11. Uma arte sutil
Laurel olhou para o pacote em suas mãos e suspirou. Hesitante, ela bateu na porta do alçapão da sala da Professora Trelawney.
"Pode entrar." Uma voz baixa chamou de dentro da sala.
Quando Laurel acabou de subir até a sala circular, lembrou as poucas horas que ela havia passado na sala de Sybill. Era incrivelmente quente na sala e um cheiro doce e enjoativo enchia o ar.
"Oh, é você, Laurel" disse a professora da sua poltrona enquanto colocava outra carta de tarô em cima da mesa. "Mas eu já sabia disso, claro."
"Eu não quero atrapalhá-la, professora." Laurel disse educadamente. Ela não gostava muito da bruxa, além disso, ela acreditava que a professora de Adivinhação era nada além de uma fraude. Afinal, até mesmo Dumbledore havia admitido que ela só tinha acertado duas predições até hoje.
"Eu estou procurando pela Serene."
"Eu sabia disso" Sybill respondeu levemente magoada. "Ela está no solar, praticando com as novas bolas de cristal da Romênia."
Laurel subiu outra escada e se encontrou em uma sala bem mais agradável, arejada e iluminada pela luz do sol.
Serene estava sentada no chão, em uma almofada, com as pernas cruzadas e uma bola de cristal em sua mão. 'Ela nunca pareceu tão linda,' Laurel pensou sem inveja. 'Será que todas as mulheres se sentem tão simples na presença dela que nem eu?'
Quando ela se aproximou, Serene virou a cabeça. "Laurel."
"Não diga que você sabia que era eu."
Serene deu um raro sorriso. "Então você está de volta."
Laurel se sentou na janela e colocou o pacote ao lado dela. "Não é estranho? A gente veio para Hogwarts como estudantes um ano atrás, e agora nós estamos ensinando aqui."
"Eu não ensino Adivinhação. Eu apenas ajudo Sybill a encontrar xícaras, cartas de tarô e outras coisas que ela vive perdendo. Duvido que Adivinhação possa ser ensinada. Isso não é uma arte, é mais uma maldição." A voz dela soava amarga.
"O que aconteceu com o Ben? Eu não o vi ainda."
"Ele já devia ter voltado das férias. Dumbledore ofereceu a ele uma estadia em Hogwarts também, para ele ter aulas eletivas com os alunos mais avançados."
Laurel balançou a cabeça.
Serene colocou a bola de cristal de volta em sua caixa. Ela se levantou e tirou os longos cachos vermelhos de cabelo de frente do seu rosto. Os olhos verdes dela brilharam assim que ela se virou para Laurel. "Você me traz notícias do Lupin, não é?"
Surpresa, Laurel a encarou. "Como você sabia?"
"Vi na bola de cristal" Serene disse rispidamente e logo depois deu um sorriso sarcástico. "Não conte para a Sybill, no entanto."
"Na verdade você acertou. Eu o encontrei numa viagem de turma com as garotas de Beauxbatons. Ele estava trabalhando em um zoológico em Provença."
"Um... zoológico."
"Ele disse que estava tudo bem. Disse que se fosse para ser em um zoológico, que pelo menos ele fosse a pessoa com a chave. Ele te mandou isso." Ela esticou o pacote para Serene.
Serene encarou o pacote com uma estranha mistura de desejo e raiva. Até que ela empurrou a mão de Laurel para longe dela. "Eu não quero isso."
"Mas... é para você" Laurel balançou a cabeça, descrente. "O que eu devo fazer com isso?"
"Devolva a ele quando você o ver novamente."
Laurel olhou para Serene, um tanto chateada com o comportamento da colega. "Ele está em Provença. Eu não sei se eu vou vê-lo novamente."
Serene abriu a porta com um movimento da sua varinha. "Você o verá em breve. Eu sinto muito, Laurel, mas eu estou muito ocupada. Obrigada pela sua visita."
A porta se fechou.
Laurel continuou parada nas escadas, sem acreditar no quão rápido ela havia sido dispensada. "E não volte" ela completou, sibilando.
Com o pacote em suas mãos, Laurel voltou para o quarto. Serene nunca havia sido amigável com ela, mas pelo menos ela sempre foi educada. O que incomodava Laurel mais ainda, era que ela parecia ter errado ao julgar os sentimentos de Serene em relação a Remo. Hoje ela havia deixado bem claro que ela não estava interessada.
Ela pesou o presente de Remo em uma das mãos por um longo tempo. Até que decidiu abri-lo. O pacote continha uma linda coleção de cartas de tarô pintadas à mão. Todas as figuras se moviam. A Dama de Espadas sorria e afiava sua lâmina; o Enforcado balançava suavemente da forca. O verso de todas as cartas mostrava a lua.
"Ah, Remo," Laurel suspirou e guardou as cartas cuidadosamente. "Nós somos bem parecidos. Nós dois amamos alguém fora do nosso alcance."
* * *
"Professora Hunter?"
Laurel olhou por sobre o livro.
"Olá, Emily" ela disse amigavelmente. "O que eu posso fazer por você?"
Emily Shanks torcia suas tranças com uma das mãos e corava levemente. "Professor Snape me mandou chamá-la... convidá-la..."
Laurel esperou pacientemente.
