A Passagem
Por Naki
Capítulo 6 - A Chave
Celesty…
O olhar apreensivo de Iyani mostrava claramente seu medo perante a repreensão certa que levaria de Yuri. Clima tenso, um ar pesado que forçava os dois magos presentes a respirarem forte. Olhos inquietos, mãos trêmulas, passos vazios. Yuri caminhava em seu escritório, enquanto Iyani, sentado à frente da mesa, acompanhava os passos do líder do Conselho com seus olhos.
"Iyani…"
"Me desculpe, Yuri… Não tinha intenção alguma! Por favor compreenda que…"
Iyani caía num choro compulsivo. Escutar seu nome foi como ouvir sua própria condenação. Tentara se explicar, mas a angústia que sentia não permitia que continuasse. Estava descontrolado, e isso não era nada bom. Iyani levava as mãos ao rosto, escondendo a vergonha que sentia por estar chorando diante do líder do Conselho ao qual fazia parte, e que naquele momento, julgava se continuaria a ser membro deste.
"Acalme-se, Iyani." - dizia Yuri ao se aproximar do mago e lhe tocar a cabeça como forma de amparo.
Iyani respirou fundo, enxugou os olhos com a manga de sua veste vermelha escura, passou a mão por seus cabelos ruivos e ergueu seu rosto para Yuri.
"Agora sim poderemos conversar!" - dizia Yuri enquanto se sentava na frente de Iyani.
Hong Kong, China…
"Tomoyo… Acorde Tomoyo!" - Sakura sacudia a amiga que permanecia deitada na cama.
"Sakura… eu tive um sonho tão terrível…" - dizia Tomoyo enquanto se espreguiçava na cama - "Sonhei que Eriol tinha me deixado…"
"Tomoyo… O que aconteceu ontem?" - Sakura perguntava assustada ao ouvir o comentário referente ao sonho de sua amiga.
"Sakura…"
Os olhos violetas de Tomoyo ansiavam por uma resposta, que no fundo, a jovem já esperava ouvir. Os olhos de Sakura brilhavam, cheios de água.
"Eriol…" - Tomoyo jogou-se nos braços de Sakura. Abraçava sua melhor amiga confortando-se.
"Eriol partiu, Tomoyo… Bem no início da manhã…" - dizia Sakura com uma voz rouca, segurando um choro que insistia em acontecer - "Sabia disso já, não Tomoyo?" - a amiga apenas assentiu com a cabeça.
"Ele voltou pra Inglaterra, com Kaho… Ele me disse ontem que não pretendia voltar pra Tomoeda…"
Sakura apertava a amiga contra o peito. Não podia acreditar no que Eriol fora capaz de fazer. Por que abandonara Tomoyo? Como alguém podia fazer aquilo? Ainda mais em um momento tão doloroso como o que todos estavam passando. "De certo ele deve ter os seus motivos. Eriol jamais faria algo que magoasse Tomoyo, ele a ama tanto…" - pensava Sakura. Algumas lágrimas escapavam do controle da jovem maga, que chorava junto com a amiga. Agora ela dava-se conta de como a ausência de Shaoran estava interferindo no destino de todos. "Preciso fazer alguma coisa…" - pensava Sakura.
Celesty…
"Tens um dom muito admirável, Iyani. Sabes que teu dom é por muitos invejado. E acima de tudo, sempre soube que por se tratar de dom tão incomum deveria controlá-lo mais." - Yuri começava com seu discurso cheio de colocações, o que deixava Iyani ainda mais transtornado - "Partira sem autorização do Conselho, nem ao menos uma comunicação, um bilhete que fosse! Tomou posse de objetos que não lhe pertenciam, e pior! Teve a capacidade de usar de seus dons para liberar uma Magia que era por ti desconhecida! E como conseqüência deste seu ato, um tanto insano posso dizer-te, causou a morte de um jovem! Um jovem com talento brilhante! E não bastou apenas isso! Fora covarde e abandonou à todos, sem lhes proporcionar uma justificativa plausível!"
