Capítulo 14: Todos os atores vêm ao palco

         - Deixe as ironias para depois – Lúcio estava visivelmente irritado – Onde está a garota?

         - Deixei ela com o projeto de gente – Rita apontou uma saleta com a cabeça, e tinha asco na voz – o tal do Rabinho.

         - É Rabicho! – a pessoa em questão saiu do quarto pequeno, trancando a porta e trazendo a varinha de Hermione na mão verdadeira.Continuava o mesmo de sempre fisicamente, mas parecia ter uma nova malícia nos olhos, a de um verdadeiro rato.

         - Mas porque veio afinal, Lucinho? – Skeeter ignorou sonelemente o outro comensal – Medo de ficar de fora?

         - Quem ficou de fora foram os seus amiguinhos nundus.Parece que os fedelhos estiveram no nariz deles, ou melhor, na frente da cova deles, e mesmo assim os perderam de vista.São feitos de açúcar, por acaso?

         - Não sou você para dar algo tão estúpido de desculpa como chuva, Lucinho. Alguém espantou os meus queridos, e acho que sei quem foi.Mas isso não importa!

         - Claro que não – Rabicho olhou para a varinha em suas mãos – Temos uma grande refém.

         - Sua inteligência não aumentou de acordo com seu peso, Rabinho – Rita levantou-se – A pirralha é uma garantia arriscada.Só temos certeza de que os grandes amigos dela virão resgata-la, e nisso usaremos do meu antigo codinome para capturar quem interessa.

         - Traição – Lúcio rangeu entre dentes.

         - Essa palavra dói em você, não, Malfoy? – Rabicho deu uma risada demente – Seu próprio filho...acho que aquele bilhete que você mandou, pra deixar ele com medo e culpado, não surtiu efeito...

         Lúcio olhou para ele com a expressão mais serena que é possível imaginar.

         - Filho?Eu não tenho nenhum filho.

         Hermione podia ouvir e reconhecer as vozes dos Comensais presentes.Ficou particularmente surpresa com o envolvimento de Rita Skeeter, pois embora não fosse uma pessoa confiável, não lhe passava pela cabeça vê-la ao lado de Voldemort.Mas era o que estava acontecendo.

         Ela tinha perfeita consciência do que acontecia ao redor, mas não podia fazer nada.Era como se assistisse a um filme dentro de sua mente, participando mas não estando realmente lá.O cheiro de bolor do galpão a incomodava, assim como o chão frio. Mas se tentasse falar ou se mover, nada mudava.Preocupava-se com Rony, Harry, Gina e Noriçá, os alvos daquele plano, e até sentia pena do Malfoy depois de ouvir a última frase de Lúcio.Com certeza ia sobrar uma boa parte para ele no final.Mas resolveu concentrar-se em descobrir que raio de magia a deixara naquele estado estranho, era o primeiro passo para pensar em escapar.

         - Mesmo que não saiba se consigo sozinha...

         ****

         Na Floresta Proibida, Rony e Draco tiveram de deixar Noriçá e Lupin sozinhos para o andamento do treino.Olhavam para o nada, sem dizer palavra, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Só agora a luz do sol se fazia sentir, secando o que restava da tempestade matinal.

         - Ela vai conseguir com certeza.É mais cabeça dura do que você – Rony falou, sem mover um músculo, como se estivesse pensando alto.Malfoy olhou para ele desdenhoso.

         - Por acaso está tentando me consolar, Weasley?Não perca seu tempo.

         - Por acaso, a Noriçá é minha amiga também, e embora tenha escolhido uma coisa como você, espero que ela não se arrependa.E depois, o Malfoy com a Noriçá é menos pior do que o outro.

         - Um "menos pior" vindo de você é realmente um elogio e tanto...e eu também espero que ela não se arrependa, sinceramente!

         - Ei, vem vindo algo – interrompendo a pacífica conversa, Rony percebeu um vulto descendo do céu na direção deles - Posso ver agora, é uma coruja, avermelhada.   

         ****

         - Ufa!!!!! – Noriçá suspirou, deixando-se cair sentada no chão –Eu...como eu fui?

         - Agora que já sabe o que deve fazer, deve praticar mais.Vê como fica cansada? Se descuidar-se, não irá resistir à magia por muito tempo e será pior.

         - Entendo...mas agora posso parar um pouco?Já deve fazer mais de duas horas...

         - Sim, acho que podemos fazer uma pausa – Lupin sentou-se e tirou uma barra de chocolate com amêndoas do casaco – Quer?Não é bom só contra dementadores!

         - Aceito sim!Obrigada!

         - Então...você tem família aqui na Inglaterra...

         - Não – ela quase deixou o doce cair – Toda a minha família estava no Brasil...Na verdade é uma história confusa, a de como vim parar aqui – num estalo, ela fitou o professor com surpresa – Acho que o senhor deve saber até mais do que eu, sabe?

         - EU? – Lupin engasgou-se um instante – E...por que eu saberia?

