Capítulo 31
Tormenta
O sol já se punha no horizonte quando finalmente todos os agentes convocados às pressas foram liberados para o descanso.Aqueles que ainda eram alunos de Hogwarts começaram a se dirigir para as suas salas comunais e Dallas não fez diferente.A jovem estava descendo as escadas moventes,estalando um osso ou outro que estava dolorido,sendo deixada levar pelos seus pés pelos caminhos que agora lhe eram tão familiares,quando esbarrou em algo e quase foi de encontro ao chão.Sua queda apenas foi evitada por causa de um braço que cruzou a sua cintura e a prendeu contra um corpo quente.A morena saiu de seu devaneio para ver em quem havia esbarrado quando se deparou com vivos olhos verdes e sorriu.
-Harry…-Sussurrou,o sorriso aumentando mais ainda,porém o rapaz não sorria de volta,mas sim tinha uma expressão assustada e preocupada o mesmo tempo.Sem aviso Harry a puxou para mais junto de si,esmagando seus corpos juntos em um forte abraço e enterrando o rosto no ombro dela,começando a murmurar coisas desconexas.
-Não me deixe…-Sussurrou,o som de sua voz sendo abafado pela roupa dela.-…Não me deixe…-Continuou repetindo como se fosse um mantra,a abraçando mais forte ainda e Dallas estranhou isso.
-Como?Do que você está falando?Harry?-A garota ergueu uma mão e começou a acariciar os cabelos revoltos,sentindo que o corpo do moreno começava a apresentar pequenos espasmos contra o seu corpo.Ele estava chorando?Mas por quê?-Meu amor…-Murmurou e o rapaz levantou a cabeça,mirando os olhos brilhantes nos dela.Novamente sem aviso o ex-grifinório capturou os lábios da jovem em um beijo voraz,como se sua vida dependesse disso.Dallas não protestou,mas ainda achava muito estranha aquela atitude dele.Alguma coisa tinha acontecido e ela não conseguia imaginar o que era.
Não soube como foram parar lá.Como chegaram lá.Mas quando percebeu a jovem viu-se dentro do dormitório de sua casa,mas especificamente dentro do quarto que lhe era reservado na ala dos monitores,com Harry ainda a beijando como se esse fosse o último dia deles na terra,a despindo e a acariciando com sofreguidão.Mesmo que algo estivesse errado,ainda sim era bom.Só fizera amor uma vez com o rapaz,e isso foi quando eles finalmente se acertaram,e quando pensou em repetir a experiência não imaginou que seria melhor do que a primeira.
-Não me deixe…-Ele continuava a murmurar e ela sem entender,enquanto beijava cada pedaço de carne despida,enquanto acariciava cada milímetro do corpo dela com devoção.-…Não me deixe…-Ofegou o rapaz,deslizando sobre o corpo da jovem,a cobrindo com o seu,e mirando seus olhos verdes escurecidos pela luxúria e desespero,capturando novamente seus lábios com os deles.
-Harry…do que você está falando…Eu nunca vou te deixar…-Foi a última coisa coerente que conseguiu dizer naquela noite,antes de entregar-se de corpo e alma ao rapaz.
Acordou no meio da noite ofegante e assustado,olhando ao seu redor e tentando reconhecer onde estava.Pelo que se lembrava,seu quarto não tinha uma decoração tão verde e prata assim.Na verdade a decoração dele era bem neutra.Onde,afinal,ele estava?Sentiu o vento frio entrar pela janela e bater em seu corpo nu.Estava nu?Não lembrava de ter voltado para casa e muito menos ter se despido para dormir.Um calor perto de seu corpo lhe chamou a atenção e um movimento o fez abaixar a cabeça e ver o que ocorria.Alguém dormia em seus braços,com os cabelos castanhos,lisos e cheios caindo por cima de seu corpo e um braço delicado abraçava a sua cintura,enquanto pernas estavam entrelaçadas por debaixo do lençol que escorregava de seus corpos.
-Dallas…-Sussurrou,deixando a sua cabeça cair de volta no travesseiro e puxando o corpo dela para próximo de si,o abraçando mais forte.
-Vai me dizer,agora,o que aconteceu?-Uma voz suave alcançou os seus ouvidos e ele abaixou o olhar.Dallas estava com a cabeça deitada sobre o seu tórax e os olhos ainda estavam fechados.O corpo dela subia e descia com a respiração leve ritmando com sua.
-Do que você está falando?-Ele afundou ainda mais a cabeça no travesseiro e fechou os olhos,soltando um suspiro.
-Você apareceu em Hogwarts,murmurando coisas sem nexo e me arrastou para o quarto…não que eu esteja me queixando…-Ele pôde sentir o sorriso dela contra a sua pele.-…mas você parecia estar fora de si.-Dallas sentiu Harry ficar tenso.
