Capítulo 35
Despedidas
Ralas nuvens cinzentas percorriam o céu,encobrindo as poucas estrelas que ousavam a se mostrar durante aquela noite fria.A lua,esperta,escondia-se atrás de uma das poucas grossas nuvens,como se não quisesse presenciar a cena melancólica que se dava no alto daquele pequeno monte,afastado do vilarejo e do enorme castelo mágico que servia de cenário de fundo.Porém,seus fracos raios ainda encontravam caminho entre a densa nuvem para iluminar aquele grupo e as faces desoladas de alguns integrantes dele.
Gina apertou sua capa em volta de seu corpo enquanto via o marido ajeitar-se a sua frente,no ponto de chave de portal que a Ordem tinha selecionado dentro do vilarejo.Ainda não se conformava que,dentre tantas pessoas,logo Draco teria que ir novamente espiar Comensais.Ainda não tinha esquecido o incidente do seqüestro,mesmo que tenha sido a bastante tempo.E só de pensar que tal coisa poderia acontecer novamente,lágrimas começavam a turvar a sua visão.
Draco por outro lado,tentava ao máximo concentrar-se em revisar as poções que carregava em seu cinto,as armas e feitiços que lhe serviriam de proteção,ao ver os olhos da esposa em cima de si lhe implorando para ficar.Já fora um custo ter que se despedir de sua pequena Angela,quando entrou no quarto dela no início da noite para verificar se ela estava dormindo,agora ter que se despedir da ruiva a suas costas estava sendo quase doloroso.Após perceber que estava verificando pela quarta vez o mesmo frasco de poção atordoante,o loiro resolveu encarar a realidade.Teria que dizer adeus…adeus não,até logo,a Gina.Respirando fundo,o homem virou-se e mirou os olhos castanhos da ruiva,que já se encontravam marejados.
-Bem…-Mal começou e já se viu envolto em um par de braços pálidos e frágeis,que lhe imploravam que ficassem.
-Tem que haver outro meio,por favor Draco.Não faça isso.
-Gin…-O homem apertou mais a mulher contra o seu corpo,enterrando o rosto nos cheirosos cabelos cor de fogo dela.-…eu já fiz isso centenas de vezes antes.E como nas outras vezes,dará tudo certo.
-Eu sei…eu sei que dará.Você sempre foi o melhor no que faz.Mas eu não posso evitar ficar com o coração na mão cada vez que penso que estará tão perto de Você-Sabe-Quem.
-Eu sei…Mas tudo dará certo,eu prometo.-Murmurou perto da orelha dela e se afastou,depositando um leve beijo em seus lábios e indo em direção ao ponto de chave de portal,pois era mais seguro ir desse modo do que aparatar.Afinal,para onde eles estavam indo,feitiços deveriam cobrir o lugar para prevenir aparatações nas redondezas.
Lúcio observou seu filho despedir-se da mulher ruiva em seus braços.Observou,também,os olhares encorajadores e preocupados dos Weasley's que estavam presentes e do Potter.Teve que rir internamente a isso diante da ironia do destino.Anos atrás eles estavam nas gargantas uns dos outros tentando se matar por rivalidades escolares e familiares.Agora olhem para eles.Dariam a vida uns pelos outros sem pensar duas vezes.Chegava a ser patético,ele diria,se não fosse pelo fato de que ele próprio estava agindo como esses mesmos Weasley's e Potter.Afinal,um dos principais motivos de ele estar indo para a boca do lobo não era para proteger seu filho?Nunca teve instintos paternais muito elevados,deixava isso a encargo de Narcissa,mas quando essa morreu,havia jurado em seu túmulo que faria o culpado pagar e que nunca,nunca mesmo,deixaria ninguém encostar um dedo em nenhum fio de cabelo loiro de alguém de sua família.Mesmo que o mais novo integrante da família Malfoy fosse ruiva.Continuou a observar a cena quando se sentiu observado.O homem rodou seus olhos cinzentos pelo local e deparou-se com um par de castanhos.Ah,ela era outra que estava dentro daquele grupo para despedir-se de Draco.Mas em vez de ir na direção do jovem loiro,veio na sua.
