Capítulo 32
A Agente e o Comensal
Tinha sangue por todos os lados.Sangue no chão,nas roupas e principalmente sangue nas suas mãos.Um sentimento de desespero oprimiu o seu peito e ele sacudiu o corpo aos seus pés,gritando e gritando,mesmo que não conseguisse ouvir a sua voz.Pois apesar da confusão a sua volta,apesar de tudo,ao seu redor estava um silencio mórbido e assustador.Mais assustador do que o sangue em suas mãos e a dor lancinante em seu peito.
Harry sentou-se de supetão na cama,chutando as cobertas para longe,com a respiração arfando e o corpo suado.Seu peito ainda doía com os vestígios do pesadelo e uma angústia terrível corroia a sua alma.Tentando se acalmar,o rapaz passou as mãos no rosto apenas para perceber que esse estava molhado,mas não pelo suor mas sim pelas suas lágrimas.Havia chorado.Fazia anos que não sabia o que era chorar.Porém o sonho era tão real que isso somente piorava a sua situação.Tenso,passou as mãos pelos cabelos revoltos,esperando que esse gesto afastasse as lembranças do pesadelo,mas novamente foi inútil.
-Por favor,que seja apenas um sonho ruim.Apenas um sonho ruim.-Repetia para si mesmo dentro da escuridão de seu quarto quando percebeu um brilho esverdeado na cômoda ao lado de sua cama.Lentamente ele estendeu a mão e pegou o comunicador em sua cômoda,antes que o mesmo começasse a zunir para mostrar que estava ativado.
-O que foi?-Perguntou mal humorado pelo pesadelo e pelo fato de ser importunado no meio da madrugada.
-Sabia que você ficaria feliz em me ver.-A face de Draco surgiu dentro da pequena chama do comunicador.
-O que diabos você quer as…-O moreno olhou para o mostrador luminoso do relógio na cabeceira de sua cama.-…3:15 da madrugada?
-Estamos com um problema.
-Para você estar me chamando há essa hora eu não esperava que fosse uma ligação informal.
-Alguém está bem mal humorado hoje,não está?Brigou com a namorada Potter?Tsc,tsc,tsc.
-Diz logo o que você quer Draco!-O rapaz esbravejou e o loiro perdeu o sorriso sardônico,ganhando uma expressão mais séria.
-Padma sumiu,acabei de ser informado sobre isso.-Sentenciou com uma face neutra,porém com um tom de preocupação na voz.Desde que Blaise morreu,Draco tinha tomado para si a responsabilidade de cuidar da viúva do amigo,pois essa sendo a mulher do falecido traidor e participante da Resistência,seria perseguida sem piedade pelos seguidores de Voldemort.E o loiro havia prometido a si mesmo que não permitiria isso.
-Minha nossa.-Harry soltou um suspiro cansado e jogou-se contra os travesseiros de sua cama,fechando os olhos por breves segundos.-Onde foi a última vez que a viram?
-Aí é que está inteligência rara.Se soubéssemos a última vez que ela tinha sido vista,já teríamos por onde começar a investigação.Contudo a única coisa que temos como pista é o apartamento dela de pernas para o ar.
-Mas ela está sumida de sumida ou foi seqüestrada?
-Sumida.Depois do ataque eu mexi meus pauzinhos e constatei que os Comensais não estão com nenhum capturado nas últimas horas.Tudo indica que ela conseguiu fugir ou ainda está fugindo.E pelos vestígios de batalha que estão na casa dela,garanto que ela não deve estar bem.
-Certo.Eu estou chegando…Onde é que você está?
-No apartamento dela,oras.Onde acha que eu estaria?Ainda está dormindo Potter?
-Certo eu chego aí em dez minutos.-Retrucou com a voz arrastada,prestes a desligar o comunicador quando Draco o interrompeu.
-Harry?-Perguntou com um tom amigável de voz.
-O quê?
-Você está bem?Sua cara não parece muito boa.E eu não me refiro ao fato de ter interrompido o seu sono.
-Eu…apenas um sonho ruim.-Não soube por que não conseguiu mentir ao loiro,mas apenas essa pequena confissão o fez se sentir um pouco melhor.Draco franziu o cenho do outro lado da linha.Pensava que os pesadelos que Harry tinha em relação a Voldemort haviam se extinguido com o feitiço de Hermione.
