21. O Mapa de Leander – Parte 1
Dumbledore esperava por eles em sua sala. Mas ele não estava sozinho. Um bruxo pequeno, frágil pela idade estava sentado à mesa, um longo pergaminho em frente a ele. Quando Snape e Laurel entraram, ele olhou para cima. Os olhos dele eram embaçados como vidro branco. Laurel percebeu, com um choque, que ele era cego.
O Diretor sorriu para eles. "Ah, aí vem o feliz casal."
Snape deu-lhe um olhar que teria levado qualquer estudante às lágrimas. Laurel apertou a mão dele, para tranqüilizá-lo.
Eles se sentaram enquanto Dumbledore ajudava o velho bruxo a abrir o pergaminho sobre a escrivaninha. Quando os quatro cantos dele estavam presos por um feitiço, o bruxo cego conjurou dois vidros de tinta e uma pena. Então ele falou pela primeira vez.
"Estou pronto, quando você quiser, Albus."
Dumbledore pigarreou. "Laurel, Severus, deixem-me afirmar mais uma vez que estou muito feliz que vocês tenham superado o que se passou."
Laurel sorriu para ele com adoração. Se não fosse pelo sábio bruxo, ela e Snape ainda estariam separados e teriam se perdido para sempre.
"Eu pensei sobre um presente de casamento apropriado por um bom tempo."
Essa foi uma das raras vezes que Laurel viu Snape corar.
"Ou se vocês, como tantos jovens de hoje em dia, decidirem 'viver juntos', também. Apesar de eu realmente adorar casamentos. Sempre existe um grande bolo em um casamento."
Snape balançou a cabeça veementemente. "Albus, você já nos deu mais do que..."
O Diretor levantou a mão. "Deixe-me acabar. Mais do que tudo eu gostaria de dar a vocês algo para garantir a sua felicidade. E por várias conversas que tive com vocês, concluí que só existe uma coisa que vocês lamentam."
"Eu só lamento o tempo que perdemos." disse Snape. Laurel virou para ele e acariciou suavemente a sua bochecha.
Dumbledore concordou. "O tempo que vocês perderam. Vocês dois acham que se Laurel tivesse vindo para Hogwarts quando era uma criança, vocês teriam se conhecido como alunos. E vocês dois lamentam esses anos de amor que vocês dois têm certeza que teriam. Vocês acham que poderiam ter se protegido um ao outro das flechas que a vida ia lançar sobre vocês."
Laurel balançou a cabeça.
"Deixem-me apresentá-los ao meu velho amigo e irmão nas armas, Leander DeVere. Nós lutamos contra Grindelwald em 1945, não foi, Leander?"
O velho bruxo mostrou um sorriso enorme, mas sem dentes. "Aqueles foram os bons tempos, Albus."
"Leander aqui é um cartógrafo."
"Um cartógrafo?" Severus olhou admirado para o homem atrás da escrivaninha. "Existem muitos poucos bruxos que têm essa habilidade!"
"Explique." Laurel pediu impaciente. Com a sua decisão de ficar em Hogwarts ela havia aceitado o fato de que todos os dias alguma coisa nova poderia acontecer, algo que ela não teria o menor conhecimento. Severus vinha sendo um professor paciente e confiável para ela até agora, ela só podia esperar que ele não perdesse a paciência no futuro...
Mas dessa vez Dumbledore resolveu ele mesmo explicar o termo desconhecido. "Um cartógrafo desenha, como a palavra sugere, mapas. Mas não mapas de países."
"Alguma coisa a ver com o Mapa do Maroto de Hogwarts?"
"Ah, eu ouvi falar nisso, sim. Belo trabalho, especialmente se você levar em consideração que foi produzido por simples alunos. Mas não. Seu Mapa do Maroto apenas mostra o que é. Meu mapa mostra o que poderia ser. Mapas de vidas alternativas." Leander respondeu e apesar de cego olhou direto para Laurel.