Yuri respirava fundo, e soltava o ar devagar. Iyani mantinha sua cabeça baixa, em sinal de respeito ao seu líder, ou talvez em sinal de aceitação a repreensão a que estava sendo submetido.
"Eu e Wladimir partiremos para Tomoeda amanhã!" - continuava Yuri.
"Como? O Senhor e o Wladimir? Mas… Mas por que?"- Iyani erguia sua cabeça e encarava Yuri a sua frente.
"Quero que reflita sobre tudo o que aconteceu, Iyani. Quero que analise cada ponto de sua atitude. Não vou recriminá-lo, nem expulsá-lo do Conselho por isso. Digo-lhe apenas que não terás, em hipótese alguma, autorização para deixar Celesty. Ficarás aqui! Sob a vigia de todos. Sua punição será os olhares reprovadores que cairão sobre você. E isso, Iyani, acredite, é o maior castigo que poderia receber."
"Por que não me expulsam de vez!" - gritava Iyani um tanto alterado - "Por que não diz que sou um assassino, que não sou digno de pertencer a este Conselho. Me matem de vez!!!"
"Iyani…" - começava Yuri num tom de voz macio, acalmando o ambiente tão tenso - "Seu erro maior foi acreditar que seu dom é perfeito. Quantas vezes já conversamos a respeito disso? Quantas vezes já lhe disse que trata-se de um dom incomum e que por isso, deve aprimorá-lo. Somente com muito estudo e dedicação podemos atingir o ápice de nossos poderes… Teu maior erro Iyani, foi acreditar que poderia utilizar uma Magia desconhecida. Acreditaste que poderia utilizar as Cartas Clow e que nenhuma conseqüência viesse a existir…"
"Cartas Sakura…"
"Como disse?" - falava um Yuri confuso.
"As Cartas Clow agora são Cartas Sakura…Pertencem a uma menina que carrega um báculo de estrela…"
Yuri escutava aquela informação atento. Ele acreditava que Iyani tivesse usado as Cartas Clow. Não imaginava que as Cartas tivessem sido modificadas… "Modificadas pela Estrela…" - pensava Yuri agora observando o objeto sobre sua mesa - "Não tinha informações sobre este detalhe… Meu antecessor não me contou nada a respeito disso…"
"Mandou me chamar, Sr.?" - dizia um jovem parado à porta do escritório do líder do Conselho.
"Entre, Yuri…"
Yuri tinha 17 anos e era o Mago mais jovem a ingressar no Conselho dos Magos em toda sua história. Já estava em Celesty há 2 anos. Dono de uma habilidade admirável, estava sendo treinado pelo atual líder do Conselho, Thomas Willians, em astronomia e astrologia, pois seria seu sucessor.
"Sinto que já é o momento de lhe contar…" - dizia Thomas encostado em sua cadeira.
"Contar-me o quê, mestre?" - perguntava Yuri enquanto se sentava a frente de Thomas a pedido do mesmo.
Thomas levantava-se e caminhava devagar, em direção as estantes de seu escritório. Com cuidado abaixou-se, e de dentro de seu bolso puxou uma chave, que servira para abrir o armário que se localizava na parte inferior da estante. Pegou um objeto envolvido por um pano vinho, e após fechar o armário, voltou a se sentar.
Yuri observava atento àquele objeto que fora colocado sobre a mesa. O que poderia estar por baixo daquele pano? Mas antes que pudesse imaginar o que fosse, Thomas retirou o pano que envolvia o objeto. Uma pequena estrela cortada por uma espécie de raio, trovão. Yuri não podia definir ao certo. Ambos em prata, envolvidos por um círculo dourado, que era suportado por uma haste de mesma cor. Como base, uma lua crescente em vidro. Uma espécie de estátua, um objeto um tanto quanto incomum.
