Capítulo 13: Lupin Explica
Harry e Gina haviam parado debaixo de um aglomerado de pedras, pois estavam cansados e as capas de chuva já não adiantavam muita coisa naquele tempo horrível. Mas com certeza o clima lhes deu uma vantagem perante os Nundus.Agora, os rugidos chegavam fracos e distantes, inclusive com pontadas de irritação.Dificilmente um deles ainda teria sorte na caçada.
- Eu espero que os outros estejam bem... – disse Gina, olhando na direção onde Rony tinha desaparecido.
- Eles estarão seguros enquanto essa chuva durar...e parece que ainda vai durar muito!Bem, antes isso do que o hálito dos Nundus. – respondeu Harry, disfarçando sua preocupação.Agora já se arrependia de ter deixado Gina vir, a encrenca aumentou mais do que esperava e ela estava assustada.
- Mas Harry, se a gente ficar aqui podemos não sair mais...a chuva intimidou um pouco os bichos da floresta, não é?Mas quando passar, eles estarão famintos...não é? – ela se sentia meio besta de querer discutir o que deviam fazer, mas realmente algo lhe dizia que ficar parado ia ser pior.Harry pareceu aliviado.
- Sabe, é verdade.Vamos tentar sair desse lugar! – ele pegou a capa de invisibilidade (o seguro morreu de velho) e cobriu a ambos.Gina corou inteira quando teve de se enganchar no braço dele, e Harry gelou mais ainda, mas não era hora pra isso.
Enquanto eles caminhavam, Harry teve uma súbita compreensão.Mais uma vez, ele estava envolvido numa conspiração perigosa.Alias, nasceu envolvido nela.E qualquer pessoa que se aproximasse dele sempre poderia ser a próxima vitima.Rony e Hermione sabiam disso e escolheram correr os riscos.Mas se deixasse de ser um segredo quem era a pessoa que ele amava, ela estaria em perigo, independente de escolhas.E de jeito nenhum ele queria que Gina sofresse alguma coisa por causa dele.
- Harry...posso perguntar uma coisa?
- Ahn?Ah, claro que pode, Gina...o que quiser.
- Você gosta de alguém? – ele engoliu em seco antes de responder.
- Gina...por que...por que isso agora?
- É que eu estava pensando, Harry...
- Pensando?
- Pensando...que deve ser difícil pra você gostar de alguém, não é?
- Gina...o que quer dizer exatamente?
- Você sabe, Harry.Tudo.Todos os problemas...por nunca saber o que pode acontecer com você amanhã...isso é tão horrível, mas é verdade, não é?E a pessoa que você gostar também vai sofrer com tudo isso... – ela suspirou – E você não ia querer isso, claro. Mas Harry, você também não escolheu nada disso, e mesmo assim...mesmo assim sempre deu o melhor de si, não é? Pois eu acho – um suspiro mais longo – acho que a pessoa que gosta de você tem que dar o melhor de si também, independente do que acontecer! – ela olhou nos olhos dele, tentando transmitir confiança.Harry sorriu do fundo do coração, sentindo-se muito mais leve, como se tivesse tirado 100 quilos das costas.
- Então, Gina...tem mesmo uma pessoa que gosta de mim?
Gina ficou completamente vermelha, por um momento voltando à timidez dos anos anteriores.Não conseguiu responder que "Não foi isso que eu quis dizer".Antes, Harry a trouxe mais para perto dele, e a fitou com um carinho especial nos olhos.
- Acho que eu e essa pessoa teremos que conversar o mais cedo possível.Mas sinto que vai ficar tudo bem!
Agora era Gina quem sorria do fundo do coração.Sem perceber, acabara de se declarar, e ele, percebendo tudo, correspondera.Quis rir de si mesma, e gritar em alto e bom som, Gina Weasley, sua tonta!, mas resolveu fazer isso debaixo de um teto, de preferência seca e ao lado de todos os amigos...quando tudo ficasse bem de novo.
- Eu sou mesmo um imbecil... – Rony tentava encontrar os outros através da cortina d'agua, mas era inútil.Mal conseguia enxergar o chão que pisava – Devia ter segurado a mão da lesada da Mione mais forte!Espero que ela esteja bem...
- Mesmo que o tempo esteja feio, ainda é muito estranho que os Nundus tenham desaparecido assim...mas menos mau!Só espero que as aranhas também não gostem de chuva...
Enquanto andava, Rony percebeu passos atrás dele, e, a menos que seus ouvidos estivessem afetados, eram passos humanos.Não poderiam ser dos amigos, porque paravam ou continuavam de acordo com os dele.Ou seja, estava sendo seguido.Tentou disfarçar que notara alguma coisa, então o mais rápido possível deslizou para a esquerda em uma curva e...ficou frente a frente com um grande vulto. Instintivamente, ele pulou para trás e sacou da varinha.
