19. Parseltongue
Pela primeira vez desde que o conhecia, Dumbledore realmente parecia um homem velho, pensou Sirius quando levou o Sr. Olivander para a sala do diretor. Dumbledore se levantou e sorriu para Olivander, mas o sorriso não chegou a seus olhos. Eles estavam cheios de tristeza. Sirius parou perto da porta, na dúvida se era permitido que ele ficasse.
"Junte-se a nós, Sirius." Dumbledore indicou a ele uma mesa onde outro bruxo se sentava. Pelas vestes brancas ele o reconheceu como sendo um médico do St. Mungo's.
"Professor... White. Dr. Jung. Sr. Olivander de Londres." O Diretor apresentou-os.
"Dr. Jung aqui examinou ambos, Severus e Laurel. Laurel ainda está inconsciente, mas fora uma leve concussão e uns poucos arranhões, ela não se machucou. Mas Severus..." Ele suspirou.
O médico pigarreou. "Professor Snape sofreu uma profunda ferida no ombro. Eu limpei o machucado. Mas a condição de Snape me parece mais envenenamento do que um ferimento por faca. Ele perdeu muito sangue, e uma substância preta que saiu da varinha se espalhou por sua carne."
"Substância preta." Sirius repetiu.
"Eu não sei ao certo o que é, ainda. Mas obviamente a varinha funcionou como um tipo de flecha envenenada."
"É aí que você entra, Hugo." Dumbledore olhou para o Sr. Olivander. "Por favor, fale-nos sobre o que você pensa sobre isso." Ele apontou para a varinha respingada que estava em um pote em cima da escrivaninha.
Olivander procurou em sua bolsa e tirou uma lupa. Pesquisando a varinha e espetando-a com uma agulha dourada, ele murmurou para si mesmo, freqüentemente sacudindo sua cabeça, incrédulo. Quando olhou para Dumbledore, ele franziu o cenho.
"Eu não tenho boas notícias, meu amigo."
"Fale de uma vez, sim?" Pediu Sirius impaciente.
Olivander levantou uma sobrancelha. "Mr. White, você nunca possuiu um grama de consideração, não é verdade? Eu me lembro muito bem de você – Madeira de Ferro e um pêlo de rabo de centauro."
"Sim, senhor." Sirius olhou para suas botas sem graça.
"Saiu com a varinha errada duas vezes, porque não podia esperar que a certa escolhesse você."
"Sim, senhor."
"Hugo, qualquer coisa que você tenha descoberto sobre a varinha, precisamos saber." Dumbledore tentou trazer a mente de Olivander de volta para a peça de madeira respingada em cima da mesa.
"Ah, sim. A varinha. Belo trabalho." Olivander disse e tocou a madeira com seu dedo. "Uma Ragnarok."
"Ela parece ser oca?" Dumbledore pegou a lupa de Olivander.
"Ragnarok produz varinhas que diferem um pouco das que usamos." Olivander explicou. "Como sabemos, uma varinha por si só, é pura madeira, e possui apenas a magia que vem com a madeira. O importante é o miolo. Onde eu uso miolos sólidos, Ragnarok prefere líquidos. Isso faz a varinha mais leve, mas mais difícil de equilibrar. Eu não via uma dessas há anos. Claro que todos os alunos que vão para Durmstrang usam Ragnarok. Elas são de uso comum lá."
"Então essa é uma varinha das Trevas?" Sirius olhou para a tigela e lembrou como a madeira tinha afundado na carne de Snape. – como se o mal estivesse nela.
Dr. Jung balançou a cabeça. "Nem todas as varinhas Ragnarok estão cheias de veneno. A minha é do mesmo artesão."
Ele sacudiu sua varinha, uma peça de macieira prateada, e deixou-a sobre a escrivaninha.
O rosto de Olivander se iluminou. "Vê, é isso que quero dizer. Extraordinário! É uma varinha curadora." Ele pôs sua mão sobre ela e fechou os olhos. "Deixe-me adivinhar. Lágrimas de Basilisco?"
