14. Veritaserum

"Serene?"

Laurel não acreditava nos próprios olhos.

"Serene! Que bom que você me encontrou!"

A jovem apenas estava parada na porta, pálida como a morte, mexendo nos dedos das mãos como uma criança assustada. Através da porta aberta, Laurel pôde observar uma pintura familiar. Aparentemente aquele era o quarto que elas compartilhavam quando alunas, dois anos atrás. A luz do quarto fazia com que os cabelos de Serene brilhassem como fogo.

"Como você me encontrou?" Laurel perguntou, a voz rouca depois de horas de choro. "Eu não consigo me mover. É o Feitiço do Corpo Preso. Você consegue desfazer, não consegue?"

Serene balançou a cabeça e se aproximou, fechando a porta cuidadosamente.

"Eu sei como desfazer o feitiço. Mas eu não vou."

Laurel franziu em confusão. "O que..."

Serene se sentou no canto da cama e começou a roer as próprias unhas.

"Você fez isso? Você?"

"Sim."

"Você me deixou inconsciente, me amarrou e me trouxe para esse quarto?"

"Foi a vela, Laurel. Eu sabia que você era forte demais para mim, fisicamente, então pedi para Ben me trazer a vela da Travessa do Tranco. Eu estava com tanto medo de que ele não fosse chegar a tempo. Ele estava atrasado e eu estava ficando desesperada."

Laurel encarava Serene com a boca aberta.

"Mas por quê? O que eu te fiz?" ela lutava para entender. E enquanto falava, sua mente corria a mil. Alguém iria escutar se ela gritasse quando Serene abrisse a porta novamente? Mas até lá ela já poderia estar morta.

"Não é sua culpa." Serene sussurrou e os olhos dela se encheram de lágrimas. Ela continuava mexendo na própria unha, e Laurel percebeu que ela já havia roído quase todas as unhas até a carne, em desespero. "Eu sinto muito, Laurel, eu realmente sinto. Eu só não sei mais o que fazer."

Laurel tentava lembrar a si mesma de respirar devagar. O que é que dizem sobre psicóticos? Mantenha-os falando. Tente mostrar que você é outro ser humano, não apenas uma coisa.

"Serene, eu estou congelando. E estou com medo" ela disse fracamente. "Por que você não me desamarra e nós conversamos sobre isso? Seja lá o que esteja acontecendo, eu posso te ajudar."

Serene balançou a cabeça negativamente.

"Eu sinto muito, Laurel."

'Ela vai te matar,' disse uma pequena voz no fundo da mente de Laurel. 'Você nunca vai saber por quê. E você nunca mais vai ver Severus.'

Como se pudesse ler a sua mente, Serene olhou para ela e assoou o nariz. "Eu não vou te machucar. Acredite em mim. Eu nunca quis te machucar. Mas você não me deixou escolhas."

"Eu não te deixei... Calma!" Laurel tentou se sentar. "O que você quer dizer com nunca quis me machucar? Foi você que me envenenou então? Que colocou fogo na minha sala na Biblioteca Nacional?"

Como se tivesse levado um soco, Serene pulou da cama e se afastou de Laurel. "Eu não tive escolha." ela repetiu.

"Me deixe ir." Laurel pediu. "Eu não vou falar para ninguém."

"Por que você não pode ficar afastada?" Os olhos de Serene se encheram de lágrimas novamente. "Quando você foi para Beauxbatons eu pensei." Ela respirou fundo. "Eu descobri essa câmara numa das noites que você achou que eu estivesse dormindo e saiu escondida do quarto."

Laurel olhou para ela, se sentindo cada vez mais assustada. "Você descobriu essa câmara?"

"Aparentemente ela só aparece por 15 minutos toda noite. Então ela some novamente." Quando ela viu os olhos de Laurel se abrirem em choque, Serene balançou a cabeça assegurando-a. "Nada vai acontecer com você. Eu tentei com uma coruja, e a ave estava viva no dia seguinte. A câmara some, mas não encolhe ou nada do gênero."

