Capítulo dois

A cada passo dado, sentia o frio das pedras como se cortassem seus pés, mas continuava a andar, motivada unicamente pelo calor que a mão de Draco, apertada a sua, passava-lhe.

Muitas perguntas a ele despontavam em sua cabeça: o porquê dele estar ali, de ter escondido a verdade, de muitas coisas que não estava claramente explicadas. Porém, sabia que nem a pior das respostas a faria duvidar do amor que ele sentia, então, não eram necessárias naquele momento. Saber que ele tentara lutar contra os Comensais para protegê-la já era suficiente.

Estavam descendo as escadas, tentando escapar sem serem vistos. Porém, quando já estavam chegando na escadaria do terceiro andar, Gina parou abruptamente, fazendo Draco encarar-lhe.

- O que houve? Vamos, Gina, não...

Ela apertou sua mão forte e olhou em direção a um corredor escuro. Falou baixinho, quase num sussurro:

- Temos que ir por ali.

Draco tentou continuar a descer, mas a insistência de Gina o fez parar e encará-la de novo. Seus olhos estava concentrados e frios, ainda mantidos na escuridão ao lado e seus lábios tremiam levemente. Ele tirou seu casaco e estendeu sobre os ombros de Gina, puxando-a pela mão para o caminho ao lado.

- Espero que você tenha razão, espero mesmo...

Sabia que estava certa. Algo lhe dava a certeza de que encontraria Voldemort em pessoa, mas era exatamente isso que queria fazer... Algo a empurrava a ir, e mesmo seu medo não a impedia de continuar. Uma força que não podia controlar a motivava a ir e ela seguia em frente.

Até que chegaram à uma porta, onde era possível escutar sons vindos de dentro. Antes que Draco pudesse perceber, Gina já estava a abrindo e entrando, sem hesitar.

Logo que entrou, viu seu irmão Percy e seu pai amarrados e desacordados em um canto da sala. Do outro lado estava Voldemort, tendo três Comensais ao seu redor. Assim que Gina o viu, dezenas de lembranças lhe invadiram a mente. Uma voz há muito escutada, sussurrava palavras que sempre tentava esquecer. Imagens de um passado que sempre lhe trazia tristeza, passaram sobre seus olhos e ela se lembrou do seu jovem amigo Tom. Caiu de joelhos no chão, começando a gritar, entre sussurros:

- Não! VOCÊ NÃO PODE SER TOM, não... Ele era meu amigo. Não... Você não é Tom...

Lágrimas espessas escorriam novamente por seu rosto e não fosse Draco segurá-la por trás, começaria a se debater com o punhos fechados no chão. Estava totalmente fora de controle. Sentia como se estivesse novamente naquela câmara escura com uma estátua de Slytherin e Tom Riddle lhe dizendo coisas terríveis, dizendo ser Voldemort.

Sentiu as mãos de Draco lhe cercarem e sentiu-se segura, olhando para frente. Viu a figura maligna de um corpo magro encoberto por um capa negra, mostrando apenas os olhos puxados e vermelhos, brilhando avidamente de curiosidade e satisfação. Não era possível ver sua pele claramente, devido ao capuz que lhe cobria a cabeça, mas ela podia presumir que sua pele era tão branca e fina como um papel e fria, exatamente como a pele de Tom ao lhe tocar...

- Jovem Weasley de cabelos de fogo... - ele sibilou - Jovem Malfoy.... Estranha-me vê-los juntos. Um sonserino e uma grifinória!

-TOM NÃO TINHA ESSA VOZ! - Gina gritou - Era fria, sem sentimentos, era terrível de se ouvir, mas era suave! Você não pode ser Tom.... sua voz é um sibilo de cobra, arranhando meus ouvidos... - ela tinha as mão agarradas nos braços de Draco, e apertava-os, sentindo que suas unhas aos poucos penetravam na pele do louro, invadindo sua carne - É TUDO MENTIRA...

Voldemort soltou uma risada fria, que ecoou pelas paredes, sem nenhuma ironia.

- Você é a garota para quem Lúcio Malfoy entregou o diário? Ah sim, a pequena Weasley foi quem abriu a câmara!