-Sonho ruim?-Perguntou em um tom que tentava esclarecer as suas suspeitas.Percebendo isso,Harry teve que mentir dessa vez.
-Sonho ruim,nada de mais.Te vejo em dez minutos.-Disse e desligou,antes que o loiro pudesse protestar.
* * * * *
Os barulhos dos trovões faziam a sua cabeça latejar,enquanto a cama velha e rangente fazia os seus ossos protestarem de dor.Um raio cruzou o firmamento,com a sua luz iluminando a área por entre as copas das árvores e atravessando as vidraças escurecidas e sujas daquela janela.Lentamente a jovem abriu os olhos turvos e tentou posicionar-se diante da situação.Porém a sua cabeça continuava rodando e uma náusea terrível a acometeu,fazendo-a segurar a vontade que tinha de vomitar.Depois de alguns segundos tentando se re-estabelecer finalmente a sua visão entrou em foco e ela pode ver onde estava.Era um quarto em estilo rústico e com poucos móveis.Na verdade tinha apenas uma cama e uma cômoda.O ambiente dava a entender que estava em uma velha cabana de caça.Apenas não sabia como tinha chegado lá.Tudo o que se lembrava era os Comensais quebrando o sistema de defesa de sua casa e ela tentando fugir desesperada no meio da batalha e acabando por aparatar e um lugar desconhecido no meio de seu desespero.
-Então acordou?-A voz rouca ecoou pelo pequeno quarto,despertando todos os sentidos da mulher que estava na cama e que rapidamente sentou-se,procurando instintivamente por sua varinha.-Se procura pela sua varinha…-Continuou a voz.-…pode esquecer.Não quero correr o risco de ser amaldiçoado.-Diz em um tom frio,fazendo a mulher virar-se na direção em que vinha a voz e vendo a silhueta de um homem parado a porta,de forma imponente e ameaçadora.Mais um raio cortou os céus e com isso a sua luz iluminou fortemente o quarto por alguns segundos,revelando a figura à porta desse.Era um homem alto,em vestes negras e trouxas.Tinha o cabelo longo e platinado preso na nuca e um rosto maduro com olhos cinzentos,feições sérias e a barba ainda por fazer.Ela conhecia aquela fisionomia,mesmo que não tenha ficado em contato por muito tempo com aquele homem.Em um pulo ela saiu da cama,ignorando os protestos de dor de seu corpo, e foi para a outra extremidade do quarto,impondo uma grande distância entre os dois.A pior coisa que poderia lhe acontecer é ter acabado justo na mesma casa que Lúcio Malfoy.
-O que você está fazendo aqui garota?-A voz fria de Lúcio ribombou pelas paredes,enquanto o mesmo entrava no quarto e ia em direção a algo que estava sob a cômoda,fazendo a jovem recuar mais e mais.Com movimentos leves ele acendeu a lamparina e a luz fraca inundou o aposento.
-Eu é que pergunto.-Indagou com a garganta arranhando pela secura.Deveria estar dormindo há dias.
-Você aparece na minha porta e ainda quer fazer as perguntas?
-Eu apareci em sua porta?-Perguntou descrente,até que se lembrou mais ainda de sua fuga.Havia ido parar no meio de uma floresta e corrido por entre a mata em desespero,com o corpo ferido e cansado.E quando estava no ápice de suas forças,havia encontrado essa cabana.Depois disso a única coisa que restava em sua mente era a escuridão.
-O que você é?-Lúcio perguntou,indo em direção a ela e estendendo o lampião de querosene para vê-la melhor.Os cabelos negros e longos estavam soltos da trança,enquanto os olhos castanhos o miravam em um misto de desconfiança,desafio e medo.A pele que antes fora morena agora estava pálida e com tons rosados devido aos resquícios da febre e o corpo esguio tentava a todo custo fugir dele,como se ele fosse um demônio.Abriu um sorriso malicioso diante disso.Essa garota não era um Comensal.E se fosse um Auror,estava totalmente mal indicada para o cargo.Parecia ser muito frágil.
-O que eu sou não importa.O que importa é o fato de eu estar em uma cabana com um Comensal da Morte.O que você vai fazer comigo?Vai me levar ao seu Lord?Vai me matar por traição?-Algo brilhou nos olhos de Lúcio mas rapidamente sumiu.
