Capítulo 34
Prelúdio de Tempestade
Mal o cigarro tocou os seus lábios,fora tirado de lá rapidamente.A jovem piscou seus olhos âmbares diante do ocorrido e virou o rosto para mirar o homem ao seu lado,que apagava o cigarro mal queimado com a ponta do tênis.
-Pensei que estivesse parando com essa porcaria.-Andie revirou os olhos quando ouviu a voz irritada ao seu lado.Davon e ela haviam se tornado próximos depois daquele dia em que conversaram nesse mesmo telhado.Sempre estudando juntos e auxiliando um ao outro nos atendimentos dos pacientes.E desde que eles estreitaram a relação de colegas a amigos,ele ficava lhe perturbando por causa de seu vício.Certo que ela realmente estava parando de fumar.Mas quando ficava ansiosa ou nervosa,não podia evitar em acender um cigarro.
-Um apenas não vai me matar.-Retrucou irritada,catando outro cigarro dentro do maço,mas esse foi retirado de suas mãos e posto fogo pela varinha de Davon.
-Quero ver se vai continuar a dizer isso quando estiver morrendo de câncer nos pulmões.
-Seu apreço pela minha pessoa é impressionante.Como seus amigos lhe agüentam?
-Dallas nunca reclamou…muito.-Rebateu divertido,recostando-se na parede onde ficava a porta de acesso para o telhado do St.Mungos.Sempre ia lá quando estava no seu horário de descanso.Sempre para observar o por do sol,o nascer dele,ou as estrelas.Sempre com o seu inseparável copo de café.Poderia repreender Andie,mas também tinha o seu vício.Porém,no máximo o que a cafeína poderia lhe fazer era o deixar ligado à madrugada inteira,o que era útil quando estava de plantão.
-Dallas…-Andrômeda murmurou mas mesmo assim isso chamou a atenção de Davon.-Como é essa Dallas?-Perguntou em um tom mais alto.Sendo nascida trouxa,claro que conhecia o nome Winford e levou um susto quando soube que a Dallas de quem tanto Davon falava era a mesma herdeira da grande fortuna desse clã inglês.A mesma das revistas.Também se surpreendeu,e riu muito ao mesmo tempo,quando o rapaz contou a história que eles dois tinham juntos.E era nessas histórias que ela via,escrito nas entrelinhas,que ele ainda sentia algo forte por essa garota.Que ela ainda tinha um grande espaço em seu coração.Um espaço que ela morreria para ser seu.Isso mesmo.Estava se apaixonando,gamando,sofrendo uma grande queda,ou o que preferir,por Davon Yale.Mas a questão era: como conquistaria o garoto se parecia que ele só tinha atenção para outra mulher?Outra que era a causa de seu nervosismo atual.
-Como assim como é a Dallas?-Perguntou intrigado.Já tinha falado tanto da amiga para a mulher que com certeza ela já deveria estar cheia de ouvir o nome da garota sair de seus lábios.
-Você me contou tudo que vocês já fizeram juntos.Brigas,conversas,aventuras...essas coisas.Mas nunca me disse como ela é como pessoa.-Andie realmente estava muito nervosa.Por isso que foi pega por Davon fumando no terraço.Afinal,no Dia das Bruxas,conheceria a tão famigerada Dallas.Tudo isso porque simplesmente disse sim a aqueles imploradores olhos castanhos quando ele lhe pediu para o acompanhar no almoço que a amiga iria dar no Três Vassouras,em seu aniversário.
-No começo ela era meio tapada…-Disse com uma risada,lembrando-se daquela menina tímida e retraída com quem ele gostava de mexer.-…mas agora eu digo que se pisar nos calos dela,prepare-se para levar umas boas unhadas.
-Parece perigosa ela.-A mulher disse hesitante.Personalidade forte,não era a toa que ele gostava tanto dessa garota.Não que ela também não fosse teimosa e irritadiça às vezes.Mas ainda sim tinha um coração muito mole.Davon parecia ser aquele tipo de homem que gosta de uma mulher difícil.
-Que nada…mole feito manteiga derretida na maioria do tempo.Só é perigosa quando irritada.Experiência própria.-Falou divertido,lembrando-se de todas as brigas que tiveram antes de finalmente se entenderem.