Padma parou em frente ao homem,sentindo a sua garganta ficar seca perante a imponência dele.Sempre se sentia desse jeito quando estava perto dele.Lúcio Malfoy passava uma aura de confiança,arrogância e altivez impressionante a quem estava a sua volta.Não era a toa que as pessoas sempre se sentiam tão simplórias ao seu lado.Não importava qual fosse a situação.Traidor,fugitivo da justiça,agente,Lúcio sabia como intimidar alguém apenas pelo olhar.Mas,no momento,não estava exercendo um efeito total sobre ela.O que mais a fazia ficar nervosa não era o perigo que emanava daquele homem,mas sim aquela selvagem sensualidade que parecia acometer a todos daquela família.
-O que quer?-O homem perguntou com uma voz baixa e rouca quando viu a figura a sua frente.
-Vim…me…despedir.-Padma retrucou com uma voz mínima.A idéia de ele estar partindo e poder nunca mais voltar a deixava com um vazio no coração e com uma certa angústia.Vazio porque sabia que durante o tempo em que ficaram juntos,os sentimentos de aversão que ela tinha por ele tinha mudado para algo que não conseguia identificar.Angústia porque não se sentia no direito de sentir algo por outro homem dessa maneira.Não depois do que viveu com Blaise.
-Se despedir?De mim?Que consideração.-Comentou sarcástico em um sussurro.Algo dentro de si chacoalhou ao saber que ela se importava.
-Não fale assim…-A morena abaixou a cabeça,ignorando o desdém das palavras dele.De algum modo sabia que ele,debaixo de toda aquela postura rígida,estava temeroso com um futuro que poderia não existir.Só de pensar nisso novamente a sensação desagradável de vazio a acometeu.Padma sentiu dedos longos e frios tocarem o seu queixo,a obrigando a erguer os olhos e mirar aquelas orbes cinza tempestade.
-Obrigado.-Lúcio retrucou em um murmúrio,sentindo-se amolecer diante da intensidade do olhar dela.
-Prometa…-A jovem começou temerosa.Sempre dizia isso cada vez que via Blaise partir para um encontro de Comensais.Até que houve um dia em que ele nunca mais voltou.Não do modo que ela esperava.-…prometa para mim que vai voltar em segurança.-Lúcio sentiu novamente aquele chacoalhar dentro de si.O que essa garota estava fazendo com ele afinal?
-Prometo.
-Prometa que fará de tudo para voltar para m…-Ela interrompeu-se antes que sua boca dissesse o que seu coração ainda estava começando a aceitar.
-Vou tentar.-Retrucou o homem,envolvendo uma mão com a outra e começando a estalar os dedos.Padma observou isso e sentiu mais um aperto dentro de si.Conhecia aquele tique de Lúcio.Conviveu tempo o suficiente com ele para saber que quando ele começava a estalar os dedos freneticamente,era porque estava mentindo.Frustrada,segurou nas mãos dele e o impediu de continuar o que fazia.Era como se aquilo fosse a quebra da promessa que ele tinha acabado de fazer a ela.
-Vai tentar uma vírgula…-Disse em um tom ligeiramente irritado.-…Você vai voltar.Senão eu mesma irei até o inferno para catar seu traseiro de volta ao mundo dos vivos.-Rebateu e sentiu as faces esquentarem quando percebeu o que tinha acabado de dizer.Lúcio apenas sorriu maliciosamente para ela e afastou-se quando viu Draco aproximar-se de si.
-Com uma ameaça como essa…-Começou divertido.-…não ousarei nem em quebrar a promessa.-Concluiu,dando as costas para ela e afastando-se com o filho em direção ao ponto de chave de portal.Dois minutos se passaram,com o grupo de amigos olhando em expectativa para as duas figuras,até que elas sumiram na escuridão da noite.
* * * * *
A coruja branca veio planando pelo teto do salão principal,até que divisou seu alvo entre as quatro mesas que preenchiam aquele local.Edwiges desceu em disparada em direção a mesa da Corvinal e pousou elegantemente em frente a jovem que lá estava.Dallas ergueu seus olhos de seu prato de comida para fitar a coruja,que orgulhosamente estendeu a sua pata a garota.A morena riu diante da atitude do animal e desenlaçou o pergaminho que estava preso nas garras da ave.Sorriu quando reconheceu a letra apressada de Harry,e alargou mais ainda o sorriso diante do recado.Rapidamente recolheu seus pertences,enfiando todos os seus livros dentro de sua mochila,pronta para sair do salão.