- Não... NÃO! - ela tentou se levantar, mas Draco lhe segurou fortemente - Tom tinha olhos negros, não vermelhos, como sangue. NÃO COMO SANGUE... Não, ele não poderia ter vermelhos...

Gina se virou para Draco e o abraçou fortemente, chorando sem parar. Seu coração parecia querer escapar de seu peito, tão forte batia, e seus olhos começavam a arder, tamanha quantidade escorrida de lágrimas. O medo de estar ao lado do tão temido Voldemort e a agonia de sentir novamente que tinha aquele Tom Riddle malévolo ao seu lado, eram sentimentos dolorosos de se reviver. Porém, era diferente desta vez do que era como no dia da câmara. Agora tinha Draco, tinha alguém para lhe garantir que não estava sozinha num lugar escuro e que se fosse morrer, morreria ao seu lado. E não sozinha.

Dois Comensais caminhavam em direção a eles e ela sentia que novamente seriam torturados, ou desta vez, mortos; dependendo da vontade de Voldemort. Um medo, como o que teve quando não queria abrir os olhos e ver se Draco encontrava-se vivo ou não, invadia seu corpo, mantendo-a paralisada. Ouviu o Lord murmurar em tom de superioridade ordens aos servos, e também ironizando seu desespero ao citar Tom Riddle.

- Você está certa, garota, não sou Tom. Sou Lord Voldemort! Tom Riddle pertence há um passado remoto, onde meus objetivos ainda eram pequenos. Minha vida se conta após o nome Voldemort, não vale a pena relembrar. Então não sou Tom Riddle.

Algo dentro de si continuava a gritar que aquele era o jovem de olhos perigosamente penetrantes, e que ela não poderia aceitar ser dominada por alguém que um dia disse ser amigo...

Vestia uma camisola de alças, fina e curta, devido ao tempo de uso, deixando seu ombros descobertos, a capa de Draco, que antes os cobria, há muito se encontrava no chão, desde que Gina começara a se debater.

Assim que parou de lamentar dentro de si sobre tudo que estava sofrendo e resolveu encarar tudo de frente, nem que fosse para morrer, ondas geladas pareciam sair de seu corpo e um desenho começava a se formar em seu ombro: um leão a rugir, tendo uma cobra enroscada ao lado. Estava tomando forças cada vez que se sentia aquecida, porém, ao invés de tomar alguma atitude corajosa, como se levantar e encarar os Comensais, ela se apertava mais e mais a Draco, chorando.

E o louro pôde ver, fascinado, os finos traços se formando, com um brilho azul fraco, que ia sumindo à medida que o desenho marcava a pele do ombro de Gina.

- Tom Riddle é meu amigo... - ela murmurou baixinho - Não é bom, mas é meu amigo...

Uma imagem translúcida, de um jovem agachado, foi se formando ao lado de Gina, deixando Comensais e quem mais visse de boca aberta. O jovem tinha os cabelos arrumados e negros, e suas vestes eram também escuras, porém com alguns detalhes diminutos em prata e verde, tendo o emblema da Sonserina. Era a lembrança de Tom Riddle.

- Menina Virgínia... - ele murmurou.

Gina deu um pulo de susto e soltou-se dos braços de Draco. Aquela, sim, era a voz de seu amigo, a voz que dizia que ela iria morrer, que só sofreria decepções... Aquele era o verdadeiro Tom Riddle para ela.

Virou-se e olhou, assustada e também extasiada, o corpo transparente, quase um borrão do que dizia ser seu amigo. Dentro de si, não sabia se ficava feliz ou triste, pois ao mesmo tempo que Tom lhe trazia lembranças de medos e terror, também lhe dava alguma segurança, alguma proteção que ela não entendia de onde vinha, mas que sempre sentia ao lembrar da época que ele se apresentava apenas no diário.

- Eu sabia que não era você, Tom, sabia...

- Chorando novamente? - ele disse, levantando-se - Mas desta vez trouxe alguém... Um sonserino? Oh, jovem, não me olhe assim... Sou descendente de Slytherin, sei reconhecer um integrante de minha casa. Vejo em seus olhos a astúcia de um bom sonserino, mas parece que se rendeu aos encantos de uma grifinória! Não é irônico isso, Voldemort? - Tom disse, virando-se.

