A Passagem
Por Naki
Capítulo 8 – Minha vida, minha história
"Hummmm" - murmurava a jovem deitada na cama.
"Acalme-se!" - dizia a outra jovem ajoelhada aos pés da cama molhando o pedaço de pano que tinha nas mãos - "Estás a salvo agora, senhorita!"
A jovem de longos cabelos negros colocava o pano molhado sobre a testa da menina que estava desacordada sobre a cama. O quarto estava sob meia luz, com as janelas fechadas, sendo iluminado apenas por um castiçal de velas que se encontrava sobre o criado mudo ao lado da cama, que também mantinha uma bacia com água.
"Como ela está?" - perguntava o homem que acabava de parar sobre a porta do quarto.
"Ela já está melhor, meu senhor." - respondeu a jovem de cabelos negros.
"Cuide dela, está bem, Amanda."
"Não se preocupe meu senhor, velarei o sono dela desta noite."
"Bom noite!" - disse o senhor saindo do quarto.
Amanda se levantou observando a jovem deitada na cama. Tocando o rosto da jovem com o peito de sua mão direita, sentiu o estado febril que ela ainda se encontrava. Molhou novamente o pano branco, colocando sobre a testa da menina.
"O que aconteceu..." - murmurava a jovem deitada.
"Shhhhh!" - Amanda dizia enquanto tocava os lábios rosados da jovem - "Estás muito doente... Agora descanse... Tudo ficará bem..."
"To...." - a jovem começava a dizer mas foi tomada pelo sono.
"Bom dia, meu senhor!"
"Bom dia, Amanda... Como ela está?" - perguntava o homem distinto.
"Ainda descansando, senhor." - respondia Amanda com a cabeça baixa.
"Me avise quando ela despertar."
"Sim, senhor! Eu o avisarei!"
"Pode ir agora, Amanda."
Amanda curvou-se em sinal de respeito deixando a sala.
Amanda entrou no quarto carregando outra bacia com água limpa. Colocou-a sobre a cômoda logo a frente da cama, e caminhou até a janela, abrindo-a em seguida. Alguns raios de sol penetraram pelo quarto, iluminando-o.
O quarto era grande, todo com piso em madeira. Uma grande janela na parede esquerda, e duas poltronas, muito bem estofadas num veludo vinho, uma em cada canto da borda da janela. Na parede em frente, uma enorme cômoda, toda em mogno, com um pequeno vaso de flores sobre ela. Na parede ao fundo, uma cama. Era nela que a jovem dormia um sono calmo e profundo. A cama era toda em mogno, assim como a penteadeira que se encontrava em frente à ela, ao lado da porta de entrada do quarto. Ao lado direito da porta, logo após as poltronas, nas parede do fundo, encontrava-se uma outra porta que dava acesso ao banheiro do quarto.
Amanda pegou seu avental branco, que estava sobre a poltrona mais próxima à porta do banheiro, e o vestiu sobre seu vestido azul claro longo , e levemente rodado. Em um dos bolsos do avental pegou uma fita branca e com ela amarrou os cabelos longos num rabo de cavalo. Aproximou-se da cama e abriu o mosqueteiro que caía sobre ela. Todo em branco, contrastando com o veludo vinho da cobertura da cama, e da saia* de mesmo tom.
Cuidadosamente Amanda tocou a testa da jovem, verificando sua temperatura. Sorrindo, pôde constatar que a febre havia cedido. Abaixando novamente o mosqueteiro*, Amanda retirou-se do quarto, deixando a jovem descansar mais um pouco.
"Senhor..." - uma criada se aproximava do senhor da casa.
"O que deseja Anna?" - perguntou o homem.
"Capitão Andersen acaba de chegar..." - respondeu Anna mantendo a cabeça baixa em respeito.
"Faça o entrar, sem demora!" - dizia o homem já animado com a notícia da visita.
"Shaoran!!!" - gritava Sakura enquanto fechava seus olhos - "Me leve até você, meu amor!"
A luz agora crescia, e a imagem não podia mais ser vista. O vento continuava forte, e as pequenas pétalas da árvore giravam criando um redemoinho envolvendo a luz.
"Quero que me leves até o dia que Shaoran perdeu sua vida! Quero que me leves até o momento em que esqueci minha bolsa e que Shaoran voltou sozinho para buscá-la. Mudarei este terrível incidente, e tudo será diferente! Quero que me leve até o momento ideal, o instante perfeito em que possa alterar este cruel destino! No momento em que possa traze-lo de volta pra mim!"
