13. Cão de Caça e Caçador

Estava frio no armário de vassouras ao fundo do jardim, onde os professores guardavam suas vassouras. Laurel estava parada à porta e olhava duvidosamente para a vassoura de segunda-mão que ela havia trazido de Beauxbatons. Dumbledore tinha aberto uma conta para ela em um banco chamado Gringotes, em Londres, seja lá onde fosse. Ela pediu ao Hagrid para trazer a ela algum dinheiro quando fosse para lá em negócios, e ele voltou com uma bolsinha de moedas muito parecido com o bolso que o Ministério havia dado a ela quando era uma estudante.

Em Hogsmeade ela descobriu rapidamente que, com o salário que ela ganhava, dava para comprar todas as trufas de chocolates da "Dedosdemel". Mas não era o suficiente para comprar uma nova vassoura, pelo menos não nesse ano. Então ela comprou um kit de serviço para vassouras e alguns galhos extras, e tentaria arrumar o velho modelo que ela usava.

Uma hora depois, os joelhos dela pareciam gelo, as mãos dela estavam cheias de arranhados e o rosto imundo. Obviamente, uma coisa era trocar os pneus de um carro, outra coisa totalmente diferente era trocar alguns galhos quebrados.

"Eu deveria pegar um fósforo e acabar com seu sofrimento." ela murmurou e empurrou a vassoura ofendida para o lado.

"Se você está planejando uma fogueira, sugiro que leve a vassoura para fora."

Laurel se assustou com a súbita intrusão.

"Professor... White."

Ele não sorriu. "Você pode me chamar de Sirius. Afinal, nós somos algum tipo de aliados, como Dumbledore vive me lembrando."

Laurel se levantou e limpou as mãos em um pedaço de pano. "Então você é o famoso Sirius Black, que desapareceu do sétimo andar da torre oeste sem deixar vestígios." Quando ela sentiu a surpresa dele, ela explicou: "Eu era aluna na época. Sua fuga foi um dos segredos que todos sabiam. Claro que ninguém conseguiu explicar como você fez."

Sirius se sentou em uma caixa que continha galhos e cabos quebrados de vassouras.

"Eu aposto que o velho Severus acusou Harry."

Ela tentou se lembrar. "Sim, eu acho que você está certo. Mas ninguém conseguiu ver como ele poderia ter te ajudado."

"Eu não me lembro de você, na escola, e eu me lembro de qualquer uma que vestia saias. Você foi para Beauxbatons ou Durmstrang?"

Laurel tentou separar melhor os galhos da vassoura. "Eu não fui para uma escola. Quer dizer, não esse tipo de escola. Escola Mágica." Exasperada, ela balançou a varinha e o fio que prendia os galhos se arrebentou.

"Então você realmente é uma trouxa." Sirius refletiu. "Remo me disse, mas eu não acreditei. Nosso amigo em comum sabe disso?"

Ela lançou a ele um olhar frio. "Você e Severus não são exatamente amigos, são?"

A risada dele era rouca e totalmente sem divertimento. Sirius pegou um pacote de cigarros de sua manga, ofereceu um para ela, e quando ela recusou, acendeu um para si mesmo.

"Então, o que há entre você e Snape?" ele perguntou casualmente. "Ele não era realmente popular com as garotas quando vinha para a escola."

Ela o encarou. "O que você quer dizer com isso?"

"Bem, Remo diz que o velho Snape está perdidamente apaixonado por você. Eu apostei 5 Galeões que ele estava errado."

Agarrando um galho com tanta força que o objeto quase quebrou, ela evitou o olhar dele. Remo estava prestes a perder o dinheiro dele. Ela sabia disso muito bem.

"Eu realmente acho que isso não é assunto seu." Ela disse finalmente e deu uma pancada ao lado da vassoura.

Ele deu de ombros. "Você deveria comprar uma vassoura nova, sabia?"

"Eu não posso pagar uma com o meu salário de professora."

"Snape pode."

"Severus?" Ela perguntou, ficando mais irritada a cada minuto.

"Ele deve ter toneladas de dinheiro. Herdou uma fortuna quando o velho dele morreu."

