16. Uma longa despedida

Como era possível adquirir tantas coisas em poucos meses de estadia em Hogwarts? De onde vieram todos esses livros, vestes, tanta... coisa?

Uma leve batida na porta interrompeu Laurel e por um breve momento ela esperou que fosse Severus. Mas quando abriu, encontrou Neville.

"Olá, Neville." Ela sorriu. "Você quer entrar? Desculpe a bagunça."

Ele procurou um caminho pelas pilhas de livros e roupas e sentou em cima de um baú.

"Como está Bola de Pêlo?"

"Ele está crescendo rápido."

O nome que Neville tinha dado ao gato não mostrava muita imaginação, mas combinava com ele, apesar de agora estar quase com o tamanho de uma goles.

"Harry me disse que a senhora está indo embora. Então é verdade?"

"Eu temo que sim."

"Mas..." Ele corou e olhou para o chão. "Ele não pode fazer a senhora ir embora, pode?"

"Ele?"

"Professor Snape."

"Neville!" Laurel se ajoelhou na frente dele e fez com que olhasse para ela "Você entendeu tudo errado. Eu não estou indo porque Severus... Quero dizer, Professor Snape... me disse para fazer isso." 'Ah, Laurel Hunter', Ela se repreendeu, 'agora você mente para um aluno do quinto ano. E nem mesmo ele acredita no que você está dizendo...'

"Eu estou indo porque é o melhor a fazer no momento."

Neville corou mais ainda e ficou todo sem jeito. "Mione disse que você é uma trágica heroína."

"Uma o quê?" Apesar da tristeza ela teve que rir.

"Como Julieta naquela peca dos trouxas. Ou como Esmere Kells que se jogou de uma torre quando seu amante casou com outra."

Ela realmente tentou permanecer séria, mas não conseguiu. "Oh, Neville, eu não sou Julieta nem... como é o nome? Esmee. Eu não pretendo me envenenar ou cometer qualquer outro tipo de suicídio."

"Mas Hermione disse..."

"Miss Granger parece ser uma expert em amor e romance, não é?"

Ele concordou plenamente. "Ela também disse que o Professor Snape ama você mas prefere engolir as próprias poções a admitir isso. Então ele expulsou a senhora para não ter que lidar com isso."

Laurel engoliu em seco. Miss Granger obviamente sabia mais da condição humana do que muitos adultos.

"Neville" Ela disse mansamente. "O amor é uma coisa difícil de se lidar. Você pode amar uma pessoa, mas isso não faz com que ela o ame de volta."

"Eu sei disso." Ele deu um sorriso torto.

"Seria fácil se o amor desaparecesse quando não correspondido. Mas isso não acontece."

"É por isso que está indo embora? Por que ele não a ama de volta? Mas Mione disse..."

"Se Hermione diz que o Professor Snape me ama, ela está errada. Pela primeira vez na vida."

"Então ele é um perfeito idiota."

"Você não deveria chamar seu professor de idiota." Ela sorriu. Quantas vezes ela havia chamado Severus de idiota – ou pior – desde que ele a tinha mandado ir embora?

"Ele não merece você. Como ele pode não amar você, Miss Hunter? Ele é apenas um impiedoso, feio, arrogante, tirano e..."

"Espere, Neville." Ela pegou a mão dele para acalmá-lo. "Ele não é. Ele não é um tirano e não é impiedoso. E eu não acho que ele seja feio. Mas admito que ele é arrogante."

"É só que eu não consigo imaginar... como alguém possa estar apaixonada por ele."

"Que bom." Laurel sorriu. "Eu ficaria bem preocupada se você estivesse apaixonado por ele também."

Ele deu uma gargalhada. "Para onde você vai? Você vai me escrever?"

Ela deu de ombros. "Eu não tenho a menor idéia. Eu acho que vou para Londres, mas não sei o endereço ainda. Mas as corujas não encontram as pessoas para quem são enviadas?"