- Quem é você?Por que está me seguindo?
- Se acalme, Rony!Deixe-me sair do escuro primeiro! - então o homem apareceu por completo, com uma voz e um sorriso inconfundíveis.Remo Lupin.Rony abaixou a varinha, de olhos arregalados. Mas em seguida sorriu aliviado.
- Professor Lupin!!!!!!!Isso que é uma surpresa ótima!Mas eu não entendo!
- E eu não posso explicar porque nem eu sei de tudo, Rony!Mas posso dizer porque vim, foi para conversar com sua nova amiga brasileira.
- Com a Noriçá? – Rony ficou ainda mais confuso, mas não perguntou o que sabia que não teria resposta – Bem, nós também estamos atrás dela, acho que o senhor já sabe...
- Sim – Lupin pareceu envergonhado – Infelizmente, sei o que aconteceu.Eu queria ter vindo antes, mas as "circunstâncias" não me permitiram...entende, não?
- Sim, isso eu entendo.Mas o que o senhor pode fazer?Vai ajudar ela?
- Primeiro, vamos encontra-la, e a todos.Existe muita coisa a ser contada.
- Eu só queria saber uma coisa.Como foi que ela soube? – disse Draco, tentando pensar num modo de Rita Skeeter ter descoberto sobre Noriçá.Por ele é que não tinha sido.Pelos grifinórios então, nem pensar.Mas ninguém mais sabia disso.Aparentemente. – Tem certeza de que ninguém mais sabia?
- Absoluta!Não contei a mais ninguém! – ela não acreditava nem um pouco que Mary pudesse ter feito alguma coisa – Mas que importa agora como ela descobriu?Todo o país está sabendo mesmo...não tem mais jeito.
- Mas, Noriçá!Isso não pode ficar assim!Se você for mesmo embora... – ele ficou vermelho - Logo agora que nós...
- Se eu quisesse mesmo ir...já teria ido.
- Como assim?Não queria ir pra longe?
- Sim, queria.Ou pensava que sim.Quando eu saí do castelo, eu não queria vir para cá.Pois algum bando de bobos tentaria me encontrar – ela sorriu – Mas não consegui passar a fronteira.Simplesmente não foi a chuva, eu não queria mesmo deixar tudo pra trás...Fiquei confusa, e...acabei aqui, como sempre acontece.Mas – ela segurou as mãos dele com ternura – agora estou realmente feliz que tenha sido assim.
- Eu também, de verdade.Eu...eu pensei muito sobre isso, e mesmo assim não tenho a menor idéia do que pode acontecer agora, só sei que você não pode ficar como vilã dessa história.Geralmente esse é o meu papel, mas dessa vez não posso representa-lo.Vou estar ocupado ajudando você e – engoliu em seco – com meu pai...
- Eu entendo.Ele não gosta de mim.
- Não acho que ele goste de alguém.Mas com isso eu posso lidar...acho.Quando for preciso...
- Lamento para você, mas isso deve ser logo.Mas não agora. – Draco achou familiar a voz atrás dele, mas não conseguiu lembrar-se até que saíram dois vultos da sombra.
- Professor Remo Lupin?! – ele não disfarçou o susto que levou, apesar de Lupin ter a expressão mais agradável possível no rosto – Eu não esperava mesmo isso.
- Rony, você trouxe ele? – Noriçá percebeu o amigo ao lado do homem, e se não tivesse ficado curiosa sobre Remo perceberia que Rony também estava confuso.
- Não, Noriçá.Foi ele que me trouxe, veio aqui pra falar com você, é isso.O resto, ele ainda vai explicar.
- Finalmente encontrei a senhorita.Mil desculpas, o calendário e a chuva estavam contra mim.
- Entendo, senhor...era lua cheia até ontem e choveu o dia todo, ruim para farejar. – Rony e Draco olharam para Noriçá assombrados, enquanto ela parecia perfeitamente normal.Mas entendeu a surpresa dos garotos – Sim, ele é um lobisomem, não precisam me dizer.Assim que o vi, deu pra perceber.
- Com certeza, Alvo acertou - sorrindo e com os olhos brilhando, Lupin se aproximou de Noriçá – Acho que posso te ajudar com seu problema, já que ainda o chama assim, moça.
- Pode? – Draco levantou as sobrancelhas – Granger revirou aquela biblioteca pelo avesso, inclusive a seção reservada (agora eu sei como eles faziam isso à noite) e não achou nem sombra de solução, vai dizer que você a tem?
- Existem coisas que não estão registradas em livros, meu jovem – Lupin sorriu pra ele misteriosamente – E felizmente, devo dizer.Bem, mas não posso fazer nada se não tiver a permissão da senhorita Nomini.