"Convidá-la para descer até as masmorras se você estiver livre essa tarde." Sorrindo, Emily respirou aliviada. Aterrorizada com o olhar severo de Snape, ela havia repetido a mensagem desde o salão principal até a biblioteca, para que ela não errasse nada.
Laurel agradeceu, deu cinco pontos para a Lufa-lufa, por ter entregado a mensagem e a mandou de volta para a sala-comunal.
Ainda era a primeira semana de Outubro, ela pensou quando passou pelo Salão principal e viu o teto encantado coberto de nuvens escuras e chuva. Mas ensinar em Hogwarts parecia tão natural, como se ela nunca tivesse ensinado em escolas "normais" antes. O ano em que ela estudou lá com certeza havia ajudado, de outra maneira, ela com certeza não estaria preparada para os Feitiços de Cola e as penas encantadas. Por outro lado, crianças eram crianças - Trouxas ou Bruxas.
O corredor que levava às masmorras estava fracamente iluminado. As tochas nas paredes tremiam levemente. A porta do laboratório onde Snape trabalhava estava fechada. E Laurel sabia melhor do que entrar sem permissão, já que da última vez que ela tentou, um feitiço de proteção a jogou de costas contra a parede. Afinal, havia todos os tipos de venenos e outros ingredientes perigosos nos baús e prateleiras. Cuidadosamente, ela bateu na porta e só abriu quando Snape respondeu.
Trabalhando com alguma coisa na superfície de mármore de uma das mesas de trabalho, ele levantou uma das mãos.
"Só um momento. Só tenho que terminar isso."
Laurel o observou cortar algumas raízes em pedaços finos. Ele estava todo concentrado, ciente apenas dos objetos na placa de cortar e na faca. Cuidadosamente colocando os pedaços cortados um por um em jarros cheios de um líquido claro, ele a fazia lembrar um artista. Mas ele parecia exausto e cansado. Durante as últimas semanas, os chamados freqüentes estavam acabando com ele. Ela fazia com que ele comesse e dormisse o bastante, mas a face dele nunca estivera tão pálida e magra antes.
Retirando a luva de couro de dragão, ele olhou para cima e deu a ela um sorriso fraco. "Gengibre da Manchúria" ele apontou para os jarros. "Sprout levou anos para cultivá-los."
Laurel chegou mais perto e olhou para os jarros. Os pedaços cortados pareciam simples rabanetes, mas tinham cheiro de canela. "Para que você precisa deles?" Ela perguntou. "Mais explosivo de sapos?"
Ele sorriu com escárnio. "Uma raiz dessa é mais cara que todos os sapos da Inglaterra. E elas são baratas, comparado ao orvalho em que elas são colocadas. Isso não é para Neville Longbottom. Eu preciso disso para preparar a poção Veritaserum."
"Veritaserum?" ela tentou se lembrar.
"Oh, vamos lá Laurel!" Snape balançou a cabeça negativamente. "Por acaso você alguma vez prestou atenção ao que eu disse nas aulas?"
"Um líquido claro que força a pessoa a dizer a verdade?"
"10 pontos para a Srta. Hunter." Ele pegou um pequeníssimo jarro da prateleira. "Isso é tudo o que eu tenho. Leva anos para preparar, e os ingredientes são raros e incrivelmente caros."
Laurel olhou para o vidro de Veritaserum e tentou imaginar quantas raízes de gengibre foram precisas para produzi-lo. Como se lesse a mente dela, Snape levantou uma cesta cheia de raízes do chão para a mesa de trabalho.
Ela suspirou. "Tudo isso?"
"Cento e onze. Ou cento e dez, já que eu já comecei a cortá-los." Ele pegou a mão dela e em um gesto raro de carinho, beijou a palma dela. "Eu sei que eu prometi que nós iríamos caminhar juntos hoje, mas..."
"Está chovendo mesmo." Ela respondeu. "Por que você não me deixa ficar aqui nas masmorras com você? E se você me ensinar como, eu poderia te ajudar com esses."
Meia hora depois eles estavam em pé, em lados opostos da mesa de trabalho, com a cesta entre eles, cortando raízes e colocando os pedaços em potes com orvalho."
"Então, poção é trabalho duro. Não só mexer em caldeirões fumegantes." Laurel afirmou.
Snape sorriu afetadamente. "Você se lembra disso?"
"Primeira lição."
"É tanto uma arte sutil e um ofício cansativo em certas horas. Difícil fazer com que alunos do primeiro ano entendam isso."
"Você gostava de poções quando era aluno?"
Ele parou de cortar e lembrou-se do aluno de onze anos que buscava refúgio na sala de poções. "Poções é tudo sobre causa e efeitos. Eu acredito que era isso que eu mais gostava. Fazia eu me sentir seguro."
Laurel olhou para cima. Lá estava novamente. A tristeza na voz dela, a solidão sempre que ele falava da sua juventude.
"E seus amigos? Eles compartilhavam da sua paixão?"
"Eu não tinha amigos." Ele olhou nos olhos dela e deu um sorriso zombeteiro. "Patético, não? Ninguém agüentava o meu comportamento menos do que sociável."
"Você não pode ter sido tão horrível assim, Severus." Laurel manteve a voz suave e passou sua faca para ele afiar.
