20. Os Mortos
Dumbledore encontrou Laurel no campo de quadribol. Carolyn Frobisher, a capitã da Lufa-Lufa, estava sentada na arquibancada, assistindo Laurel, parecendo infeliz. Aparentemente Laurel tinha feito com que ela abrisse o baú com equipamento, e agora estava rebatendo balaços com mais forca do que habilidade. Enquanto se aproximava cautelosamente, tentando evitar um balaço errante, ele acenou para Carolyn e a garota montou na sua vassoura com certo alívio e voou de volta para o castelo. O diretor silenciosamente premiou-a com 30 pontos por não deixar Laurel sozinha com os balaços perturbados. Quando ele estava em perigo de ser atingido na cabeça por um deles, levantou a sua varinha e as duas bolas pararam no meio do ar.
Laurel largou o taco. Dumbledore colocou os balaços de volta no baú e fechou-o rapidamente para eles não escaparem. Sentando em cima do baú, olhou para Laurel.
"Você nunca foi muito uma fã, não é, menina?"
Ela deu de ombros. "Não."
"Então suponho que você não está aqui para praticar, apenas para bater em alguma coisa."
"Era melhor bater nisso do que em alguém." Ela franziu a testa. "O senhor viu Severus?"
Dumbledore suspirou. "Ainda não. Quando eu cheguei encontrei Minerva, Poppy e um lobisomem muito chateado esperando na frente do meu escritório."
Ela chutou o taco para que ele caísse perto do baú. "Eu lamento ter gritado com Remo."
"Às vezes você tem que gritar, para impedir seu coração de explodir." O velho bruxo disse suavemente. "Não é fácil viver em nosso mundo, não é?"
Laurel respirou fundo e esfregou o rosto. "Como eu posso explicar para alguém que sempre viveu aqui? Como eu posso explicar como eu me sinto, cercada de coisas que eu não consigo ver ou entender? Eu me sinto completamente ignorante. Por que as pessoas ficam curadas apenas porque Harry Potter sibila para elas?"
"Ah! Sr. Potter! Grande idéia de Minerva." Dumbledore sorriu para ela. "Fawkes não pôde ajudar Severus por causa da Marca Negra. Ela liga os Comensais da Morte a Voldemort, e por isso eles não podem ser curados pela magia da luz."
"O veneno saiu do corpo de Severus e tentou pegar Harry." Ela disse. "Foi apavorante."
Ele concordou.
"Laurel, ninguém espera que você seja perfeita. Nós sabemos como você foi criada, e você não está em Hogwarts para ser uma grande mestra de Magia ou ensinar Defesa Contra a Arte das Trevas. Você está aqui porque..."
"Porque você precisava de alguém para salvar Severus." Seu sorriso foi amargo. "E olhe só que belo serviço eu fiz."
"Você me entendeu mal, se pensa que essa é a razão de sua presença aqui. Claro que eu quero que você ajude Severus. Mas ao mesmo tempo ele tem que salvar você."
Laurel se abaixou e começou a colher algumas margarida no chão. "Eu não preciso ser salva."
"Todos precisamos." Dumbledore olhou diretamente para ela, como se visse algo que só ele percebesse.
"É que às vezes eu gostaria de ter crescido aqui, com tudo isso, magia, fantasmas e varinhas."
"E você acha que seria mais fácil?" A atenção dele tinha voltado para ela.
"Severus e eu poderíamos ter nos conhecido mais cedo. Antes que a vida o machucasse e..."
"Antes que machucasse você."
Ela suspirou, mais parecendo um soluço.
Ele deu umas pancadinhas no baú. "Venha, sente comigo, Laurel. Vamos conversar."
"Seu mundo é cheio de dor e angústia. Parece que a destruição paira sobre todos."
"Nem sempre foi assim." O diretor interrompeu. "Você apenas chegou aqui no pior momento possível. Um tempo de preparação para a grande guerra que está vindo. Mas acredite-me, mesmo agora as pessoas se apaixonam, são felizes e têm filhos."
"As guerras sempre parecem acontecer em algum outro lugar no meu mundo. A vida não tinha me ferido, não de verdade. Não se você sabe como outros realmente sofreram: Severus, Harry, Neville. Pelo menos eu tive meus pais, minha família. Eu nunca tive que encarar o mundo sozinha."
