9. De volta

15 meses depois.

Laurel desfez o baú e a mala de livros que ela trouxe consigo de Beauxbatons. Quando todos os livros encontraram um abrigo temporário, ela olhou ao redor do quarto. Era estranho estar de volta em Hogwarts e não compartilhar um quarto com Serene.

Ela ainda não havia visto Snape. A cadeira dele ficou vazia durante toda a cerimônia de escolha das casas e o jantar, e ninguém se importou de lhe dar uma explicação. Ele havia aparecido em Beauxbatons várias vezes, alegando querer levar notícias do Torneio Tribruxo pessoalmente, e Laurel se assustou com o quanto o laço entre eles ficou depois do incidente da Auditoria. Eles passavam aquelas noites juntos, noites apaixonantes, desesperados e sem palavras, e todas as vezes ele já havia partido de manhã, sem uma promessa de que voltaria. Ainda assim, as visitas dele a deixavam calma e segura, mas com uma culpa crescente de que ela não dava nada a ele em troca. Até que, no fim de Junho, as visitas dele pararam e Severus se manteve longe, sem nenhuma explicação. Como a relação entre eles iria continuar, agora que ela não era mais uma aluna? Iria ao menos continuar?

Laurel sentiu como a ansiedade a deixava mais nervosa ainda. Ela deveria ter voltado mais cedo da França, para permitir que ela se ajeitasse no lugar e descobrisse um jeito de estar no mesmo prédio que Severus noite após noite sem trair seus sentimentos ou ir à loucura de desejo. Mas quando ela estava com tudo pronto para partir, uma coruja do Ministro chegou para Madame Máxime, permitindo que Laurel fosse visitar a família por três dias, supervisionada por um Auror que iria se passar por um aluno de intercâmbio. Ela realmente adorou a estadia com a família, mesmo que tenha provado ser realmente difícil viver sem magia, assim como era viver com magia.

E agora ela estava ali, de volta em Hogwarts, na manhã do seu primeiro dia como professora. Dumbledore realmente a deixou ensinar História!

Ela se lembrou da sua surpresa ao entrar na sala do café da manhã em Beauxbatons em Maio. Ela estava realmente triste naquela época, insegura sobre Severus, ansiosa com seu futuro, temerosa com a próxima auditoria. O sorriso de Dumbledore derreteu a tensão nela como mel quente.

"Srta. Hunter, eu confio que você esteja bem. O diretor substituto me disse que você é uma das melhores alunas dele."

Ela corou. Professor Longtemps ensinava História e era portanto suspeito ao falar dos poucos alunos que sabia diferenciar uma revolução de um protesto.

"Considerando isso e mantendo em mente sua... situação," ele sorriu novamente e enchendo sua xícara de café novamente, "eu vi te oferecer uma vaga em Hogwarts."

Laurel quase cuspiu o próprio café no rosto amigável do diretor. "Uma vaga? Como uma vaga para professor?"

"Isso mesmo." ele concordou com a cabeça, pegando outro salgado.

"Mas Diretor, você e eu sabemos que eu mal consigo fazer feitiços simples. O que eu iria ensinar? Poções?"

Ele sorriu. "Severus provavelmente preferiria cortar a própria mão fora a deixar outra pessoa cuidar de seu laboratório." Estudando a ansiedade no rosto dela, ele perguntou suavemente: "Você não o vê faz tempo, não é?"

Ela balançou a cabeça.

"Seja paciente. É minha culpa. Coisas estranhas estão acontecendo no Torneio e eu preciso dele lá. Ele prefere morrer a admitir que sente sua falta, mas ele anda em péssimo estado ultimamente. Essa é outra razão para minha sugestão que você volte a Hogwarts."

"Então de que vaga nós estamos falando?"

"Como você sabe, História está sendo ensinado atualmente pelo professor Binns. Um excelente professor em sua época, mas infelizmente morto. Agora, fantasmas são teimosos e ele não irá ser persuadido a se aposentar. E eu não posso despedir um bruxo só porque ele está morto."

Laurel reprimiu um riso. "Não, acredito que você não possa."

"Levou um tempo até que eu achasse uma solução, já que qualquer outro bruxo se recusa a entrar em um duelo de ensino com Binns. Bruxos excelentes... mas ele pode entediá-los até a morte."

Ela entendeu o ponto dele. "Dois professores em uma mesma sala não é uma boa idéia."

O Diretor sorriu para ela. "Mas e se um dos professores não vê nem escuta o outro?"

"Entendo. Mas eu não sei o suficiente sobre História da Magia. E eu acredito que você não quer me ver ensinando História Trouxa."

Uma sombra cobriu o rosto amigável dele. "Ensine ambos. Nós estamos enfrentando eventos mórbidos, Srta. Hunter. Se história - mágica ou trouxa - for esquecida, ela irá se repetir várias e várias vezes novamente. Eu quero que os alunos tenham consciência disso."

"Mas como os estudantes conseguirão escutar dois professores falando ao mesmo tempo?"

Ele procurou em suas mangas até que finalmente produziu um rolo de pergaminho. "Flitwick e eu conseguimos uma lista de feitiços que podem provar ser úteis nesse caso. Você tem quarto meses para se preparar, e você irá ensinar apenas do primeiro ao terceiro ano. Se der certo, e você sentir que consegue cuidar de tudo, você terá um cargo em Hogwarts."

Ela assinou o contrato logo após o café da manhã.

Olhando para a ampulheta em sua mesa ela rapidamente pegou seu robe e livros que iria precisar, sua caderneta fantasma e foi para a sala de aula.

