8. Decisões e Revelações
O professor Lupin esperava na entrada do salão principal enquanto os estudantes terminavam o café da manhã no dia seguinte.
"Srta. Hunter."
"Sinto muito ter perdido sua aula semana passada, professor," Laurel se desculpou. "Como está o Bicho-papão?"
"Ele irá ficar melhor." Ele olhou para ela pelo canto dos olhos e sua expressão mudou por um segundo. "Como vai o professor Snape?"
Ela corou, mas manteve a pose altiva e olhou nos olhos dele. "Acredito que ele esteja bem. Por que não perguntou diretamente para ele? Vocês estavam sentados na mesma mesa no café da manhã."
"Desculpe, não pretendia me intrometer"' ele disse.
Laurel deu de ombros. "Posso ajuda-lo em algo, professor?"
"Andei pensando sobre seu... problema."
"Meu problema?" Nervosa, ela pensou na lista de problemas que ela tinha. Sobre o que ele estava falando? Ela dormindo com um professor? Colocando fogo nos objetos ao redor quando estava com raiva? Sendo mantida prisioneira em um lugar estanho cheio de gente estanha? Serene cantando no chuveiro?
"Meu problema" ela repetiu. "Você quer dizer uma bruxa adula que não consegue amarrar o próprio tênis com mágica?"
"Por que alguém iria querer fazer isso?" Remo brincou. "Eu estava me referindo ao seu problema com fantasma." Ele retirou algo de dento do bolso e entregou a ela. "Posso ter encontrado algo útil para você."
Laurel pegou o pequeno bloco e abriu. As páginas estavam brancas e vazia. Ela olhou para Lupin e franziu as sobrancelhas. "O que é isso?"
"Uma caderneta fantasma. Eu o encontrei numa pequena loja no beco diagonal, onde vendem coisa para bruxos com deficiência."
"Legal. Bem, eu acredito que 'cegueira de fantasma' seja considerado uma deficiência no seu mundo." Novamente ela abriu o bloco e as páginas continuavam em branco. "Mas como isso funciona?"
"Deixe-me mostrar." Animado, ele pegou a mão dela. "Apenas uma pergunta. O que você acha das aulas de história do Professor Binns?"
Laurel tentava manter o passo com as longas passadas do professor e logo notou a graciosidade com que ele se movia. "Não faço a mínima idéia. No meio de tantas aulas de DCAT, Poções, Transfiguração e Aparatação não tive tempo de ver História. Dumbledore decidiu que era uma matéria de menor importância, sendo apenas acadêmica."
"Mas você mesma não é uma professora de História?" ele perguntou curioso enquanto eles subiam a escada para a sala do professor Binns.
"Eu sou uma historiadora, e cheguei a ensinar jovens por um tempo. Mas claro que isso foi História trouxa. Eu não saberia dizer nada sobre o que aconteceu no passado bruxo."
"Bem, acredito que existam várias conexões. Pense na grande caçada aos bruxos. E a derrota de Johann Grindelwald em 1945!"
Ela balançou a cabeça. "Grindelwald?"
"Deixa para lá. Tenho certeza de Dumbledore irá te falar sobre isso um dia." Ele apontou para uma porta. "Aqui estamos. Agora, o que eu quero que você faça é entre nessa sala e se sente numa das carteiras ao fundo. Apenas observe o que está acontecendo."
Ele abriu a porta e deixou que ela entrasse. Enquanto ela achava um lugar para se sentar, ele foi até a frente da sala e ficou parado lá, de costas para ela. Laurel viu Grifinórios e Sonserinos caídos em suas carteiras, semi-adormecidos. Até mesmo Hermione estava obviamente entediada. Ela lia um livro sob a mesa e apenas pegava sua pena de vez em quando para fazer alguma anotação.
Quando Lupin se sentou ao seu lado, Laurel sussurrou: "O que está acontecendo? Isso é algum tipo de detenção?"
Lupin sorriu. "Não duvido que os alunos que ainda não estão dormindo iriam concordar com você. Mas não, essa é a aula de História."
Laurel abriu a boca e olhou para ele em espanto. "Você está brincando."
Ele apontou para o bloco de notas que havia dado a ela. "Abra."
Relutante, Laurel abriu o pequeno bloco. Onde as páginas haviam estado brancas antes, agora estavam cheias de palavras - palavras que pareciam vivas, tremendo e se movendo pelas páginas como letras de néon.
"O que é isso?" Ela sussurrou urgentemente.
Remo apontou para os estudantes. "O que você está lendo é o que eles estão escutando. O professor Binns é um fantasma. Como você não pode ver ou ouvir fantasmas, esse bloquinho irá permitir que pelo menos você possa ler as palavras deles."
"Você está dizendo que essas crianças estão sendo ensinadas por um fantasma?"