-Então você é uma Comensal traidora?Isso está começando a virar um hábito.Voldemort tem mais traidores do que aliados.
-Eu não sou uma Comensal!-Cuspiu o nome acidamente.-Eu sou uma Agente da Fênix.-E rapidamente arrependeu-se de sua boca grande.Lúcio apenas a ouviu falar sem manifestar-se.Sabia que ela não era uma Comensal,havia tomado todas as precauções diante disso.Afinal,ela não tinha a marca negra.Essa poderia ser copiada com um simples feitiço,mas não era facilmente disfarçada assim.Parecia que Voldemort queria que todos tomassem conhecimento de seu poder colocando em seus seguidores uma marca que não poderia ser escondida.
-Foi o que pensei.-Retrucou,voltando a cômoda e deixando o lampião lá.-Se é uma Agente deve estar sendo procurada pela Ordem,mas creio que será difícil eles imaginarem que você está aqui.
-Como?
-A única coisa que me resta então…-O homem continuou falando,ignorando a pequena interrupção dela.-…é te abrigar e quando você estiver recuperada e essa tempestade passar,você pode ir ao vilarejo mais próximo e de lá seguir sua vida.Esquecendo completamente que me viu.-Terminou com um olhar que indicava que era para ela manter a boca fechada ou então sofreria as conseqüências.
-Não vai me entregar ao Lord das Trevas?-Perguntou a mulher,descrente.
-Por que eu faria isso?
-Você é um Comensal.
-Você sabe quem eu sou?
-Lúcio Malfoy.
-Então sabe o que eu fiz.-Claro que ela sabia.Quem não sabia da famosa traição do Malfoy?De todos os seguidores de Voldemort,esse era o último que alguém pensou que daria as costas ao Lord das Trevas.
-Sim.
-Então pare de falar coisas sem nexo.-Sentenciou,prestes a sair do quarto quando lembrou-se de algo.-Aliás…-Virou-se um pouco,a olhando por cima do ombro.-…já que você sabe quem eu sou,seria justo eu saber quem você é.-Perguntou,sua voz nunca se alterando durante toda a discussão.
-Eu sou Padma.Padma Zabini.
* * * * *
Dallas caminhou pelos corredores,olhando vez ou outra por cima do ombro para ver os alunos que a seguiam.Era tão estranho ver aqueles garotos a seguindo.Tão pequenos e parecendo ao mesmo tempo assustados e confiantes.Será que um dia ela fora assim?Com certeza.Olhar para trás e pensar em tudo pelo que passou trazia um pequeno sorriso em seu rosto assim como um certo pesar.Perdeu muitas coisas,assim como ganhou outras nesses sete anos dentro de Hogwarts.Sete anos que passaram em um piscar de olhos.Era incrível como ontem mesmo ela estava sentada na copa de sua casa pensando na vida miserável que levaria quando fosse estudar em Montreale.E agora cá estava ela,formando-se em algo que ela jamais pensaria que existia de verdade.Formando-se em magia.
Parou em frente à entrada da sala comunal da Sonserina e disse a senha em alto e bom som para que os novos alunos pudessem ouvi-la.Entrou na sala comunal e virou-se para encará-los,enquanto esses olhavam admirados a sua volta para a grandeza e o luxo do local.Será que ela tinha feito a mesma cara quando entrou aqui pela primeira vez?Depois de tantos anos ela não via nada de especial nessa sala,embora soubesse que sentiria falta dela.
-Bem…-Chamou e os estudantes viraram-se para ela com um certo temor e desafio no olhar.Mesmo sendo filhos de famílias sangue – puro,mesmo sendo arrogantes apesar de serem tão jovens,ainda sim eles nutriam um certo respeito pela garota a sua frente.Afinal,era ela quem tinha o distintivo de monitor nas vestes.-…subindo as escadas,à direita,vocês vão encontrar o dormitório feminino e a esquerda o masculino.Seus pertences já estão lá.E seus horários serão entregues amanhã durante o café.Qualquer dúvida consulte um monitor ou o diretor da casa que é o professor Severo Snape.-As crianças olhavam atentamente para ela,absorvendo cada palavra.-Alguma pergunta?-Elas acenaram em negativa para a jovem.-Bem,então boa noite para vocês.Estão livres para vasculhar a sala comunal,mas como já está chegando à hora do toque de recolher,recomendo a não sair dela.Sonserinos não encaram muito bem as perdas de pontos por situações banais.-Alertou com um olhar ferino.Certo que ela não se entendia as mil maravilhas com alguns de seus companheiros de casa,mas isso não significava que ela não gostava da Sonserina e nutria um respeito por ela.E a própria não gostava de perder pontos tanto quanto os outros.Os alunos assentiram e debandaram-se.Dallas os observou partir com um certo sorriso,quando percebeu que estava sob o olhar atento de alguém.Virou-se e viu que um dos calouros havia ficado para trás.Ele era pequeno para a idade,tinha os cabelos castanhos escuros e rebeldes,pele clara e os olhos em um tom chocolate que transmitiam um certo reconhecimento e medo.Mesmo com essas características ela poderia ver uns certos traços orientais no menino.