Laurel sentou-se sobre os calcanhares e o encarou. "Qual exatamente é seu problema, Black? Por que você está aqui?"

"Dumbledore quer que a gente... como eu posso dizer? Coexista de uma maneira civilizada? Me desculpe se meus modos são um pouco grosseiros. Azkaban tem esse efeito em você." A voz dele era amargurada.

"Eu sinto muito, por você ter sido mandado para prisão sem um julgamento adequado."

"Bem, isso é difícil de acreditar, vindo da mulher que dorme com meu arquiinimigo." Ele disse rispidamente.

Laurel engasgou de raiva.

"Oh, machuquei seus sentimentos? Aquelas mãos cheias de sangue te deixam louca quando ele te toca?"

"Fora! Caia fora daqui!" Ela se levantou e apontou para a porta.

Ele apenas bufou. "Me faça sair. Mas lembre, Dumbledore me quer aqui em Hogwarts."

Laurel sentiu um desejo ardente de estrangulá-lo, ou socar aquela cara cínica. Mas isso era exatamente o que ele esperava que ela fizesse. Como Remo Lupin, gentil e educado, chamava aquele homem de amigo?

Ela virou as costas para ele, concentrando-se na própria respiração, acalmando sua raiva contando até 100. Quebrando alguns gravetos do montinho, ela disse: "Você está certo, Black. Eu não posso te proibir de ficar aqui. Mas eu juro, se você disser mais uma palavra, eu vou lançar um feitiço em você que com certeza vai estragar seu dia. Pode apostar nisso!"

Ele permaneceu em silêncio, sentado lá, fumando e observando ela.

Enquanto ela arrumava os gravetos novos com um feitiço, ela pensou nos três homens - Remo, Sirius e Severus. Eles eram tão diferentes e mesmo assim... O destino havia colocado eles lá. Ela se lembrou claramente das manchetes nos jornais, no primeiro ano dela em Hogwarts. "FUGA DE BLACK!", eles gritavam. Mas Severus nunca deixou uma palavra entregar que ele conhecia aquele homem. Conhecia? Odiava.

E o ódio era mútuo. A cena na sala dos professores tinha deixado isso perfeitamente claro. Se Severus estava pronto para entregar Black aos Dementadores - criaturas que ele detestava e desprezava - o quão longe Sirius iria? Com um súbito incômodo ela se lembrou da tarde quando Dumbledore e McGonagall haviam informado a ela que alguém estava tentando matá-la - para machucar Severus. E Sirius Black estivera em Hogwarts na época, como um grande cachorro negro, mas de qualquer maneira perto o suficiente para... Envenená-la. A mão de Laurel começou a suar.

Quando ela se virou para Sirius, ele tinha ido embora, tão silenciosamente quanto ele havia aparecido. Apenas o pacote de cigarros permanecia no caixote.


Naquela tarde Snape se encontrou com Laurel fora do castelo para experimentar a nova vassoura dela. Neve havia caído na noite anterior e o chão estava coberto com uma fofa coberta branca. O lago parecia um espelho congelado e de longe, eles podiam ver Hagrid pulando sobre o gelo para testar a sua resistência. Quando os alunos voltassem do feriado de Natal, iriam encontrar um perfeito ringue de patinação.

O castelo estava muito silencioso agora que as crianças tinham ido embora. Apenas uma dúzia deles havia permanecido e passavam o dia com prazeres simples, ou elaborando travessuras, como Snape suspeitava.

"Quando cruzei o hall de entrada, vi os irmãos Creevey se esgueirando pelos cantos. E eles não estavam indo para a biblioteca, acredite!"

Laurel riu e montou na vassoura. A respiração dela criava pequenas nuvens brancas.

"Vamos voar." ela sugeriu. "Lá de cima você vai ter uma visão melhor e poderá detectar crimes imediatamente."

Eles voaram em grandes círculos ao redor do castelo. A transparente beleza da neve, cobrindo torres e telhados, pegou Laurel de surpresa. O sol acendia brilhantes círculos brancos no gelo. Quando eles passaram pelo campo de quadribol, viram que estava acontecendo uma partida, três contra três. Alguns alunos jogavam algo que parecia uma versão mais bruta do jogo do que o original.