Dr. Jung concordou. "Ela me serviu muito bem. Muitos de meus colegas no St Mungo's usam uma Ragnarok." Ele tossiu. "Claro, como muitos usam uma Olivander, senhor."
"Bem, então sabemos quem fez a varinha." Dumbledore massageou sua barba. "E quanto ao conteúdo?"
"Parece ser um tipo de veneno de cobra." Dr. Jung explicou. "Todos os sintomas estão lá, apesar de que eles deveriam estar mais pronunciados considerando a quantidade da substância que entrou na circulação dele."
"Nagai." A voz de Dumbledore estava tão macia que eles quase não entenderam o que ele falou. Ele respirou fundo e se endireitou com visível esforço. "Mas Severus sofre de algo pior do que o bichinho de estimação de Voldemort poderia induzir. Alguma coisa está envenenando sua alma."
Dr. Jung suspirou. "Na falta de um melhor diagnóstico, eu concordo com o senhor."
"Você pode ver os feitiços que ela produziu ultimamente, Hugo?"
Olivander coçou a cabeça. "Se ela estivesse intacta... Mas ela nem mesmo é uma varinha agora, Albus. É lenha. É uma pena, isso sim."
"Uma pena?" Sirius trincou os dentes e olhou para Olivander com desgosto. "Esta coisa foi usada para ferir... para matar."
"Não é culpa da varinha, é?" Olivander deu de ombros e pegou sua própria varinha. Quando ele a balançou, tudo o que ele evocou foi um chiado. Mas então uma débil imagem se formou no ar: mãos, amarradas por cordas invisíveis.
"Amordaça e Amarra, eu acho."
Dumbledore concordou. "Ben deve ter amarrado Laurel e certamente a amordaçou para que ela não pudesse avisar Severus. Mas o que aconteceu antes?"
Olivander tentou novamente e dessa vez o esforço trouxe uma linha de suor em sua testa. De repente outra imagem se formou. Uma névoa negra entrando por uma sala.
O fabricante de varinhas empalideceu.
"Como é possível? Albus, eu pensei que isso estivesse esquecido há séculos!"
O diretor deu a Olivander o sorriso mais triste que Sirius já tinha visto. "Obviamente ele foi redescoberto."
"Mas..."
"Eu sei." Ele deu umas pancadinhas nas costas de Olivander. "Nas mãos de Voldemort é ainda mais perigoso do que nunca. Sirius, por favor, vá e diga a Madame Pomfrey para não deixar ninguém entrar no quarto de Laurel. Agora, se me dão licença, eu realmente preciso me reunir com meus colegas." Ele apontou para os quadros dos Diretores que tinham saído de seus quadros e estavam reunidos em volta de um bruxo careca e barba vermelha.
Dumbledore olhou para a moça na cama de hospital. Apesar de ela estar dormindo o sono profundo induzido pela Poção do Sono sem Sonhos, lágrimas molhavam seu rosto.
"O Eco de Sodem - o Quarto Feitiço Proibido." Ele pensou alto. "Criado pelo mesmo bruxo que fez o Espelho de Ojesed. Mas enquanto o espelho reflete o que você deseja..."
Madame Pomfrey mudou a compressa fria na testa de Laurel. "Sodem." Ela murmurou. "É um reverso não é? Eco do Medo?"
"Sergio Savonarola, diretor de Hogwarts no século 14 lembra bem. Eles usavam chamar esse feitiço de "Feitiço Devorador de Alma". Ele força o enfeitiçado a expressar os mais profundos medos daqueles com que falarem."
"Quando ela recobrou a consciência antes, disse que o senhor falharia com todos nós."
O diretor concordou e de repente pareceu muito mais velho do que realmente era. "Meu maior medo, falhar com aqueles que eu quero proteger. Ela viu através de mim."