-Algo errado senhor…-Perguntou,esperando ele completar a sua sentença.
-Li...Keith Li.-Dallas franziu as sobrancelhas.Keith?Parecia nome de mulher.Vendo a expressão do menino diante da reação dela,a jovem segurou um sorriso.Ele parecia ter detectado a graça que ela achou do nome dele.
-Sr.Li-Disse em um tom sério,engolindo a risada.-Quer me perguntar alguma coisa?-O rapaz deu um passo à frente e o seu olhar assustado tornou-se mais orgulhoso à medida que a encarava.
-Dallas Winford.-Sentenciou e a mencionada ergueu ambas as sobrancelhas agora.-Estou certo?
-Sim.Mas como você sabe o meu nome?Não me lembro de ter me apresentado antes.
-Seu nome é conhecido assim como de toda a sua família.Minha mãe lê muitas revistas de fofocas e você sempre está lá.-Dallas cruzou os braços sobre o peito e mirou o jovem menor do que ela.Agora ele carregava um ar arrogante como se tivesse feito uma grande descoberta sobre ela.-O mundo da alta sociedade sempre se perguntou para onde à herdeira dos Winford foi parar.Em que escola ela estudava.Parece que aqui está a resposta.
-Parece que você sabe muito sobre a minha família,não é?-Keith estufou o peito em orgulho diante de seu conhecimento apurado.-Isso significa que você é trouxa.-Rapidamente o ar importante dele mudou para algo confuso.
-Um o quê?
-Isso responde tudo.-A garota disse,descruzando os braços e colocando ambas as mãos nos quadris,soltando uma risada curta.-Ah,o povo daqui vai amar saber que não são mais tão hegemônicos assim.-Keith a olhou mais confuso ainda.Dallas suspirou e agachou-se um pouco,deixando seus olhos violetas no nível dos chocolates dele.-Escuta Keith,você deve ter ouvido dizer que a Sonserina não tem uma fama muito boa não é?-O menino assentiu com a cabeça.Durante a viajem a Hogwarts ele vagou pelo trem a procura de informações sobre a sua nova escola.No seu honrado e antigo clã chinês de guerreiros nunca nasceu um bruxo.Pelo menos há mais de três séculos não teve um nascimento mágico dentro de sua família.Ele era o primeiro depois de tanto tempo.Por isso muitos conhecimentos antigos de magia foram esquecidos,assim como a existência da própria.
-Ouvi dizer que geralmente os sonserinos são sangues – puros e não gostam muito de…como você me chamou mesmo?
-Trouxa.Quer um conselho?Não deixe ninguém saber que você é um nascido trouxa.Eles não aceitam muito bem essa informação aqui dentro.
-Mas que eu saiba,pelo que eu já vi,você é uma…trouxa.Os sonserinos sabem disso?-Dallas abriu um sorriso e afagou os cabelos macios do garoto.
-Sabem.Por isso que eu recebo tantos olhares feios de vez em quando.-Afirmou,indicando alguns alunos dentro do salão comunal que os observavam de longe.-Mas com o tempo eu aprendi a não ligar para eles.Mas apenas para garantir,melhor eles não saberem que você é um trouxa.
-Certo.