Detalhando mais o objeto Yuri pode perceber que o trovão cortava a estrela perpendicularmente, como se furasse a estrela de cinco pontas, toda feita em prata. A estrela era cheia, e um pouco abaulada em suas faces, ao contrário do trovão, que era plano, como uma folha. Envolvida por um arco, um círculo dourado, a estrela era fixa por suas pontas. Num ponto inferior do arco dourado, descia uma fina haste de mesmo tom, que ligava o círculo até a base em vidro. O arco deveria ter aproximadamente dez centímetros de diâmetro, e a haste, pouco mais de quinze centímetros. Quanto a base, era difícil dizer por não se tratar de uma circunferência perfeita, mas se a lua fosse cheia, ao invés de crescente, deveria ter aproximadamente quinze centímetros de diâmetro. Realmente um objeto diferente de todos que Yuri já tinha visto em Celesty.
"O que é isto, mestre?"
"É a missão que te passo de agora em diante…"
"Mas mestre, por que está me passando uma missão? Não estou te entendendo…"
"Yuri, sinto que em breve não estarei mais aqui…"
"Não diga isso mestre!"
Thomas Willians era um grande líder. Todos os Magos admiravam sua determinação. Era um grande estudioso em vários campos de magia. Sério, quase sempre isolado em seu escritório, raras eram as vezes em que se misturava com os demais magos do Conselho. Preferia o silêncio, ou a companhia de seu mais precioso discípulo, a quem lhe ensinava tudo, e hoje, lhe contaria seu maior segredo.
"Yuri, escute bem… Em alguns anos terás uma missão muito importante. Este objeto que coloquei sobre a mesa é uma espécie de calendário mágico." - Thomas falava pausadamente, enquanto os ouvidos de Yuri absorviam a tudo - "Este objeto, ao qual os antigos líderes do Conselho apelidaram de "A Chave", foi construído há muitos anos, por um dos maiores líderes que este Conselho já teve, Cláudio Andersen."
Yuri estava paralisado. Sentia que seu mestre lhe transmitiria algo de extrema importância. Sua magia intuitiva, que ainda estava desenvolvendo, lhe dizia que a "Chave" tratava-se de uma profecia.
"Há quase 100 anos que este objeto está aqui. Ele foi construído no ano da morte do mago Reed Clow, há 114 anos atrás. "
"Reed Clow… Não é este o mago que tanto estuda, mestre?"
"Sim, Yuri… Reed Clow… Sem dúvidas um grande Mago. E hoje, ele está mais uma vez presente entre nós…"
"Como assim, mestre?"
"Yuri…" - Thomas falava com dificuldade, como se fosse tomado de um profundo cansaço - "Após 107 anos, Reed Clow reencarnou na pessoa que hoje conhecemos por Eriol Hiiragisawa. Um menino que hoje está com 7 anos e…."
"Mestre!"
Thomas desmaiara sobre a mesa. Yuri rapidamente se levantou, erguendo o corpo de Thomas, recostando-o na cadeira que estava sentado. Já fazia alguns meses que o líder do Conselho vinha se sentindo fraco. Estava velho, com seus quase 70 anos… Um dos líderes que mais tempo permaneceu no controle do Conselho, estava despedindo-se da vida...
"Ah… Yuri… Devia ter te contado antes…"
"Não fale nada, mestre! Ficarás bom logo!"
"Não Yuri… Não há tempo… eu preciso transmitir a missão que todos os líderes deste Conselho carregam a 100 anos…"
"Terás tempo para me contar outro dia, mestre… Por favor, poupe suas energias… Vou chamar Júbilos! Ele o levará para o quarto!"
"Espere, Yuri!" - dizia Thomas segurando o braço de Yuri, impedindo que saísse do escritório - "Pensei que agüentaria até vê-lo completar 21 anos, e assim, tornar-se meu sucessor, mas…"
"O Sr. agüentará, mestre…"
"Não… Sinto minha hora chegando… Preste atenção Yuri, pegue a chave no meu bolso. Guarde-a. Deixe "A Chave" sempre dentro do armário. Deve proteger este objeto com sua vida." - Thomas falava apressadamente - "Ele é a resposta para tudo o que ainda vai acontecer… Em 10 anos este objeto irá… irá… …"
"Mestre!!! Mestre!!!"
"Yuri…" - chama Iyani.