"Shaoran..." - sussurrava Sakura ao acordar.
Fitando o teto vinho, Sakura fechou os olhos novamente, esfregando-os com as mãos. Abriu-os novamente e encontrou o mesmo tom sobre seus olhos. Olhou ao redor estranhando o ambiente em que estava. Um quarto sem dúvidas, mas um quarto ao qual nunca tinha estado antes. Sakura levantou-se da cama, abrindo o mosqueteiro que caia sobre seu leito, achando graça sua cama ter uma cortina. Observou o vaso de flores sobre a cômoda, aproximando-se das lindas rosas brancas que ali estavam. Tocou as pétalas de uma delas sentindo a textura aveludada da flor. Caminhando até a janela, passando pela penteadeira, viu no espelho da mesma, seu reflexo.
Voltando novamente a se observar, desta vez com o corpo virado totalmente para o espelho, observou a linda camisola que estava vestindo. Tocando a renda que envolvia seus braços e o colo de seu corpo, sorriu tamanha a beleza do rendado. Era uma linda camisola branca. Longa, toda em cetim, caindo até seus pequenos pés.
"Eu devo estar sonhando..." - ria Sakura de si mesma enquanto caminhava até a janela do quarto.
O sol estava alto no céu, e um vasto campo cheio de árvores, flores e grama verde, que mais parecia um tapete, podiam ser observados.
"Será esta a predição da Carta Sonho?" - dizia Sakura sentando-se numa das poltronas -"Talvez essa seja minha lua de mel..." - disse enquanto fechava os olhos e respirava fundo, colocando sua mão direita sobre o coração - "Shaoran deve chegar logo com o café... Assim como fez aquela noite..."
"Entre..." - dizia Shaoran dando passagem à Sakura.
Sakura sorriu e entrou no apartamento de seu namorado. Haviam acabado de jantar. Um belíssimo jantar romântico. Ele ainda a surpreendia com seus gestos românticos. Era difícil de se imaginar que Shaoran, aquele guerreiro forte, decidido, com aquele olhar penetrante tivesse dentro de si uma magia totalmente voltada para o amor.
Desde que voltara de Hong Kong, há 8 meses, Shaoran sempre surpreendia Sakura com gestos carinhosos e palavras doces. Não deixava um minuto sequer de dizer a sua namorada o quanto a amava e o quanto havia esperado pelo momento em que finalmente poderiam ficar juntos, para sempre. Não era nada fácil namorar por telefone, e-mails, cartas... É tão mais gostoso ficar junto da pessoa que amamos... E Shaoran sabia disso. Valorizava cada momento tentando preencher o espaço que a ausência de Sakura havia lhe causado todos estes anos.
"Sakura..." - chamava Shaoran a atenção da namorada.
Sakura estava andando sem rumo algum pelos quatro cantos do apartamento, rindo a toa. Seus olhos brilhavam num verde esmeralda lindo, como se tivessem se transformado num mar envolvido pelas brisas do vento.
"Sakura!"- chamava Shaoran enquanto se sentava no sofá e erguia seu braço direito - "Venha cá... Não me faça ir até aí buscar você!"
Sakura ria com a idéia de ser perseguida pelo namorado. Seria muito divertido apesar de saber que não conseguiria fugir daqueles braços fortes e quentes.
"Vem aqui me pegar..." - dizia Sakura.
"Não faz isso..." - dizia Shaoran com um sorriso envolvente e um olhar provocante.
Sakura levava sua mão direita até a altura do nariz, chamando-o com seu dedo indicador. Seus olhos brilhavam. Shaoran se levantou indo atrás da namorada. Sakura correu, tentando inutilmente desviar-se da mesa e das cadeiras, derrubando quase todas na tentativa de colocá-las como obstáculos para Shaoran.
Doce tentativa, Shaoran era muito ágil e todo o treinamento ao qual tinha sido submetido em Hong Kong era a prova disso. Pulou as duas cadeiras que Sakura derrubou no chão, agarrando-a em seguida com seu braço direito. Sakura ainda tentou se soltar de Shaoran empurrando a mesa para trás, mas isso só fez com que Shaoran a prendesse entre ele e a mesa.
"Shaoran..." - dizia Sakura tentando a todo custo sair por debaixo dos braços de Shaoran, que estavam prensando-a contra a borda da mesa.
