A Passagem

Por Naki

Capítulo 7 - A Passagem

Sakura acordava. Era um lindo domingo. O sol brilhava no céu azul. "Hoje começa uma nova semana!" - pensava Sakura enquanto abria a janela - "Uma nova etapa!".  Ela observava o dia enquanto respirava fundo o ar da manhã. "Uma nova vida! Vou fazer com que tudo seja diferente… Que tudo volte a ser como antes…"

"Bom dia, Sakura!" - dizia Kero ao sair de seu quarto, de dentro da gaveta.

"Bom dia, Kero!" - respondia uma Sakura sorridente.

"Já tem planos para hoje?" - perguntava Kero.

"Já sim…"

"E o que você pretende fazer?"

"É segredo… Mas não se preocupe!"

"Como não me preocupar, Sakura? Você é minha mestra, e acima de tudo, minha grande amiga. Depois de tudo o que aconteceu…"

"Na…na… não!" - dizia Sakura balançando seu dedo indicador em negação, interrompendo Kero.

"Mas, Sakura…"

"Kero, se acredita em nossa amizade confie em mim!" - dizia Sakura enquanto segurava o pequeno ser em suas mãos - "Sei que parece estranho eu estar tão alegre. Afinal, Shaoran foi embora e nem pude me despedir. Mas é que depois da minha conversa com Kaho, percebi que o Shaoran continua muito perto de mim!".

Kero observava Sakura sem entender. Mas isso de fato não importava. Ele só queria vê-la feliz. Apenas isso.

"Ele está aqui dentro!" - continuava Sakura enquanto abraçava Kero, pressionando contra seu peito - "Você sente, Kero? Meu coração bate por ele. Cada pulsação, cada som que ele emite... Isso é ele! Shaoran está dentro de mim, vivo!"

Sakura sorria enquanto girava Kero pelas mãos. Seu pequeno guardião a observava, sorrindo de volta. Talvez fosse loucura, ou mesmo verdade. Sempre dizem que quando partimos deixamos um pedaço nosso com cada um que nos ama. Talvez Shaoran tenha deixado algo muito forte pra Sakura. Talvez todo o amor que um sentia pelo outro continuasse vivo, completo, dentro dela. E isso a enchia de luz. Seus olhos emitiam um brilho único, cheio de paixão. Era a mesma Sakura de sempre. A doce, romântica, amiga e compreensiva Sakura. Àquela que Kero amava tanto…

"Sakura…"

"Não se preocupe, Kero! Tudo vai dar certo!" - Sakura dizia isso dando um beijo no rosto de Kero.

Ao deixar o quarto e fechar a porta, Kero se sentou na cama de Sakura, fitando o céu através da janela.

"Aonde quer que você esteja, Shaoran… Cuide dela! E ah! Obrigado por trazer de volta a alegria de Sakura. O que quer que você tenha feito, da onde quer que você esteja… Obrigado!" - Kero dizia para si mesmo, na esperança que Shaoran o ouvisse. Era a primeira vez que agradecia o garoto sem ter ganho nada em troca, sem rancor. Agradecia de coração aberto - "Cuide dela!" - repetia Kero fechando seus olhos e sentindo a suave brisa que soprava pra dentro do quarto.

Um sorriso brotava no rosto do pequeno guardião, como se algo dentro dele sentisse que seu agradecimento tinha sido escutado. E mais, sabia que Shaoran tinha escutado.

"Yuri… Lembre-se de que uma chave apenas abre uma porta… Que para encontrar o caminho é preciso um guia…"

"Mestre, poupe suas energias…"

"Não há tempo, Yuri… Meu querido e mais fiel amigo… Escute a este velho mestre, que tanto o admira…"

Yuri chorava ajoelhado aos pés da cama de Thomas Willians. O quarto estava escuro, somente iluminado por duas velas em um castiçal, na cabeceira da cama de Thomas. O discípulo segurava uma das mãos de seu mestre, com ambas as mãos, mantendo sua cabeça encostada sobre elas. Thomas podia sentir as lágrimas sobre sua mão. Sentia muito por não poder continuar ali, ao lado de seu discípulo, ao lado de um homem incrível ao qual cuidada como um filho.