"Bem, você deveria ter me conhecido quando eu era estudante."
"Muitas vezes eu penso... Como as coisas teriam acontecido se eu tivesse vindo para Hogwarts na idade certa."
Ele se afastou de repente do balcão e começou a procurar algo dentro de um dos baús. "Eu estaria numa turma um ano mais avançado. Você é um ano mais nova, não?" A voz dele estava abafada.
Laurel concordou com a cabeça. "Você realmente teve sorte de eu não estar aqui. Teria sido realmente constrangedor para você."
Ele parou, se virou, e jogou algumas luvas em cima da mesa. "Cuidado com suas luvas" ele disse. "As raízes corroem até pele de dragão quando estão tão frescas assim. Troque de par a cada dúzia de raízes." Olhando para as luvas dele, ela viu buracos nas pontas dos dedos.
"Você está bem? Se queimou?"
Ele balançou a cabeça. "Nada que eu não sobreviva. Agora me diga, por que eu iria ficar constrangido com você em Hogwarts?"
"Eu teria te seguido pela escola toda, tímida demais para sequer falar com você. Secretamente apaixonada. Você teria me odiado por isso."
"Eu realmente duvido disso" os lábios dele se curvaram num sorriso de escárnio. "Eu era realmente desagradável na época."
"Realmente isolado, aposto. Superior. Arrogante. Eu adorava garoto assim quando era mais nova" ela deu um sorriso afetado sem perceber. "Eu ainda gosto."
Re-enchendo os jarros com orvalhos de um barril do outro lado da sala, ele olhou para ela. Os olhos dele, o mesmo fundo negro que ela havia visto no primeiro dia dela em Hogwarts, mas dessa vez Laurel se deixou cair neles sem medo.
"Eu teria ficado encantando, não constrangido."
"Nós poderíamos ter sido amigos." ela disse suavemente.
"Eu teria precisado de um amigo. Muito."
"Eu também."
Silêncio seguiu as palavras dela. Ambos pegaram as facas e continuaram cortando raízes. Rindo silenciosamente, Laurel pensou em quão doméstica a cena parecia, embora nada ao redor deles fosse como deveria ser.
"O que é tão engraçado?" Perguntou Snape, afiando a própria faca com um rápido movimento da varinha.
"Essa parece uma cena típica de um filme romântico trouxa. Um casal na cozinha, preparando o jantar, cortando vegetais na bancada."
"Filme? Explique."'
"Pfff... Imagens que se mexem... Mas já que todas as imagens em seu mundo se movem, não faz diferença."
Ele bufou. "Eu duvido que eles mantenham jarros com pedaços de morcegos em cozinhas trouxas."
"Foi isso que me fez rir. Os morcegos, os olhos de dragão ali, os medidores e tochas" ela olhou para ele. "E você, mestre de poções. É surreal - mas ainda assim faz sentido. Não consigo lembrar quando exatamente tudo isso passou a ser normal."
Ele baixou a faca e olhou para ela de uma maneira peculiar. "Então você parou de sentir saudades de casa?"
Laurel balançou a cabeça. "Não. Eu ainda sinto saudades da minha família, meus amigos. Nós éramos bem próximos e é difícil estar sozinha de repente. Mas Minerva me deu um Aquascópio, para que eu possa ao menos vê-los de vez em quando. E o Ministério me deixou visitá-los nesse verão, mesmo que só por três dias."
"Eu nunca te perguntei sobre sua vida... lá. Você gostaria de me falar sobre isso?"
Ela deu de ombros. "O que você gostaria de saber?"
"Vários meses atrás eu perguntei se tinha alguém que você amava" ele disse e manteve as costas viradas para ela, aparentemente ocupados com os jarros. "Você disse..."
"Minha família. Amigos. Ninguém... especial." Era verdade. Ela não gastou um segundo pensando em Jack fazia mais de um ano. Ela continuou cortando e deixou seu pensamento vagar. "Eu tive uma relação... lá fora. Mas tinha terminando alguns meses antes do Ministério me mandar para Hogwarts."
"Uma relação?" A voz dele não trazia nada além de indiferença, mas ele ainda evitou o olhar dela quando ele se virou e pegou novamente a faca.
"O nome dele era Jack. Nós vivemos juntos por... Eu não acredito... Por quase três anos. Até que ele foi embora, sem avisar. Apenas se mudou e deixou uma carta, dizendo que eu o sufocava, e que ele não estava pronto para o tipo de compromisso que eu queria." Ela pausou. "Eu não consegui suportar isso, então peguei o emprego em Londres, só para fugir."'
"Porque você o amava." Novamente, a mesma voz cuidadosamente guardada em imparcialidade.
Laurel pensou nisso por um tempo. "Não."'
Ela colocou as raízes picadas em um jarro e o cobriu com o orvalho de um vaso de vidro. "Hoje eu acho que nunca cheguei a amá-lo. Não se engane, ele era um cara legal. Muito parecido com Remus Lupin."
Snape quase derrubou a faca. "Um Lobisomem?"
O riso de Laurel ecoou pelas masmorras. "Não. Jack é um contador. Perfeitamente normal, graças a Deus. Trabalhador, fazia malhação, mas ele era... bom. Muito educado, amigável. Suave." Ela mordeu os lábios em repentino entendimento. "Seguro. Ele era seguro."