Sakura se virou, deparando-se com os belos olhos de Shaoran. Como ela amava aquele olhar! Como ela o amava. A simples presença dele a contagiava, o toque, a voz, a respiração pesada de Shaoran... Tudo a envolvia num transe, a envolvia na paixão que dominava seu peito e fazia seu pequeno coração acelerar.
"Shaoran... me solte..." - gritava Sakura enquanto batia nos ombros de Shaoran.
Antes que pudesse falar ou fazer qualquer outra coisa, Sakura sentiu seu corpo totalmente prensado pelo corpo de seu namorado e sua boca envolvida num caloroso beijo. Se rendendo a nostalgia, Sakura abraçou o pescoço de Shaoran, retribuindo o maravilhoso beijo. Um beijo que a completava, que a unia ao seu amado num único corpo e sentimento.
Uma ternura que tomava conta de cada espaço da alma, dominando o corpo e a mente. Carregando os apaixonados a um mundo novo, mágico. A formidável e incrível sensação de se sentir amado. Um beijo que nos faz voar, viajar pelo céu azul e nos entregar à porta do paraíso.
"Shaoran..." - murmurava Sakura entre os lábios do seu amado.
"Eu te amo minha flor..." - dizia Shaoran enquanto a carregava nos braços e a levava para seu quarto.
Sakura passava sua mão nos cabelos de Shaoran. Estava embriagada de amor. Deitou sua cabeça nos ombros de Shaoran, sussurrando ao ouvido dele: "Eu também te amo, meu lobo..."
Shaoran deitou Sakura em sua cama. Ficou observando a beleza de sua amada. Passava suas mãos pelos fios de cabelo de Sakura. Deitou-se ao lado dela, apoiando-se pelo lado esquerdo de seu corpo, afagando sua namorada, aquela flor rara que ele teve o imenso prazer de conquistar, e o melhor, deixar-se conquistar por ela.
"Shaoran, eu quero outro beijo..."
"Shhhh..." - dizia Shaoran tocando os lábios de Sakura - "Você vai descansar um pouco agora, antes de levá-la pra casa."
"Por quê?... Ah... Shaoran..." - dizia Sakura agarrando o pescoço do seu lobo e forçando-o a deitar-se mais próximo a ela.
"Sakura..." - dizia Shaoran erguendo seu corpo sobre o dela - "Não posso me esquecer na próxima vez que sairmos de deixar você beber menos vinho..."
"Tá me chamando de bêbada, é?" - dizia Sakura um tanto irritada mas num tom brincalhão.
"Não estou dizendo isso..."
"Eu gosto de vinho..." - dizia Sakura rindo - "Só isso!"
"Eu sei... eu sei..." - dizia Shaoran enquanto começava a se levantar da cama.
"Aonde você vai?"
"Vou deixá-la descansando... São quase onze horas... Descanse um pouco! Touya só chega depois das duas horas, não é?"
Sakura negou enquanto murmurava algo como: "Hã, hã!". A cerejeira tinha um sorriso maroto na face, o que deixava Shaoran um tanto perturbado.
"Não?"
"Na verdade... Ele só volta amanhã no fim da tarde..."
"Por que não me disse isso?"
"Queria te fazer uma surpresa..." - disse Sakura se levantando da cama e caminhando até Shaoran - "Não quero descansar agora... Estou sem sono..."
"Sakura.... " - dizia Shaoran repreendendo o carinho que Sakura estava lhe dando.
"Não foge de mim..." - dizia Sakura enlaçando o pescoço de Shaoran.
"Eu não estou fugindo, só não acho que..."
Antes que Shaoran pudesse concluir o que queria, Sakura o beijou.
"Eu te quero tanto, Sakura..." - dizia Shaoran enquanto apertava a namorada contra si.
"Eu também te quero... e te quero muito..."
Shaoran segurou Sakura no colo, levando-a novamente para cama. O calor e a empolgação do momento o fez desejar Sakura mais do que nunca, tê-la em seus braços, amá-la. Como tinha sonhado com este momento. Fazê-la sua e sentir cada pedaço de sue corpo tocando a pele macia e delicada de sua flor. Mas antes que permitisse que o desejo dominasse seu corpo, parou.
"Shaoran?" - dizia Sakura sem entender.
"Sakura, não quero que você se arrependa, que se sinta forçada. Talvez não seja o momento e..."
