Título: Enfrentando a pior das batalhas

Autora: Bélier

E-mail: belier.aries@bol.com.br

Categoria: Romance Yaoi

Retratação: Eu não possuo Saint Seiya/Cavaleiros do Zodíaco. Infelizmente (ou felizmente) eu não os possuo, pois do contrário eles teriam namorado mais do que lutado... De qualquer forma, eles são propriedade de Kurumada, Toei e Bandai.

Resumo: Após os anos de exílio, Mu tenta reencontrar seu lugar dentro do Santuário. Seria esse lugar nos braços de outro cavaleiro? Alerta: Conteúdo Yaoi/Lime.

Capítulo 2 Trazendo sentimentos à tona

Mu encontrou Shaka em sua posição de lótus, na sala principal do templo de Virgem.

O cavaleiro de Áries ficou observando o outro, que parecia flutuar. Realmente era uma bela visão. Os cabelos loiros de Shaka ondulavam suavemente ao redor do seu rosto e costas enquanto o seu cosmo brilhava intensamente. Pareciam... raios de sol.

A armadura de Virgem resplandecia de forma inigualável. Mu, na sua condição de ferreiro, sentiu prazer ao ver a bela armadura, desejando saber se um dia ela necessitaria de reparos. Se dependesse do seu responsável atual, ele acreditava que não.

- Mu. Que bom revê-lo. Sabia que atenderia ao meu pedido.

Ledo engano ficar observando Shaka, achando que ele não se manifestaria. Apesar dos olhos sempre fechados, ele enxergava tudo.

- Olá, Shaka. Há quanto tempo não nos vemos, amigo. Fiquei surpreso com o seu chamado, mas não havia porque não atendê-lo. E então, do que se trata?

- Vejo que você veio com a sua armadura, como lhe pedi. A questão é que, como você deve ter observado, durante estes últimos meses, tenho meditado muito. Mas meditar apenas não basta. Preciso de alguém que possa treinar comigo.

- Me perdoe a curiosidade, mas porque você me escolheu? - Mu torceu para que Shaka não notasse seu rubor.

- Porque lutar com cavaleiros que possuem apenas força física não me interessa. Já travei muitas batalhas assim. Preciso de alguém com uma técnica diferenciada, como a sua, para desenvolver novas estratégias de ataque e defesa.

- Você está se referindo a telecinese e teletransporte? Você não controla estas habilidades?

- Não exatamente. Gostaria de aperfeiçoar, e você é o oponente ideal para me ajudar.

* * *

Shaka rezou para que a sua explicação convencesse o cavaleiro a sua frente. Soava ridícula até mesmo para ele, mas a verdade era que ele precisava ver Mu, e não poderia simplesmente chamá-lo e dizer que queria apenas conversar.

- Entendo. Bom, tenho certeza que o meu poder não é nada comparado ao seu, mas já que assim deseja, podemos treinar.

Fazia muito tempo desde que gastara algum tempo ao lado do belo jovem à sua frente. Observou mentalmente todos os detalhes. Os cabelos cor de lavanda, talvez mais longos que os seus próprios, presos como sempre. As estranhas sobrancelhas, características de todos os de sua raça. Os olhos violeta. A armadura brilhante, que delineava o corpo perfeito... Estava tão absorto que quase deixou passar a resposta afirmativa do outro.

- Excelente. - Foi tudo que pôde dizer.

- Aonde você gostaria de treinar, Shaka? Aqui mesmo no seu templo?

- Não exatamente. Quero lhe mostrar um lugar.

O cavaleiro de Virgem conduziu Mu até uma enorme porta de madeira ricamente esculpida. Apenas encostou as mãos, e ela se abriu.

* * *

O que Mu viu o deixou estarrecido. Junto à casa de Virgem, encontrava-se um jardim de proporções gigantescas, composto em sua maioria por uma grande variedade de lindas flores. Apenas duas árvores idênticas se destacavam no imenso tapete florido.

Os dois cavaleiros saíram do templo, e Mu não podia acreditar que nunca ninguém havia notado aquele imenso jardim no Santuário. Chegou a conclusão de que Shaka o encobria com seu poderoso cosmo para que ninguém o visse.

- Como você conseguiu cultivar isso sem que ning... - Ao virar-se para Shaka, Mu parou de falar e deu alguns passos para trás, num misto de terror e surpresa ao se deparar com um par de olhos azuis claros olhando-o fixamente.

