22. O Mapa de Leander – Parte 2
"Se eu ferver um quarto de mel, com mica tostada e uma colher de sulfa, o que eu vou conseguir?"
Severus estava deitado no chão em um canto da estufa. A primavera tinha chegado rápido e a estufa estava cheia de plantas de todas as cores e tamanhos. Não havia lugar para sentar nos bancos. Laurel ficava perto da mesa e cobria sementes de lavanda com terra.
"Uma colher cheia? Uma colher de chá ou uma colher de sopa?"
"Uma colher de chá." Ele replicou casualmente.
"Você conseguiria uma confusão danada então. São necessárias pelo menos duas colheres de sopa para contra-balancear o efeito da mica e evitar que a poção mande tudo pelos ares."
"Eureka!" Snape fechou o livro triunfante. "Ela conseguiu!"
Laurel sorriu e colocou o vaso de plantas de lado. Ela limpou as mãos no avental. "Eu sou uma boa aluna?" Ela perguntou e seus olhos se acenderam.
"Sim, você é."
"Então eu mereço uma recompensa." A travessura nos olhos dela fez com que ele se aquecesse por dentro.
"Que tipo de recompensa você está querendo?"
Ao invés de responder, ela chegou mais perto de onde ele estava deitado. Sentando sobre ele e secretamente feliz pelo suspiro de surpresa dele, ela acariciou o lábio dele com a ponta do dedo.
"Eu gostaria de..." Ela tentou. Corando e evitando o olhar dele, ela deixou o dedo escorregar para baixo, em direção ao pescoço dele.
"O quê? O que você gostaria de fazer?" Severus tinha dificuldade para achar as palavras.
"Tocar você." Ela murmurou.
Ele pigarreou. "Esteja à vontade."
Ela abriu os botões que fechavam as vestes dele no pescoço e descobriu a pele pálida do peito dele. Sem pressa, ela suavemente traçou o colarinho dele, deixou as duas mãos escorregarem para dentro das vestes dele e então acariciou suas costelas, seu peito.
"Eu sou um bom professor?" Ele sussurrou com voz rouca.
"Sim."
"Então eu também mereço uma recompensa, não é?"
Ela mordeu o lábio e olhou para ele. Muito devagar ela abriu os colchetes das suas vestes. Ela vestia uma camisa fina por baixo e guiou as mãos dele por baixo do tecido. A pele macia era quente ao toque e Severus fechou os olhos para se concentrar na sensação. Seus dedos encontraram os seios dela e os acariciaram por baixo do sutiã. Involuntariamente ela apertou as mãos em volta dos ombros dele, com um gemido.
Um barulho do lado de fora da estufa fez os dois pularem. Eles apenas tiveram tempo de ajeitar as roupas e procurar uma posição inocente tão distante um do outro quanto conseguiram.
Hagrid, o guarda-caça assistente, colocou sua grande cabeça cabeluda do lado de dentro da porta e piscou para Laurel. "Você está bem, senhorita?"
Ela concordou e apontou para os potes. "Eu estou quase acabando."
"O que ele está fazendo aqui?"
"Eu estou pegando um pouco de raízes frescas..." Severus improvisou. "Para Poções."
"E ele já estava de saída." Laurel tossiu.
"Eu estava?" Ele brincou.
"Sim, ele estava." Quando Hagrid virou a cabeça, Laurel jogou um beijo para Severus e o empurrou para fora da porta.
A lua cheia se levantou acima da torre de Astronomia. Laurel olhou para as estrelas. "Isto é tão bonito!" Ela exclamou.
Severus abraçou-a mais forte e enrolou a sua capa em volta dos dois. "Você tem certeza que a Professora Nova não vai aparecer esta noite?"
"Absoluta." Ela concordou.
"Eu não posso demorar de qualquer maneira." Ele apontou para uma estrela cadente que cruzava o céu. "Mudando de assunto, eu descobri onde aqueles Marotos desgraçados vão todos os meses."
"Oh Severus." Laurel suspirou. "Você não pode deixá-los em paz?"
"Não." Ele ficou mais tenso. "Não posso."
"O que eles fazem que te enfurece tanto? Eles são detestáveis, concordo com você. Lupin é o único que não trata os Corvinais como um bando de traça por livros."
Ele ficou em silêncio por um momento, procurando pelas palavras certas. "Remo Lupin é sempre o último aluno da Grifinória a tomar banho depois do quadribol."
"Hein? Como você sabe?"
"Porque eu sempre sou o último da Sonserina."
Ela se virou no abraço dele para poder olhar seu rosto. "Severus? Eu não acompanhei seu raciocínio."
"Ele não quer que ninguém o veja sem roupa."
Ela esperou.