Laurel apontou para a arquibancada da sonserina, vazia e coberta de gelo. Quando eles aterrizaram, a face dela queimava por causa do vento e do frio. Mas ela se sentia bem melhor, agora, como se o ar gelado tivesse apagado as palavras de Black do coração dela.

Snape balançou a varinha e conjurou um cobertor de lã. Um feitiço sussurrado limpou um pedaço da arquibancada, espaço suficiente para duas pessoas - se eles se sentasse bem perto... Laurel sorriu para ele.

"Vamos assistir a partida?"

"Por que não?" ele resmungou e puxou-a para perto de si no banco. "É sempre um prazer ver eles tentando se matar."

Abraçados debaixo da coberta e das capas aquecidas, eles ficaram sentados lá, o braço de Snape quase acidentalmente sobre os ombros de Laurel. Ela pegou a mão dele nas dela, para esquentá-lo. Divertida, ela escutou ele suprimir um grito de aplauso quando Harry, em um mergulho fabuloso, pegou o pomo-de-ouro - apenas para soltá-lo no ar novamente. Aparentemente eles haviam alterado um pouco as regras.

"Parece que nós não somos os únicos que preferimos a privacidade das arquibancadas." ela disse e apontou para a arquibancada da Corvinal. Empacotados em suas capas, uma garota e um garoto se beijavam no canto, sem se importar com o mundo à volta deles, ou com os jogadores que voavam acima das cabeças deles.

Snape bufou. "Aqueles são Srta. Brown e Sr. Harrington, eu presumo."

"Lavender e Miles, sim. Eles realmente parecem apaixonados, não parecem?"

Os lábios dele se enrugaram. "Apaixonados!"

"Não é uma doença letal, você deve saber." Ela disse de volta.

"Eu sei, mas eles são crianças! Eles não podem amar um ao outro!"

"Ah, Severus!" Laurel riu suavemente e segurou o rosto dele em ambas as suas mãos. Por um momento ele fechou os olhos e mergulhou no calor abundante dela.

"Amor não é uma questão de idade." Laurel disse determinada. "E eles não são crianças. Eles têm dezesseis, quase adultos."

"Sim, claro." Snape disse secamente e apertou o cobertor contra os joelhos. "O Sr. Harrington passou apenas, na última semana, duas horas em detenção por assustar a gata Norris com um rato enfeitiçado. Uma atitude realmente adulta, não?"

Laurel riu. "Provavelmente não. Mas foi uma boa idéia."

"E a Srta. Brown..." ele balançou a cabeça. "Eu não quero pensar nela como alguém totalmente responsável pelo o que eles fazem. Porque aí..."

"Poderia ter sido nós."

"Nós?"

"Poderia ter sido nós, sentado ali nas arquibancas." Laurel balançou a cabeça na direção do casal na arquibancada da Corvinal. "Se nós tivéssemos vindo juntos para a escola. E se nós tivéssemos nos apaixonado, quero dizer."

Ele a encarou, a face dele impossível de se ler, os olhos cheios de uma estranha mistura de desejo e descrença.

"Você acha que nós teríamos nos apaixonado?" Laurel perguntou sem quebrar o contato com os olhos dele.

"Eu não sei." ele respondeu vagarosamente. "Eu fico me perguntando a mesma questão. E..."

"E?"

"E se seu amor poderia ter mudado tudo."

O coração de Laurel doeu quando ela escutou a voz dele tremer. Um momento como esse era raro, e parecia ficar cada vez mais raro. Quanto mais Voldemort chamava seus Comensais, mais afastado e recluso Snape se tornava. As últimas duas vezes ele até mesmo a tinha mandando embora quando voltou, exausto e sangrando. Ela pediu a ele que fosse ver Madame Pomfrey, mas sem sucesso. Aparentemente, a Marca Negra desabilitava qualquer magia de cura. Por dias, Snape andava pelo castelo em algo que os alunos interpretaram como um particular estado de mal-humor. Mas Laurel suspeitava que era pura resistência pela força da mente.