-Mas qualquer problema você pode me procurar,certo?Ainda sou a monitora e mando um pouco aqui.-A jovem sorriu marotamente para ele e o garoto assentiu com a cabeça.Não era muito dado a sorrisos.-Melhor você ir para a cama então,amanhã vai ser um dia cheio.-O menino concordou e seguiu o caminho que ela indicou mais cedo.Dallas o observou sumir pelas escadas e sorriu um pouco.Essa situação lhe dava uma certa sensação de dejá vu.Talvez fosse melhor manter um olho nesse garoto,assim como um dia um certo menino-que-sobreviveu resolveu olhar por ela.
* * * * *
Andou vagarosamente pelo pequeno cômodo e com muito esforço conseguiu alcançar o corredor.Com passos lentos cruzou o espaço estreito e curto,a tempestade ainda reverberando no céu cinzento e os trovões ressoando pelas árvores.Passo a passo,com o corpo ainda dolorido e suas pernas arriscando a ceder,ela conseguiu alcançar a pequena sala de estar daquela casa,percebendo o quão simplória ela era.Havia apenas umas cadeiras,um sofá velho e uma lareira de tamanho mediano iluminando e aquecendo o lugar.Tudo bem minimalista e rústico.Ouviu barulhos vindos de outro cômodo e os seguiu.Minutos depois se encontrava na cozinha minúscula da cabana,observando o homem que se movia de um lado para o outro dentro dela,batendo panelas e portas de armários.
Lúcio sentiu que estava sendo observado.Esse foi um sexto sentindo que desenvolveu em seus anos de fuga.Sem hesitar,ele virou-se bruscamente apontando a varinha para o seu observador,até que se viu mirado por assustados olhos castanhos.Soltando um resmungo o loiro guardou a varinha dentro das vestes e voltou a fazer o que fazia desde o começo.
Padma observou ele voltar aos seus afazeres como se esse pequeno interlúdio não tivesse acontecido e sentou-se à mesa,dando um descanso ao seu corpo dolorido.Longos minutos de silêncio se passaram até que a voz profunda ecoou pelo local.
-Não deveria aparecer assim do nada.É pedir para morrer.-Disse o loiro sem nenhuma emoção na voz,como se não desse a mínima se pudesse amaldiçoá-la por acidente ou não.
-Seria capaz de me matar?-Perguntou com a voz trêmula.Vindo de um ex-Comensal,o melhor torturador de trouxas de Voldemort,ela poderia esperar tudo.
-Talvez…-Lúcio respondeu vago,pressionando uma mão na outra e estalando alguns dedos.Novamente a cozinha caiu em silêncio,sendo apenas quebrado pelo bater de metal das panelas.Uma hora depois de quietude absoluta,com a morena olhando a tempestade cair janela afora,entretida com as mechas negras de seu cabelo,é que Padma voltou à realidade quando viu um prato fumegante ser colocado a sua frente,onde pedaços de legumes boiavam em um caldo espesso.A jovem fez uma careta discreta e ergueu os olhos para mirar Lúcio,que já comia a sua sopa sem se importar se estava sozinho ou acompanhado.
Hesitante a mulher pegou a colher fosca de prata e cutucou os legumes dentro da sopa,torcendo um pouco o nariz diante do caldo esverdeado dela.O cheiro não era ruim,mas a aparência era duvidosa.Ainda mais que quem fez a sopa foi um sujeito que faz parte de uma família bastante temida,embora estivesse no momento um pouco decadente.
-Não está envenenada.-A voz de Lúcio cortou a avaliação dela diante da comida suspeita.
-Não é isso…-Disse,fazendo uma careta.Deveria confiar?
-Se não quiser comer o problema é seu.Não tenho obrigação de ficar alimentando pessoas teimosas.Mas apenas aviso que é a única coisa comestível dentro dessa casa até essa tempestade passar.Se estiver disposta a ir por entre e floresta,no estado que está,até o vilarejo mais próximo em busca de suprimentos,fique a vontade.Se se perder dentro da mata a responsabilidade não é minha,faça como quiser.Se quiser morrer de fome também,fique a vontade.-Padma rangeu os dentes diante da indiferença que ele usava para cima dela.Se não se importava com a sua saúde,por que a abrigou em primeiro lugar?Irritada,ela enfiou a colher na sopa e a levou bruscamente até a boca,ingerindo o líquido agora morno e contorcendo a face em uma expressão curiosa.Não estava tão ruim assim,dava para sobreviver.Mas a questão era: quanto tempo ela suportaria viver debaixo do mesmo teto que Lúcio Malfoy?