"Ele tem o corpo coberto de cicatrizes, Laurel. Cicatrizes e arranhões, com grandes manchas de sangue. Sempre fica pior depois da lua cheia."
"E você acha que os Marotos são responsáveis por isso?"
"Eu não sei. Ainda. Hoje na hora do almoço Black falou a respeito do Salgueiro Lutador. Então eu vou tentar descobrir esta noite."
"Você devia falar com Dumbledore!"
"Eu não posso."
"Mas e se eles..." Ela de repente entendeu e seus olhos se encheram de lágrimas. "Você é o último a tomar banho? Você nunca tira a camisa. Nem mesmo quando nós... Por que, Severus?"
A voz dele estava vazia, como sempre quando ele cuidadosamente escondia as suas emoções na frente dela. "Porque meu pai bate em mim. Eu também tenho marcas, conheço os sinais."
Laurel segurou o rosto dele com as duas mãos e fez com que olhasse para ela. "Por que você não me contou? Eu achei que confiávamos um no outro."
"Não é uma coisa... que eu me sinta orgulhoso de contar. Eu tive medo de que isso... fosse assustá-la e fazer você se afastar mim."
"Deixe-me prometer uma coisa a você, Severus Snape. Qualquer coisa que você faça, você não vai ser capaz de me assustar a ponto de me afastar de você. Não importa o quanto você tente."
Ele piscou.
"Eu realmente não gosto de Black e Pettygrew, e James também é irritantemente perfeito. Mas eles não parecem..."
"Meu pai parece um bruxo totalmente honrado."
"Se eles realmente abusam de Remo, eles são doentes." Laurel deu de ombros. "Você deve ir contar a Dumbledore."
"Eu não posso, Laurel. Se eu for, ele vai me perguntar as mesmas perguntas que você acabou de fazer. E eu preferiria morrer a contar isso a qualquer pessoa." Ele a puxou para mais perto e a apertou em um abraço quase doloroso.
"Ele entenderia, Severus."
"Eu não ligo."
Dessa maneira começou a primeira discussão deles. Eles brigaram um pouco e depois fizeram as pazes, de maneira que ficou muito tarde para ele seguir Remo até o Salgueiro Lutador.
Dumbledore sacudiu a cabeça e acariciou a barba em desespero. "Você deveria ter confiado em mim, Severus. Em qualquer vida você deveria ter confiado em mim. E eu deveria ter ouvido com mais cuidado as coisas que você não me disse."
Leander olhou para ele. "Nós não podemos mudar o passado, Albus," Ele disse suavemente. "Mas o futuro."
"Eu passei! Oh Severus, eu passei!" Laurel veio correndo para a estufa.
Ele se encostou contra a parede e franziu a testa. "Eu nunca duvidei disso" Ele comentou. "Afinal de contas, você teve um excelente professor."
Ela o beijou, uma rápida seqüência de beijos nos olhos fechados dele. Sorrindo, ele deixou que ela fizesse o que tinha vontade por um momento. Eventualmente ele segurou os pulsos dela. "Amanhã é a Festa de Encerramento."
Ela suspirou. "Eu sei. É a primeira vez que eu não estou feliz antecipando o que vou fazer no verão."
Severus pigarreou. Dumbledore tinha dito a ele que Julian Snape não tinha permitido que seu filho ficasse na escola e ele nem queria pensar no que iria acontecer além das próximas 48 horas.
"Eu vou sentir saudades de você." Ele suspirou.
"Nós temos uma última noite juntos. Vamos fazer com que ela seja memorável..."
"Você tem certeza?"
Ela olhou para cima, na direção dele, seus olhos cheios de confiança. "Eu tenho certeza."
"Então vamos nos encontrar na montanha amanhã de noite quando todos estiverem ocupados na festa."
Ninguém deu por falta deles quando eles saíram do Hall na noite seguinte. Quando Laurel chegou à montanha, Severus já havia estendido um lençol na grama macia. Laurel largou a cesta pesada e resmungou.
"Eu deveria ter vindo de vassoura."
"O que você trouxe? Seu quarto e o banheiro dos monitores?" Severus zombou.
"Eu sei que você não comeu nada. Eu não quero que você fique com fome esta noite. Então eu falei com os elfos para empacotarem alguma coisa do banquete para nós." Laurel se ajoelhou ao lado dele e gentilmente tocou seu rosto. "Apenas me prometa uma coisa. Um dia nós teremos um quarto. Não que eu não ache isso tudo romântico…" Ela apontou para as pequenas velas que ele tinha conjurado nas pontas do lençol. "Mas prometa que nós teremos uma cama com lençóis de linho e travesseiros macios um dia."
"Eu prometo." Ele falou muito sério. "Eu prometo que um dia nós não precisaremos nos esconder para ficarmos juntos."