"Dez anos se passaram desde sua morte, mestre Thomas… Queria tanto que o Senhor estivesse aqui… Saberia lhe dar melhor com esta situação do que eu… " - pensava Yuri.
"Yuri!" - chamava Iyani novamente.
"Me desculpe, Iyani… Creio que divaguei um tanto demais… Por favor, preciso ficar um pouco sozinho."
"Mas…"
Yuri ergueu seu braço indicando que Iyani não continuasse. Iyani se levantou, inclinou-se à frente de Yuri, como forma de respeito, e se retirou.
Ao sair da sala, Iyani deixou a porta aberta, permitindo que pouco tempo depois, alguém viesse a adentrar no escritório de Yuri.
"Yuri…"
Yuri estava sentado em sua mesa, com as mãos em sua cabeça, cotovelos sobre a mesa, tentando colocar seus pensamentos em ordem. Fitava a mesa, quando ouviu alguém chamar.
"Wladimir… Por favor, entre…"
Hong Kong, China…
"Obrigada por nos acompanhar até o aeroporto, Meilin!" - dizia Sakura.
"Imagina, foi um prazer!" - dizia Meilin.
"Tivemos um dia adorável, não é mesmo Tomoyo?" - Sakura dizia enquanto colocava sua mão no ombro de Tomoyo.
"Claro…" - respondia Tomoyo, com o olhar perdido na multidão que se encontrava no aeroporto.
"Meilin, foi muito bom passarmos os dias juntas, relembrando coisas maravilhosas… Espero que desta vez não fiquemos mais quatro anos sem nos ver, heim?"
"Claro, Sakura! Irei visitá-las assim que as férias chegarem!"
"Ficaremos esperando, não é Tomoyo?"
Tomoyo continuava com o olhar perdido, sem destino… Não estava prestando atenção às palavras de suas duas amigas.
"Sakura!" - Yukito chamava ao longe, ao lado de Touya - "Venha, já está na hora do vôo."
"Tchauzinho, Meilin!"- dizia Sakura ao abraça-la.
"Tchau, Sakura! Boa viagem!" - dizia Meilin.
"Tomoyo…" - dizia Meilin ao se aproximar da jovem - "Não sei ao certo o que aconteceu, mas desde que te encontrei ontem a noite, andando perdida pelos corredores da casa, sinto uma tristeza tão grande dentro de mim… Aonde está aquela Tomoyo que me ligava anos atrás para combinarmos o reencontro da Sakura com o Shaoran? Aonde está aquela Tomoyo que andava sempre com uma câmera de vídeo nas mãos, filmando as aventuras com as Cartas. Aonde está a maravilhosa estilista que sempre encheu nossos olhos com os modelos mais incríveis que poderiam existir…"
Tomoyo desviou seu olhar para os olhos rubis de Meilin.
"Quero vê-la feliz! Sei que muitas vezes sentimos um vazio terrível dentro de nós, mas temos que aprender a superá-lo! Devemos preencher este vazio com todas as coisas boas que nos cercam, com os sorrisos dos amigos, com as palavras doces de quem zela por nós, com a brisa que sopra suave e acaricia nossa pele, com o som de um maravilhoso canto de passarinho…" - Meilin abraçava a amiga - "Tomoyo, quero ver o brilho em seu olhar. Não sei o que aquele inglês te fez, e nem precisa me contar, eu não quero saber! Eu quero somente minha amiga feliz!"
Tomoyo começava a chorar… Sakura se aproximava das duas.
"Obrigada, Meilin!" - dizia Tomoyo.
"Sakura! Vamos!" - Touya gritava um pouco mais a frente.
"Vocês duas precisam ir!" - dizia Meilin - "Quando voltar a revê-las, quero ver um maravilhoso sorriso nestes rostos, heim?"
"Eu vou tentar…" - forçava-se Tomoyo a dar um suave sorriso.
"Quando voltarmos a nos ver, Meilin, tudo estará diferente! É uma promessa!" - dizia Sakura.
As três amigas se abraçaram. Sakura seguiu de mãos dadas com Tomoyo, deixando Meilin para trás.