"Um cartógrafo competente pode desenhar um mapa que mostra qualquer volta da vida da pessoa. E mais. Ele pode desenhar vidas que não aconteceram." Snape acrescentou.
Laurel franziu a testa.
"Todas as nossas ações têm conseqüências." Dumbledore continuou. "A questão é – se você virar à 'direita', o que acontece com a 'esquerda'? Existe um Eu alternativo que vira à esquerda sem pensar em outra possibilidade? Cartógrafos podem desenhar até mesmo estas vidas alternativas. Eles podem mostrar a você – não, eles podem deixar que você experimente – como essa outra vida seria."
Levou algum tempo para que Snape e Laurel entendessem completamente o que Dumbledore oferecia a eles.
"O que o senhor quer dizer com ele nos deixaria ver e experimentar essa vida, Diretor?" Snape disse finalmente.
"Não é uma opção, Albus." Leander falou muito firme. "Eu disse a você antes, ou eles seguem todo o caminho ou eu não posso fazê-lo."
Dumbledore acariciou sua longa barba branca. "Eu concordo com Leander. Alguns cartógrafos somente deixarão você ver aonde sua linha da vida vai a partir de um determinado ponto em diante. Mas eu acredito que a vida tem que ser vivida, experimentada. Mesmo que essa experiência seja muito rápida e remota."
"Desculpe-me." Laurel se levantou e olhou para o pergaminho "Eu ainda não entendo. O mapa de Leander mostra uma vida que nunca tivemos e nós vamos saber como nos sentiríamos nela? É isso o que o senhor quer dizer?"
"Exatamente, minha querida." Dumbledore apontou para dois pontos no mapa, um azul, um verde, os dois em pontas opostas. Linhas como teias de aranhas apareceram no pergaminho, se cruzando e girando, até finalmente se juntarem em uma forte linha azul-verde e pararem. "Esta é a vida que vocês viveram até agora. Vejam bem, Leander não vai lhes mostrar o futuro."
Admirada, Laurel olhou para Leander, cujo olhar cego encontrou o dela com irritante certeza. "Mas ele seria capaz?"
"Eu posso mostrar a você um futuro, menina. Da mesma forma que existem muitos passados alternativos, existem muitos futuros alternativos. As linhas da vida não são retas, elas lembram uma teia, e às vezes muitas dessas linhas acabam no mesmo ponto. E desse ponto, várias outras linhas se formam à frente."
"Como Serene pôde ver apenas um futuro. Aquele em que você me matava. Mas, como sabemos, nesta vida você decidiu não matar, Severus. Por essa razão Adivinhação nunca será uma ciência exata."
"Mas Serene chegou bem perto." Murmurou Laurel.
"Considerem este o meu presente de casamento para vocês. Leander vai deixá-los experimentar a vida que vocês teriam tido, se suas linhas da vida tivessem se cruzado há vinte e cinco anos atrás em Hogwarts." Dumbledore olhou intensamente para Snape e Laurel. "Mas existe uma condição. Uma vez que nós começarmos, vocês vão ter que ir até o final. Vocês não podem voltar se as coisas forem menos agradáveis do que esperavam."
Snape pegou a mão de Laurel e a segurou, acariciando a sua palma sem jeito. Como sempre quando ele fazia isso, ela sentiu seu coração ir na direção dele. Ela se virou para Dumbledore. "Então, se nós aceitarmos, vamos nos lembrar de tudo depois?"
Dumbledore concordou. "Vai parecer a lembrança de um sonho ou uma história que você ouviu. Mas sim, você vai lembrar."
"Nós vamos fazer, então." Ela pegou a mão de Snape.
Ele fechou os olhos por um momento. Quando tornou a abri-los, eles mostravam todo o amor e ternura que sentia por ela, sem nenhuma reserva. Ele olhou para Dumbledore. "Nós aceitamos a o seu presente generoso, Diretor."
"Então não vamos mais perder tempo." Disse Leander e pegou sua varinha. "Albus, eu preciso de uma gota de sangue de cada um deles."