Voldemort deu alguns passos à frente e Gina não sabia dizer se seus olhos exprimidos denotavam irritação ou extasia ao ver seu eu passado. Ela iria observar o que aconteceria nesse encontro dos dois, quando Draco lhe puxou para trás, aproveitando a distração dos Comensais.

- Você não quer ajudar seu pai? - sussurrou, indo para o outro lado da sala, levando Gina pelo braço.

Ela agradeceu mentalmente por Draco se lembrar desse detalhe, pois se dependesse dela, ficaria ali, observando Tom e Voldemort, até que resolvessem matá-la.

Quando chegou perto do pai, viu que estava amarrado com uma corda fina que prendia seus braços em várias voltas por trás das costas. Lembrou-se que estava sem a varinha e deu um olhar perdido para Draco. Mas ele lhe fez um gesto desolado, mostrando que também estava sem a sua.

- Terá que ser à moda dos trouxas... - ela sussurrou, começando a tentar desatar os nós.

- Esta eu não esperava, jovem Tom... - Voldemort falou - Qual o motivo de retornar novamente? E como, sem meu antigo diário?

- Exatamente como eu não sei lhe explicar. Porém, sei que pouco antes de enfrentar Harry Potter, deixei na menina Virgínia uma marca, que deveria ser a marca negra, mas saiu uma imagem diferente da planejada. Ironicamente uma cobra e um leão... Talvez tenha colocado um pouco de minha essência ali... Não sei exatamente. Mas não me lembro do que aconteceu depois - Tom disse, pensativo - Mas posso supor que devo ter perdido de Potter novamente, já que vejo a menina grifinória viva, e com muitos mais anos do que naquela época.

- Aquela foi uma batalha perdida e desnecessária... Como você vê, eu estou no poder novamente e logo derrotarei o garoto. Não preciso de você agora, nunca precisei retomar minhas origens. Não preciso de um passado que não existe mais...

- Agora, talvez eu possa não lhe ser necessário, meu futuro; porém, fui necessário para o que você se tornou hoje e posso ser útil também para terminar com isto, para acabar com você.

Gina ouviu a risada fria de Voldemort ecoar pela sala, dando-lhe calafrios. Já conseguira desatar um nó, porém, faltavam-lhe vários até chegar a libertá-lo. Viu Draco ao seu lado, braços cruzados, observando a conversa entre os dois praticantes das trevas, e achou que ele ajudaria mais desatando os braços de Percy. Mas logo tirou isso da cabeça. Sabia que para Draco, ajudar só a um Weasley - no caso, ela mesma - já era suficiente pelo resto da vida...

Estava ficando com medo do rumo que aquela conversa poderia ter, pois já ouvira seu nome ser citado uma vez e não ficaria nada feliz se a atenção dos dois fosse voltada para ela, tentando libertar o pai. Mas estava intrigada com a menção de Tom de ter lhe deixado uma marca - um leão e uma cobra. Ficara com muitas lembranças terríveis daquele dia, mas nenhuma cicatriz ou marca que pudesse ser vista...

"A não ser que ele tenha feito alguma coisa quando me tocou..." pensou, aterrorizada.

- Fará o quê? Não passa de uma lembrança, provavelmente sustentado pela energia da garota. Bastaria matá-la e não terei mais você materializado. Mas não será necessário destruí-lo, pois não o temo. Não temo a um passado inútil, nem a ninguém! - Voldemort disse, espremendo os olhos vermelhos.

- Você esqueceu de uma coisa, Voldemort, e isto não é direito à alguém que quer dominar o mundo mágico: esquecer pequenos detalhes! - Tom começou.

- Que pequeno detalhe me escapou? De que você não passa de um borrão que não pode lançar nenhuma maldição? - falou, sarcástico.

- Não. - o jovem continuou - Você esquece-se que sou você - mesmo que não tenha tantos poderes - mas ainda conheço seus segredos e medos, apesar de dizer que não teme a nada.

- O que você poderá fazer com isso? Jogar meus medos na minha cabeça e me matar? - Voldemort ironizou.

- Não, mas eu posso destruir o que você tem de mais preciso: sua confiança - Tom afirmou.

- Mas antes de que você comece alguma coisa, jovem Tom, eu já terei destruído seu apoio: a pequena ruiva.

