10-Choques
nota da autora: Eu queria agradecer a Ameria Asakura pela review e a Marcelleβ Halliwell que foi a primeira a ler esse capítulo.
Diário de Lily-29 de junho de 1975 Mia,Acho que essa é a primeira vez que tenho algo terrível para escrever e não tem nada a ver com o meu dom/maldição. Ontem deve ter sido um dos piores dias da minha vida. Nem parece que ano passado fiquei tão arrasada por causa do Black. Sabe como fiquei chateada ao perceber que não podia perdoá-lo e que daquela vez o fim era de vez. Hoje isso e qualquer um desses probleminhas de adolescência são meras tolices. Melhor voltar ao início de tudo.
Ontem eu voltei de Hogwarts no expresso e a viagem foi como sempre. Pelo menos se considerarmos que não tenho mais nada a ver com o Grifinório arrogante e tive que segurar vela do Severo e da Chloe.(n/a: Eu talvez fale mais desse romance em uma songfic o que acham?) Eu não contei como eles ficaram juntos! Aconteceu ontem mesmo antes da viagem. Em pensar que eu estava tão alegre...
Sev é apaixonado pela Chlo desde sempre e tem sido um verdadeiro amigo para ela com essa história do Lupin. Paciente como nunca supus! Ainda assim ela não estava disposta a dá-lo uma chance com medo de se decepcionar novamente. Então em nossa última noite antes das férias tivemos uma longa conversa e ela me confessou que achava que só tinha uma paixonite pelo lobisomem. E o que me deixou muito feliz achava que estava gostando mesmo do Sev e mais do que como amigo. Depois dessa declaração não podia ficar de braços cruzados.
Arrumei uma conversa para os dois, no que não tive nenhuma dificuldade. No café da manhã caminhei até a mesa da Sonserina como se fizesse isso todo dia. É claro que quase nunca vou até lá, por causa do Malfoy e sua turminha chata e nojenta. Lucius foi o primeiro a reparar na minha presença, entretanto lancei-lhe um olhar do tipo "não me amole ou..." e ele pareceu compreender. Então me voltei para Severo e disse: "Preciso falar com você. Pode me encontrar mais tarde no jardim?" Ele concordou e a primeira fase do meu plano tinha sido bem sucedida. Para tornar tudo ainda melhor o teto do Salão principal refletia o céu azul de um lindo dia de verão.
A segunda era convencer Chlo a dar uma volta comigo. Para minha sorte nossas malas já estavam arrumadas e ela não impôs muitas objeções. O mais complicado foi dar a direção certa ao nosso passeio. Não demorou muito para o Sev aparecer. E com uma desculpa para lá de esfarrapada deixei-os a sós.
Voltei rapidamente para o castelo. Não queria espiá-los, porque aquela situação toda se assemelhava demais a outra vez que promovi um encontro para minha amiga. A última coisa que quero é ficar lembrando daquela época. O Severo sendo esperto como é, e não um idiota como o Lupin, entendeu tudo e não precisou de mais nenhum empurrãozinho. Os dois saíram de lá namorando. Minha única falha foi esquecer de avisa-lo que a ela tem alergia a certas flores e os dois foram parar na enfermaria! A coitada ainda estava com crises de espirros ocasionais no trem. Bem, pelo menos ele sabe desde cedo que não deve dar-lhe flores do campo a não ser que deseje ter um encontro no St. Mungo's.
Retornando ao assunto sobre o qual realmente queria escrever...Quando cheguei a estação esbarrei por acaso no Tiago, sim agora eu o chamo pelo primeiro nome. Nossa "amizade" na verdade começou já tem um bom tempo, não? Falamos um com o outro de forma civilizada desde que o agradeci por salvar o Severo. Dessa vez não foi diferente. Ele apenas me cumprimentou polidamente. Minha mãe me encontrou justamente nesse instante. Ela tem atravessado a barreira agora que sei do segredinho dela ou pelo menos de parte dele. A não ser é claro se a Petúnia está com ela, porque a minha irmã nem sonha com o fato de sua adorada madrasta ser uma bruxa.
