Kenji agora estava em cima de uma árvore ponderando sobre os acontecimentos do dia anterior. Tudo passara muito rápido, sua cabeça ainda estava dando voltas. Lembrava-se agora que quando pegaram Ayla ele saiu atrás dela feito um louco, não dando ouvidos nem mesmo ao seu pai. Quando chegou ao esconderijo lutou contra os capangas do seqüestrador, que se não fosse pela sakabatou com certeza todos aqueles homens estariam morto e não só seu chefe. Ele matou alguém; nunca tinha feito isso, mas também nunca houvera necessidade. Aquela foi a única maneira de bloquear o golpe, estava ciente que o agressor morreria se ele usasse o lado da espada com o fio, mas não havia tempo suficiente para girar a espada. Teve que escolher entre a vida dele e de sua amiga, e escolheu. Umas das coisas que seu pai lhe tinha falado logo quando teve idade para compreender, era que o kenjutsu era uma arte assassina. Naquele tempo Kenji esperara que não, mas no fundo sabia que um dia, mais cedo ou mais tarde, iria tirar a vida de alguém.
Ainda sentado na árvore, começou a ouvir suaves passos que pararam de repente. Ele não precisava olhar para baixo para saber eu era seu pai que estava ali parado.
-Como você está?
Por alguns instantes, um silêncio irritante preencheu o ar.
-Olha, Kenji, eu sei que você está chateado de eu não ter vindo falar com você antes, mas é que eu achava que você precisava de um tempo para pensar. Eu precisava de um tempo para pensar – Finalmente admitiu.
-E então?
-E então, o que? – perguntou com a expressão estilo "oro".
-Disse que precisava pensar. Pelo tempo que demorou deve ter pensado bastante – disse asperamente e continuou – Acho que deu para fazer umas...deixe-me ver....duas retrospectivas da sua vida, e não podemos dizer que você levou uma vida pacata.
Ouve uma outra pausa. Kenji ainda não tinha olhado para baixo, ficava observando o horizonte sem um ponto fixo. Kenshin ainda estava em pé e parecia estar buscando o mesmo ponto no céu. Quando finalmente falou, sua voz era de um homem cansado.
-Eu sinceramente gostaria de saber da onde vem esse sarcasmo. Acho que você andou passando muito tempo com o sensei e o Aoshi. Respondendo à sua primeira pergunta, eu cheguei à conclusão que não cabe a mim te julgar. É clara que não gostei de você ter matado, mas por outro lado, entendo que não tinha outra opção.
-Estou comovido que finalmente você entendeu que eu não estava ali a passeio.
-Posso continuar? – perguntou calmamente.
-Humpf.
-Vou entender com um sim. Eu te ensinei o Hiten Mitsurugi e deveria saber melhor do que ninguém que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria. É só que eu acho que eu preferiria que fosse mais tarde. Desculpa pelo modo que eu te tratei ontem. É que você parece tanto comigo e eu....bem....você sabe...
-Está tudo bem. Mas o que vamos fazer agora.
-Com a polícia, se é o que você quer dizer, não teve problemas. O Sr. Hika não aceitou a possibilidade deles virem falar com você. Se bem que eu conheço um certo lobo que adoraria te meter em encrenca.
-Mas...
-Mas, mesmo que você não seja acusado de nada, será difícil que esse caso não vaze nem que seja um pouco. É uma escolha sua, mas pense bem. Você não deve estar envergonhado por ter ajudado a sua amiga. Não acho que a Ayla vá pensar diferente, mas sinceramente penso que não vai ser o mesmo com seus outros amigos.
-Você esta sugerindo que eu fuja!? – Perguntou Kenji pertubado, deixando pela primeira vez alguma emoção passar pela sua voz.
-Não, não estou dizendo para você fugir. Só acho que você vai sofrer uma descriminação grande se alguém souber. Kenji, mesmo que você saiba manusear uma espda melhor do que muita gente, você ainda tem 15 anos e não está vivendo no Bakumatsu, onde infelizmente ninguém era muito novo demais. Convenhamos que e tempos de paz, um garoto matar alguém, ainda mais um espadachim mais velho e experiente em uma luta não é normal.
-Eu...
-Kenji, desde que sua mãe morreu, eu venho tentando te criar da melhor maneira possível e muitas vezes me pergunto se estou fazendo direito. Eu só quero que você não tenha que sofrer por coisas que não precisa e principalmente que meu passado não interfira no seu futuro. Eu estava pensando em voltar para Tokyo. Lá está o dojo da sua mãe – pausou por um momento – e também uns amigos que eu não vejo há um bom tempo. Você ainda se lembra do Sano e do Yahiko? Gostaria de saber como eles estão...
-Pai? – perguntou depois de um breve silêncio.
-Sim?
-O que você acha que minha mãe iria pensar?