- Outro detalhe esquecido, meu caro. O mesmo detalhe que o fez perder para uma criança de colo. Esqueceu-se do amor da mãe de Potter, do mesmo modo que está se esquecendo do amor do jovem sonserino que protege Virgínia. Não há como atingi-la, assim eu não posso sumir - ele terminou, com um sorriso nada amistoso.

Gina esqueceu-se por um momento da corda e arregalou os olhos, prestando atenção na conversa. Amor. Estava protegida pelo amor de Draco. Amor.

Dirigiu sua atenção para o louro e viu que ele também a encarava, numa expressão ilegível. Soltou um sorriso tímido e ele ainda continuou sério. Já estavam há um bom tempo juntos, mas nenhum dos dois havia pronunciado a palavra amor, mesmo que já tivessem planejado fugir juntos. Enfrentaram muitas barreiras para namorarem, mesmo que escondidos, mas nunca haviam declarado realmente o que sentiam um pelo outro.

Draco passou levemente a mão na lágrima que escorria pelo rosto sorridente de Gina. Ele deixou-a por uns instantes ali e ela desejou lhe beijar e abraçá-lo forte. Mas sabia que seu sorriso, mesmo que fosse tímido, era suficiente para demonstrar o quanto ela agradecia por ele amá-la.

- Obrigada - ela murmurou, agora tendo mais do que uma lágrima pelo rosto.

Então ele lhe deu um sorriso a meio fio e Gina sentiu-se aquecer por dentro. Assim que Draco tirou a mão de seu rosto, voltou a desamarrar os nós e ouvir a conversa dos dois. Por mais simples que tivesse sido, aquela era a melhor declaração de amor que havia recebido de Draco, de seus olhos.

- Amor. Você saber o que significado da palavra amor? - Tom perguntou - Você já sentiu esse sentimento que considera próprio dos fracos, Voldemort?

Enquanto tentava desatar os últimos nós, Gina ouvia a conversa. Estranhou o fato de Tom estar tratando Você-Sabe-Quem como Voldemort, já que - ela se lembrava - ele havia se titulado Voldemort e abdicara do nome Tom Riddle, na câmara há anos atrás. Ela percebeu que de algum modo, aquele Tom estava diferente. Sua voz continuava suave, mas não havia o tom frio e desumano de antes, apenas um leve toque de descaso. Parecia ter mudado...

- Se me conhece tão bem como diz, meu passado, deveria saber esta resposta. Deveria ter consciência de que nunca tive amor à ninguém, e nunca o recebi. Acerta quando diz que este é um sentimento de tolos e fracos, e é por isto que não tenho, que apenas o vejo nos olhos das pessoas e as destruo.

- E nossa mãe? Esta não nos amou? Nós não a amamos?

- Não! - ele murmurou, perdendo a calma - Não há amor para dar para aquela mulher que morreu, que nos abandonou! Não preciso de ninguém, não necessito de amor! Só preciso de devoção, de obediência. Nenhum sentimento que dizem ser "nobres". - disse, satirizando - A não ser fidelidade, à mim, somente. Mas isto não é uma questão de escolha.

Gina imaginou, já acabando o último nó, que se Voldemort pudesse rir com aquela boca sem lábios, estaria sorrindo.

- Isto eu já sei. Sonhei a vida toda com devoção e poder - Tom falou - E sei também o quanto você necessita de amor, já que mata quem renega este sentimento da qual você diz não ter, não precisar. Sei o quanto sofre por não tê-lo tido de nossa mãe.

- Não tente me enganar, meu jovem. Conheço mais que ninguém suas artimanhas! - ironizou Voldemort.

Gina terminou e livrou seu pai das cordas, dando uma olhada para Draco. Seu pai estava semiconsciente, mas ela supôs que ele estaria bem o suficiente para andar.

- Vamos sair daqui! - Draco sussurrou, já a pegando pelo braço.

- Não! - ela o parou, abruptamente - Tenho que soltar Percy...

Gina viu que ele fizera uma careta de impaciência, mas ela não deixaria o irmão ali, de forma alguma. Deu uma engatinhada para o lado e começou a soltar os nós de novo. Torceu para que desta vez terminasse mais rápido, e saísse dali antes que os dois parassem de brigar. Mas ela sentia, desejava tanto falar com Tom...