"Yuri… Olhe para mim!" - dizia Thomas com muita dificuldade. Yuri obedecia e encarava Thomas com seus olhos azuis, marejados – "Meu filho… Em poucos anos a "chave" criará vida. Deve estar preparado. Uma magia muito forte foi colocada nela. A magia de Andersen reside na "chave", não só a dele, como a de Clow também… "

"Clow tinha conhecimento deste objeto?" - perguntava Yuri.

"Sim, Yuri… Este é um dos motivos de sua reencarnação."

"E existe algum outro motivo, mestre?"

"Eu… eu não sei ao certo, Yuri… Eriol, a reencarnação de Clow, ainda é muito jovem. Não sei ao certo seus objetivos. E infelizmente, não terei mais tempo para estudá-lo…"

"Mestre, o Sr. quer que eu continue a pesquisa?"

"Oh… não, não Yuri. Tua missão é outra…" - dizia Thomas já com os olhos pesados, não resistindo mais para mantê-los abertos.

"Mestre… Mestre!"

"Yuri…" - Thomas murmurava o nome de seu discípulo enquanto fechava seus olhos, deixando seu rosto cair sobro o ombro esquerdo.

"Mestre!!!" - dizia Yuri ao acordar.

Estava em seu quarto, no hotel. Se levantou, sentando-se na cama observando seu relógio de pulso colocado no criado mudo, à sua direita. 9:00 hs, era o que indicava os ponteiros de seu relógio. Levando sua mão ao rosto, esfregou os olhos, tentando dissipar o sonho que tinha tido. Na verdade não era um sonho, mas uma lembrança de sua vida, de seu mestre Thomas.

Yuri caminhou até a janela do quarto e a abriu. Estava uma linda manhã, céu azul limpo, quase sem nuvens. E um sol ao alto, que iluminava todo o quarto com seus intensos raios. A vista de sua janela dava para um parque. Ficou encostado a janela um tempo, observando a linda imagem e refletindo sobre suas lembranças.

"Hummm… Está um delícia, papai!" - dizia Sakura sentada a mesa.

"Que bom que gostou, querida!" - dizia Fujitaka com um lindo sorriso.

Sakura, seu pai e Touya estavam tomando o café da manhã. Sakura estava muito animada, e seu pai notara isso. Sentia-se feliz por sua filha, e por saber que ela, apesar de não aparentar muito, era sim muito forte. Mesmo sendo chorona muitas vezes, sensibilizando-se facilmente, Sakura havia mostrado à todos que conseguia superar o maior dos problemas, inclusive a morte de quem mais amava. Talvez fosse como ele. Sofria sim, e saberia que sempre sofreria. Mas acreditava que um sorriso nos lábios e a coragem em continuar adiante seriam o combustível para se erguer e prosseguir em seu caminho. Fujitaka sorria. Era muito prazeroso ver sua filha sorrir.

"Não sabia que monstrengas sentiam sabores…" - dizia Touya como se estivesse colocado uma simples frase ao acaso, sem maior importância.

"Pare com isso, Touya!" - esperneava Sakura.

"Imagino que seja assim porque as monstrengas nem mastigam os alimentos apenas os engole. Por isso não sentem gosto algum…" - continuava Touya como se não tivesse ouvido a reclamação de Sakura.

"Pára, Touya!!!" - gritava Sakura levantando-se da mesma.

"Está vendo pai! As monstrengas não tem educação!"

Sakura o encarava com raiva. Seus olhos de um verde esmeralda passavam a ficar vermelhos de raiva.

"Eu disse pra você pai! Não devíamos ter criado uma monstrenga!"

"Agora chega, Touya!!!" - Sakura partia pra cima do irmão, mas este simplesmente segurou seus braços.

"Vocês dois, parem com isso!" - dizia Fujitaka contendo o riso. Era muito bom ver os filhos brincando novamente.

"Touya, quando você vai parar com isso!!! Eu não gosto quando você me chama assim! Será que você nunca vai crescer e esquecer isso?" - dizia Sakura tentando se soltar.

"Mas, monstrenguinha! A maior diversão da minha vida é isso!" - dizia Touya rindo.

"Um dia ainda o farei parar com isso!" - dizia Sakura por fim, se soltando e sentando a mesa novamente.

"Um dia… Claro, claro!" - dizia Touya enquanto tirava a mesa - "Dia de São Nunca!"