-Ah…-A morena retrucou em um sussurro,enfiando as mãos nos bolsos em um ato instintivo a procura do maço de cigarros.Até que lembrou que Davon havia o queimado.
-O que foi?-O moreno virou-se para ela,parando a sua frente,a um passo dela e a jovem sentiu um arrepio percorrer a sua espinha quando viu aqueles olhos escuros a mirarem intensamente.-Nervosa por conhecer a Dally?-Perguntou sério,olhando profundamente dentro dos orbes âmbares,notando que cada vez que olhava dentro deles,percebia o quão belo eles eram.Aliás,Andrômeda era uma mulher belíssima.Tanto por fora,quanto internamente.Tudo o que um homem poderia querer.Personalidade,inteligência,independência e beleza em uma mulher só.Era difícil,realmente difícil,conseguir resistir aos encantos dela.E Davon estava começando a comprovar isso a cada dia que convivia com ela.A morena mexia com algo dentro de si que nem Dallas conseguia fazer na época em que estavam juntos.Certo que amou a morena de olhos violetas,mas ela,com a sua inocência,nunca conseguiu atingir profundamente os desejos de Davon.A sonserina apenas despertava dentro dele um lado mais humano e carinhoso.Andrômeda lhe despertava o lado carinhoso e o seu lado mais selvagem ao mesmo tempo.Como uma chama que o consumia cada vez que olhava dentro daqueles orbes âmbares.
-De jeito nenhum.-Rebateu a jovem,tentando manter a voz firme.O rapaz não tinha se afastado nenhum passo e a olhava de maneira predatória.
-Ótimo.-Sorriu de um jeito ferino e finalmente se afastou,a fazendo soltar um suspiro inaudível de alívio.-Hora de voltarmos,nossa moleza acabou.-Declarou e jogou o copo de café na lata de lixo,puxando a porta de acesso ao hospital e cedendo passagem a ela,ambos voltando para o trabalho duro de ser médico no meio de uma guerra.
* * * * *
Rodou os olhos azuis claros pela sala,observando os cochichos e murmúrios que a cada minuto aumentavam de intensidade.Geralmente,diante desse descontrole das discussões,ele se levantaria e pediria silêncio.Mas hoje não.Hoje ele preferiria observar quietamente o que seus agentes estavam argumentando tanto.Queria ouvir a opinião deles sobre o assunto que fora abordado e trazido pelo jovem Malfoy,queria observar melhor as suas reações.E chegou a uma conclusão triste diante dessa observação.A reação de todos diante dessa reunião era a mesma.Ele poderia ver escrito nos rostos de cada agente.Eles estavam cansados,assim como ele.Rodou mais um pouco os olhos em sua avaliação silenciosa e esses caíram no rapaz que se sentava ao lado de Draco.No moreno de vivo olhos verdes que,assim como todos,tinha um ar exausto e melancólico.Às vezes,sentia pena dele pelo que o destino lhe reservava.Poderia ser um bruxo comum,brilhante,mas comum,como seus pais foram.Mas não,o destino resolveu escolhê-lo para ser o alicerce da esperança.E o pobre nem sabia disso.Talvez desconfiasse que ele fosse a chave para o fim dessa guerra,mas não sabia nem da metade da história.Realmente,sentia muita pena dele.
-Bem,eu creio que agora já chega.-Dumbledore finalmente resolveu interromper quando percebeu que as discussões estavam ficando cada vez mais calorosas.-Sei que não há muitos motivos para alardes,que a informação que o jovem Malfoy trouxe…
-É pouco confiável professor.-Fletcher interrompeu.-Foram dadas por Lúcio,e são totalmente sem nexo.Nós estamos atentos desde o ataque do Beco Diagonal e nossos informantes não detectaram nada de errado nas movimentações dos Comensais.
-Isso porque seus informantes não têm coragem o suficiente para entrar no covil dos Comensais e descobrir o que está realmente acontecendo.-Retrucou Draco.Como aquele velho caquético tinha a audácia de contestar a veracidade da informação passada pelo seu pai?
-Temos que levar em conta,sr.Malfoy,que pode ser uma armadilha.
