Capítulo 7: Dupla Dor

            Draco entendeu perfeitamente o que aquilo significava.Mil pensamentos não paravam de ir e vir dentro da sua mente, tanto que só voltou a si quando, repentinamente, sentiu uma dor aguda no nariz e caiu sentado no chão, assustado.

- LEVANTA, SEU DESGRAÇADO!NÃO É HOMEM O BASTANTE NEM PRA OLHAR NA CARA DE QUEM TE ACETOU, SEU BANANA?

         Ao levantar a cabeça, deu com a figura de Mary à sua frente, com fogo e lágrimas nos olhos, parecendo pronta a repetir o soco.Atrás dela muitos alunos de todas as casas o olhavam de um modo muito pior do que o normal, aprovando a atitude da garota.Draco percebeu como Crable e Goyle pareciam duas formigas ao seu lado perto de quase mil alunos furiosos.Não sabia como reagir, apenas engoliu em seco e permaneceu sentado, mas pronto para começar a correr se a ocasião pedisse.Mas apenas Mary se pronunciou de novo, e com palavras, pra sorte de Malfoy.

- Eu devia ter ficado de olho mais aberto...como um verme como você poderia estar sendo sincero com a Noriçá!Como eu fui burra!Eu quase até cheguei a pensar na possibilidade de você ser um cara legal!Estava até pronta para um ataque partindo de você, mas, droga, PASSOU DOS LIMITES ACABAR COM A FAMÍLIA DELA!

- EU NÃO ACABEI COM A FAMÍLIA DELA, NÃO TIVE NADA A VER COM ISSO!!!!!- ele se levantou de um salto, sujando a roupa com o sangue que escorria do nariz e esquecendo que gritava para Hogwarts toda na sua frente.O resultado é que o silêncio tomou conta do local.Os alunos reagiram como se reage a uma piada de muitíssimo mau gosto.Mary respirou fundo antes de falar, como se medisse as palavras.

- Todos já sabem ,Malfoy...todos sabem o que a sua família faz nas horas vagas...

         Draco calou-se.Ele sabia que todos sabiam, e adorava isso.O fazia mais temido ainda, e o melhor é que ninguém poderia provar alguma coisa.Abaixou a cabeça e começou a pensar de novo.Que outra reação ele poderia esperar?Como disse Noriçá, todos ali conheciam ele.Conheciam o que ele fazia.Mas o que ele seria ainda capaz de fazer, nem ele mesmo sabia.E isso o assustava.Por vezes, maravilhava-se com os poderes das Trevas que seu pai obtia, sentia-se invencível.Por outras,tinha certeza de que seu pai e todos os amigos dele estavam completamente insanos,e morria de medo de ficar igual a eles.Em que acreditar?Essa era a decisão que ele passou a vida adiando.

- Traidor...TRAIDOR!

Era o que estava afogado na garganta de cada aluno em Hogwarts, inclusive  sonserinos, que ele usara durante esses anos, e rivais da família Malfoy.Metade dos alunos da casa permanecera sentada, sem querer se envolver.Apenas Crable e Goyle não se mexeram.Debaixo dos gritos, Draco foi caminhando devagar até a porta, ainda perdido em pensamentos.

- Eu não sabia de nada...não sabia...

- Mas se ela não estivesse sendo minha amiga, acho que isso não teria acontecido com ela...isso ficou bem claro no bilhete...

- De qualquer maneira eu tenho culpa sim...eu destruí a vida dela e não me sinto nada satisfeito.Acho é que meu peito vai explodir de dor...

- Se eu estou assim, imagina Noriçá...

- Deve estar..solitária...

- Completamente...solitária...

Em um segundo ele esqueceu todos os pensamentos e culpa.Abriu a porta com força e correu castelo afora, só tendo uma coisa em mente.

- Eu tenho que encontra-la, antes que aconteça alguma coisa!Eu não quero que aconteça nada com ela!Não quero mesmo!

Claro que nesse ínterim Harry, Rony e Mione já estavam debaixo da capa de invisibilidade procurando Noriçá pela Floresta Proibida.Iam perder um dia de aula, mas isso não era muito se comparada à possibilidade de Noriçá perder a cabeça naquele lugar.E a situação não poderia ser adiada para as clássicas altas horas da noite.

- Noriçá!Apareça!

- Ei!Noriçá!Responda se estiver ouvindo!

- Por favor, Noriçá!

Resolveram parar um pouco, pois já andavam a um bom tempo e precisavam pensar melhor aonde procurar.Sentaram-se em uma grande pedra, e Harry enrolou a capa embaixo do braço.

- Certo, aonde ainda não fomos? – perguntou Rony, cansado.