"Ahhhh, Touya!" - Sakura gritava com o irmão.

Wladimir estava pronto para bater na porta do quarto de Yuri quando, subitamente, a porta abriu-se. O jovem mago não se impressionou com tal magia criada pelo líder do Conselho. Yuri simplesmente sabia que Wladimir estava ali.

"Bom dia, Wladimir!" - dizia Yuri ainda encostado na janela de seu quarto observando a linda manhã.

"Bom dia, mestre." - dizia Wladimir ao entrar e fechar a porta do quarto atrás de si.

"Como passou a noite?"- perguntava Yuri calmamente, virando-se para Wladimir.

"Não muito bem... Fiquei ansioso pelo nosso encontro com a maga que teve seu destino alterado..." - dizia Wladimir ao se sentar em uma das poltronas do quarto de Yuri - "Fiquei tentando imaginar como ela seria..."

"Também não tive minha melhor noite, Wladimir... Tive uma lembrança de meu antigo mestre."

"Uma lembrança?" - espantava-se Wladimir.

Yuri quase nunca falava para Wladimir sobre suas lembranças. Ainda mais quando elas abordavam Thomas Willians, antigo líder do Conselho. Apesar de serem amigos, mestre e discípulo, o contato entre eles ainda era muito vago. Wladimir era muito sensitivo e tinha intuições fortíssimas, mas tinha muito o que aprender ainda. Mas quando se tratava de seu mestre, Wladimir sabia muito bem identificar a situação que pairava no ar. Fosse ela angustiante, fosse ela agradável. Ele conhecia as emoções de Yuri, e no momento elas estavam completamente conflitantes.

"Nunca lhe abri os detalhes do meu relacionamento com meu mestre. Talvez porque acreditasse que podia resolver a situação facilmente." - Yuri respirava fundo antes de prosseguir - "Mas os últimos acontecimentos têm me mostrado que as coisas estão um tanto quanto fora do esperado. Primeiro a morte deste jovem, depois o fato de que as Cartas Clow já não existem mais..."

"Não existem mais?" - perguntava Wladimir muito interessado.

"Existem, mas foram modificadas pela estrela..."

"A estrela... A jovem maga que iremos encontrar, estou certo?"

"Sim, absolutamente!"

"Mas, mestre... O que tanto lhe aflige? Apenas o fato das Cartas de Clow terem sido modificadas? Por que sempre soubemos que alguém perderia seu caminho, assim que Iyani encontrasse o seu."

"Sim... mas..." - Yuri soltava palavras sem qualquer suposição colocada.

"Sabe que tenho uma intuição fortíssima em relação a quem perderá este caminho. Sabes que acredito que seja a estrela. E sabes melhor do que eu que na verdade não a nada que possamos fazer." - dizia Wladimir um pouco triste - "Estamos impotentes quanto a isso, Yuri. Tanto que ainda não consegui ao certo entender o motivo de nossa presença aqui!"

"Wladimir... Tem muitas coisas que tu não sabes..."

"Eu sei!" - afirmava Wladimir, buscando as devidas explicações para tudo o que estava acontecendo.

"A "chave", Wladimir..."

"O que tem ela, mestre?"

"Acho que chegou o momento de revelar-te tudo..."

"Tomoyo, querida? Já está acordada?"

Sonomi entrava no quarto de sua filha. Caminhava calmamente até a cama da jovem, abrindo cuidadosamente a cortina da janela que se encontrava na suíte, permitindo que a luz do sol entrasse iluminando o quarto.

Tomoyo estava acordada, mas sonolenta. Quando notou os raios de sol entrando em seu quarto cobriu sua cabeça com o lençol rosa, todo bordado que a cobria. Como se não quisesse encarar o novo dia que surgia, Tomoyo se encolhia.

"Querida, levante-se!"

"Mamãe... Eu não estou bem disposta..." - dizia Tomoyo se sentando na cama enquanto sua mãe sentava-se ao seu lado.

"Está com uma aparência horrível, minha filha!" - dizia Sonomi ao observar as enormes olheiras abaixo dos olhos violetas de Tomoyo, muito destacadas em suas suave pele branca.

"Não tive uma noite boa..."

"Tomoyo!" - Sonomi chamava a atenção da filha enquanto se levantava – "Ainda pensando neste rapaz?"