"O esconderijo perfeito." Laurel murmurou.

"Eu vou te trazer comida e bebida toda noite. Vou até te desamarrar quando sair. Mas você precisa ficar aqui."

Ela pegou a varinha e desfez o feitiço. "Fique quieta!" ela advertiu.

"Mas você não pode me manter aqui para sempre." Laurel implorou.

"Se for preciso, eu vou."

Serene saiu. Laurel pulou da cama e correu em direção a porta. Ela puxou a maçaneta, mas a porta não abria. Desesperada ela procurou na sala por algo que pudesse quebrar a porta e abri-la. Sua varinha tinha sumido. Serene não era estúpida e havia pegado o objeto enquanto Laurel estava inconsciente.

Eventualmente ela pegou o abrasador de bronze da lareira e começou a usá-lo como um pé-de-cabra na porta. A madeira velha rangeu e se partiu. Com as tábuas seguras apenas por alguns fiapos de madeira, a porta se quebrou. Laurel ficou para lá, respirando com dificuldade, olhando para a parede. Porque era isso que ela encarava no momento: Uma parede sólida. A câmara já havia desaparecido, e seja lá onde ela estivesse agora, não havia porta. Ela precisaria esperar até a próxima vez que ela parasse no quarto dos estudantes.

Quarenta e oito horas depois Laurel estava deitada no chão, tonta e exausta. Sua garganta estava dolorida e parecia arenosa. Serene havia deixado apenas uma pequena jarra de água, o suficiente para um dia. Mas ela não havia voltado como prometido. A porta do quarto havia aparecido normalmente, e Laurel tentou abri-la novamente com o abrasador, mas a porta estava mais resistente do que anteriormente. Ela se lembrou das palavras de Snape, que o poder estava em sua cabeça, não na varinha, e eventualmente conseguiu criar uma bola de fogo. Mas isso só tinha servido para queimar levemente a madeira e fazer com o que o ar da câmara ficasse insuportável. Após quinze minutos, a porta desapareceu novamente, e desde então só ficara a parede lisa. Serene não apareceu. Aparentemente Laurel tinha sido deixada para morrer lá.

'Que ridículo', ela pensou, sentado-se cansada e apoiando a cabeça na cama. Que ridículo, morrer desidratada quando ela havia sobrevivido um incêndio, um Unicórnio louco de angústia, um veneno letal e o vôo sobre o Canal da Mancha em uma vassoura desregulada. Morrer assim, sem uma chance de ver Severus novamente. De perguntar a ele...

Quando ela viu a parede se transformando em madeira e a porta para o quarto reaparecendo, Laurel não se atreveu a ter esperança de um resgate. Tudo o que ela queria agora era algo para beber.

A porta se abriu, e Serene entrou, balanceando uma travessa em uma das mãos enquanto trancava a porta cuidadosamente.

Laurel permaneceu onde estava e só encarou a outra mulher.

"Você está atrasada." Ela disse irritada.

Serene respondeu com um soluço, e Laurel viu que os olhos dela estavam vermelhos de tanto chorar. "Eu sinto muito, Laurel. Eu realmente tentei vir, mas..."

Com uma luz branca a porta desapareceu. Serene gritou e derrubou a travessa. A jarra de água se estraçalhou no chão de pedra. E então tudo aconteceu muito rápido.

Laurel reconheceu Snape, capa preta ondulando atrás de si, varinha erguida como uma espada. Os olhos dele lançavam fogos negros. Ela nunca havia o visto daquela maneira – uma fúria fria.

Ele gritou um feitiço e o corpo de Serene bateu contra a parede, desceu, subiu e bateu novamente. A mulher gritou de dor.

Outro bruxo empurrou Snape para o lado e colocou o próprio corpo como um escudo sobre Serene.