Tão rápido que nem Laurel nem Snape puderam protestar, Dumbledore murmurou um feitiço. Laurel olhou para seu dedo indicador onde um minúsculo corte tinha sido aberto, quase sem lhe causar dor. Dumbledore colocou o sangue no pote de tinta azul. O de Snape foi para o de tinta verde.
Leander levantou sua pena. "Agora tudo o que vocês têm a fazer é colocar suas mãos em cima do pergaminho."
Animada, Laurel tocou o agora vazio pergaminho. Não parecia um pergaminho de maneira alguma. Parecia… vivo, pulsante.
"Agora, onde nós estamos?" O cartógrafo murmurou. "Aqui é 'agora'. Mas onde fica 'então'? Não, aqui está muito cedo. Ah, aqui está."
Ele encontrou um ponto azul no canto de baixo do pergaminho e o ponto verde logo à direita dele. Então ele virou a varinha e Laurel sentiu sua consciência se dividir. A sensação era surpreendente. Ela ainda era ela mesma, podia sentir a presença de Snape, ouvia o fogo crepitar. Ao mesmo tempo ela se via como uma garota de onze anos. Não… ela se sentia como uma garota de onze anos. E mais surpreendente ainda, ela se sentia como um garoto de doze anos também. As sensações e emoções a engasgaram e ela teve vontade de pedir ajuda.
Dumbledore colocou a mão no ombro dela. "Devagar, criança. Concentre-se e você vai conseguir manter a consciência separada."
Com um grande esforço ela conseguiu virar a cabeça e olhar para Severus. Seus olhos estavam preocupados. Ele tomou a sua mão livre e a confortou. "Nós estaremos juntos."
"Você sente... como se fosse eu?"
Ele concordou. "É o mais interessante de tudo."
Ela respirou fundo. "Eu estou bem. Podemos continuar."
O mundo se separou novamente.
Laurel olhou através do jardim e tentou não encarar o menino. Ele era alto, cabelos escuros e sempre fechado em si, mesmo todas as vezes que olhava para ele. Sendo uma aluna do primeiro ano, ela somente sabia que ele era da Sonserina por causa das vestes que usava, mas ela já ouvira algum de seus colegas da casa falarem o nome dele, Severus Snape, e a maioria dos alunos da Corvinal o temiam ou o odiavam.
Severus atravessou o gramado em direção à biblioteca. Ele sentia a menina da Corvinal olhar para ele e deu de ombros. Ele sabia o que murmuravam pelas suas costas. 'Idiota. Arrogante. Bruxo do Mal.' Era apenas o seu segundo ano em Hogwarts e tinha alcançado notoriedade muito rápido. Ele não ligava. Seu cotovelo doeu e ele puxou as mangas das vestes para que ninguém pudesse ver as manchas roxas.
Dumbledore sentiu o pulso de Laurel. "Como se sente, minha querida?"
"Eu estou bem." Ela assegurou
"Severus?"
Snape concordou, seus olhos levemente embaçados. Ele reconheceu que seus sentimentos eram os mesmos daqueles dias distantes como aluno. Até onde podia ver, aquele não era um passado alternativo, mas o dele mesmo. Menos o fato de conhecer os sentimentos de uma menina nos seus primeiros dias de aula. Mas naquela época Laurel não estava em Hogwarts.
Cenas passaram rapidamente como relâmpagos.
"Sr. Snape, estou muito desapontado. Sendo um aluno do sexto ano, você deveria conhecer as regras! Eu devo informar ao seu Chefe da Casa e ao Diretor."
Severus empalideceu. Dumbledore tinha explicitamente proibido que ele entrasse na seção restrita da biblioteca a menos que um professor o acompanhasse – e tomasse conta dos livros. E agora isso! Ele certamente seria expulso. A mera possibilidade de ser mandado para casa depois de apenas três semanas sem ter chance de jamais voltar… A casa onde seu pai estava … Ele se sentiu mal.