Para minha surpresa minha mãe começou a fazer perguntas educadas sobre o senhor Potter, pois os dois freqüentaram Hogwarts na mesma época e tinham sido amigos. Então ela resolveu esperar pela Sra. Potter, no entanto a mãe de Tiago não chegava. O tempo foi passando até que não sobrou mais ninguém na plataforma e todos nós estávamos aflitos. Até que mamãe fez uma sugestão que me surpreendeu:
"Posso te levar pra casa? Provavelmente sua mãe teve um contratempo e se atrasou."
"Tem certeza que não se incomoda? Não é muito perto daqui e também tem a chance de ela já estar a caminho."
"Algo me diz que ela não está. E pode ser distante daqui, só que é mais ou menos caminho para minha casa." Tive que me esforçar para não lançar um olhar espantado para ela.Primeiro, como ela podia saber onde ele morava? É claro que essa dúvida foi idiota, pois mais tarde me ocorreu que ela devia ter visitado a Mansão Potter antes. No entanto de uma coisa eu estava certa, ela tinha tido uma visão relacionada aquilo. Naquele momento compreendi o desejo dela de esperar, afinal jamais antes tinha manifestado a menor curiosidade a respeito dos antigos colegas."Que tal irmos via Pó de Flu? Podemos passar no caldeirão furado. Algum problema?"Tiago parecia confuso, mas aceitou.
"E a Petúnia?"a questionei apenas para provocá-la, pois não tinha nenhum interesse em saber sobre minha "amada" irmã.
"Foi pra casa de uma amiga."ela respondeu impaciente. Nesse momento já caminhávamos para o carro. Chegamos lá em silêncio. Acho que cada um estava perdido nas próprias reflexões.
Ela nos levou ao Caldeirão Furado. Antes de descer do carro ela mirou o espelho, focou seu olhar em mim e achatou uma franja imaginária como sinal para que eu fizesse o mesmo. A obedeci. O recado era claro tinha que tomar cuidado para que a lua azul na minha testa ficasse invisível passando despercebida. Continuo me perguntando se o sinal dela está apagado mesmo ou ela fez algum feitiço que não quer me ensinar por algum motivo.
De repente ela agia como alguém assustado. Examinou cada pessoa no bar como quem está amedrontada e quer ter certeza de que seu perseguidor não está no local. Era fácil perceber que ela não queria ser reconhecida.(n/a: De quem será que ela está fugindo?) Ficou em um canto escuro, escondido e pediu que Tiago fosse pedir o pó para o barman.
Tiago voltou e minha mãe decidiu que eu deveria ser a primeira. Fui avisada para dizer Pendragon(n/a: eu achei mais legal do que Mansão Potter ou algo do gênero e vocês?).
"Como uso isso?"indaguei, pois essa foi a primeira vez que viajei pelo sistema de lareiras, apesar de já saber da existência dele.
"Ah! Eu esqueci que você nunca fez isso antes! É fácil, não se preocupe. Só precisa pegar uma pitada do pó brilhante e atirar no fogo da lareira." Fiz o que ela mandou. As chamas com um rugido ficaram verde-esmeralda e muito altas. "Entre nelas e diga com o máximo de clareza Pendragon como ele avisou. Cuidado, se pronunciar incorretamente pode se perder."
"Não seria melhor o Potter ir primeiro?"sugeri ainda o chamando pelo segundo nome.
"Nem pensar! Seja corajosa. Mantenha os cotovelos colados ao corpo e olhos fechados. Fique parada."Aconselhou.
O que tenho a dizer dessa primeira experiência? Bem, não te aconselharia e nem a ninguém a utilizar essa forma de transporte.(Ah, de vez em quando levo a sério demais escrever isso como se fosse uma carta!) O fogo era como uma brisa quente. Quando abri a boca e engoli um monte de cinzas quentes. A sensação foi a de ser sugada por um enorme ralo, girando muito rápido. O rugido em meus ouvidos ensurdecedor. Fiquei enjoada! Depois senti como se mãos geladas batessem em meu rosto. Caí de cara no chão em cima pedra fria. Ainda bem que não uso óculos, senão eles teriam partido.(n/a: Por que o Harry tem que se parecer com o Tiago em tudo fora os olhos? Achei que como a Lily também foi criada como trouxa combinava melhor ser ela a ter problemas com o Pós de Flu.)