Laurel beijou as pontas de seus dedos e tocou os lábios dele. Ele pegou a mão dela e a segurou.
"Mais um ano até eu me formar."
"Mais um ano até você ir embora e eu ter que ficar para trás."
Ele pigarreou nervoso. "Laurel, eu pensei a respeito disso. Eu aceitarei a bolsa de estudos que o IMP me ofereceu assim que eu sair daqui."
"O Instituto Massachusetts de Poções apenas aceita os melhores. Eu estou muito orgulhosa de você."
"Meu pai vai me deserdar quando descobrir que eu quero entrar no ramo de pesquisas. Eu vou ficar tão pobre quanto um rato de igreja."
Ela sorriu. "Quase tão pobre quanto eu sou..."
"Laurel, ouça. Eu não quero deixar você mas ..."
"Eu sei. Eu também quero acabar a escola."
"Mas eu juro que no dia seguinte ao da sua formatura eu vou estar te esperando no portão. Eu voltarei para buscar você."
"OK." Ela afastou as lágrimas. "Vamos compartilhar o que temos. Mais um ano juntos."
"Mais uma noite juntos."
Minha mãe me enviou isso." Laurel levantou a mão cheia de pequenos pacotes de dentro da cesta.
"Sua mãe." Ele piscou. "Você escreveu para sua mãe a respeito do que... estamos para..."
"Você ficou embaraçado?" Laurel deu a ele um sorriso que quase partiu seu rosto. "Você está embaraçado! Isso é tão doce."
Ele a fez abaixar até que suas costas tocassem o lençol e seus olhos estivessem bem próximos aos dele.
"Ela é assistente sócial," Ela riu. "Está constantemente trabalhando como adolescentes grávidas. Eu acho que ela começou a me falar de camisinhas quando eu fiz catorze anos."
"Parece que ela é uma bruxa muito inteligente."
"Meus pais são trouxas. Mas eles se importam comigo." Laurel disse.
"Eu fiz uma pequena pesquisa e descobri que existe uma maneira mágica de prevenir uma gravidez indesejada." Ele falou e produziu um frasco com um líquido verde claro. "Eu sei como usar isso. Você sabe o que fazer com esse… quadrados?"
Laurel riu. "Mamãe me fez praticar uma dúzia de vezes. Você põe no..."
"Ela fez você praticar?"
Ela riu alto quando viu a expressão chocada no rosto dele. "Com uma banana, Severus. Com uma banana!"
Ele caiu por cima dela, em um alívio fingido. Aninhando seu rosto no pescoço dela, inalando seu cheiro, ele começou a acariciar os braços dela. Quente. Ela era tão quente. De repente eles se sentiram tão próximos, corpo a corpo, apenas separados por uma fina camada de tecido.
"Tire isso." Ela murmurou no ouvido dele.
Ele riu baixinho e com um movimento de sua varinha, tirou as vestes dos dois em um instante. Então, colocando a varinha de lado, ele começou a beijá-la toda, seus seios nus, seu estômago e mais profundamente, onde ele sempre tinha desejado tocá-la. Não com pressa, na estufa, com um monte de roupas, mas dessa maneira. Ela segurou seu cabelo quando ele gentilmente afastou suas coxas e começou a beijá-la ali.
Ele ficou apoiado nos braços de maneira que pudesse ver o rosto corado dela. "Aquelas precauções, nós devemos tomá-las agora, eu acho. Porque em um minuto eu não vou ter sangue suficiente no meu cérebro para pensar nisso."
Laurel riu trêmula e se sentou. Severus contou dez gotas de um líquido amargo na língua dela. Ela fez uma careta. "Horrível."
Ele tomou sua dose e deu de ombros. "Concordo."
Ela abriu o pacote plástico e corou. "Você quer que eu..."
"Já que você praticou tantas vezes." Ele de repente achava difícil respirar. "Eu vou deixar você tomar conta disso." Ele gemeu quando ela tocou nele, quando ela desenrolou o material e, por colocar nele, acariciando-o. Ela já tinha tocado nele antes, mas nunca desse jeito, nunca pele contra pele.
"Eu não quero machucar você, Laurel." Ele murmurou quando ele se deitou de volta no lençol. "Eu ouvi dizer que a primeira vez nunca é muito agradável para a menina. Mas eu vou tentar fazer ser bom para você."
"Dificilmente vai ser..." Ela gemeu quando ele tomou um dos seus seios na boca e começou a sugá-lo. "Mais agradável... do que... isso."
Ela se abriu para ele. Ela nunca havia se sentido daquela maneira, apavorada e ansiosa ao mesmo tempo. Ela segurou nos ombros dele e fechou os olhos. Doeu, mas não tanto quanto ela estava preparada para suportar. E estava terminado assim que a boca dele cobriu a sua, e ele começou a se mover em sincronia com a sua língua.
