Capítulo 6: O Ataque Surpresa
Duas semanas se passaram desde o início das aulas.O clima estava irreconhecível para quem se lembrasse dos primeiros dias, quando não havia uma rodinha de conversa onde não se comentasse a volta de Voldemort e a morte de Cedrico Diggory.Na Corvinal a situação era um pouco diferente.A lei do silêncio reinava absoluta e todos mediam as palavras na presença de Cho.Mas se reparassem bem veria que não seria preciso.Ela simplesmente parecia ter se desligado do mundo, e quase não se manifestava a respeito de nada.Sem saber o que fazer, todos torciam para que ela melhorasse quando os jogos de Quadribol começassem e ela se ocupasse com os treinos.
Mas agora é como se uma nuvem negra tivesse se afastado de todos, ao menos de quem não tivesse as mesmas tendências depressivas da Murta que Geme. Depois do espetáculo dos Kneazles, do mais mal-sucedido e mais famoso duelo entre estudantes dos últimos anos, e ainda da certa coisa que uma certa sonserina fez com um certo professor de Poções, os pensamentos dos alunos foram se voltando para o otimismo.E nos últimos dias várias coisas interessantes aconteciam...
O primeiro impacto veio há uma semana, na Sonserina.Antes da primeira aula, Draco apresentava Noriçá para Crable e Goyle e para quem mais quisesse ouvir como sua amiga, e ela fazia o mesmo logo depois para Mary, que teve uma repentina palidez seguida por desmaio.Depois disso, foi questão de (pouco) tempo para a notícia se espalhar.
- Isso está começando a me incomodar – confessava Noriçá para Gina e Hermione – Olha, é só eu passar para todo mundo começar a comentar.Parece até que eu ando com uma melancia pendurada no pescoço.
- E uma melancia loira. – respondeu Mione – Mas era de se esperar, não? Afinal, até alguns dias atrás vocês se odiavam, e ficaram bem populares por causa disso.E estamos em um colégio, de bruxaria, mas um colégio.
- Principalmente porque isso começou depois que vocês passaram a noite naquela detenção conjunta...
- GINA!!!!!!!!!!!!!!!QUE É ISSO? – Noriçá cresceu uns dois metros, igualzinho a Snape, e ficou vermelha inteirinha.
- Eu falei sem pensar, desculpa!Foi o que eu ouvi!As pessoas pensam muita besteira, né?Mas ela ficou bem atrapalhada...
Nesse momento Rony e Harry apareceram, já a par dos acontecimentos.Rony parecia bem agitado.
- Noriçá... – começou ele – eu ouvi alguns boatos de que você e o Malfoy estão...amigos???????
- Isso é verdade.APENAS isso. – respondeu ela, apreensiva.
- A cara de vocês tá estranha.Em que estão pensando? – perguntou Mione, meio preocupada.Ainda não tinham se metido em nenhuma encrenca boa desde o início das aulas, isso era inédito.
- Ah, não é nada. – disse Harry rindo, como que lendo os pensamentos da amiga – É que eu e o Rony estamos...cuidando de umas coisas.
- É.Umas coisas sem importância. – completou o outro.Nem um pouco convencidas, as garotas resolveram ignorar.
- Gina, é melhor a gente ir pra aula – Colin apareceu no corredor, sorrindo, mas ficou sério assim que viu Noriçá.Declarara inimizade pra ela desde que ficou sabendo que "ela ofendeu a ilustríssima sra. Trelawney".Mas antes de tudo isso era engraçado (pensem em Colin tentando odiar alguém) e não era propriamente um incômodo.
- Bom dia Colin, tudo bem? – Noriçá disse sorrindo gentilmente, apenas para provocar.Ele virou o rosto e passou por ela de jeito que acreditava ser muito mal educado.
- Eu vou chamar o Neville, como você pediu, Gina. – e sumiu de vista.
- O Neville tem chegado atrasado nos últimos dias mesmo. – lembrou-se Rony, já curioso – Você sabe por que, Gina?
- Parece que ele tem ajudado a Mary na limpeza dos caldeirões durante os intervalos.Se esquecem da vida, os dois, quando estão lá.
- Por isso ela não me contou isso? – Noriçá se perguntou.
- O Neville enfrentando o Snape assim?Nossa, o que está havendo? – Harry comentou.Rony deu uma risadinha marota e olhou para os dois.
- Noriçá.Harry.É difícil deduzir o porque das duas perguntas?
- Rony, você acha mesmo...bem é possível. – concluiu Mione.
