Capítulo dois: Uma nova amizade

Amy abriu os olhos rapidamente. Havia tido um pesadelo. Mais um pesadelo. Será que seu padrinho não era um assassino? E se ele a matasse? E se ele fosse muito perverso, muito mal, lhe deixasse sem comida, sob tortura, assim como no sonho? Tentou não pensar mais nisso, mas era impossível. Em quatro dias seria sua formatura, alguns meses depois, arrumaria as malas e iria para a Suécia passar um ano com seu "adorável" padrinho. Aquilo sim era um pesadelo! Deitou-se na cama novamente cobrindo a cabeça com o lençol numa forma de se esconder da gravidez da mãe, do ciúme que estava sentindo do bebê, da temporada que teria que passar com seu padrinho, de seu namoro, do fato de faltar apenas alguns dias para ingressar na vida real, abandonar Hogwarts, abandonar a adolescência... Saiu de baixo do lençol, pois senão iria ficar sufocada. Olhou para os lados e viu as amigas dormindo, olhou para o relógio, e constatou que ainda eram cinco da manha...de sábado! Revirou-se na cama mais um tempo, mas de nada adiantou, Amy não conseguiu dormir, e por causa disso, resolveu tomar um bom banho, depois descer. E assim o fez. Durante o banho, ficou tentando lembrar de seu tio Ron. De como ele era, se ele havia sido legal com ela. Por mais que se esforçasse, não lembrava de nada! A única coisa que lembrava, era de seus cabelos ruivos, dos presentes caros que ele sempre mandava em seus aniversários e natal, páscoa, etc. Um dos presentes que ela mais havia gostado, e um dos poucos que não jogou fora, foi uma boneca de porcelana, que ganhara ao completar nove anos. Ela era linda: tinha os cabelos castanhos cacheados, os olhos bem verdes, um vestido vermelho lindo, os sapatinhos pretos, e um meio sorriso no rosto. Junto com ela, tinha um cartão, onde estava escrito que a boneca era tão linda quanto Amy. A garota sorriu ao se lembrar também que no fim do cartão, Ron dizia: "Para a minha pequena Amy!". Como ele não tinha filhos, considerava Amy sua filha, e tinha muito carinho pela menina.

Quando já estava quase terminando o banho, lembrou-se de Ron. Lembrou-se de como ele era bonito, era forte, alto, charmoso...Amy também lembrou-se que adorava andar de mãos dadas com o padrinho, pois todas as mulher olhavam para ele, e Amy sentia-se orgulhosa. Mas então, qualquer entusiasmo desapareceu ao lembrar-se de que ele havia mudado, ela havia mudado! Não poderia mais andar de mãos dadas com o padrinho e sentir-se orgulhosa dele. Não poderia mais ir para sua cama ao ter um pesadelo. Não poderia mais passear de vassouras com ele. Já era uma mulher, e ele um homem.. Engoliu em seco, isso era um pesadelo? Se fosse, que ela acordasse naquele exato momento! Beliscou-se, mas nada aconteceu. Não, aquilo não era um sonho, e Amy estava ficando louca já! Desligou o chuveiro, pegou sua toalha, enrolou-se nela e foi para o dormitório.

Quando chegou, viu que uma das meninas já estava acordada. Aliás, ela foi a única que sobrara no dormitório.

"Uau, eu demorei tanto assim?!" perguntou Amy

"Não. É que as meninas resolveram acordar mais cedo para ensaiarem a coreografia que apresentaremos na formatura." Disse Lynda antes de bocejar.

"Uh, vocês ainda insistem em apresentar aquela coisa babaca?!"

"Vou fingir que não escutei isso, senhorita 'Eu amo quadribol!'".

"Pelo menos eu não sou uma patricinha que só se importa com seu lindo e liso cabelo loiro!"

Lynda, que penteava os cabelos, sentada na penteadeira que tinha no quarto, largou a escova, virou-se e ficou olhando com a boca aberta, em um sinal de indignação, para Amy. Esta tirou a toalha, pos suas roupas íntimas, secou o cabelo com a toalha, sentou-se na cama e começou a penteá-los. Só então percebeu que Lynda a olhava.