Snape esperou.
"Eu sabia que ele nunca iria querer nada além de uma relação normal. Eu nunca estaria em perigo, dando mais do que eu podia controlar. E eu sabia - mesmo que eu tenha chorado depois que ele me deixou - que ele não era realmente capaz de me machucar."
Sem nem mesmo ver, ela levou a mão ao cesto, procurando outra raiz, mas o cesto estava vazio. A mão de Snape tocou a dela.
Ela sorriu. "Provavelmente essa é uma pergunta idiota, mas não existe um feitiço para esse tipo de trabalho? Um Feitiço Descascador?"
"Claro que existe. Nenhum bruxo iria cortar cenouras com uma faca. Mas feitiços requerem energia. Cortando com as próprias mãos faz com que a energia vá direto para a raiz de gengibre, onde começa uma reação mágica." Ele franziu as sobrancelhas. "Eles não te ensinaram nada em Beauxbatons?"
"Bem, eu sei preparar um delicioso pot au feu, se você quiser." (Nota da autora: pot au feu é um prato francês, um cozido de carne e vegetais.)
O sorriso dela o fez mais feliz do que ele queria admitir. Ele estava bem ciente da presença venenosa de Voldemort, corroendo toda sua resistência. Ser um Comensal satisfazia uma necessidade obscura e má dentro dele, uma necessidade que ele achava ter extinguido de sua alma na noite que ele decidira colocar seu destino nas mãos de Dumbledore. Mas agora, com reuniões dos Comensais a cada semana, ficava cada vez mais difícil para ele separar os dois mundos, para ele se lembrar de quem ele era.
Laurel retirou as luvas e as colocou de volta em seu lugar.
"Eu também aprendi a varrer e passar roupa - magicamente, claro. Eles têm uma abordagem bem prática em Beauxbatons."
"Então você daria uma perfeita bruxa dona de casa" ele gozou dela, limpando a mesa com um único movimento de varinha. "Qualquer bruxo ficaria feliz em ter você como esposa."
"Qualquer bruxo menos você, isso sim." Ela corou violentamente até que a rosto dela começar a arder. O que tinha dado nela? Olhando fixamente para o chão, ela repetiu o próprio mantra. 'Ele não pode saber. Ele não pode saber. Ele não pode saber.'
"Laurel, eu..."
Ela olhou para cima e viu os traços fracos de dor e terror no rosto dele. Sem pensar, ela pegou a mão dele e, pela primeira vez, ele não se afastou quando ela começou a acariciar o punho dele até que ele abriu a palma."
"Não faça isso" ele avisou. "Eu já te disse antes que eu sou... machucado."
Ela deixou de acariciá-lo, mas manteve a mão enlaçada na dele. "Eu não quis forçá-lo. Você nunca me prometeu nada, Severus, e eu aceito o que você estiver disposto em me dar."
Ele respirou fundo. "Eu não sou bom nisso... nessas coisas de amor."
"Coisas de amor?"
"Carinhos. Beijos. Poemas tolos. Não espere nada dessas coisas, Laurel."
"Não vou esperar."
Ele cobriu o rosto dela com beijos, quentes, apaixonados, apertando ela contra seu corpo. "Nós precisamos descer para o jantar" ele murmurou quando ela desfez a gola do robe dele, permitindo que os lábios dela descessem pelo pescoço dele.
"Nós podemos chegar tarde... e sair mais cedo."
Ele a levantou até que os olhos deles estivessem na mesma altura.
"Me desce!" ela protestou rindo.
"Você vai passar a noite comigo?" A voz dele ronronou como a de um gato.
Ela sabia que isso significava dormir sozinha na cama enquanto ele se revirava na cadeira ou no chão em frente à lareira. Mas havia ela ficado tão feliz pelo curto período que um homem a deixava abraçá-lo?
Em vez de responder, ela o beijou novamente.
Dois pares de olhos os encaravam através da porta semi-aberta do laboratório. Dois pares de pés saíram na ponta dos pés, o mais silenciosamente possível.
"Ele vai matar a gente. Ele vai matar a gente" Neville sussurrou, o rosto dele branco como papel.
"Não seja ridículo, Neville!" Hermione deu uma bronca nele, o puxando para longe do laboratório, subindo as escadas. "Por que ele iria nos matar? Nós não fizemos nada." Ela enfatizou o 'nós' e balançou a cabeça em assombro.
Neville bufou. "Ele matou Trevor por simplesmente ser um sapo. O que você acha que ele irá fazer com estudantes que o pegam beijando outra professora?"
"Ele provavelmente nem percebeu a gente lá. Nós só precisamos ficar quietos quanto a isso e eles nunca vão saber que nós os vimos."
"Eu não acredito nisso! Ela é tão legal. Como ela pôde deixar ele tocar nela?" Neville olhou para trás como se esperasse ver Snape vindo atrás deles naquele instante. "Ele deve ter dado uma poção do amor para ela!"
"Eu acho que não" Hermione respondeu vagarosamente. "Ela parecia estar agindo espontaneamente. E você sabe o que mais?" Ela encarou Neville, entendo tudo de repente. "Ele parecia feliz. Pela primeira vez desde que a gente o conhece, ele parecia feliz."