- E eu estou dando uma força para os dois! – brandiu Gina – Vai ser ótimo pro Neville encontrar alguém que goste dele, e Mary é uma boa garota, e ainda por cima os dois formam um belo casal! – e fez um gesto de vitória com os dedos.Harry mais uma vez percebeu ela parara de travar na presença dele, e isso o deixava ainda mais apaixonado, e mais envergonhado também...
- Então, melhor irmos pra aula mesmo – disse ele – Não é, Rony?
- Ah, é sim, Harry.Tchau pra quem fica...
- É, até mais, garotas – Hermione foi com eles também.Gina foi atrás de Colin, que parecia ter morrido no caminho para a sala de Poções, e Noriçá foi andando sozinha pelo corredor, na direção contrária.
- Noriçá! – ela ouviu a voz de Draco ao seu lado, e sentiu aquela coisa se mexer dentro dela.
- Ah, oi, Draco!Parece cansado, o que aconteceu?
- Ah, não foi nada.Só precisei fugir da Pansy.Ela não está num bom dia...
- Ela tem bons dias?
Os dois riram juntos e começaram a andar.Noriçá de alegre passou para deprimida em um segundo, pois lembrou-se que Pansy era a namorada dele.Não queria pensar nisso, mas era impossível, ainda mais agora sendo amiga dele.
- Mas ela deve estar mesmo com ciúmes por estarmos conversando como amigos. – disse tentando disfarçar a melancolia.
- Ela não tem que ter ciúme de mim.Nós não temos nada! – ele respondeu de um jeito que parecia ser a milionésima vez que repetia isso.
- Não...ela não é sua namorada? – essa era nova para Noriçá.Draco suspirou antes de responder.
- Ela vive correndo atrás de mim, e ano passado eu cometi a besteira de aceitar ir ao baile com ela, e ela espalha essa história até hoje.Devia ter ficado na cama naquela noite...você não sabia disso?
- Não.Agora eu sei. – a vontade de Noriçá era de dar um salto de oito metros, gritar e rir até não poder mais, mas se contentou com um ingênuo sorriso..Mas ela não sabia que, toda vez que sorria, Draco sentia o coração dar um pulo, lembrando-lhe daquela sentimento esquisito que andava lhe rondando.
O segundo impacto aconteceu alguns dias depois, na biblioteca.Hermione acabara de entrar para devolver uns livros que havia emprestado, e estava num ótimo humor até aquele momento.Mas a cena que presenciou a caminho da mesa de Madame Pincy terminou com suas expectativas de um bom dia.A algumas mesas à frente, Rony conversava animadamente com Leandra, a monitora da Corvinal, que também parecia muito à vontade.
- Então eu pretendo entrar no concurso de xadrez de bruxo este ano, Leandra.Acho que posso ganhar um bom dinheiro com isso.Isso se eu vencer, é claro.
- Ah, mas você é ótimo em xadrez de bruxo, Rony.Claro, isso se for verdade o que falaram de você no primeiro ano...
- Bem, espero que você torça por mim...
- Claro que vou...
Os dois continuaram a falar, e estavam bem perto um do outro, sorrindo, ignorando totalmente a presença de uma abestada Hermione que observava os dois. A uma certa altura, Rony virou-se e olhou nos olhos dela com a maior cara de pau que conseguia fazer.
- Olá, Mione.Conhece a Leandra?
- Não.Nem sabia que você era assim tão amigo dela. – sem perceber, ela falou suficientemente alto para que todos ouvissem e se interessassem – Monitora da ...Corvinal, não é?
- É! – Rony parecia pronto pra atirar uma granada de mão pela boca – E mesmo sendo uma monitora e uma garota muito inteligente, ela me trata muito bem, sabe, Mione?
- Que é isso, Rony?Quem foi disse que você não é tão inteligente quanto qualquer um aqui? – Leandra olhou para Hermione com uma falsa expressão de desentendida.A outra respirou fundo e fechou a cara, se virando para sair.
- BIBLIOTECA NÃO É LUGAR DE ENCONTROS. – concluiu, dura como gelo, ao sair.Rony suspirou de alívio e sorriu pra Leandra.
- Obrigado pela ajuda.Deu tudo certo.Ela pareceu bem incomodada.
- Não me agradeça. – ela parecia um pouco zangada – Essas brincadeirinhas de ciumeira me cansam muito, sabe?Se quer saber, acho extremamente infantil.
- Não é pra você achar nada. – ele se levantou, irritado – Vou cumprir minha palavra, não é o bastante?