Não foi preciso esperar muito para eles chegarem. Minha mãe foi à última. Enquanto aguardava observei a sala de estar da casa. Era um recinto agradável, cuidadosamente limpa, paredes de cor bege, sofás vinhos confortáveis, fotos bruxas que se mexiam em lindas molduras enfeitavam a estante. Todas estampavam uma bela e feliz família. Algumas tinham até os Marotos presentes e muitas eram de Tiago com uniforme de quadribol.
"É melhor eu ir falar com os elfos domésticos e descobrir logo o que houve com mamãe."ele opinou. "Vou ver também se eles servem uma lanche para vocês. O que desejam?"
"É melhor apurar direitinho o que aconteceu antes de nos preocuparmos com comida. Obrigada pela cortesia."ela respondeu acentuando minha desconfiança de que estava omitindo algo.
Tiago nos conduziu pelos corredores até a cozinha, que era toda de azulejos azuis e brancos, espaçosa como parecia ser a casa inteira. Lá estavam três elfos domésticos sentados em bancos ao redor de uma pequena mesa e todos pareciam nervosos. Não havia toda aquela movimentação eterna da cozinha de Hogwarts. Nada estava sendo preparado nem mesmo para o lanche do pequeno senhor deles que eles deviam saber que chegaria naquele dia. Tive certeza de que existia algo muito errado, quando olhei de relance para Tiago que estava espantado. Minha impressão terrível só piorou ao ouvir um deles se pronunciar. Foi uma elfo que devia ser a mais velha.
"Pe-peq-queni...no"Tiago corou ao ouvir o apelido. "Que bom que chegou!" a voz dela tremia demonstrando que estava prestes a começar a chorar.
"Qual o problema Linx?"ele indagou preocupado. Também já tinha percebido que algo grave tinha ocorrido. "Onde está minha mãe?"pressionou e a elfo teve que fazer um esforço ainda maior para não derramar as lágrimas.
"Que bom que essa gentil senhora te trouxe para casa! Tentei avisar ao seu pai, mas não o encontramos. Acho melhor o esperarmos. Deseja uma xícara de chá?"ofereceu ainda procurando fingir calma.
"Não. Eu só quero saber onde está a minha mãe agora! E nem tente me enrolar, porque se você não me mostrar reviro a casa interia procurando."Tiago perdeu a paciência.
"Pequenino! Não se zangue com a pobre e burra Linx! Ela é só uma tola! Fique aqui e coma um lanche. Você deve estar faminto." choramingou a coitada. Dava para ver que Tiago não é rude. Pela expressão dos elfos era fácil perceber que todos gostam muito dele e o servem com prazer ainda assim eles pareciam um pouco amedrontados.
"Não! Eu vou procurar a minha mãe."ele disse furioso e saiu intempestivamente. Eu e mamãe nos apressamos a segui-lo com Linx guinchando atrás de nós. Eu estava apavorada sem conseguir imaginar o que teria acontecido. Nada poderia me preparar para o que estava prestes a enxergar. Foi a pior cena que vi em toda a minha vida.
Procuramos em todos os cômodos do primeiro andar sem sucesso. Linx continuava junto pedindo desesperada para pararmos. Subimos a escada e fomos direto até a biblioteca que estava destruída. Era uma sala enorme de paredes verdes, provavelmente a maior da mansão. Várias estantes, de madeira escura, abarrotadas de livros deviam ficar enfileiradas encostadas na parede em condições habituais, só que estavam despencadas e as que estavam de pé tinham os livros derrubados. Eu fui a primeira a avistar uma mancha de sangue na mesa que ficava no centro. Gritei! Nunca tinha ficado tão assustada. Não sou corajosa, porém jamais fui uma idiota com medo da própria sombra.
Meu berro chamou a atenção dos outros e Tiago logo correu para o outro lado da mesa. Eu o segui. Tive que lutar muito pra me manter de pé. Tinha uma poça de sangue no carpete e do lado jazia o corpo sem vida da Sra. Potter.
Os longos e fartos cabelos negros estavam sujos de sangue coagulado. De início Tiago não percebeu que não havia mais esperanças e correu até ela, mas bastou toca-la para entender que nada poderia fazer.
"Entende agora, por que não queria que viesse? Ela foi assassinada com o feitiço da morte."informou Linx extremamente abalada.