A professora Clemens o encarava, seus óculos no alto da cabeça. Eles estavam no que restava da casa de vidro. Pedaços de madeira e vidro enchiam o chão. A poção que Severus tinha feito em segredo tinha explodido tão violentamente que pedaços do telhado tinham ido parar a centenas de metros dali.
"Foi minha culpa, professora." Disse uma voz tímida.
Severus revirou os olhos. Não ela novamente! Não a pequena Corvinal que o seguia como um cachorrinho. Ultimamente ele tinha a nítida sensação de que ela o estava espionando, porque para todo lugar que fosse, ela já estava lá. Ele tentava assustá-la para que se afastasse, mas ela parecia imune às suas piadas cruéis. Ela até ousava defender os infortunados que se tornavam objeto de sua raiva.
"Srta. Hunter?" A professora Clemens franziu a testa. "Não me diga que você tomou parte nisso! Roubar um livro restrito, manusear explosivos fora do laboratório de poções. Destruição de propriedade da escola."
"Eu não tomei parte nisso, Professora." Laurel disse.
Severus cerrou os punhos. Da mesma forma que ele detestava a idéia de ser salvo por aquela menina tão diferente – por um momento ele se sentiu perdoado.
"Foi minha idéia e eu fiz tudo sozinha. Ele" Laurel apontou para o menino que a observava sem acreditar "estava apenas me espionando."
Severus a encontrou em uma das estufas no dia seguinte. Ela estava sentada em um banco de madeira, uma pilha de potes e vasos na sua frente, chorando silenciosamente.
Ele pigarreou. "Laurel?"
Ela não olhou para cima, continuou plantando e soluçando.
Ele se sentou perto dela no banco de madeira.
"Eu... peço desculpas." Não foi fácil de falar mas ele falou o que realmente sentia. As lágrimas dela o apavoravam. Ela sempre havia sido uma criaturinha forte, sempre pronta para defender os outros e se manter firme. Ele nunca a tinha visto chorar, nem mesmo no ano anterior quando ele ateara fogo nos livros favoritos dela para fazer com que ela parasse de segui-lo.
Ela fungou. Seus olhos estavam inchados e sua voz tremeu quando ela respondeu. "E você liga?"
Severus passou a ela um lenço. "Eu não te pedi para mentir por mim."
"Eles teriam expulsado você."
"E?"
Ela assou o nariz e fungou. "Teria sido injusto. Eles tentam nos afastar do conhecimento."
"Ah, uma verdadeira Corvinal falando!"
"Não deveria haver uma seção restrita na biblioteca. Dessa maneira eles somente forçam você… alguns de nós… a tentar as coisas em segredo. Eu tive que pegar emprestado alguns livros de História uma vez que o Professor Ranke me considera muito jovem para lê-los."
Ele pensou a respeito. Poções era o único assunto que realmente o fascinava. E ele estava muito à frente de suas aulas e isso o aborrecia demais. Talvez ela estivesse certa.
"Então qual foi a sua punição?"
"100 pontos. Isso é ruim. Mas ainda existe a estufa danificada. Meus pais nunca poderiam pagar o conserto. Dumbledore teve pena e me deixou pagar com o meu trabalho. Eu vou cuidar das estufas nos meus tempos vagos. O ano inteiro. Provavelmente pelo resto da minha vida."
Ele olhou para ela. "Eu tenho dinheiro. Eu pagarei pelo estrago."
"Ah, dane-se, Snape." Ela cuspiu e jogou o lenço na cara dele. "Guarde seu dinheiro e suas desculpas para você mesmo. Nem todos os problemas podem ser resolvidos com dinheiro!"
Ele calmamente pegou o lenço e se perguntou porque não sentia aquela raiva fria que aparecia sempre que alguém o insultava.
"De que você está falando?"
"Eu vou gastar meus tempos vagos nas estufas e por causa disso vou reprovar em Poções. Minhas notas estão baixíssimas e se eu não tiver tempo para estudar, vou ser reprovada com certeza."
"Reprovada?" Ele zombou. "Você é uma Corvinal. Seu tipo estuda até cair. Eles não ficam reprovados em nenhuma matéria. Bem, talvez em quadribol, mas nada que você possa aprender pelos livros."