* * *
Laurel olhou para o pacote em suas mãos e suspirou. Hesitante, ela bateu na porta do alçapão da sala da Professora Trelawney.
"Pode entrar." Uma voz baixa chamou de dentro da sala.
Quando Laurel acabou de subir até a sala circular, lembrou as poucas horas que ela havia passado na sala de Sybill. Era incrivelmente quente na sala e um cheiro doce e enjoativo enchia o ar.
"Oh, é você, Laurel" disse a professora da sua poltrona enquanto colocava outra carta de tarô em cima da mesa. "Mas eu já sabia disso, claro."
"Eu não quero atrapalhá-la, professora." Laurel disse educadamente. Ela não gostava muito da bruxa, além disso, ela acreditava que a professora de Adivinhação era nada além de uma fraude. Afinal, até mesmo Dumbledore havia admitido que ela só tinha acertado duas predições até hoje.
"Eu estou procurando pela Serene."
"Eu sabia disso" Sybill respondeu levemente magoada. "Ela está no solar, praticando com as novas bolas de cristal da Romênia."
Laurel subiu outra escada e se encontrou em uma sala bem mais agradável, arejada e iluminada pela luz do sol.
Serene estava sentada no chão, em uma almofada, com as pernas cruzadas e uma bola de cristal em sua mão. 'Ela nunca pareceu tão linda,' Laurel pensou sem inveja. 'Será que todas as mulheres se sentem tão simples na presença dela que nem eu?'
Quando ela se aproximou, Serene virou a cabeça. "Laurel."
"Não diga que você sabia que era eu."
Serene deu um raro sorriso. "Então você está de volta."
Laurel se sentou na janela e colocou o pacote ao lado dela. "Não é estranho? A gente veio para Hogwarts como estudantes um ano atrás, e agora nós estamos ensinando aqui."
"Eu não ensino Adivinhação. Eu apenas ajudo Sybill a encontrar xícaras, cartas de tarô e outras coisas que ela vive perdendo. Duvido que Adivinhação possa ser ensinada. Isso não é uma arte, é mais uma maldição." A voz dela soava amarga.
"O que aconteceu com o Ben? Eu não o vi ainda."
"Ele já devia ter voltado das férias. Dumbledore ofereceu a ele uma estadia em Hogwarts também, para ele ter aulas eletivas com os alunos mais avançados."
Laurel balançou a cabeça.
Serene colocou a bola de cristal de volta em sua caixa. Ela se levantou e tirou os longos cachos vermelhos de cabelo de frente do seu rosto. Os olhos verdes dela brilharam assim que ela se virou para Laurel. "Você me traz notícias do Lupin, não é?"
Surpresa, Laurel a encarou. "Como você sabia?"
"Vi na bola de cristal" Serene disse rispidamente e logo depois deu um sorriso sarcástico. "Não conte para a Sybill, no entanto."
"Na verdade você acertou. Eu o encontrei numa viagem de turma com as garotas de Beauxbatons. Ele estava trabalhando em um zoológico em Provença."
"Um... zoológico."
"Ele disse que estava tudo bem. Disse que se fosse para ser em um zoológico, que pelo menos ele fosse a pessoa com a chave. Ele te mandou isso." Ela esticou o pacote para Serene.
Serene encarou o pacote com uma estranha mistura de desejo e raiva. Até que ela empurrou a mão de Laurel para longe dela. "Eu não quero isso."
"Mas... é para você" Laurel balançou a cabeça, descrente. "O que eu devo fazer com isso?"
"Devolva a ele quando você o ver novamente."
Laurel olhou para Serene, um tanto chateada com o comportamento da colega. "Ele está em Provença. Eu não sei se eu vou vê-lo novamente."
Serene abriu a porta com um movimento da sua varinha. "Você o verá em breve. Eu sinto muito, Laurel, mas eu estou muito ocupada. Obrigada pela sua visita."
A porta se fechou.
Laurel continuou parada nas escadas, sem acreditar no quão rápido ela havia sido dispensada. "E não volte" ela completou, sibilando.
Com o pacote em suas mãos, Laurel voltou para o quarto. Serene nunca havia sido amigável com ela, mas pelo menos ela sempre foi educada. O que incomodava Laurel mais ainda, era que ela parecia ter errado ao julgar os sentimentos de Serene em relação a Remo. Hoje ela havia deixado bem claro que ela não estava interessada.
Ela pesou o presente de Remo em uma das mãos por um longo tempo. Até que decidiu abri-lo. O pacote continha uma linda coleção de cartas de tarô pintadas à mão. Todas as figuras se moviam. A Dama de Espadas sorria e afiava sua lâmina; o Enforcado balançava suavemente da forca. O verso de todas as cartas mostrava a lua.
"Ah, Remo," Laurel suspirou e guardou as cartas cuidadosamente. "Nós somos bem parecidos. Nós dois amamos alguém fora do nosso alcance."
* * *
"Professora Hunter?"
Laurel olhou por sobre o livro.
"Olá, Emily" ela disse amigavelmente. "O que eu posso fazer por você?"
Emily Shanks torcia suas tranças com uma das mãos e corava levemente. "Professor Snape me mandou chamá-la... convidá-la..."
Laurel esperou pacientemente.