Vários alunos do segundo ano da Lufa-lufa e Grifinória esperavam por ela do lado de fora da sala e ela os guiou para dentro. Pelo o que ela sabia, o professor Binns era sempre pontual, então ela imaginou que ele já estaria na sala, fazendo chamada. Sim, os alunos olhavam para o espaço vazio atrás dela e levantavam a mão assim que eram chamados. Laurel foi até a mesa do professor e colocou seus livros e o bloquinho que Lupin havia dado em cima de tudo. Ela só esperava não sentar sem querer em cima do professor Binns.

Checando sua caderneta fantasma ela viu fileiras de palavras aparecer e desaparecer. Obviamente ele estava falando sobre Cartas Patentes mágicas. E era isso que ela iria fazer. Retirando a varinha da sua manga, ela murmurou o feitiço que Dumbledore havia sugerido. Enquanto as palavras de Binn continuaram aparecendo no bloquinho, os alunos olharam para cima, surpresos.

"Ele ainda está falando?" Laurel questionou.

Uma garota loira de rabo de cavalo balançou a cabeça. "Não, mas os lábios dele estão se movendo."

"Ótimo." Laurel sorriu para eles. "Eu sei que isso parece estranho, mas vocês irão se acostumar e não irão deixar Binns distrair vocês."

Abrindo o livro ela deu um longo suspiro. 'Você pode fazer isso', ela encorajou a si mesma. 'Lembre-se, você ensinou trouxas graduados!'

"Agora, alguém pode me dizer o que são Cartas Patentes?"

* * *

Animada com o interesse dos alunos por História, mas aliviada que a primeira aula havia terminado, Laurel trancou a porta da classe. Conferindo as horas, ela viu que tinha tempo suficiente para pegar alguns livros na biblioteca e mudar de roupa para algo menos formal antes do almoço. Mas ela mudou de idéia, resolvendo encarar Severus e acabar logo com isso.

Um grupo de quintanistas conversando alto passou por ela enquanto ela fazia seu caminho para as masmorras. Ela reconheceu o garoto Malfoy e Harry, mais magro e pálido do que ela lembrava. E quando ela se virou, alguém bloqueava seu caminho. Ela olhou para cima.

"Severus."

"Laurel." Ele a cumprimentou com um educado manejo de cabeça. "Dumbledore me disse que você estava de volta."

"Sim."

"Então eles deixaram você ensinar aqui?"

"Sim."

"E sua amiga Serene é assistente da Professora Trelawney."

"Sim."

Exasperado ele jogou as mãos para o alto. "Sim? Isso é tudo que eu recebo? Eu achava que você fosse a faladeira e eu o quieto."

Laurel mordeu os lábios nervosamente. "Eu fui para Provença em Junho."

"Você foi?"

"Eu encontrei Remo Lupin lá."

Ele permaneceu em silêncio, suas feições obscuras, seus olhos pretos impossíveis de se ler, como sempre.

"Ele me contou como você preparava a poção para ele, mês após mês."

Ele deu de ombros. "Eu sou o mestre de Poções. Mais ninguém podia fazê-lo."

"Ele disse que quase te matou quando vocês estavam na escola, e mesmo assim você o ajudou, preparando a poção, até mesmo procurando por algo com menor efeito colateral."

"Não foi culpa do Remo. O amigo dele, Sirius, queria me ver morto e me levou até o esconderijo de Remo quando ele estava preste a se transformar."

Laurel respirou fundo. "Ele também disse que você queria que ele finalmente se erguesse e admitisse quem ele é."

"Eu?"

"Quando ele não se atreveu, quando ele continuou escondendo a verdade por medo, você tomou uma atitude."

Ele levantou as sobrancelhas e deu a ela um riso de escárnio. "Eu fui acusado de ter agido por ciúmes."

O coração dela parecia querer se partir. Lágrimas se juntavam nos seus olhos e ela teve que se concentrar fortemente para impedir sua voz de tremer. "Eu deveria te conhecer melhor do que isso."

"Não." A mão dele segurava o queixo dela, fazendo-a olhar para ele. "Você talvez estivesse certa. Eu invejei Remo. Você e ele têm algo que eu queria, um tipo de amizade sincera eu sabia que nós nunca iríamos ter."

Ele se aproximou, a pressionando contra a parede. Ele havia enganado a si mesmo quando pensou que poderia viver sem isso. Ele precisava da presença dela. Ele desprezava a própria fraqueza, mas pela primeira vez em meses ele não era frio. Pela primeira vez em meses ele não se sentia sozinho. Os lábios dele tocaram os dela e as mãos de Laurel se agarraram na gola do robe dele. "Por outro lado, nós podemos ter isso..." beijando seus olhos, sua testa, o pulso no pescoço dela, ". se você ainda me quiser."

Vozes no fundo do corredor fizeram com que os dois pulassem. Uma classe do primeiro ano saía de uma das salas e começaram a correr em direção as escadas, pensando em passar o resto da tarde nos campos lá fora. Quando eles viram o rosto severo do professor de poções, eles paralisaram. Baixando os olhos, eles passaram andando.

"Não me importa que seja o primeiro dia de vocês. 10 pontos da Corvinal."

Laurel riu, quase tonta de alívio. Ele a havia perdoado. "Que tal um almoço?"

Ele balançou a cabeça. "Eu tenho que falar com a professora Sprout sobre algumas ervas que eu irei precisar."

"Oh." O sorriso desapontado dela fez o coração dele doer.

"Mas se você quiser nós podemos nos encontrar no morro do lago daqui à uma hora."

"E fazer um piquenique?"

"Um piquenique?"

"Um piquenique. Comida e sol?"

"Você quer dizer, formigas e queimaduras?"

O sorriso dele a provocava, mas ela não se importava. A alegria pura que a enchia parecia champanhe borbulhando em suas veias. Ela estava de volta a Hogwarts, e ela estaria bem.

* * *