"Nós nunca vamos saber."

Uma artilheira ruiva voou apenas centímetros acima das cabeças deles e Laurel pôde ver Ginny Weasley acenar, se desculpando. A mágica do momento havia sido quebrada.

Snape encarou Gina e levantou ambas as mãos abertas.

"Dez pontos." Ele disse.

"Desculpe, professor." A garota gritou quando escapou para os aros do outro lado do campo.

"Vamos lá, Severus, é Natal." Laurel pegou as mãos dele. "Mostre alguma compaixão!" Ela não largou as mãos dele e tomou coragem para perguntar a questão que a estava incomodando a manhã toda.

"Por que Black foi mandando para Azkaban?"

Ele ficou mais tenso, o olhar dele se tornou reservado de repente.

"Por que você pergunta?"

"Ele está tão cheio de raiva e ódio. Na sala dos professores, Remo disse algo sobre Black ter sido julgado erroneamente por estar no lugar errado na hora errada."

Snape balançou a cabeça positivamente. "Ele foi levado pelos Aurores, em um beco onde uma dúzia de trouxas explodiu. Todos pensaram que foi ele, e já que ele não dizia nada e o Ministro precisava de um bode-expiatório, ele foi mandado para Azkaban sem julgamento."

"Então ele era inocente? Ele não assassinou ninguém?"

"Não que eu saiba. Foi um amigo dele, Peter Pettygrew que traiu os Potter e matou aqueles inocentes na rua."

"Ele tentou te matar quando vocês eram garotos."

"Verdade. Mas quem sou eu para culpá-lo? Afinal, ele nunca conseguiu. Enquanto eu..." Ele limpou a garganta. "Enquanto eu matei."

Laurel mordeu os lábios. Claro que ela nunca havia se iludido sobre o tempo dele como Comensal. As poucas coisas que Dumbledore havia falado para ela sobre o exército de Voldemort haviam dado uma visão suficiente sobre as coisas que eles faziam pelo reino do Lord das Trevas.

A voz de Snape não vacilou.

"Eu não cortei suas gargantas ou arranquei seus corações, mas eu ainda sou responsável pelas suas mortes. Eu era o Cão de Caça e Caçador de Voldemort. Eu ainda sou, e se não fosse pela sua atual fraqueza, a lista de vítimas cresceria com cada chamado. Eu procuro seus inimigos sempre que eles tentam se esconder. Outros cuidam da morte, mas eu sou responsável."

Snape cerrou os punhos e olhou para a distância, além do campo de quadribol. Os jogadores haviam terminado a partida e saído.

"Esse é quem eu sou, Laurel." ele disse secamente. "Um assassino. Eu gostaria de poder mudar meu passado, acredite. Todo minuto eu desejo que eu pudesse mudar algo."

"Severus." A voz dela era como uma carícia. "Eu amo."

Ele cobriu a boca dela com sua mão e sorriu tristemente.

"Não diga isso."

Ele a puxou para si e aninhou a cabeça dela no seu ombro, enterrando o próprio rosto nos cabelos dela. E assim eles ficaram até que o sol se pôs e a noite cobriu os campos.


Quando Laurel passou pelo hall de entrada na manhã seguinte, no seu caminho para o café da manhã, encontrou uma pequena multidão reunida na porta. Snape e Dumbledore pareciam estar discutindo fervorosamente, Serene abraçava um homem vestido numa capa de viagem, e Remo Lupin estava parado a alguns metros de distância, observando a mulher com uma expressão ilegível, e de vez em quando interferindo na discussão de Snape e Dumbledore.

Quando Laurel se aproximou, o homem se afastou de Serene e ela pôde reconhecer Ben Olsen, que aparentemente havia acabado de chegar.

"Ben." Ela disse amigavelmente.

Ela não o via desde que o Ministério a mandou para a França, mais de 18 meses atrás. Ele parecia exausto e cansado. E um dos seus olhos pálidos tremeu nervosamente quando ele sorriu para ela.