         - Não sabe mentir...mas mesmo se soubesse, sua "aparição" foi suspeita demais. Afinal, estão sendo coincidências demais, desde a carta de Alvo Dumbledore na minha casa!

         Lupin respirou fundo antes de voltar a falar.

         - Tem razão.Eu não sei mentir, então...realmente nada aconteceu por acaso.

         - Por que eu não estou surpresa com isso...?

         - Mas não desde a carta de Dumbledore.Desde aquela festa de ano novo em que você viu Lucio Malfoy pela primeira vez na vida.

         - Isso eu não esperava – ela sentiu um pequeno arrepio – O que ele tem a ver com isso?

         - Quase tudo, menina.Quase tudo.Não é de hoje que os fiéis de Voldemort tentam traze-lo de volta ao poder.E Lúcio é muito esperto.Por isso, ele descobriu antes de todos sobre vários bruxos com poderes estranhos até entre nós.Muitos deles passaram para o lado negro.Outros ainda morreram por negar o "convite".Felizmente, a maioria está a salvo, como você.Bem, tecnicamente.Depois da confusão de Malfoy na festa, Dumbledore e Alastor Moody começaram a ter pistas sobre essa conspiração paralela.

         - E descobriram o objetivo dela? – Noriçá não tentava esconder o nervosismo.Não conseguia mais parar de mexer as mãos.

         - Há pouco tempo.Os comensais acreditam que o exército das trevas se fortalecerá com esse batalhão de anônimos.Pois são difíceis de combater, até mesmo para bruxos experientes.Os aurores acreditam que são uma "força reserva" quando a hora da guerra chegar.

         Noriçá engoliu em seco, quase se arrependendo por ter feito tantas perguntas. Agora que conhecia a amplitude da situação, sentia uma onda de pânico por dentro, e uma vontade imensa de sumir.Mas foi trazida de volta por uma amigável tapinha nas costas.

         - Está nervosa agora, não? – Lupin sorria, apesar dos olhos arregalados da menina.

         - Adianta dizer que não? – ela respondeu, ainda pensando que o professor só estava gozando dela.

         - Não percebe nada de diferente? – quando ele disse isso, ela teve um estalo e olhou para Lupin como que para confirmar.Ele sorriu de orelha a orelha.

         - Continuo...eu mesma.Apesar dos meus joelhos estarem tremendo, eu continuo eu mesma!!!!! – ela pulava de felicidade, mal podendo acreditar.

         - Humana como quando veio ao mundo...meus parabéns, srta. Nomini!Passou no teste final, com louvores!!!! – ele levantou-se, satisfeito.Noriçá então parou e olhou para ele, sentindo-se muito boba.

         - Ia me contar essa história toda desde o inicio, não é...?E eu me julgando muito esperta...

         - Às vezes, estar a par da própria situação pode ser o mais difícil teste.E devo dizer que foi uma das minhas melhores alunas!

         Antes que a comemoração continuasse, Rony e Draco apareceram correndo, Rony trazendo a coruja debaixo do braço (que não parecia nada feliz com isso) e Draco segurando uma carta.Eles nem precisaram dizer nada.

         - Problemas, certo? – Lupin disse, pegando a carta – Está chegando a hora decisiva.Para o castelo!

         - É a Akai, a coruja da Mary.O que está havendo agora? – Noriçá dizia enquanto corriam.

         - Eu também queria saber direito –disse Draco – Mas antes você me conta o porque dessa cara de boba alegre.

         - Dá pra perceber? – Noriçá riu – Bem, não preciso dizer que é uma ótima notícia, mas explicações mais tarde!

         Rony não conseguia dizer nada.Só uma coisa ocupava seu pensamento.

         - Mione, agüente, por favor!

*****

          Enquanto isso, Harry, Gina, os gêmeos, Mary e Neville se dirigiam para a Estação King Cross o mais rápido que podiam, mesmo sem terem definido como agiriam lá.Só esperavam que Rony, Draco e Noriçá os alcançassem logo.

         - É bom saber que o professor Lupin está nos ajudando em nome de Dumbledore – disse Harry, quando Mary terminou de contar o pouco que o diretor havia lhe passado.

         - Isso é tudo o que tem pra saber, Mary? – perguntou Neville, preocupado com o nervosismo exagerado da namorada.

         - Vamos deixar as coisas acontecerem agora, tá? – ela respondeu, sem olhar para ele.

         - Vou considerar isso como um não...

         - Falando em coisas acontecendo, Harry – Fred falou – Imagino que você tenha tido um plano ÓTIMO enquanto vínhamos para cá...

         - Vamos fazer o que eu sempre fiz. – disse Harry, triunfante.

         - O quê???? – os gêmeos perguntaram, prontos para qualquer coisa.

         - Chegar na hora e ver o que pode ser feito!

         - Esse é o Grande Harry Potter! – Gina riu, diante das caras desapontadas dos irmãos – Mesmo nervoso como está, pode enganar quase qualquer um...se não fosse pelo quase...