Sakura levou sua mão até os lábios de Shaoran, impedindo que ele continuasse com seu discurso respeitoso e cheio de pudor. Ela não era mais uma menina. E tinha certeza de que ele era o homem de sua vida. Queria senti-lo por completo, deixando-se levar pelo desejo, perdendo a razão. Seus olhos o chamavam dizendo o que ela queria naquele momento, afirmando que estava preparada, e que o desejava tanto quanto ele.
Como uma forma de insinuar sua vontade, Sakura passou suas mãos por baixo da camisa de Shaoran sentindo seu peito, percorrendo todos os desenhos que o musculoso corpo dele exibia.
"Sakura..."- num impulso incontrolado, tomado de desejo, Shaoran tirou sua camisa - "Eu esperei muito por isso, Sakura... Não sabe o quanto quero amá-la e te fazer feliz... Eu te amo tanto..."
"Você me faz muito feliz, Shao..."
Shaoran abraçou Sakura olhando-a dentro dos olhos. Sentiu-se magnetizado, embriagado pelo perfume de sua flor, carregado pela magia que aquele momento proporcionava. A felicidade pulsando forte em seu coração. O lindo sorriso que Sakura tinha no rosto fazia Shaoran ter certeza de que ela sentia as mesmas sensações que ele, e que para os dois aquele momento seria inesquecível! Eternizado nos corações deles, enriquecido a cada dia que passasem juntos, até o fim de suas vidas...
Sakura abria seus olhos sentindo seu coração pulsando forte. Uma onda de calor preenchia sua alma com aquela lembrança. Como era bom recordar dos momentos felizes que havia passado com Shaoran. Mas ela havia decidido-se a tê-lo de volta em seus braços. Queria amá-lo novamente, sentir seus braços envolvendo-a, sua voz tocando-lhe diretamente no coração. Que saudades Sakura tinha de seu lobo...
"Que bom que já está acordada, senhorita!" - falava a jovem de cabelos negros ao entrar no quarto com uma badeja de café da manhã - "Nos deixou preocupados!"
Sakura despertou de seus pensamentos e viu a jovem que acabava de deixar a bandeja do café sobre a cômoda. Sorriu e caminhou até a jovem dando-lhe um forte abraço.
A menina enrubesceu de vergonha e se afastou, abaixando a cabeça timidamente.
"O que aconteceu, Tomoyo?" - perguntou Sakura estranhamente - "Aonde estamos?"
"Srta.. Sou eu, Amanda! Não estás lembrada?" - dizia a jovem se aproximando da garota estranhando a pergunta da jovem.
Edward O'Connell era senhor de grandes terras, ao norte da Inglaterra. Morava em uma bela casa com sua filha e seu filho. Sua esposa falecera há oito anos, ao dar a luz ao seu segundo filho, David O'Connell. Um homem muito gentil, distinto, educado perfeitamente dentro dos costumes de sua época, Edward era um grande homem.
Tinha muitos empregados, mas em sua casa viviam apenas Anna e Amanda Miller, mãe e filha. Anna havia sido dama de companhia de sua esposa, Nathalie, e o ajudara muito a criar seus filhos. Amanda tinha quase a mesma idade que sua filha, e por ser tão dedicada a sua família receava em perdê-la quando sua filha casasse, já que ela insistia em levar Amanda consigo após o matrimônio.
Mas os últimos acontecimentos talvez adiassem este matrimônio tão esperado por toda a família.
"Sr. O'Connell?" - chamava Anna.
"Capitão Andersen!!!" - dizia Edward ao vê-lo entrar.
"Como vai, Sr. O'Connell?" - perguntava o capitão curvando-se respeitosamente com o braço direito encostado no peito.
"Estou muito bem , mas venha, sente-se!"
"E Lady Christine?" - perguntava o capitão ao sentar-se em uma das poltronas ao lado de Edward enquanto ajeitava a espada presa a sua cintura, numa forma de acomodar-se melhor na poltrona.
"Ela..."
"Ahhhhhhhh!!!!!!!!!"
Um grito vindo do quarto onde se encontravam as duas jovem pôde ser ouvido da sala.
"O que foi isso?" - perguntou Andersen.
"Christine..." - murmurou O'Connell ao sair da sala em direção ao quarto seguido por Andersen.
"Acalme-se Lady Christine... Por favor!" - dizia Amanda enquanto tentava se aproximar da jovem.
Sakura se afastava não acreditando no que estava escutando. Aquilo só podia ser uma brincadeira de sua amiga Tomoyo.
"Eu sou Sakura! Sa-ku-ra!!!"