Ele deu de ombros. "Binns tem sido um fantasma desde que eu me lembre por gente."
Ela olhou para o bloco. Aparentemente a sala estava ouvindo uma longa lista de nomes de goblins que tiveram um papel vital na revolução dos goblins no século XV.
"Esse caderno irá permitir que você se comunique com fantasmas mesmo que você não consiga vê-los. Se eles tiverem algo de importante para dizer, eles irão abrir o bloco. Nós concordamos nisso. Até mesmo Peeves disse que iria pegar leve com você. Eu não contaria muito com isso, no entanto."
Eles permaneceram na sala até que o professor Binns liberou os alunos sonolentos a saírem. Caminhando pelo corredor, Lupin e Laurel conversavam sobre fantasmas, goblins e gárgulas. Até onde ele conseguiu descobrir, 'cegueira de fantasmas' era uma condição comum em bruxos criados por trouxas. Não havia cura, a não ser manter uma mente aberta e a cegueira não iria afetar a habilidade de se ver outras criaturas.
"Então se não tivessem me feito acreditar, quando criança, que fantasmas não existem, eu poderia vê-los?"
"Isso foi o que me disseram em St. Mungos quando eu perguntei." Lupin sorriu de modo encorajador. "Você acha que consegue passar por isso?"
Ela sorriu e guardou o bloquinho no bolso. "Vou tentar."
"Escute, Laurel," disse Lupin e corou. "Eu queria te perguntar... Deixa para lá."
"Você queria me perguntar?" ela o encorajou. 'Não sobre Snape', ela desejou silenciosamente.
"Sua amiga ruiva, Srta. Kennedy." Lupin evitou olhar para a expressão surpresa de Laurel. "Ela disse alguma coisa sobre mim?"
"Não. Mas nós não somos realmente próximas. Quero dizer..." ela tossiu embaraçada. "Ela teria me falado algo se nós fossemos próximas?"
"Não." Ele estava tão embaraçado quanto ela. "Eu apenas tive a impressão de que ela não me suporta"
"Eu sinto muito. Ela nunca mencionou nada sobre você. Mas Serene é bastante reservada. Talvez você devesse perguntar ao Ben."
"Deixa para lá" ele a silenciou rapidamente. "Acredito que já estou atrasado demais para minha próxima aula. Não se preocupe sobre os fantasmas. Você vai ficar bem."
Ele saiu apressado pela escada, subindo dois degraus a cada passo.
Quando Laurel se virou encontrou Serene parada à porta da sala de Transfiguração. Seu rosto bonito flamejante de raiva.
"O que eu fiz agora?" Laurel perguntou, quase assustada com o olhar furioso que ela recebeu.
Serene apenas a encarava.
"Serene?"
"Então é por isso que você sai escondida quase toda noite!" Jogando suas mechas vermelhas para trás, Serene se virou e bateu com a porta na cara de Laurel.
* * *
As aulas no período de verão pareceram passar rápidos como um trem, dia após dia, até que faltava apenas uma semana para o jantar de despedida, que de acordo com os Grifinórios, era um dos principais eventos do ano.
Laurel fechou seu livro e olhou desejosamente para fora da janela, em direção ao lago onde uma brisa suave criava ondas na superfície da água.
Ela pesou o livro em sua mão por um momento, mas sua mochila já estava pesada o suficiente. Então "Homens que amam demais a lua" voltou para a prateleira. Nos livros que Hermione havia recomendado, Laurel encontrou fatos incríveis sobre Lobisomens. Várias das descrições ela conhecia como parte de lendas antigas, mas os livros da Biblioteca de Hogwarts os tratavam como fatos e ofereciam vários documentos sobre o assunto. O calendário que ela sempre carregava consigo mostrava o padrão dos dias doentes do professor Lupin claramente. Todo mês, os três dias da Lua Cheia.
Ela chegou a conversar sobre isso com Severus, mas tudo o que ela conseguiu dele foi um sorriso de escárnio e um comentário azedo.
"Engraçado, como várias mulheres gostam de acreditar que elas podem se interessar por um lobisomem. Claro, elas iriam transformar o coitado em vegetariano, e cortar o cabelo dele, e fazer com que ele pare de uivar para a lua. Mas fora isso..."
"Eu não estou interessada em Remo Lupin." Ela replicou, irritada. E essa era a verdade amarga. Esse homem gentil e decente, com sua educação, olhar calmo e jeito suave não mexia com ela de maneira nenhuma. Enquanto Snape - olhos escuros, amargurado e irritante Snape - a fazia tremer sempre que ele a tocava (o que era realmente freqüente e satisfatório para ambos, ela imaginava). Após quase seis meses de paixão e união física ele ainda continuava sendo o homem mais fechado que ela conhecia. E dificilmente ele permitia que ela o tocasse. Por que ela não conseguia se apaixonar por um dos mocinhos, para variar?