- Eu devo confiar no senhor? – ela olhou para Rony, que fez sinal de positivo com a mão.Depois olhou fixo para o professor, e percebeu que não havia perigo nele. – Então, me explica melhor como pode me ajudar.
- É melhor sentarem.A história é longa.
****
- Finalmente, conseguimos! – Gina exclamou, quando ela e Harry saíram da Floresta Proibida, perto do lago.Devia ser mais de meio-dia.Quando tomaram a direção do castelo, viram que algumas pessoas vinham correndo na direção deles.Puderam ver que eram Mary, Neville, Crable, Goyle e os gêmeos Weasley.
- Mas o que há, vocês estão muito afoitos! – disse Harry quando eles chegaram perto.
- A HERMIONE! – Fred começou.
- ESSE BILHETE! – Jorge continuou.
- A Noriçá...eu... – Mary ainda chorava um pouco e era amparada por Neville.
- Bichento...é inacreditável... – Neville estava, antes de tudo, SURPRESO.
- O pai do Draco... – Crable parecia um tanto confuso.
- Mas pegaram ela... – Goyle, pior ainda.
- AH, UM DE CADA VEZ!!!! – Gina gritou (já imaginaram a Gina gritando assim?Bem, ela pode ) – Fred, Jorge, por favor.
- Deixa que eu falo – Fred tomou fôlego – Vimos que vocês resolveram dar uma voltinha depois da confusão dessa manhã, então nós dois não quisemos ficar para trás outra vez, principalmente – olhou para Gina – porque nossa caçula estava envolvida.Mas..
- Mas – Jorge tomou a palavra – tudo o que achamos foi esse bilhete!!!!Vejam! – ele entregou o bilhete a Harry, e o que estava escrito veio para piorar a situação.
- A HERMIONE FOI SEQUESTRADA?! – Harry e Gina disseram ao mesmo tempo.Os gêmeos confirmaram com a cabeça, afoitos.
- Mas quem? – Harry não conseguia encaixar mais esse fato inesperado.
- Eu sei por quem – Mary se pronunciou – E a culpa é em parte minha também... tudo isso porque...
- Um momento, senhorita Sienfield – Dumbledore vinha do castelo, acompanhado de Minerva, Moody, Snape...e Bichento – Se todos aqui forem contar a parte de que participam mais, ninguém vai entender a ligação entre os fatos.O seqüestro da senhorita Granger foi um fato inesperado, mas de certa forma podemos virar isso a nosso favor.
- Mas e quanto a Noriçá? – Gina perguntou.
- Isso já está sendo tratado – respondeu o diretor – e acho que logo teremos notícias dela.O importante agora é cuidarmos da segurança da senhorita Granger o mais rápido possível.
- Dumbledore!Dessa vez você foi longe demais! – o momento mais oportuno para Cornélio Fudge aparecer, acompanhado de um pessoal do Ministério.Ele parecia muito inconformado com alguma coisa, e trazia um exemplar de Profeta Diário na mão.
- Ministro?Não pode deixar para depois? – Minerva interveio, aflita.
- Senhora McGonnagal, achava que a senhora era um pouco mais sensata do que esse velho caduco – Minerva ficou rubra de raiva, e se não fosse por Snape e Moody, juntos, ela teria partido pra cima de Cornélio – Esse inconseqüente que importou um perigo hediondo para nosso país!
- Se está falando da senhorita Nomini – Dumbledore tinha os olhos faiscando – não devia acreditar em tudo que os jornais dizem.Veio aqui para que?
- Ora , ela deve ser extraditada imediatamente – não precisa dizer que a baixa popularidade de Fudge caiu para zero entre os presentes – Por Merlim!Um lobisomem, um meio-gigante, um ex-comensal – Snape estreitou os olhos – e agora uma...nem nome isso tem!O que mais falta?
- E o que me diz dos seus dementadores? – Harry se pronunciou – Eles são muito mais perigosos do que todos os seus "exemplos" juntos!E existem pessoas muito piores que o senhor faz questão de encobrir...
Fudge olhou para Harry do mesmo jeito que Lúcio Malfoy costumava fazer, mas Dumbledore não deixou a discussão prosseguir.
- Muito bem, Fudge.Vamos conversar na minha sala.Me acompanha por favor, Minerva? – virou-se para os demais – Deixo com vocês.Sei que podem fazer isso.
O diretor e o ministro foram para o castelo, e Moody, que estivera observando tudo sério, voltou-se para as crianças e sorriu.
- É a segunda aposta que ganho hoje!Snape, querido...
- Não me chame assim...deixe isso para depois!
- Tudo bem!Vamos, vocês têm muitas perguntas, mas antes de tudo, precisamos ajudar a pequena.