"Convidá-la para descer até as masmorras se você estiver livre essa tarde." Sorrindo, Emily respirou aliviada. Aterrorizada com o olhar severo de Snape, ela havia repetido a mensagem desde o salão principal até a biblioteca, para que ela não errasse nada.
Laurel agradeceu, deu cinco pontos para a Lufa-lufa, por ter entregado a mensagem e a mandou de volta para a sala-comunal.
Ainda era a primeira semana de Outubro, ela pensou quando passou pelo Salão principal e viu o teto encantado coberto de nuvens escuras e chuva. Mas ensinar em Hogwarts parecia tão natural, como se ela nunca tivesse ensinado em escolas "normais" antes. O ano em que ela estudou lá com certeza havia ajudado, de outra maneira, ela com certeza não estaria preparada para os Feitiços de Cola e as penas encantadas. Por outro lado, crianças eram crianças - Trouxas ou Bruxas.
O corredor que levava às masmorras estava fracamente iluminado. As tochas nas paredes tremiam levemente. A porta do laboratório onde Snape trabalhava estava fechada. E Laurel sabia melhor do que entrar sem permissão, já que da última vez que ela tentou, um feitiço de proteção a jogou de costas contra a parede. Afinal, havia todos os tipos de venenos e outros ingredientes perigosos nos baús e prateleiras. Cuidadosamente, ela bateu na porta e só abriu quando Snape respondeu.
Trabalhando com alguma coisa na superfície de mármore de uma das mesas de trabalho, ele levantou uma das mãos.
"Só um momento. Só tenho que terminar isso."
Laurel o observou cortar algumas raízes em pedaços finos. Ele estava todo concentrado, ciente apenas dos objetos na placa de cortar e na faca. Cuidadosamente colocando os pedaços cortados um por um em jarros cheios de um líquido claro, ele a fazia lembrar um artista. Mas ele parecia exausto e cansado. Durante as últimas semanas, os chamados freqüentes estavam acabando com ele. Ela fazia com que ele comesse e dormisse o bastante, mas a face dele nunca estivera tão pálida e magra antes.
Retirando a luva de couro de dragão, ele olhou para cima e deu a ela um sorriso fraco. "Gengibre da Manchúria" ele apontou para os jarros. "Sprout levou anos para cultivá-los."
Laurel chegou mais perto e olhou para os jarros. Os pedaços cortados pareciam simples rabanetes, mas tinham cheiro de canela. "Para que você precisa deles?" Ela perguntou. "Mais explosivo de sapos?"
Ele sorriu com escárnio. "Uma raiz dessa é mais cara que todos os sapos da Inglaterra. E elas são baratas, comparado ao orvalho em que elas são colocadas. Isso não é para Neville Longbottom. Eu preciso disso para preparar a poção Veritaserum."
"Veritaserum?" ela tentou se lembrar.
"Oh, vamos lá Laurel!" Snape balançou a cabeça negativamente. "Por acaso você alguma vez prestou atenção ao que eu disse nas aulas?"
"Um líquido claro que força a pessoa a dizer a verdade?"
"10 pontos para a Srta. Hunter." Ele pegou um pequeníssimo jarro da prateleira. "Isso é tudo o que eu tenho. Leva anos para preparar, e os ingredientes são raros e incrivelmente caros."
Laurel olhou para o vidro de Veritaserum e tentou imaginar quantas raízes de gengibre foram precisas para produzi-lo. Como se lesse a mente dela, Snape levantou uma cesta cheia de raízes do chão para a mesa de trabalho.
Ela suspirou. "Tudo isso?"
"Cento e onze. Ou cento e dez, já que eu já comecei a cortá-los." Ele pegou a mão dela e em um gesto raro de carinho, beijou a palma dela. "Eu sei que eu prometi que nós iríamos caminhar juntos hoje, mas..."
"Está chovendo mesmo." Ela respondeu. "Por que você não me deixa ficar aqui nas masmorras com você? E se você me ensinar como, eu poderia te ajudar com esses."
Meia hora depois eles estavam em pé, em lados opostos da mesa de trabalho, com a cesta entre eles, cortando raízes e colocando os pedaços em potes com orvalho."
"Então, poção é trabalho duro. Não só mexer em caldeirões fumegantes." Laurel afirmou.
Snape sorriu afetadamente. "Você se lembra disso?"
"Primeira lição."
"É tanto uma arte sutil e um ofício cansativo em certas horas. Difícil fazer com que alunos do primeiro ano entendam isso."
"Você gostava de poções quando era aluno?"
Ele parou de cortar e lembrou-se do aluno de onze anos que buscava refúgio na sala de poções. "Poções é tudo sobre causa e efeitos. Eu acredito que era isso que eu mais gostava. Fazia eu me sentir seguro."
Laurel olhou para cima. Lá estava novamente. A tristeza na voz dela, a solidão sempre que ele falava da sua juventude.
"E seus amigos? Eles compartilhavam da sua paixão?"
"Eu não tinha amigos." Ele olhou nos olhos dela e deu um sorriso zombeteiro. "Patético, não? Ninguém agüentava o meu comportamento menos do que sociável."
"Você não pode ter sido tão horrível assim, Severus." Laurel manteve a voz suave e passou sua faca para ele afiar.