A face de Margaret Potter estampava o sofrimento com marcas da batalha e a palidez fantasmagórica. Era óbvio que ela fora torturada antes de morrer. Suponho que os malditos comensais devem ter abusado das maldições imperdoáveis com destaque para a Crusciatus. Agora o estado da biblioteca estava explicado. Provavelmente ela resistira e lutara com seus agressores. Infelizmente não era uma duelista boa o suficiente para conseguir se salvar.
"Você disse que tentou falar com o Sr. Potter, onde o procurou?" Mamãe questionou Linx. Ela estava impassível como uma rocha imperturbável.
"No escritório da fábrica Madame. É o único lugar fora de casa que tenho autorização para ir." Ela respondeu com a voz confusa, por causa das lágrimas. Os Potter tem uma fábrica de doces.
"Lily, você e Tiago vão até a cozinha. Peça aos elfos algo calmante. Um copo de água com açúcar faria bem aos dois."
A obedeci. Antes de tudo tive que trazer o Tiago de volta a realidade. Ele se afastara do cadáver e fora para um canto junto à janela. O olhar perdido e as lágrimas silenciosas me deixaram com muita pena. Aproximei-me por trás e toquei gentilmente o seu ombro. Ele se virou e sua expressão de "cachorrinho ferido" realmente tocou meu coração. Tanto que em um gesto impulsivo e totalmente atípico eu o abracei. Ele deve ter se espantado, porque demorou pra me abraçar de volta. Por fim nos afastamos e tentei controlar a minha voz para que não saísse tremida. Eu também chorava, pois a experiência de ver uma pessoa morta me abalou muito e ainda tinha a dor que sentia ao ver o pobre Potter sofrendo tanto. Acho que fiquei pensando em como seria se tivesse no lugar dele.
"Vem. Vamos sair daqui um pouco."disse por fim. Segurei a mão dele, pois ele ainda parecia transtornado demais e o puxei para fora daquele lugar desolado.
Nunca vou ter uma idéia precisa de quanto tempo se passou, enquanto ficamos na cozinha. Os elfos nos serviram uma xícara de chá de camomila adoçado e com leite. Eu deixei que ele ficasse calado chorando em paz. Dentro de mim crescia um desejo desesperado de poder fazer algo, qualquer coisa, que o fizesse sentir melhor. Assim que escrevi isso reparei o quanto não combina comigo. Deve ser por causa da tragédia, aquela situação mexeu comigo.
Por fim minha mãe reapareceu acompanhada do Sr. Potter. Eles sentaram ao nosso lado ao redor da mesma mesa que os elfos estavam, quando chegamos. O semblante de ambos denotava dor e nervosismo. Lamento não ter presenciado o reencontro dos dois, se realmente foram colegas em Hogwarts. Agora que parei para refletir acabou de passar pela minha cabeça uma possibilidade. Lembra aquela minha visão da mulher ruiva discutindo com o garoto que parece o Tiago? Pode ser minha mãe e o Sr. Potter, afinal ele também se parece muito com o filho. Ou o filho se parece com ele. Tanto faz!
"Pai, foram os comensais, não foram? Aqueles malditos! Eu vou me vingar. Temos que caçar todos e mandá-los para Azkaban."para minha surpresa foi Tiago o primeiro a falar.
"Calma! Nenhum de nós pode fazer nada no momento. Já chamei os aurores. Eles vão descobrir exatamente quem é o culpado."ele então parou por um instante e pude ver a troca de olhares entre ele e minha mãe. Era como se perguntasse se precisava mesmo continuar e ela o obrigasse. "Meu filho essa provavelmente não é a melhor hora de tocar nesse assunto, mas acho que você merece saber e está pronto para isso. Quer mesmo lutar contra Voldemort e os Comensais da Morte?"o questionou e ele assentiu. "Já ouviu falar da lenda das quatro partes?"indagou e novamente Tiago sinalizou que sim. "Você é uma das partes" O Sr. Potter concluiu sem mais rodeios. "e essa menina também. Lílian, não é?" continuou mostrando que tinha algo mais a dizer. Não aguardou minha resposta e voltou a falar. "Se a divisão for à mesma da última vez que a Lenda se cumpriu ela é a sua chave." Dessa vez fomos os dois pegos de surpresa e provavelmente demonstramos isso, porque mamãe se apressou a interromper.