- Eu matei aquela pequena... Você a matou, meu caro! - Tom disse, sorrindo - Eu a queria, necessitava por demais de sua companhia e ela me rejeitou, dispensou-me como qualquer garota grifinória fazia com um sonserino. Mas ela não era grifinória!

- Garota? Que garota? Já disse, Tom Riddle, passado indigno de meu ser, não tente me enganar, eu já vivi muito além e não sou mais o jovem bruxo que você ainda é. Não me lembro do sacrifício de nenhuma jovem, pois todas que quis, conquistei.

Gina imaginou o modo "delicado" como o Lord deveria ter "conquistado" as que desejou e teve calafrios. Pela primeira vez, quis que fosse verdade o que Rony e os gêmeos diziam: que ela era magrela demais... Não gostaria, de jeito nenhum, de ter os olhos de Voldemort sobre si.

- Novamente a memória o está traindo! Você matou aquela jovem lufa-lufa... Usou do poder sobre o basilisco e a matou. Sentiu o orgulho ferido ao ser desprezado e não aceitou algo mais forte por uma garotinha, não aceitou sentir o sentimento que considerava ser próprio dos imaturos e sem força. Assim como eu não aceitei estar sujeito a esse sentimento, quis matar a jovem Virgínia, quis destruir o que poderia fazer com que eu fraquejasse e não concluísse meus planos. Eu matei aquela jovem porque eu a amava, assim como tentei acabar com a jovem Weasley... Admita, Voldemort, nós amamos, somos amados, mas somos tolos demais para aceitar esse amor; só pensamos em destruí-lo, em conquistar poder.

- Não! Eu não amei aquela garota estúpida! Não a matei por isso, Eu... - Voldemort se calou por alguns segundos, encarando Tom com os olhos vermelhos arregalados - Eu não tive esse, eu... Ora, você não diz a verdade, garoto estúpido!

- Como não? - Tom sorriu, triunfante - Eu sou você, Voldemort. Sei de todos seus sentimentos e façanhas até seus dezessete anos e poderia lhe jogar muitas coisas se não fosse somente uma lembrança. Poderia citar mais alguns do que você provavelmente amou e destruiu para que não fosse limitado a um sentimento. Você diz não conhecer o amor, diz não entender porque a mãe de Harry Potter se sacrificou para salvar o filho, mas você sabe e conhece tudo isso, por isto o despreza. Tem medo de que um dia possa querer largar tudo apenas para viver uma paixão; tem medo de perder o controle de si mesmo, de ficar vulnerável à uma pessoa.

- Você devaneia, meu caro Tom! - os olhos vermelhos irradiavam ódio, mas o tremor em sua mão mostrava que sua confiança já não era tanta - Não há um futuro para uma lembrança, apenas se é uma coisa imutável, sem fim nem começo. Eu não poderia apagá-lo, mas facilmente exterminarei com a fonte que te alimenta. Diga adeus a sua amada Virgínia! - Voldemort, com a varinha em punho, gritou, a voz cortante - Avada Kedrava!

Um raio verde e contínuo saiu de sua varinha, indo diretamente para direção dos três Weasley e de Draco. Gina arregalou os olhos e ficou paralisada de horror, e antes que pudesse gritar ou dar qualquer passo, sentiu-se sendo apertada contra o chão, perdendo a consciência...

=*=

Sometimes I remember the darkness of my past
Às vezes, eu me lembro da escuridão do meu passado
Bringing back these memories I wish I didn't have
Retornando a essas lembranças que eu não queria ter
Sometimes I think of letting go and never looking back
Às vezes, eu penso em desistir e nunca me recordar
And never moving forward so
E nunca me mover tão rápido
There would never be a past
Não haveria um passado
Just washing it aside
Apenas deixando de lado
All of helplessness inside
Toda essa inutilidade de dentro de dentro
Pretending I don't feel misplaced
Fingindo que eu não me sinto deslocado
Is so much simpler than change
É tão mais simples que mudar

No momento que Voldemort ergueu sua varinha e pronunciou a maldição, Tom sorriu em vitória. Poderia ter sentido o feitiço de cor esverdeada passando por seu corpo, mas ele não tinha sensibilidade nenhuma, era apenas uma lembrança de um garoto, era pouco mais do que um borrão do que Tom Riddle fora um dia.

