Capítulo 12: Nem tudo é tristeza
Uma pesada e ameaçadora chuva começou a cair, como que anunciando más notícias.Mas ela chegara um pouco atrasada, pois a pior notícia de todas acabara de explodir em Hogwarts.
- Alvo... – Minerva sussurrou ao diretor, em tom de súplica – Alvo, pelo amor de Merlim, faça algo!!!!
- Mantenha a calma,Minerva. – ele respondeu, sério como nunca parecera perante todos.Parecia haver fogo em seus olhos azuis. – Hagrid, cuide dos alunos antes que isso vire um caos.Severo, faça o favor de alertar a 'ele'.
Snape começou a sair rápido do salão, mas parou a meio caminho.Bichento estava lá, impedindo a passagem.O professor o encarou duramente.
- Quem é você de verdade? – murmurou ele mais pra si do que para o gato.Este apenas miou soturnamente.
- Pode leva-lo, Severo! – Dumbledore intercedeu – A srta. Granger me perdoe, mas Bichento, ou qual nome preferir, precisa estar presente.
Snape fez sinal para o felino o seguir, e os dois desapareceram na escada.Moody apenas observava tudo com um sorriso bobo.Minerva estava a beira de um ataque, pelo nervoso da manhã e por não estar entendendo muita coisa.
- E o senhor tem o disparate de rir numa situação dessas, sr. Olho-Tonto? – ela descarregou.Moody a fitou sem mudar de humor.
- É que eu acabo de ganhar uma aposta, sabe... – antes que pudesse explicar melhor, percebeu que alguém chegava correndo à mesa dos professores.
- Era isso o que queriam? – Mary, muito abalada, falava com esforço entre lágrimas de tristeza, raiva e desespero – Viram o que aconteceu?O que eu fiz não foi de ajuda nenhuma, mesmo!Eu...eu tenho culpa nisso também, eu sinto que tenho!!!!! – ela escondeu o rosto entre as mãos, sem controle sobre o choro.Moody se levantou.
- Srta. Sienfield, não adianta se desesperar agora.O que está feito está feito!
- ELA NÃO ERA SUA MELHOR AMIGA!!!!!!! – Mary teria partido pra ignorância, se Neville não a tivesse segurado a tempo.
- Mary, calma!Controle-se, eu imploro! – ele pediu, nervoso também – O senhor Moody e o senhor Dumbledore vão ajudar...não é? – ele olhou desconfiado pra o auror, que assentiu com a cabeça.
- Obviamente, é nossa responsabilidade também.Vamos, os dois me sigam.A senhora também, senhora McGonagall, se quiser se informar melhor.
Obviamente, Harry já tinha ido correndo buscar sua capa de invisibilidade, e Rony pegara também as capas de chuva.Hermione os esperava no portão, impaciente, Gina ao seu lado.
- Vamos, não temos tempo a perder! – disse Harry – Dumbledore está se mexendo, não sei o que fará, mas fará.Mas Noriçá tem que estar aqui, é mais seguro!
- E depois, vamos fazer churrasco de besouro, certo? – Rony comentou, seu bom humor sempre presente.Hermione sorriu pra ele.
- Claro que sim!Depois que fizermos umas perguntas...estou com umas desconfianças aqui dentro que começam a fazer sentido. – disse ela, apontando a própria cabeça.Gina se aproximou.
- E a minha capa de chuva?
- Tá brincando que você vai! – Rony disse, no seu papel de irmão-mais-velho-responsável.
- Gina, é perigoso. – Harry falou – Melhor que você...
- Eu vou de qualquer jeito, Harry Potter! – nem ela soube como conseguiu dizer isso, e isso também não importava.Harry a olhou por uns instantes, como se descobrisse outra Gina Weasley.Por fim, sorriu e entregou-lhe uma capa vermelha e remendada.
- Eu tinha uma esperança disso... – justificou-se.Gina corou e sorriu do fundo da alma.Rony mostrou-se surpreso.
- Ora, seu grande sacana Potter!Isso é trapaça!
- Parem de enrolar, se vamos entrar naquela floresta nojenta de novo, vamos fazer isso rápido! – gritou Hermione cada vez mais impaciente.Mas pouco antes de saírem, ouviram passos se aproximando.
- EI, ESPEREM AÍ!!!!!! – Draco vinha correndo, ainda vestindo a capa de chuva.Os outros ficaram surpresos.
- Você quer vir??????? – disseram ao mesmo tempo os quatro.Draco, ofegante, parecia irredutível.
- Claro que sim!Eu já devia ter saído até!Mas... – travou.Rony continuou.
- Mas a Floresta é menos ruim em grupo, certo?Acho que concordamos em alguma coisa!
- Eu devia saber disso... – Harry comentou pra si mesmo – Bem, se estão todos aqui, vamos!
Milagrosamente, a capa foi suficiente para todos (isso é estranho...), e mais do que depressa eles seguiram na direção do único lugar onde Noriçá poderia estar.