Quando uma sombra escura cobriu o seu calendário, ela olhou para cima.
"Severus."
"Ainda atrás do segredo sombrio do Lupin?"
"Você preferiria que eu desenterrasse os seus?"
Ele a encarou, como um estranho de repente.
"Não faça isso." Ele disse calmamente.
"Desculpe, eu estava brincando."
"Ha. Ha."
"Mas vocês estudavam juntos em Hogwarts," ela tentou novamente. "Você deveria ter percebido que ele está sempre doente na lua cheia. Nunca ninguém questionou?"
Snape deu de ombros. "Eu realmente tinha coisas melhores a fazer na escola do que me importar com Remo Lupin." A mão dele cobriu a dela casualmente. "Dumbledore está te chamando. Você está pronta para a Auditoria?"
Um buraco se abriu no estômago de Laurel. "A auditoria. Sim, estou pronta."
O Ministro havia mandado três bruxos que iriam verificar se ela estava pronta para ser liberada. Snape a guiou até uma pequena sala e pediu que ela se sentasse e esperasse pela chegada do conselho e Dumbledore. Ele já havia fechado a porta trás de si quando voltou para a sala e em um gesto rápido e quase sem-jeito, beijou a testa dela.
"Não se preocupe."
Só então ele saiu e Laurel ficou sozinha. Tocando levemente o ponto onde os lábios dele a haviam beijado, ela fechou os olhos. Ela imaginou se Dumbledore esperava que ela se apaixonasse por Snape quando a chamou para dar "apoio" a ele. Ela sabia disso quando acordou no meio da noite, vendo ele adormecido na poltrona perto da lareira e querendo acariciar o rosto dele, sem se atrever a isso. Ela sabia disso quando viu ele na aula de poções, explicando sobre ingredientes estranhos, segurando frascos como outros homens segurariam flores. Ela sabia disso em situações como o que ela estava passando, quando ele não se importava com a própria dor para fazer com que ela se sentisse melhor.
A porta abriu e ela olhou para cima. Mas não era Dumbledore ou os bruxos do ministério, e sim a professora McGonagall. Ela se sentou ao na cadeira ao lado de Laurel e deu um sorriso fino. Apesar do jeito severo, Laurel aprendeu a gostar da professora com o passar dos últimos meses. Preocupadamente, Laurel notou que os olhos dela estavam vermelhos e inchados.
"Professora?" Ela perguntou. "O que aconteceu?"
"Eu sinto muito." A professora de Transfiguração assoou o nariz. "É só que Remo está nos deixando. Eu estou sendo sentimental demais."
"Lupin?" Era como se uma mão fria agarrasse o coração de Laurel. "Ele está indo embora? Mas por quê? Dumbledore me disse que ele é um professor maravilhoso."
"Oh, ele era" McGonagall concordou bravamente. "Mas os pais dos alunos não vão querer saber sobre isso. Eles vão gritar 'Lobo' sem nem mesmo conhecer Lupin."
"Lobo?"
"Você não sabia? Que ele é um lobisomem?"
Laurel se levantou rapidamente, sua cabeça girando. Ela sabia, dentro dela, e ela havia tentado provar isso. E agora o segredo estava exposto - e podia muito bem ser culpa dela. Ela olhou para McGonagall "Eu preciso vê-lo antes que ele saia."
"Mas Srta. Hunter. a auditoria!"
"Eu volto a tempo."
Ela correu para fora da sala batendo a porta no caminho.
A sala de Lupin era logo depois do corredor. Laurel não se importou em bater na porta antes e entrou na sala, apenas para encontrá-lo guardando livros em seu baú, metodicamente.
Ele olhou para cima e deu a ela um pequeno sorriso. "Srta. Hunter."
Ela se apoiou na beirada da porta. "Você deveria ter me contado."
"Provavelmente eu iria, um dia."
"Por que você não fica? Dumbledore não irá te despedir por ser um... lobisomem."
Lupin se levantou e limpou os joelhos. "Dumbledore já sabia o que eu sou desde o início."
"Aquele homem sabe de tudo, não?"
"Eu estou indo porque Dumbledore já tem problemas o suficiente sem minha presença. E porque assim que a notícia se espalhar, dúzias de pais furiosos irão invadir Hogwarts para salvar suas preciosas crianças das garras do monstro." Ele suspirou e começou a dobrar seus robes. "Você suspeitava de mim, não? Eu vi a sua lista de livros no fichário da Madame Pince.
"Foi meu professor de DCAT que me ensinou tudo o que eu sei sobre lobisomens."
