma objeção?

Todos o encararam; Malfoy com certo divertimento. Harry olhou sem emoção para a professora. Já esperava por isso. Deu de ombros e cruzou os braços.

- Ótimo. – ela sorriu. – Muito bem, acho que terminamos por aqui. – ela falou, dando as costas a eles e sentando atrás de sua mesa. – Eu os avisarei do dia da detenção, e espero que nunca mais algo parecido com o que houve hoje aconteça aqui. Vocês podem seguir para a ala hospitalar, garotos.

O barulho de gente levantando, carteiras arrastadas, mochilas sendo colocadas nas costas, se fez ouvir. Rony se aproximou de Harry, fazendo uma careta e dizendo baixinho:

- Pensei que essa tortura nunca fosse terminar!

- Eu também. – Harry respondeu no mesmo tom, e os dois se encaminharam juntos para a porta. Porém, quando passaram em frente à mesa da professora, ela falou:

- O senhor fica mais um pouco, Sr. Potter. Preciso combinar sua detenção.

Harry tinha vontade de chutar alguma coisa. Respirou bem fundo para se acalmar e olhou para Rony. O amigo lhe respondeu com um olhar "é-melhor-não-discutir". Harry suspirou e permaneceu na sala, enquanto via todos os outros saírem para finalmente terem seu descanso. Que inveja...

Samantha esperou até que a porta fosse fechada pelo último aluno para que se virasse para Harry, olhando-o daquela maneira inquietante.

- Quer sentar, Harry?

Harry estava boquiaberto. Como ela conseguia mudar da água para o vinho com tanta facilidade? Seu tom estava tão brando que quem visse poderia achar que ela era dócil.

- Não, obrigado. – ele respondeu seco. Samantha sorriu.

- Ora, você não ficou bravo comigo, ficou?

Harry pensou seriamente na possibilidade de lançar uma azaração nela, mas como sabia que isso era impossível e inútil, limitou-se a um olhar assassino e essa frase:

- Pra ser sincero eu gostaria de não te ver pelos próximos dez anos.

- Oh, que exagero... – ela disse fingindo estar sentida e levantando-se, para depois sentar novamente sobre a mesa. Harry odiava aquele costume dela. Ficava muito mais difícil ser grosso vendo as pernas dela sob a fenda do vestido negro.

- Exagero? Quem é você para vir falar de "exageros"?

Ela riu daquele seu jeito escandaloso de sempre.

- Eu só mostrei minha autoridade. Se eu não fizesse o que fiz, todos vocês começariam a me desrespeitar, e eu nunca mais conseguiria dar aula direito.

- Você foi injusta, isso sim.

- Está parecendo a Srta. Willians, agora. – ela ironizou. Harry a olhou como se tivesse acabado de ser ofendido. – Por falar nisso, até que vocês dois fizeram um bom trabalho. – ela pegou da mesa o trabalho de Harry, que estava no meio de um monte de papéis, e ficou por alguns instantes observando os pergaminhos. – Eu estive dando uma olhada neles enquanto a última dupla terminava a redação.

- Vai me elogiar agora, é? – Harry perguntou sarcasticamente.

- E por que não? Se você fez um bom trabalho, merece elogios. – ela sorriu e piscou para ele. – Se você quiser, eu faço com que a nota volte a valer o mesmo que vale para os outros.

- Eu não quero. – Harry disse secamente.

- Mas eu vou fazer mesmo assim. – ela riscou alguma coisa no papel, enquanto o colocava junto aos outros na mesa, e voltava a encarar Harry. – Não é só por você, é por aquela menina também. Talvez... veja bem, "talvez"... eu tenha me excedido um pouco nesse caso.

Harry deu de ombros.

- Você vai me liberar, ou vou ficar aqui a noite inteira? Eu realmente estou cansado e queria dormir.

- Precisamos combinar sua detenção ainda...

- Duvido que você tenha feito eu permanecer aqui para falar da minha detenção. – Harry se arriscou a dizer. Ela sorriu novamente.

- Você é rápido para captar as coisas. Apesar de...

- Apesar de...

- De eu estar muito decepcionada com você. – ela parecia estar falando sério agora. – Eu não esperava essa sua atitude de hoje, Harry. Não "exagerei" quando disse que foi estupidez. Foi mesmo. – ela suspirou. – Já disse a você que precisa controlar seu temperamento, mas parece que você não me ouviu...

- Se eu ouvisse tudo que as pessoas me dizem... – Harry começou. - ...não estaria aqui falando com você agora.

Ela riu baixinho.

- Imagino muito bem a quem você está se referindo... Sirius Black. "Fique longe dela, Harry!" – ela engrossou a voz e riu. – Obviamente, Sirius não percebeu que você é um adolescente e, como tal, não ouve os mais experientes.

- Eu deveria?

- Não nesse caso. – ela piscou para ele.

Harry se perguntou por que ainda estava ali, tendo essa conversa com ela. Se bem que, mesmo que quisesse sair, ela certamente não permitiria.

- Sua detenção será no mesmo dia que a dos seus colegas. – ela falou prática e entediada. – Só que comigo. Eu pensarei em alguma coisa para você fazer até lá. Não se preocupe porque não será nada de mais...

- Quer dizer que você livrou minha barra? – ele insinuou.

- De certa maneira... – ela sorriu.

Pois eu preferia que não tivesse.

- Ora, deixe de ser tão certinho! Por que eu não poderia fazer isso por um amigo?

Harry preferiu não discutir.

- Que horas são?

Ela fez uma careta, mas olhou seu relógio de prata.

- Nove horas. Isso foi uma indireta para que eu te dispense?