"Sem querer ofender, diretor, isso não seria difícil de adivinhar." Madame Pomfrey colocou um pano seco na testa de Laurel. "Eu acho que o senhor deveria desfazer o feitiço enquanto ela está inconsciente. Se for possível."
"Eu vou tentar. Savonarola teve alguma dificuldade de lembrar o contra feitiço. Mas acho que com nosso esforço coletivo conseguiremos produzir um feitiço que funcione."
"Bom. Nós não precisamos de mais nenhum eco em Hogwarts."
Ele olhou direto nos olhos dela. "Qual é seu maior medo, Poppy?"
"Que alguém morra sob meus cuidados." Ela admitiu sem demora. "Oh! E aranhas! Aranhas grandes e cabeludas."
Com um débil sorriso, o velho bruxo colocou um dedo sobre os lábios de Laurel e começou a recitar uma frase várias e várias vezes. A escuridão se levantou em todos os cantos do quarto, formando uma confusão de palavras, lamentos e gemidos. Madame Pomfrey torceu as mãos, mas resistiu ao ataque bravamente. Dumbledore repetiu o feitiço novamente, dessa vez tocando os olhos de Laurel, e então finalmente sua testa. Como um pesadelo, a escuridão desapareceu. O diretor soltou a respiração, aliviado.
"Isso deve ter resolvido. Mas só saberemos com certeza quando ela acordar. Eu vou mandar alguém para ajudar você. Você deve estar ocupada cuidando do Professor Snape."
A enfermeira, que tinha perdido o seu bom humor na última hora, balançou a cabeça devagar. "Não há muito que Dr. Jung ou eu possamos fazer por ele. Talvez uma poção para afastar a dor. Ele não responde a nossos feitiços curadores, não com a Marca Negra ainda em seu braço. Só nos resta ter esperança e carinho com ele."
Dumbledore suspirou e olhou para Laurel que ainda chorava em seu sono. "Minerva e eu vimos isso se aproximando. Não exatamente o que está acontecendo agora, mas nós sabíamos que um dia ele dependeria dessa mulher. Só que ela acabou de dizer que preferia morrer a pensar em ficar com ele."
"Mas Diretor, era 'Sodem' falando, não ela."
"Nós sabemos" O velho bruxo falou "Mas Severus sabe?"
Quando Laurel abriu os olhos, se lembrou de tudo instantaneamente. Seu apartamento. Ben e Não-Ben. Ela lembrou como Não-Ben tinha tocado sua testa, seus olhos e sua boca e murmurado um feitiço. Ela lembrou como um outro feitiço a tinha amarrado na cadeira e como cordas invisíveis cortaram sua pele. Ela tentou sentir seus pulsos. Eles estavam enfaixados e dormentes.
E então Severus... Ela não conseguia lembrar uma palavra que falara, apenas a expressão em seus olhos. Ela piscou e se sentou.
Madame Pomfrey estava a seu lado. "Calma, querida. Não se apresse. Você ainda precisa descansar."
"Hogwarts. Estou de volta a Hogwarts?"
"Você está de volta e segura. Em poucos dias você estará boa como nova."
"O que aconteceu? Ben pôs um feitiço em mim."
"O diretor Dumbledore conseguiu desfazê-lo. Você está limpa."
Laurel engoliu em seco. "Severus? Ele está bem? Eu lembro que nós caímos. Com força. Houve uma luta e..."
A enfermeira a empurrou gentilmente de volta para os travesseiros. "Professor Snape está em boas mãos." Ela assegurou. Na verdade o Mestre de Poções estava queimando em febre no quarto dele, mas Madame Pomfrey duvidava que faria bem a sua paciente se ela se levantasse.
"Você deve descansar e tudo vai ficar bem. Você vai ver."
"Eu não acredito em você." Laurel se sentou e o esforço a fez tremer. "Eu preciso ver o Diretor Dumbledore. Agora!"
A enfermeira torceu as mãos. A moça estava em pé e determinada a deixar a ala hospitalar. "Eu lhe disse que ele foi resolver negócios urgentes. Mas eu posso trazer a professora McGonagall para ver você."