Virgínia Weasley... Quando a jovem despertara o fiapo de sentimento que sentia por Tom - quando ela sofrera por ver Voldemort - ao ver que o jovem de voz suave se transformara em um ser inumano, acabou liberando a pequena parte de Tom que tinha dentro de si, e fazendo com que sua lembrança mais uma vez retornasse.

Quando teve consciência de que estava novamente retornando, Tom carregava mais do que a si próprio, carregava uma parte de Gina também. Sentiu toda a força que a garota tinha guardada, assim como seus sentimentos mais profundos. À partir daquele momento, aceitou o fato de que a amava, e de que ter esse sentimento não lhe causava mal algum, pelo contrário, só acrescentava mais e mais força ao seu ser.

Assim que viu Gina e Draco à sua frente, o jovem com uma cara incrédula e a garota com uma mistura de espanto e alegria nos olhos, Tom sentiu, mesmo que naquela forma não lhe fosse permitido sentir, todo o amor que os dois tinham um pelo outro. Um sonserino e uma grifinória.

Um segundo antes de pronunciar qualquer palavra, repudiou esta união, mas a transformação dentro de si, causada pela influência que Gina agora lhe causava, fê-lo admitir seus sentimentos e lembrar-se que ele também era um sonserino e que ele também amara aquela garota... Então não podia condenar o jovem por se relacionar com Gina, afinal, ele também desejava fazer o mesmo... Se pudesse.

Soube, antes mesmo que pudesse ver, que estava na presença de seu futuro eu, de Voldemort. Compreendeu porque Gina estava chorando e porque se agarrava tanto de medo ao sonserino. Rápido, como sempre eram suas idéias, compreendeu também o que deveria fazer, e como fazer. Devia muito a sua menina Virgínia, e agora era a hora de pagar, derrotando a si mesmo.

E agora que tudo estava feito, sentia-se orgulhoso por ter sido mais inteligente do que seu eu futuro, que era muito mais experiente, e conseqüentemente, mais sábio. Sorriu mais uma vez, dando-se conta de que aquela era a primeira vez que fazia uma boa ação genuinamente, sem interesse nenhum, apenas para quitar uma dívida que tinha com Gina por tê-la feito sofrer.

Apesar de toda a satisfação de ter cumprido o que era certo, o sentimento de tristeza que sempre lhe assolava, voltou mais uma vez. Sentiu-se pequeno e fraco, necessitando de algo, sem saber exatamente o que era. Mas algo dentro de si o informou o que já sabia: por mais que desejasse algo, por mais que necessitasse, nunca poderia ter nada... Era apenas uma lembrança, agora pertencente à uma garotinha...

=*=

Without a thought, without a voice, without a soul
Sem pensamento, sem voz, sem uma alma
Don't let me die here, there must be something more
Não me deixe morrer aqui, deve haver algo mais
Bring me to life
Traga-me para vida

Alguma coisa pesada comprimia fortemente sua perna contra o chão frio e isto parecia irritá-lo mais do que a forte dor que parecia querer explodir sua cabeça. Ele tentou mexer seu braço, mas também havia algo sobre este e era impossível movimentá-lo mais de um centímetro.

Sentiu o cheiro agridoce de sangue e agradeceu por ser o rosto de Gina colado ao seu. Agradeceu mais ainda por sentir a respiração pesada e quente dela batendo em sua bochecha: estava viva. Sentiu vontade de ouvir sua voz manhosa e suave, ou ver seus sorrisos sempre sinceros, mas naquela posição, Draco tinha certeza de que seria impossível.

Começou a mexer sua perna, até que depois de algum tempo em que começava a sentir cãibra no braço, o peso sobre ela foi aliviado. Conseguiu tirar o apoio que estava mantendo sobre Gina e teve forças, desta vez, para puxar seu braço violentamente, fazendo com que um Percy assustado acordasse caindo para o lado.