Shaka havia aberto os olhos!

* * *

Notando o pavor de Mu, Shaka rapidamente segurou o pulso do amigo, temendo que ele fugisse.

- Calma, não tenha medo! Você acha que eu lhe faria algum mal?

Mu olhou para a mão em seu pulso. Mesmo através da armadura, o contato parecia queimar. Olhou novamente para os olhos azuis, desta vez sem medo.

Shaka havia se esquecido que todos no Santuário sabiam da devastação que ele poderia causar quando abria os olhos e liberava todo seu poder. Era natural que Mu ficasse assustado. Ele deveria ter avisado o amigo antes de abri-los.

- Este é o único lugar onde posso abrir meus olhos sem causar nenhum dano ou machucar alguém. Aqui é o meu refúgio, por isso queria que você o conhecesse.

- Entendo. É que, por um instante, me assustou. Eu... eu ... não esperava por isso. - Mu disse da melhor maneira possível, enquanto Shaka soltava seu braço.

- Este é o jardim das Árvores Gêmeas. Eu o escondo do resto do Santuário, como você já deve ter imaginado, pois para mim é um lugar sagrado. Apenas você sabe da existência deste lugar agora, além de mim.

Enquanto Mu voltava novamente sua atenção para o jardim, Shaka podia observá-lo. Era magnífico poder usar os olhos, e não o seu cosmo, para enxergar. A visão que tinha era muito mais nítida, e as cores muito mais brilhantes.

- É lindo.- Mu comentou - Por isso você vive enclausurado aqui. Se eu pudesse dispor de um lugar como este, também não enfrentaria o calor tórrido do Santuário.

- Sinta-se à vontade para freqüentá-lo quando quiser... Apenas não conte a ninguém.

* * *

Destra vez Mu teve certeza de que Shaka notaria seu rubor, mas não pode evitar. Foi impressão sua, ou o amigo estava lhe convidando para gastar seu tempo ali com ele?

A situação ali estava se pondo estranha, e ele não sabia mais o que pensar. Além disso, estava ficando cada vez mais difícil deixar de encarar o amigo, ainda mais agora que Virgem abrira os olhos. Mu não podia acreditar que finalmente podia vê-los, depois de tantos anos.

* * *

Shaka soube que havia passado dos limites ao ver a face de Áries avermelhar. "O que eu fiz agora?", pensou. Precisava mudar de assunto rapidamente.

- Bem, acho que podemos começar o treinamento, o que você acha?

Mu concordou.

Os dois colocaram-se em posição de ataque.

- Mu, quero apenas que você use golpes telepáticos!

Mu imediatamente usou o poder da mente para paralisar Shaka. Não foi difícil. Ou ele estava se deixando controlar, ou, realmente, não conseguia se desvencilhar do seu cosmo.

* * *

Shaka estava em apuros. Ele realmente não conseguia se mover. "Maldição! Aonde fui me meter? Agora me sinto ridículo. Não posso controlar a situação que eu mesmo criei!"

Não que ele subestimasse os poderes do cavaleiro de Áries, mas não acreditou que seria pego tão facilmente. Não conseguia mexer um dedo. "Acho que estou deixando meus sentimentos interferirem..." O cosmo de Mu era quente e estava atrapalhando horrivelmente a sua concentração. Ele sentia que sucumbia cada vez mais ao poder do outro cavaleiro.

* * *

Enquanto isso, Mu se concentrava o máximo possível para deixar Virgem sem ação, afinal, não podia decepcioná-lo, já que ele confiava tanto nos seus poderes.

Mas depois de alguns minutos, estava difícil se concentrar, quando a vontade que tinha era de rir da situação: dois dos cavaleiros mais poderosos de Athena queimando seus cosmos, totalmente parados...

Quando Mu notou que o amigo tinha conseguido se mover e vir em sua direção, devido a sua distração, imediatamente usou outra técnica: erguendo um dedo e apontando para cima, fez o cavaleiro de Virgem sair do solo.

* * *

Shaka sentiu um baque ao ser erguido e perder contato com o solo. Mu não o ergueu muito, mas foi o suficiente para deixá-lo sem ação novamente.

Diante do ridículo da nova situação, ele não teve outra alternativa a não ser... rir.