"Olhe para mim, Laurel." A respiração dele se acelerou. "Por favor, olhe para mim."
Ela abriu os olhos apenas para mergulhar na profundeza do olhar negro dele. As ondas de calor se espalhavam por todo o corpo dela. Com a última arremetida dele, ela gritou seu nome.
Muito mais tarde quando o sol se levantou acima das torres, ele se aninhou em seus braços. "Vamos nos despedir agora." Ela sussurrou. "Não no trem."
"Eu verei você no primeiro dia de setembro." Ele beijou-a na testa. "Não vai demorar muito."
Snape piscou. Com toda a força que pôde reunir, ele virou a cabeça, deixando de olhar o pergaminho para olhar para o Diretor que sentava numa cadeira atrás dele e de Laurel. A voz de Snape estava rouca com a dor.
"Não, Albus! Não isso."
Os olhos gentis de Dumbledore se viraram para ele, cheios de pena e compaixão. "Eu avisei antes que vocês deveriam agüentar até o final."
"Mas isso... é cruel. Laurel não tem que passar por isso. Poupe-a. Eu imploro a você."
Dumbledore balançou a cabeça. "Eu não posso, Severus."
Uma ira negra brilhou nos olhos de Snape. Laurel, ciente de que alguma coisa estava errada, tentou voltar à realidade, fora do fluxo de emoções e imagens. A alegria do primeiro encontro deles ainda se fazia sentir. Ela sentiu a mão de Severus na dela, tentando afastá-la do pergaminho. O cartógrafo agarrou o punho do bruxo com se fosse uma garra de aço.
"Ela vai compartilhar sua dor. Você vai compartilhar a dela. Não existe outro modo. Encare isso."
Snape fechou os olhos. Ele sabia muito bem o que ia acontecera agora.
Laurel procurou por ele, se movendo para mais perto até que a coxa dela tocasse a dele e ele pudesse sentir o calor dela. "Severus?"
A respiração dele se estabilizou. "Deixe-me segurar sua mão, meu amor."
"Querida, onde você conseguiu essa linda caixa?" A mãe de Laurel perguntou, travessa, enquanto a ajudava a desfazer a sua bagagem. Laurel estava sentada na sua cama e guardava suas vestes para quando fosse voltar para Hogwarts. Um verão vestindo jeans era algo que ela antecipava a cada ano. Ser trouxa tinha suas vantagens.
"Uma caixa?"
Ela pegou a pequena caixa de veludo, mas sua mãe foi mais rápida e abriu-a, rindo. "Está vazia." Ela falou desapontada.
"Vazia... eu... sim, eu comprei para guardar meus brincos nela." Laurel falou e escondeu a caixa embaixo do travesseiro assim que teve uma chance.
Quando sua mãe saiu do quarto, ela abriu a pequena caixa com dedos trêmulos. Não havia nada para ser visto. Ela tocou a almofada de veludo e sim, o que ela esperava, o que ela temia, estava lá. Um anel. Invisível mas perfeito, frio ao toque, escorregando facilmente pelo seu dedo.
Ela beijou o anel, encolhida em sua cama, e se permitiu chorar. Um dia longe de Severus e já sentia tanta saudade que se sentia vazia por dentro.
Severus olhou por cima da mesa de mogno do seu pai.
"Eu não tenho idéia do que o senhor está falando." Ele respondeu polidamente. Sua mente se agitou. Uma coruja? Tinha Laurel realmente sido tão boba? Ele não tinha dito a ela para não tentar entrar em contato com ele até setembro? Ao mesmo tempo ele desejava uma carta dela tão desesperadamente que levou todos os seus anos de autocontrole e frieza para aparentar indiferença.
Julian Snape brincou com um pedaço de papel. Sua boca fina se dobrou em um sorriso perverso. Ele parecia um predador brincando com sua presa. "Isso veio de coruja, mas é papel, não pergaminho. Então me diga, Severus, quem enviaria a meu filho uma carta como essa?" Ele empurrou seu prato de volta e se levantou. Severus engoliu com força, mas manteve seus olhos longe da carta.
"Parece que meu filho arrumou uma pequena trouxa vadia." Julian deu a volta e foi para o outro lado da mesa. "Apesar do fato de me opor ao sentimento de Dumbledore pelos bruxos de sangue ruim, eu ainda vejo as vantagens disso."
"Vantagens?"