"Mas todos temos que encarar, mais cedo ou mais tarde."
"Mesmo assim, eu tenho tido sorte..." A voz dela foi desaparecendo e ela manteve seu olhar em outra direção.
"E isso?" Ele pegou o pulso esquerdo dela e gentilmente tocou uma cicatriz clara. "Houve um momento em que você não se sentiu que tivesse sorte."
Laurel sacudiu a cabeça. A lembrança tinha desaparecido como as cicatrizes. "Eu era jovem, mal tinha feito dezesseis. Foi um romance de adolescentes, muito mais da minha parte do que da dele. Para ele eu era... apenas uma amiga. Mas para mim, ele era... tudo."
"Muitas emoções que você não podia conter."
"Talvez." Ela olhou para as cicatrizes e então para Dumbledore. "Eventualmente ele terminou. Era como se ele tivesse me empurrado para um abismo, escuro, sem fim. Eu caí e não havia ninguém para me segurar."
Ele pacientemente esperou que ela encontrasse as palavras. "Eu queria parar de sentir aquilo e só havia uma maneira que eu soubesse. Uma fuga covarde. Você deve achar que eu devia ter aprendido alguma coisa. Mas com Ben e Severus naquela sala, eu não vi outra saída novamente." Ela disse amarga.
Dumbledore gentilmente tocou o rosto dela, afastando as lágrimas.
"Não. A primeira vez você encontrou um jeito de fugir dos seus problemas. A segunda vez você estava pronta para se sacrificar. Eu não posso julgá-la pelo que fez quando era muito jovem e desesperada. Mas sacrificar a sua vida por alguém que você ama é uma decisão que você não pode menosprezar. Você foi muito corajosa.
"Corajosa!" Ela zombou. "Sim, é verdade. O senhor devia ter me visto, eu quase desmaiei quando o Dumbledore do meu apartamento se transformou em Ben!"
O diretor riu. "Bem, eu também teria desmaiado." Ele ficou sério novamente. "Minerva e eu vínhamos discutindo há anos que tipo de mulher seria necessária para fazer Severus... feliz."
"Obviamente não o meu tipo."
"Não, minha criança, você não fez nada errado. Pelo contrário, você fez muito melhor que nós podíamos ter esperado. Minerva sempre teve medo que ele se apaixonasse por uma jovem, alguém tímida e sensível e frágil. Alguém que ficasse apavorada pelo cinismo dele. Alguém que deixasse que ele se fechasse em sua concha quando tivesse vontade."
Laurel olhou para ele e deu uma sombra de sorriso. "Bem, eu certamente não fiz isso. Eu o abandonei quando ele precisava de mim aqui. Eu devia ter sido mais paciente."
"Não, ele precisava dar aquele importante primeiro passo. Ele foi a Londres para admitir que precisava de você. E você, Laurel, você aprendeu a não manter confinado aquilo que conquistou. Você assegurou que você precisava se dar."
"E tudo o que dei a ele foi uma varinha envenenada no ombro. "
"Você não é responsável por isso. Foi Ben quem o atacou, não você."
"Então, por favor, me diga, por que Severus não fala comigo, então? Por que ele olha através de mim como se não me visse?"
"Você realmente não se lembra?"
"Lembro o que?"
"À noite, quando Ben usou você como uma isca para pegar Severus?"
"Eu só me lembro que eu não conseguia falar ou me mover. Mas eu podia ver. Eu vi Severus aparecer. Ele lançou "Finite Incantatem " em mim."
"Para desfazer o feitiço que amordaçava você."
"Mas assim que minhas mãos se soltaram eu não consegui ouvir mais nada. Eu estava completamente surda."
"Mais alguma coisa que você se lembre?"
"Eu senti aquele incrível vazio. Como uma sangria, levou embora todo o calor e alegria. Como uma nuvem negra avançando em direção a Severus. Eu sabia que aquilo iria engoli-lo eventualmente."
"Então você subiu no batente da janela."
"Eu não conseguia mais tolerar a dor nos olhos dele."