"Se você for para Londres, posso visitá-la mês que vem quando for lá." Ele sugeriu e o pensamento pareceu animá-lo.

"É apenas Janeiro mês que vem. Por que você tem permissão para ir a Londres no meio do período letivo?"

"Eu... eu visito meus pais."

"Oh..." Laurel levantou e mordeu o lábio, subitamente sem jeito. Ela sabia que Neville vivia com a avó, mas pensava que os pais dele tinham morrido.

"Eles estão em St. Mungo. É um hospital."

"Mande-me uma coruja, Neville, e eu vou comer com você um daqueles legendários sorvetes de Florescue de que todo mundo fica falando.

Durante toda a manhã visitantes pareciam fazer turnos para evitar que Laurel arrumasse a sua bagagem. Uma turma inteira do primeiro ano apareceu, rindo e se empurrando, para presenteá-la com um retrato deles. Eles tinham até persuadido o Professor Binns para posar com eles na foto, por isso havia um borrão azul atrás das crianças que acenavam.

A próxima a chegar foi Hermione Granger e Rony Weasley. Hermione procurando em seu rosto pelos traços de trágico heroísmo, como Laurel suspeitava. Se ela não estivesse se sentindo tão miserável, estaria tentada a parecer mais desesperada, apenas para agradar Hermione. Mas do jeito que estavam as coisas, ela tentou mostrar uma face corajosa e prometer retornar – uma promessa que ela não sabia se poderia cumprir.

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Depois do almoço resolveu fazer uma visita a Serene. A bruxa ainda estava na ala hospitalar, e pelo que Remo tinha dito a Laurel, não tinha falado com ninguém desde que o efeito do Veritaserum havia passado.

Quando ela abriu a porta, encontrou Serene sozinha, encolhida como uma bola, as cobertas sobre a cabeça. Ela parecia estar dormindo. Laurel parou e olhou para a cama.

"Estou indo embora, Serene." Ela disse suavemente. "Eu vim para..."

Ela não sabia como continuar. Seria mentira dizer a Serene que havia perdoado o que ela havia feito. As horas de pavor na câmara que desaparecia não seriam esquecidas ou desculpadas por um bom tempo. Mesmo assim, ela sentia pena de Serene por seu óbvio desespero mesmo que não pudesse entender a razão para os atos da bruxa.

"Eu vim dizer adeus. Eu gostaria que tivéssemos podido conversar."

Serene se virou, devagar e desajeitada, como alguém que tivesse estado doente por muito tempo e que tivesse quase esquecido como usar as pernas.

"Você vai embora." Ela disse penosamente. "Por que, você entende agora?"

"Não." Laurel puxou uma cadeira para perto da cama. "Serene, ninguém pode ver o futuro."

"Eu vi."

"Não existe o menor sinal de que Severus algum dia pudesse levantar um dedo contra Dumbledore. Eu não estou dizendo que ele seja gentil ou não seja propenso a ataques físicos, mas... Se existe alguém no mundo que ele respeite, até mesmo... ame, esse alguém é Albus Dumbledore. Por que ele o mataria?"

Serene suspirou. "Tudo o que vejo é um momento, uma cena. Eu vejo você de pé no batente de uma janela e..."

"Um batente de janela? Por que isso?"

"Eu não sei!" Serene esfregou as temperas. "Céus, ninguém escuta o que eu falo? Eu não tenho a menor idéia do porque de você estar lá, ou por que Dumbledore está naquela sala. Ou porque Snape parece um anjo vingador."

"Você pode descrever a sala, Miss Kennedy?"

As duas bruxas se viraram. Snape estava em pe, recostado no batente da porta.

"Era uma sala de Hogwarts?"

Laurel franziu a testa. "Severus, você não deve encorajá-la ..."

"Em minha loucura?" Serene disse. "Eu sei muito bem que ninguém acredita em mim. Nem mesmo..." Sua voz falhou.

"Mesmo não acreditando em Adivinhações, eu ainda estou interessado no que ela diz ter visto."

