23. Passagem segura

Quando desciam a escada que os levaria para o corredor, eles se encontraram com Neville e Harry, os dois indo para o jantar. Os dois meninos, vestidos com seus uniformes de quadribol, estacaram quando reconheceram Snape.

Laurel pegou a mão dele e apertou-a para confortá-lo. Então deu um leve empurrão nele na direção de Harry, puxando Neville para ela.

"Como estão seus pais?"

"Do mesmo jeito de sempre." Neville deu de ombros. "Minha avó mandou lembranças. Ela realmente gostou de você, eu acho."

"Eu também. Eu espero encontrar com ela novamente."

Neville deu uma olhada nervosa na direção de Snape. "Ele forçou você a voltar?"

Laurel riu. "Não. É uma longa história, mas essencialmente eu voltei porque eu o amo."

O menino corou violentamente. "E ele? Ama você?"

"Eu vou descobrir em poucos minutos." Ela sussurrou. "O que você acha?"

Ele olhou para o Mestre de Poções e franziu a testa. "Ele parece horrível, como se tivesse sido torturado. Se Hermione estiver certa e o amor dói, então eu diria que sim. Ele deve amar você. Terrivelmente."

Espontaneamente, Laurel puxou-o para seus braços e deu um beijo em sua bochecha.

Snape encarou Harry e Harry encarou de volta o Mestre de Poções. Finalmente o bruxo pigarreou. "Eu suponho que esteja em débito com você, Sr. Potter."

O menino deu de ombros e nervosamente tirou uma sujeira invisível de seu uniforme de quadribol. "Eu não fiz nada. Ou se fiz, eu não sei como fiz."

"Assim mesmo, eu devo a você."

"E o senhor detesta isso." Harry concluiu muito sério.

"De fato. Detesto isso." O Mestre de Poções cruzou os braços sobre o peito.

"Eu acho que uma vez que o senhor me odeia desde o meu primeiro dia em Hogwarts, não faz diferença realmente." Harry cerrou os punhos e tentou manter a sua voz baixa para que Laurel e Neville não pudessem ouvi-lo.

Snape virou a cabeça. "O que o faz pensar que eu odeio você, Potter?"

"Bem, o senhor deixou bastante claro, não? O senhor quis que eu fosse expulso da escola mais vezes do que consigo contar. O senhor odiava meu pai, odeia meu padrinho e me detesta."

O Mestre de Poções respirou fundo e olhou desamparado para Laurel. Ela deu um leve sorriso e abraçou Neville Longbottom. Agora, se aquilo queria dizer que ele devia abraçar Potter, pro inferno que ele faria. Ao invés disso, ele olhou intensamente para o menino.

"Seu padrinho e eu deixamos nossas diferenças por enquanto. E você está errado por achar que eu odiava James. Verdade, eu não gostava dele. Você também não gosta de todos os alunos da sua idade, eu ouso dizer. Que tal Draco Malfoy?"

Harry concordou. "Dificilmente."

"Eu não gostava de James, mas respeitava suas decisões. Talvez possamos concordar com isso? Nós não precisamos gostar um do outro. Mas podemos nos respeitar. Pelo menos até a guerra acabar."

Eles ficaram de pé, nenhum dos dois querendo fazer o primeiro movimento. Mas então Harry sorriu, apenas um movimento no canto da boca. Snape abaixou a cabeça, apenas um pouco, para mostrar que tinha percebido o sorriso.

Quando Laurel pegou a mão dele, ele soltou a respiração aliviado. Os dois meninos foram embora.

"Mudando de assunto, cinco pontos de cada um por estarem atrasados. E fique certo, Sr. Longbottom, de que haverá aula de poções amanhã." Snape chamou por eles, sua voz novamente aveludada e ao mesmo tempo tão ameaçadora quanto sempre tinha sido.

Laurel sorriu para si mesma.

Enquanto os dois professores seguiam rumo às masmorras, Neville e Harry ficaram olhando eles desaparecendo pelas escadas.

"Ele está de volta." Murmurou Neville.