         Mais cinco minutos se passaram como se fossem horas, e eles finalmente chegaram.A estação normal estava cheia, mas o lado para onde tinham que ir era deserto.Cada um sacou sua varinha e esperou.Era o lugar certo.Mais alguns minutos, e nada.Com certeza, estavam brincando com eles.

         - Estamos aqui! – gritou Harry - Podem vir quando quiserem!

         Ao longe, um som de passos se aproximando começou.Não foi possível distinguir de onde vinham até que um vulto apareceu.Apesar de ter sido notado, não mudou o ritmo do caminhar.E só parou quando estava a poucos metros das crianças, que a essa altura já haviam percebido quem era a pessoa em questão.Cada um deles teve uma reação diferente, mas todos pensaram algo em comum...

         - Inesperado, mas não muito surpreendente...Skeeter.

         Rita ignorou o comentário de Harry, e passou os olhos de um para outro do grupo.

         - Seis...eu esperava apenas cinco, e não exatamente estes rostos... – suspirou – Mais malditos imprevistos como esse e eu dispenso meus serviços!

         - Pare de falar sozinha! – Neville falou rapidamente.Ela virou-se para ele, mas não por causa de sua intromissão.Fixou os olhos em Mary e sorriu cinicamente.

         - Você sim eu não esperava, minha querida...não precisava fingir ter coragem desse jeito, podia ter ficado em casa dormindo...

         - Ora, cale-se!!!! – Mary a encarou, os olhos quase saltando.Parecia estar encarando um dementador, mas tentava não demonstrar isso.

         - Ai-que-medo.Ponha-se no seu lugar, sua tonta!E respeite a sua tia!

         - TIA?????????? – Fred e Jorge ficaram de queixo caído.Harry também estranhou.

         - Mary, ela é sua...tia????????????

         - Parente não se escolhe, se lamenta...é verdade...mas eu não costumo comentar isso com ninguém.

         - O Snape sabe, não é? – Neville se pronunciou – Por isso ele falou aquilo e você ficou nervosa...

         - É uma chorona – Skeeter riu – Assim como a mãe dela...a minha irmã tonta que se casou com um bruxo Lufa-Lufa idiota...e quase secou inteira só porque papai, merecidamente, a considerou "morta" para a família.

         - Foi o maior presente que ela poderia ganhar – Mary sorriu, mesmo nervosa – Foi o que ela mesma disse que sentiu quando eu nasci.

         - Ah, é mesmo?E aposto que também seria um ótimo presente uma caixa com seus olhinhos dentro... – Rita sorriu como uma louca, e Mary automaticamente prendeu a respiração, gelada até os ossos.

         - Ela só disse isso pra te assustar, Mary!!!! – disse Neville, como se ele mesmo não estivesse apavorado.

         - Então atingiu o objetivo... – ela sussurrou, tremendo mais ainda.

         - Ela só está desconversando! – Harry deu um passo à frente, encarando Skeeter – Nós viemos aqui buscar a Hermione.Onde ela está?

         - Eu até diria,querido...mas temos que esperar o ator principal chegar, sabe?

         - Como...?

         Antes que Harry falasse mais, um raio azul passou zunindo o ar e quase acertou as crianças, que pularam bem na hora.Rita pareceu inconformada.

         - Sua coisa imprestável!!!!! – ela gritou para um canto escuro, aparentemente vazio – Não me ouviu dizer que temos de esperar?Não estrague tudo outra vez!!!!

         Rabicho saiu quase se arrastando de onde havia disparado o feitiço.Parecia muito inconformado também, por não ter tido sua parcela de estrelato.

         - Eu só queria me divertir um pouco..só você pode?????

         - É claro que só eu posso – ela mostrou-se ofendida – Pois eu sou EU, e você é... isso aí que você é...não precisamos de um peão metido a rei em nosso tabuleiro!Ponha-se no seu lugar!

         - Será que ele é o único peão metido a rei por aqui? – Lucio Malfoy apareceu, encarando Rita como se ela fosse o inimigo.

         - Ah, mais um incompetente!!!!!!Está se sentindo um injustiçado também?Daqui a pouco vocês vão abrir um sindicato de fracassados...

         Lucio ignorou o comentário e olhou direto para Harry, que devolveu na mesma intensidade.Não foram necessárias palavras para expressar o que ambos pensavam.

         - Então, quer ver sua amiga?Se realizará, mesmo que seja no outro mundo...

         - Não tinha uma frase mais brega, não? – Fred zombou.

         - Por que não vamos direto ao assunto? – Jorge apontou a varinha.

         - Eu concordo! – alguém gritou, de outra direção.A alguns metros, todos puderam ver Rony, Noriçá e Draco parados, observando o cenário.Noriçá parecia compreender tudo, apesar de estar tensa.Rony mostrava claramente que estava muito zangado.Já Draco nem sabia como ainda estava em pé, de tão apavorado.

         - Finalmente – Skeeter sibilou, fitando Noriçá – O ator principal chegou...