Lupin riu. "Eu deveria ter continuado falando só sobre Barretes Vermelhos e Vampiros e pulado Lobisomens." Seu olhar ficou sério. "Mas você não teria falado para ninguém, teria?"
"Não. Quem contou?"
"Snape. Ele disse aos Sonserinos, que contaram para todos."
"Severus?" Ela sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. "Mas por que ele faria isso?"
Os olhos de Lupin se estreitaram e por um momento o lobo a encarou, uma sombria e estranha presença. "Você sabe que eu quase o matei, quando éramos garotos? Ele entrou quando eu estava me transformando."
"E você teria me servido como prato principal, não Lupin?" uma voz fria perguntou atrás deles.
Laurel se virou lentamente.
Snape a encarou, seu rosto sem emoção como uma máscara, seus olhos nada além de escuridão.
"A auditoria. Eles estão te esperando."
Ela cerrou os dentes.
"Seu cretino," ela sussurrou.
Ele não chegou a piscar e Laurel estava certa de que apenas havia imaginado a súbita onda de dor nos olhos dele.
"Você tinha que falar para todo mundo, não? Você arruinou a vida dele!"
"Eu fiz isso, Lupin?" ele disse suavemente.
Remo andou em direção da porta com passos largos e empurrou Laurel para o corredor. "Eu sinto muito. Eu tenho que acabar de arrumar minhas coisas. A gente se vê, Laurel."
E a porta se fechou.
Laurel encarou Severus. Ele estava tão perto que ela teve que olhar para cima. "Eu não acredito que você fez isso!"
Ele se virou e começou a andar para longe dela, sem responder.
Ela agarrou a manga do robe dele, o segurando. "Você está com ciúmes? É isso? Foi por isso?"
Por um momento ele parecia mais cansado que o possível. "Você não faz idéia do que está falando."
"Pare de me tratar como uma criança estúpida!"
"Então não haja como uma!"
Agora eles estavam gritando um com o outro, sem se importar com quem pudesse ouvi-los.
"Por que você fez isso com ele?"
"Ele é um lobisomem. Tudo o que fiz foi falar a verdade." Os olhos dele brilhavam de raiva.
A mão de Laurel se levantou e voou em direção ao rosto dele. Antes que ela pudesse desferir um novo tapa, ele pegou o punho dela e a impediu. "Nunca mais se atreva a me bater." Ele sibilou.
Ela tremia de raiva, desespero e terror com o que acabara de fazer. Todos aqueles meses em Hogwarts, toda a dor que ela havia passado para aprender a manter suas emoções sob controle...
Snape largou a mão dela como uma fruta podre. Sem nenhuma outra palavra ou olhar ele saiu, deixando-a parada lá.
Uma hora depois o conselho a chamou de volta à sala para dar o veredicto. Os três bruxos do ministério e todos os professores estavam sentados na mesa circular. Laurel se sentou, as unhas cravadas em sua palma dolorosamente. Ela havia estragado tudo. Um olhar para o rosto de Dumbledore foi o suficiente. Furiosa e chateada com Severus ela entrou violentamente na sala da auditoria e, em poucos minutos, provou que ela ainda era um perigo para os outros à sua volta. Um simples feitiço Avis, que deveria produzir um bando de pombos, saiu pela culatra quando ela viu Snape sentado ao lado de Dumbledore. Apenas a reação rápida de McGonagall conseguiu prevenir que a longa barba cinza de um dos bruxos do ministério sumisse em chamas.
O mais velho dos bruxos do ministério limpou a garganta.
"Srta. Hunter, nós concordamos que você precisa de mais tempo para aprender como lidar com os poderes que você possui. Nós tínhamos a intenção de levá- la conosco de volta a Londres, para que você ficasse em um dos prédios do Ministério, mas seus professores aqui estavam mais do que ao seu favor. Você parece ser uma excelente e esforçada aluna. Então nós decidimos mandá- la para a Academia Beauxbatons na França, onde você irá estudar durante o próximo ano escolar. Outra Auditoria então irá decidir sobre seu futuro. Obrigado."
Ele guardou os seus papéis de volta em sua pasta e se levantou. "Eu temo que devemos partir, Albus. Assuntos urgentes no Ministério."
Laurel continuou sentada lá, estupefata, incapaz de se agarrar ao significado das palavras dele. Mandá-la para Beauxbatons? Para França? Por mais um ano?
Então o olhar dela caiu sobre Severus e ela sentiu como se uma faca penetrasse em seu peito. Os alunos estavam certos o tempo todo? Ele era realmente mal e perverso até a alma? Ele havia traído Remo só por ciúmes, ou vingança por causa de uma brincadeira estúpida de aluno?
Talvez uma mudança de cenário era exatamente o que ela precisava. Longe dele ela seria capaz de aprender como controlar a emoção que era mais perigosa: o amor que ela sentia por ele.