- Não achamos nenhum centauro...nem outra criatura, nem sinal de Noriçá.Será que ela veio mesmo pra cá? – desabafou Mione, tensa.Não estava tão acostumada com a Floresta Proibida quanto os dois garotos, mas não se queixava.

- Aquele dia que ela sumiu, veio pra cá direto.E como ela pode falar com os felinos, suponho que tenha feito amigos aqui. – concluiu Harry, pensando que ela era ou muito segura ou muito louca pra fazer isso, ele não faria amizade com nenhuma cobra, apesar de poder entende-la (mas, cobras são cobras e gatos são gatos, certo?).

- E quando a gente achar ela, o que faz?A convidamos para a Temporada de Caça ao Malfoy? – disse Rony, sempre sem perder a chance de imaginar coisas horríveis acontecendo com Malfoy.

- Temos que ter cuidado ao falar com ela. – falou Mione um tanto repreensiva para Rony – Ela está muito machucada, duas vezes.Primeiro recebeu a notícia como um tiro à queima-roupa.E mais, foi traída por quem ela pensava ser amigo dela.

- Mas que coisa, ela é tão esperta ,será que acreditou mesmo que o Malfoy poderia ser amigo de alguém? – Rony disse inconformado – Ainda mais que eles eram, ou melhor, são, inimigos desde que se viram a primeira vez.

- O Malfoy nem se lembrava mais de mexer com a gente depois que começou a disputa entre os dois – concluiu Harry – mas ele também não voltou a mexer depois que ela supostamente terminou.

- O mais certo é que estivesse se fazendo de bonzinho para a Noriçá não deixar de ser amiga dele e ele pudesse saber tudo o que quisesse sobre ela. – respondeu Rony –Se bem que até hoje eu não entendi como isso começou.Pensei até que fosse plano de vingança da Noriçá.

- Se era, ele foi mais rápido – Mione levantou-se, tentando não mostrar toda sua ira interior – Mas vamos ser mais rápidos que ele, e ajudar Noriçá.

- É, vamos continuar procurando ela – Harry desdobrou novamente a capa, e quando ia vesti-la, olhou de um impulso para o lado.Rony se assustou.

- Que foi Harry?Viu uma acromântula?

- Não, Rony – ele revirou os olhos – Eu tive uma impressão estranha, sei lá, esquece.Essa Floresta é assim mesmo.

Os três vestiram a capa e desapareceram no mesmo instante.Perto dali, um par de olhos castanhos redondos observava atônito o que acontecia e desapareceu dos arbustos quase ao mesmo tempo.

Em Hogwarts, era impossível que o quase-linchamento de Malfoy não despertasse a atenção dos professores.Todos os alunos sentados nos seus lugares, com clima de sermão no ar.Minerva estava pior que no dia do duelo.Flitwick se abanava com seu mini-leque.Moody parecia achar aquilo tudo muito legal e Snape já reparara que faltavam certas três pessoas na mesa da Grifinória.Apenas Alvo Dumbledore estava impassível, sério mas sem nenhuma emoção.Em suma, não dava para saber o que ele estava pensando.Depois de passar os olhos por todo o salão, levantou-se.

- Percebo que estão acontecendo coisas sérias no nosso ambiente escolar desde o início do ano letivo.Mas o que aconteceu hoje foi algo muito sério.Estou falando dos jornais.De uma notícia especificamente.

Alguns alunos sentiram um mal-estar no estômago nessa parte.

- Mas estou orgulhoso de vocês.Não se deixaram levar pelo pânico, embora eu saiba, e não há nada mais normal, que ele está dentro de todos.Mas o comportamento seguinte foi algo digno de atenção especial.Como não posso levar todos à minha sala, vamos discutir o assunto aqui mesmo.Srta. Sienfield, por favor.

Mary se levantou da mesa da Sonserina, ainda tremendo um pouco, e foi até o meio do salão, bem na frente da mesa dos professores.Evitou olhar para Snape, mas não havia motivo para medo.Ele a encarava da mesma maneira que faria a qualquer um (não que seja uma maneira agradável).

- Srta. Sienfield, como a senhorita cometeu a ação inicial, a chamei primeiro.Você reconhece que agiu de maneira errada ao agredir um aluno dentro do colégio?

- Reconheço sim...mas não me arrependo, prof. Dumbledore.Eu faria de novo...mil vezes...de novo...

Dumbledore sorriu gentilmente, deixando-a um pouco sem graça.

- Entendo como se sente, senhorita, mas não fique assustada.Apenas esteja na minha sala assim que bater o último sinal, para conversarmos.Pode ir sentar agora.