* * *

Mu não pôde acreditar no que estava vendo e ouvindo. O cavaleiro de Virgem não parava de rir, e lágrimas lhe saíam dos olhos. Ele nunca o tinha visto rir, ainda mais desta forma.

- Mu, isto é ridículo, me coloque no chão...

A parte má de Áries, que quase nunca se manifestava também, veio a tona. Se Shaka estava levando isso na brincadeira, ele não estava...

- Nem em sonho!

Movimentando o dedo, Áries começou a balançar Shaka pelo ar, enquanto este esperneava, sem parar de rir.

- Mu... por favor... pare...

Finalmente explodindo em riso, Mu não teve mais forças para manter Shaka flutuando, e o deixou cair descuidadamente no chão, fazendo com que flores voassem em todas as direções.

Sem achar mais graça, o loiro levantou-se e avançou na direção do amigo, que agora estava totalmente descontrolado pelo riso.

- Ora, seu...

Quando Mu percebeu a investida, rapidamente armou sua Parede de Cristal.

Shaka, ao notar a barreira, tentou parar, mas ainda assim se chocou levemente contra ela.

A situação agora não era mais engraçada. De um lado, estava Mu, com os braços abertos, controlando a barreira. Do outro, estava Shaka, também de braços abertos, usados para impedir a colisão, totalmente colado na barreira. Somente ela os separava. Os dois ficaram se encarando durante alguns instantes, o que pareceu uma eternidade.

- Desculpe-me, eu não quis... - o jovem de olhos verdes tentou explicar, sussurrando.

- Desfaça a barreira, já! - o loiro ordenou, com a voz rouca.

Áries obedeceu, e o que aconteceu a seguir era previsível. Os dois se encontraram, e rapidamente Shaka segurou Mu pela nuca e beijou-o apaixonadamente. Mu, que já esperava por isto, correspondeu, entreabrindo os lábios para que o amigo pudesse aprofundar o beijo. Nenhum dos dois tinha tido esta experiência antes, mas sabiam exatamente o que fazer. Shaka parecia mais desembaraçado, assim, atendeu o convite e colocou sua língua atrevidamente dentro da boca de Mu, explorando todos os cantos possíveis. As línguas se chocaram e o desejo entre eles explodiu.

Beijaram-se durante minutos, saciando uma vontade protelada durante anos. As bocas molhadas não se separavam sequer para respirar, e ambos estavam ofegantes. Shaka habilmente havia desfeito o laço que prendia os cabelos de Mu, e agora os acariciava gentilmente, seus braços entrelaçados no pescoço do amigo, que por sua vez segurava-o firmemente pela cintura. Os chifres da armadura de Áries, porém, impediam os dois de se abraçarem como queriam.

- Maldição, não sei onde estava com a cabeça quando pedi para usarmos nossas armaduras. - Shaka conseguiu murmurar, quando os lábios de Mu deixaram os seus por um instante, para mordiscar-lhe o pescoço. Ele ofegou, começando a se sentir desconfortável, uma vez que sua própria armadura começava a incomodá-lo na virilha - Por favor, tire-a...

Ao ouvir estas palavras, alguma coisa estalou no cérebro de Mu. Aquilo que estavam fazendo... não era certo! Eles eram cavaleiros de Athena! Ambos estavam inclusive usando suas armaduras sagradas...

- Shaka, espere! - Mu empurrou o loiro com uma certa rudeza - Não podemos fazer isso, está errado! Athena não aprova esse tipo de relacionamento... entre seus cavaleiros...

- Não seja bobo! - Virgem não estava se conformando com o que outro dissera - Como pode ser errado o que estamos fazendo? Eu... não te entendo... Você não me deseja?

- Se eu não te desejo?! Para você é só isso... desejo?! - Áries estava agora mais confuso. Logo ele, que Mu sempre imaginara puro como seu signo, vinha lhe falar de desejo?! Talvez ele não fosse tão alheio às coisas mundanas, afinal de contas.

- Não é isso...

- Esqueça! - Mu não deu tempo para que o amigo se explicasse - Eu... eu tenho que ir! - E correu rapidamente, seus longos cabelos balançando soltos, até alcançar a porta e desaparecer, deixando Shaka sozinho e perplexo no imenso jardim.

- Não vá embora... Eu... te amo... Sempre te amei.