Uma batida na porta interrompeu a discussão. Como um suspiro de alivio Poppy viu Minerva ao lado da porta. "Ela quer levantar para ver Snape." Ela sussurrou.
"Ela já está bem?" McGonagall perguntou. Laurel parecia terrivelmente pálida enquanto sentava na cama.
"Por favor, Minerva, pode dizer a ela que eu preciso falar com o professor Dumbledore? E eu tenho que ver Severus. Eu tenho que vê-lo. Alguma coisa está terrivelmente errada. Eu posso sentir isso."
Minerva sentou na cama perto dela e deu umas pancadinhas em sua mão.
"Dumbledore foi chamado a Londres pelo Ministro. Arthur Weasley mandou uma coruja expressa. O Departamento de Inteligência Mágica conseguiu informações sobre Ben. Parece que o Sr. Olsen não era o que parecia, nenhum novato, mas um aluno formado da Durmstrang que se aliou a... ele." Seus olhos soletravam Voldemort.
"Severus." A voz de Laurel tremeu. "Ele está..."
Minerva evitou seu olhar, o que fez Laurel ainda mais ansiosa.
"Ele está vivo. Mas... É melhor você ver pessoalmente."
Laurel saiu da cama impaciente. "Onde ele está?"
Madame Pomfrey se rendeu, entregou a ela um robe e deixou que ela saísse.
Elas levaram Laurel para os aposentos de Snape nas masmorras. Laurel tinha estado lá antes, Minerva podia observar pelo modo como ela andava pelos quartos pouco iluminados. Quando elas entraram no quarto, a professora Hooch levantou da cadeira perto da cama.
"Nenhuma alteração em seu estado." Ela informou. Então ela viu Laurel e seu olhar se encheu de compaixão.
McGonagall silenciosamente balançou a cabeça quando a professora tentou segurar Laurel para trás. "Ela tem todo o direito de vê-lo."
O corpo de Snape estava coberto com um cobertor e um edredom, mas ele tremia mesmo assim. Sua face pálida e sulcada, suas feições enfatizadas por sombras. Sem pensar, Laurel colocou a mão na testa dele e tremeu quando sentiu a sua temperatura.
Ela se virou para McGonagall. "O quê..."
A Professora Hooch gentilmente levantou as cobertas para que Laurel visse o curativo no ombro de Snape. Estava cheio de sangue e uma estranha substância negra. "Quando Remo e Sirius encontraram vocês dois no campo de quadribol, você estava inconsciente, mas não muito machucada. As costelas de Snape estavam muito feridas mas ele conseguiu carregar você para fora da Floresta. Então ele desmaiou. Remo trouxe-o em uma maca. Poppy pensou que ele não estava muito mal, até que ela viu isso." Ela desfez o curativo. Laurel prendeu a respiração. Havia uma horrível ferida no ombro de Snape, como se um ácido tivesse começado a comer sua carne.
"O que é isso?" Ela tocou com cuidado a pele avermelhada em volta da ferida e viu Snape se encolher de dor.
"Uma varinha envenenada."
A cabeça de Laurel girou. Uma súbita lembrança atravessou sua mente.
"Ben."
"Dr. Jung diz que é veneno de cobra. E nós achamos que Ben estudou venenos e poções em Durmstrang."
"Mas vocês não podem fazer nada?"
Hooch sacudiu a cabeça. "A Marca Negra frustra todos os nossos esforços. Tudo o que podemos fazer é esperar que a vontade de viver dele seja forte o suficiente." O que ela não contou foi que Snape tinha aberto os olhos apenas algumas horas atrás e murmurado "Deixem-me morrer." Ela não se dava bem com Snape antes, apesar de admirar a lealdade dele para com sua casa e pela confiança que Dumbledore tinha nele. Mas o desespero que ela vira nos olhos do Mestre de Poções tinha sido mais do que ela podia suportar e ela se permitiu chorar. Seu paciente tinha perdido a consciência novamente e nunca saberia.