"É verdade." Suspirou Harry. "Por um momento achei que ele tinha ficado maluco. Ele realmente parecia um ser humano."

Eles sorriram um para o outro e correram para o jantar.


O quarto de Snape tinha sido limpo e arejado pelos elfos domésticos. Nada fazia lembrar o quarto de doente que tinha sido ultimamente, exceto pelos livros de Laurel na mesinha de cabeceira. Laurel acendeu o fogo da lareira quando viu Snape esfregar os braços.

"Você realmente deveria se mudar para um quarto mais quente. De preferência um que tenha janela." Ela comentou enquanto conjurava uma bandeja com xícaras e uma chaleira. Dessa vez ela acertou na primeira tentativa e tomou isso como um bom sinal.

"Severus? Nós precisamos conversar sobre o que aconteceu em Londres. Antes de Ben atacar você." Ela falou e passou a ele uma xícara de chá.

"Eu fui... para…" Ele foi para a lareira e mexeu nos troncos que queimavam lá.

Laurel percebeu que era difícil para ele e esperou pacientemente.

"Eu fui para me render."

Os olhos dela se anuviaram. "Severus, isso é sobre o poder? Sobre qual de nós é o mais forte e pode fazer o outro se dobrar à sua vontade?"

"E não é?" O sorriso dele foi amargo. "Eu disse antes a você que eu não sabia lidar com essa situação. Ela me assusta. Faz com que eu me sinta vulnerável. A minha vida toda eu lutei para que ninguém tivesse esse poder sobre mim."

"E se você tivesse o mesmo poder sobre mim?"

"Eu tenho?"

"Você realmente não sabe?"

"Você me deixou, Laurel."

"Você me disse para ir."

Eles se entreolharam.

"Todas as promessas que fizemos..." A voz dela falhou. "Eu prometi que nunca deixaria você me assustar a ponto de me afastar de você e então eu desisti tão facilmente."

"Laurel." Ele retrucou. "' Não era você. Não era sua vida. Não era nossa vida. Eu… ele… quebrou a sua promessa também. Ele nunca voltou para buscá-la."

"Orgulho. Muito orgulho e pouca confiança." Ela respirou fundo. "Isso não pode acontecer conosco, Severus. Não nessa vida." Calma, porém determinada ela foi para a lareira e acendeu uma vela. "Enquanto essa vela queimar, nós não iremos nos esconder atrás do nosso orgulho. Concorda?"

"Nenhum orgulho." Ele engoliu em seco. Vê-la chorar tão desesperadamente pelas duas pessoas que eles poderiam ter sido já tinha despedaçado qualquer orgulho que ele ainda tivesse dentro de si.

"Não existe nada que eu possa oferecer a você." Ele disse rouco. "Nenhuma das coisas que você deseja." Quando ela tentou protestar, ele levantou a mão. "Deixe-me terminar. Já é difícil o bastante. A guerra vai chegar, e breve. Todos os sinais estão lá, e apesar de Dumbledore e o Ministro estarem preparados, ninguém pode dizer como ela vai acabar. Agora que Voldemort sabe que eu o traí, eu não sei mais qual será meu papel nela."

Sem perceber ele esfregou a marca em seu braço. "Mas mesmo que eu não seja mais um espião para Dumbledore eu vou continuar lutando até o fim. Se eu não conseguir, quero que você prossiga sem olhar para trás. Prometa-me isso."

Ela apenas olhou para ele, de braços cruzados sobre os seios. Ele tomou isso pelo que era – uma recusa.

Ele tomou fôlego. "Se Voldemort conseguir sua força de volta, tudo estará perdido. Mas se o Lorde das Trevas for derrotado eu terei minha vida de volta, miserável como era. Então, se eu sobreviver…"

"Não. Eu não vou esperar até a guerra terminar."

"Laurel, o perigo…"

"Os Potter também sabiam do perigo. Mas eles decidiram viver no presente. Era tudo o que eles tinham. Dumbledore está certo. Nós não devemos lamentar uma vida que nunca tivemos. Mas também não guardar nossas alegrias para uma vida que pode nunca acontecer."