* * *
O professor Lupin esperava na entrada do salão principal enquanto os estudantes terminavam o café da manhã no dia seguinte.
"Srta. Hunter."
"Sinto muito ter perdido sua aula semana passada, professor," Laurel se desculpou. "Como está o Bicho-papão?"
"Ele irá ficar melhor." Ele olhou para ela pelo canto dos olhos e sua expressão mudou por um segundo. "Como vai o professor Snape?"
Ela corou, mas manteve a pose altiva e olhou nos olhos dele. "Acredito que ele esteja bem. Por que não perguntou diretamente para ele? Vocês estavam sentados na mesma mesa no café da manhã."
"Desculpe, não pretendia me intrometer"' ele disse.
Laurel deu de ombros. "Posso ajuda-lo em algo, professor?"
"Andei pensando sobre seu... problema."
"Meu problema?" Nervosa, ela pensou na lista de problemas que ela tinha. Sobre o que ele estava falando? Ela dormindo com um professor? Colocando fogo nos objetos ao redor quando estava com raiva? Sendo mantida prisioneira em um lugar estanho cheio de gente estanha? Serene cantando no chuveiro?
"Meu problema" ela repetiu. "Você quer dizer uma bruxa adula que não consegue amarrar o próprio tênis com mágica?"
"Por que alguém iria querer fazer isso?" Remo brincou. "Eu estava me referindo ao seu problema com fantasma." Ele retirou algo de dento do bolso e entregou a ela. "Posso ter encontrado algo útil para você."
Laurel pegou o pequeno bloco e abriu. As páginas estavam brancas e vazia. Ela olhou para Lupin e franziu as sobrancelhas. "O que é isso?"
"Uma caderneta fantasma. Eu o encontrei numa pequena loja no beco diagonal, onde vendem coisa para bruxos com deficiência."
"Legal. Bem, eu acredito que 'cegueira de fantasma' seja considerado uma deficiência no seu mundo." Novamente ela abriu o bloco e as páginas continuavam em branco. "Mas como isso funciona?"
"Deixe-me mostrar." Animado, ele pegou a mão dela. "Apenas uma pergunta. O que você acha das aulas de história do Professor Binns?"
Laurel tentava manter o passo com as longas passadas do professor e logo notou a graciosidade com que ele se movia. "Não faço a mínima idéia. No meio de tantas aulas de DCAT, Poções, Transfiguração e Aparatação não tive tempo de ver História. Dumbledore decidiu que era uma matéria de menor importância, sendo apenas acadêmica."
"Mas você mesma não é uma professora de História?" ele perguntou curioso enquanto eles subiam a escada para a sala do professor Binns.
"Eu sou uma historiadora, e cheguei a ensinar jovens por um tempo. Mas claro que isso foi História trouxa. Eu não saberia dizer nada sobre o que aconteceu no passado bruxo."
"Bem, acredito que existam várias conexões. Pense na grande caçada aos bruxos. E a derrota de Johann Grindelwald em 1945!"
Ela balançou a cabeça. "Grindelwald?"
"Deixa para lá. Tenho certeza de Dumbledore irá te falar sobre isso um dia." Ele apontou para uma porta. "Aqui estamos. Agora, o que eu quero que você faça é entre nessa sala e se sente numa das carteiras ao fundo. Apenas observe o que está acontecendo."
Ele abriu a porta e deixou que ela entrasse. Enquanto ela achava um lugar para se sentar, ele foi até a frente da sala e ficou parado lá, de costas para ela. Laurel viu Grifinórios e Sonserinos caídos em suas carteiras, semi-adormecidos. Até mesmo Hermione estava obviamente entediada. Ela lia um livro sob a mesa e apenas pegava sua pena de vez em quando para fazer alguma anotação.
Quando Lupin se sentou ao seu lado, Laurel sussurrou: "O que está acontecendo? Isso é algum tipo de detenção?"
Lupin sorriu. "Não duvido que os alunos que ainda não estão dormindo iriam concordar com você. Mas não, essa é a aula de História."
Laurel abriu a boca e olhou para ele em espanto. "Você está brincando."
Ele apontou para o bloco de notas que havia dado a ela. "Abra."
Relutante, Laurel abriu o pequeno bloco. Onde as páginas haviam estado brancas antes, agora estavam cheias de palavras - palavras que pareciam vivas, tremendo e se movendo pelas páginas como letras de néon.
"O que é isso?" Ela sussurrou urgentemente.
Remo apontou para os estudantes. "O que você está lendo é o que eles estão escutando. O professor Binns é um fantasma. Como você não pode ver ou ouvir fantasmas, esse bloquinho irá permitir que pelo menos você possa ler as palavras deles."
"Você está dizendo que essas crianças estão sendo ensinadas por um fantasma?"