"Não é em Hogwarts. Parecia muito... normal."

"Normal?" Snape torceu os lábios. "Se fosse Laurel falando eu acharia que você quer dizer Trouxa."

"Mas é o que parecia, uma sala de estar numa casa de trouxas. Janelas altas, como uma casa vitoriana. Uma lareira. Eu não me lembro de muito. Só da Laurel de pé no batente da janela, apontando para Dumbledore. Havia muita escuridão."

"Muita escuridão? Era noite?" Laurel perguntou.

"Não, era mais como... vazio. Isso estava... correndo através do quarto." Serene deu de ombros e trouxe a coberta mais para perto. "Você aponta para Dumbledore e Snape levanta a sua varinha e grita o Avada Kedrava."

"E é tudo que você vê?"

"Eu vejo Dumbledore morrer e a sala em chamas." Serene soluçou. "Remo não acredita em mim também. Eu tentei tanto... Eu queria desistir dele. E agora eu o perdi."

Ela virou de costas para Laurel e virou para a parede. "Ele também está indo embora." Ela sussurrou com uma voz totalmente sem esperança. "Mas não pela razão certa."

Laurel olhou para Snape.

Ele deu de ombros.

Madame Pomfrey entrou, carregando uma bandeja de comida. Ela deu a eles um olhar preocupado e fez com que saíssem do quarto.

Laurel e Snape saíram e fecharam a porta da ala hospitalar.

"Você acredita nela!" Ela o encarou, incrédula.

Snape ficou calado por um momento. Quando ele falou, as palavras saíram dolorosamente devagar, como se ele temesse ouvi-las.

"Tudo o que eu sei é que estou afundando cada vez mais na Escuridão. Pode chegar o dia em que eu afunde de vez."

Laurel tentou conter as lágrimas. "Severus, não me mande embora. Deixe-me ajudá-lo."

Ele levantou a mão. "Prometa-me ir ver Lupin imediatamente."

"Essa era a minha idéia em primeiro lugar. Ele pode não ser um covarde. Serene precisa dele aqui e ele está tão apaixonado por ela..."

"Lupin está apaixonado por ela?"

Laurel sacudiu a cabeça tristemente. "Você é cego? Está escrito na testa dele! Mas... Por que mais você quer que eu vá vê-lo com tanta urgência?"

"Ele é o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Eu quero que ele te ensine o Avada Kedrava

Ela arregalou os olhos.

"Avada Kedrava? Mas por que você acha que eu deveria aprender um dos Feitiços Imperdoáveis, Severus?"

"Eu ainda espero que Miss Kennedy esteja enganada, mas se não estiver... se eu me render à escuridão e matar Dumbledore, eu poderia atacar você também." Ele fechou os olhos por um segundo e respirou fundo. "Se isso acontecer, quero que você seja capaz de se defender."

"Matando você."

Ele concordou.

Os joelhos de Laurel tremeram. Será que o mundo tinha enlouquecido? Ela teve que se segurar na parede. Snape esperou pacientemente que ela recuperasse a compostura.

"Você não vai matar Dumbledore." Ela sussurrou. "Voldemort nunca vai conseguir ter tanto poder assim sobre você."

Ele fez uma mesura silenciosamente.

Seus olhos se encontraram por um momento como tinha acontecido naquela primeira noite há mais de dois anos atrás.

"Então você está pronta para partir." Ele disse. Não era uma pergunta.

Ela concordou. Com qualquer outra pessoa ela tinha que fingir que partir tinha sido uma decisão dela, mas não com Snape, que sabia a verdade.

"Se eu for ao seu quarto dizer adeus, você vai levantar a varinha contra mim?"

"Eu deveria." Ela rebateu. "Mas não vou. Eu sei que você está errado e eu certa. Isso me faz ter paciência com você. Agora, se você me desculpar. Eu tenho que ver Remo Lupin. Outro bobo ignorante."

Ela virou e o deixou de pé no Hall.