- De certa maneira... – ele sorriu.

- Há, há, há... que engraçado... – ela ironizou. – Ok, Sr. Potter está dispensado! – ela indicou a porta.

- Também não precisa me expulsar... – ele falou, enquanto dava as costas a ela e caminhava até a porta.

- Não estou te expulsando. Se quiser ficar, não tem problema...

- Eu não quero ficar. – ele disse rude, abrindo a porta.

- Então, boa noite.

Harry se virou para olhá-la. A bruxa sorria de um jeito quase doce. Quem não a conhecia poderia acreditar que fosse...

- Boa noite, Samantha.

A risadinha dela foi abafada pela porta quando ele a encostou.

Harry só foi para a torre da Grifinória naquela noite quando já eram quase dez horas. Madame Pomfrey demorou para fazer o curativo na sua cabeça. Na verdade, ela mais reclamou do que trabalhou. Criticou várias vezes a Profª. Stevens por ter feito todos os alunos esperarem para serem atendidos. Segundo a enfermeira, isso só complicava na hora de fazer o curativo, pois era bem mais difícil depois que o ferimento estava aberto. Era preciso desinfetar, limpar, desinfetar novamente, fazer um feitiço para fechar o corte, e passar um cicatrizante no local. Harry saiu da ala hospitalar sabendo tudo sobre como curar cortes e ferimentos, e extremamente aborrecido.

A sala comunal da Grifinória estava cheia de quintanistas e setimanistas estudando para seus exames, mas também havia os sextanistas, colegas do mesmo ano de Harry, que estavam todos comentando sobre a injustiça que a Profª. Stevens cometera na aula. Harry se aproximou de uma rodinha de alunos do sexto ano, onde estavam seus amigos, Rony e Hermione, junto de outros colegas, como Neville, Dino, Simas, Lilá e Parvati.

- Você demorou pacas! – Rony exclamou assim que Harry se sentou entre Hermione e Parvati na rodinha.

- Nem me diga... – Harry falou, apoiando as mãos no chão e se esticando. – Tô quase morrendo aqui de tanto cansaço.

- O que a professora queria com você ainda? – Simas perguntou desconfiado.

- Foi o que ela disse antes. Queria combinar a detenção. – Harry mentiu.

- E é muito ruim? – Dino perguntou assustado.

- Anh... – Harry pigarreou. Não podia dizer que Samantha aliviara as coisas para ele. – Bem, é... realmente... péssima! – disse, fazendo uma careta para dar mais veracidade à história.

Estranhamente, ele tinha a sensação de que Hermione não tinha acreditado nele, pelo olhar que lhe lançou.

- Você pelo menos foi na ala hospitalar depois disso? – ela perguntou.

- Fui. – Harry riu, e mostrou o curativo. – Tá aqui a prova. Acredita em mim?

Ela fez uma cara de desaprovação, mas assentiu. Rony riu baixinho.

- Aquela Stevens é uma desgraçada! – Simas exclamou.

- Você ainda tinha dúvidas? – Lilá perguntou.

- Todas nós sempre tivemos certeza disso. – Parvati disse.

- Eu pensei que isso só fosse implicância das meninas. – Neville comentou.

- Não é implicância. – Hermione falou seriamente. – É a verdade. É preciso tomar cuidado com ela. Muito cuidado.

Harry a olhou intrigado. Hermione pareceu fugir do olhar do amigo.

- Bem, mas agora acabou, não é? – Rony falou, abraçando Hermione por trás. – Nós já fizemos a redação idiota, já passamos pela Stevens...

- Acabou nada! – Dino exclamou. – Nós quatro ainda temos detenções! – ele disse, referindo-se a ele, Simas, Rony e Harry.

- Não me apetece a idéia de entrar na floresta para procurar bichinhos com o Hagrid... – Simas comentou. Neville fez uma careta.

A conversa já ia seguir para os animais peculiares que Hagrid gostava, quando Harry se levantou subitamente.

- Já vai? – Rony perguntou.

Eu tô exausto... – Harry falou, ajeitando a calça do uniforme que tinha se amassado quando ele sentou no chão. – Vou subir, tomar um banho e dormir...

- Nem vai comer? – Hermione perguntou. – Eu fui na cozinha pegar algo para mim e trouxe para vocês também.

- Não tô com estômago para comer agora, Mione. – Harry disse fazendo uma careta. – Boa noite para vocês.

Dez minutos depois, Harry estava debaixo do chuveiro, no dormitório masculino do sexto ano, tomando uma ducha quente. Enquanto deixava a água morna cair sobre sua cabeça e seu corpo, ele pensava em tudo que tinha acontecido durante o dia... A briga com Malfoy, a reação de Samantha... ele fazendo dupla com Willians! A detenção... por que Samantha o tratava diferente?

"Fico me perguntando por que veio parar aqui, Stevens... foi por causa do Potter?"

Ele precisava descobrir... Precisava dar um jeito de saber o que aquela mulher escondia... Sirius devia saber, mas nunca o contaria. Ele precisava descobrir por si mesmo. Mas como?

Quando Harry saiu do boxe, enrolado em uma toalha enquanto secava os cabelos com uma outra, ele quase caiu para trás de susto. Havia alguém sentado sobre a privada, de costas para ele. Mas não era alguém qualquer; para começar, essa pessoa nem estava viva.

- Murta?

A fantasma se virou para olhá-lo, e sua expressão era diferente da costumeira cara de choro e tristeza. Murta tinha uma expressão séria e urgente no rosto transparente.

- Você não pediu que eu te ajudasse? Então... a oportunidade chegou.