"Você tentou se matar, para fazer aquilo parar?"
Ela mordeu o lábio.
"Ben lançou vários feitiços em você, Laurel. Alguns pequenos e fáceis de reconhecer e desfazer. Como o feitiço que deixou você muda. Mas ele também lançou um Feitiço Proibido que estava esquecido há muitos anos. Um feitiço que certamente vai fazê-lo enfrentar os dementadores em Azkaban algum dia."
"Ele me fez mover... meus lábios."
"Não apenas isso. O feitiço fez você falar, apesar de não ouvir nem lembrar uma palavra do que você disse."
"Como isso é possível?"
"Não era você falando realmente. Era Severus."
"Severus?"
"Você apenas funcionou como um eco dos maiores medos dele."
Ela cobriu a boca, em horror. "Não."
"E imagine o que fez a ele, ouvir de você que não era merecedor do seu amor... Que ele nunca teria uma família. Que você nunca iria querer uma criança dele – com medo que ele abusasse de seus filhos como o pai abusava dele."
"Abusava dele... Mas eu nem sabia a respeito do pai dele! Ele nunca me contou."
"O que você disse não tinha nada a ver com o que você sabe ou não. Mas tudo a ver com o que Severus sente e teme. Julian traiu qualquer confiança que seu filho colocou nele. É compreensível que Severus tema que possa vir a fazer o mesmo se um dia vier a ter um filho."
"Por favor, pare!"
Mas Dumbledore tinha que continuar. "Você o acusou de ser um Comensal da Morte e que ele nunca iria mudar. Que eu realmente não confiava nele, mas apenas me aproveitava dele para derrotar Voldemort. E que você não podia mais suportar o toque dele."
"Como você sabe tudo isso, diretor?"
"Eu não estive lá, mas eu conheço Severus desde que ele era um menino. Então eu posso adivinhar alguns de seus medos. Mas eu temo que você deve ter dito coisas ainda piores, coisas escondidas tão fundo no coração dele que nem mesmo ele sabia."
Laurel ficou arrasada. Como ela poderia consertar as coisas entre eles depois das coisas que tinha dito?
"Ele sabe? Ele sabe que foi um feitiço e não minhas próprias palavras?"
"Ainda não." Dumbledore sacudiu a cabeça. "Eu acabei de voltar de Londres e achei tudo tumultuado. Severus trancado em sua sala de aula. Madame Pomfrey ia explicar a ele sobre o feitiço, mas achou que ele não estava pronto ainda."
"Mas se o senhor falar com ele..."
Ele acariciou a barba e empurrou os óculos para cima de seu nariz. "Você sabe sobre o passado de Severus como um Comensal da Morte." Ele falou.
Ela concordou.
"O Lord Voldemort metodicamente tira todas as emoções de seus seguidores, todas as suas esperanças – até que a única coisa que resta é toda a lealdade a ele. Severus foi mais forte, mais persistente, e graças ao laço entre vocês, ele durou muito mais. Seu amor, a esperança de uma vida com você, fez com que ele prosseguisse – mesmo que ele não pudesse admitir isso para ele mesmo, até bem pouco tempo."
"E agora eu tirei isso dele..."
Ele pegou os ombros dela e a sacudiu com forca. "Não! Não faça isso consigo mesma! Não foi sua culpa e você não vai poder ajudá-lo se deixar a culpa devorar seu coração."
"Mas e se eu ferir Severus ainda mais? O que vai acontecer se eu for a pessoa errada para ele?"
Ele deu um suspiro exasperado. "Vocês crianças, acham que eu sei de tudo. Bem, eu não sei. Eu não posso prever o futuro. Tudo o que posso fazer é ter esperança. E você também."
O diretor ficou de pé e pegou a mão dela.
"Você deve decidir agora, querida menina. Esta decisão deve ser final e não pode ser revertida. Você deve estar ciente de que Severus provavelmente, nunca sairá de Hogwarts, mesmo se nós ganharmos a guerra que está para começar. Com os conhecimentos de Poções ele conseguiria facilmente emprego em qualquer laboratório no mundo dos bruxos. Porem esse é o único lugar que dá a ele paz de espírito. Portanto, se você acha que não pode viver aqui, se você sofreria..."