Snape respirou fundo. Um ódio mortal queimando em seus olhos.

"Saia daí, Remo!" ele rosnou.

Lupin apenas balançou a cabeça desafiador e abraçou Serene mais forte.

"Ela tentou matar Laurel!"

Um impacto violento acertou Lupin e a mulher em seus braços, mas ele não a largou.

"Já chega, Snape!"

Sirius Black tentou abaixar o braço de Snape. O mestre de poções arregaçou os dentes e o outro bruxo deu um passo para trás, involuntariamente.

"Laurel!" A voz de Lupin era contida. Uma pequena linha de sangue escorria da sua testa. "Diga para ele parar..."

Outro golpe a levantou do chão novamente. Serene já estava inconsciente.

Sirius levantou Laurel do chão, violentamente, e a empurrou em direção a Snape. "Maldição, mulher. Ele vai matá-los. Faça-o parar!"

Laurel engoliu com dificuldade. Sua garganta estava tão seca que ela mal conseguia falar.

"Severus." Ela murmurou

Ele não podia escutá-la.

"Não os machuque."

Ela esticou o braço e cobriu a mão dele com a própria. Uma onda de pura energia a acertou. O choque fez ela perder o equilíbrio e ela teve que agarrar o ombro dele para se agüentar. Ele a encarou, olhos escancarados, o mesmo estranho que a havia assustado tanto três dias atrás. Mas ainda assim, atrás de toda a fúria fria ela reconheceu desespero. Ela não conseguia quebrar o contato com os olhos dele, ou deixar de cair na escuridão do olhar dele. 'Isso é ridículo', ela pensou quando o quarto começou a girar. 'Eu não vou desmaiar de novo!'. Mas ela desmaiou.

Black agarrou os ombros de Snape e o chacoalhou com força. "Largue a varinha e leve Laurel para a enfermaria" Ele sugeriu calmamente.

Snape empurrou a mão dele. "E ela?" Ele indicou Serene, que estava caída no chão, a cabeça apoiada no peito de Lupin.

"Eu levarei os dois para Madame Pomfrey também. Você poderá ter certeza de que ela não vai fugir."

Assim que Black foi ajudar Lupin a se levantar, Snape caiu de joelhos ao lado de Laurel. Perdido por palavras, ele tocou a face dela com uma ternura que parecia querer engasgá-lo de repente. Cuidadosamente, pegando-a no seu colo, ele a carregou para fora da sala e em direção das escadas, para a ala hospitalar, inconsciente dos fantasmas que paravam mortos no Hall, olhando abobados para o mestre de poções passando por eles com a mulher inconsciente em seus braços.

Black teve a cabeça no lugar para mandar Lupin com Serene através do sistema de Flu. Assim, Lupin já estava com a cabeça enfaixada quando Snape chegou nos recintos da Madame Pomfrey. Por uma das portas ele pôde ver Serene, pálida como a morte, deitada em um dos quartos privados, semi-escondida por cortinas. Ele não se importava se a bruxa estava morta ou viva. A raiva mortal que o acometera logo ao descobrir que Laurel tinha sido seqüestrada havia desaparecido no segundo que Laurel desmaiou aos seus pés.

Ele a colocou em uma das camas e começou a ajudar Madame Pomfrey a despir a paciente. A enfermeira olhou para ele um tanto irritada quanto ele retirou a camiseta de Laurel sem hesitação. Mas quando ela viu os hematomas pretos nas costas de Laurel, toda a prudência foi esquecida. Murmurando preocupada, ela saiu para pegar algum medicamento enquanto Snape continuou parado lá, petrificado. Ninguém prestava nenhuma atenção a ele. Sirius estava ocupado vigiando Serene e cuidando do braço machucado de Lupin, enquanto Madame Pomfrey amassava algumas ervas doces em um pilão para adicionar ao medicamento.