"Laurel, que bom tê-la de volta."

Ele deu a ela um breve abraço e sussurrou na orelha dela.

"Me faça um favor e tente acalmar Serene, por favor? Eu estou muito cansado da viagem." Dito isso, ele pegou suas malas e desapareceu escada acima.

Laurel se virou para Serene e a encontrou tremendo e quase chorando.

"Serene, qual o problema? Você não se sente bem?"

A jovem bruxa continuou parada, punhos cerrados, observando Snape e Dumbledore.

Laurel viu Snape cerrar os dentes e imaginou o que teria deixado-o tão bravo.

"Eu não vou aceitar isso!" A voz dele era perigosamente suave. "É muito arriscado."

Dumbledore sorriu tristemente. "Meu jovem garoto, eu sou o último a negar que as relações entre Hogwarts e o Ministério estão pior do que nunca."

"Voldemort já está infiltrado no Ministério faz meses. Há Dementadores guardando as portas agora, e eles estão respondendo diretamente a ele."

"Eu sei disso, Severus. Graças a você, eu sei de tudo isso."

"Então por que ser tolo e ir direto para a cova dos leões?"

O bruxo mais velho afagou a própria barba. "Por que algumas das minhas mais queridas ovelhas estão lá?"

Ele se virou em direção a grande porta de carvalho.

"Droga, Albus! Isso é suicídio!"

A mão de Snape agarrou a manga do Diretor e o segurou. Dumbledore tropeçou com o impacto e quase caiu. Snape pegou os ombros dele e o segurou.

Laurel viu Serene tremer em no instante seguinte, passar chorando por Remo em direção às escadas. Lupin balançou a cabeça quando Laurel começou a ir atrás dela.

"Eu cuido disso. Você é necessária aqui."

Dumbledore apenas ficou parado lá, frágil e velho, mas tão poderoso em sua mera presença que quase assustou Laurel.

Snape largou o diretor e imediatamente deu um passo para trás, a face branca e chocada.

"Eu sinto muito... Eu não sei o que deu em mim."

Dumbledore suspirou.

"Severus?"

Snape olhava para os próprios sapatos como um estudante sem jeito.

"Severus?" Dumbledore perguntou novamente, mais urgentemente dessa vez. "Você tem certeza de que consegue continuar?"

O mestre de poções olhou para cima, seus olhos negros e vazios.

"Eu quase te bati."

"Mas não bateu. Eu não sou tão frágil quanto pareço."

Ele continuou estudando o rosto de Snape atentamente.

"Isso está te devorando, não? Eu sei que é difícil, mas eu tenho que pedir para que você continue por mais algumas semanas. Você acha que consegue?"

Snape apenas balançou a cabeça positivamente.

Dumbledore se virou para Laurel.

"Eu preciso ir para Londres, minha jovem, e eu não devo retornar até depois de amanhã."

"Ou nunca..." murmurou Snape rebeldemente.

"Então se tiver algum chamado, você conseguirá ficar sozinha?"

Até aquele momento, Laurel tinha passado o tempo esperando na sala do Diretor enquanto Snape estava fora. Ela realmente gostava daquele tempo com o sábio e gentil bruxo, já que ele contava a ela sobre a história de Hogwarts e sobre a própria vida excitante dele. Mas ela sabia que já conseguiria manter os pensamentos preocupados em relação a Severus o tempo suficiente para não colocá-lo em perigo.

"Não se preocupe. Vou ficar bem." Ela sorriu.

"Eu também."

Ele deu a Snape um aceno polido e saiu, pela porta, como um simples Trouxa.


Com Dumbledore fora, Snape aparatou diretamente no seu quarto após o encontro com Voldemort naquela noite. Aquela tinha sido a pior de todas as vezes. Não só por causa do número de Comensais no local, nem só por causa do poder crescente de Voldemort. A pior, porque ele conseguia sentir o veneno negro do Lord das Trevas queimando através das defesas dele, direto para o seu próprio coração.

Ele tremeu.

Ele estava frio e desnorteado.

