Título: Enfrentando a pior das batalhas

Autora: Bélier

E-mail: belier.aries@bol.com.br

Categoria: Romance Yaoi

Retratação: Eu não possuo Saint Seiya/Cavaleiros do Zodíaco. Infelizmente (ou felizmente) eu não os possuo, pois do contrário eles teriam namorado mais do que lutado... De qualquer forma, eles são propriedade de Kurumada, Toei e Bandai.

Resumo: Após os anos de exílio, Mu tenta reencontrar seu lugar dentro do Santuário. Seria esse lugar nos braços de outro cavaleiro? Alerta: Conteúdo Yaoi. Lemon para futuros capítulos.

Capítulo 5 - Encarando todos os medos

- Obrigado por me anunciar, Aldebaran. - O cavaleiro de Virgem sorriu gentilmente.

- Não há de quê, Shaka. Como você tem passado? Todos no Santuário tem perguntado sobre o cavaleiro mais próximo de Deus.

- Vou bem. Perdoe-me por me ausentar tanto tempo, estive meditando muito, mas agora pretendo ajudar mais nos treinamentos.

- Vai ser ótimo. Precisamos de toda ajuda possível, pois os novos candidatos a cavaleiros ainda não são grande coisa. - Aldebaran riu com gosto.

- Não subestime os pequenos, meu caro.

- Tem razão. Bom, eu já estava de saída quando você chegou, então, não repare por deixá-los. Boa noite!

- Boa noite, Aldebaran.

Mu não conseguiu responder, apenas observava Shaka descer os degraus para se encontrar com ele.

O loiro usava uma túnica branca, de um ombro só. Uma faixa, também branca, marcava a sua cintura esbelta. Apesar da túnica descer até os pés de Shaka, o tecido, leve e todo drapeado, delineava o seu corpo completamente, e ondulava sobre suas pernas enquanto ele caminhava. Seus cabelos estavam soltos e brilhavam, como se tivessem acabado de ser escovados. Mu tinha certeza de que eles exalavam um delicioso perfume. Shaka também estava usando várias pulseiras de ouro, e um bracelete no braço que estava descoberto. Ele sempre soube que o amigo era vaidoso, mas há muito tempo não o via usando jóias.

Contemplando a beleza de Shaka, Áries esqueceu-se completamente do seu estado lastimável, e assustou-se quando Shaka, ao se aproximar mais, mudou o semblante de sorridente para preocupado, franzindo as sobrancelhas, mas ainda mantendo os olhos fechados.

- Mu, o que aconteceu? - perguntou aflito - Você estava chorando?

Shaka tentou chegar perto para limpar as lágrimas do amigo com os dedos, mas Mu se afastou bruscamente.

- Não foi... nada. Estou apenas exausto. Eu... preciso descansar.

Virgem, é claro, não aceitou a desculpa. - Mu, sei que tem alguma coisa errada. Precisamos conversar, por favor, não me ignore! O que foi que te deixou assim?

- Shaka, me perdoe, estou cansado mesmo, preciso de um bom banho e de uma boa noite de sono. - O rapaz de cabelos lavanda começou a se desesperar. Não teria condições de enfrentar a situação logo depois que ficara sabendo de tantas coisas - Podemos conversar outra hora?

- Não! Eu não vou deixar você se esquivar de mim novamente sem saber o que está acontecendo. - O loiro continuou firme.

Mu conhecia o amigo bem demais para saber que ele não ia desistir. Talvez se ele tentasse contornar a situação...

Suspirando, Mu concordou.

- Tudo bem, vamos entrar. - Mu estava começando a se incomodar com o fato de Shaka estar tão lindo, e ele, todo suado após o serviço de um dia todo. -Você pode me dar alguns minutos para que eu possa tomar um banho?

- Claro.

* * * Shaka estava feliz por ter conseguido persuadir Mu a conversar, mas ainda estava muito nervoso com a situação. O fato de Mu ter estado chorando estava corroendo-o por dentro. Seria ele o motivo? Só poderia ser, que outros problemas o cavaleiro de Áries, sempre tão calmo e eficiente, poderia ter?

Virgem fez uma imagem mental do amigo. Tinha os cabelos presos, mas com alguns fios desarrumados, provavelmente pelo fato de ter passado as mãos por eles várias vezes, enquanto trabalhava. Mu estava vestindo uma túnica marrom que lhe chegava às coxas, com calças justas da mesma cor e sandálias baixas de tiras trançadas. Quebrando o ar sóbrio, apenas uma faixa amarela amarrada à cintura. "Ele está tão descuidado, que chega a estar... tentador", Shaka pensou, enquanto o seguia para dentro do templo. Mu empurrou a pesada porta que dava acesso aos seus aposentos, e que era totalmente imperceptível aos menos observadores, e os dois cavaleiros entraram.

Ao contrário do que muitos que apenas tinham ouvido falar do Santuário achavam, os que lá viviam tinham algumas regalias. Os aprendizes e cavaleiros menores moravam em pequenas casas ao redor da área de treinamento, mas os cavaleiros de Ouro, o Mestre e Atena possuíam, em seus templos, belos alojamentos, anexos ao salão principal, que possuíam inclusive água encanada, proveniente de vários poços e fontes próximas dali. A única modernidade de que não dispunham era realmente eletricidade.

Como já estava escurecendo, Mu acendeu um lampião. Meio sem graça, voltou- se para o loiro, enquanto retirava as faixas enroladas em seus pulsos.

- Por favor, Shaka, fique a vontade. Eu... não demoro.

- Obrigado. - Virgem tentou esconder sua curiosidade, mas em sua mente, já tinha esquadrinhado o quarto de Mu.