Ele deu de ombros. "Binns tem sido um fantasma desde que eu me lembre por gente."
Ela olhou para o bloco. Aparentemente a sala estava ouvindo uma longa lista de nomes de goblins que tiveram um papel vital na revolução dos goblins no século XV.
"Esse caderno irá permitir que você se comunique com fantasmas mesmo que você não consiga vê-los. Se eles tiverem algo de importante para dizer, eles irão abrir o bloco. Nós concordamos nisso. Até mesmo Peeves disse que iria pegar leve com você. Eu não contaria muito com isso, no entanto."
Eles permaneceram na sala até que o professor Binns liberou os alunos sonolentos a saírem. Caminhando pelo corredor, Lupin e Laurel conversavam sobre fantasmas, goblins e gárgulas. Até onde ele conseguiu descobrir, 'cegueira de fantasmas' era uma condição comum em bruxos criados por trouxas. Não havia cura, a não ser manter uma mente aberta e a cegueira não iria afetar a habilidade de se ver outras criaturas.
"Então se não tivessem me feito acreditar, quando criança, que fantasmas não existem, eu poderia vê-los?"
"Isso foi o que me disseram em St. Mungos quando eu perguntei." Lupin sorriu de modo encorajador. "Você acha que consegue passar por isso?"
Ela sorriu e guardou o bloquinho no bolso. "Vou tentar."
"Escute, Laurel," disse Lupin e corou. "Eu queria te perguntar... Deixa para lá."
"Você queria me perguntar?" ela o encorajou. 'Não sobre Snape', ela desejou silenciosamente.
"Sua amiga ruiva, Srta. Kennedy." Lupin evitou olhar para a expressão surpresa de Laurel. "Ela disse alguma coisa sobre mim?"
"Não. Mas nós não somos realmente próximas. Quero dizer..." ela tossiu embaraçada. "Ela teria me falado algo se nós fossemos próximas?"
"Não." Ele estava tão embaraçado quanto ela. "Eu apenas tive a impressão de que ela não me suporta"
"Eu sinto muito. Ela nunca mencionou nada sobre você. Mas Serene é bastante reservada. Talvez você devesse perguntar ao Ben."
"Deixa para lá" ele a silenciou rapidamente. "Acredito que já estou atrasado demais para minha próxima aula. Não se preocupe sobre os fantasmas. Você vai ficar bem."
Ele saiu apressado pela escada, subindo dois degraus a cada passo.
Quando Laurel se virou encontrou Serene parada à porta da sala de Transfiguração. Seu rosto bonito flamejante de raiva.
"O que eu fiz agora?" Laurel perguntou, quase assustada com o olhar furioso que ela recebeu.
Serene apenas a encarava.
"Serene?"
"Então é por isso que você sai escondida quase toda noite!" Jogando suas mechas vermelhas para trás, Serene se virou e bateu com a porta na cara de Laurel.
* * *
As aulas no período de verão pareceram passar rápidos como um trem, dia após dia, até que faltava apenas uma semana para o jantar de despedida, que de acordo com os Grifinórios, era um dos principais eventos do ano.
Laurel fechou seu livro e olhou desejosamente para fora da janela, em direção ao lago onde uma brisa suave criava ondas na superfície da água.
Ela pesou o livro em sua mão por um momento, mas sua mochila já estava pesada o suficiente. Então "Homens que amam demais a lua" voltou para a prateleira. Nos livros que Hermione havia recomendado, Laurel encontrou fatos incríveis sobre Lobisomens. Várias das descrições ela conhecia como parte de lendas antigas, mas os livros da Biblioteca de Hogwarts os tratavam como fatos e ofereciam vários documentos sobre o assunto. O calendário que ela sempre carregava consigo mostrava o padrão dos dias doentes do professor Lupin claramente. Todo mês, os três dias da Lua Cheia.
Ela chegou a conversar sobre isso com Severus, mas tudo o que ela conseguiu dele foi um sorriso de escárnio e um comentário azedo.
"Engraçado, como várias mulheres gostam de acreditar que elas podem se interessar por um lobisomem. Claro, elas iriam transformar o coitado em vegetariano, e cortar o cabelo dele, e fazer com que ele pare de uivar para a lua. Mas fora isso..."
"Eu não estou interessada em Remo Lupin." Ela replicou, irritada. E essa era a verdade amarga. Esse homem gentil e decente, com sua educação, olhar calmo e jeito suave não mexia com ela de maneira nenhuma. Enquanto Snape - olhos escuros, amargurado e irritante Snape - a fazia tremer sempre que ele a tocava (o que era realmente freqüente e satisfatório para ambos, ela imaginava). Após quase seis meses de paixão e união física ele ainda continuava sendo o homem mais fechado que ela conhecia. E dificilmente ele permitia que ela o tocasse. Por que ela não conseguia se apaixonar por um dos mocinhos, para variar?