-Está chamando o meu pai de mentiroso traidor?Ele pode ser um ex-Comensal,mas uma vez que ele escolhe um lado,é difícil ele abandoná-lo.-O loiro ergueu-se furiosamente de sua cadeira e bateu com o punho sobre a mesa.
-Mas mesmo depois de abandonar o Lord das Trevas,ele não se juntou a nós,se juntou?
-Para quê?Com essa consideração toda que você está tendo pela pessoa dele.Aposto que:ou o jogaria em Azkaban em um piscar de olhos ou o entregaria de mão beijada a Voldemort,não é mesmo Fletcher?-Falou com intenso sarcasmo e com seus olhos brilhando em fúria.Mundungus rosnou diante da ousadia daquele garoto.Sempre dissera a Dumbledore que deixar um Malfoy entrar na Ordem era um erro.Eles não eram confiáveis.E esse menino estava começando a se rebelar.
-Creio que já chega à troca de farpas,não?-A voz suave,mas totalmente ameaçadora,de Snape interrompeu os dois.-Sei que a informação de Lúcio é pouco confiável pois não nos dá muitos detalhes…-Draco lançou um olhar irritado para o mestre de poções.Ele deveria apoiá-lo,e não concordar com aquele velho gagá.-…e será por isso que estamos enviando homens para averiguar isso de perto.
-Homens?Enlouqueceu Snape?Não estamos no luxo de perder homens nessa missão arriscada.Se forem pegos será um desfalque grande para a Ordem.Sem contar que creio que nenhum agente vai se disponibilizar a isso.-Arthur interrompeu.Concordava que deveriam mandar alguém averiguar a fundo essa suspeita de que Voldemort estava planejando algo grande.Mas eles não poderiam perder mais companheiros e com certeza ninguém gostaria de se arriscar tanto.As pessoas estavam perdendo a esperança,e o medo estava começando a predominá-las.
-E é por isso que eu vou.-Draco anunciou e Arthur estreitou os olhos para o genro.Certo que,assim como seus filhos,no começo não gostava do garoto.Mas a sua garotinha o amava por algum motivo e,no fim,ele aprendeu a respeitar a decisão dela e a ele como pessoa,também.
-E eu vou com ele.-Harry pronunciou-se e todas as cabeças viraram-se para ele.
-Creio que o melhor é você ficar aqui Harry.-Dumbledore pronunciou-se com uma voz calma,sobrepondo-se aos cochichos.
-Ou talvez seja melhor ele ir…-Snape começou com um sorriso perigoso dançando nos lábios.-…Talvez assim ele abra os olhos de vez.-Comentou sarcástico,mirando o garoto com um olhar que misturava conhecimento e frustração.
-O quê?-Respondeu o moreno em confusão.O que o professor queria lhe dizer com aquela indireta?
-Severo!-Dumbledore advertiu o homem.Não poderia pressionar Harry,senão as coisas poderiam sair muito erradas.Snape mirou o diretor longamente,mas resolveu calar-se,não antes de resmungar uma coisa ou outra sob a respiração.
-É um desperdício de poder esse moleque,isso sim.
-Bem,está decidido que Harry não vai comigo.-Draco interrompeu e o mencionado lançou um olhar indignado a ele.
-Oras seu prepotente...se não fosse o diretor me pedir para ficar,ninguém me impediria de ir.Quem você pensa que é?
-Seu bom senso?Porque ele anda em falta ultimamente.Já lhe disse porque é arriscado você ir a uma reunião de Comensais.Não vamos discutir isso de novo.Não estou com saco para aturar as suas criancices Potter.-O loiro falou com desdém gesticulando de modo casual.
-Eu não ajo feito criança.-Harry protestou de maneira infantil e Draco retrucou apenas com um sorriso zombeteiro.
-Rapazes,rapazes…-Dumbledore interveio antes que eles começassem a discutir como nos velhos tempos.-…não creio que seja hora para rixas.-Repreendeu em um tom leve mas que foi o suficiente para acalmar os dois jovens.