"Ainda não podemos explicar-lhes certos detalhes. É mais seguro para os dois que permaneçam ignorantes do papel geral que terão de desempenhar. A questão é que queremos pedir a vocês que tentem interagir mais magicamente. Coisas como fazerem dupla nas aulas e treinarem separadamente alguns feitiços e azarações, apenas para misturarem a magia de vocês. Só que ninguém pode saber do que estão fazendo nem seus melhores amigos, entenderam?"
"Por que estão falando disso agora?"Tiago os questionou.
"Se querem mesmo que eu participe disso vão ter que me contar tudo direitinho. Nada de informação pela metade!" os pressionei.
"Eu pedi a seu pai para conversarmos com vocês hoje por ter esperanças de que tendo consciência da sua importância nessa guerra você não faria nenhuma idiotice. Além do mais não há mais tempo a perder. As coisas estão ficando realmente feias!"ela o respondeu e fingiu não ter ouvido minha pergunta.
"Fazer o assassino da minha mãe pagar pelos crimes que cometeu não é uma besteira!"Tiago retrucou irritado.
"Nem foi isso que eu quis dizer. Só que o verdadeiro responsável pela morte dela é o T..." ela hesitou "Voldemort. Prender um ou dois de seus comensais não o afetaria muito, pois ele logo os substituiria. E você não conseguiria nem isso. Seria suicídio! "
"Cada pequeno esforço é alguma coisa. Se todos pensassem como você o exército de Voldemort cresceria a cada dia sem combate."ele insistiu.
"Não foi isso que ela falou. A questão é que seu papel é outro e não deve precipitar as coisas."o Sr Potter voltou a conversa. "E então vai ter um pouco de paciência e aguardar o momento certo para agir?"indagou e finalmente Tiago concordou.
"Eu não vou aceitar isso! Pra início de conversa o pessoal da escola tem cérebro e todos vão começar a se perguntas o motivo de nós dois que jamais conversaram comecem a sentar sempre juntos e coisas do gênero. E eu quero que me digam tudo."
"Não seja teimosa Lílian!"mamãe me repreendeu. "Tenha paciência e em breve eu mesma vou explicar-lhe todos os detalhes. Quanto à curiosidade de seus amigos, suponho que você seja inteligente o suficiente para inventar uma desculpa." E esperta desafiou o meu orgulho deixando-me sem saída.
"Como descobriram tudo sobre A Lenda?"indaguei.
"Os fundadores não foram os primeiros a cumprir a Lenda. Os Potter descendem de uma das Partes da outra vez que tudo se cumpriu. O Ministério no departamento de Mistérios possui um texto com detalhes das histórias e pistas para identificação das Partes."foi o Sr. Potter a responder. Isso me lembrou o livro da Wyse, será que existiam outros exemplares?
"É melhor nós irmos para casa Lily.Seu pai e Petúnia estão nos esperando e podem estar preocupados. Todd podemos usar a chave de Portal para irmos até o Beco Diagonal?"
"Claro! Como quiserem."o Sr Potter o respondeu. "Até algum dia Vivian."ele se despediu de minha mãe.
"Obrigada! Tem uma eternidade que não aparato e Lily ainda não tem idade." Ela agradeceu e depois nos despedimos. Assim pegamos juntas em uma velha vassoura que era a chave do Portal.
Pegamos o carro e fomos direto para casa. O reencontro com minha família foi como sempre. Papai continua um doce e minha irmã fez questão de manter viva em minha memória o por que de eu não sentir nem um pouco de saudade dela. Sorte minha que estava tarde e meu pai fez o jantar. Eu remexi a comida mais do que me alimentei, até que pedi licença alegando estar cansada e sem fome. Vim para o meu quarto e fiquei me revirando na cama até adormecer. Acordei de madrugada e não consegui mais pegar no sono, então comecei a escrever. Agora falta pouco para o amanhecer e é melhor voltar a dormir.
Até mais,
Lily.......................................................................................................................
O meu quinto ano terminou muito rápido e logo era hora de voltarmos para casa. Hogwarts se tornara meu lar e a perspectiva das férias não era muito agradável desde que meus padrinhos separaram-se. No ano anterior tinha passado julho em Londres em casa freqüentando como sempre a casa ao lado. Em uma dessas semanas os Marotos me visitaram. Depois fiquei um pouco na casa do Tiago. Nas últimas semanas viajei para Cornualha para visitar meu padrinho e a irmã dele Phoebe.