Severus rangeu os dentes. Ele estava bem ciente da aversão de seu pai pelos bruxos nascidos trouxas. Ele os desprezava tanto que nem iria se juntar ao movimento de Voldemort. Afinal de contas, Tom Riddle era meio trouxa e aos olhos de Julian Snape não era admissível admitir um líder que não possuísse sangue nobre e antigo. Tinha sido por esse motivo que Severus tinha pedido a Laurel para não escrever para ele. Não que ele tivesse vergonha dela, mas para mantê-la fora do alcance de Julian Snape. O homem destruía tudo aquilo que tocava.
"Você sempre foi inteligente, Severus. Use a pequena sangue ruim e fique afastado de problemas. As meninas da Sonserina foram feitas para casamento e procriação, para manter o velho e puro sangue limpo. Mas o corpo de um bruxo tem necessidades, não é?" Ele riu e o som ecoou nos ouvidos de Severus mais alto que as batidas de seu próprio coração.
"Elas sabem como dar prazer, não sabem? Gostam de ser dominadas. E se alguma coisa sair errada, ninguém liga. Simplesmente se desfaça da vagabunda."
"Ela. Não. É. Uma.Vagabunda."
Julian se virou para ele e o acertou em cheio no rosto. Sangue espirrou do seu nariz quebrado e se espalhou pela toalha de mesa branca.
Antes que Severus pudesse se mover o bruxo mais velho rugiu. "Expelliarmus!" E a varinha de Severus voou pelo ar direto para as mãos de seu pai.
"O que você ia fazer, Filho? Atacar seu próprio pai? Você é como sua mãe, me esfaqueando pelas costas assim que eu me viro."
Severus apenas olhou para ele. Ele sabia o que ia acontecer, já tinha acontecido antes e ele tinha sobrevivido. Mas ele não estava certo de que sobreviveria dessa vez.
"Crucio!"
Um grito de dor. O corpo de Severus se arqueou em súbita agonia. Luzes brancas se acenderam pela sua mente enquanto a dor invadia sua carne. Observando seu filho se encolher no chão da sala de jantar, Julian segurou sua varinha pensativo. Havia um tempo certo para um corpo humano tolerar o Feitiço Cruciatus. Depois do que pareceu uma eternidade, ele parou com aquilo com um leve movimento do pulso.
Severus ficou caído no chão. Sangue saindo de seu lábio mordido.
Julian ficou de pé acima dele, uma sombra de sorriso em seus olhos negros. "Não terminamos ainda, filho." Ele anunciou levantando sua varinha novamente.
O corpo trêmulo foi atingido por uma força invisível que rasgou sua camisa e deixou uma marca vermelha em sua pele. Várias e várias vezes os socos vieram até o chão de pedra estar vermelho de sangue.
Finalmente Julian ficou cansado. Mais um outro soco poderoso e ele pôs a varinha de volta na manga. "Nós vamos falar sobre isso mais tarde. Eu estou esperando visitas e eles não precisam saber a vergonha que meu filho trouxe para o nome da família!"
"Eu… eu a amo."
O fato de sua voz ter falhado de exaustão e dor foi o que provavelmente salvou a vida de Severus naquele momento. Seu pai apenas saiu dali, deixando-o onde estava.
Aquela noite Julian entretecia um grupo de amigos. Ele ofereceu os arranjos usuais, o acordo de se manter silêncio sobre qualquer coisa que acontecesse entre as paredes de sua casa. E quando um de seus convidados encontrou o garoto inconsciente no chão da sala de jantar, apenas deu de ombros e deixou-o ali.
Dumbledore tocou a testa de Snape e balançou a cabeça. "Leander, eu não tenho certeza se ele consegue passar por tudo isso novamente. Está muito próximo da experiência dele próprio."
O cartógrafo olhou para cima e Dumbledore viu lágrimas em seus olhos. Ele tinha esquecido que não apenas Laurel e Severus, mas também Leander sentia a vida alternativa que fluía através do pergaminho.
Os olhos de Laurel procuraram pelo Grande Hall várias vezes durante a cerimônia de Seleção. Ela tocou o anel em sua mão esquerda para se fortalecer. Helen Vogler, uma amiga do sexto ano, perguntou. "Por quem você está procurando, Laurel?"
"Uh, ninguém. Apenas queria ter certeza de que todos voltaram."
"Não todo mundo." Robin Finch-Fletchley anunciou baixinho. "Olhe para a mesa da Sonserina. Não, não agora. Casualmente."
Helen deu de ombros. "E então? As mesmas caras feias do ano passado."
"Mas menos deles!"
"Snape não está lá!" Helen não conseguia falar baixo. "Laurel, olhe! Você acha que aquele cara horroroso se explodiu com alguma de suas poções malucas durante o verão?"
Laurel tentou sorrir apesar de sentir vontade de chorar. Severus não tinha respondido nenhuma de suas cartas nem tinha dado notícias durante todo o verão. Ela havia procurado por ele no trem, mas ele não estava lá. O jantar tinha sido sua última esperança, mas o lugar dele na mesa da Sonserina tinha continuado vazio.