-Pois bem…-Arthur começou assim que Draco e Harry silenciaram-se.-…Mas isso ainda nos leva a estaca zero.Draco não pode ir sozinho fazer essa investigação.É perigoso.Se o perdermos será um desfalque grande.-Doía para alguns integrantes da Ordem ter que admitirem o que Arthur acabara de dizer,mas ele tinha absoluta razão.Por mais incrível que parecesse,Draco Malfoy era de suma importância para essa guerra.Era um grande estrategista,assim como um grande auror.Deixá-lo ir sozinho não era a melhor opção.Alguém muito bom teria que ir com ele.Mas esse era o grande problema no momento.Eles já perderam seus melhores agentes.Arriscar a perder os poucos razoáveis que tinham não era um bom negócio.E mandar um agente inexperiente no lugar de Draco poderia sair pior do que a encomenda.
-Bem…-Draco percebeu que realmente seria difícil arrumar alguém de calibre para ir com ele.Os que poderiam já estavam ocupados com outras missões,que incluíam principalmente limpar o estrago feito no Beco Diagonal no verão.Harry era o único disponível para tal empreitada,mas levar o garoto de ouro da grifinória para as mãos de Voldemort estava fora de cogitação,ainda mais que ele tinha a leve sensação de que o "cabeça de cicatriz" era muito mais importante vivo e bem longe do Lord das Trevas no momento.Não era a toa que foi tão protegido por anos.E se não tinha ninguém para ir com ele,o jeito era…-…Eu vou sozinho então.Muita gente pode chamar a atenção mesmo e…
-Eu vou com você.-Uma voz interrompeu a reunião.Cabeças viraram-se para a entrada da sala e foi com muito espanto que eles atestaram que quem os havia interrompido era Lúcio Malfoy em pessoa.Como diabos ele havia conseguido passar pelos feitiços de segurança?Era o que passava na cabeça de pelo menos metade dos presentes.O loiro entrou na sala de forma imperiosa,ganhando gemidos e grunhidos de desaprovação diante de sua presença.Parou ao lado do filho e depositou uma mão sobre o seu ombro,dando um pequeno sorriso sarcástico.-Bom saber que ainda sou querido.-Comentou com zombaria e Mundungus levantou-se prontamente de seu assento.
-Lúcio Malfoy você está preso!-Declarou e muitos ali presente deram um suspiro aliviado ao saber que aquele homem seria levado imediatamente do local.
-Não creio que seja a hora de prender ninguém sr.Fletcher.-Dumbledore falou com um tom autoritário e o homem sentou-se novamente em sua cadeira,soltando um muxoxo.Lúcio apenas sorriu mais ainda em desdém.
-O que faz aqui pai?-Draco perguntou em desagrado.Seu pai dar as caras em Hogwarts não era seguro.Voldemort ainda tinha seus mini aprendizes de Comensais dentro da escola.Se eles vissem o loiro o delatariam na hora ao seu mestre.
-Eu vim trazer uma encomenda.-Lúcio retrucou com uma voz calma e apontou para a entrada da sala,por onde Padma havia acabado de passar.Draco rapidamente levantou-se de seu lugar com uma expressão que lembrava muito a de um irmão mais velho,que estava se corroendo de preocupação.
-Padma!-Bradou,indo até a jovem e a segurando pelos ombros,a girando de um lado para o outro para averiguar se ela estava bem.-O que inferno eu lhe falei sobre aquele buraco em que você morava?-Continuou ralhando e a jovem gemeu.Draco poderia ser prepotente e arrogante,mas isso não queria dizer que ela não gostava dele.O loiro fora o melhor amigo de seu falecido marido.Eram como irmãos.E sempre esteve lá por eles dois quando eles mais precisavam.Depois da morte de Blaise,ele tomou o lugar de proteção que era exercido pelo seu marido.Mas às vezes ela achava que ele exagerava demais.
-Que não era seguro,que Comensais poderiam quebrar as defesas...que era para eu sair de lá...blá,blá,blá...Pare com o drama Draco.Eu estou perfeitamente bem graças…-A mulher trincou os dentes em desagrado.-…ao seu pai.
-Agora ela me agradece.-Escarneceu Lúcio e a morena bufou.
-Melhor você ir para a enfermaria…-Draco aconselhou e Padma fez uma expressão de desagrado.Não queria ir para a enfermaria,queria ficar ali e saber dos últimos acontecimentos enquanto esteve fora.Mas o olhar que o jovem Malfoy lhe lançou a fez engolir qualquer protesto e acatar a sugestão,fazendo-a dar meia volta e ir embora.