Virou-se para o outro lado, depois de ver Gina à sua frente, desacordada e murmurou com a voz firme, porém um pouco baixa:

- Da próxima vez que resolver se jogar em cima de alguém, mantenha essa perna de chumbo longe da minha! - falou para o Sr. Weasley, que piscava, desentendido - E você, - disse agora para Percy, que ainda não parecia totalmente consciente - trate de olhar antes de jogar esse "corpo de pluma" em cima do meu braço! Nunca tive dúvidas sobre a má educação dos Weasley, mas não achei que a situação era tão grave a esse ponto.

Percy lançou um olhar nada amistoso entre as lentes sujas de seu óculos e já abria a boca para rebater quando o Sr. Weasley fez um gesto para que ele se mantivesse quieto.

- Admira-me toda essa coragem para salvar minha filha, jovem Malfoy. Porém, nada muda minha opinião de que sua repugnância por nossa família é pura inveja por não ter esta união em seu lar. Vi que seu pai não ousou se mexer para lhe ajudar. Creio que não há culpa sua nisso e espero que, se deseja realmente ter com minha filha, corrija seus erros de julgamento.

Draco olhou para o senhor de cabelos vermelhos, que estava espalhados em poucas partes da cabeça, e manteve seus olhos sem nenhuma emoção. Ele abriu sua boca para responder alguma coisa, apesar de não saber exatamente o que diria. Mas um movimento ao lado o fez desviar os olhos do senhor.

- Você está bem? - ele perguntou, enquanto observava à Gina abrindo os olhos.

Lentamente ela ergueu o corpo e envolveu os braços sobre Draco, num abraço caloroso. Ele sentia que ela começava a chorar e se perguntou como alguém podia ter tantas lágrimas para derramar em um tempo de tão poucas horas.

- O que... o que aconteceu? - ela sussurrou - Eu me lembro... Tom, Vol... Voldem... lançou uma maldição...

Draco ponderou a pergunta e viu que ele ainda não havia questionado sobre isto. Estava vivo, mas havia sido atingido por um Avada. Olhou ao redor e viu os Comensais que estavam ali antes, caídos no chão, talvez mortos, talvez desmaiados.

- Eu não sei... Não sei exatamente como, mas nós sobrevivemos. Sobrevivemos a um Avada Kedrava... E temos quatro Comensais apagados e um Voldemort sumido... - ele disse, também confuso - Talvez nos dêem um apelido, como aquele ridículo do Potter: "o menino-que-sobreviveu". Que tal "o quarteto-que-desmaiou-na-hora-mais-importante"?

Gina fingiu não escutar e soltou-se de Draco. Ao ver que o pai e o irmão estavam bem, abraçou-os. Draco ignorou a cena e tentou procurar por uma explicação plausível para estarem os quatro vivos. "Talvez porque eu e os dois cabeças de fósforos tenhamos nos jogado para proteger Gina, a maldição tenha se expelido... Mas é impossível um Avada ser impedido tão facilmente..." ele pensou, cético.

Sentiu a mão de Gina comprimindo a sua e voltou-se para olhá-la. Mantinha um sorriso fraco, mas muito expressivo, e seus olhos brilhavam docemente. Draco via que com aquela aparência, Gina poderia participar de um concurso de visual mais horrível e ganharia; devido aos cabelos grudados no rosto, alguns rastros de sangue, lágrimas descendo pela bochecha e vestes nada inteiras. Mas teve consciência de que nunca a achara tão linda, como naquele momento, em que seus olhos lhe mostravam gratidão, amor...

Num impulso, levou a mão esquerda ao ombro de Percy e o afastou um pouco dela, dando-lhe liberdade para puxá-la rapidamente e esquecer um pouco do que haviam passado no doce dos lábios que Gina oferecia...

"N/A: Eu não tenho certeza se a Murta era uma lufa-lufa, mas, de qualquer modo, eu posso dizer que ela não tinha o nome citado no livro 2 - graças a fofa da Diana Prallon (Obrigada, novamente!!) - e mesmo assim, eu não quis inventar um neste capítulo, para não quebrar a imagem dela - que já não é nada boa pra mim =)
Ah, peço desculpas pela minha imaginação limitada por não ter criado uma marca melhor do que a que eu descrevi no ombro da Gina. Leão e cobra já devem estar muito manjados, mas eu simplesmente não consegui imaginar naaada diferente...=b".