-Aonde a senhorita pensa que vai?-A voz de Tracey ao seu lado a fez parar em seus rastros.
-Eu vou…hum…vou…-Virou-se para ela apenas para ver o rosto divertido direcionado para si.-Ah,vai te catar Tracey!-Exclamou exasperada.Tracey e ela haviam se aproximado mais depois da morte de Patrick,tornando-se boas amigas.E por isso às vezes a jovem gostava de brincar com ela dessa maneira.
-Vá Dally,não pode deixar seu queridinho esperando.-Escarneceu,com um sorriso malicioso no rosto.
-Não mesmo.-Retrucou divertida e saiu às pressas do salão principal.
Harry andava de um lado para o outro na beirada do lado de Hogwarts,quando sentiu um tranco em suas costas e braços envolverem seu pescoço.Sorriu ao olhar por cima do ombro e ver o rosto da jovem sorridente pendurada em si.Ela tinha vindo bem rápido.Pois não fazia nem dez minutos que ele havia despachado Edwiges.
Dallas soltou seus braços,permitindo que o moreno virasse para encará-la.Assim que se viram frente a frente engataram um beijo apaixonado,comprimindo-se um contra o corpo do outro,como se quisessem se tornar uma pessoa só.Quando o ar começou a faltar,finalmente eles se separaram.Harry mirou os olhos violeta a sua frente que brilhavam intensamente,traçando as linhas do rosto dela com as pontas de seus dedos,suavemente.Um flash de memória passou em frente aos seus olhos,o fazendo ficar com uma expressão dolorida e atraindo a atenção de Dallas diante disso.
-Harry?-Perguntou a jovem ao ver como ele tinha mudado de expressão rapidamente.Ultimamente Harry andava estranho.Preocupado demais,distante demais.Porém,nunca se abria com ela.
-O que foi?
-Nada.-Retrucou,o abraçando fortemente e ambos ficando assim por longos minutos,até que seu pequeno momento de paz foi interrompido.
-Srta.Winford,não deveria estar indo para as aulas nesse momento?-Ambos se separaram e miraram o professor de poções que estava ao lado deles,segurando uma bolsa de couro que emitia um cheiro forte de ervas.
-Er…sim professor.-Retrucou sem graça ao ser pega namorando nos jardins da escola.Rapidamente recolheu a sua bolsa esquecida no chão e dando um leve beijo em Harry,voltou ao castelo.
Snape e Harry observaram a jovem sumir por entre as portas do castelo e novamente voltaram a se encarar.O homem mais velho com o seu tradicional ar de descaso em relação ao jovem e o homem mais novo com uma expressão intrigada no rosto.
-O quê?-Severo perguntou,quando se notou sob o olhar avaliador dos olhos vivamente verdes.
-Eu estava pensando…
-Isso é um marco Potter.-Mas a tirada sarcástica do seu ex-professor não o parou.
-Na última reunião,o senhor disse uma coisa que me intrigou bastante.Professor…-Começou hesitante.Sabia que Dumbledore estava escondendo algo dele.Sabia,sempre soube que havia algo mais por detrás dessa obsessão de Voldemort em querer a sua morte.Mas,como sempre,o diretor não lhe contaria o que era.Mas Snape eram outros quinhentos.Esse não se refrearia em dizer a verdade bem na lata.Ainda mais se for para prejudicá-lo.-…O que o senhor quis insinuar de eu ter que abrir os olhos?
-Seus óculos têm um grau muito baixo Potter.Talvez precise aumentá-los.-Retrucou Snape com desdém.
-Talvez o senhor não se importaria em me dizer o porquê.-Harry rebateu em um tom mortalmente sério.Snape olhou a sua volta por um momento,apertando a bolsa de couro entre seus dedos pálidos e soltando um suspiro.Que Dumbledore se danasse.Por mais respeito que tivesse ao velho diretor,ainda achava um erro ele esconder do Potter toda a verdade sobre a sua origem.Pois se eles ficassem esperando esse moleque perceber o que era e a sua verdadeira importância,Voldemort venceria nesse meio tempo.