-Bem,agora que essa pequena reunião está terminada…-Lúcio interrompeu,chamando a atenção do filho e dos outros para si.-…Como eu ia dizendo,estarei indo com o Draco nessa missão.
-Malfoy,não é um agente da Ordem.Sem contar que a sua cabeça está a prêmio dentro do círculo de Comensais.-Snape interrompeu o homem.-Para que quer se arriscar de tal maneira?Mesmo que no passado tenha nos ajudado com algumas coisas,isso não quer dizer que você adotou a causa.
-Bem pensado Severo.Mas…eu tenho os meus motivos.-Os olhos cinzentos de Lúcio caíram sobre Draco rapidamente e depois voltaram a encarar Snape,que compreendeu rapidamente o homem.Malfoy não deixaria seu único filho ir sozinho nessa loucura.Já perdera a esposa,não perderia a única família que tinha lhe restado.Afinal,por debaixo de toda aquela parede de gelo ainda havia um homem,um homem que possuía um coração.
-Se é assim então…-Dumbledore começou antes que alguém protestasse sobre confiar tal missão a dois Malfoy's.-…melhor começarmos a nos organizar.Quanto mais rápido Lúcio e Draco partirem,mais rápido podemos nos preparar para o pior.-Sentenciou o diretor.Sentindo que,de algum modo,essa história estava chegando ao fim.
* * * * *
O caldeirão explodiu a sua frente e o garoto soltou um muxoxo de desagrado,sentindo o líquido morno e viscoso escorrer pelo seu rosto e vestes.A sua volta,ele apenas ouvia as risadas de seus colegas de classe e o barulho do farfalhar das vestes do professor que se aproximava.Snape postou-se o lado da mesa do jovem e mirou o conteúdo perdido de dentro do caldeirão,balançando a cabeça em desagrado de um lado para o outro.Iria abrir a boca para repreender o garoto,quando a sineta de término da aula tocou.
Keith soltou um suspiro de alívio e recolheu rapidamente as suas coisas,antes que o professor começasse a ralhar com ele.Sem dar uma segunda olhada no mestre de Poções,ele saiu das masmorras feito uma bala,pingando restos de seu trabalho durante o caminho.E foi assim,frustrado e sujo,que Dallas o encontrou.E foi por causa dessa cena que a garota riu durante horas dele.
-O que aconteceu com você?-Perguntou,se recuperando do ataque de risos que teve ao chocar-se com o chinês.Li apenas estreitou seus olhos chocolates em grande desagrado e sentiu as suas faces corarem de vergonha.Gostava da Dallas,sim.Ela foi à primeira amiga que fez desde que entrou em Hogwarts a mais de um mês.Apesar de ser mais velha do que ele,gostava dela.Era como uma irmã maior.E olha que ele tinha muitas irmãs mais velhas,cinco para ser exato,mas Dallas era diferente.Ela sabia ser carinhosa e divertida ao mesmo tempo,e não ficava pegando muito no seu pé como um irmão mais velho de verdade faz.Por isso gostava dela,mas detestava esse lado sarcástico que ela tinha,que sempre a levava a se divertir com a cara dos outros.
-Explodi o caldeirão.-Disse desgostoso.Achava a aula de poções fascinante,como todas as outras aulas de Hogwarts, – exceto História da Magia – mas nada o fazia produzir uma poção correta.Talvez fosse a hora de pisar um pouco mais no seu orgulho.Afinal,a garota rindo de si a sua frente era a sua amiga,não era?
-Dallas?-Começou,corando mais forte ainda e Dallas soube nesse exato momento que ele estava engolindo seu orgulho de guerreiro novamente,por isso rapidamente parou de rir.
-Sim?-Retrucou a garota,esperando pelo que ele iria dizer.Já tinha uma idéia do que o menino iria pedir.Começou a pensar nisso no momento em que ele deu sinais de que poções e ele não se misturavam.Chegou até a cogitar em lhe oferecer ajuda,mas isso o deixaria um pouco soberbo.E de idiotas arrogantes já lhe bastava seus companheiros de casa.Não queria que Keith ficasse como eles.Orgulhoso sim,por pertencer a um antigo clã chinês.Prepotente,nunca!