"Eriol, mamãe... O nome dele é Eriol..."

"É... é... Este rapaz que você não esquece" - dizia Sonomi um pouco irritada - "Mostre que você é superior a isso, Tomoyo! Siga o meu exemplo!"

Tomoyo observou a mãe estranhamente. De qual exemplo ela estaria se referindo? Sua força de vontade, superioridade eram notáveis em seu rosto. Mas no que isso se relacionava com o fato dela não conseguir esquecer seu grande amor? Sua frieza? Talvez... Mas Tomoyo não era assim. Era doce, amável e muito sensível. E além do mais não tinha motivos para esquecê-lo. Sabia que tudo que seu amado tinha feito era para protegê-la.

Sonomi sentiu o olhar de Tomoyo tocando em sua alma. Sua pequena filha, tão frágil... Assim como ela fora um dia.  Primeiro perdera sua prima querida, única amiga e confidente, depois perdera um grande amor...

"Mamãe? Está tudo bem?"- perguntava Tomoyo fitando sua mãe.

"Claro querida!" - dizia Sonomi um tanto engasgada com as próprias palavras - "Claro que sim!"

Sakura caminhava pelas ruas de Tomoeda. Tinha uma doce expressão em seu rosto. Tranqüila e sorridente. Carregava sua característica mochila de asinhas, que muitas vezes havia acompanhado-a nas capturas das Cartas Clow.  Carregava sua chave mágica no pescoço e o livro dentro da mochila. Ainda era cedo, e poucas pessoas caminhavam pelas ruas.

Quando Sakura parou, um suave vento soprou mexendo seus cabelos castanhos. A jovem virou-se e observou o templo ao seu lado esquerdo. "Templo Tsukimine". Sorriu apertando sua chave com uma das mãos contra seu peito.  O vento novamente soprou, e desta vez, carregava pétalas cor de rosa consigo. Lindas pétalas de Cerejeira.

"Desta vez vocês vieram pra me trazer a felicidade, não?" - dizia Sakura sorrindo quando uma pequena pétala planava pousando na palma de sua mão. 

Celesty...

Iyani caminhava pelos corredores da Morada dos Magos. Aproveitava-se da penumbra da madrugada para não ser visto por ninguém, embora todos sentissem sua energia. Estava confuso, solitário. De certo modo arrependido. Não podia aceitar o fato de ter causado a morte de um jovem.

"Mas que raios ele tinha que ter se metido?" - resmungava para si mesmo.

"Já pensaste na possibilidade disso ter que acontecer?"

Iyani virou seu rosto rapidamente no sentido da voz que havia acabado de ouvir. Uma imagem escondida nas sombras podia ser observada. O mago não precisou se aproximar e ver a imagem com maior nitidez para reconhecer quem havia feito o comentário, ele simplesmente sabia.

"Lara..."

Lara Stenfford observava Iyani com seus intensos olhos cor de mel. Ao se aproximar de uma castiçal, Iyani pôde notar o brilho dourado de seus olhos em contraste com a fraca luz das velas. A maga se aproximou de Iyani e tocou-lhe o rosto.

"Eu te entendo, Iyani..." - dizia Lara enquanto fechava seus olhos e sentia toda a alma do mago.

"Eu sei que sim..." - disse Iyani ao fechar seus olhos e colocar sua mão sobre o rosto de Lara.

Os dois caminharam em silêncio, um ao lado do outro, até o hall principal da Morada dos Magos. A rosa dos ventos começava a ser refletida no piso devido aos fracos raios de sol que começavam a aparecer. Iyani abriu a porta de entrada, abrindo espaço com suas mãos para que Lara a atravessasse e lhe desse prazer com sua companhia.

Lara era a única com quem Iyani se abria. Talvez devido ao dom de sensibilidade da maga, talvez por ele permitir que ela adentrasse em seu espírito e descobrisse suas angústias mais profundas, seus segredos... Quase nunca trocavam palavras, mas também não era necessário. Lara era capaz de entender o espírito, e o corpo não fazia questão de compreender, pois o achava falso e vazio...

"Posso te perguntar uma coisa, Lara?" - dizia Iyani enquanto se sentava em um dos bancos do jardim, observando o nascer do sol.

"Claro..."

"Por que perguntaste se eu tinha ciência da possibilidade de tudo isso ter que acontecer?"