-Eu te machuquei?-Perguntou em um tom preocupado.
-Não…-Dallas o abraçou mais forte.-…foi maravilhoso.Mas parecia que você não tinha consciência do que fazia.Como se somente o seu corpo estivesse aqui.O que houve?Algo errado?Alguma coisa te incomoda?-Se alguma coisa o incomodava?Desde que acordara na noite passada por causa daquele sonho,e desde que ficou parte da manhã em Hogsmeade,andando e refletindo,realmente alguma coisa o incomodava.
-Não há nada de errado…-Disse e Dallas ergueu-se,deslizando sobre ele e o mirando profundamente nos olhos,seus narizes se tocando e suas respirações sendo sentidas um pelo outro.
-Repete.-Falou,aproximando-se ainda mais,seus lábios quase se tocando.-Repete,olhando dentro dos meus olhos,que tudo está bem.-Novamente ela sentiu o corpo de Harry ficar tenso debaixo do seu.
-Está tudo bem.Apenas o usual.A guerra,Voldemort...essas coisas.
-Mentira.-Sussurrou e o moreno suspirou,fechando os olhos.Se continuasse a mirá-la tão de perto não conseguiria mentir mais.
-Verdade.-Contradisse e depois de um tempo abriu novamente os olhos,apenas para ver que os orbes azul-violeta ainda estavam lá,tentando ler a sua alma.Dallas franziu o cenho,não acreditando nessa resposta mas deixando-a passar,por enquanto.Abriu um sorriso e fechou a distância entre os dois o beijando suavemente.Harry a enlaçou pela cintura e aprofundou o beijo.Na segunda vez que fizeram amor naquela noite,dessa vez o moreno fez totalmente consciente de que estava levando a jovem em seus braços ao paraíso.E torcendo para que o tempo parasse para sempre naquela cena e ele não tivesse que se preocupar com mais nada.Porém ele sabia que nem todos os seus desejos poderiam ser realizados.*
* * * * *
Os olhos cansados vagaram pelo escritório que há anos pertencia a si.Tantas coisas aconteceram dentro daquela sala.Alunos vieram,alunos foram.Professores foram admitidos,professores foram afastados.Aquelas mesmas paredes viram pessoas se reunindo e debatendo sobre uma guerra iminente,e essas mesmas paredes e quadros eram testemunhas pela segunda vez do mesmo fato.
Dumbledore balançou a cabeça levemente enquanto um barulho soava dentro do escritório.Com uma voz suave deu permissão a pessoa do outro lado da porta para entrar.Minerva adentrou o aposento e caminhou até o diretor,sentando-se em frente a ele e o mirando por longos e silenciosos minutos.Muitos não poderiam ver,mas ela via,depois de anos trabalhando lado a lado,ela via que a idade já estava afetando aquele homem e o cansaço de ter que sempre tomar as rédeas da situação o estava afetando.Soltou um longo e baixo suspiro e Dumbledore sorriu.Sabia o que ela pensava,mas a deixaria com os seus pensamentos e suas conclusões.Afinal,alguém tinha que se mostrar forte e calmo diante desse conflito.
-A que devo a presença professora?-Começou em um tom sereno e Minerva lhe lançou um olhar grave.
-Dumbledore,está pior a cada dia.Quanto tempo você acha que resistiremos?Quanto tempo irá levar?Não seria melhor contar a ele?-O homem soltou um baixo suspiro e balançou a cabeça em uma negativa.
-Não.Não podemos forçá-lo a nada.Mesmo que as pessoas não demonstrem,sabemos que elas depositam toda a sua confiança nele,as suas esperanças.Ele já está sob pressão,se colocarmos mais nos ombros dele,ele poderá não agüentar.
-O jovem sr.Potter não é tolo,Dumbledore.Ele sabe que,por mais que tente evitar,ele é e peça chave nessa guerra.Ele e os poderes dele.Não é sempre que temos um mago nascendo em nosso tempo.O último que foi registrado dentro da comunidade mágica foi o próprio Merlin.
-E quanto ao Lord Voldemort,Minerva,ele também é um mago.-Minerva contorceu as expressões em desagrado.Magos e bruxos não eram o mesmo tipo de pessoas mágicas,tendo em vista que os poderes de um mago eram muito maiores que de um bruxo comum.Assim também como magos recebem tal dádiva poderosa apenas para usar para o bem,o que não foi o caso de Voldemort.
-Não considero mago aquele que deturpou os poderes que tem.Magos não deveriam fazer o mal e o senhor sabe disso.A função deles é manter a paz e não destruí-la.
-Mago ou não,é a pessoa que escolhe o caminho que vai seguir e não os poderes que ela tem.Infelizmente Voldemort resolveu ir pelo caminho mais doloroso,sendo guiado pelo sentimento mais difícil.