Ela se sentia como se estivesse sentada em agulhas até que a festa terminou e os alunos começaram a ir para a cama. Enquanto centenas de adolescentes agitados enchiam o hall, Laurel forçou passagem para a Mesa dos Professores. Os professores já tinham saído, apenas Dumbledore permanecia em sua cadeira e olhava para ela curioso.
"Olá, Srta. Hunter, seja bem vinda de volta. O que posso fazer por você?" O sorriso dele a encorajou a falar.
Ela engoliu em seco. "Severus não veio." Finalmente ela conseguiu falar, sua voz tremendo de preocupação.
Os olhos azuis de Dumbledore escureceram. "Eu também notei. Você tem alguma idéia do motivo de ele não ter voltado para Hogwarts?"
"Não. Eu não ouvi falar nele por todo o verão. Se ele estivesse doente o senhor receberia uma coruja do pai ele, não é Diretor?"
O velho bruxo franziu as sobrancelhas. "Eu acho que não." Ele disse suavemente. Levantando da cadeira ele deu umas pancadinhas nos ombros de Laurel. "Volte para sua casa, Miss Hunter, e deixe que eu cuido do Sr. Snape."
Severus estava perdido em uma névoa escura, e sabia que ia morrer ali. Ondas quentes de dor enchiam seu corpo sempre que ele tentava se mover, mas a dor em sua cabeça era a pior. Quando ele ouviu passos ele soube que seu pai havia voltado. E dessa vez, ele o mataria. Ele achou que morrer seria um alívio, pois acabaria com a dor e com a autopiedade.
Uma mão tocou seu ombro e até esse leve contato fez Severus gemer. "Acabe logo com isso, pai." Ele sussurrou com voz rouca.
"Eu vou tomar conta dele agora, Julian." Uma voz gentil mas firme falou e ele se sentiu levantado em uma maca. "E esteja avisado: Se você voltar a se aproximar do menino novamente, você vai lamentar. Lamentar muito."
"Saia de minha casa, Dumbledore!" Julian Snape gritou. Severus podia sentir o cheiro de álcool em volta do pai mesmo agora que seu nariz estava bloqueado com sangue coagulado. "E leve com você essa fraca amostra de bruxo, antes que eu perca a paciência e mate o que restou dele."
"Você já manchou a sua alma com dois Feitiços Imperdoáveis, Julian. Uma palavra para os Aurores e as portas de Azkaban se fecharão para sempre atrás de você."
"Vá embora, velho idiota!"
"Ele é seu filho, Julian. Como você pôde fazer isso com ele?"
Julian Snape cuspiu no chão e foi embora.
Em um doloroso ato de afastamento, Laurel encontrou o olhar de Severus. "Isto aconteceu." Ela murmurou chocada. "Não apenas na vida alternativa. Na sua vida também."
Ela viu lágrimas nos olhos dele.
"Sim. Aconteceu."
"Mas ele... seu pai... ele fez isso com você?" Ela tocou o rosto dele. "É por isso que você..."
"Eu não queria que você soubesse. E certamente nunca desejei que você passasse por isso." Ele tomou a mão dela entre as suas e meio desajeitado, pressionou o rosto na palma da mão dela para esconder as lágrimas.
Dumbledore colocou a mão no ombro dele. "Severus?"
Ele olhou para cima.
O Diretor pigarreou. "Eu lamento não ter percebido antes. Você tentou me dizer, me fazer ver o que estava acontecendo. Talvez eu não quisesse acreditar que aquilo fosse possível."
Snape balançou a cabeça. "Você salvou minha vida. Ambas, até onde pude ver." Ele sorriu, mas o sorriso não chegou a seus olhos.
"Laurel, você quer parar um pouco?" Dumbledore perguntou gentilmente. "Eu não sei o quanto isso tudo está perto da sua própria experiência de vida."
Ela engoliu em seco. "Eu posso agüentar. Vamos acabar com isso, rápido."
Laurel cuidadosamente empurrou a porta do quarto privativo da ala hospitalar. Dumbledore tinha chamado a menina no dia anterior e contado brevemente, que Severus estava mesmo doente e precisava ficar sob os cuidados de Madame Dunant por algum tempo. A enfermeira e o Diretor concordaram que o paciente não devia receber visitas dos alunos até ficar curado.
Mas Laurel não podia esperar. A noite inteira ela tinha virado em sua cama, não conseguindo dormir um minuto, sabendo que Severus estava doente. Helen tinha jogado um travesseiro em cima dela quando ela levantou às quatro horas da manhã, se vestiu e se esgueirou para fora do quarto.
Os corredores estavam desertos, exceto por poucos fantasmas que brincavam de esconde-esconde.