Ele olhou os machucados. Ele sabia perfeitamente bem que não tinha sido Serene que havia causado eles. Aquelas eram contusões antigas, restos da noite de quando ele voltou do encontro com Voldemort.

"Desculpe-me, Laurel." Ele sussurrou inaudível. Ele precisava deixá-la. Fazer com que ela fosse embora, se fosse preciso. Ele não trazia nada a ela a não ser dor. E com o veneno de Voldemort destruindo o que restava da sua alma, ele iria eventualmente levá-la a morte.

"Professor Snape?" Madame Pomfrey puxou levemente a manga dele. Ele olhou pra cima de supetão.

"Eu pensei..." ela corou levemente. "já que você parece conhecer a Srta. Hunter com tanta intimidade, você poderia me ajudar a tratar os ferimentos dela?"

Ela apontou para a tigela com o medicamento.

"Eu. Sim. Deixe-me ajudá-la." Ele concordou calmamente. Escrupulosamente ele aplicou o ungüento na pele machucada enquanto Poppy examinava a cabeça atrás de algum ferimento.

"Ela está apenas desidratada." A enfermeira diagnosticou. "Se nós a fizermos beber algo, ela já estará como nova amanhã."

Snape cobriu o corpo de Laurel com um lençol. "Você poderia tomar conta dela enquanto eu vou tentar entrar em contato com o Diretor Dumbledore em Londres?"

Antes que Poppy pudesse abrir a boca uma voz suave vindo da porta respondeu. "Não precisa deixá-la, Severus. Eu já estou aqui."

O velho bruxo se aproximou da cama e colocou sua mão na testa de Laurel. "Acorde, criança." Ele disse calmamente.

Ela se mexeu levemente e abriu os olhos. Quando sua visão ficou mais clara ela reconheceu o Diretor, Madame Pomfrey e, do outro lado da cama, Snape. Sem pensar ela pegou uma das mãos dele. "Eu sabia que você viria. Por que você demorou tanto?" ela disse rouca.

Indefeso, Snape a deixou descansar o rosto na palma de sua mão. "Uma última vez." Ele prometeu a si mesmo em silêncio.

"Você precisa beber isso," Madame Pomfrey mandou e segurou um grande copo de suco de abóbora nos lábios de Laurel. "E outro a cada vinte minutos."

Satisfeita, Laurel afastou o copo de si mesma. Quando ela se sentou, seus olhos se abriram em súbita lembrança. "Serene? Onde ela está?"

"Ela está ali atrás, no quarto privado." Sirius Black se recostou contra uma escrivaninha e ficou observando a cena com olhos encobertos.

"Você pode nos dizer o que aconteceu, Laurel?" Dumbledore indagou.

"Ela. Ela tinha uma vela drogada. Tudo o que eu me lembro foi que eu caí e acordei naquela câmara estranha. Então Serene entrou e me contou que não tinha escolha a não ser me deixar presa." Laurel tremeu. "Ela continuava repetindo essas palavras. 'Eu não tive escolha.' Ela parecia bem desesperada."

"Desesperada!" Sirius murmurou irritado. "Mais para louca."

"Mas ela nunca me disse o porquê."

Dumbledore olhou para Snape. Seus olhos azuis analisavam o rosto do mestre de poções. "Como você as encontrou, Severus?"

Snape deu um sorriso amargo. "Aliados. Você mesmo disse, Albus. Em tempos de perigos, nós precisamos trabalhar juntos."

"Você pediu a... ele?" Laurel apontou para Black, incrédula.

Snape deu de ombros com indiferença. "Quando você não apareceu para o café da manhã..." a voz dele falhou por um momento e Laurel percebeu que ele havia interpretado a ausência dela devido ao que tinha acontecido entre eles. "Eu não consegui te encontrar. Lembrei que eles – Potter, Lupin e Black – tinham um mapa tempos atrás."

"O mapa do maroto." Dumbledore sorriu. "Bem pensado, Severus."