-ela não iria gostar do filho dela ter matado alguém – Kenshin olhou para cima e deu um sorriso. Ele sabia que era difícil para seu filho falar da mãe. Para ele também era, estava na hora dele mesmo superar isso e voltando seria o começo de um longo percurso –Mas ficaria orgulhosa de você ter ajudado a sua amiga como ajudou. Bom eu vou te deixar pensando. Não volte muito tarde.
-Tudo bem.
Kenshin se virou e começou a caminhar em direção à sua casa. Dessa vez, Kenji virou a cabeça lentamente para ver seu pai o deixando com suas decisões por tomar.
Se seu pai tinha falado alguma coisa certa, era que realmente os outros iriam tratá-lo diferentemente. Não que ele liga-se muito para a opinião dos outros, mas se ele fica-se ali, isso traria na certa inconvenientes. E em roca do que? Amigos, a única que tinha de verdade era Ayla, para quem, inclusive, ele poderia trazer mais problemas. Iria claro sentir falta do Hiko e da Oniwabanshu, mas poderia visitá-los. Não era só isso. Lembrava-se muito pouco do dojo Kamia. Ele e seu pai não tinha voltado lá desde a morte de sue mãe. Kenshin deve sentir falta dos seus amigos e quem sabe não seja melhor por lá. Bom pelo menos não teria aquele chato do Saitou querendo sempre colocá-lo em confusão, mesmo quando ele não fez nada. Tudo bem que na maioria das vezes, ele havia feito alguma coisa, mas Saitou continuava sendo irritante.
Pulou do galho, caindo suavemente no chão e começou a andar. Iria fazer uma parada antes de voltar para casa. Sua decisão já estava feita.
Um pouco depois, ele estava entrando na propriedade dos Hika. Esperava que Ayla não passasse a odiá-lo pela decisão que tinha feito. Ele só estava fazendo o que achava que seria melhor para todos.
-Ayla! – Kenji gritou do jardim para a sacada do quanto da garota.
-Kenji?! – Ayla apareceu à sacada – O que você esta fazendo aqui? Espera que eu vou descer! A gente conversa no jardim!
Ela apareceu na porta da frente. Trazia um sorriso no rosto, mas Kenji podia dizer facilmente que o choque ainda não tinha passado por completo.
-Kenji, tudo bem com você? Parece um pouco perdido.- falou gentilmente e colocou com leveza sua mão no seu ombro. O movimento pareceu tirar o rapaz de seus pensamentos.
-Ah! Não, tudo bem. Eu passei para ver como você estava e também eu queria te diz...
-Mais um não! De superprotetores já bastam meus pais! Eu ainda estou imaginando se eles vão me deixar sair de casa antes dos vinte anos.
Kenji ficou olhando para ela, admirando-a. Ela havia passado por tudo aquilo, mas já estava voltando ao seu normal. Era sem dúvida uma garota muito especial. Pensando nisso lançou seus olhos sobre as suas mãos que ainda repousavam no seu ombro. Foi então que viu algo que op deixou um tanto abalado. Na parte de cima corria uma cicatriz. Era fina e clara, mas ainda assim bem definida. Num movimento pegou a mão dela na sua e a sua própria marca se encontrou com a dela, formando um continuação perfeita. Ele ficou olhando vidrado até que ela falou:
-Eu acho que foi naquela hora, bem você sabe, quando estava tentando me ajudar a se levantar.
-Eu..eu sinto muito. Acho que essa cicatriz não vai sair.- falou reganhando um pouco da sua compostura.
-Você não tem que sentir nada. Se eu estou viva é por sua causa.
-Eu..
-Eu acho que você disse que tinha algo para me dizer.
-Sim. Meu pai veio falar comigo ainda pouco e eu estava até agora pensando, mas me decidi. Eu só vim aqui porque queria que você fosse a primeira a saber. Eu resolvi voltar para Tokyo.
-Como assim? – Ayla não estava acreditando nas palavras ainda.
-Depois daquela confusão, as coisas vão ficar um pouco difíceis para mim. Mesmo que não tenta acarretado em nada de imediato. E não é só isso, meu pai não volta lá desde que minha mãe morreu e eu sinceramente acho que já está na hora dele superar isso. Senão vai ser mais uma coisa comendo-o por dentro.
-Mais uma coisa? O que foi que seu pai fez? Ele é tão calmo e simpático, o que ele pode ter feito para alguém. Eu digo, mesmo que ele pudesse, não acho que ele seria o tipo de sair por ai, sei lá, matando gente.
-É, claro que não. Sei lá, algumas coisas que eu acho que ele prefere não falar.- Kenji ficou olhando para ela com uma cara de séptico "Se ela soubesse o quanto próxima da verdade passou. Um dia eu conto, mas não hoje, já foram muitas revelações nesta semana".
-Bem..então você vai mesmo? E os seus amigos aqui?