"Se for assim, eu preciso pedir que você escolha agora."

Ela olhou para cima e tentou conter as lágrimas. "Escolher?"

"Entre a vida que você sempre quis, uma casa perto do mar, um bom marido trouxa, filhos..."

"E você."

Ele concordou, o rosto evitando cuidadosamente demonstrar qualquer esperança.

"E se eu escolher você, não vai haver casa, nem um bom marido, nem filhos?"

Os olhos escuros deles traíram sua dor. "Eu temo não ser um bom pai."

"Você vai ser um grande pai, Severus Snape." Ela sussurrou. "E nossos filhos vão amar você, do mesmo modo que eu amarei meu marido." Quando ele apenas ficou parado, ela pegou as duas mãos dele e as colocou no rosto dela. "Eu sei que você terá que lutar contra Voldemort ou todos poderemos morrer no final, Bruxos e Trouxas. Mas se você for morto lá, eu nunca o perdoarei, meu querido."

Ele estremeceu quando ela falou o termo carinhoso. "Você está me dizendo para sobreviver ou então...?"

Ao invés de responder ela beijou-o docemente, um beijo quase casto.

"Eu senti a sua falta."

As palavras saíram desajeitadas e com dificuldade. Laurel não ousava respirar.

"Eu senti a sua falta." Ele repetiu, suavemente. "E eu preciso saber o que fiz de errado."

Quando ela viu o desejo nos olhos dele, o desejo puro, seu coração se agitou. Seus joelhos fraquejaram e ela teve que sentar.

"Amor: Eu não entendo as regras." Ele tentou explicar. "Você foi embora, não porque eu disse para fazê-lo." Ele franziu a testa. "Afinal, você nunca faz o que eu digo."

"Você ficou me empurrando para longe. Você nunca me deixava tocá-lo." Laurel tentou controlar as lágrimas quando se lembrou de como ele sempre parecia petrificado quando ela tocava nele. "Mesmo quando nós... fazíamos sexo. Pela sua reação eu entendi que você não me queria."

Ele se ajoelhou em frente à cadeira dela e pegou as duas mãos dela nas suas. "Eu não estava preparado para a situação. Eu não sabia o que você esperava de mim. Você foi a primeira mulher que eu…"

Ela riu sem conseguir manter a amargura fora de sua voz. "Não. Você teve outras mulheres antes de mim. Mais de uma ou duas, julgando por suas habilidades."

"Minhas… habilidades?" As sobrancelhas dele se levantaram, honestamente confuso.

"Severus, você sabe exatamente como satisfazer uma mulher, como o corpo feminino reage. Onde tocar, como tocar, como não tocar... Ou você é um amante muito experiente ou eles têm excelentes livros sobre esse assunto na área restrita. Dói pensar que todas aquelas mulheres tiveram o direito de tocar você, abraçar você. E eu não podia chegar perto. Eu pensei… Eu pensei que era sua maneira de me dizer que eu não significava nada para você." A voz dela falhou.

Snape apenas olhou para ela espantado. "Você está me dizendo que está com... ciúmes?"

"E se estiver?"

"Você já deveria saber que eu sou o mestre do disfarce. E eu descobri cedo que a maioria das pessoas não está interessada em dar, mas em receber. Oh, houve mulheres. E eu dei a elas o que elas queriam e elas ficaram satisfeitas, mas nunca souberam que eu não estava recebendo nada. Não fazia diferença quando elas me tocavam. Minhas cicatrizes sempre doíam, quando elas me tocavam ou não.

"Severus…"

"Nenhuma dessas mulheres quiseram meu coração". A voz dele perdeu todo menosprezo. Seu rosto estava vazio e sofrido. "Mas você quer. E isso me assusta."

"Por que você não confia em mim?"

"Porque não há nada. Nenhum coração. Apenas… um vazio."

A garganta dela se apertou. "Severus, não faça isso consigo mesmo."