Black franziu a sobrancelha. "Você sabia do mapa todo esse tempo?"

"Não faz diferença, faz, Sirius?"

"Bem, tira toda a graça do negócio." Ele murmurou. 

"Eu perguntei a Lupin sobre o mapa, e ele foi até Black que, se eu entendi corretamente, foi pegar o mapa com o Sr. Potter." Snape mostrou os dentes. "Não vou perguntar para que um garoto de quinze anos precisa de um mapa com todas as passagens secretas e salas de Hogwarts. Pelo menos não hoje."

"De qualquer maneira, no mapa nós vimos o ponto representando Laurel. Mas ela passeava pelo castelo de maneira aleatória. Através de paredes, verticalmente através do chão. Primeiramente achamos que o mapa estivesse defeituoso. Afinal, já está um pouco velho." Sirius explicou. "Mas então Lupin se lembrou da Câmara que desaparece."

"Tudo o que a gente precisava fazer era descobrir quando a câmara aparecia de novo conectada a algum quarto fixo." Snape começou a andar de um lado para o outro do quarto para se manter longe de Laurel. "E então nós vimos a Srta. Kennedy entrando no quarto carregando uma bandeja de comida."

"Nós precisamos dar à Srta. Hunter um minuto de privacidade," Madame Pomfrey ordenou e, resoluta, fechou as cortinas ao redor da cama. Ela trouxe para Laurel um robe e um par de chinelos e outro copo de suco. Então ela checou a testa de Laurel. "Não se esqueça de beber. Fora isso, descanso é a única coisa que você precisa."

Quando ela abriu a cortina novamente, Laurel viu Dumbledore e Black parados ao lado da cama na pequena sala. Serene estava deitada lá, presa por cordas prateadas. Lupin estava sentado ao lado dela, o rosto dele manchado com o sangue seco no local onde ele havia batido. Seu robe batido estava rasgado no ombro do braço direito. Quando Laurel se aproximou da cama, ele sorriu tristemente para ela.

"Como você está, Laurel?"

Ela deu de ombros. "Eu estou bem. Eu só desmaiei de desidratação."

Ele se virou para Black. "Pegue uma cadeira para Laurel, sim Sirius?"

Com um sorriso cínico Black se curvou e ofereceu um lugar para sentar para Laurel. Ela estava cansada demais para se sentir irritada.

Dumbledore colocou a mão gentilmente no seu ombro. "Severus foi pegar um pouco de Veritaserum."

"Veritaserum?"

"Nós precisamos descobrir por que a Srta. Kennedy achava que tinha que te abduzir."

Snape saiu da lareira, limpando o robe, seus olhos procurando desesperadamente pelo quarto quando notou que a cama de Laurel estava vazia. Com um certo esforço ele forçou a máscara inexpressiva de volta no seu rosto e passou ao diretor o frasco que Laurel havia visto uma vez no laboratório de poções.

"Isso é realmente necessário?" Lupin perguntou com uma voz contida. Serene estava acordada, mas não parava de encarar o teto. "Essa coisa tem sérios efeitos colaterais."

"Ela vai vomitar e ficar com uma dor de cabeça por um tempo. E daí?" Snape fumegou.

Dumbledore tossiu para chamar a atenção. "Vamos tentar terminar isso o mais rápido possível. Você sabe, Remo, que isso é pelo bem dela."

Lupin pegou a mão de Serene na dele quando Dumbledore pegou o queixo dela e abriu sua boca, gentilmente mas com firmeza. Ele contou três gotas na língua da bruxa. Então, olhando para Sirius e Snaoe, ele balançou a cabeça. "Vocês serão testemunhas dessa audiência."

"Um Comensal da Morte, um lobisomem e um fugitivo de Azkaban." gozou Sirius. "Nenhum júri no mundo iria condená-la baseado no nosso testemunho."