"Espero que sim, Sakura…" - dizia Meilin, observando as amigas se encontrarem com Yukito, Touya e Kero, que estava numa gaiolinha nas mãos de Yukito.
Tomoeda…
Dois dias se passaram desde a volta de todos para Tomoeda. Todos, exceto Eriol e seus guardiões, que após a partida escondida para Londres, não deram mais nenhuma notícia. Fujitaka tinha ficado um tanto surpreso com a mudança de sua filha. Partira tão infeliz e voltara como se tivesse encontrado o que antes, pensava ter perdido. Acreditava que o contado com a família, principalmente com Yelan Li, por quem sua filha tinha enorme admiração, tivessem ajudado-a a seguir em frente. Touya também havia contado ao pai que Kaho aparecera em Hong Kong, e que conversara com Sakura. Talvez a antiga namorada de seu filho também tivesse uma parcela nesta recuperação de Sakura. Enfim, não importava quem fora o responsável, o que importava era que o maravilhoso sorriso de sua flor de cerejeira estava de volta...
Kero e Yue se sentiam aliviados por verem todas as Cartas bem, junto à Sakura, que agora não as deixava por nada. Kero em especial estava muito feliz. Sua vida tinha voltado a ser o que era antes de Shaoran ter voltado para Tomoeda. Na verdade era ainda melhor, pois Sakura nem ficava os cantos murmurando o nome do namorado, escrevendo-lhe cartas, aguardando telefonemas ou em frente do computador trocando e-mails. Às vezes Kero se sentia um tanto culpado por estar gostando da vida sem o Shaoran. Apesar de tudo, ele tinha muito carinho por ele. Mas o que importava era ver Sakura feliz. E ela estava… Como estava!
"Kero!!!! Não!!!"
"Ganhei de novo, ganhei de novo!"
Sakura estava em seu quarto, sentada no chão à frente da televisão. Estava jogando com Kero, e pela décima vez, Kero ganhava o jogo.
"Você não tem jeito pra isso, Sakura!" - dizia Kero enquanto batia com sua pequena pata na testa de Sakura.
"Mostrenga!!!! Vem jantar!!!"
"Ah, Touya! Quantas vezes vou ter que te dizer que não sou mostrenga!" - resmungava Sakura ao ouvir o grito de seu irmão - "Não sou mais uma criança!" - dizia enquanto descia as escadas - "Eu já tenho 17 anos! Hunf!"
"Sakura…" - sorria Kero no topo da escada, observando sua mestra descer.
"Tomoyo..." - uma voz a chamava na porta de seu quarto - "Querida... Está tudo bem?"
Sonomi entrava no quarto de sua filha. Tomoyo estava de pijama, deitada na cama. O quarto estava escuro, sendo iluminado apenas pelo abajour de cabeceira de Tomoyo. A mãe se aproximou da filha e sentou na beira da cama. Cuidadosamente, Sonomi deitou seu corpo ao lado da filha, mantendo suas pernas do lado de fora da cama. Abraçando-a carinhosamente, Somomi deu-lhe um doce beijo nas bochechas pálidas de Tomoyo.
"Querida... O que está acontecendo com você?" - dizia Sonomi preocupada - "Você voltou de Hong Kong tão triste, e desde que colocou os pés nesta casa não saiu, quase não se alimentou, e recusou-se a receber os telefonemas de Sakura. Minha filha... Somos só eu e você neste mundo... Não podemos ter segredos uma para a outra. Temos que ser cúmplices, amigas, parceiras! Você é tudo o que eu tenho! Vê-la assim me corta o coração... Entristesso a cada minuto por não saber o que houve e não poder encontrar uma solução para o que tanto te aflige..."
"Não há uma solução, mamãe..."
"Para tudo existe uma solução querida! Somente os fracos pensam assim. Você é uma Daidouji! Seja forte, determinada! Acredite que pode enfrentar seus problemas, e mais! Que pode superá-los!"
"Mamãe... acho que este problema não tem solução... E acho que nunca conseguirei superá-lo..."