"Eu nunca serei capaz de dar a você o amor que você merece, Laurel."

"O amor é uma semente." Bravamente ela traçou os lábios dele com a ponta de seu dedo. "Ele vai crescer, apenas é preciso que dê tempo a ele. Você não tem que me dar nada. Eu sempre pedi a você que me deixasse amá-lo. Mas você é como um campo minado. Eu vivo machucando você e você não confia em mim o bastante para me mostrar o que devo fazer."

"Eu não sou o único que guardo lembranças dolorosas dentro de mim mesmo. O que aconteceu naquela outra vida, refletiu as nossas em boa parte, não é?"

Ela mordeu o lábio.

"Laurel? Você tentou se matar? Nessa vida também?"

"Sim." Ela sussurrou. "Eu tentei. Mas foi… diferente."

"Quando você ia me contar?"

"Isso dói."

"Eu sei. Mas eu preciso saber a respeito. Pela mesma razão que você precisa saber o que aconteceu na minha vida. É como você disse. Um campo minado de dor. Nós precisamos garantir um ao outro uma passagem segura."

Ao invés de responder ela ficou nas pontas dos pés e o beijou.

"Eu tenho um presente para você." Ele murmurou enquanto os lábios dela passeavam por seu rosto. "Eu queria dar um presente a você quando fui a Londres."

Laurel ficou tensa. "Não… não um anel…"

Ele zombou. "Você realmente acha que depois de tudo o que acabamos de ver... de sentir… eu daria um anel a você?"

Ela sacudiu a cabeça devagar. "Não, eu não acho." Ela tomou a pequena jarra da mão dele. "Este é o presente? O que é isso?"

"Poppy preparou isso para mim há muito tempo atrás, mas eu nunca usei. É para tirar a dor ou pelo menos, anestesiar por algumas horas."

"Para suas cicatrizes?"

"Você precisa aplicar e esperar alguns minutos. Mas então… se você ainda quiser me tocar..."

Os dedos dela se fecharam em volta da jarra e ela segurou o presente perto de seu coração como a coisa preciosa que era.

Eles se sentaram em frente à lareira, no tapete macio. Snape pegou a sua varinha e selou as palmas das mãos de Laurel com um feitiço para que a poção não anestesiasse suas mãos. O linimento cheirava forte a trevos e canela e era frio.

Quando Laurel desabotoou a camisa dele, ele segurou seu pulso e gentilmente o beijou. "Passagem segura."

Ela suspirou. "Quando eu tinha quinze, eu tentei cometer suicídio."

Ele tocou de leve as cicatrizes dela.

Ela engoliu em seco, mas continuou falando. "Eu tinha um amigo na escola, meu melhor amigo, meu único amigo. Quando ele se apaixonou por uma de nossas colegas de classe, eu simplesmente não pude agüentar."

"Ele era seu amante?" Ele tentou manter sua voz controlada. Mas a simples idéia de algum jovenzinho idiota magoando ou traindo Laurel, deixava-o com raiva.

"Não. Ele era meu amigo. Eu não precisava de um amante naquela época, mas precisava desesperadamente de um amigo. Eu tive muitas saudades de casa em todos meus anos escolares. Robert era meu confidente, meu apoio. Ele me protegia. E eu tinha certeza que um dia ele me deixaria oferecer a ele algo além de minha amizade." Ela olhou para baixo, para seus pulsos e balançou a cabeça. "Ele nunca me deu nenhum sinal que indicasse que se sentia de outra maneira. Estava tudo na minha cabeça. Mas doeu da mesma forma. Eu apenas não podia mais agüentar a dor. Ela me afogou, me sufocou. Uma das professoras me encontrou e chamou uma ambulância. No hospital eu jurei a mim mesma que nunca mais entraria em uma situação onde minhas emoções me levassem tão longe."

Ela olhou para ele. "Viu, essa foi a razão para eu ter deixado Hogwarts. Porque eu não posso continuar se você não me permitir amá-lo."