"Espero que a gente não precise de um júri." Dumbledore olho direto nos olhos de Serene. "Me diga seu nome, criança."

"Meu nome é Sarah Kennedy," Serene afirmou, indiferente.

"Seu nome não é Serene?"

"'Serene é o nome que eu mesma escolhi para mim quando descobri meu talento. Mas Sarah é meu nome de nascença."

"Você colocou uma vela envenenada no quarto de Laurel Hunter?"

"Sim"

"Onde você conseguiu uma?"

"Eu pedi a Ben Olsen que me comprasse uma na Travessa do Tranco no caminho de volta da Suíça."

"Nos diga o que aconteceu depois que Laurel desmaiou."

"Eu a levitei para fora do quarto dela e a levei para a câmara que desaparece. Eu lancei um Feitiço do Corpo Preso nela e a deixei lá."

Snape olhou com raiva. "Você a deixou lá? Presa e inconsciente?"

Serene respondeu calmamente como se falasse sobre o tempo. "A câmara só se conecta com o quarto por quinze minutos, todo dia. Eu não podia esperar ou teria sido pega com ela."

Laurel se aproximou e procurou o olhar da outra mulher. "Mas por que, Serene? O que a fez pensar que você precisava me prender?"

"Porque você não ia embora. Eu tentei de tudo. Foi minha culpa que você veio para Hogwarts em primeiro lugar."

"Eu pensei que o Ministro havia me mandado para cá?" Laurel perguntou para Dumbledore e o diretor consentiu. 

"Nós fomos informados que eles tiveram um... incidente estranho e então Minerva foi para Londres para estar presente no seu exame."

"Eu coloquei fogo na sala de leitura na Biblioteca Nacional." Serene disse calmamente.

Lupin tremeu.

"Eu conhecia seu rosto tão bem, mas quando eu a vi lá, eu reagi instintivamente. Eu fiz questão de ter certeza de que a sala estava vazia, antes de colocar fogo. Eu até tranquei a porta."

"Ela fala a verdade." Dumbledore confirmou.

"Como você podia conhecer meu rosto, Serene? Nós nunca nos encontramos antes de virmos para Hogwarts, no trem." Laurel interferiu.

"Eu vi você." os olhos de Serene brilharam. "Desde que eu era uma criança, eu vejo você. Parada lá, levantando suas mãos, incitando ele," ela fez um movimento em direção ao Snape. "incitando ele a matar."

"Matar quem, Serene," Lupin perguntou suavemente.

"O diretor Dumbledore"

Por um momento ninguém soube o que dizer. Até Snape explodir.

"Completo absurdo!"

"Eu nunca iria..." Laurel gaguejou, "nunca..."

Dumbledore deu ao ombro de Laurel um aperto assegurador. "Nós sabemos disso, Laurel. De qualquer maneira, Srta. Kennedy diz ter visto você."

"Ela tem visões." Lupin disse. Ele levantou e começou a andar de um lado para o outro da pequena sala como um animal preso. "Eu a encontrei uma vez no solar, contorcendo-se de dor."

"Essa foi a razão da indicação dela como assistente da Professora Trelawney."

"Adivinhações!" Snape disse raivoso e encarou Serene como se fosse estrangulá-la se não fosse pelos outros na sala. "Vodu. O que devemos fazer depois? Lutar contra Voldemort enfiando alfinetes no seu bonequinho?"

"Eu concordo," Sirius disse, "apesar de estar contrário a admitir isso."

"Mas eu vi isso acontecer." Serene insistiu. "De novo, e de novo. E eu vi Voldemort voltando ao poder, e o mundo se destruindo. Sempre a mesma cena. Eu cheguei a temer esse rosto." O olhar dela caiu sobre Laurel. "E quando eu vi você naquele dia, não pude acreditar que você era real."

"Então você decidiu..."

"Parar o futuro." Lupin finalizou a sentença. "Ela tentou tirar Laurel da equação para prevenir sua visão de virar realidade."