"Eu sofreria muito mais sem ele." Ela disse com uma recém adquirida calma.
"Você aceirará sua força e responsabilidade que vem com ela? Você vai amá-lo? Quebrado, machucado e cheio de problemas como ele é?"
Ela sorriu levemente para ele. "O senhor o ama dessa maneira também, não é?"
Ele sorriu de volta para ela. "Eu nunca tive um filho. Eu vi muitas crianças crescerem aqui em Hogwarts, e algumas delas... bem, são mais que alunas."
O rosto de Laurel ficou sério. "Eu amo Severus."
"Então vamos chamá-lo à razão. Espere por mim na escada para a minha sala. Eu tenho uma coisa para dar a vocês dois. Eu vou pegar Severus."
"Mas ele não vai abrir a porta. Ele não me deixou entrar. Nem eu nem Remo."
"Mas ele vai me ver. Ele não terá escolha."
Severus Snape estava de pé no meio da sala de aula. Mas ele não via nenhuma das carteiras, nem das penas largadas sobre as carteiras depois que a aula tinha acabado. Ele não sentia o cheiro dos experimentos que tinham dado errado. Ele estava de pé, cercado pelos mortos.
Quem havia falado que os mortos eram silenciosos? Ele sabia bem. Por anos eles haviam perseguido suas noites e agora eles finalmente faziam isso durante o dia. E eles nunca pararam de lembrar a ele o que eles tinham feito e as vidas que ele tinha acabado a serviço de Voldemort.
Seu ombro doía e suas costelas também. O desespero subiu por sua alma e se espalhou.
"Você está quase lá." As vozes sussurram. "Morto."
"A Marca Negra nunca irá embora. Está comendo você por dentro."
"E agora você está totalmente vazio." As vozes sussurraram maliciosamente. "E frio."
"Pior do que morto."
"Você falhou conosco, Mestre de Poções."
"Eles estão certos, Severus."
Snape virou bruscamente e viu Dumbledore. Aparentemente o diretor havia aparatado na sala.
"Agora não, Albus. Fique fora disso."
O bruxo mais velho não prestou atenção às palavras de Snape. Ele ficou próximo a ele e apontou para o canto da sala. "Aquele ali atrás, o que ele acabou de falar? Que você está pior do que morto?"
"Você... consegue vê-los?"
O Diretor concordou gravemente.
"Não é da sua conta, Albus." Snape resmungou. "Vá embora."
"Eu fiz isso da minha conta quando eu acreditei em você naquela noite que você veio até mim e confessou estar com Voldemort. Eu fiz isso passar a ser da minha conta, naquele momento."
Um silêncio pesado encheu a sala, até os mortos pareceram ouvir com curiosidade.
"Eu achei que ia conseguir." Snape falou. Ele não conseguia encarar Dumbledore nem os mortos que enchiam as carteiras. Então ele fechou os olhos. "Eu estava disposto a me arrepender."
"Foi por isso que eu ofereci a você o posto de Mestre de Poções."
Snape zombou, uma fraca lembrança do seu jeito cínico de ser. "Para me fazer pagar pelo que eu tinha feito de errado."
"Para fazer você ver o que tinha dentro de si... Você é um bom professor, Severus. Existem alunos que teriam escolhido o lado das Trevas se não fosse por você."
"Ah, por causa da minha paciência, eu presumo. Ou minhas maneiras delicadas."
A boca de Dumbledore se curvou. Mas ele permaneceu sério. "Pelos padrões altos que você estabelece. E pela paixão com que você ensina. Quero dizer, Poções! Uma ciência exata. Todos os alunos a detestam. Mas eles reconhecem que você - tão distante, tão frio – é apaixonado sobre o assunto. Então deve ter alguma coisa de interessante nisso, eles pensam. Algo que eles querem descobrir por si mesmos."
Os mortos aplaudiram sem emitir som.
"Eu aceitei o posto para reparar meus erros."
"E você o fez. Não com sofrimento. Mas vivendo." Ele pousou a mão frágil, mas surpreendentemente forte no ombro de Snape e o fez virar. "Olhe para eles, Severus."