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Aparentemente Lupin possuía muito menos do que ela, pensou Laurel. Enquanto seu quarto parecia um campo de batalha com malas e baús semi-empacotados, o quarto de Lupin estava vazio, com apenas uma grande mala de couro perto da lareira.

Remo sorriu para ela quando viu o olhar dela para sua bagagem. "O quê?"

Laurel se sentou em uma cadeira que ele ofereceu a ela, mas recusou uma xícara de café ou chá. "Você está fugindo."

"Não estou." Ele protestou. "Eu... decidi que prefiro viver em qualquer outro lugar."

"Onde? Ah, eu me lembro, você tem aquela família em "Algum Outro Lugar". Ou é a amante que você precisa encontrar em "Algum Outro Lugar"?"

Ele levantou as mãos e deu a ela um sorriso infeliz. "Você está tentando ser cruel, e isso não faz o seu gênero."

Laurel corou. "Sinto muito, Rem. Você está certo. É só que..."

Ela pegou o atiçador e mexeu nas brasas para passar o tempo enquanto procurava as palavras certas. Lupin esperava pacientemente, seus olhos cinzas cheios de dor.

Ela largou o atiçador. "É estranho, como vocês são tão parecidos."

Ele levantou uma sobrancelha, curioso "Quem é parecido?"

"Você e Sirius... e Severus."

Aquilo fez ele sorrir, e Laurel respirou aliviada. Ele não estava com raiva dela. "Os três são muito orgulhosos para o próprio bem."

"Nós não somos!" Ele protestou. "Quero dizer, eu não sou. Muito orgulhoso."

"Então fique!"

Ele suspirou. "Eu tentei, Laurel. Mas nem mesmo eu posso aceitar tantas recusas."

"Ela poderia amar você. Agora que ela não precisa mais esconder seus sentimentos..."

"Eu não penso assim. Olhe para mim! Eu sou um dos monstros. Em muitos paises eles atiram em criaturas como eu."

"E?"

"E?" Ele cerrou os punhos. "Que mulher gostaria de estar com um homem que se transforma em uma fera uma vez por mês? Um homem que precisa esconder quem ele é, que tem que viver uma mentira? Que não é capaz de manter um emprego?"

Laurel olhou para ele com ternura e pôs uma mão em seus pulsos. "Não se subestime. Você é inteligente, sensível e bonito. Eu poderia ter amado você, Remo."

"Obrigado." O sorriso dele não alcançou seus olhos. "Mas você é uma exceção à regra. Apesar de eu não estar certo se amar Snape não é pior do que amar um Lobisomem. Pelo menos eu sou bem razoável 27 dias por mês, enquanto ele..."

"Serene nunca teve uma chance de se apaixonar por você, Remo. Ela escondia um segredo terrível e deixou que isso governasse sua vida. Assim como você... E se alguém pode entender como é ser diferente, um estranho, é Serene." Ela ficou de pé e deu um beijo na testa dele. "Não cometa o mesmo erro que eu. Não deixe que a pessoa que você ama se tranque dentro dela mesma e deixe você do lado de fora."

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Voltando para seu quarto, Laurel conjurou uma bandeja de chá e biscoitos e continuou a empacotar suas coisas. Mas não foi muito longe. Ela não tinha colocado nem metade dos livros no baú, quando Black entrou – sem bater.

Laurel olhou para cima, aborrecida.

"Eles não têm portas em Azkaban?" Ela falou e imediatamente se arrependeu.

Ele estancou, mas apenas por um segundo. Então ele jogou a cabeça para trás e riu com vontade. "Desculpe." Ele segurou as costelas. "É só que as pessoas costumam evitar essa palavra quando estou presente."

"Oh." Ela relaxou um pouco. "Chá?"

Ele aceitou uma xícara.

"Nós vamos pegar o trem cedo amanha de manhã." Ele lembrou-a casualmente. "Dumbledore tem algumas duvidas sobre a sua capacidade de aparatar, e desde que eu tenho minhas dúvidas quanto a sua vassoura, o trem pareceu a maneira mais segura de sair daqui."