"Ora Iyani... Sabes bem o que sei..."

Um vento forte soprou levantando os cabelos castanhos de Lara. Iyani ergueu seu rosto fitando o céu azul que se formava no céu. Ele sabia.

"Acredita que Willians não mentiu?"

Lara o olhou com um ar de reprovação. Ele sabia que as últimas palavras de Thomas Willians eram verdadeiras. Que a profecia se concretizaria. Ele enxergava a verdade na alma de Lara. Iyani simplesmente baixou seu rosto levando suas mãos a face, descendo-as em seguida pelo pescoço, mantendo somente a esquerda e apertando-a levemente, como se um remédio ruim tivesse lhe percorrido a garganta.

"Lara, Lara..." - Yuri corria pelos corredores tentando chamar a atenção de alguém próximo.

"Acalme-se, querido?" -  dizia Lara ao abraçar-lhe, reconfortando-o da dor.

"Mestre Willians..." - começava Yuri a dizer entre soluços.

"Não precisa dizer, querido... Eu já senti..."

Caminhando abraçada ao jovem, Lara entrou no quarto de líder do Conselho dos Magos. Thomas Willians estava deitado na cama. Morto.

Yuri correu em direção ao corpo estendido de seus mestre, buscando algum vestígio de vida, e para sua surpresa, o encontrou...

"Yu...Yuri..." - murmurava Thomas com dificuldade - "Não se esqueça da profecia... Do caminho que deverá criar..."

"Mestre, por favor..."

"Prometa-me... Prometa-me que não irá se esquecer... Quando alguém encontrar seu caminho, outro alguém irá perdê-lo... Não es.. que... Pro... meta... Yu..ri..."

O corpo de Willians desfalecera. Seu braço rolava para fora da cama enquanto que seus olhos se fechavam levemente, perdendo o brilho que sempre possuíram.

"Mestre!!!!!" - Yuri chorava desesperadamente, abraçado ao corpo de seu mestre.

Lara observava a cena. O jovem Yuri, ao lado de um incrível homem, seu mestre, seu amigo... Um filho, uma criança chorando a morte do pai. Lara aproximou-se e abraçou Yuri, afastando-o do corpo sem vida.

"Eu prometo, mestre! Eu prometo!" - dizia Yuri enquanto enxugava suas lágrimas que insistiam em cair e molhar-lha a face.

Lara sentia um forte responsabilidade dominando o jovem corpo de Yuri. A responsabilidade de conduzir os caminhos futuros de uma profecia. "Uma profecia?!" - pensava Lara assustada enquanto acariciava os cabelos de Yuri.

"Quando alguém encontrar o seu caminho, outro alguém perderá o seu..." As últimas palavras de Willians tocavam a alma de Lara. Quem encontraria o seu caminho? Quem perderia o seu em troca?

"Sabes bem Iyani, qual a informação que guardo em segredo. De ti não posso esconder nada. Somente de ti não posso esconder nada. " - dizia Lara após se lembrar da morte do antigo líder do Conselho, há 10 anos.

"Acredita que seja eu que encontrarei o meu caminho?"  - perguntava Iyani fitando os olhos dourados de Lara.

"Se é que já não o encontraste, Iyani..." - dizia a maga com um singelo sorriso na face.

"Pensei que alguém perderia seu caminho após eu encontrar o meu. Mas a ordem não ocorreu exatamente assim..." - dizia Iyani tentando organizar os fatos em sua mente.

"Como podes ter certeza de que a pessoa que perderia o caminho é este jovem?" - dizia Lara ao notar que Iyani se referia ao rapaz que viera a falecer em Tomoeda.

"Acredita que possa ser outra pessoa, não?" - perguntava Iyani apreensivo.

"Yuri não partiu daqui com sinais de que fosse exclusivamente se desculpar em nome do Conselho." - dizia Lara observando a curiosidade do mago -"Ora, Iyani, sinta você mesmo..." - Lara sorria -"Não posso esconder nada de ti..."

"Por favor!" - dizia Iyani com um brilho intenso em seu olhar -"Conte-me você... Preciso ouvir isto, não basta sentir..."