Mary se virou e voltou à mesa da Sonserina.Ao sentar, notou o olhar preocupado de Neville.Acenou, dizendo que tudo bem.Ele sorriu de volta.

- Bem, quanto aos outros que apoiaram esse comportamento, devo alerta-los para que não se deixem levar pelas emoções da próxima vez.Sim, eu digo isso porque haverão próximas vezes, e todos devem estar cientes disso para que não sejam pegos de surpresa.Pode demorar um tempo, como desta vez, ou pode ser amanhã.Mas esta é a hora em que a união vai fazer a diferença.Mais do que nunca, eu peço união entre todos – o diretor deu uma severa olhada na direção da mesa da Sonserina, de um modo que nunca havia feito.Todos permaneceram imóveis por um tempo, até que ele se retirasse, com o mesmo semblante de como entrara.Snape, Hagrid, Minerva e Moody o seguiram, e não foi necessário que Filch dissesse para todos os alunos irem para suas aulas.

Enquanto isso, na entrada da Floresta Proibida, Draco parecia juntar coragem para tomar uma decisão.E isso não eram coisas fáceis de se fazer no caso dele.

- Noriçá só pode ter vindo pra cá...foi assim da outra vez...já cheguei aqui, agora é só entrar e encontrar ela...oh sim, é a parte mais fácil mesmo!

Antes que perdesse o ânimo, Draco adentrou a floresta e logo começou a tremer por dentro e por fora.Apesar de seu pai e os comensais amigos dele comentarem que aquele era o melhor lugar de Hogwarts para as "convenções", ele achava que aquele era o pior lugar da Terra, amaldiçoado mesmo.Desde o primeiro ano, em que foi obrigado a dar uma passeada por lá, evitava chegar perto.

- Vou precisar vasculhar tudo isso aqui para encontrar a Noriçá...

De repente, pela segunda vez naquele dia, ele pensou que ia chorar.

- Mas se ela não quiser falar comigo?Se ela declarar inimizade de novo?Ela é bem capaz de fazer isso, e então...eu vou perder a única pessoa que gostou de mim depois de me conhecer...e que eu gostei também...

Ele sacudiu a cabeça para espantar os maus pensamentos, que de anda iam adiantar naquele momento.

- Não é hora para crises...eu não vou deixar isso acontecer...isso, eu vou provar que sou inocente!E eu vou ajudar ela.Espero que eu consiga...

Ele parou e olhou para a esquerda, depois para direita, para a frente, para trás e finalmente para cima, desanimado.

- Espero que eu consiga...ACHAR O CAMINHO CERTO!

Deixemos Draco com suas (in)decisões e voltemos à Hogwarts, aonde Snape encaminhava Mary para a sala de Dumbledore.ele na frente, sério como sempre, não dizia uma palavra e não fazia idéia (ou fazia?) da ansiedade da garota ali atrás dele.Ela não imaginava, depois de pensar bem, que o ataque dela na aula de Poções iria parar só nos caldeirões.O que fizera realmente foi brabo, até mesmo para uma sonserina.Mas quando viu, já tinha feito.Apesar de que valera a pena o esforço, Neville e ela agora estavam bons amigos – e ela se sentia superfeliz com isso, mas nem pensava no porquê.

- Uvas Recheadas – a voz de Snape interrompeu os pensamentos dela – Chegamos.Entre.

Mary anotou mentalmente o maior número de informações possível para depois contar a todos como era a sala do diretor.Mas mal teve tempo de admirar Fawkes, que parecia bem agitado, sendo logo chamada.

- Pode entrar, srta. Sienfield.

- Obrigada, diretor...

- Sente-se por favor.Obrigado.Vamos direto ao assunto.Achamos que a senhorita pode nos ajudar sobre uma dúvida que temos...

- Porque...eu...? – Mary teve medo de que estivesse relacionado ao que ela estava pensando.

- Pela expressão da senhorita, acho que sabe o porquê. – Dumbledore respondeu calmamente.Mary levantou-se de um salto, um tanto indignada e um tanto assustada.

- Mas eu não sei de nada!Eu não tenho nada a ver com isso, já cansei de ser importunada por causa desse assunto!o que mais eu tenho que fazer para provar?

- Responder às nossas perguntas seria um meio. – manifestou-se Snape pela primeira vez.Mary o encarou nervosa.Moody deu uma risadinha e olhou para Snape com ar superior.

- Não ameace a garota, Severo.Não vai adiantar nada se ela ficar assustada. Senhorita, sabemos que não tem culpa, mas precisamos de você.Quer ajudar a senhorita Nomini, não quer?

Mary olhou para Moody e sentou de novo, mais controlada.Limpou as lágrimas que ameaçavam cair e levantou o rosto, decidida.