Snape a trouxe para os seus braços e sentiu com alívio ela relaxar contra seu ombro. Não importava o que tinha acontecido, ela ainda confiava nele. Completamente. Ele sabia disso agora.

E ele confiaria nela, também. Apoiando-se em seu estômago ele descansou o rosto nas mãos e deixou que ela aplicasse o linimento em suas costas cobertas de cicatrizes. Aquilo era gostoso. Frio, reconfortante, e quando ela começou a espalhar o óleo, o toque dos dedos dela aquecia a sua pele.

"Você uma vez me perguntou se eu sentia saudade de casa quando era criança."

Ela lembrou a primeira detenção que ele tinha dado a ela e as perguntas zangadas dela.

"Quando eu era criança eu fazia de tudo para não ser enviado para casa nos feriados. No segundo ano eu pulei da arquibancada de quadribol da Sonserina e quebrei o tornozelo, só para ter certeza de que poderia ficar em Hogwarts para o Natal."

Ela continuava acariciando as suas costas, traçando as cicatrizes, esperando que ele encontrasse as palavras.

"Meu pai era um bruxo muito poderoso. Poderoso e facilmente irritável. Ele usava um cinto algumas vezes e a varinha outras. Ambos deixavam cicatrizes. Mas eu acho que todas as crianças passam por isso."

"Não, elas não passam!" Laurel sentiu seu coração ir para ele. "A maioria dos pais ama seus filhos e nunca o magoariam. Ninguém nunca ajudou você?" Ela pôs mais óleo nas cicatrizes e o espalhou com movimentos suaves.

"Como eu podia dizer a alguém o que ele fazia comigo? Afinal de contas, eu merecia aquilo. Eu o deixava zangado. Minha mãe o tinha abandonado e eu era muito pequeno. Éramos apenas ele e eu. Família. Você não trai sua família, não é?"

"Você não merecia o que ele fazia. Você era apenas uma criança naquela época."

"Dumbledore me deixava ficar em Hogwarts na maioria dos feriados e maioria dos verões, apesar disso me fazer um solitário, vagando pela escola vazia. Mas algumas vezes nem mesmo ele não podia recusar os desejos de meu pai quando ele me chamava para casa. Afinal, eu era o filho de Julian Snape, seu único filho. Seu herdeiro."

A voz dele soava distante e fria e apenas a tensão em seus ombros traía o seu tumulto interior.

"Todos esses anos eu odiei meu pai pelo que ele fez comigo. E ao mesmo tempo eu ansiei pelo amor dele. Quando fui admitido em Hogwarts eu sabia mais feitiços que metade dos alunos do sétimo ano. Mas não porque eu fosse muito estudioso. Eu conhecia os feitiços porque precisava deles para sobreviver às suas mudanças de humor. Eu estava convencido que se eu conseguisse atender às expectativas dele, ele pararia de me punir."

"Severus, você não fez nada errado. Você não merecia nenhuma punição." Ela repetiu gentilmente.

Ele fechou os olhos.

"Quando eu tinha dezessete anos, ele não aceitou qualquer desculpa e me mandou vir passar o verão em casa." A voz dele mudou, soando estranhamente distante. "Não foi por causa de uma garota. Não foi nada importante realmente. Ele tinha convidado alguns amigos e… as coisas saíram de controle. Ele quebrou meu braço e a maioria de minhas costelas, casualmente, como um divertimento para seus convidados. Apenas um sugeriu o Feitiço Cruciatus e ele concordou. Então enquanto eu estava ali deitado, um deles..." A voz dele falhou. "Você viu o que aconteceu. Você sentiu."

Laurel continuou massageando os ombros dele. Tudo o que ela podia oferecer a ele naquele momento era paciência e compaixão. A lembrança da dor e humilhação quase a fez engasgar. Ele se manteve em silêncio por um longo tempo, enquanto ela continuava repetindo os mesmos movimentos suaves em suas costas.

"Eu ainda não posso falar sobre isso." Ele falou simplesmente.

"Você não precisa."

Ele virou sua cabeça, se apoiou em um cotovelo e olhou para ela.