"Yuri tinha a alma aflita..." - começava Lara -"Partiu por algum motivo que tanto angustia seu espirito. Senti nele a mesma responsabilidade que senti naquele dia..." - os olhos de Lara baixaram-se, fitando os de Iyani apenas com o canto dos olhos - "A profecia ainda não terminou..."

Iyani  fitou Lara, respirando fundo. Fechou seus olhos em seguida e deu um pequeno sorriso. Como se algo aliviasse sua culpa, sentiu-se livre. Abriu seus braços sentindo o vento tocar sua pele, atravessando seus dedos. O sol já estava brilhante ao alto, e Iyani sentia seu coração leve.

"Acho que já fiz a minha parte!" - disse Iyani rindo, alegre.

E tocando as mãos de Lara enquanto se levantava do banco, deu-lhe um beijo em seus rosto. Lara envergonhou-se do gesto daquele mago. Enfim parte da profecia havia se concretizado. Ele havia encontrado seu caminho. E os dois sabiam disso...

Tomoeda...

Sakura estava parada, em frente a enorme Cerejeira do Templo.  Podia sentir a intensa energia que aquela árvore tinha. Havia lhe ajudado uma vez... Sabia que a ajudaria novamente. Colocando sua pequena mochila aos pés da árvore, e abrindo-a, Sakura pegou o livro das Cartas. Ao abri-lo estendeu  uma de suas mãos sobre as Cartas fechando seus olhos. Uma Carta, envolvida por um intenso brilho rosa, ergueu-se sobre as outras. Sakura fechou o livro e o guardou, tomando a Carta brilhante em suas mãos.

Tocando com a mão direita a chave mágica presa ao seu pescoço, e invocando seu báculo, Sakura sorriu para a Carta, lançando-a para cima.  E no momento em que o báculo tocou a Carta, Sakura deitou-se aos pés da árvore, fechando seus olhos e caindo no sono.

O báculo voltara a ser uma chave, permanecendo entre a mão de Sakura. A Carta planava agora sem brilho, pousando ao lado do corpo adormecido de Sakura. Podia-se ver a imagem da Carta, uma mulher. Nos dizeres abaixo dela, as palavras: "The Dream" - "O Sonho".

Wladimir observava Yuri aflito. Seu mestre havia lhe dito a alguns minutos que já era o momento de revelar todos os fatos. Mas desde essa sua última frase, Yuri caminhava de um lado para o outro do quarto do hotel, sem dizer uma palavra sequer. A tensão planava no recinto, e Wladimir sabia que essa conversa seria essencial.

Yuri caminhava dentro do seu aposento, sem sincronia alguma em seus passos. Era angustiante vê-lo caminhando, passos firmes e desorientados.  Parando próximo a sua cama, Yuri abaixou-se tomando uma caixa em suas mãos. Colocou-a sobre a cama, abrindo-a cuidadosamente. Retirou um objeto envolvido por um tecido branco, tomando-o nas mãos.

"Mestre..." - chamou Wladimir sua atenção.

Yuri virou-se para seu aprendiz, mostrando-o o objeto que segurava. A "chave".  Aproximando-se de Wladimir sentou-se ao seu lado na poltrona vazia. Fitando o objeto cuidadosamente, respirou fundo lembrando-se das palavras de seu antigo mestre.

"A chave, Wladimir, ela apenas abre uma porta. É preciso um guia para mostrar o caminho certo." - Yuri ainda mantinha os olhos fixos no objeto.

"Um guia? De que porta está falando, mestre?" - Wladimir parecia confuso, o que não era muito de seu feitio. Sempre intuía o que as palavras queriam dizer, mas desta vez sentia-se perdido perante elas.

"Minha missão, Wladimir... Meu mestre me incumbiu de ser este guia. Devo mostrar o caminho para o ser que se perder. Só assim o caminho certo será escolhido. E só terei uma chance para lhe indicar isto..." - Yuri virava-se para Wladimir, fitando os olhos verdes do rapaz.

"Quando a "estrela" se perder, ela usará "isto" para abrir a porta?" - dizia Wladimir se referindo ao objeto nas mãos de Yuri, um tanto quanto incrédulo quando ao que acabava de ouvir - "Usará a "chave" para encontrar o caminho e você a guiará?"

"Caro Wladimir... Não é tão simples quanto pensa..." - dizia Yuri virando seus olhar para a janela, fitando o horizonte.