"Eu não preciso. Eu conheço seus rostos. Cada traço deles."
"Olhe para eles, Severus."
Snape abriu os olhos. Os mortos ficaram de pé e encontraram seu olhar pacientemente.
"Eles sentem que você falhou com eles."
"Eu falhei."
"Talvez. Mas não por permanecer vivo. Por morrer por dentro. Por deixar isso acontecer, permitir que o Frio e as Trevas o invadissem e matassem tudo de calor e vida que existia em você."
"Você não entende, Albus." Snape puxou o ombro e cerrou os punhos. "Eu não tenho direito de viver. Eu me assegurei de que eles não viveriam."
"Não, quem não está entendendo é você! Quem vai se lembrar deles quando você estiver morto? Quem vai cuidar deles? Eles se sentem traídos porque você não quer viver por eles. Você deve isso a eles. Você é a conexão deles com esta vida. Mas você está desistindo."
Dumbledore sentiu a aprovação da audiência. "Os pesadelos pararam há algum tempo atrás, não foi? Os mortos ainda apareciam em seus sonhos, mas não ameaçavam mais você. É porque eles notaram que você estava feliz. Eles não querem vingança, meu menino. Eles sabem que isso não os traria de volta. Eles apenas tentavam fazer com que você não tirasse outra vida. A sua própria."
Severus não ia desistir.
"Não." A única palavra foi falada com tanto desespero que fez o coração de Dumbledore tremer.
"Você diz ser meu amigo, Albus, mas não deixe a amizade interferir na sua visão. Eu fui um Comensal da Morte, por Merlin! De alguma forma eu ainda sou. Eu posso ter esquecido disso enquanto Laurel estava comigo. Mas então ela me lembrou..."
"Não foi Laurel que falou. Foi Sodem." Dumbledore não desistia. "O Eco de Sodem."
Snape o encarou."O Feitiço Proibido perdido? É muito antigo, esquecido. Ninguém sabe as palavras exatas."
"Aparentemente alguém sabe. E ensinou o Sr. Olsen a usá-las."
"Ben? Ele estava por trás de tudo?"
"Alguém mais poderoso e mais velho que Ben. Você encontrou Laurel amarrada a uma cadeira. Ele tentava falar mas parecia amordaçada por um feitiço, não é verdade?"
"Sim."
"Então você usou o "Finite Incantatum" para reverter o último feitiço?"
"Sim."
Snape estreitou os olhos com suspeita. "Eu afastei o silêncio apenas para dar passagem a outro feitiço? Por que ele não usou o Imperius em mim? Ou um taco de cricket dos trouxas?"
"O Imperius exige muita energia. Mais do que Ben possuía. E a intenção do feitiço não era matá-lo imediatamente, mas causar tanta dor quanto possível. Oh, quem quer que tenha feito o plano, conhece sua mente. O Eco foi usado para fazer você matar Laurel. Talvez me matar – ou quem você pensava que era eu. E cometer suicídio ou se entregar em Azkaban. No estado em que você ficaria, poderia sobreviver muitos anos e teria sofrido muito. A lembrança de ter matado Laurel teria eventualmente destruído você – mas bem devagar."
"Por que eu a mataria? Por me dizer a dura verdade? Por me fazer ver a realidade?"
Impaciente, Dumbledore levantou as mãos e falou um palavrão usado pelos trouxas que ele tinha ouvido em algum lugar. "Severus, eu sempre pensei que você fosse um homem racional! O Espelho de Ojesed nos mostra a realidade? Não! O Espelho nos mostra o que queremos ver. O Eco nos faz ouvir o que nós tememos. O medo é um dragão muito difícil de ser derrotado."
Snape ficou ali de pé, deixando as palavras penetrarem em sua mente. Ele encarou os mortos.
"Eu senti que era... verdade."
Um suspiro tremeu através do quarto.
"Porque estava em você. Seus próprios medos. Você pode acreditar nas palavras de Laurel porque ela apenas falou o que estava gritando de dentro de você."
Snape soltou a respiração devagar.
"Como eu posso ir a ela pedir para ficar comigo, se tudo o que posso oferecer são meus medos e pesadelos?"