"O que foi? Nunca viu, não?" perguntou Amy rudemente.

"Não foi nada não, Amy." Lynda abaixou a cabeça.

"Nossa, o que aconteceu com o 'Potter', ou com o 'Rebeldinha'?" Amy foi cínica, mas ao perceber que a garota chorava, levantou-se e foi para perto da garota. "Okay, se isso for um truque, você está ferrada, sabia Ross?"

"Está tudo bem comigo." Disse Linda entre soluços. "Você pode ir, eu acho que consigo me virar."

"Ross...se isso for só uma representação, você tá ferrada! Vai ter que passar a formatura com os dois olhos roxos, e não com a sua habitual sombra cor-de-rosa!"

A loira não respondeu nada, apenas soluçou, e Amy começou a ficar impaciente.

Amy suspirou, olhou para os lados, abaixou-se, levantou a cabeça de Lynda pelo queixo, e tentou consolá-la.

"Bom, Ross, você sabe que nunca fomos muito amigas, mas você pode contar comigo..."

"Obrigada Amy. Você foi mais legal do que qualquer outra das minhas... "amigas". Ah, e me chame pelo primeiro nome!"

Amy frisou as sobrancelhas, um pouco receosa de que aquilo fosse apenas mais um truque. Mas quando viu que mais lágrimas desciam dos olhos da garota sentada à sua frente, teve certeza de que ela falava a verdade.

"Hey, Lynda, me conte o que aconteceu! Por que você está assim?"

"Eu não quero dar trabalho a ninguém. Obrigada por ter sido gentil comigo." Lynda a abraçou. No inicio, Amy ficou sem reação, mas acabou por abraçá-la. Separaram-se, mas mesmo assim, seus rostos ainda ficaram muito perto. Alguma coisa passou em suas cabeças, algo indecifrável, algo de momento, uma coisinha boba, uma vontade boba, mas foram se aproximando cada vez mais. As bocas iam ficando cada vez mais perto, até que se tocaram. Não foi nada de mais, nem foi um verdadeiro beijo, apenas o toque dos lábios, mas foi o bastante para as duas se separarem confusas.

"O que acabou de acontecer?" sussurrou Amy ainda com os olhos fechados.

"Não sei... Mas terá de ficar em segredo...para sempre." Sussurrou Lynda de volta, também com os olhos fechados.

As duas abriram os olhos.

"Que tal esquecer isso?" sugeriu Amy.

"Claro...Isso nunca aconteceu. Mas...Amy..."

"Sim?"

"Podemos ser amigas? Eu sei que nunca fomos muito juntas, mas todo mundo que andava comigo me abandonou e eu estou sozinha desde que contei que..."

"Que...?"

"Eu estou grávida, Amy."

"Não... não pode ser! É mais um brincadeirinha, não?"

"Juro que não. Eu estou grávida...Você lembra quem era meu namorado?"

"Aquele garoto da Corvinal?"

"Sim, Bruce Anderson."

"Você já contou a ele?"

"Não. Eu descobri uma semana depois de termos terminado."

"E quando você descobriu?"

"Antes de ontem. Então, ontem eu contei para as garotas e...elas disseram que não queriam ser amigas de uma grávida. Amigas de uma garota que não vai poder curtir a vida junto com elas."

"E seus pais?"

"Já souberam... Minha mãe até aceitou, mas meu pai me pos pra fora de casa."

"E agora? Como você vai sustentar esse filho?!"

"Eu tenho uma tia solteirona aqui em Hogsmead, ela tem uma loja de roupas...minha mãe já conversou com ela, e a Tia Sara já preparou um quarto para mim, e eu vou ajudá-la lá na loja. Vou ganhar cinqüenta galeões, vou ter comida, casa, minha mãe vai me visitar regularmente, e eu espero que tudo dê certo."

"Por Merlin!" Amy a abraçou e a Lynda voltou a chorar. "Não se preocupe, eu vou ter que ir para a Suécia depois do Natal, mas até lá, eu vou ficar do seu lado. Sabe...você poderia passar o Natal em casa, se quiser."

Lynda sorriu.

"Eu adoraria...mas vamos deixar o jantar de Natal pra mais tarde, agora eu estou com fome. Que tal se fôssemos tomar café?"