"É por isto que estamos aqui? Para entregarmos a "chave" para a jovem estrela?"

"Não... A "chave" não funciona desta forma, Wladimir... Ela não abre simplesmente uma porta..."

Wladimir sentia-se perturbado com toda esta situação. O que acabava de ouvir, não fazia sentido algum. Ao invés de lhe esclarecer, Yuri simplesmente o havia confundido mais. Que porta? Uma chave para abrir uma porta? Mas uma chave que não abre simplesmente uma porta? E que caminho deveria ser mostrado por um guia? Indicado por Yuri?

Tantas perguntas penetravam a mente de Wladimir, que o jovem balançava sua cabeça como forma de expulsá-las. Quem sabe abordando uma a uma conseguiria entender tal missão ao qual Yuri tinha sido designado.

"Wladimir... Parece um pouco confuso, eu sei... Também me senti assim quando meu mestre começou a me contar sobre tudo. Eu mesmo não sei ao certo como a "chave" funciona, se é esta a dúvida que tanto aflige seu interior. Relatei apenas o que meu mestre me disse nos instantes finais de sua vida. O que descobri além disso, foi devido as minhas pesquisas nos relatos de Willians."

"E o que o Sr. Descobriu além destas frases perdidas e sem sentido?" - perguntou Wladimir curioso.

"Não muito mais do que isso, meu caro... Somente que este calendário mágico me mostrará o momento que deverei agir, que deverei conduzir o ser que se perderá." - disse Yuri se levantando e entregando o objeto às mãos de Wladimir - "Quando a jovem perder seu caminho, a "chave" mudará. Ela indica os momentos de transição na profecia. E quando ela for ativada, mudará novamente, e é neste momento que deverei estar preparado para ajudar a estrela a encontrar seu caminho..."

"E como a chave será ativada, mestre? E o que deverás fazer quando isso acontecer?"

"Estas perguntas, Wladimir... Estas perguntas eu não sei te responder..."

Sakura acordava espreguiçando-se. Olhava a Carta Sonho ao lado de seu corpo tomando-a em seguida nas mãos.

"Por que não me fizeste sonhar e ter uma boa premonição do que irá acontecer?" - Sakura tinha um olhar decepcionado.  Abrindo o livro novamente e guardando a Carta Sonho, Sakura deu um pequeno sorriso -"Devo ter sonhado algo que não consigo lembrar. Mas se tivesse sido um sonho ruim, não acordaria bem assim!" - Tomando outra Carta em suas mãos e guardando o livro dentro da mochila, continuou - "Acho que isso significa um bom sinal!"

Colocando a mochila nas costas, e levantando-se do chão, Sakura convocou sua magia, transformando sua chave novamente em báculo. E lançando a Carta que permanecia em uma de suas mãos ao alto, tocando-a em seguida com o báculo, sentiu a energia emanada da Cerejeira. Aproximou-se do tronco da árvore, estendendo seu braço até que seus dedos a tocassem.

"Carta Sakura! Permita-me navegar entre as ondas do espaço, vencer as barreiras do tempo e impedir que este erro aconteça. Leve-me ao passado e ao encontro do meu amor. Sei que meu coração me guiará até ele!" - virando-se para a Cerejeira, Sakura continuou - "Que todas as energias por você armazenadas me envolvam! Que toda a magia dentro de ti me permita alcançar o campo do espaço que procuro. Que tu me guies até o tempo passado que desejo ir!"

Um vento forte começava a soprar, carregando pétalas da Cerejeira, que agora, emitia uma forte luz branca, envolvendo Sakura e a Carta acima da jovem que começava a brilhar intensamente num tom rosa, levemente ofuscado pela intensa luz branca.

"Shaoran!!!" - gritava Sakura enquanto fechava seus olhos - "Me leve até você, meu amor!"

A luz agora crescia, e a imagem não podia mais ser vista. O vento continuava forte, e as pequenas pétalas da árvore giravam criando um redemoinho envolvendo a luz.

"Quero que me leves até o dia que Shaoran perdeu sua vida! Quero que me leves até o momento em que esqueci minha bolsa e que Shaoran voltou sozinho para buscá-la. Mudarei este terrível incidente, e tudo será diferente! Quero que me leve até o momento ideal, o instante perfeito em que possa alterar este cruel destino! No momento em que possa traze-lo de volta pra mim!"