"A Srta. deve ter batido com a cabeça muito forte..." - tentava Amanda justificar a confusão que se passava na cabeça da jovem.
"Para com esta brincadeira, Tomoyo!" - dizia Sakura com lágrimas nos olhos - "Eu não estou gostando disso! Pare... por favor..."
"O que aconteceu aqui?" - perguntava O'Connell ao entrar no quarto.
"Papai.... onde estamos?" - dizia Sakura ao correr de encontro à O'Connell e abraçá-lo.
"Querida... Está tudo bem agora... Está a salvo!" - dizia O'Connell ao acariciar os longos cabelos castanhos de sua filha.
"Papai..." - chorava Sakura nos braços de O'Connell.
"Estás em casa agora, minha filha..."
Sakura levantou a cabeça e fitou o homem que a abraçava.
"Em casa?" - perguntou confusa.
"Ora, Christine... Não reconheces mais teu quarto?" - perguntou O'Connell sorrindo.
"Chris... Você já acordou!" - dizia um pequeno menino pulando nos braços de Sakura.
"Quem... quem é você?" - dizia Sakura se afastando do menino, dando passos para trás.
"David. Sou David, Chris... Seu irmão!" - respondeu o menino estranhando a atitude da jovem.
"Não..." - dizia Sakura balançando a cabeça em sinal de negação.
Sakura dava passos para trás, levava suas duas mãos a cabeça. Cerrava seus olhos e lágrimas rolavam em seu rosto. O que estava acontecendo? Diversos pensamentos surgiam na mente da jovem, que tentava a todo custo entender o que estava se passando. Por que todos a chamavam de Christine? Quem era aquele menino? Que lugar era aquele?
A confusão que havia se instalado nos pensamentos de Sakura foram demais para ela. Sentiu seu corpo enfraquecer, o chão girar, e quando abriu os olhos, encontrou um olhar conhecido. Mas fora somente o tempo de murmurar um nome para seu corpo desfalecer.
"Touya..." - murmurava Sakura antes de desmaiar.
"Oh, meu Deus! Lady Christine!" - gritava Amanda levando as mãos a boca, assustada.
"Que pesadelo!" - dizia Sakura levando a mão a testa e respirando fundo.
Ainda mantendo seus olhos fechados, Sakura foi surpreendida por uma voz familiar.
"Tu me preocupaste muito, minha querida..."
Sakura rapidamente levantou-se da cama, sentando sobre o colchão. Para surpresa de seus olhos aquilo não havia sido um pesadelo. Ela continuava no mesmo quarto, deitada na mesma cama, coberta pelo mosqueteiro branco. Estava diante de seu pai. Fujitaka Kinomoto. Mas por algum motivo ao qual ela ainda não tinha entendido, davam a ele um outro nome, O'Connell... Não só a ele, mas a ela também. Todos a chamavam de Christine.
Respirando fundo novamente, ficando sobre seus joelhos, Sakura apoiou as mãos sobre suas pernas, decidida a encarar aquela situação sem cometer qualquer escândalo. Sabia que naquele momento isso só interferiria de forma negativa quanto as descobertas que precisava realizar.
"Já estou melhor, eu acho..." - respondeu Sakura enquanto fitava seu "pai".
"Tu desmaiaste... Recordas-te?" - perguntava O'Connell aproximando-se da cama, e abrindo o mosqueteiro para que pudesse observar claramente o rosto de sua amada filha.
"Recordo. Mas não me recordo do que exatamente aconteceu antes..." - dizia Sakura com o intuito de descobrir algo que pudesse lhe ajudar.
"Teu noivo encontrou-te caída próxima ao Lago Queens. Estava desacordada. Mas por sorte divina foste resgatada por alguém digno e merecedor de teu afeto." - respondeu O'Connell com um doce sorriso.
"É o mesmo sorriso de meu pai..." - pensava Sakura sem se ater as palavras que acabara de ouvir.
"Anda! Vista-se! Teu noivo ainda espera-te angustiado na sala."
"Meu noivo..." - murmurava Sakura agora entendendo o que seu "pai" havia lhe dito.
"O mínimo que deves fazer é ir até ele e agradecê-lo pelo gesto tão nobre."
Sakura ainda não acreditava em seus ouvidos. Enquanto O'Connell se retirava do quarto, a jovem pôde então filtrar o que acabara de ouvir. Seu suposto pai havia lhe dito que ela tinha um noivo. Disse ainda que ele a encontrara próxima a um lago. "Lago Queens?" - pensava Sakura tentando refletir no nome do Lago.