"Bem, você deveria ter me conhecido quando eu era estudante."
"Muitas vezes eu penso... Como as coisas teriam acontecido se eu tivesse vindo para Hogwarts na idade certa."
Ele se afastou de repente do balcão e começou a procurar algo dentro de um dos baús. "Eu estaria numa turma um ano mais avançado. Você é um ano mais nova, não?" A voz dele estava abafada.
Laurel concordou com a cabeça. "Você realmente teve sorte de eu não estar aqui. Teria sido realmente constrangedor para você."
Ele parou, se virou, e jogou algumas luvas em cima da mesa. "Cuidado com suas luvas" ele disse. "As raízes corroem até pele de dragão quando estão tão frescas assim. Troque de par a cada dúzia de raízes." Olhando para as luvas dele, ela viu buracos nas pontas dos dedos.
"Você está bem? Se queimou?"
Ele balançou a cabeça. "Nada que eu não sobreviva. Agora me diga, por que eu iria ficar constrangido com você em Hogwarts?"
"Eu teria te seguido pela escola toda, tímida demais para sequer falar com você. Secretamente apaixonada. Você teria me odiado por isso."
"Eu realmente duvido disso" os lábios dele se curvaram num sorriso de escárnio. "Eu era realmente desagradável na época."
"Realmente isolado, aposto. Superior. Arrogante. Eu adorava garoto assim quando era mais nova" ela deu um sorriso afetado sem perceber. "Eu ainda gosto."
Re-enchendo os jarros com orvalhos de um barril do outro lado da sala, ele olhou para ela. Os olhos dele, o mesmo fundo negro que ela havia visto no primeiro dia dela em Hogwarts, mas dessa vez Laurel se deixou cair neles sem medo.
"Eu teria ficado encantando, não constrangido."
"Nós poderíamos ter sido amigos." ela disse suavemente.
"Eu teria precisado de um amigo. Muito."
"Eu também."
Silêncio seguiu as palavras dela. Ambos pegaram as facas e continuaram cortando raízes. Rindo silenciosamente, Laurel pensou em quão doméstica a cena parecia, embora nada ao redor deles fosse como deveria ser.
"O que é tão engraçado?" Perguntou Snape, afiando a própria faca com um rápido movimento da varinha.
"Essa parece uma cena típica de um filme romântico trouxa. Um casal na cozinha, preparando o jantar, cortando vegetais na bancada."
"Filme? Explique."'
"Pfff... Imagens que se mexem... Mas já que todas as imagens em seu mundo se movem, não faz diferença."
Ele bufou. "Eu duvido que eles mantenham jarros com pedaços de morcegos em cozinhas trouxas."
"Foi isso que me fez rir. Os morcegos, os olhos de dragão ali, os medidores e tochas" ela olhou para ele. "E você, mestre de poções. É surreal - mas ainda assim faz sentido. Não consigo lembrar quando exatamente tudo isso passou a ser normal."
Ele baixou a faca e olhou para ela de uma maneira peculiar. "Então você parou de sentir saudades de casa?"
Laurel balançou a cabeça. "Não. Eu ainda sinto saudades da minha família, meus amigos. Nós éramos bem próximos e é difícil estar sozinha de repente. Mas Minerva me deu um Aquascópio, para que eu possa ao menos vê-los de vez em quando. E o Ministério me deixou visitá-los nesse verão, mesmo que só por três dias."
"Eu nunca te perguntei sobre sua vida... lá. Você gostaria de me falar sobre isso?"
Ela deu de ombros. "O que você gostaria de saber?"
"Vários meses atrás eu perguntei se tinha alguém que você amava" ele disse e manteve as costas viradas para ela, aparentemente ocupados com os jarros. "Você disse..."
"Minha família. Amigos. Ninguém... especial." Era verdade. Ela não gastou um segundo pensando em Jack fazia mais de um ano. Ela continuou cortando e deixou seu pensamento vagar. "Eu tive uma relação... lá fora. Mas tinha terminando alguns meses antes do Ministério me mandar para Hogwarts."
"Uma relação?" A voz dele não trazia nada além de indiferença, mas ele ainda evitou o olhar dela quando ele se virou e pegou novamente a faca.
"O nome dele era Jack. Nós vivemos juntos por... Eu não acredito... Por quase três anos. Até que ele foi embora, sem avisar. Apenas se mudou e deixou uma carta, dizendo que eu o sufocava, e que ele não estava pronto para o tipo de compromisso que eu queria." Ela pausou. "Eu não consegui suportar isso, então peguei o emprego em Londres, só para fugir."'
"Porque você o amava." Novamente, a mesma voz cuidadosamente guardada em imparcialidade.
Laurel pensou nisso por um tempo. "Não."'
Ela colocou as raízes picadas em um jarro e o cobriu com o orvalho de um vaso de vidro. "Hoje eu acho que nunca cheguei a amá-lo. Não se engane, ele era um cara legal. Muito parecido com Remus Lupin."
Snape quase derrubou a faca. "Um Lobisomem?"
O riso de Laurel ecoou pelas masmorras. "Não. Jack é um contador. Perfeitamente normal, graças a Deus. Trabalhador, fazia malhação, mas ele era... bom. Muito educado, amigável. Suave." Ela mordeu os lábios em repentino entendimento. "Seguro. Ele era seguro."