"Tudo bem." Ela deu de ombros. "Eu não estou com pressa de voltar para a Casa de Visitas do Ministro, de qualquer forma."

"Casa de Visitas?"

"Para onde mais posso ir? Eu não posso viver em Hogwarts. E o Ministério não vai me deixar ir para casa."

"E você acha que Dumbledore vai entregar você ao ministério?"

"Me entregar? Eles me mandaram para cá inicialmente. Eu achei que ele ia me mandar de volta."

"Agora, deixe-me explicar a situação para você." Black disse devagar como se estivesse falando com uma criança estúpida. "Dumbledore e o Ministro não são exatamente... aliados. Especialmente não desde que eles concordaram em deixar os dementadores tomarem conta da segurança interna. Voldemort invadiu todos os níveis de nosso governo. Dumbledore sabe muito bem disso. Você é uma das nossas agora. Ele nunca entregaria você ao inimigo."

"Uma das nossas." Laurel repetiu suavemente.

"Ele arranjou um pequeno apartamento perto do Beco Diagonal. É numa rua de trouxas, então você não vai estranhar muito. Mas as pessoas estão acostumadas a verem corujas e pessoas vestidas de modo diferente pelas ruas."

Ele tentou levantar o baú pela alça e resmungou. "Escute, por que você não deixa esses livros aqui? Você vai ceder em poucas semanas e voltar. Eu não me vejo carregando essa tralha para Londres e trazendo tudo de volta."

Laurel franziu a sobrancelha. Por um momento ela quase tinha quase pensado nele como... legal. "O que você quer dizer, com eu vou ceder?"

Ele sentou no baú e cruzou os braços atrás do pescoço. "Obviamente você está tentando fazer Snape fazer algo que ele não quer. O que é? Casar com você, ou pior – lavar o cabelo?"

"Sirius, estou avisando..."

"Partindo, você pretende puni-lo por não fazer o que você quer. Mas como Snape não tem um coração que você possa quebrar, eu aposto meu dinheiro nele dessa vez. Já que você não vai conseguir ficar longe dele."

Laurel estancou, braços caídos, não acreditando em seus ouvidos. "Você pode sair agora, Black, antes que eu faca algo imperdoável."

"Como o quê?"

"Ouça, apenas porque você está infeliz você não precisa sair por aí espalhando essa doença."

Black pulou como se ela o tivesse atingido no estômago. "O que faz você pensar que sou infeliz? Você nem me conhece!"

"Você também não me conhece. E você não tinha visto Severus por mais de 15 anos, por isso você não faz a menor idéia sobre o homem que ele é hoje."

Eles se encararam furiosamente, Laurel ganhou.

Quando Black saiu, ele evitou o olhar dela. "O trem parte da estação de Hogsmeade às 6 e 15 da manhâ. Nos vamos sair do castelo às 6 então." Ele murmurou e fechou a porta atrás dele.

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Laurel sentou no baú, cansada e triste. O seu 'bloco fantasma' estava cheio de insultos do Barão Sangrento, chamando-a de "vadia" e dizendo que ela devia ficar e servir o nobre Mestre de Poções.

Por que todos em Hogwarts vivos ou não, se achavam no direito de interferir? O que os fazia pensar que ela precisava de conselhos? Quando ela ouviu uma leve batida na porta ela resmungou em desespero. A próxima visita que viesse com pena ou insultos...

Ela abriu a porta pronta para dispensar quem estivesse ali.

"Severus."

Ele ficou no corredor, ereto e alto. O coração dela saltou.

"Entre."

"Acho melhor não." Ele olhou por cima do ombro dela "Não tem espaço, de qualquer maneira."

Ela deu de ombros. "Você veio dizer adeus?"

"Sim."

"Você vai me permitir abraçá-lo?" Ela abraçou a si mesma e esperou pela inevitável recusa. Afinal de contas, ele nunca havia permitido que ela o abraçasse na cama.