Quando uma sombra escura cobriu o seu calendário, ela olhou para cima.
"Severus."
"Ainda atrás do segredo sombrio do Lupin?"
"Você preferiria que eu desenterrasse os seus?"
Ele a encarou, como um estranho de repente.
"Não faça isso." Ele disse calmamente.
"Desculpe, eu estava brincando."
"Ha. Ha."
"Mas vocês estudavam juntos em Hogwarts," ela tentou novamente. "Você deveria ter percebido que ele está sempre doente na lua cheia. Nunca ninguém questionou?"
Snape deu de ombros. "Eu realmente tinha coisas melhores a fazer na escola do que me importar com Remo Lupin." A mão dele cobriu a dela casualmente. "Dumbledore está te chamando. Você está pronta para a Auditoria?"
Um buraco se abriu no estômago de Laurel. "A auditoria. Sim, estou pronta."
O Ministro havia mandado três bruxos que iriam verificar se ela estava pronta para ser liberada. Snape a guiou até uma pequena sala e pediu que ela se sentasse e esperasse pela chegada do conselho e Dumbledore. Ele já havia fechado a porta trás de si quando voltou para a sala e em um gesto rápido e quase sem-jeito, beijou a testa dela.
"Não se preocupe."
Só então ele saiu e Laurel ficou sozinha. Tocando levemente o ponto onde os lábios dele a haviam beijado, ela fechou os olhos. Ela imaginou se Dumbledore esperava que ela se apaixonasse por Snape quando a chamou para dar "apoio" a ele. Ela sabia disso quando acordou no meio da noite, vendo ele adormecido na poltrona perto da lareira e querendo acariciar o rosto dele, sem se atrever a isso. Ela sabia disso quando viu ele na aula de poções, explicando sobre ingredientes estranhos, segurando frascos como outros homens segurariam flores. Ela sabia disso em situações como o que ela estava passando, quando ele não se importava com a própria dor para fazer com que ela se sentisse melhor.
A porta abriu e ela olhou para cima. Mas não era Dumbledore ou os bruxos do ministério, e sim a professora McGonagall. Ela se sentou ao na cadeira ao lado de Laurel e deu um sorriso fino. Apesar do jeito severo, Laurel aprendeu a gostar da professora com o passar dos últimos meses. Preocupadamente, Laurel notou que os olhos dela estavam vermelhos e inchados.
"Professora?" Ela perguntou. "O que aconteceu?"
"Eu sinto muito." A professora de Transfiguração assoou o nariz. "É só que Remo está nos deixando. Eu estou sendo sentimental demais."
"Lupin?" Era como se uma mão fria agarrasse o coração de Laurel. "Ele está indo embora? Mas por quê? Dumbledore me disse que ele é um professor maravilhoso."
"Oh, ele era" McGonagall concordou bravamente. "Mas os pais dos alunos não vão querer saber sobre isso. Eles vão gritar 'Lobo' sem nem mesmo conhecer Lupin."
"Lobo?"
"Você não sabia? Que ele é um lobisomem?"
Laurel se levantou rapidamente, sua cabeça girando. Ela sabia, dentro dela, e ela havia tentado provar isso. E agora o segredo estava exposto - e podia muito bem ser culpa dela. Ela olhou para McGonagall "Eu preciso vê-lo antes que ele saia."
"Mas Srta. Hunter. a auditoria!"
"Eu volto a tempo."
Ela correu para fora da sala batendo a porta no caminho.
A sala de Lupin era logo depois do corredor. Laurel não se importou em bater na porta antes e entrou na sala, apenas para encontrá-lo guardando livros em seu baú, metodicamente.
Ele olhou para cima e deu a ela um pequeno sorriso. "Srta. Hunter."
Ela se apoiou na beirada da porta. "Você deveria ter me contado."
"Provavelmente eu iria, um dia."
"Por que você não fica? Dumbledore não irá te despedir por ser um... lobisomem."
Lupin se levantou e limpou os joelhos. "Dumbledore já sabia o que eu sou desde o início."
"Aquele homem sabe de tudo, não?"
"Eu estou indo porque Dumbledore já tem problemas o suficiente sem minha presença. E porque assim que a notícia se espalhar, dúzias de pais furiosos irão invadir Hogwarts para salvar suas preciosas crianças das garras do monstro." Ele suspirou e começou a dobrar seus robes. "Você suspeitava de mim, não? Eu vi a sua lista de livros no fichário da Madame Pince.
"Foi meu professor de DCAT que me ensinou tudo o que eu sei sobre lobisomens."