Laurel estava dormindo na poltrona acolchoada em frente ao fogo. Ele se aproximou e a observou silenciosamente por um momento.

Ela não era realmente linda, pelo menos não comparada a Serene Kennedy. Mas não tinha sido sua aparência que o havia atraído de início, ele se lembrou. Ela era calorosa, ela era amigável e cheia de compaixão. Ela mantinha a pose quando ele estava com seu humor vil, o que era quase o tempo todo ultimamente.

E os seus corpos eram feitos um para o outro. Eles eram perfeitos juntos na cama. Luxúria formou uma bola quente em seu estômago.

Laurel se espreguiçou levemente e esfregou os olhos.

"Você está de volta." ela bocejou e se levantou para abraçá-lo.

Mas quando ela o viu a encarando com um estranho brilho nos olhos, ela parou.

"O quê?"

"Eu quero você." Ele disse, a voz rouca como sempre quando ele voltava. "Agora."

Laurel protestou fracamente quando ele a puxou para perto de si e desejosamente começou a morder o lábio inferior da boca dela.

"Você não está falando sério! Você tem que descansar, comer, fazer um curativo nesse corte no seu rosto."

Snape não escutou. Ele ouvia as batidas do próprio coração explodindo em seus ouvidos, batendo em um ritmo furioso. Ele estava dolorosamente pronto, o monstro dentro de si louco para atacar. Com um movimento brusco, ele abriu o robe dela. Botões voaram em todas as direções.

Laurel teria rido se não estivesse sentindo a necessidade vibrante vinda dele. Mas quando ele agarrou os ombros dela e a empurrou para trás, o riso morreu e foi substituído por medo. As costas dela rasparam contra a parede e antes que ela pudesse gemer de dor, ele puxou sua saia para cima e tomou posse de seu corpo.

Ela não estava preparada para isso. "Isso não é real." Foi tudo o que ela conseguiu pensar enquanto ele mordia seus lábios. Ele era bruto, sem cuidados. E ela sentia as pedras duras machucando seu corpo cada vez que ele a prensava contra a parede. Ela não podia ver o rosto dele, mas não tinha certeza de que iria reconhecê-lo, se pudesse. Esse não era o homem que ela conhecia, que ela amava. Esse era o Comensal.

"Severus." choque e medo tremeram sua voz. "Você está me machucando."

Ele murmurou alguma coisa, palavras roucas que ela não entendeu. E quanto mais ela resistia, mais machucava. Então ela parou de lutar, agarrando os ombros dele e fechando os olhos para o que estava acontecendo a eles.

Snape não conseguia parar. Mesmo que parte dele parecesse afastado, olhando de longe, sentindo nojo dele mesmo pelo o que ele estava fazendo, ele simplesmente não conseguia parar. O desejo era como ácido corroendo-o por dentro. Havia uma voz sombria em algum lugar em sua mente, má, voraz. Com mais força, ela mandava. Mais rápido. Mais. Ela o guiava, o incitava, até que com um último movimento ele fez a voz se calar.

Laurel o empurrou, cega de lágrimas. Furiosamente ela levantou um dos joelhos para acertá-lo, mas parou no último momento.

Ele tremia como um homem com uma febre altíssima. E quando ela viu a face dele, não tinha mais certeza se queria socá-lo ou acalentá-lo. Branco como papel, ele parecia tão devastado que ela ficou assustada.

Snape ainda sentia como se estivesse afastado e pudesse ver a si mesmo, ofegante, ainda aprisionando Laurel com os braços contra a parede. Com o desejo violentamente saciado, sua mente começou a clarear. Monstro e homem se fundiram em um, novamente. Remorso caiu sobre ele como um balde de água fria. O nojo do que ele havia acabado de fazer o fez engasgar. Ele se desfez da tontura e retirou os braços da parede.

Instintivamente ela segurou o ombro dele.

"Não, Laurel."

Ele afastou a mão dela e deu passos para trás, até que estivesse fora do alcance dela. Vê-la chorando, chorando por causa dele, por causa do que ele tinha feito, era pior do que tudo. Ele sempre soube o que ele era. Eles haviam dito a ele várias vezes. Um animal. Menos do que isso. Ele havia se enganado por um tempo. Mas essa noite ele tinha feito algo imperdoável. Ele havia agido como seu pai.