-Potter...por acaso já passou por essa sua cabeça oca o porquê de Voldemort querer te matar?-Sempre direto quando queria,pensou Harry.
-Me passaram várias teorias pela mente,senhor,mas creio que nenhuma delas é viável.Talvez o senhor possa me dizer por quê.-Um sorriso enigmático surgiu na face macilenta do homem.
-Aí é que está.Estou terminantemente proibido de te dizer o motivo.-Harry soltou um resmungo.Uma ova que ele estava proibido.Se ele realmente quisesse,ele lhe diria.Apenas mantinha a boca fechada por respeito a Dumbledore,só poderia se isso.
Snape soltou um suspiro diante do resmungo do garoto.Deveria realmente ter mandado tudo as favas e ter contado ao garoto.Mas por um momento o pensamento de se ter um novo Lord das Trevas fez um tremor percorrer a sua espinha.Não,não poderia contar…não diretamente.
-Sei…-O rapaz retrucou desgostoso.
-Mas isso não quer dizer que eu não possa lhe mostrar nada Potter.-Isso chamou a atenção de Harry rapidamente,o tirando de seu momentâneo estado de frustração.-Na sessão restrita da biblioteca,creio que a conhece muito bem,-Snape lançou um olhar sábio para o rapaz,indicando que as escapadas e infiltrações do garoto na sessão restrita nunca lhe passaram desapercebidas.-há um livro.Grandes Bruxos.
-Por que um livro com esse título estaria da sessão restrita?
-Você saberá quando o ler.-Foi tudo o que disse,rodando nos calcanhares e sumindo pela entrada da escola.Harry ainda ficou algum tempo ponderando sobre o que o professor disse,nos jardins,até que decidiu fazer o que ele lhe falou.Caminhou pelos corredores vazios e entrou na biblioteca silenciosa.Cautelosamente procurou por Madame Pince e viu que essa não estava em nenhum lugar a vista.De maneira furtiva,pelos anos de treinamento andando pelo colégio de madrugada,ele entrou na sessão restrita e começou a procurar o livro mencionado pelo professor.O achou nas últimas estantes da sessão.Ele era grosso,com uma capa assustadora e parecia não ter um conteúdo nada feliz,para estar onde estava.Novamente silencioso,ele sentou-se num canto da parede,entre as estantes,e abriu o livro.Três horas mais tarde,um Harry Potter saía furioso da biblioteca em direção a sala do diretor.
* * * *
A porta bateu com violência na parede e voltou bruscamente para o portal.Durante esses poucos segundos em que ficou aberta,uma figura passou feito uma bala por ela.Dumbledore levantou os olhos dos papéis que estavam em sua mesa e mirou a pessoa que acabara de entrar no local.Uma aura de pura raiva emanava de Harry,enquanto seus olhos brilhavam numa mistura de irritação e mágoa.Como se tivesse sido traído.E vendo a expressão nada feliz de seu ex-aluno favorito,ele pôde perceber do que se tratava o assunto.
-Harry…-Começou o homem,mas foi interrompido pelo estrondo de um livro pesado sendo jogado em cima da sua mesa.Os olhos azuis miraram a capa do livro e viu sobre o que ele se tratava.-…Percebo que você já deve ter descoberto sobre isso.-Disse em um tom calmo,cruzando as mãos sobre a mesa.
-Quando você planejava me contar sobre isso?!-Harry explodiu,assim como um tinteiro em um armário a um canto da sala.-MAGO?!DUMBLEDORE?!
-Harry...tente entender...
-Entender?Você quer que eu entenda?Por anos você sempre soube o porquê de meus pais terem morrido.O porquê de Voldemort querer a minha morte.Mas nunca me contou.Que jogo doentio é esse que você está jogando?Acha que eu sou uma peça de xadrez a qual você possa manipular?
-Harry!-Dumbledore elevou a voz,assim como se elevou bruscamente de sua cadeira,mirando de forma dura o rapaz irritado a sua frente.-Creio que você não deve ter lido nas entrelinhas desse livro.-E apontou para o mencionado.Mas Harry ainda estava com o sangue latejando nas suas orelhas para ouvir o diretor.