Os aposentos dos cavaleiros, de forma geral, eram compostos por apenas três cômodos: um grande salão, a cozinha e o banheiro. A sala principal de Mu possuía apenas dois sofás rústicos, dispostos um frente ao outro, com uma pequena mesa entre os dois, e no canto oposto, ficava uma cômoda com os pertences do cavaleiro de Áries, bem como a sua cama, grande e espaçosa.

Shaka sorriu. Qual seria a reação de Mu se ele saísse do banho e o encontrasse estirado em sua cama... totalmente nu? O sorriso desapareceu rapidamente. Provavelmente sairia correndo novamente, ele pensou.

A decoração do quarto era bem austera, refletindo a personalidade do dono. Os móveis, escuros, contrastavam com almofadas e colchas em tons de bege. Shaka notou então as ferramentas que Áries usava para consertar as armaduras, cuidadosamente arrumadas em uma prateleira. Chegou mais perto e observou com cuidado. Não eram como as de um ferreiro normal. Mesmo porque não se dispunham a uma tarefa normal. Junto às ferramentas estavam as armaduras de prata que haviam sido consertadas recentemente, impecáveis. Virgem achava extraordinário o trabalho de Mu, e como ele era o único dentre todos eles que conseguia realizar aquela tarefa, aquilo o tornava ainda mais especial. Provavelmente, Mu só não havia sido perseguido por Saga por este motivo.

Shaka fez careta ao se lembrar do cavaleiro de Gêmeos. Ele nunca sequer considerara as investidas de Ares, simplesmente as ignorara, até que finalmente ele desistira de chamá-lo diante de sua presença para dar-lhe indiretas.

Virgem caminhou até a cozinha, bisbilhotando. Notando que Mu possuía vários potes com diversos chás medicinais, decidiu fazer algum, enquanto o outro terminava seu banho. Ruborizou-se, ao pensar no amigo no chuveiro.

- Acho melhor eu fazer um chá que acalme os nervos... - sussurrou para si mesmo.

* * *

Mu saiu do banheiro esfregando os longos cabelos com a toalha. Mesmo que esta fosse a única opção, o fato de ter tomado um belo banho frio havia ajudado a controlar seu corpo. Estava protelando ao máximo o confronto com o amigo, mas não podia ficar a noite toda trancado no banheiro. Olhou confuso ao redor do quarto, procurando-o na penumbra.

- Shaka?

- Estou aqui.- Gritou Shaka da cozinha. - Resolvi fazer um chá.

- Ah... certo.- Mu achou graça da falta de cerimônia do amigo.

* * *

Mu estava terminado de desembaraçar os cabelos quando Shaka veio da cozinha com duas canecas fumegantes. O loiro notou com satisfação que Mu havia colocado uma túnica branca semelhante a sua, porém mais curta, até os joelhos. A túnica também não tinha um ombro só, e infelizmente cobria muito do tórax do outro cavaleiro. Mas, mesmo assim, aquela roupa lhe parecia um convite impossível de resistir. Os cabelos lavanda de Mu, ainda úmidos, refletiam o luar que entrava pelas altas janelas do aposento.

Shaka entregou uma das canecas ao amigo e sentou-se num dos sofás, esperando que ele se sentasse ao seu lado. Para o seu desapontamento, Mu sentou-se no sofá à sua frente.

- E então, Shaka, a que devo a sua visita? - A frase soou um tanto quanto fria, dadas às circunstâncias da última vez em que se encontraram.

- Bem, eu... queria saber se você estava bem.- Shaka hesitou, sentindo que o amigo estava na defensiva - Você... está com algum tipo de problema? Não minta, tenho certeza que vi lágrimas em seus olhos lá fora...

- Não. Eu só estou cansado, a restauração das armaduras me consome muito e também não tenho dormido bem... - Isso não era totalmente mentira, Mu pensou.

- Sei... Vi as armaduras de prata consertadas. Ficaram ótimas... - Shaka virava nervosamente a caneca entre suas mãos, tentando achar palavras para entrar no assunto que o perturbava. - Bem, eu também vim aqui porque precisava conversar sobre o que aconteceu naquele dia... no jardim...

Mu sentiu as lembranças invadindo-o. Fechou os olhos para não deixar transparecer seus sentimentos, e provou o chá feito pelo amigo.

- Você não me deixou explicar... - Shaka continuou. - Sinto muito se eu te passei uma idéia errada...

Mu sentiu a garganta queimar ao engolir o chá - Idéia errada?! Como assim? Você está me dizendo que eu entendi errado? - Ele estava começando a ficar irritado - Você vai me desculpar, Shaka, posso ser bem ingênuo nessas coisas, mas acho que entendi bem a sua... intenção.

Shaka engoliu em seco. Não era bem por aí que ele imaginava que a conversa transcorreria. - Não estou dizendo que você é ingênuo, é que eu não planejei nada daquilo... - Tentando se manter calmo, deu um gole no chá, o que irritou mais ainda Mu.

- Foi você que pediu que eu fosse até o seu templo, esqueceu? Eu estava bem por aqui até você me chamar!

- Mu, agora sim você está entendendo tudo errado. Eu só estou querendo te dizer que eu não tive a intenção de... de te beijar. Não foi para isso que te chamei lá. Eu queria apenas conversar e treinar, como te expliquei. Só que... aconteceu.

- Sim, e agora, o que você quer que eu faça?

- Escute, não podemos esquecer tudo isso? - Shaka desistiu de sua idéia inicial de tentar persuadir Mu a aceitar o que havia acontecido e levar o romance adiante. - Podemos voltar a ser os bons amigos que éramos antes?

Mu respirou fundo. - Acho que não, Shaka. Eu e você não podemos mais ser bons amigos...

Continua