Lupin riu. "Eu deveria ter continuado falando só sobre Barretes Vermelhos e Vampiros e pulado Lobisomens." Seu olhar ficou sério. "Mas você não teria falado para ninguém, teria?"
"Não. Quem contou?"
"Snape. Ele disse aos Sonserinos, que contaram para todos."
"Severus?" Ela sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. "Mas por que ele faria isso?"
Os olhos de Lupin se estreitaram e por um momento o lobo a encarou, uma sombria e estranha presença. "Você sabe que eu quase o matei, quando éramos garotos? Ele entrou quando eu estava me transformando."
"E você teria me servido como prato principal, não Lupin?" uma voz fria perguntou atrás deles.
Laurel se virou lentamente.
Snape a encarou, seu rosto sem emoção como uma máscara, seus olhos nada além de escuridão.
"A auditoria. Eles estão te esperando."
Ela cerrou os dentes.
"Seu cretino," ela sussurrou.
Ele não chegou a piscar e Laurel estava certa de que apenas havia imaginado a súbita onda de dor nos olhos dele.
"Você tinha que falar para todo mundo, não? Você arruinou a vida dele!"
"Eu fiz isso, Lupin?" ele disse suavemente.
Remo andou em direção da porta com passos largos e empurrou Laurel para o corredor. "Eu sinto muito. Eu tenho que acabar de arrumar minhas coisas. A gente se vê, Laurel."
E a porta se fechou.
Laurel encarou Severus. Ele estava tão perto que ela teve que olhar para cima. "Eu não acredito que você fez isso!"
Ele se virou e começou a andar para longe dela, sem responder.
Ela agarrou a manga do robe dele, o segurando. "Você está com ciúmes? É isso? Foi por isso?"
Por um momento ele parecia mais cansado que o possível. "Você não faz idéia do que está falando."
"Pare de me tratar como uma criança estúpida!"
"Então não haja como uma!"
Agora eles estavam gritando um com o outro, sem se importar com quem pudesse ouvi-los.
"Por que você fez isso com ele?"
"Ele é um lobisomem. Tudo o que fiz foi falar a verdade." Os olhos dele brilhavam de raiva.
A mão de Laurel se levantou e voou em direção ao rosto dele. Antes que ela pudesse desferir um novo tapa, ele pegou o punho dela e a impediu. "Nunca mais se atreva a me bater." Ele sibilou.
Ela tremia de raiva, desespero e terror com o que acabara de fazer. Todos aqueles meses em Hogwarts, toda a dor que ela havia passado para aprender a manter suas emoções sob controle...
Snape largou a mão dela como uma fruta podre. Sem nenhuma outra palavra ou olhar ele saiu, deixando-a parada lá.
Uma hora depois o conselho a chamou de volta à sala para dar o veredicto. Os três bruxos do ministério e todos os professores estavam sentados na mesa circular. Laurel se sentou, as unhas cravadas em sua palma dolorosamente. Ela havia estragado tudo. Um olhar para o rosto de Dumbledore foi o suficiente. Furiosa e chateada com Severus ela entrou violentamente na sala da auditoria e, em poucos minutos, provou que ela ainda era um perigo para os outros à sua volta. Um simples feitiço Avis, que deveria produzir um bando de pombos, saiu pela culatra quando ela viu Snape sentado ao lado de Dumbledore. Apenas a reação rápida de McGonagall conseguiu prevenir que a longa barba cinza de um dos bruxos do ministério sumisse em chamas.
O mais velho dos bruxos do ministério limpou a garganta.
"Srta. Hunter, nós concordamos que você precisa de mais tempo para aprender como lidar com os poderes que você possui. Nós tínhamos a intenção de levá- la conosco de volta a Londres, para que você ficasse em um dos prédios do Ministério, mas seus professores aqui estavam mais do que ao seu favor. Você parece ser uma excelente e esforçada aluna. Então nós decidimos mandá- la para a Academia Beauxbatons na França, onde você irá estudar durante o próximo ano escolar. Outra Auditoria então irá decidir sobre seu futuro. Obrigado."
Ele guardou os seus papéis de volta em sua pasta e se levantou. "Eu temo que devemos partir, Albus. Assuntos urgentes no Ministério."
Laurel continuou sentada lá, estupefata, incapaz de se agarrar ao significado das palavras dele. Mandá-la para Beauxbatons? Para França? Por mais um ano?
Então o olhar dela caiu sobre Severus e ela sentiu como se uma faca penetrasse em seu peito. Os alunos estavam certos o tempo todo? Ele era realmente mal e perverso até a alma? Ele havia traído Remo só por ciúmes, ou vingança por causa de uma brincadeira estúpida de aluno?
Talvez uma mudança de cenário era exatamente o que ela precisava. Longe dele ela seria capaz de aprender como controlar a emoção que era mais perigosa: o amor que ela sentia por ele.
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