- O que eu tenho que fazer?

- Já lhe direi, srta. Sienfield, mas antes, Hagrid, por favor, feche a porta.

Os primeiros raios do sol começavam a desaparecer, e nada de Harry, Rony e Mione acharem sinal de Noriçá.Se não terminassem a busca logo, anoiteceria e o perigo redobraria.Mione não conseguia mais disfarçar sua ansiedade.

- Tá anoitecendo...será que aconteceu alguma coisa?

- Se aconteceu, vamos descobrir. – disse Harry, tentando tranqüilizar ela.

- Não se preocupa Mione, depois de uns dois ou três passeios a gente até acostuma com esse lugar aqui – Rony deu um tapinha nas costas dela, sem olhar nos seus olhos.Ela deu um sorriso bobo que Rony não viu, pois durou poucos instantes.

- O que vem vindo aí? – ela apontou temerosa para uma parte de mato de onde saía uma trilha quase imperceptível, provavelmente feita por algum animalzinho noturno. De lá, um vulto se aproximava na direção deles.

- Não se mexam – disse Harry, se colocando em posição de defesa.Instintivamente Mione segurou a mão de Rony, que correspondeu sem sentir.Mas, quando puderam ver melhor, acabaram os motivos para medo.

- EU SABIA QUE ERAM VOCÊS!!!!!! – ao mesmo tempo que o grito, o rosto vermelho de Draco apareceu na pouca luz que restava.Apesar de empinado como sempre, dava para perceber que andara perdido, pois estava muito sujo e suado e Rony juraria mais tarde que o cheiro era mais do que suor e mato.

- Ah, é só o Malfoy! – os três se aliviaram ao mesmo tempo.

- COMO?Ah, esquece...vocês têm que se meter em tudo mesmo!O que estão fazendo aqui?

- Não te importa, Malfoy, mas viemos achar a Noriçá antes que você faça mais mal a ela!Se é que seria possível... – esbravejou Harry.

- Eu não fiz nada!Pela enésima vez, eu não sabia de nada!

- E o Papai Noel não usa mais Pó de Flu!Poupe a nossa paciência, pro seu próprio bem, Malfoy! – ameaçou Rony.

- Acha mesmo que alguém acreditaria que você é inocente?Foi muita imprudência de sua parte... – falou Mione tentando não se descontrolar.Malfoy fechou a cara de vez e deu as costas pra eles.

- Não me importa o que vocês pensam de mim, tenho mais o que fazer... – ele ia começar a andar, mas parou de repente.

- Que foi, quer ficar e brigar? – riu-se Rony, animado com a idéia.

- Cala a boca, Weasley!

- Cala a boca, Rony! – Mione acompanhou, olhando fixamente para a frente.Rony se zangou e nem percebeu que Harry estava do mesmo jeito.

- Qual é, Mione????? 

- Aquilo... - ela virou o rosto dele para a frente, mostrando o enorme nundu que se aproximava, analisando cada centímetro do seu próximo jantar.Não foi necessário que alguém os mandasse correr na direção contrária, com o bicho nos seus calcanhares.

- O QUE É AQUELA COISA??????

- É UM NUNDU, MAS...NÃO PODE SER, NUNDUS SÓ EXISTEM NA ÁFRICA!

- AVISA ELE DISSO, MIONE!

- QUE IMPORTA ISSO AGORA?ELE ESTÁ CHEGANDO PERTO!

Eles podiam ouvir a respiração rouca da pantera gigante nas suas nucas.No susto, ninguém lembrou da capa de invisibilidade, que era inútil a essa altura do campeonato.Varinhas então, piada, um nundu não podia ser subjugado por menos de cem bruxos experientes e ali haviam quatro estudantes assustado e cansados.E o pior que se o nundu decidisse soltar uma baforada tóxica ali, não haveria chance.Mas foi aí que aconteceu.De repente, o nundu parou, como se tivesse visto um fantasma.Intrigados, os quatro olharam na mesma direção para onde ele rosnava e viram, sob a luz da lua crescente, um animal praticamente do mesmo tamanho do nundu, também felino, mas muito diferente.Quanto mais ele se aproximava, mais a pantera recuava, até que um rugido formidável do estranho animal o afugentou de vez.

- Devemos...agradecer?

O animal voltou seus olhos amendoados para Rony, que se arrepiou todo - "por que eu não fico calado?" – e todos deram um passo pra trás.Ele fixou-se em Draco, que sentiu um arrepio na espinha muito familiar, e veio se aproximando elegantemente, e conforme andava, uma fumaça branca se formava ao redor de seu corpo, até que Noriçá apareceu por completo na frente do embasbacado grupo de "resgate".