-O que eu li nesse livro foi o suficiente para querer mandar vocês todos para o inferno.Você não tinha o direito de fazer isso comigo!Deveria ter me contado!
-E em que isso mudaria as coisas?
-Como assim em que isso mudaria?Eu poderia ter derrotado Voldemort antes,ou ao menos tentado.Treinado mais.Assim,ao menos pouparia esses anos de sofrimento.
-Forçaria a sua magia e estaria cometendo o mesmo erro que Voldemort.-Dumbledore falou em um tom ditador e irritado,e isso fez Harry recuar um pouco.Nunca tinha visto o diretor tão irritado daquela maneira.
-O quê?
-Isso mesmo que você ouviu.Talvez realmente não tenha lido direito.-O diretor abriu o livro em uma página e o virou para Harry ler.Ainda irritado,mas um pouco mais controlado,o jovem deu um passo a frente para ver o que estava escrito nas página amareladas pelo tempo.Minutos de longo e tenso silêncio se passaram até que o moreno ergueu-se novamente e mirou o diretor.
-Sei…-Disse,ainda irritado mas com uma certa compreensão entrando na sua cabeça.
-Bom.-Dumbledore sentou-se novamente em sua cadeira,cruzando as mãos sobre a mesa e retomando a sua postura calma,indicando a cadeira em frente a sua mesa a Harry.Rapidamente o moreno sentou-se nela e o olhou de maneira indagadora,esperando por respostas.-Acho que tudo o que você quer saber está escrito nesse livro.Não disse nada pois você com certeza iria querer forçar a magia e ela poderia sair de controle.Mesmo que as suas intenções fossem boas,um descontrole poderia ser fatal.Olhe o que aconteceu com o jovem Riddle.Quando descobriu ser um mago quis forçar o surgimento de seus poderes.Mesmo que naquela época ele ainda não estivesse dominado pela vingança e ódio por seu pai e sua condição,o descontrole que ele obteve com a magia foi o suficiente para torná-lo no que ele é hoje.Vai querer o mesmo para você Harry?-O rapaz deu um aceno negativo com a cabeça.-Foi o que eu pensei.Por isso nada disse.Esse poder é raro e precisa ser manifestado de forma natural como você pode ver.Devo crer que você já deve ter apresentado alguns sinais sobre ser um mago.
-Sim.
-É apenas uma questão de tempo Harry.E então,assim espero,poderemos finalmente parar Voldemort.-O jovem deu um suspiro pesado e cansado.Sabia que era a esperança do mundo mágico pelo que fez quando era bebê.Só não imaginava que ele era realmente a única salvação desse mundo.O peso disso apenas fez doer mais seus ombros diante de tal responsabilidade.
-Quanto tempo?
-Não sabemos.Você pode acordar amanhã com todo o seu poder.Pode despertá-lo em uma batalha em um momento de perigo.Ou pode levar anos.
-Creio que não temos tanto tempo assim.-Deu um sorriso sem vida.
-Eu realmente sinto Harry…
-Não creio que o senhor…
-Sim,eu sinto.Acha que não me dói ver um rapaz tão jovem,filho de bruxos que eu vi crescer,ter que passar por tudo isso?Nunca quis que passasse por isso.Mas quem sou eu para alterar o destino?-O moreno viu um olhar piedoso e paternal passar pelos orbes,não mais brilhantes,azuis de Dumbledore e sorriu fracamente.
-Professor…-Quebrou o silêncio que caiu na sala por alguns minutos.
-Sim?
-Eu…o que eu li sobre certos sonhos...sobre magos terem certos sonhos que possam ser...
-Premonições?Apesar de serem magos,tipos raros e poderosos de bruxos,premonição também é rara.Mesmo para magos.Mas não duvido que você tenha herdado esse dom.Teve alguma premonição sobre alguma coisa,Harry?-Perguntou com um tom preocupado.
-Talvez.
-E…?
-Se eu tive a premonição,é porque posso mudá-la,não é?
-Não!-Dumbledore sentenciou e Harry sentiu o coração ir a garganta.
-Co-com-como assim eu não posso mudá-las?