"Não conheço nenhum Lago Queens..." - dizia para si mesma.
"Senhorita!" - dizia Amanda ao entrar no quarto.
"To... Amanda!" - dizia Sakura recordando-se que o nome de sua amiga Tomoyo era dado como Amanda.
"Fico imensamente feliz em saber que tu recordas de mim..." - disse Amanda sorrindo - "Vamos, deixe-me ajudá-la a se vestir! Teu noivo a espera, e está muito ansioso!"
Enquanto Amanda abria a cômoda na busca de um belo vestido para Sakura, a jovem levantou-se da cama, caminhando até a sua suposta aia.
"Amanda, me diga... Como é meu noivo?" - perguntava Sakura.
"Oras, senhorita! Não recorda-te da beleza que és teu noivo?" - dizia Amanda estranhando a pergunta.
Sakura preferiu calar-se. Temia que alguma de suas palavras viesse por prejudicar ainda mais sua situação. Deu um singelo sorriso a Amanda, e começou a vestir o vestido que a criada escolhera.
"Senhorita!" - chamava Amanda a atenção da jovem - "Estais louca!"
Sakura não entendeu o comentário de Amanda e continuou despindo-se na frente da criada, que voltou a chamar sua atenção.
"O que estais fazendo!" - dizia Amanda fazendo a jovem recolocar a fina veste branca que estava por baixo da camisola que vestia -"Esqueceste teu pudor, Lady?"
Sakura não entendia bem o que estava acontecendo. Amanda estava nervosa, como se sua atitude fosse errada. O que havia demais em se despir para então vestir-se de novo? Amanda continuava ajudando-a a se vestir. Um belo vestido rosa, que contrastava maravilhosamente com seus olhos esmeraldas.
"Amanda..." - chamava Sakura a atenção da jovem de olhos violetas.
"O que foi, Lady?" - perguntava Amanda sem lhe dar muita atenção, tamanha sua concentração em apertar o espartilho do vestido de Sakura.
"Quer me sufocar?" - ria Sakura.
"Andaste engordando nos últimos dias, lady.. Teu noivo não apreciará uma esposa gorda. Sabes bem da beleza que tens, e sabe bens que é justamente ela que cativaste o Capitão..." - ria Amanda do comentário.
"Capitão?" - murmurava Sakura para si, mas alto o suficiente para Amanda escutar.
"Ora, Lady Christine! O que há com a senhorita? Estas muito estranha!" - dizia Amanda, terminando de vestir Sakura e parando em frente a jovem. Seus incríveis olhos violetas a fitavam.
"Tomoyo... Eu não entendo..." - começava Sakura a falar com um ar de desamparo. Respirou fundo, e baixou sua cabeça fitando o chão, como se tentasse buscar consolo em alguma parte dele.
Ao ouvir o nome ser pronunciado, Amanda ergueu suas sobrancelhas, estranhando o nome pelo qual Christine, a Lady que tanto estimava, havia lhe chamado. O que estaria acontecendo com ela? Tinha um olhar distante, e o sorriso que sempre buscava-lhe a face não estava mais presente. Algo tinha acontecido com aquela senhorita, e Amanda sabia disso.
Direcionando-se a porta, Amanda verificou se a mesma estava trancada. Em seguida pegou Christine pelas mãos e a sentou na cama, colocando-se ao seu lado. Passou a mão carinhosamente pelo rosto da jovem e sorriu.
"Chris... O que aconteceu contigo, amiga?"
Sakura tomada por um impulso forte e incontrolado de emoção começou a chorar, caindo sobre o colo da amiga. Ver aquele olhar meigo, sincero era demais para ela. O mesmo olhar que sua doce amiga Tomoyo sempre lhe dava. Queria tanto que Tomoyo estivesse ali, que ela pudesse ao menos ajudá-la a entender o que estava acontecendo. Tudo estava tão confuso dentro de sua cabeça...
"Não chores, querida... Por favor!" - dizia Amanda acariciando os longos cabelos de Sakura - "O que lhe aflige, meu bem? O que aconteceu? Não queres me contar?"
Sakura continuava a chorar, segurando firme o avental que caía sobre o colo de Amanda. Tantas perguntas e suposições de possíveis respostas tomavam conta de seu interior, causando-lhe medo. Sakura sabia que algo tinha dado errado. Aquilo não era um pesadelo, mas sim uma conseqüência de seu último ato.