"Mas Poções! Eu simplesmente não entendo. Eu tentei, eu li o raio do livro várias e várias vezes. Só que as coisas não parecem se encaixar. E agora eu não vou mais ter tempo extra para estudar."
Ele olhou para o distante pôr do sol. "Eu poderia ajudar você. Eu sou bom em Poções."
Ele vinha para a estufa todas as tardes e sentava em uma das mesas com o livro dela de Poções em seu colo. Enquanto ela limpava os vasos, plantava e cuidava das plantas que a Professora Fern mantinha nas prateleiras, ele lia para ela as lições. E ele começou com a primeira, bem básica.
"Como você conseguiu chegar ao quinto ano sem entender a reação de incenso com a mica?"
Ela deu de ombros "Eu posso recitar as receitas de cor. Para mim era o suficiente."
"Mas você nunca se perguntou como elas funcionavam?"
Laurel deu uma rápida olhada para ele. Ela gostava de ver a expressão apaixonada no rosto dele. Por mais frio e distante que ele pudesse parecer, quando ele falava de Poções uma chama se acendia em seus olhos.
"Sr. Snape, você está desenvolvendo uma especial atração pelas estufas?" Os olhos do Diretor Dumbledore eram sempre azuis e gentis como os de um bebê. Severus rangeu os dentes. Ele tinha sido tão óbvio?
"Eu não tenho a menor idéia do que o senhor está falando, Diretor. Eu estava apenas dando um passeio."
"Eu seria a última pessoa a desencorajar meus alunos de fazerem exercício físico." O velho bruxo sorriu. "Apenas não fique do lado de fora até escurecer, está bem?"
Severus ficou ali, muito tempo depois que Dumbledore saiu. Ele cerrou os punhos. Como podia ter sido tão estúpido. Gastar horas de seu precioso tempo para tentar colocar a exata arte de Poções na cabeça daquela garota. Será que estava enfeitiçado? James Potter finalmente tinha encontrado um jeito de expor seu arqui-inimigo ao ridículo de todos os Sonserinos por perder seu tempo com uma Corvinal? Com uma súbita suspeita ele pegou sua varinha de dentro da manga e murmurou "Declaratio!" Se houvesse algum feitiço sobre ele, o feitiço Declaração iria revelá-lo. Ele escutaria um sino de aviso. Mas ele não escutou nada.
Ele se afastaria dela. Ele já tinha problemas suficientes do jeito que estava. Somente cinco semanas até o Natal e ele ainda não estava certo se ia conseguir permissão para ficar em Hogwarts. Melhor não irritar Dumbledore. Laurel teria que estudar sozinha, sem sua ajuda. Para o próprio bem dela.
Ele ficou longe por três dias. Primeiro Laurel esperou por ele, então ela vagarosamente teve que aceitar que ele não ia mais aparecer. Aquilo doeu mais do que ela queria admitir, e ela precisava se lembrar constantemente de que ela não ligava pare ele, caso contrário, ela começaria a chorar de novo. Suas colegas de quarto já estavam curiosas demais com o seu modo de agir.
Quando ela olhou para cima e viu Snape parado na porta da estufa, suas mãos tremeram de repente tão forte que ela deixou o vaso cair.
"Seus olhos estão inchados. Você andou chorando." Ele falou suavemente.
"Eu estava com saudades de você."
"Você chorou por causa de mim?" Ele perguntou sem acreditar.
"Eu estava com saudades de você." Ela repetiu sem olhar para ele.
Severus olhou para ela, sem saber o que fazer. Ele nunca havia notado como ela era adorável. As mãos delas cobertas pela terra do jardim e um leve arranhado em sua bochecha mostrava que ela havia trabalhado nas plantas com espinhos. Sem pensar, ele pegou a sua mão e tocou na pele machucada. Ela não recuou, apenas olhou para ele com seus doces olhos marrons.