"Eu tomo conta dele agora." A voz calma de Laurel a fez dar um pulo.
"Mas não há nada que você possa fazer."
"Eu posso limpar a ferida. Eu posso fazê-lo beber. Eu posso mantê-lo aquecido." Ela se sentou ao lado dele e começou a remover o curativo ensopado. Então ela foi para perto da lareira, arranjou um caldeirão para ferver água e foi para as caixas onde Snape guardava suas ervas.
McGonagall pegou o cotovelo de Hooch e levou-a para fora do quarto.
Laurel esfregou os olhos e suprimiu um soluço que ameaçou subir pela sua garganta. Ela havia limpado todo o veneno preto que caía da ferida e apenas podia esperar que as ervas fizessem o resto. Ela fez algum chá, mas não conseguiu fazer Severus beber, já que ele estava inconsciente. Já haviam se passado 24 horas e ele ainda não tinha aberto os olhos nem parado de tremer. O fogo da lareira aquecia o quarto e a testa de Laurel estava coberta de suor.
Sirius passou para ela uma tigela com água fria e um pedaço de pano. Ela começou a lavar o rosto de Severus, mas isso só trouxe a ele alguns minutos de alívio. Então ele começou a queimar em febre novamente.
"Engraçado aonde o amor nos leva." Sirius disse suavemente quando Laurel sentou, segurando suas têmporas doloridas.
"O que você quer dizer?"
Ele deu de ombros e procurou as palavras. "Eu lembro quando estávamos na escola. Como todos invejávamos James por ter encontrado o amor da vida dele. Peter costumava chamar Lilly de anjo." A voz dele tremeu. "E nós concordávamos em silêncio. Mas todos pensávamos que era só uma questão de tempo até acharmos o nosso próprio anjo."
Laurel colocou a mão sobre a dele e tentou confortá-lo. Ela sabia que Peter Pettigrew tinha traído os Potter e tinha sido a causa da morte deles. "James e Lilly, eles eram muito jovens quando casaram, não eram?"
Ele concordou e seus olhos brilharam de forma suspeita. "Lilly sempre disse que eu nunca me assentaria. Eu acho que foi por isso que ela me fez padrinho de Harry. De forma que eu tivesse uma família mesmo que nunca tivesse filhos." O sorriso dele foi amargo. "Mas claro que nós, - eu inclusive – pensamos que eu ia acabar em Zanzibar ou Kathmandu ou algum outro lugar exótico, não um prisioneiro em Azkaban."
Laurel não queria que ele mergulhasse em amargura. "E quanto a Remo? Lilly previu que ele iria se apaixonar por uma clarividente algum dia?"
Aquilo fez com que ele risse. "Remo sempre foi um romântico incurável. Ele deveria ter encontrado uma boa lobisomem fêmea e se assentado há muito tempo."
"E Severus? Ele também invejava James?"
Black levantou a cabeça e encarou o homem que tremia, inconsciente, debaixo das cobertas. "Ninguém realmente sabia o que Severus pensava. Ou o que ele achava importante. Ele era um solitário e fazia tudo para espantar os outros de perto dele."
"Ele me disse isso. Você, Remo e James e... Peter eram amigos muito próximos, não eram? Severus não tinha nenhum amigo?"
Sirius pensou sobre isso e franziu a testa. "Lucius Malfoy. Eu não tenho certeza se eles eram amigos, mas eles andavam juntos. Alguns outros da Sonserina. Mas como eu disse, ele se fechava muito dentro de si."
"E ainda assim você tentou matá-lo."
Ela não olhou para ele, falou as palavras como se estivesse pensando alto.
Sirius tocou o ombro dela, insistentemente até que ela olhasse para ele. Seus olhos estavam muito sérios. "Eu lamento, Laurel. Se Snape pudesse ouvir eu diria a ele também. Eu era um adolescente e nunca pensei nas conseqüências do que eu fiz. Não, isso não é verdade. Eu sabia que Remo iria matá-lo se ele entrasse na caverna." Ele deu de ombros. "Mas naquela época eu não imaginava o que era estar morto. Agora eu sei. E eu realmente sinto muito."