-Ayla, você sabe muito bem que de amigo de verdade eu só tenho você.
-É eu sei...
-Então, eu prometo que te visito. Eu espero que você me perdoe, mas é que eu me sinto deslocado aqui...
-VOCÊ VAI EMBORA! PASSA AQUI PARA ME DIZER ISSO E ACHA QUE ESTÁ TUDO BEM? VOU TE DIZER UMA COISA: NÃO ESTÁ NADA BEM! VOCÊ VAI ME DEIXAR AQUI SOZINHA!
-Ayla, calma por favor. Eu sei, eu sei. Você tem todo o direito de estar furiosa, mas eu acho que é a única maneira de te deixar fora dos problemas também. Você já pensou se alguém vier querendo retaliação pela morte daquele cara? Quem você acha que vai ser o primeiro alvo? Claro que você. Você já tem risco demais por causa dos seus pais e não precisa de ainda mais.
-Eu não ligo!
-MAS EU SIM! Entenda que eu não sei o que faria se algo te acontecesse.
Um grande silêncio se deu. O ar estava pesado, mas foi dissipado quando Ayla falou, depois de limpar as lágrimas que ameaçavam a cair.
-Eu entendo, ou pelo menos vou tentar. Mas escute bem Kenji Himura: eu não vou te perdoar nunca se você não vier se despedir de mim.
-Prometo. A última coisa que vou fazer antes de sair da cidade será te dar um "até logo".
Como isso ele largou delicadamente as mãos dela e saiu, deixando uma Ayla sentada com uma lágrima escorrendo pelo rosto.
***
Era de noite quando Kenji chegou em casa. Seu pai costumeiramente estava a porta esperando-o.
-Eu acho que tinha te pedido para não chegar tarde.
-Eu sei, mas eu tinha uma coisa muito importante para fazer.
-Posso saber o que?
-Me despedir de alguém.
Depois de um curto silêncio Kenshin falou:
-Kenji, eu não quero te forçar a nada. Se você acha que é melhor ficar e...
-Sabe – disse Kenji olhando para as estrelas – o problema é esse. Esse é o melhor para todo mundo.
-Então amanhã eu mando uma carta para o Yahiko avisando. E dentro de uma semana acho que podemos ir. Tudo bem? Agora entra que eu vou esquentar a água e hoje você faz o jantar.
Kenji apenas assentiu com a cabeça antes de entrar.
***
Uma semana depois, a casa esta aparentemente calma. Isso é, até que se ouve um estrondo seguido por um grito.
-KENJI!
-Eu sei, eu sei. Cuidado como os pratos. Em falar nisto, como você conseguiu arranjar compradores tão rápido?
-O Ser Hika me ajudou e também como preço que colocamos, não é nenhuma surpresa. Já pegou tudo?
-Se você está se referindo a enorme quantidade de bagagem que estamos levando, ou seja, algumas roupas, uns utensílio e as espadas, sim já peguei tudo. Que horas sai o trem?
-Onze horas.
-Então vamos que estamos atrasados. Tudo porque você tinha de inventar de bagunçar tudo.
-Atrasados? Mas ainda está cedo, devem ser umas nove horas.
-Eu sei, só que eu ainda tenho que me despedir de alguém.
-Oro?
-Eu prometi que seria a última coisa que eu faria na cidade. Vamos indo.
Kenji saiu correndo com apenas uma mochila nas costas. Eles estavam levando realmente pouca coisa. Seu pai saiu atrás dele não se preocupando em perdê-lo de vista, uma vez que sabia para onde ele estava indo.
***
Kenji estava mais uma vez parado em frente aos portões da propriedade dos Hika e perguntava-se se seria a última vez. Pouco a pouco foi entrando e finalmente encontrou a encontrou sentada num banco do jardim. Ela estava num lindo kimono azul e tinha os olhos fixos no horizonte, tanto que só percebeu a sua presença quando ele colocou a sua mão no ombro dela.
-Oi, eu vim aqui para...
-Dizer que está indo. Eu sei, é por isso que eu estou aqui te esperando – virou-se para ele e disse – eu só espero que nos vejamos de novo.
-Nós vamos, eu prometo. Então não se preocupe, você já me viu mentir para você?
Ela só sacudiu a cabeça e deu um sorriso.
-Bem eu vou indo então.
Ele começou a andar de volta para a saída, onde sabia que seu pai já estava.
-KENJI!
Ele se virou para receber de surpresa uma Ayla em seus braços. Ela o estava abraçando fortemente e depois de passado o susto ele devolveu o abraço. Se passaram-se um minuto ou uma hora, ele não saberia dizer. Ela finalmente se soltou e olhou nos olhos dele com um sorriso nos lábios.
-Espero que corra tudo bem lá em Tokyo.
Ele se virou mais uma vez e seguiu até a saída onde realmente seu pai o estava esperando. Dali foram para a estação.