"Tomoyo!" - Sonomi soltava Tomoyo e se sentava novamente ao lado dela. Tinha uma expressão indignada. Não podia acreditar na maneira em que sua filha estava agindo.
"Eu perdi o Eriol..."
A resposta de Tomoyo fora suficiente para calar Sonomi. Ela não podia acreditar que aquele jovem, tão educado, tão amável, poderia deixar Tomoyo. Jamais imaginaria que isso pudesse acontecer.
"Querida… Eu… eu não imaginava…" - dizia Sonomi com os olhos cheios de lágrimas. Sua filhinha querida, abandonada! Como alguém podia deixar uma jovem tão bonita, inteligente, doce… Como alguém podia ter deixado sua filha? Ela não podia aceitar… Ninguém abandonava uma Daidouji…
"Tudo bem, mamãe…" - dizia Tomoyo se levantando e sentando-se sobre a cama, perto da mãe.
"Como tudo bem, querida?"- dizia Sonomi indignada -"Como ele pode? Ninguém faz minha filha sofrer assim, ninguém!"
"Não o culpe, mamãe…" - dizia Tomoyo colocando sua mão sofre o ombro dela.
"E você ainda o protege?"
"Ele está amargurado… Tudo o que aconteceu com Shaoran, ele acredita que poderia ter evitado. Sei que ele não podia ter feito nada, foi tudo tão de repente… Mas mesmo assim… Eriol é tão doce, e se preocupa tanto com a pessoas… Tanto que acredito que ele partiu para Londres pra me proteger…"
"Protegê-la?"
"Sim… Creio que ele pensou que não poderia me fazer feliz sentindo a culpa que estava sentindo. Por isso se afastou. E por não saber se superaria isto, abriu mão do nosso amor…"
"Tomoyo…" - Sonomi deixava pequenas lágrimas escorrerem de seu rosto.
"Mas eu sei, mamãe, que ele irá superar. E mesmo ele tendo dito que não deveria ter esperanças com a volta dele, disse que o esperaria… E vou esperá-lo, mamãe… Pois o amo! Amo a dignidade dele, a sinceridade. E acima de tudo, amo a forma com que ele se preocupa com todos que ama. Ele é como eu…"
"Querida…"
"Ele vai voltar mamãe… Eu sei que vai!"
Mãe e filha se abraçavam. Sonomi queria acreditar que ele voltaria. Queria ver sua filha radiante, sorridente como sempre foi. Mas não podia simplesmente dizer para Tomoyo que ele voltaria. E se ele não voltar? O que acontecerá com o coração tão puro e romântico de sua filha? Ela só esperava que não ficasse da mesma forma que o seu… Triste e solitário… Frio e amargurado… Não queria ver sua filha como ela…
"Tomoyo… Não queria que você tivesse que passar pelo mesmo que eu passei… Seria um destino muito cruel…" - pensava Sonomi enquanto acariciava os cabelos negros de sua encantadora filha.
Celesty…
"Kijo… Deixarei você no controle do Conselho durante a minha ausência." - dizia Yuri no hall de entrada da grande Morada dos Magos.
Era uma grande construção a Morada dos Magos. Toda em estilo antigo, grandes portas, janelas, escadarias largas e extensas. Yuri estava com duas sacolas, uma de cada lado, enquanto que Wladimir, mantinha apenas uma, e uma caixa de madeira em suas mãos. Estávam no hall. Ele era imenso e vazio. Todo com piso em madeira nobre, com dois enormes corredores ao leste e ao oeste. A frente, ao norte do hall, uma imensa escaria, construída também em madeira. Esta escadaria dava acesso aos quatro andares do prédio. Os andares superiores não cobriam o hall, mas sim formavam arcos sobre ele. Somente o hall não era coberto pelos andares, nos demias locais do prédio, a construção era comum, como em todas as casas, andar, sobre andar.