Laurel sorriu para ele. "Você pode falar isso para Severus depois, quando ele acordar."
Black suspirou, mas manteve os pensamentos para si mesmo. O Mestre de Poções não parecia a ele como alguém que iria voltar a acordar.
A professora McGonagall colocou a mão no braço de Laurel. Ela havia se revezado com Black e Lupin na vigília, mas Laurel não deixara o quarto há quase três dias. Minerva estava começando a temer pela jovem, e o estado de Severus era tão ruim que ela não ousava ter mais esperanças.
"Por que você não vai dormir um pouco?" Ela sugeriu docemente.
Laurel balançou a cabeça.
Minerva suspirou. "Eu estive pensando." Ela disse e pôs de lado um livro que estava lendo. "O Dr. Jung disse que o corpo de Severus deve ser drenado do veneno."
"O que você pretende fazer? Cortá-lo e deixá-lo sangrando até morrer?" A voz de Laurel estava mais áspera do que pretendia. Ela estava tão cansada que achava difícil se concentrar. "Desculpe, Minerva. Eu não pretendia..."
"Você não estava aqui quando a Câmara Secreta foi aberta?" A bruxa mais velha perguntou, trocando o curativo de Snape novamente.
Laurel deu de ombros mais uma vez. "Não. Pelo menos eu não ouvi nada a respeito. Que câmara?"
"Eu me pergunto." Minerva pensou alto e foi para perto da lareira. Jogou uma pitada de pó de flu nas chamas e chamou o nome de Sirius. Quando o bruxo alto saiu da lareira um minuto depois, Laurel estava tão concentrada mexendo a poção que preparara que nem olhou para ele.
Minerva falou em voz baixa com ele e não aceitou nenhum de seus argumentos. Eventualmente ele cedeu e saiu novamente, apenas para aparecer dez minutos depois, com um assustado Harry Potter junto com ele.
Laurel levantou a cabeça quando Black e o menino entraram. Ela não tinha visto muito Harry ultimamente, mas tinha gostado muito dele quando tinha sido aluna. Ele parecia mais alto agora, seu rosto pálido e cansado. Havia um buraco vertical na sua testa, que fazia com que ele parecesse mais velho do que seus dezesseis anos. Como Laurel sabia ele era um aluno do quinto ano como Neville, mas tinha perdido a aparência de menino de escola – e ela não ousava perguntar como.
Sirius colocou a mão no ombro de Harry, um gesto protetor que tocou o coração de Laurel. O menino olhou para a cama onde Snape estava deitado, e mais uma vez para a professora McGonagall, que estava explicando alguma coisa baixinho para ele. Laurel não conseguiu identificar nenhuma palavra de onde estava. Ela se aproximou da cama e pegou a mão quente de Snape entre as suas. O pulso dele estava acelerado pela febre.
Harry se aproximou da cama depois de um ultimo olhar hesitante para McGonagall.
Laurel tentou sorrir. "Olá, Harry."
Ele olhou para Snape cuja cabeça que virava sem descanso, manchas vermelhas colorindo deu rosto normalmente pálido.
"Ele não está melhorando?"
Laurel sacudiu a cabeça, desesperada demais para responder.
"Professora McGonagall e Sirius parecem pensar que eu posso ajudá-lo." Era quase como se ele estivesse pedindo a permissão dela.
"Você?"
"Eles disseram que foi picada de cobra?"
"É veneno de cobra, sim. Mas como você poderia...?"
O menino franziu a testa. "Eu falo Parseltongue. As cobras entendem o que eu falo. É bem raro e eu honestamente não sei como eu consigo fazer isso."
"Parseltongue." Laurel repetiu. "Como isso pode ajudar Severus?"