"Eu... eu não sei onde estou..." - murmurava Sakura entre lágrimas.
"Shhh..." - Amanda tentava confortar a amiga, tomando as pequenas mãos da jovem dentro das suas - "Tudo vai ficar bem... Você está em casa, a salvo! Tudo voltará a ser como antes!"
"Queria tanto que isso fosse verdade...." - almejava Sakura.
"Querida..." - dizia Amanda erguendo a jovem e fitando-a profundamente - "O que está afligindo este teu coração?"
"Você não iria acreditar..." - disse Sakura respirando fundo.
"Tente me contar... quem sabe eu não possa te ajudar?"
O sorriso de Amanda era amável, e a carisma que seu olhar transmitia envolvia Sakura, fazendo-a ter certeza que aquela jovem era Tomoyo. Algo estava diferente sim, e isto era a única certeza que Sakura tinha, mas outras coisas continuavam iguais, como a proteção de seu pai e a amizade de Tomoyo.
"Chris..." - dizia um pequeno menino ao abrir a porta e entrar no quarto.
Amanda levantou-se rápido da cama, afastando-se dela. David com certeza estranharia encontrar uma aia sentada na cama de sua lady. Mas para sua sorte, o pequeno estava tão assustado com a última atitude da irmã, que nem sequer deu atenção a cena que havia acabado de ver.
"Chris... Papai esta chamando..."
Sakura levantou-se da cama e fitou o pequeno menino. Pele branca como a dela, cabelos castanhos levemente bagunçados, olhos intensamente verdes... Sakura viu seus próprios olhos refletindo no mar esmeralda do olhar de David, eles tinham o mesmo olhar. Aproximando-se do menino, Sakura o assustou. David deu dois passos para trás, encarando-a com os olhos arregalados, cheios de desconfiança.
David queria encontrar nos olhos de Christine o mesmo brilho que sempre transmitiam. Eles estavam diferentes, ela estava diferente. O que teriam feito a sua doce irmã? O pequenino tinha um olhar tenso, interrogativo e ao mesmo tempo assustado. David tinha medo dela rejeitá-lo novamente e lhe trazer tanta dor ao seu pequeno coração. Ele a amava tanto... Ela era sua irmã, sua amiga, sua mãe.
"David..." - chamava Sakura ao ajoelhar-se na frente dele e estender sua mão na intenção de chamá-lo.
Sakura percebeu a aflição do pequeno garoto. Sabia que não tinha sido muito atenciosa com ele anteriormente, e por isso ele estava tão desconfiado. Um olhar que a fazia se lembrar de uma pessoa muito querida... Sakura suspirou e fitou o menino. Ela sabia que ele não tinha culpa alguma, era apenas uma criança que esperava ser abraçada pela irmã. E ela não havia feito isso. Pelo contrário, havia lhe dito que ele não era seu irmão.
"Desculpe-me Vid..." - disse Sakura.
David sorriu e correu para os braços de sua "irmã". Acariciou os sedosos cabelos da jovem e lhe beijou o rosto.
"Está tudo bem, Chris. Agora eu sei que é você!" - respondeu o menino enquanto puxava a irmã pelas mãos e a levava para fora do quarto.
Sakura não entendeu a súbita mudança em seu irmão. A pouco o menino estava com medo e desconfiança em seu olhar, e agora... Mas antes que pensasse em qualquer hipótese plausível para o fato, Amanda seguiu a jovem e lhe sussurrou no ouvido:
"Apenas você o chama de Vid, Lady..."
"Eu o chamei de Vid... Mas por que o chamei assim?" - pensava Sakura.
Sakura estava tão imersa em seus pensamentos que nem ao menos reparou que David a levava para a sala. Amanda rapidamente pegou um lenço de um dos bolsos de seu avental e passou no rosto de Sakura, na intenção de enxugar-lhe as lágrimas. Só então Sakura saiu da imersão de seus pensamentos e fitou seu pai, que estava parado na sala, de pé, ao lado de um outro homem que permanecia de costas.
"Chris... Vejo que estás melhor, querida!" - disse O'Connell ao se aproximar da filha e traze-la por uma das mãos ao centro da sala.
Sakura fitava o "pai". Ele era seu pai. Era impossível não ser. Teria ela voltado a uma outra época? Em que ano ela estaria? E por que a Carta Retorno a havia deixado lá? Onde estavam suas Cartas? E sua chave mágica? A jovem rapidamente levou a mão livre ao peito tentando senti-la, mas ela não estava lá. Aonde estaria? Mas antes que qualquer resposta pudesse surgir a sua mente, Sakura foi surpreendida por um olhar.