*****
Alheios a tudo isso, Rony, Noriçá e Draco estavam devidamente sentados e prontos para ouvir a história de Lupin.Desnecessário dizer que a mais curiosa era Noriçá, e a mais nervosa também.Afinal, a idéia de descobrir definitivamente o que acontecia a ela fazia com que mil pensamentos, bons e ruins, não parassem de ir e vir em sua mente.A prova disso é que não conseguia parar de mexer as mãos.Percebendo isso, Draco segurou uma delas, um tanto sem jeito, e ela retribuiu, feliz.Ao ver isso,Rony sorriu discretamente.
- Bem, vou começar com uma explicação básica de tudo – Rony viu o velho "professor Lupin" voltar, um pouco mais sério do que o normal, apenas – A srta. Nomini foi muito eficiente em descobrir sobre os pactos de magia negra, e acertou nesse ponto. Realmente trata-se disso.
- É estranho, sr. Lupin – ela disse – Nunca soube de bruxos na minha família antes, então nunca pude ter muita certeza disso.
- Sobre as origens desse mal, outra pessoa irá lhe explicar no momento certo.É um direito dela.Mas agora, o fato é que casos de pactos de magia negra são complexos. Existe uma variedade infinita de contratos, atingindo apenas a pessoa ou causando um mal longo, como no seu caso.Depende da força das partes, do que se pede e do que se tem de pagar em troca.A pessoa que consumou a aliança irá sofrer as conseqüências irreversivelmente, pois foi uma escolha própria.Mas há meios de se quebrar as maldições em pessoas atingidas pelo pagamento de um pacto que não é seu.
- Não devem ser meios fáceis, presumo – Draco não se esquecera de suas "aulas particulares" sobre fundamentos de magia negra – Quer dizer, é necessário fazer outro pacto, pelo que eu saiba.
- Imagino que saiba bastante sobre isso, Malfoy – vocês acham que Rony ia perder essa?
- Realmente – Lupin cortou – isso é um dos meios, mas não é o único.Acontece que chegam a ser mais secretos do que o próprio pacto em alguns casos.
- Como o meu.
- Sim, senhorita.Mas ele existe.E chama-se Sapiens Ravenclaus.
- Tem a ver com o que estou pensando? – Rony quase levantou-se.Lupin confirmou com a cabeça.
- Sim ,Rony.Sabedoria Ravenclaw.A criadora da casa Corvinal, a inteligente senhora Rowena Ravenclaw, foi uma grande estudiosa desse assunto de pactos de magia negra.Realmente, seria necessário alguém ser como ela para se interar de algo tão extenso.
- Quer dizer que eu tenho que aprender esse feitiço?
- Não é um feitiço, srta. Nomini.É antes um teste de força de vontade.Sabe que essa magia tem controle sobre si, independente da vontade da pessoa.Pois bem, Sapiens Ravenclaus é antes de tudo uma forma de "domar" essa magia e submete-la a sua vontade.Como acontece com o poder mágico, que aprendemos a usar voluntariamente, sem depender de estados emocionais ou da sorte.
- Entendo – os olhos de Noriçá brilhavam sem ela se dar conta – Então o senhor sabe como posso fazer isso.
- Sim, estou aqui para ensina-la, mas aviso: não será fácil.Lutar contra si mesmo é o teste mais difícil que existe, e eu sei o que digo.
Noriçá sentia um pouco de medo, mas acendeu-se algo dentro dela que a dava certeza de que conseguiria fazer qualquer coisa.
- Eu irei tentar, senhor Lupin.
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A estação King Cross estava cheia como sempre.O Expresso de Hogwarts não estava lá.Trens iam e vinham.Mas, num galpão afastado dessa multidão, estava se realizando uma pequena porém maligna reunião.
- É, eu consegui de novo. – é a mesma voz melodiosa e irônica do pântano e da Floresta Proibida.A pessoa sentara-se elegantemente em um dos bancos que rodeavam todo o interior do galpão, não sem antes retirar magicamente a poeira dele.
- Não cante vitória ainda. – uma voz de homem, grossa mas baixa, entrou pela porta.Eram três vultos sombrios, dois grandes e fortes atrás de um menor.Mantinham as varinhas iluminadas para espantarem a escuridão total do lugar.A mulher olhou na direção deles com descaso.
- O que foi, está preocupado com o que a pirralha pode fazer?Ou será que está de mau humor porque não tomou nada hoje?Ou ainda, desacreditado com seu filho perdedor? Hein, Lúcio Malfoy?
- Ora, cale-se!Tudo o que fez até agora foi soltar aqueles bichos estúpidos e seqüestrar três fedelhos!É o máximo que pode, hein, senhora Inominável das Trevas?
- Você sempre esquece, "de total confiança do Lord das Trevas", Lucinho. – ela se levantou, criando também uma luz fraca com a varinha – Mas você pode me chamar só de Rita Skeeter.