Do hall podia-se ver o teto, quatro andares acima. Era um imenso vitral levemente amarelado, em forma de cúpula, que possuia uma enorme Rosa dos Ventos ao centro, toda contornada em ouro. Quando o Sol atingia exatamente o meio-dia, cobria perfeitamente a Rosa dos Ventos. Era uma visão belíssima que refletia-se no piso de madeira todos os dias. Um brilho translúcido, chegando até a ser mágico…
"Não o decepcionarei, Yuri!" - Kijo Sukanuri curvava-se mostrando seu respeito e agradecimento pela decisão do líder do Conselho dos Magos.
"Tomem cuidado…" - dizia Clara à Yuri e Wladimir.
"Voltaremos em breve!" - dizia Yuri.
Yuri e Wladimir atravessavam a porta principal, que dava acesso a grande construção onde todos os Magos de Celesty moravam. Júbilus carrgava as três malas, uma em cada mão, e a terceira presa com o braço. Clara e Kijo observavam os dois caminharem pelos jardins de entrada da morada dos Magos. Clara estava tensa, e seus brilhantes olhos negros encaravam Kijo, que a observava.
"O que foi?" - perguntava Clara.
"Não há motivos para se preocupar… Yuri apesar de jovem, é um grande líder…"
"Eu sei… Aprendeu tudo com um dos melhores…"
"Sim, Clara. Thomas Willians soube escolher bem seu sucessor."
Clara fechava a porta de entrada. Ela e Kijo caminhavam em direção ao leste.
No topo da grande escada, no centro do hall, um outro par de olhos negros observava a cena. Iyani…
Aeroporto de Genebra…
"Júbilus, obrigado!" - agradecia Yuri a seu ajudante - "Deveremos voltar em quatro ou cinco dias. Ligarei avisando a hora em que chegaremos no aeroporto para vir nos buscar."
"Sim, Sr." - respondia Júbilus.
"Ah, Júbilos… Tenho mais um favor a lhe pedir…" - continuava Yuri - "Fique atento aos comentário referentes a Iyani. Se eles começarem a ficar excessivamente grosseiros e altamente repreendores, peça que Clara entre em contato comigo."
"Ela tem seu telefone, Sr.?" - perguntava Júbilus.
"Clara utiliza outro tipo de comunicação, caro Júbilos. Por isso, se preocupe apenas em avisá-la." - sorria Yuri.
"Yuri, nosso vôo!"- dizia Wladimir ao ouvir o número do vôo - "É melhor irmos!"
"Claro, Wladimir!" - dizia Yuri - "Em três dias devo estar entrando em contato e lhe passando o horário de nossa volta! Vá em paz, Júbilus!"
"Obrigado!" - agradecia Wladimir.
Júbilus se curvou, e despediu-se de seu mestre e de Wladimir. Seguiu em direção a saída do aeroporto, sem ao certo entender o que seu mestre lhe disse. Como Clara avisaria Yuri sobre os comentários agressivos à Iyani? Enfim, não importava. Eles eram Magos! E Magos fazem coisas mágicas! Mas que era curioso como as magias eram criadas, isso Júbilos não podia negar. Talvez até desejasse que tais comentários acontecessem. Quem sabe assim não poderia presenciar a mágica que Clara faria…
Yuri caminhou com Wladimir até o portão de embarque. O vôo iria até Tóquio, e de lá partiriam para Tomoeda. Direcionaram-se para seus assentos no avião, e logo que Yuri se sentou na janela, Wladimir começava a colocar a caixa de madeira que segurava nas mãos no bagageiro superior dentro do avião.
"Não, Wladimir…" - dizia Yuri ao apontar para a caixa.
"O que foi, mestre?"
"É melhor ficar com ela perto de nós." - dizia Yuri com fazendo um leve aceno com sua cabeça, e indicando a poltrona ao seu lado para Wladimir.
"Tem toda uma atenção especial por este objeto, não Yuri?" - dizia Wladimir ao se sentar e colocar a caixa sobre seu colo.
"Um dia, Wladimir, este objeto será apenas mais um entre todas as outras obras que existem em Celesty. Por hora, ele é muito especial… E cabe a mim, o responsável, dar-lha a tenão devida."
"Espero que quando ele se tornar apenas mais um objeto entre as inúmeras obras de Celesty, que venha a saber toda a sua história."