O roteiro deste ano devia ser o mesmo, só que uma briga entre Eliza e sua mãe alterou tudo. Primeiro, nós fomos surpreendidos pelo Sr. Wyse nos buscando na estação. A cena foi daquelas de guardar para sempre na memória. Lizzy ficou radiante ao ver o pai e abandonou as malas saiu correndo atropelando todos que estavam à frente dela. John fez a mesma coisa e então abriu os braços para recebê-la e ela apressou-se a aceitar a acolhida. Eu fiquei distante, apenas observando-os.
-Hei, Sirius, você não vai me dar um abraço?-meu padrinho indagou virando-se para mim. Aproximei-me sem jeito e ele riu.-Está bem! Você não quer passar vergonha no meio da estação, né? Bem, melhor irmos logo. Já se despediram?
-Não.-respondi.-Vou falar com os meninos por um minuto.-fui procurar os garotos. Encontrei Remo e Pedro junto de suas famílias. Falamos adeus e confirmamos os planos para segunda semana. Avistei o Tiago mais ao longe para minha surpresa conversando com Lílian Evans e a mãe dela. Desisti de ir conversar com ele. Mesmo que não admitisse direito nem para mim mesmo Lily ainda mexia comigo e senti ciúmes.
-E então podemos ir?-meu padrinho me surpreendeu por trás. Ele empurrava o carrinho com o malão de Lizzy e estava pronto para levar-nos para casa. Acompanhei-os em silêncio ainda me perguntando o que meu melhor amigo fazia conversando com minha ex-namorada.
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Duas semanas nas quais eu permaneci em Londres se passaram. O projeto de visitarmos Remo na Irlanda acabou não se concretizando, por causa da tragédia com a mãe de Tiago. Fui ao enterro e percebi que aquilo de alguma forma mudara algo no fundo do meu velho amigo. Ele parecia um pouco deprimido e também mais amadurecido.
A terça-feira de manhã trouxe junto com o correio coruja o problema. Tudo começou devido a uma carta da tia Phoebe. Ela e a cunhada nunca se deram muito bem. Provavelmente conseqüência da personalidade liberal demais de uma delas e responsável ao extremo da outra. A questão era que com Phoebe não havia limites e nem regras, o que deixava minha madrinha tensa e com a chata responsabilidade de ser a malvada que diz não. Desde antes da separação era tradicional que passássemos pelo menos uma semana de verão na Mansão Wyse conhecida como Penhasco por ficar perto de um. Não era exatamente uma Mansão estava mais para um casarão de estilo Vitoriano precisando desesperadamente de uma reforma, entretanto Phoebe parecia não enxergar isso ou não possuía o dinheiro para as obras.
Phoebe possuía uma gata Abissínia de nome Kirjava. Um nome peculiar perfeito pra o animal de estimação dela, pois um de seus passatempos favoritos era viajar pelo mundo. Já visitara a Índia e vários outros países exóticos. Costumava contar em meio ao riso que em sua ida a Jedah sua beleza, ela era mesmo linda, chamara a atenção de um árabe que a cortejara. Seu cabelo era castanho escuro e os olhos bem azuis. Não fazia dieta, porém também não engordava.
A questão era que Kirjava estava grávida e em breve a teria os filhotes, então Phoebe escrevera convidando a sobrinha a chegar em Penhasco um pouco antes e estar lá no Grande Dia. Eliza amava gatos! Ela gostava de todos os animais, mas gatos certamente eram os preferidos dela. Lizzy desejava um dos filhotinhos da ninhada, entretanto a Sra. Wyse tinha pavor de animais de estimação em casa.
-Mãe, eu posso ir para Cornualha no fim de semana?-escutei Eliza indagar, quando entrava na copa.
-Não, ainda faltam duas semanas para a data combinada. Eu consegui férias exatamente, enquanto você estaria em casa e você não pode ir embora justamente quando vamos poder passar algum tempo juntas. Eu estava pensando em viajarmos para Escócia para a fazenda dos seus tios.-ela respondeu. Depois da separação a Sra. Wyse arranjara um emprego em um banco.
-Por favor! É só nessa semana. Ainda podemos curtir uma semana das suas férias.-Eliza insistiu.-A Kirjava está prenha e vai dar a luz. Eu quero assistir. Depois eu podia voltar e ficar por mais duas semanas. O que você acha?