"Nós não devíamos estar aqui, juntos."
"Mas por quê? Nós não fizemos nada ainda, apenas conversamos e revisamos Poções."
"Ainda?"
Ela corou e virou o avental em suas mãos.
Ele não pôde conter a alegria que sentiu de repente.
"Você se importaria se eu... se eu beijasse você agora?"
"Não." Ela respondeu. "Quero dizer, eu não me importaria. Só que eu nunca…"
"Nem eu." Ele falou suavemente.
As mãos dele seguraram o rosto dela. Laurel se forçou a manter seus olhos abertos, para olhar para os olhos dele, os longos cílios, a boca sensual. O cabelo dele estava muito curto, de um lindo preto, ela pensou, se fosse um pouco mais comprido, seria mais bonito ainda.
Os lábios de Severus ficaram sobre os dela por um segundo, como se ele estivesse tentando encontrar coragem para tocá-la de uma maneira mais íntima. Ele tinha imaginado como seria esse momento por tanto tempo que quase o apavorava estar tão perto dela. Ela cheirava a terra, sol e grama fresca. Os olhos dela, tão quentes, tão suaves, tão radiantes de ternura, o deixaram seguro. Ela ficou na ponta dos pés e aquela leve elevação foi suficiente para permitir que seus lábios se tocassem.
O beijo foi suave a princípio, nada além de um suspiro. Então foi ficando mais quente e apaixonado e Laurel suspirou surpresa quando a lingual dele acariciou seus lábios, implorando por entrar em sua boca. Ela já havia ouvido falar desse tipo de beijos, claro. Ela já estava com dezesseis anos afinal de contas, e às vezes se sentia como a única menina de sua idade que nunca havia sido beijada. Até agora, por Morgana, até agora... Se ela apenas soubesse como aquilo era gostoso, ela teria beijado Severus semanas antes! Ele explorou sua boca, devagar e com um gemido ela começou a retribuir.
Eventualmente ela teve que respirar e olhou para cima na direção dele. "Nada mal para uma primeira vez."
Severus acariciou o cabelo dela e deixou o prazer lavá-lo como uma chuva morna. "Nada mal mesmo." Ele sorriu para ela.
Eles andaram de volta para o castelo. No meio do caminho coberto de neve, ficava um carvalho sem folhas. Eles tinham essa rotina agora. Quando chegavam na árvore eles se separavam e Laurel entrava no hall primeiro. Severus seguia quinze minutos depois, para não levantar suspeitas.
Mas essa tarde eles ficaram juntos, escondidos atrás do grande tronco, por mais alguns minutos.
"O que os Corvinais vão fazer se descobrirem a nosso respeito?"
"Eles vão tentar colocar juízo na minha cabeça."
Ele acariciou o rosto dela com ternura. "Ah, vocês Corvinais. Vocês sempre acreditam em palavras e na razão. E eles estariam certos de avisar você."
"Por quê?"
"Eu sou um Bruxo das Trevas, lembra? E um Sonserino. É uma questão de honra da casa, também."
"O que os Sonserinos fariam?"
"Eles fariam da sua vida um inferno. Eu entenderia se você…"
"Shh…" Ela colocou um dedo sobre os lábios dele para silenciá-lo. "Danem-se os Sonserinos. E os Corvinais também. A única casa a que nós pertencemos é... a estufa." Ela o beijou uma última vez, muito suavemente mais com uma paixão crescente. Então correu de volta para o castelo.
Laurel olhou para cima e teve problema para se pôr em foco. Snape ainda olhava para o mapa como se fosse uma janela para o céu, o que era agora, ela precisava admitir.
Dumbledore colocou a mão no ombro dela para equilibrá-la. "Tente não trocar de realidades muito rápido, Laurel." Ele avisou gentilmente.
Ela sorriu para ele. "Eu apenas queria agradecer ao senhor, Diretor. Eu sabia que seria bom, mas isto é…"
Os olhos dele se anuviaram com uma súbita tristeza. "Não me agradeça antes de ver tudo, menina."