Sirius se aproximou e segurou os ombros de Harry. "Você não tem que fazer isso se achar muito difícil, Harry."
McGonagall interferiu. "O professor Snape salvou a sua vida, Sr. Potter. Tente pelo menos!" Ela descobriu a ferida no ombro de Snape e Laurel viu Harry estremecer. "Você não precisa tocar nele, apenas chegue perto."
Harry colocou a mão sobre o ombro ferido e olhou para a professora, inseguro. "Assim?"
McGonagall concordou. "Agora você deve chamá-la."
"Chamar quem?" Sussurrou Laurel.
"Ele vai tentar chamar Naga para ele, a cobra que deu o veneno."
Os lábios de Harry se moveram, mas no lugar de palavras escapou um som que lembrou a Laurel um sibilo.
Minerva encorajou o menino a continuar tentando. O corpo de Snape teve uma convulsão e ele gemeu com muita dor. Quando Laurel quis gritar para que Harry parasse fosse lá o que estivesse fazendo, ela viu com olhos arregalados como um líquido preto caía da boca do Mestre de Poções, de suas orelhas, do canto de seus olhos. Parecia sair de cada poro do corpo enfraquecido até ensopar os lençóis. De repente o processo cedeu e Snape se acalmou. Sua respiração se estabilizou.
Harry teve que se segurar em Sirius, que deu umas pancadinhas nas costas do garoto, preocupado.
"Está tudo bem, Harry. Você conseguiu. Foi muito corajoso de sua parte."
Minerva McGonagall assoou o nariz e Laurel viu que o rosto da professora estava coberto de lágrimas. "Eu sei, Sr Potter que você e o Professor Snape têm dificuldades de se relacionar desde o primeiro dia. Mas tenho certeza de que ele nunca quis lhe fazer mal."
"Eu sei disso, professora." Harry deu um débil sorriso e seus olhos verdes estavam mais proeminentes contra o rosto pálido. "Eu espero que ele fique bom em breve." Ele pôs a mão na de Laurel. "Eu realmente espero que ele fique melhor."
Como alguém define "melhor"? Laurel se perguntou, enquanto esfregava os olhos. Remo tinha feito com que ela dormisse algumas horas. Tinha quase arrastado Laurel das masmorras para o quarto dela. Ele prometeu ficar com Snape, que estava melhorando a cada hora.
Assim que o veneno saíra de seu corpo, Snape se recuperava surpreendentemente rápido. Pelo menos se recobrar a consciência e ter uma temperatura normal contasse como recuperação. Quando ele abriu os olhos ele olhou através de Laurel. Ele não reagiu a nada do que ela disse, nem a seu toque. Ele parecia indiferente a Remo ou Sirius, que tentavam fazer com que ele falasse, cada um a sua maneira – Remo sendo gentil e o encorajando a falar, Siris tentando enfurecê-lo. Nenhum dos dois conseguiu algum resultado.
Dr. Jung estava completamente perdido. Tudo o que ele podia dizer é que o estado de Snape não era o mesmo dos Longbottom, o que não era consolo considerando o quão vazio e perdido o paciente parecia. Ele aceitava a comida que lhe era oferecida e água quando era colocada em seus lábios, mas ele nunca demonstrava nenhum sinal de fome ou sede.
Laurel apenas podia esperar que Dumbledore soubesse o que fazer quando voltasse de Londres.
Ela se vestiu e foi para a janela. Do lado de fora o dia prometia ser quente e ensolarado. Uma promessa de primavera pairava no ar. Se ela pudesse convencer Severus de ir lá fora tomar um pouco de ar... Parecia que havia anos que eles tinham saído para passear juntos, mas ele parecia ter gostado desses passeios então. Quando ela se lembrou da tarde no campo de quadribol ela quase chorou.
Quando ela entrou no quarto de Snape ela soube que alguma coisa estava errada assim que abriu a porta. A cama estava vazia e Remo sentado em uma cadeira perto do fogo, olhou para ela com um sorriso sem graça.