-Me ajuda…-Pediu num sussurro,abaixando a cabeça e torcendo o robe imundo entre os dedos melados.A morena apenas sorriu e depositou uma mão nos cabelos sujos dele,fazendo um ligeiro cafuné.Estava conseguindo quebrar um pouco o gelo do menino.Afinal,nenhum garoto de onze anos deveria ser tão sério como ele.Talvez fosse o peso da responsabilidade de ser o único herdeiro homem da família que o fazia ser tão sério.Mas ele era apenas um menino,não precisava crescer tão rápido assim.Não precisava se tornar um adulto com tamanha velocidade,como muitas pessoas que ela conhece.Como ela por exemplo.
-Não doeu,doeu?Viu como pedir ajuda às vezes pode ser proveitoso?-Falou de maneira carinhosa,tirando a mão dos cabelos dele e limpando em suas vestes.
-É,mas às vezes as pessoas aproveitam dessa pequena fraqueza para usá-la contra você.
-O que é isso?Alguma lição de como vencer o inimigo,em artes marciais?Isso daqui é uma escola Keith.Não precisa encarar todas as aulas como uma batalha.Ou os seus colegas como adversários.E além do mais,sabe que eu nunca usaria isso contra você.
-Você não…mas quanto ao outros eu não sei.
-Keith,você precisa relaxar mais.Um menino da sua idade sendo tão sério assim?Vai se tornar um adulto chato.-Brincou um pouco e viu um pequeno sorriso se formar nos lábios do garoto.
-Vai me ajudar ou não?-Perguntou hesitante.Ela não tinha respondido diretamente a sua pergunta.
-E quando foi que eu neguei algo para esse rostinho bonitinho?-O menino ficou escarlate e abaixou mais a cabeça,encostando o queixo no peito de tanta vergonha.Não estava acostumado a receber elogios de uma garota.Mesmo que essa garota fosse sua amiga.
-Obrigado.-Murmurou.
-De nada.Mas acho que é melhor ir se trocar.Você está começando a feder.-Escarneceu e o garoto rapidamente levantou os olhos para mirá-la com desagrado.
-Obrigado pela parte que me toca.
-De nada.-Disse divertida e acenou para ele,começando a partir para o salão principal para o jantar.
-Ah…Dallas!-Li chamou quando ela já estava no final do corredor.A jovem virou-se para vê-lo.
-Sim?
-Qual é o seu tamanho?-Perguntou,cheio de coragem mas com o rosto avermelhando a cada palavra dita.
-Como?-Dallas piscou os olhos violetas,totalmente confusa.
-Qual o tamanho que você veste?Roupa.Qual seria o tamanho de um vestido para você?
-Para que você quer saber?-Perguntou desconfiada.
-Bem…-Keith começou a balançar-se numa perna e outra.-…eu estava pensando num presente de aniversário para você…e então como eu não sei direito o que te dar…uma das minhas irmãs sugeriu que roupa era um bom presente.
-Kei…você não precisa me dar nada.-Começou com um sorriso fraterno mas foi logo cortada pelo chinês.
-Claro que preciso!Presentear um amigo em uma data de comemoração como essa é uma prova de respeito e afeição.-Dallas sorriu carinhosamente para ele e voltou a caminhar em sua direção,parando na sua frente e lhe acariciando a bochecha com uma mão.Era impressionante como esse menino derretia seu coração já mole.Talvez fosse porque ele parecia ser tão inocente,diante de tudo de ruim que ela já presenciou e passou.Ou talvez porque ele lhe recordava Patrie.Ou talvez fosse porque o jovem a lembrava um pouco de si mesma quando entrou nessa escola.Assustada mas no fundo decidida a dar o seu melhor.
-M*…-Disse com um sorriso.-Meu tamanho é M.-Keith deu um sorriso mais largo dessa vez e logo depois ambos se despediram,cada um seguindo o seu caminho.
*Creio que na Europa o padrão de medidas para roupas se dá por número.Mas como eu não sei qual número se equivale ao tamanho M de roupa,deixe por isso mesmo.