Vozes começaram a sussurrar, não mais furiosas, mas confortadoras. Os mortos se reuniram em volta de Dumbledore e Snape até que os dois ficassem cercados de rostos transparentes e pedintes.
"Os pesadelos não vão aparecer novamente a menos que você decida permanecer levando a vida como um morto vivo." Alguns dos mortos se aproximaram e tocaram o braço de Snape, mas seus dedos passavam por sua carne e osso. Os mortos concordaram.
"Quanto aos seus medos, agora você os conhece, você pode encontrar alguma coisa que os possa derrotar. O amor de Laurel, por exemplo. Se você aceitar isso, se você deixar que ela ame você, os medos vão desaparecer. Eu disse a vocês dois antes – é uma questão de preencher as fraquezas um do outro. Droga, Severus! Ela teria pulado daquela janela para impedir Ben de continuar ferindo você. Não desperdice essa chance, meu rapaz."
Snape baixou a cabeça.
Sem um ruído, Dumbledore aparatou da sala.
E enquanto os mortos começaram a sair, Snape ficou ali parado, sentindo seu coração voltar à vida. Doía, mas dessa vez a dor era bem vinda.
Então o Mestre de Poções saiu das masmorras para encarar seus medos, e pior – seus desejos.
Laurel, Sirius e Remo estavam de pé no início das escadas que levavam à sala de Dumbledore. Quando eles viram Snape, os dois bruxos deram um passo para o lado.
O Mestre de Poções estacou e encarou Laurel, e ela permaneceu parada, sua mão segurando o corrimão, encarando Snape.
Então, ao mesmo tempo, ele deu um passo incerto para frente e ela também. Como se movidos por uma força invisível eles se encontraram e ficaram parados, os dois inseguros quanto ao que fazer agora. Os olhos escuros de Snape queimavam, não estavam mais vazios. Laurel suspirou aliviada e pegou o rosto dele com as duas mãos. Por um momento Snape fechou os olhos, então baixou a cabeça, até que sua testa tocasse a dela.
"Eu sinto muito." Ela sussurrou.
"Por salvar a minha vida?" Ele perguntou rouco e a trouxe mais para perto.
"Por dizer o que eu disse."
"Era o Feitiço, não você."
"Não. Não era eu."
"O que eu falei para você, antes que o feitiço me atingisse, veio do fundo do meu coração."
"Eu não ouvi nada do que você falou. Você vai ter que começar tudo novamente."
E então eles ficaram ali, a cabeça dela aninhada no ombro dele, o rosto dele enterrado nos cabelos dela.
Pigarreando bem alto, Sirius bateu nas costas de Snape.
"Dumbledore disse para vocês entrarem assim que estiverem prontos. Não precisa de senha. Não o deixem esperando. Ele está muito agitado sobre alguma coisa a ver com o velho bruxo, Leander."
Laurel e o Mestre de Poções subiram as escadas.
Remo ficou olhando até eles entrarem no estúdio, então se virou para Sirius.
"Bem?"
Sirius se rendeu. "OK, eu admito. Ela é boa para ele."
Remo apenas virou a cabeça para um lado. "E?"
"Você ganhou."
Seu amigo estendeu a mão e levantou uma sobrancelha.
"O que mais você quer? Eu já disse. Você estava certo e eu estava errado."
"Cinqüenta galeões."
Sirius resmungou e procurou pelo dinheiro em sua manga.
"Em breve eu vou ser um homem casado, eu precisarei de dinheiro." Disse Remo.
Black se sacudiu com o riso. "Você, casado? Serene já sabe da sorte dela?"
"Ainda não." Remo deu um sorriso de lado. "Mas em breve. Se esses dois conseguiram, nós também conseguiremos."
Nota da Autora: Para todos os leitores que continuam fiel à essa fic maravilhosa, mesmo com todos os atrasos que ocorreram durante o ano, eu reservei uma surpresa. Na próxima atualização, vocês encontrarão não apenas um ou dois novos capítulos. Mas os últimos quatro capítulos de Voltando a ser um so - Severus! Considerem isso um presente de fim de ano... E um muito obrigado pelo apoio que deram ao meu trabalho de tradução...
Beijos
Harue-chan