"Eles me deixaram em um canto do hall para morrer. De alguma forma Dumbledore me tirou dali. Ele nunca me disse como sabia o que tinha acontecido, ou o que falou para que meu pai me libertar. Ele deve tê-lo chantageado. A partir daquele momento Albus passou a ser o único bruxo em que eu confiava. Eu quase não sobrevivi. Poppy levou apenas alguns minutos para consertar meus ossos quebrados. Mas minhas costas não se curavam. Eles me mantiveram em levitação por semanas porque eu não conseguia suportar o toque do colchão. As feridas cicatrizavam eventualmente. Novas cicatrizes sobre as velhas. A dor permanecia. Foi então que eu decidi me juntar a Voldemort."

"Eu achei que devia ter sido o incidente com Lupin." Ela falou.

"Naquela outra vida eu… ele… nunca viu Lupin se transformar. Mas em minha vida James Potter me salvou de morte certa. Isso apenas me assegurou que eu devia me tornar um dos soldados de Voldemort."

O linimento anestesiou as cicatrizes e fez com que ele se sentisse aquecido e sonolento. Quando as mãos de Laurel começaram a acariciar seus ombros e a trabalhar os nós de tensão ali, pela primeira vez em anos, ele não sentiu dor nenhuma.

"Eu me sentia em uma armadilha, cercado de inimigos. Meu pai não se importaria se eu morresse. Black tentou me matar só por diversão. Dumbledore queria falar comigo, mas eu me recusava. Eu já tinha me decidido. Eu nunca seria uma vítima novamente. No dia em que me formei eu dei o primeiro passo na direção da Escuridão."

"Na outra vida, ele nunca voltou atrás. Mas você voltou. O que fez a diferença?"

"Eu não tenho certeza. Talvez a lembrança de Dumbledore sentado ao lado da minha cama no Hospital."

"Na outra vida o Diretor não perdoou você… ele… pelo que ele fez com… ela."

"Mas em minha vida, Albus estava lá para mim. Eu sempre soube disso. Mesmo quando estava intoxicado pelo poder e pelo ódio. Uma noite nós atacamos um vilarejo perto de Edinburgh perseguindo sangue-ruins. Eu os tinha caçado e observava enquanto os outros os matavam. E de repente eu vi meu rosto refletido em uma janela, percebi que eu tinha me transformado em meu pai. Um monstro."

Ela estremeceu e tentou afastar a lembrança de Julian Snape o alcançando e batendo nele.

"Eu fui para Dumbledore naquela mesma noite e ele me deu algo que eu nunca tinha pensado em conseguir. Perdão. Da mesma forma que você me deu algo que não pedi. Amor."

"É chamado um presente, Severus."

Ele suspirou e beijou a mão que acariciava seu pescoço. As pontas dos dedos de Laurel acariciando sua bochecha.

"Você disse que Madame Pomfrey deu a você esse linimento há anos? Por que você nunca o usou? Parece que está funcionando muito bem."

"Eu abracei a dor. Eu precisava dela como uma barreira. Ela me lembrava o que poderia acontecer se eu baixasse minha guarda." Ele fechou os olhos e se rendeu ao toque dela. "Eu não preciso mais."

"Deixe-me tomar conta de você agora." Ela sussurrou e beijou o pescoço dele, desenhando uma linha de fogo, descendo de seu pescoço para seu colarinho.

"Eu me lembro daquele beijo." Ele gemeu suavemente.

"Oh Severus, nós… eles… eram tão doces. Eu sei que acabou cruelmente, mas…"

"Eles eram muito jovens."

"Eles não sabiam nada a respeito da vida, a respeito deles mesmos."

"Nós somos maduros o suficiente, Laurel? Maduros o suficiente para carregar um ao outro?"

Os lábios dela encontraram os dele.

"Aquele primeiro beijo..."

Ele enterrou o rosto no cabelo dela. "Aquela primeira noite..."

"Foi muito mais romântico do que as minhas próprias lembranças."