Snape esperou.
"Eu sabia que ele nunca iria querer nada além de uma relação normal. Eu nunca estaria em perigo, dando mais do que eu podia controlar. E eu sabia - mesmo que eu tenha chorado depois que ele me deixou - que ele não era realmente capaz de me machucar."
Sem nem mesmo ver, ela levou a mão ao cesto, procurando outra raiz, mas o cesto estava vazio. A mão de Snape tocou a dela.
Ela sorriu. "Provavelmente essa é uma pergunta idiota, mas não existe um feitiço para esse tipo de trabalho? Um Feitiço Descascador?"
"Claro que existe. Nenhum bruxo iria cortar cenouras com uma faca. Mas feitiços requerem energia. Cortando com as próprias mãos faz com que a energia vá direto para a raiz de gengibre, onde começa uma reação mágica." Ele franziu as sobrancelhas. "Eles não te ensinaram nada em Beauxbatons?"
"Bem, eu sei preparar um delicioso pot au feu, se você quiser." (Nota da autora: pot au feu é um prato francês, um cozido de carne e vegetais.)
O sorriso dela o fez mais feliz do que ele queria admitir. Ele estava bem ciente da presença venenosa de Voldemort, corroendo toda sua resistência. Ser um Comensal satisfazia uma necessidade obscura e má dentro dele, uma necessidade que ele achava ter extinguido de sua alma na noite que ele decidira colocar seu destino nas mãos de Dumbledore. Mas agora, com reuniões dos Comensais a cada semana, ficava cada vez mais difícil para ele separar os dois mundos, para ele se lembrar de quem ele era.
Laurel retirou as luvas e as colocou de volta em seu lugar.
"Eu também aprendi a varrer e passar roupa - magicamente, claro. Eles têm uma abordagem bem prática em Beauxbatons."
"Então você daria uma perfeita bruxa dona de casa" ele gozou dela, limpando a mesa com um único movimento de varinha. "Qualquer bruxo ficaria feliz em ter você como esposa."
"Qualquer bruxo menos você, isso sim." Ela corou violentamente até que a rosto dela começar a arder. O que tinha dado nela? Olhando fixamente para o chão, ela repetiu o próprio mantra. 'Ele não pode saber. Ele não pode saber. Ele não pode saber.'
"Laurel, eu..."
Ela olhou para cima e viu os traços fracos de dor e terror no rosto dele. Sem pensar, ela pegou a mão dele e, pela primeira vez, ele não se afastou quando ela começou a acariciar o punho dele até que ele abriu a palma."
"Não faça isso" ele avisou. "Eu já te disse antes que eu sou... machucado."
Ela deixou de acariciá-lo, mas manteve a mão enlaçada na dele. "Eu não quis forçá-lo. Você nunca me prometeu nada, Severus, e eu aceito o que você estiver disposto em me dar."
Ele respirou fundo. "Eu não sou bom nisso... nessas coisas de amor."
"Coisas de amor?"
"Carinhos. Beijos. Poemas tolos. Não espere nada dessas coisas, Laurel."
"Não vou esperar."
Ele cobriu o rosto dela com beijos, quentes, apaixonados, apertando ela contra seu corpo. "Nós precisamos descer para o jantar" ele murmurou quando ela desfez a gola do robe dele, permitindo que os lábios dela descessem pelo pescoço dele.
"Nós podemos chegar tarde... e sair mais cedo."
Ele a levantou até que os olhos deles estivessem na mesma altura.
"Me desce!" ela protestou rindo.
"Você vai passar a noite comigo?" A voz dele ronronou como a de um gato.
Ela sabia que isso significava dormir sozinha na cama enquanto ele se revirava na cadeira ou no chão em frente à lareira. Mas havia ela ficado tão feliz pelo curto período que um homem a deixava abraçá-lo?
Em vez de responder, ela o beijou novamente.
Dois pares de olhos os encaravam através da porta semi-aberta do laboratório. Dois pares de pés saíram na ponta dos pés, o mais silenciosamente possível.
"Ele vai matar a gente. Ele vai matar a gente" Neville sussurrou, o rosto dele branco como papel.
"Não seja ridículo, Neville!" Hermione deu uma bronca nele, o puxando para longe do laboratório, subindo as escadas. "Por que ele iria nos matar? Nós não fizemos nada." Ela enfatizou o 'nós' e balançou a cabeça em assombro.
Neville bufou. "Ele matou Trevor por simplesmente ser um sapo. O que você acha que ele irá fazer com estudantes que o pegam beijando outra professora?"
"Ele provavelmente nem percebeu a gente lá. Nós só precisamos ficar quietos quanto a isso e eles nunca vão saber que nós os vimos."
"Eu não acredito nisso! Ela é tão legal. Como ela pôde deixar ele tocar nela?" Neville olhou para trás como se esperasse ver Snape vindo atrás deles naquele instante. "Ele deve ter dado uma poção do amor para ela!"
"Eu acho que não" Hermione respondeu vagarosamente. "Ela parecia estar agindo espontaneamente. E você sabe o que mais?" Ela encarou Neville, entendo tudo de repente. "Ele parecia feliz. Pela primeira vez desde que a gente o conhece, ele parecia feliz."
* * *