A luz ia tornando-se mais fraca a medida que Sakura ia pronunciando as palavras. Agora ela se concentrava em um ponto, ao redor da mão de Sakura, que se encontrava sobre o tronco da Cerejeira.

"Carta Retorno! Leve-me ao ponto do espaço-tempo em que possa estar impedindo este terrível engano! Que eu possa reverter tudo isso!" - Sakura olhava para a Carta que girava sobre ela - "Retorno!!!"

O silêncio deixava o ambiente pesado. Yuri estava de pé, diante de Wladimir. Sua última observação tinha deixado seu jovem aprendiz sem palavras. Imobilizado por tudo o que acabara de ouvir, Wladimir mantinha seus olhos fixos ao objeto.

Yuri respirava fundo, iria começar a dizer algo quando um som chamou sua atenção. Mas do que rápido ajoelhou-se à frente de Wladimir fitando os olhos angustiados de seu aprendiz. Estavam ambos aflitos. O som tinha por proveniência a "chave".

A luz ofuscava tomando conta do corpo de Sakura.

"Tudo vai dar certo..." - murmurava Sakura -"Eu sei que vai..."

O vento soprava forte, carregando algumas das pétalas de cerejeira que cobriam o chão do Templo. O sol estava alto no céu, e os galhos da Cerejeira, a árvore mais antiga do templo, balançavam, criando uma dança.  O tronco escuro da árvore era iluminado pelos intensos raios de sol.  A magnitude daquele espetáculo de magia ainda podia ser sentida. Mas somente àqueles com poderes mágicos poderiam senti-la...

"Mestre..." - Wladimir falava encarando os olhos azuis de seu mestre.

Yuri tocou levemente a estrela que se localizava ao alto do objeto. Abaixando sua cabeça, levando sua outra mão os olhos, suspirou.

"Wladimir... A profecia se concretizou..."

Wladimir abriu e fechou sua boca sem emitir som algum. Agora os dois magos sabiam, a "Estrela" havia perdido seu caminho.

                                                                *****************************

Aí está gente, mais um capítulo! Eu sei, eu sei... Demorei pra postar este capítulo, por favor me desculpem! É que agora estou trabalhando em duas histórias, e por sinal estou muito empolgada com ela também! Pra quem não a viu ainda chama-se "Stairway to Heaven". (Propaganda é alma do negócio!  ^-^). Passem lá e deixem um review, ok?

Mas vamos ao capítulo 7 de "A Passagem", intitulado por sinal, de "A Passagem". Este capítulo, até agora, foi o que me deu mais trabalho pra escrever. Como puderam notar a profecia concretizou-se. A profecia que Thomas Willians há 10 anos relatou para seu sucessor, Yuri Vancini. Agora, uma nova etapa dará início. "A Passagem" aconteceu!

"Que passagem?" vocês devem estar se perguntando. Por hora, só posso garantir que muitas emoções ainda estão por vir,  e mais! Algo que vocês jamais pensariam que poderia acontecer...

Aguardem o próximo capítulo...

Queria dedicar este capítulo pra todos que acompanham esta saga e mandaram reviews. Muito obrigada!!! O estimulo de vocês é essencial pra mim!

Queria agradecer em especial ao Felipe (é tradição dedicar meus fics pra ele já, né? Ele até já fez uma "pontinha" no capítulo 2 de "Stairway to Heaven" ). Fê, obrigada por ler meus textos com toda a paciência, e mais! Por sempre achar que eles estão incríveis! Espero que o desfecho te surpreenda!

Queria dedicá-lo a Andréa Meiouh e a Kath Klein também! Meninas, saibam que seus fics são fonte inspiradora e me incentivam a buscar o sucesso que um dia ainda espero alcançar! (Será que um dia ainda passo dos 100 reviews como vocês? *Naki sonhando com isso... ai ai... Será que um dia consigo?*)

Aguardo o review de vocês, hiem?

Até o próximo capítulo!!!

Naki

Obs: Os personagens de Card Captor Sakura apresentados neste capítulo não me pertencem. Eles são de propriedade do grupo Clamp ©.

Os demais personagens são de minha autoria, propriedade de Naki ®. Caso queiram utilizar algum destes personagens, por favor, peçam a minha autorização. Obrigada!