"Seria ótimo!" Amy sorriu. "Hoje temos uma visita a Hogsmead. Que tal se comprássemos algumas coisinhas para o bebê?"

"Mas eu não tenho muito dinheiro, Amy!"

"Não se preocupe! Eu vou ser madrinha do bebê, não?" Lynda sorriu e confirmou com a cabeça "Pois então! Minha mesada é alta, e eu não gasto tudo...quem sabe nós não podemos comprar o berço, a cômoda, e algumas roupinhas?"

Lynda a abraçou.

"Obrigada Amy. Obrigada por ficar do meu lado, obrigada por ser minha amiga mesmo depois de tudo. Obrigada por ficar do lado do meu bebê!"

"Está tudo bem!"

"Você foi mais legal comigo em um dia do que quem andou comigo por sete anos!"

Amy sorriu. Estava um pouco receosa quanto à decisão que acabara de tomar, mas não podia voltar atrás. Lynda Ross podia ser um pouco patricinha, mas não era uma pessoa ruim, e estava sozinha no mundo agora.

"Você terá que contar para seu namorado isso. Não pode deixar o pai da criança sem saber."

"Mas eu conheço o Bruce. Ele nunca iria me aceitar" protestou

Amy suspirou.

"Vamos tomar café, pois você precisa se alimentar, e depois conversamos sobre isso!"

Lynda sorriu, e as duas desceram até o Salão Principal de mãos dadas, rindo e conversando alegremente sobre o bebê. Quando entraram no Salão Principal rindo daquele jeito e de mãos dadas, todos olharam para as duas e abriram a boca. Mas percebendo que estavam prestando atenção demais na vida dos outros, voltaram a seus pratos e começaram a conversar baixinho. Alguns falavam sobre a repentina amizade das duas, outros conversavam sobre o jogo de quadribol, o fim do ano, entre outros assuntos.

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Enquanto yinda trocava de roupa, Amy estava sentada na sala comunal a esperando. Alguém tocou em seu ombro, e quando virou-se, viu Claire com a cara mais zangada que Amy já vira.

"Claire, que cara é essa?"

"E você ainda pergunta? Você fica toda amiguinha da nossa pior inimiga, de repente, e fica tudo bem?"

"Claire, eu preciso te explicar uma coisa..."

"É bom que você tenha uma ótima explicação mesmo!"

"Bom, a Lynda estava..."

"Lynda? Agora é Lynda? Não é mais Ross?!"

"Como eu ia dizendo...ela estava chorando, começamos a conversar, vimos que nos duas estamos enfrentando problemas muito parecidos, e viramos amigas. Estamos procurando arranjar forças uma na outra pra seguir a vida!"

"Agora ela virou sua amiga e vocês têm problemas parecidos? Há-há-há! Que tipo de problemas? Como é difícil deixar meus cabelos lindos?" perguntou Claire cinicamente.

"Não...a minha mãe está grávida, ela também...e..."

"O QUÊ?" gritou Claire.

"Fale baixo, Claire!"

"Como você pode ser amiga de alguém assim?"

"Oras, não é você que acredita tanto em Deus? Cadê o que você aprendeu na igreja? Cadê o perdão? Ter filhos é uma dádiva divina, não? Então...Ela está triste, sozinha, precisando de amigos...todos a abandonaram... tente ser amiga dela também..."

Claire suspirou e abaixou a cabeça, envergonhada.

"Desculpe...eu fui infantil. Mas essa história ainda não me desceu pela garganta." Claire suspirou e olhou para Amy, que estava com aquela cara de cão sem dono que sempre fazia quando queria algo "Está bem...quem sabe não podemos ser amigas dela também, não?"

"É isso aí!" Amy sorriu.

Na mesma hora, Lynda desceu as escadas, e Claire sorriu.

"Lynda, essa é Claire." Apontou para a ruiva. "E Claire, essa é Lynda." Apontou para a loira. As outras duas apenas sorriram e fizeram um aceno com a cabeça. Então, as três saíram da Sala Comunal da Grifinória em direção aos jardins, para pegarem as carruagens e irem até Hogsmead.