"Eu… ele… a machucou quando eles fizeram amor. Merlin." Ele suspirou. "Eu posso lembrar como uma garota de dezesseis anos se sente!"

"Então você sabe que dói apenas por um momento. E não se esqueça, eu posso lembrar como um garoto se sente. Eu tenho certeza de que nós podemos usar isso para nossa vantagem."

Os olhos dele se acenderam. "Pode apostar." Ele provocou. "Eu sou um grande professor, afinal de contas."

"E eu sou uma grande aluna." Os olhos dela se encontraram com os dele e o que ele viu fez sua respiração se acelerar. "Deixe-me mostrar o que aprendi." As mãos dela começaram a desenhar círculos nas costas dele e pela primeira vez desde onde ele podia se lembrar, ele não sentia dor, apenas prazer. Ele deixou que ela descobrisse seu corpo, permitiu que ela tirasse sua roupa e depositasse centenas de pequenos beijos em seu estômago até que ele não mais pudesse conter um gemido."

Ela riu suavemente. "Eu disse que da próxima vez que fizéssemos amor seria como iguais."

"Eu não reclamei." Ele murmurou e a despiu, devagar, provocando-a com cada toque. "Eu apenas estou pegando minha parte."

Laurel gemeu quando os dedos dele acariciaram seus seios, circulando-os. As mãos dele acariciavam seu corpo, lentamente, e mais uma vez ele ficou maravilhado de sentir a pele macia, o calor que irradiava dela. Ela soltou um gemido quando os dedos dele escorregaram para entre as suas coxas, acariciando-a onde mais queria ser tocada. Ela arqueou as costas e apreciou a sensação por alguns minutos. Então escorregou para longe dele e um brilho maroto iluminou seus olhos quando ela olhou para ele.

"Minha vez." Ela sussurrou. "Eu me lembro muito bem do que você gosta."

Sem tocar nele, ela começou a lamber a pele delicada na base de sua ereção, suavemente, repetidamente, até ele enterrar as mãos nos cabelos dela e puxá-la pra trás. "Se você não parar agora mesmo" ele gemeu "nós não seremos iguais, mas muito frustrados. Eu sou apenas humano, afinal de contas."

Ela sorriu contra o estômago dele e enfiou a língua no umbigo dele antes de deixar que ele a deitasse com as costas na cama. Ele gemeu docemente quando escorregou para dentro dela, quando ela se abriu para ele, recebendo-o com seu calor. Laurel envolveu os braços em torno das costas dele, murmurando palavras carinhosas no ouvido dele.

Ele olhou para o rosto dela, que mostrava o prazer que ela sentia. A boca tremendo com o seu toque.

"Diga."

Ele parou de se mover. Laurel puxou-o para si, com a respiração acelerada. "Severus?"

"Eu preciso ouvir você dizer."'

A voz dele estava tão macia que ela precisou puxar a cabeça dele para mais perto para ouvir as palavras.

"Diga que você me quer."

Isto fez com que ela se desmanchasse de ternura. Teria aquele momento de rejeição há tantas semanas atrás, tê-lo ferido tão profundamente? Ela enterrou os dedos nos cabelos negros dele, puxou seu rosto para tão perto, que tudo o que ele podia ver era o amor sem limites nos olhos dela.

"Eu quero você, Severus. Eu sempre quis você."

A verdade o atingiu. E então as mãos dele, elegantes e conhecedoras, correram pelo corpo dela enchendo-a de prazer. Suas investidas se tornaram mais rápidas e ela acompanhou o ritmo dele, respondendo com todo o seu corpo. O ritmo do coração dela apenas aumentava a necessidade dele. Tão perto. Os dedos dele se cruzaram com os dela. Quando ele a teve onde queria, murmurando seu nome, acompanhando o ritmo da paixão dele, ele a ajudou a alcançar o clímax. E então, nesse momento, ela mais sentiu do que ouviu, as palavras sussurradas junto ao seu pescoço.

"Minha. Você é minha."

E só então ele se permitiu atingir o clímax, num estremecimento de prazer.