A porta não estava trancada. Laurel entrou e a fechou com cuidado. Não podia acordar Madam Dunant. Tudo o que ela queria era dar uma rápida olhada em Severus, para se assegurar de que ele não sofria de nada além de uma febre ou perna quebrada, qualquer doença menos grave que poderia ser curada em poucas horas. O comentário de Dumbledore de que Severus teria que ficar "algum tempo" afastado realmente a tinha apavorado.
Ela pegou sua varinha e sussurrou "Lumos". Uma luz fraca encheu o quarto. Ela podia ver a cama e uma cadeira ao lado dela, uma pia e uma pequena mesa com garrafas e jarras em cima dela. Um corpo estava deitado na cama, ou pelo menos, ela pensou que sim, porque quando chegou mais perto, ela viu que ele estava em Levitação, flutuando a uns trinta centímetros do colchão. A perna direita de Severus estava fortemente enfaixada e o peito dele também. Laurel prendeu a respiração. Ela mal reconhecia o rosto dele, cheio de marcas roxas e arranhões que cobriam cada pedaço dele, além de feridas profundas com marcas de sangue e escoriações. Quando ela tocou levemente sua mão gelada, ele virou a cabeça. Seus olhos estavam injetados de sangue.
"Vá embora." Ele falou.
Laurel acariciou o rosto dele, sem ter certeza de que tinha entendido o que ele falara.
"Vá embora."
Severus estava sentado em uma cadeira perto da janela, tão ereto que suas costas não tocavam o encosto. Madame Dunant tinha apagado as luzes do quarto porque os olhos dele ainda doíam. O nariz tinha curado rapidamente, assim como a fatura na sua perna e suas costelas. Ainda assim, a enfermeira estava preocupada com as cicatrizes e o frio distanciamento do rapaz. Dumbledore tinha tentado falar com ele sobre o que tinha acontecido, mas Severus tinha recusado.
Quando ele ouviu a porta do quarto abrir, ele não virou a cabeça.
"Severus?"
As mãos ele se fecharam nos braços da cadeira. Ele tinha dito a Madame Dunant que não estava pronto para receber visitas, não que ele tenha recebido alguma, além de Dumbledore.
Antes que Laurel pudesse tocá-lo, ele se levantou e ficou de pé perto da janela, suas costas para o pôr do sol, seu rosto impenetrável na sombra.
Ela parecia tão doce e adorável quanto ele lembrava.
"Severus?"
"O que você quer?"
Confusa ela mordeu o lábio. "Eu queria ver você... ver se você está bem..."
"Bem, você me viu. Agora saia daqui."
"Severus?" Ela olhou para ele como se ele fosse um estranho.
"Eu sempre pensei que a inteligência dos Corvinais fosse sobre julgada. Você não entendeu o que eu falei? Vá embora."
Cruzando os braços sobre o peito, ela olhou para ele. "O que eu fiz, Severus? Você não pode me mandar embora desse jeito depois... depois de tudo que tivemos."
Ele escarneceu. "O que nós... tivemos? Eu dormi com você. Isso foi o que nós tivemos."
Instintivamente ela tocou o anel em seu dedo.
"Você não levou isso a sério, levou? Merlin, olhe para você! Você é uma sangue ruim, uma Corvinal, nem ao menos é bonita."
Satisfeito ele viu a mágoa nos olhos dela. "Um pedaço de carne. Nada mais. Foi bom enquanto durou. Agora está acabado."
"Não é você falando." Ela tremeu toda. O choque tinha escurecido os olhos dela até eles ficarem quase tão negros quanto os dele. "Eu não sei o que aconteceu, mas esse não é você."
Ele virou para o outro lado, incapaz de olhar para ela sem começar a chorar. "Melhor começar a acreditar. Agora se manda, menininha."
Ela correu.
Quando Dumbledore bateu na porta, Severus tinha quase recuperado sua fria compostura.
"Diretor."
O velho bruxo olhou para ele sem sorrir. "Você quer falar comigo, Severus?"
O rapaz sentava na cadeira perto do fogo, tremendo de frio apesar disso. Ele evitou o olhar do Diretor e olhou para as chamas.
"É a respeito da Srta. Hunter, não é?"
"Ela vai tentar se ferir. Eu... queria que o senhor tomasse conta dela." A voz dele se partiu. "Porque eu não posso."
Dumbledore permaneceu em silêncio. O único som no quarto vinha do fogo. Finalmente o bruxo suspirou com uma tristeza quase tangível.
"Eu já vi a Srta. Hunter." Ele disse suavemente.
"Ela está bem?" Severus não podia agüentar a tensão.
"Ela cortou os pulsos. Madame Dunant já os curou."