"Onde está Severus? Você deixou que ele se levantasse, Remo?"
Ele deu de ombros. "Ele não me pediu permissão. Apenas se levantou e saiu."
"E você não o segurou de volta?"
"Na verdade, ele me enganou. Ele sentou como se estivesse muito fraco para piscar um olho e no momento seguinte, quando eu olhei, ele estava fora do quarto."
Laurel respirou fundo para esconder sua súbita preocupação. "Como assim, fora do quarto? Ele pode desmaiar a qualquer momento e se machucar."
"Ele está na sala de Poções, bem na curva do corredor. Mas ele deve ter enfeitiçado a porta, porque eu não consigo abrir."
Ele não tinha terminado a frase e Laurel já estava no corredor batendo na porta da sala de aula.
"Severus?"
Nenhuma resposta.
"Severus, por favor, fale comigo. Deixe-me entrar." Ela tentou mais alto, mas a porta permanecia trancada.
Remo ficou perto dela e observou a cena de ombros caídos. "Eu tentei antes. Bater na porta não vai ajudar. Temos que encontrar um jeito de derrubá-la."
De repente Laurel sentiu mãos geladas apertarem seu pescoço. "Remo!" Ela grunhiu. Alguém a estava estrangulando sem compaixão.
Quando Lupin virou, ela estava ficando azul no rosto, desesperadamente lutando por ar. Remo pegou sua varinha e gritou. "Deixe-a em paz! Agora!"
Laurel tossiu. Seus joelhos falharam e ela foi caindo, até sentar no chão, encostada na parede.
Remo se moveu protetoramente na frente dela, olhando como se visse alguma coisa ali. "Deixe-a em paz, Sr, ou isso vai lhe trazer serias conseqüências." Ela ouviu quando ele ameaçou. "Não, não é da sua conta, fantasma da Casa ou não! Srta. Hunter não deve ser culpada pelo que aconteceu." Ele levantou a varinha pronto para atacar. "Deixe as coisas como estão, ou o Diretor Dumbledore vai saber que você atacou uma professora. Ela é uma bruxa, por Merlin! Você não tem honra?"
Aquilo pareceu funcionar, porque no momento seguinte a ameaça tinha desaparecido. Remo se ajoelhou ao lado de Laurel e checou as marcas vermelhas na garganta dela.
"Você está bem?"
Laurel respirava pesadamente. "Quem fez isso? Um dos fantasmas?"
Ele concordou e ajudou-a a se levantar. Os joelhos dela tremiam tanto que ela teve que se segurar nos braços dele.
"O Barão Sangrento. Ele parece culpar você pelo estado do Snape."
"E então tentou me matar?"
"Muitas vezes uma ligação muito forte se estabelece entre o Fantasma da Casa e o Chefe da Casa. O Barão Sangrento é conhecido como um dos mais cruéis dos fantasmas da Escócia e Inglaterra, mas eu não sabia que ele era tão preocupado com Snape."
"Ele me insultou quando eu fui embora para Londres." Laurel lembrou. Ela sentiu uma raiva imensa subir pelo seu peito. "Escreveu alguma coisa no meu bloco-fantasma. Ele me chamou de 'vadia' e mandou que eu ficasse e... 'servisse ao Mestre de Poções!'" A sua voz saiu alta e irritada.
"Você tem que entender, ele está acostumado a pessoas... quero dizer... fantasmas, fazerem o que ele quer."
"Não." Laurel cerrou os punhos. "Eu não quero entender mais nada. Eu tenho sido paciente. Eu fiz tudo que me foi mandado fazer. Mas agora estou cansada de tudo isso. Varinhas envenenadas. Feitiços. Parseltongue. Fantasmas assassinos. Já basta, entendeu?"
Lupin olhou para ela parecendo um cachorro que sabia que não merecia a repreensão de seu dono.
"Cale a boca!" Laurel levantou as mãos, palmas para cima, para impedi-lo de argumentar com ela. "Eu tenho que sair daqui!"