"Um dia, Wladimir… Um dia lhe contarei tudo, como meu mestre Thomas me contou. E peço todos os dias que quando lhe contar, tudo já esteja resolvido, e devidamente em seu lugar…"
Yuri abria a janela do avião ao seu lado esquerdo quando a comissária de bordo solicitava à todos que apertassem os cintos. Uma outra comissária caminhava nos corredores verificando se os cintos estavam devidamente afivelados.
"Sr., me desculpe… Mas por favor, permita que coloque esta caixa no bagageiro, para seu maior conforto e segurança." - dizia a comissária.
"Oh.. não, não! Eu prefiro mantê-la sobre minha vista. É um objeto muito delicado, frágil… Prefiro segurá-lo! Assim tenho certeza de que ele ficará bem protegido!" - dizendo isso com um doce sorriso, Wladimir veio a encantar a comissária, que concordou com seu pedido retribuindo o sorriso.
"Tenho grande poder de persuação, não?" - sorria Wladimir para Yuri quando a comissária se afastara.
"Não, caro Wladimir…" - dizia Yuri com o olhar fixo na janela, observando a vista da cidade de Genebra que era deixada para trás - "Tens é um belo par de olhos verdes!"
"Ora… Yuri!" - dizia Wladimir rindo da ironia de Yuri.
Yuri sorria com o canto de seus lábios. Estava um tanto tenso para gargalhar como Wladimir. Em Tomoeda teria um encontro com uma certa jovem, a qual tornara-se a nova mestra das Cartas Clow. Uma jovem que deveria estar muito triste, devido a perda de seu namorado. Teria que dar-lhe explicações em nome de Iyani…
"Queria tanto que Iyani achasse seu caminho…"
"E ele vai achar!"
"Já o localizaste, não é mesmo Wladimir?" - voltava Yuri ao assunto inicial da conversa.
"Esta em Tomoeda."
"Espero que encontre seu caminho…"
"Ele o encontrará…" - olhava Wladimir de volta àquele objeto incomum - "Mas alguém o perderá também…"
Yuri voltava-se para sua mesa e prendia a estrela entre ambas as mãos.
"É exatamente isso que me aflige, Wladimir…"
"É justamente a possibilidade desse alguém perder seu caminho que me aflige… Saber que nem eu, nem ninguém do conselho poderá fazer nada para modificar o rumo destes fatos…" - pensava Yuri enquanto olhava o pequeno rapaz observando suas mãos tremendo, na tentativa de parar o objeto.
Yuri se lembrava de uma conversa que tivera com Wladimir, pouco antes de tudo acontecer… "Que os Magos dos céus iluminem meu caminho!" - pensava Yuri.
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Olá pessoal!!! Mais um capítulo no ar…
Yuri, como todos podem ver, já esperava por todos estes acontecimentos. Recebera de seu mestre, Thomas Willians, um objeto especial, "A Chave"…
De que forma este objeto está relacionado com todos os acontecimentos? Qual será a interferência de Yuri com tudo isso?
E quem será a pessoa que perderá seu caminho quando Iyani encontrar o seu?
Aguardem…
Queria dedicar este capítulo para três grandes amigos meus!
Felipe! Obrigado pelo help neste capítulo! Espero que ele atenda as suas expectativas! Um grande beijo!
Andrea! Espero que tenha ficado clara a descrição do objeto! Segundo o Fê, ficou digno de uma engenheira!!! ^^
Fabi!!! Amiga, que saudade! Amei ter falado com você hoje! Espero em breve novas e emocionantes histórias suas, aqui na ff.net!!!
Continuem mandando reviews!!!
Mandem e-mails também: nakizinha@hotmail.com!!!!!
A opinião de vocês é muito importante pra mim!!!!
Até o próximo capítulo!!!
Naki
Obs: Os personagens de Card Captor Sakura apresentados neste capítulo não me pertencem. Eles são de propriedade do grupo Clamp ©.
Os demais personagens são de minha autoria, propriedade de Naki ®. Caso queiram utilizar algum destes personagens, por favor, peçam a minha autorização. Obrigada!