A viagem correu tranqüila, e Claire e Linda começaram a se aturar, e, por mais que não admitissem, tinham uma certa simpatia uma com a outra... As três viram algumas roupinhas para o bebê, e Amy até comprou algumas. Assim Lynda ficaria mais animada Voltaram sorrindo para Hogwarts, e aproveitaram bem o jantar, sem se importar com os olhares dos outros, ou as perguntas de seus amigos, que se calaram assim que viram que as três não queriam falar sobre o assunto. Então, ficaram sentados Claire, Lynda, Amy, Andrew, o amigo gay de Amy e Claire e Thomas, namorado de Amy. Os cinco ficaram conversando, rindo e comendo muito durante o jantar. Ao terminarem o jantar, subiram para admirarem as roupas do bebê novamente, para guardá-las e dormirem. Mas, no meio da escada, yinda começou a passar mau, e tiveram que ajudá-la subir. Ela botou todo o jantar para fora, e depois de tomar banho e por pijama, as garotas a ajudaram a deitar-se. Linda dormiu logo em seguida e Amy e Claire ficaram guardando as roupinhas.

"Sabe Amy...a Ross até que é legal...mas eu tenho medo...e se isso for só um golpe para ela aprontar conosco na festa de formatura?

"Vai dar tudo certo...ela está falando a verdade. Ou ela também aprendeu a vomitar, e todos seus antigos amigos também toparam olhá-la daquele jeito?"

"É, você tem razão!" Claire olhou para a pequenina roupa branca que acabara de dobrar e que estava em seu colo. "Se eu te contar uma coisa...jura que não vai falar pra ninguém?"

Amy revirou os olhos.

"Juro!"

"Às vezes eu tenho...tenho...tenho vontade de ter um..." Clair balançou a cabeça de um lado para outro como se tentasse dizer com aquele gesto o que queria dizer para Amy.

"Claire...eu não entendi. Diga com palavras!"

"Ah...você sabe...ter um...um bebê." Ela disse a última palavra mais baixo, e Amy começou a gargalhar.

"Por isso que eu não queria te contar!" exclamou Claire chateada.

"Bom...desculpe Claire, mas é que eu fiquei pensando, a Claire santinha, a virgem da escola tem vontade de ter um bebe...Sabe, foi engraçado. Só isso!"

"Obrigada por rir de mim, Amy!"

"Claire, foi só uma brincadeira...não fique chateada! Eu acho legal essa sua idéia de ter um bebê. Pelo menos você tem 18 anos, e não 47, como meus pais!"

Claire sorriu, ainda um pouco chateada.

O silencio que se seguiu foi constrangedor, e quando terminaram de dobrar todas as roupas do bebê e guardá-las na mala, se trocaram e foram dormir. Claire dormiu logo que se deitou, mas Amy ainda ficou acordada por um tempo, lendo Romeu e Julieta. Ela adorava romances impossíveis! Ficava pensando se, algum dia, isso aconteceria com ela. Se algum Romeu enfrentaria tudo por ela...até a morte. Se ela morreria por amor, se encontraria alguém que realmente a amasse. Entretida em seus pensamentos, nem percebeu quando Sarah, a única do grupo das 'populares' com a qual conversava, entrou. Sarah sentou-se na beirada da cama de Lynda e pegou sua mão. Ficou alguns minutos assim, quieta, até que começou a soluçar e Amy a percebeu.

"Olá Sarah."

"Ela está bem?" perguntou um tanto que desesperada.

Amy sorriu.

"Sim, está. Sarah, eu sei que você se importa com ela...então porque não fica ao seu lado?"

"Porque eu fui uma covarde... E pra tentar reparar os erros, eu acabei de tomar essa decisão e comunicar às outras garotas."

Mais uma vez Amy sorriu.

"Eu sabia que você era uma ótima pessoa! Por mais que ela tenha a mim e a Claire, também precisa muito de você. Principalmente de você."

"Eu vou ficar ao lado dela...não importa o que digam! E...Amy!"

"Sim?"

"Obrigada por cuidar dela por mim"

Amy assentiu com a cabeça, deixou o livro de lado, e decidiu dormir, afinal, o dia havia sido cheio.