O rapaz respirou fundo, devagar, dolorosamente.
Dumbledore procurou por algo em sua manga, então entregou uma pequena caixa para Severus.
"Ela pediu para entregar isso a você. Eu acho que você sabe o que tem dentro."
"Um... anel."
A voz do Diretor perdeu toda a gentileza. "Você sabia que ela tentaria se matar. Apenas me diga por que, Severus. Por que você queria que ela morresse?"
O rapaz deu de ombros e se recusou a responder. Apenas quando Dumbledore finalmente desistiu e saiu, Severus se permitiu desabar. "Você está errado, Diretor." Ele murmurou para a porta fechada. "Eu quero que ela viva. Eu estou morto, mas ela deve viver. Sem mim. Quanto mais ela me odiar, mais fácil será para ela."
Laurel estava de pé na montanha e olhava para o castelo. O ano tinha sido incrivelmente duro. Seus pulsos cortados tinham se curado sem deixar cicatrizes. Mas quando ela não conseguia mais parar de chorar, suas colegas de quarto a perturbaram tanto que ela acabou contando sobre Severus e como ele a tinha usado e abandonado como se ela fosse um brinquedo quebrado. Corvinais eram conhecidos por sua sensibilidade, mas aquilo era demais. A Casa da Corvinal se manteve unida, Lufa Lufa a seguiu. Grifinória não era muito chegada a Snape de qualquer maneira. Até o Natal ninguém exceto seus amigos da Sonserina falavam com ele.
Professora McGonagall, a professora mais jovem da escola, tinha gastado muitas horas com Laurel, falando com ela, ouvindo, tentando entender. Apesar da menina nunca contar a ela detalhes do que acontecera entre ela e Severus, ela podia sentir as cicatrizes que a traição deixara nela.
Severus, por outro lado, parecia completamente imperturbável.
Laurel levantou a cabeça para o sol. Ela sobreviveria. Ela nunca mais confiaria em ninguém e nunca mais seria magoada. Hoje era do dia da formatura de Severus. Ela apenas esperava nunca mais ter que vê-lo novamente. Dominada pelas lágrimas, ela escondeu o rosto entre as mãos.
Severus rangeu os dentes. "Albus." Ele rosnou. "Pare com isso. Nós entendemos. Eu garanto a você, eu entendo seu argumento." Ele segurou a mão de Laurel de encontro ao peito dele, como se quisesse ter certeza de que não havia sangue.
Dumbledore colocou a mão em seu ombro. "Não está em minhas mãos, Severus. Eu avisei a você antes."
Leander interferiu suavemente. "Eu não queria torturá-los, Albus. Eu não posso parar agora, mas posso fazer com que passe rápido." Ele virou seus olhos cegos para Severus e Laurel. "Agüentem firme."
Flashes correram.
O namoro de Laurel com o capitão do time de quadribol da Corvinal. A iniciação de Severus como um Comensal da Morte. O momento em que a Marca Negra foi queimada em seu braço. A formatura de Laurel. Ela, olhando para os portões onde ninguém esperava por ela. Morte e Destruição, o início do poder de Voldemort, sua derrota pelo sacrifício de Lílian Potter. Laurel presa em um casamento frio, longe de Hogwarts. O ressurgimento de Voldemort com Snape como seu seguidor. Dumbledore com Lupin e Black, de pé na Torre Norte.
A escuridão no horizonte.
Leander gentilmente puxou o mapa para fora das mãos deles.
"Vocês não estão do nosso lado naquela outra vida. Nenhum dos dois." Dumbledore falou suavemente, enquanto observava Severus e Laurel voltarem a seu estado normal. "Eu não sei o futuro dessa vida alternativa, mas eu duvido seriamente de que eles ganhem a batalha final que está por vir. Mas nós, nesta vida temos uma grande chance. Por causa de vocês."
Snape trouxe Laurel para seus braços, abraçando-a com força, acariciando suas costas, até que os soluços parassem.
Dumbledore ajudou Leander a levantar e levou o homem cego até a porta. "Vocês estão dispensados do Jantar. Eu acho que vocês têm coisas melhores para fazer. Apenas se lembrem que essa pode ser a única vida que podem vir a ter. Melhor aproveitá-la. Agora."
O velho bruxo saiu.
Snape tomou a mão de Laurel na sua. "Vamos sair enquanto os outros estão no jantar. Eu não sei o que vai acontecer se eu tiver que encarar um dos meus alunos essa noite." Não era cinismo, mas desespero falando.
"Nós precisamos conversar, Severus." Laurel ainda estava pálida e se sentia como se tivesse estado doente por muito tempo. "Dumbledore está certo. Esta é a única vida que temos. Eu quero ser parte da sua."
Ele beijou a testa dela. "Vamos conversar então."