-Uma premonição é apenas um aviso de um ato futuro.De algo que está escrito e que inevitavelmente vai acontecer.
-Mas se é para prevenir,como não posso mudá-la?!-Pânico estava tomando conta do corpo de Harry.
-Talvez possa,talvez não.Isso depende de quantos destinos estão envolvidos dentro dessa previsão.E isso vai depender da sua força para poder desafiar o destino.Mas me diga,Harry,o que você previu?-Dumbledore o perscrutou com o olhar e o ex - grifinório encolheu-se em sua cadeira,com o coração pulando no peito.
-A morte.-Sussurrou.
* * * * *
Chegaram tão silenciosos como saíram de Hogsmeade aos arredores de Little Hangleton,começando a andar pelas ruas desertas e sinistras.Desde que Voldemort tornou a velha mansão Riddle seu esconderijo e moradia,os habitantes daquela cidade evaporaram como água em um dia quente de verão.Afinal,tinham um maníaco assassino como vizinho.Haviam descoberto isso depois que essas mesmas ruas pelas quais eles andavam agora foram banhadas de sangue e mortes,já que Little Hangleton foi o primeiro ponto de diversão dos Comensais quando o Lord das Trevas voltou ao poder.Lúcio pensou nisso com um arrepio passando por sua espinha.Ainda se perguntava em como tinha se tornado um seguidor daquele homem.Não deveria estar nos seus melhores dias para ter tomado essa decisão.
-Lá está.-O sussurro de Draco o trouxe de volta ao mundo terreno e,ao longe,eles divisaram as ruínas da Casa dos Riddle.
Silenciosos e astutos,caminharam pé ante pé,escondendo-se em sombras e moradias abandonadas,até chegarem aos limites da mansão.E foi ao chegar mais perto que eles perceberam que algo estava errado.Muito errado.
-Está sentindo?-Lúcio perguntou ao filho,aproximando-se dos jardins de entrada da casa.Era uma loucura chegar tão perto do local que servia como base principal para Voldemort,o esconderijo desse.O pior e mais perigoso covil de Comensais.Mas,se eles queriam uma grande informação,teriam que elevar a essa maneira os riscos.Porém,algo ainda estava errado.
-Não!-Draco sibilou,emparelhando com Lúcio e praguejando contra a imprudência do pai de sair deliberadamente no terreno inimigo.
-Exato.-Displicente,o homem abandonou a sua camuflagem e entrou nos jardins da mansão.Draco teve que suprimir um gemido de frustração e pavor.Seu pai,finalmente,tinha enlouquecido.
-Lúcio?!-Alertou em um sussurro,indo até o homem e o segurando pelo braço.-O que está fazendo?Se quer ser pego,fique nu e coloque uma placa de néon sobre a cabeça,poupará o trabalho deles.
-Essa é a questão meu caro filho.-O homem virou-se para o rapaz.-Não há ninguém aqui.
-O quê?
-Não vê?Entramos facilmente na propriedade sem sermos parados por nenhum feitiço de proteção.Sem contar que a aura de magia negra não está em volta do lugar.
-Como?
-Eu lembro da minha época de Comensal muito bem.Havia tanta arte das trevas em volta desse lugar que você poderia sentir a magia a um quilômetro de distância.Mas agora,não há nada.
-Isso quer dizer…?
-Exato.
-MERDA!-Draco gritou,correndo em direção a casa e arrombando a porta da frente.Lúcio o seguiu e entrou atrás dele no lugar,apenas para parar,como o filho,no meio do hall de entrada com um olhar perdido.
-Chegamos tarde.
-Não,não,não,não!Não pode ser.Meleca.Se eles não estão aqui,para onde foram então?Essa fortaleza de Riddle sempre foi impenetrável.Todos os nossos agentes sabiam disso,por isso nunca atacamos diretamente o lugar,pois seria batalha perdida.Por que eles abandonariam o local assim?
-Se foram todos,Voldemort está planejando um grande ataque.
-Mas que local precisaria de toda a força das trevas para ser derrubado?-Uma onda de pânico apoderou-se dos dois Malfoy's e eles entreolharam-se com os olhos largos.
-HOGWARTS!-Falaram simultaneamente,saindo da casa com a mesma velocidade que entraram.