-Não, não e não! Será possível Lizzy que para você é mais importante ver um bando gatinhos nascerem a passar um pouco de tempo comigo?
-Mamãe, é que depois a tia Phoebe vai deixar operarem a Kirjava para ela não emprenhar novamente. E nós vamos passar tempo juntas só que não essa semana. Você não pode trocar as suas férias no trabalho?-ela teimou.
-Não posso. Esse período de verão é muito disputado. Olhe, Eliza, se você faz mesmo questão não vou te impedir de ir. Só que me magoa muito! Na fazenda tem a Moxie não serve?(n/a: Alguém que também leu Fronteiras do Universo reconheceu os nomes das gatas?)
-Mamãe!-ela exclamou.-Bem, eu vou para Penhasco essa semana e ainda vai sobrar uma semana para irmos para fazenda. Vai ser muito legal. Estou com saudade de Edward!
-É parece que a gata é mesmo mais importante.-minha madrinha murmurou muito baixo, quase inaudível. Eu só ouvi por estar muito próximo. Tinha chegado por trás sem ser percebido e resolvera cumprimentá-la carinhosamente meio que para compensar a indiferença de Eliza. No fundo considerava que Lizzy estava sendo infantil, pois grande parte da birra dela e dessa resolução de ir de qualquer jeito para Cornualha naquele sábado era vingança pela mãe não permitir que ela tivesse a própria gata, além de claro a verdadeira paixão que ela nutria pela Kirjava.
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Eu também fui para a Cornualha e estávamos passando dias maravilhosos com Eliza paparicando a vontade a Kirjava que ainda não dera a luz. Meu padrinho chegou a manifestar a preocupação, pois tinha medo que ela se apegasse demais aos filhotes quando nascessem e sofresse por não poder ficar com eles. Ela até escolhera alguns nomes para os gatinhos. Cada um mais meigo que o outro.
Na quinta-feira à tarde surgiram os primeiros sinais de que havia algo errado. Detalhes discretos. O que chamou mais minha atenção foi meu pai fazer uma chamada e pedir para falar comigo.
-Está se comportando, não é garoto?
-O que o senhor quer?-o questionei ríspido.
-Respeite-me! Ainda sou seu pai.
-Ah, resolveu se lembrar disso agora! Depois de anos me ignorando ele simplesmente tenta me dar uma bronca e diz que é meu pai, mas isso é totalmente aceitável, não?-retruquei sarcástico.
-É bom tomar cuidado na forma como se dirige a mim! A única coisa que desejo no momento é que tome conta da Eliza. Seja legal com ela.-ele disse e depois sua cabeça desapareceu.
Não pude deixar de reparar o quão pouco ele me conhecia. Não sabia sequer que não era preciso me pedir aquilo, pois o fazia voluntariamente. Ainda assim estava intrigado. Fiquei me perguntando o que ocorrera para que ele subitamente se preocupasse com a Lizzy, se bem que ele de certa forma sempre demonstrou mais interesse por ela do que por mim.
Só vim a saber no dia seguinte. O tempo naquela sexta-feira amanhecera fechado com jeito de que choveria e feio mais tarde. Lizzy estava na poltrona mal humorada por ter sido proibida de sair de casa, quando meu padrinho apareceu em um horário que deveria estar no Ministério ou a cata de algum comensal.
-Eliza, Sirius, eu tenho algo meio chato pra contar a vocês. Primeiramente, quero avisá-los de que não há motivo para preocupação, pois ela está fora de perigo.-ele disse, no entanto suas palavras tiveram um efeito contrário sobre mim. Fiquei imediatamente nervoso e minha mente começou a trabalhar rápido. Tentando imaginar o que acontecera com "ela" que é claro era a minha madrinha.
-John vá direto ao assunto. Não está vendo que os está apavorando?-Phoebe se intrometeu com seu tom sempre descontraído cortando o clima tenso.
--Lizzy, a sua mãe sofreu um acidente. Ela estava em uma loja e foi assaltada. Houve confusão e um tiro a atingiu de raspão. Como já disse os médicos já asseguraram que ela vai sobreviver e provavelmente não terá seqüelas.-meu padrinho contou de uma vez. Eu estava aliviado por dizerem que ela não corria risco de vida. Ainda assim não pude deixar de indagar como exatamente ela estava. A resposta do meu padrinho foi tranqüilizadora e o único problema passou a ser a reação da Eliza.