Quando ela tentou se aproximar novamente, ele levantou uma das mãos para pará-la.

"Vá. Vá embora, Laurel. Se salve."

Sem ter consciência das lágrimas que rolavam pelo seu rosto, ela balançou a cabeça teimosamente.

"Não. Eu quero... uma explicação pelo o que... aconteceu."

"Saia, Laurel. Eu não posso garantir."

"Não."

Ela cerrou os punhos e continuou parada lá, ainda acreditando que havia algo bom, algo nobre nele. Mas ele sabia melhor agora.

"Então eu vou."

Ainda em choque Laurel viu ele pegar sua capa e sair da sala sem nenhum outro olhar na sua direção.


Havia uma vela nova na sua mesa de cabeceira, e Laurel fez uma nota mental para agradecer os elfos-domésticos no dia seguinte quando ela a acendeu com sua varinha. Cansada, ela se desfez das roupas e escovou os dentes. Entrou engatinhando na cama e puxou o cobertor acima da sua cabeça, um hábito confortante dos seus dias de infância. E somente então, protegida do mundo por esse muro, ela desabou. Deixando as lágrimas correrem livremente pelo seu rosto, ela se encolheu e se abraçou, tremendo.

Quando ela não tinha mais lágrimas, ela simplesmente empurrou o cobertor para longe. A vela tinha queimado inteiramente e um odor fraco e indefinido enchia o ar.

Meio sem jeito ela desceu da cama e tremeu ao ver o rosto vermelho e inchado no espelho. Virando-se para ver as próprias costas no espelho, ela gemeu. Ele não havia machucado ela intencionalmente, mas não havia tomado cuidado também. Ela não havia existido para ele. Ela havia sido apenas um corpo sem rosto. Ela se lembrava vividamente do próprio medo. Mas o que a machucava mais era o fato dele não conversar com ela sobre isso.

"Imbecil." Ela disse para o espelho, e o vidro respondeu com um gemido chocado.

Ela assoou o nariz e respirou fundo. Não iria adiantar nada ficar se remoendo por causa do comportamento de Severus a noite toda. O corpo inteiro dela doía. Com certeza ela estaria com hematomas pretos e azuis no dia seguinte, e ela precisava dormir. Ela o amava. Tinha o amado por muito tempo para se assustar facilmente. Porque era isso que ele estava tentando fazer. Assustá-la e afastá-la.

O espelho tremeu e saiu de foco. A pia parecia estar chegando mais perto. E Laurel desmaiou.

A primeira coisa que ela sentiu quando acordou foi o machucado ao lado de sua cabeça, onde ela havia acertado a pia.

Ela não conseguia se mover. Era como se seu corpo estivesse paralisado, ou suas pernas e braços amarrados. De onde ela estava deitada, ela podia ver uma lareira vazia, uma ampulheta e duas cadeiras. Mas nada parecia familiar. Aquilo não era na ala hospitalar. Ela nunca havia estado nessa sala antes. Seja quem fosse que a tivesse raptado, a havia colocado numa cama, imóvel.

'Feitiço do Corpo Preso' ela pensou. Qualquer aluno do primeiro ano poderia ter feito isso. Será que era só uma peça?

Mas quando mais uma hora se passou na ampulheta, ela teve que admitir que isso era sério. Ela não tinha idéia de quanto tempo tinha permanecido inconsciente, mas ninguém iria sentir falta dela durante a refeição? Severus não iria procurá-la se ela não aparecer no salão principal? Mas ele também pode pensar que ela está apenas evitando ele.

Ela chorou por ajuda até que sua garganta estivesse doendo e os olhos lacrimejando.

Com crescente medo ela se lembrou da noite em que alguém tentou envenená-la. Será que era a mesma pessoa, tentando a sorte novamente? Ela se lembrou da acusação azeda de Sirius Black na cabana de vassouras.

A porta se abriu, e Laurel abriu a boca em choque.