Snape fechou os olhos. Os longos cílios desenhando sombras escuras na pele pálida, fazendo seu rosto parecer ainda mais magro do que o usual.

"Sinta-se à vontade."

Quando Laurel pôs a cabeça no ombro dele ela pode senti-lo tremer. Um som dolorido escapou do peito dele – e com qualquer outro homem Laurel teria chamado aquilo de um soluço, mas Severus nunca chorava. Não Severus, não o seu orgulhoso Mestre de Poções.

Ela aspirou seu cheiro como um souvenir para os dias que viriam.

"Você já foi posto sob o Feitiço Crucio?" Ela sussurrou contra o colarinho dele e sentiu ele ficar tenso. .

"Sim." Ele falou devagar. "Muitas vezes."

"Muitas... vezes?"

"Por que você pergunta?" Ela podia dizer muito bem agora quando ele fugia de responder as suas perguntas e não perguntou como ele podia ter sido torturado com um Feitiço Imperdoável e mencionar o fato tão casualmente como se fosse uma enxaqueca.

"Eles dizem que dói mais do que qualquer coisa."

"Eles estão certos." Ele respirou pesadamente. "Por quê?"

"Porque deixar você me machuca mais do que qualquer coisa que eu já tenha sentido."

Ele delicadamente se afastou dela.

"Eu nunca vou me perdoar por não ter terminado isso mais cedo." Ele disse com um distanciamento estudado. "Antes de fazer você sofrer. Eu sabia que você não ia conseguir separar amor e sexo."

"Talvez você esteja certo. O que tem de ruim nisso? Nós tivemos um excelente sexo – e você ganhou meu amor como... um bônus."

"Você me disse uma vez que você se via muito claramente. Bem, eu também. Eu sei quem eu sou. E não mereço o que você está querendo me dar."

"Espere!" Ela levantou as duas mãos, as palmas para cima para silenciá-lo "Eu sei que nós tínhamos um acordo. Você prometeu me mostrar... desejo... e tudo o que queria em troca era honestidade. Mas amor, Severus, o amor é um presente. Você não precisa fazer nada para merecê-lo. Você o ganha de graça."

"Não se iluda, Laurel. Não é assim que funciona. As pessoas não amam umas as outras sem nenhuma razão. Elas amam por dinheiro, proteção, status social, vaidade."

"Outros amam apenas porque não têm escolha."

Ele olhou para ela, seu rosto vazio e pálido. "Eu tinha medo que você se sentisse assim. Entretanto eu tenho uma coisa para você. Pode chamar de presente de despedida."

Ele entregou a ela uma pequena caixa de madeira, uma das que ela tinha visto no laboratório. Ele as usava para guardar frascos das mais preciosas e raras poções. "Eu te ofereço uma escolha."

Laurel abriu a caixa com cuidado. Ela continha um pequeno frasco com um fluido âmbar.

"O que é isso?"

"Amnésia."

Ela franziu a testa e tentou se lembrar das propriedades daquela poção em particular.

Snape deu outro passo atrás, longe da porta, como se ele quisesse estar fora de alcance quando ela finalmente entendesse.

"Isso vai apagar sua memória de tudo o que aconteceu desde que você chegou em Hogwarts." Laurel apertou tanto o frasco que ele quase se quebrou.

"Você acha que eu quero esquecer você? Simplesmente assim?"

"Você estaria livre de... mim, da dor que te causei..."

Ela mordeu o lábio em desespero e engoliu em seco. Suas mãos tremiam como loucas quando ela jogou a caixa de volta para ele.

"Vá para o inferno, Mestre de Poções!"

Ela bateu a porta na cara dele.

Enquanto ela afundava no chão dentro do quarto, abraçando a si mesma, chorando desamparada, Snape não se movera. Ele olhava fixamente para a porta, ouvindo os soluços abafados, ele sabia que tinha incendiado a sua última ponte.

"Inferno?" Ele murmurou rouco. "Eu já estou lá."