-Não vim aqui falar de Voldemort,professor,apesar de ele ser a causa de eu estar aqui.Mas sim do sr.Potter.
-Pois bem,fale.
-Não iremos agüentar por muito tempo.Mesmo que dessa vez estejamos mais preparados do que da primeira vez,Voldemort também está.Harry será o único capaz de combatê-lo com os seus poderes.Mas como isso pode acontecer se esses poderes não despertaram?Quando eles irão despertar?Por quanto tempo teremos que agüentar isso?
-Minerva,deve saber que essas coisas não devem ser forçadas.Voldemort foi corrompido porque ele forçou o poder a despertar e o queria pelo motivo errado.Ódio.Os poderes de Voldemort surgiram sustentados no ódio.Se forçarmos o mesmo com Harry,ele pode tomar um caminho semelhante ou igual ao Lord das Trevas.É isso que você quer?
-Não!Claro que não.Mas se vamos deixar seguir pelo caminho natural,por quanto tempo teremos que esperar?Por quanto tempo teremos que resistir?
-O tempo que for necessário.O tempo que for necessário.
* * * * *
Abriu a porta do terraço que bateu na parede e lá ficou,e passou por ela,escorregando pela parede ao lado dela e sentando-se no chão.As pernas flexionadas apoiavam os braços esticados,onde em uma das mãos ele segurava um copo de café que esfriava diante do vento frio no alto daquele prédio.Os olhos castanhos miravam o céu azul que agora ganhava tons alaranjados por causa do por do sol,e um suspiro cansado cruzou os seus lábios,enquanto ele recostava a cabeça na parede e fechava os olhos.
Novamente o St.Mungos estava cheio.Mulheres,crianças,velhos e jovens.Muito feridos,pouco feridos,traumatizados ou apenas mortos.Tudo por causa da guerra.Chegava a ser um pouco irônico isso.Ao mesmo tempo em que essas batalhas lhe davam fatiga lhe davam conhecimento.Afinal,não era apenas aurores que morriam nos campos de batalhas.Médicos que se ofereciam para as equipes de resgate também morriam,e com isso aqueles que haviam se arriscado a seguir a profissão médica nesse tempo obscuro,eram convocados as pressas e rapidamente nomeados médicos residentes.Não que ele estivesse reclamando.O que ele aprenderia de quatro a seis anos de Academia Medi – Bruxo,em tempos de paz,ele estava aprendendo na metade do tempo com essa guerra.
-Dia difícil hoje,não?-Uma voz baixa soou perto dele,mas ele não abriu os olhos para ver quem era a sua nova companhia,a reconhecia pela voz.Apesar de não saber o nome,sabia que ela era uma dos vários médicos residentes do hospital.Apenas não se lembrava se estava um ano abaixo ou acima dele.
-Muito.-Concordou com um sussurro,abrindo finalmente os olhos e mirando a jovem de pé ao seu lado.Era de estatura mediana,tinha cabelos negros e cacheados,que estavam presos em um rabo de cavalo,e os olhos pareciam ser de uma cor interessante de âmbar.Era uma visão bonita.Sorriu com o canto da boca.O mundo caindo lá fora e ele aqui começando a flertar com a sua companheira de trabalho.
-Sou Andrômeda Walters.-Disse e olhou de esguelha para ele,vendo-o sorrir um pouco.-E nada de piadinhas com o meu nome.
-Mas eu não disse nada.-Começou Davon.
-Mas iria dizer.Se quiser pode me chamar de Andie.É como todos me chamam mesmo.-E estendeu uma mão para ele.
-Davon Yale.-O rapaz retribuiu o cumprimento.
-Há quanto tempo você começou a residência aqui?-Perguntou,remexendo em algo dentro de seu bolso e puxando um pequeno pacote,retirando de lá um chiclete e oferecendo ao jovem.
-Não…o que é isso?
-Chiclete.Para me ajudar a parar de fumar.Nossa,depois que eu comecei a fazer medicina eu percebi que nicotina não ia me dar um futuro feliz.-Disse com um meio sorriso.
-Um doce trouxa,eu vejo.
-Sim.Algum problema em relação a isso?-Retrucou,estreitando os olhos em direção a ele.
-Não.
-Yale…já ouvi falar na sua família.Uma das poucas que resolveu permanecer neutra nessa guerra.Por que você resolveu tornar-se ativo diante dessa confusão?
-Eu não sei.-Davon tomou um gole de seu café e fez uma careta,ele estava frio,enquanto observava os primeiros pontos brilhantes surgirem no céu semi escurecido da noite.-Um belo dia eu entrei na sala de aula e o professor Lupin disse que precisava conversar comigo,dizendo que tinha uma proposta a me fazer.E quando eu percebi,já estava dentro da Resistência.-Andie virou-se para ele,piscando intensamente diante de tal confissão.