A chuva aumentava cada vez mais e os relâmpagos se aproximavam.Talvez essa situação parecesse pior do que era por causa da atmosfera pesada da Floresta Proibida, mas realmente estava difícil manter o passo, ainda mais com cinco pessoas espremidas dentro da capa de invisibilidade.Além de tudo isso, o objetivo era procurar uma pessoa que provavelmente não queria ser encontrada.Os gritos deles pareciam se perder na imensidão de água ao redor ou serem abafados pelos trovões.Mas não pensavam em desistir tão cedo.
- Aqui é o lugar onde a gente encontrou Noriçá da outra vez, quer dizer, onde ela nos encontrou.Vejam! – Harry apontou a pedra de onde a amiga saltara da vez anterior, mas dessa vez não havia Lua sobre ela.
- Ao menos não nos perdemos ainda – disse Rony – Acho que devemos seguir essa trilha, foi dessa direção que Noriçá veio naquela noite.
Caminharam por mais um tempo, já até acostumados com a chuva sempre caindo. Procuravam não dar atenção aos estranhos sons e vultos que saíam de dentro dos arbustos fechados, tão comuns na floresta mesmo com tempo ruim.Mas conforme seguiam a trilha, iam entrando cada vez mais no mato fechado e distante.E nenhum sinal de Noriçá.
- Gente, essa trilha é muito estranha – disse Mione – Já estiveram nessa parte da Floresta antes?Ela é de algum modo...diferente, sei lá!
- Nunca – respondeu Harry – Acho que a floresta é maior do que pensamos.Mas concordo com você, Mione.Esse lugar não me agrada.
- Onde está aquele gato besta quando ele pode ser útil? – esbravejou Draco – Ele deve saber onde a Noriçá costuma ir quando está aqui...
- Essa historia eu ainda não entendi – disse Rony, em tom desconfiado – O Bichento conversaria o quê com a Noriçá?Tudo bem que ela entende os felinos, mas será que é interessante um papo com eles?
- Ela nunca me contou o que ele dizia – respondeu Draco – Falou que "não era interessante pra quem está do lado de fora", e nunca mais falamos no assunto.
- Com Bichento ou não, acho que estamos chegando a algum lugar – disse Harry, forçando a vista entre as lentes embaçadas – Posso ver algo em destaque mais à frente...mas é só um borrão, temos que chegar mais perto.
- É alto – disse Mione,analisando o pouco que conseguia ver – E com certeza não é uma árvore nem mesmo algo natural, arrisco dizer.
- Espero que não seja VIVO. -completou Rony.
Instintivamente, começaram a avançar com cautela maior, pois apesar de protegidos pela capa de invisibilidade, vá se saber o que estava ali na frente.O lugar era mais longe do que parecia, portanto também era maior do que eles pensavam, e quando se aproximaram o bastante e pararam para vê-lo nitidamente, Gina foi a primeira a arregalar os olhos e se manifestar em palavras.
- TÚMULO. – gaguejou ela, em tom aterrorizado – Estamos diante de um ENORME TÚMULO.
- Uma tumba seria mais apropriado... – gemeu Mione – O que poderia estar guardado, ou melhor...enterrado numa coisa dessas?
- Eu imagino mas não tô nem um pouco a fim de confirmar – falou Draco, mais assustado do que as duas garotas juntas – A Noriçá não entraria numa coisa dessa nem que uma quimera a convidasse!Estamos na trilha errada!!!
- Eu gostaria tanto ou mais do que você que fosse assim, Malfoy – Harry o encarou– Mas que outro caminho podemos tomar?
- Harry, não é por nada.... – começou Rony, ainda vidrado na construção rústica – Mas depois de quatro anos de experiência, não recomendo que metamos nosso nariz aí dentro!Faz favor!
- Eu concordo plenamente, Rony – respondeu Harry – Foi por isso que perguntei que outro caminho podemos tomar!Não foi uma ironia!
- Nós voltamos agora por onde viemos! – gritou Gina, agarrando num impulso o braço de Harry e apontando pra trás da parede de pedra – PRA LONGE DAQUILO!
Foi tudo muito rápido.Mal Gina terminou de falar, umas duas dezenas de Nundus negros e de olhos rasgados saíram das sombras com um alvo certo.O ambiente cheirava a humano molhado, e mais uma vez a capa de invisibilidade era tão útil quanto um vidro de nanquim.Sabendo disso, a turma procurou escapar da única maneira possível, dispersando os bichos.Assim, embrenharam-se no meio da mata, cada um em uma direção, torcendo para que a sorte fosse generosa com todos (mas se quisesse descontar o Malfoy tudo bem) e que o mau tempo fosse seu aliado.
- Não acredito! – Noriçá voltou o olhar para fora da pequena caverna onde se abrigara da chuva.O que ela via era apenas uma cortina pesada de água passando, mas podia senti-los se movendo em algum ponto.Engoliu em seco.
- Não era apenas um... – sussurrou – Mais de dez...bem mais...como Bichento avisou...estão atrás de algo grande.Mas o que?E...para quem?