"É muito bom ver que estais bem, minha querida..." - disse o homem que estava ao lado de O'Connell ao se virar e deparar-se com o olhar esmeralda da jovem à sua frente.
"To...Tou.." - tentava Sakura tirar palavras de sua boca, enquanto soltava da mão de seu pai, colocando-a sobre sua outra mão que permanecia em seu peito. A respiração de Sakura começou a ficar forte, e seu coração acelerado. Não podia ser verdade o que ela estava vendo...
"Meu amor... está tudo bem agora..." - disse o Capitão Andersen ao pegar uma das mãos de Sakura e traze-la para perto dele, beijando-a delicadamente.
"Vo... vo-cê... Você é..." - tentava Sakura dizer, mas as emoções que estavam sentindo não permitiam que ela raciocinasse plenamente.
"Steve, querida! Seu noivo!" - respondia Andersen.
"Não... Não pode ser..." - dizia Sakura perdendo o chão sobre seus pés - "Touya... Mas você é meu ir..."
"Christine!!!"
Foi a última coisa que o Capitão Steve Andersen pôde dizer antes de amparar a queda de sua noiva.
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Saia*: A saia a qual me refiro é a saia que as camas tinham antigamente. As camas tinham uma cobertura, de onde às vezes vinha um mosqueteiro, ou somente um babado caído, dando um charme extra a cama. Na base dela, onde fica o colchão, caí um outro babado, contornando toda a cama até o chão, ao qual se denomina saia. Atualmente algumas camas ainda tem esta saia, que envolve o colchão inferior das camas que possuem dois colchões, um sobre o outro, no estilo de cama/colchão americano.
Mosqueteiro*: O mosqueteiro da cama é aquele véu que geralmente cobre os berços dos bebês, que é utilizado para evitar que mosquitos piquem aquele que dorme. Antigamente era muito comum existirem mosqueteiros nas camas.
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Olá para todos! Tá, tá... Sorry, I'm very sorry!!!
Desculpem o atraso nos meus fics… Este capítulo estava quase pronto, mas eu esqueci de salvá-lo e levá-lo pra casa no fim de semana para terminá-lo (ele estava salvo no computador da firma).
Eu realmente sinto muito! Todos que acompanham o que escrevo devem estar muito bravos comigo... Já recebi e-mails, reviews e até comentários no meu blog que estou atrasada!!! Eu sei!!! Me desculpem, por favor.... *Naki com carinha choro*
Pra quem acompanha meu outro fic, Stairway to Heaven! Prometo postá-lo neste fim de semana, certo? Por favor, tenham paciência! Minhas provas estão começando, mas fiquem calmos! Não irei abandoná-los! ^^
Bom, desculpas já feitas, e já aceitas (espero ^^), vamos ao capítulo de hoje!!!
Vocês devem estar me perguntando o que está acontecendo, não?
A nossa querida Sakura realizou a Passagem, lembram-se? Então...
Mas por que todos a chamam de Christine? Aonde ela está? Touya é seu noivo??? Mas ele não é Touya, é Steve Andersen!!! Meu Deus... o que está acontecendo com a Sakurinha?
Por hora não posso dar maiores explicações! Vocês terão que aguardar mais informações no próximo capítulo!!! (huahauahuahua, como eu sou má... hehe)
A pedidos coloquei uma lembrança da Sakura com o Shaoran. Todos estavam dizendo que eu fui muito má quando o matei, que não tinha coração... E que não tinham mais cenas românticas do casal mais lindo e amado dos animes e tal... Resolvi colocar uma lembrança muito especial pra nossa heroína, e que ainda terá continuações a respeito desta cena em breve. Quanto a não terem mais cenas românticas entre eles..., Imagine se não!!! Eu simplesmente acho este casal o mais perfeito, o mais apaixonante que existe! Acham mesmo que não escreveria mais cenas românticas entre eles? Aguardem e verão!!!
Não esqueçam de mandarem reviews, hiem?
Até o próximo capítulo!!!
NakiObs: Os personagens de Card Captor Sakura apresentados neste capítulo não me pertencem. Eles são de propriedade do grupo Clamp ©.
Os demais personagens são de minha autoria, propriedade de Naki ®. Caso queiram utilizar algum destes personagens, por favor, peçam a minha autorização. Obrigada!