"Por Merlin, Lupin! Você não acredita nessa besteira de eu matar Dumbledore!" O rosto de Snape estava contorcido de raiva. Laurel tentou pegar na sua mão, mas ele desvencilhou-se como se quisesse evitar qualquer contato físico com ela.

"No que a gente acredita não é importante." Lupin suspirou. "Serene, você tinha a intenção de matar Laurel?"

"Não. Eu já disse antes, eu fiz questão de ter certeza de que a sala estava vazia. Eu só queria espantá-la daqui."

"Espantá-la daqui!" A mão de Snape agarrou o encosto da cadeira de Laurel com força. "Foi apenas sorte que ela não morreu quando você a envenenou."

"Eu só queria deixá-la doente. Doente o suficiente para ela ser mandada embora. Mas eu devo ter errado em alguma coisa quando misturei a poção."'

"Agora o que isso nos diz sobre as virtudes de Snape como Mestre de Poções, se um aluno dele não consegue produzir uma simples poção?"

"Cala a boca, sim Black?"

Laurel lançou um olhar severo que o silenciou. A cabeça dela doía intensamente. Tudo o que ela queria era dormir e uma oportunidade para conversar com Severus em particular. E tudo o que ela conseguia era uma história louca sobre visões e Voldemort, e homens crescidos brigando como duas crianças.

"Quando eles te mandaram para Beauxbatons pensei que você tivesse ido para valer. Eu esperava que você tivesse se desencantado do professor Snape e..." os olhos dela se encheram de lágrimas, "encontrado outro amor."

De repente Laurel entendeu. Todo aquele tempo, quando Serene pretendia ser indiferente ao interesse de Lupin. A tola teria sacrificado a própria felicidade para manter Laurel e Snape separados. Porque assim, talvez, a visão não iria se tornar realidade.

"Você precisa mandá-la embora, Diretor." Serene pediu. "Ou então você vai ser morto. Por ele." Ela encarava Snape com os olhos estreitos.

"Bem, você vai ter tempo o suficiente para reconsiderar essa sua visão em Azkaban." Snape disse com desprezo.

"Não!" Lupin exclamou, pálido.

Dumbledore limpou a garganta. "Laurel?"

"Diretor?"

"O que você sugere que aconteça a ela? Você quer que ela seja mandada a Azkaban?"

"Ela estará morta ou louca em questão de semanas." A voz de Black era indiferente, mas os olhos dele queimavam.

"Laurel estaria morta agora se não tivéssemos encontrado o antídoto para aquele veneno." Snape trovejou.

"Mas nós encontramos, não?" Dumbledore alisou a própria barba. "E é da nossa conta provarmos que a visão da Srta. Kennedy está errada."

"Você não pode fazer isso, Albus!" Snape cerrou os dentes. "Essa bruxa é louca! Ela vai tentar matar Laurel de novo."

"Eu lembro de uma noite tempestuosa, há mais de dezesseis anos atrás, Severus." o Diretor disse suavemente. "Naquela ocasião eu dei a um jovem uma segunda chance, mesmo que ele não acreditasse ser merecedor. Uma das minhas melhores decisões não entregá-lo aos Dementadores, ainda acredito."

No final, Snape concordou rancoroso em deixar Serene continuar em Hogwarts, se Lupin comprovasse que ela ficaria longe de Laurel. Então ele se virou e saiu da enfermaria sem nenhuma outra palavra dirigida a Laurel.

Ela estava cansada demais para pensar sobre isso naquele momento, e agradecida aceitou a ajuda da Madame Pomfrey para voltar ao seu quarto. Sem nem mesmo pensar duas vezes ela deslizou para debaixo das cobertas. Amanhã ela iria lidar com Snape. Então ele não acreditava em palavras? Ela iria fazer ele falar. E assim que a cabeça dela tocou no travesseiro, ela adormeceu.