Como ventava muito, ela encolheu-se de novo no interior da toca.Além do frio, tremia só de pensar em ser encontrada.Pelos Nundus ou por qualquer um.
- Um é moleza, dois passa, três com um pouco de trabalho...mas dez, quinze, isso nem mesmo Onça Nomini pode enfrentar...prefiro enfrentar Hogwarts inteira...
Por um momento, lembrou-se daquela manhã nublada...dos olhares e murmúrios que corriam pelo salão...da desconfiança...das palavras de fogo do jornal...mais do que isso, lembrou-se dela.Da garota.A "vítima".De como a encontrou em choque no quarto depois do ataque...uma manhã nublada...olhares e murmúrios...desconfiança...a garota saíra do colégio um ano depois...como provar que ela não morrera pelas suas mãos?E como provar que a maldita Rita Skeeter mentira, se ela realmente era...aquilo, maldição sem nome, perigosa, suspeita de assassinato...começou a chorar muito, desesperada, o rosto entre os joelhos.
- Mãe...pai...o que que eu faço agora?O quê?Não posso voltar, não posso, não tenho chance...maldita chuva, eu já estaria longe daqui...longe de todos...longe...
Um rugido cortou o pingar da chuva, muito perto.Noriçá podia ver a fera tentando subir numa árvore, sozinha.Nundus são mestres nisso, mas toda vez que ele tentava, algo o fazia cair de lá, deixando-o mais furioso.Achando isso estranho, Noriçá aguçou os ouvidos e pôde escutar repetidas vezes uma palavra...
- Estupefaça!Estupefaça!Estupefaça, de uma vez por todas, bicho estúpido! – a voz vinha da árvore, e fez o coração de Noriçá dar um pulo, como alguém que encosta a mão sem perceber numa chapa quente.
- DRACO?Draco está lá?
- Ah, eu não vou poder fazer isso por muito mais tempo! – ele gemia, sem parar de soltar feitiços estuporantes, mesmo que nem em mil anos eles fossem capazes de afastar o Nundu.O pior era saber disso perfeitamente.
- Eu não posso morrer desse jeito!POR QUE ESSE BICHO NÃO SOME???????????
Nesse momento, o galho onde Draco estava cedeu e ele caiu com um estrondo, já esperando a mordida de misericórdia.E não teria aberto os olhos de jeito nenhum se não ouvisse uma voz muito conhecida.
- Seu desejo foi atendido.
Ele levantou o rosto, pensando estar vendo coisas.Mas o olhar que o fitava era tão real quanto a água que encharcava a ambos.
- Foi...foi mesmo... – ele esqueceu a dor dos sustos e da queda, e fez o que tinha vontade há muito tempo.Deu um abraço muito apertado em Noriçá, como jamais fizera na vida.Surpresa e feliz, ela só pôde retribuir, torcendo para que a chuva levasse todas as tristezas embora por pelo menos um minuto...
- Não some de novo, tá?Por favor...
- Não devia...não devia ter vindo...
- É claro que devia!Eu...não podia deixar assim...
- Não, não tem porque...não tem porque comprar essa briga...
- É claro que eu tenho.Esse é o momento de mostrar pra você...mostrar o quanto eu te amo!!!!! – ele mal acreditou que conseguiu, e da certeza que teve das palavras.
- Draco...você disse... – ela tremeu dos pés a cabeça, mal podendo acreditar.Mas antes que pudesse reagir, ele voltou a ficar muito nervoso e a falar sem parar.
- Mesmo que você não goste de mim, mesmo que estejamos no meio de tanta confusão, mesmo que eu seja um Malfoy, mesmo que isso complique tudo ainda mais, mesmo que seja uma atitude idiota, isso não vai mudar!Eu nunca pensei que fosse dizer tudo isso para uma garota um dia, mas... mas eu não sei, eu não tenho certeza de mais nada como tinha antes, só de...de que eu não quero que você sofra mais, porque eu te amo, eu...
- DRACO!Deus! – ela conseguiu sorrir – Está pior do que a Mary...Nem deixou eu responder... – ele ficou completamente tenso um instante, mas o brilho no olhar dela o acalmou – O que mais eu posso dizer, eu te amo também, meu Malfoy medroso e nervoso!
Uma declaração de amor na chuva é algo muito batido mesmo, mas parece que funciona.E toda a tempestade que os circundava, inclusive a que ainda viria, pareceu esvair-se, envergonhada e enfraquecida, enquanto se beijavam.
Enquanto isso, Hermione perambulava pela Floresta, aflita e exausta.Os Nundus pareciam distantes, mas ela não se sentia nem um pouco segura.Era impossível manter o autocontrole.
- Onde estou?RONY!HARRY!Rony...me ajuda...eu...eu tô perdida!
- Quem sabe eu possa ajudar, querida.
Mione só teve tempo de ouvir uma voz perigosamente doce e melodiosa vindo não se sabe de que direção.Depois não ouviu nem viu mais nada.
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