- Foi o trato. – ela se levantou também, ficando mais alta que ele – Você prometeu dar um jeito do John Rover ir comigo ao Baile das Bruxas, e eu estou esperando que o faça.
- Não sei qual é a sua com um tarado como ele, e ainda um ano mais novo do que você. – Rony fez cara de nojo, e ela olhou pra ele de um modo que parecia estar fitando um bebê (ele não gostou, mas não disse nada).
- Ah, Rony.John se acha o máximo porque é monitor e está no quinto ano. Mas eu quero mostrar o que uma sextanista é capaz de fazer se estiver a fim, se é que você me entende...talvez eu o assuste um pouco...mas também é verdade que tenho um fraco por garotos mais novos... – dessa vez ela olhou pra ele de um jeito MUITO estranho, fazendo-o sentir um frio na espinha.
- Tenho que ir.Tchau. – e saiu quase correndo da biblioteca, enquanto ela deixava o recinto bem devagar e sorrindo.
- Se ele não fosse tão apaixonado pela Sabe-Tudo...ihihi, é o Weasley mais gracinha que já apareceu por aqui!
Surgiram várias versões para esse incidente.Desde "Weasley e Vinci estão de rolo" passando por "Vinci quer pegar outro quintanista" e até "Weasley quer dar o golpe do baú".Mas nenhuma delas citava Hermione e muito menos John.O único que estava sabendo da verdade era Harry, que deduzira o correto depois de ouvir a versão impublicável de Hermione e as que circulavam.Rony acabou confessando, e não conseguiu convencer Harry a ajuda-lo na sua parte do trato.
- Eu até faria, Rony, mas mal consigo resolver o meu caso.
- Tudo bem, tudo bem, não se preocupe, vai cuidar de você e Gina.MAS Ó! Estou de olho em você!
- Calma, eu jamais faria que ela não quisesse!
- Não entende?Não é pra fazer nada nem se ela quiser!
- Tá, se você diz...
- E qual é o seu plano?
- Eu vou...chamar ela para um sorvete quando formos em Hogsmeade!
- Você é mesmo original e ousado...
- E você?O seu plano parece coisa daquela novelinha das cinco que o Duda assiste todo dia...
- Eu não sei porque não vejo novelas trouxas...
- Só as bruxas!
- Vai te catar, "Romeu"!
- Vai você, "Casanova"!
Enquanto eles debatiam quem era o pior conquistador, os dias passaram.E o terceiro e último impacto aconteceu.
Era uma segunda-feira nublada e fria, mas os alunos pareciam animados.Logo, a frota de corujas invadiu o salão, trazendo os pacotes para os alunos.Noriçá olhava atentamente, tentando distinguir na nuvem marrom e cinza a sua Parda, mas não conseguia vê-la.
- Tá esperando alguma encomenda, Noriçá? – perguntou Draco, sentado ao lado dela, logo após pegar seu pacote.Ela respondeu sem tirar a atenção do teto.
- Não nada especial, mas...é que até agora não recebi resposta dos meus pais da carta que mandei, então...
- Talvez eles tenham se enrolado um pouco, né?
- Eles são trouxas, não retardados!E Parda já os conhece muito bem pra saber o que tem de fazer. Mas acho que hoje não vai vir nada.
Logo que ela se sentou de novo, um embrulho caiu na sua frente e Parda piou ao seu lado.Ela fez um carinho na coruja e pegou o pacote, que era o embrulho padrão do Profeta Diário.
- Você fez a assinatura? – perguntou Draco, desviando o olhar do envelope que tinha recebido.
- É, eu fazia a assinatura do jornal lá do Brasil, então resolvi encomendar uma aqui também. – eles não perceberam que um barulho de cochichos e começou a se propagar por todo o recinto.
- O Profeta Diário é o mais popular aqui, e tem os melhores jornalistas também, hum, talvez tirando uma, mas de qualquer forma...
- QUÊ? – Noriçá arregalou os olhos ao ver a primeira página do jornal, e só aí Draco percebeu que todos estavam apontando seus exemplares e comentando, assustados.
- Noriçá, que foi?Noriçá! – como ela não tirava os olhos do jornal, ele arrancou o exemplar de John Rover e olhou a notícia da primeira página.
Ataque fulminante de comensais da morte no Brasil
Por Rita Skeeter
A comunidade bruxa brasileira – para os que não conhecem, um país de terceiro mundo da América Sulista – está em polvorosa com o que aconteceu ontem, na capital do Estado do Paraná,Curitiba, durante a forte chuva que se abateu sobre a cidade, em plena luz do dia.