Assim que a conversa começara ela estivera chorando silenciosamente e quando foi informada do que exatamente se passara perdeu o controle. Ela soluçava e não conseguia dizer nada. Ouviu as palavras de todos nós para acalmá-la, mas nos repeliu. Afinal conseguiu pedir para dar uma volta e ficar um pouco sozinha.
-Tudo bem. Não demore muito e nem vá muito longe, porque pode cair uma tempestade.-o Sr. Wyse a autorizou com restrições e ela saiu rapidamente porta fora.-Sirius, avise-a de que venho buscá-la para irmos visitar a mãe no hospital por volta das 16:30. Você pode ir conosco se quiser.
Não demorou muito e a ameaça das nuvens cinzentas se cumpriu. Entrei em pânico, porque Lizzy ainda não retornara e me apressei a procurá-la. Impulsivo como era não levei guarda-chuva e logo estava encharcado. A encontrei a beira do penhasco observando o mar, o interminável movimentos das ondas que batem nas rochas. Temi que alguma idéia maluca estivesse na cabeça dela. Abracei-a por trás e sussurrei em seus ouvidos:
-É mesmo hipnótico, né? Não sente nem frio? Está toda molhada.-ela virou-se e me encarou. Agora estávamos frente a frente.
-É minha culpa! Ela está mal e é tudo minha culpa!-balbuciou com a voz tremida e desabou novamente no choro. A envolvi novamente em meus braços e permiti que sua cabeça ficasse encostada em meu ombro.-Se eu tivesse aceitado ir para a Escócia...ela não estaria naquela loja.
-Ficar pensando nas possibilidades não muda o que aconteceu. Você tem que confiar no seu pai e acreditar que ela vai se recuperar, senão não vai conseguir dar a ela o apoio de que ela precisa.
-Nunca fui uma boa filha! Sempre tão egoísta e teimosa. Sou uma pessoa horrível!-continuou a se lamentar.
Afastei-a para poder olhá-la nos olhos. Um feixe de raios de luz escapava por entre as nuvens e refletia naquele belo par de olhos cor de mel. Era um dia estranho de sol e chuva. As gotas de chuva confundiam-se com as lágrimas dela. Ao enxergar aquela imagem tão frágil esqueci completamente do que pretendia dizer. Só conseguia ver aquele rosto tão lindo e triste. Eu procurava as palavras para dizer-lhe o quanto a amava.
Um só pensamento, que eu jamais compreendi exatamente de onde surgiu, ocupou a minha mente. Sem ao menos perceber o que fazia aproximei-me novamente. Minha boca encontrou a dela, de início delicadamente. No entanto ela entreabriu os lábios, apertei-a mais forte junto a mim e ela passou os braços em volta do meu pescoço. Foi um beijo doce e salgado ao mesmo tempo. Mistura de lágrimas e chuva. Mais do que isso existiam os sentimentos confusos. O vento forte passava por nós barulhento e trazendo frio, mas nada importava senão aquele instante. Quando nos separamos, recuperei a minha consciência e percebi o que estava fazendo, fiquei aterrorizado. Não conseguia acreditar! Soltei-a e corri para longe o mais rápido que consegui.
Listen [listen] listen [listen]
Listen [listen] listen
(Ouça [ouça] ouça [ouça]
Ouça [ouça] ouça)
I stand alone in the storm [listen listen]
(Eu fico
parada sozinha na tempestade [ouça ouça])
Suddenly sweet I say no
(De repente docemente eu digo não)
[Listen listen]
[Ouça Ouça]
Couldn't they stay for you haven't
much time?
(Eles
não poderiam ficar porque você não tem muito tempo?)
Open your eyes to the love around
you
(Abra os
seus olhos para o amor que está a sua volta)
You can feel you're alone
(Você pode sentir que está só)
But I'm here still with you
(Mas eu
ainda estou aqui com você)
You can do what you dream
(Você
pode fazer o que sonha)
Just remember to listen to the rain
(Só se
lembre de ouvir a chuva)
Listen
(Ouça)
Nota da autora: A música que finalizou o capítulo é um trecho de "Listen to the rain" de Evanescente. Eu achei que combinava com esse momento.