-É um agente da Resistência?
-Pois é.
-E eu que pensei que apenas ser médica era um trabalho duro.Soube que os agentes são muito mais perseguidos pelo lado das trevas do que os simples aurores.
-Realmente é um trabalho duro.-Retrucou,levantando-se e jogando o café frio em um latão que estava perto do parapeito do terraço.-Trabalho duro para todo mundo.
-E como a sua família reagiu ao saber que você iria se tornar ativo nessa guerra?-Andie perguntou,mascando o chiclete intensamente.
-Minha mãe teve um ataque.Meu pai gritou até perder a voz,comigo.Meus irmãos apenas ignoraram a minha decisão,dizendo que eu era um idiota.Puf!Irmãos mais velhos não são nada compreensivos.-O rapaz recostou-se na parede e enfiou as mãos dentro dos bolsos das vestes azuladas do hospital.
-Eles apenas estão preocupados com o seu bem estar.
-Se estivessem preocupados mesmo estariam fazendo alguma coisa para ajudar nessa guerra,e não aproveitando,nesse momento,o sol escaldante das ilhas do Mediterrâneo.Estou vendo a preocupação deles.-Disse com sarcasmo e deu de ombros.Não se importava mais com o que a sua família pensava.Apenas os achava uns covardes,agora,porque antigamente seu pensamento de todo orgulhoso sangue – puro não era bem assim,e talvez fosse por isso que aceitou a convocação da Resistência.Veja Dallas por exemplo.Nascida trouxa,nunca ouviu falar de Voldemort até que chegou em Hogwarts.Não teria obrigação nenhuma em entrar nessa guerra,porém não pensou duas vezes em arriscar o seu pescoço.Aquela menina era kamikaze.Ele era kamikaze.Talvez por isso fossem amigos.
"Dra.Walters!Dr.Yale!Compareçam a Emergência imediatamente." O chamado soou através da porta aberta do terraço e os dois jovens médicos se entreolharam.
-O dever nos chama.-Andie falou,entrando novamente no prédio e retornando ao trabalho.
* * * * *
A chuva caía forte,castigando as folhas das árvores daquela densa floresta e enlameando o chão coberto de raízes.A mulher andava passo a passo com o mesmo mantra percorrendo a sua mente,sempre lhe repetindo que ela conseguiria,que não desistiria e que chegaria lá.Mesmo que esse lá não chegasse ou talvez não existisse.Sua visão turva pelos ferimentos e pelo cansaço já declarava desistência,mesmo que as suas pernas tentassem se manter firmes.E foi dentre essa mesma visão embaçada que ela conseguiu divisar,entre água e troncos,a silhueta de uma cabana no meio da mata,dentro de uma pequena clareira.Finalmente o lá havia chegado.Mesmo que ela não soubesse a quem pertencia esse lá.Esse abrigo.Será que estava vazio?Será que era morada do inimigo?Se fosse,será que ela ainda teria forças para fugir mais?Teria que arriscar no tudo ou nada,pois sabia que o seu mantra e a sua resistência estavam começando a falhar.
O vento rugiu cabana afora,atiçando a audição já sensível daquele homem.Com movimentos leves ele recolheu a sua varinha e pôs-se a se concentrar.Mesmo a chuva e o bater dos galhos das árvores não o impedia de perceber a aproximação de alguém.Os anos que levou dentro desse jogo de gato e rato o deixaram totalmente perceptivo ao que acontecia a sua volta.E era essa mesma percepção que notava que alguém estava se aproximando.
Lúcio levantou-se do sofá gasto e remendado e caminhou lentamente em direção a porta,não provocando nenhum ruído no assoalho velho.Parou em frente à mesma e esperou com a varinha em punho.Minutos de silêncio se passaram,com apenas a tempestade reverberando janela afora e marcando a sua presença naquele local,quando um suave bater na porta fez-se ouvir.Apertando mais forte o cabo de sua varinha,o homem levou a mão à maçaneta da porta,pronto para atacar quem estava do outro lado dela,e com um puxão brusco escancarou a mesma.Mas o que encontrou não foram levas de Comensais,ou Aurores,mas sim uma mulher que mal teve tempo de olhar em seu rosto,antes de cair desacordada nos braços do homem que,em um ato reflexo,correu para ampará-la.
-Mas que merda!-Praguejou ao nada.
*Bem,eu fiz uma NC-17 para essa cena,mas que não saiu lá essas coisas sabe.Quem estiver disposto a ver clique aqui.Se estiver lendo EE pelo fanfiction.net,vá no meu site no profile e procure a área NC-17.Bjks