Na área próxima ao maior estádio de futebol da cidade – vulgarmente chamado de arena – aconteceu um terrível e sangrento ataque de comensais da morte aos trouxas residentes.Aproveitando que a maioria estava em casa por causa da chuva e por ser domingo, eles lançaram feitiços proibidos de todas as categorias, e até usaram criaturas mágicas perigosas para causar pânico.Os bruxos locais não puderam detê-los até o sempre atrasado Ministério da Magia chegar, e foram aniquilados também.Ao final da confusão, nenhum comensal foi preso.Não foi necessário aplicar nenhum feitiço de memória porque não sobrou ninguém do bairro para contar a história.Uma verdadeira chacina.
Isso pode significar que Você-Sabe-Quem finalmente voltou com todas as forças e que as defesas que temos são inexistentes quando os comensais querem fazer um grande trabalho como esse.Talvez isso mostre que só nos resta assistir à volta dos tempos negros de outrora.
Draco terminou de ler e ficou realmente surpreso.Não tinha ouvido seu pai comentar nada nesse sentido em casa, e tinha sido uma coisa grande.Talvez grande demais.Mas se esqueceu desse detalhe quando se lembrou de algo que fez seu estômago se revirar.
- Noriçá!
Deu com o rosto de Noriçá pálido feito a neve, molhado de lágrimas de tristeza e ódio.A voz veio tremida e rouca como a de um cadáver, falando tudo que ele não queria ouvir.
- Meu bairro...meus pais...meus amigos...todos...bruxos e trouxas...todos... moravam... lá...
- Não...
- Sim, Draco...todos...TODOS ESTÃO MORTOS AGORA!
Ela se levantou de repente e tremia toda, respirava ofegante, as lágrimas não paravam de cair.O salão todo ficou em silêncio, entendendo imediatamente o que aquilo queria dizer.A algumas cadeiras dali, Mary se levantou, também tremendo. Pansy sorria diabolicamente por dentro.Harry sentiu ainda mais raiva de Voldemort naquele momento.Finalmente, a bomba explodira, mas não em cima dele, e sim de alguém que não tinha nada a ver com a história.Isso era o mais desprezível em Voldemort:sempre atingir da pior forma possível as pessoas ao redor de seu inimigo, fazendo-o sofrer sem sentir dor.
Novamente e tragicamente, Noriçá se tornava o centro das atenções.
- Eu...
- NÃO FALE COMIGO, DRACO MALFOY!
Ela estava ainda mais ameaçadora do que na ocasião do duelo.Parecia encarar Draco com todo o ódio que poderia existir dentro dela.Ele entendeu imediatamente o motivo daquilo, e se desesperou.
- Eu não sabia de nada!
- MENTIRA!Você não esqueceu...queria mesmo se vingar das ofensas...do duelo...mas não tem coragem, nem força suficiente para me enfrentar de frente!Me apunhalou pelas costas, parabéns Draco Malfoy, SOU UMA DESGRAÇADA AGORA! Você conseguiu...me enganou...céus, como pude acreditar que seria meu amigo!Fui burra...mas você foi bem...O QUANTO SE DIVERTIU ENQUANTO RIMOS JUNTOS,AO LEMBRAR QUE LOGO EU NÃO IRIA RIR DE NOVO!Vai ver por isso ria comigo...foi muito difícil suportar a sangue-ruim de terceiro mundo boazinha e idiotinha?!
- Não...não é verdade, por favor, eu sei que parece óbvio mas eu não sabia!
- Olhe em volta...olhe bem...estão observando você...acha mesmo que alguém vai acreditar, depois de te conhecerem bem????
- Só você me conhece bem...
- Eu não quero mais ouvir sua voz!!! – ela apertou as mãos nos ouvidos e saiu correndo do salão, chorando mais.Draco teve o impulso de ir atrás dela, mas suas pernas estavam coladas no chão, tamanho o choque.Se pudesse choraria também, mas fazia tanto tempo que não fazia isso...
- Draco...
- Crable, Goyle, não me aborreçam!
- É que você não terminou de ler o bilhete que recebeu...parece importante...
Draco arrancou o bilhete das mãos de Goyle, zangado.Ficou ainda mais pálido e trêmulo ao ler o curto recado.A falta da assinatura não impedia que soubesse que mandara aquilo.
Isso não precisava ter acontecido dessa forma, mas você se intrometeu no que não lhe dizia respeito. Lembre-se de que a culpa é toda sua, por isso não reclame de nada.
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