Capítulo 14 - De volta a Hogwarts

Era a sexta vez que Draco atravessava a barreira da plataforma 91/2, mas esta vez era especial, pelo simples fato de que mudara bastante desde a última passagem. Já não via sua ida pra Hogwarts como antigamente. Antes, era quase uma tortura e seus únicos pensamentos de conforto resumiam-se em uma palavra: Potter. Iam de "Esse ano eu venço o Potter no Quadribol" até "Será que este ano o Lorde mata o Potter?". Porém, neste ano tudo era diferente. A começar que os seus principais e mais fortes pensamentos eram centrados em sua namorada... Uma Weasley. Lógico que ainda tinha a mesma opinião sobre Potter, nisso não havia mudado em nada. Mas agora, na maioria das vezes pensava nele com sua namorada. Com certeza, havia mudado. Antes de se despedir de seu pai, olhou para ele e pensou "O senhor nem faz idéia em que estou pensando... Se soubesse, com certeza não me deixaria embarcar nesse trem" e depois sorriu disfarçadamente. Despediu-se e tentando controlar a vontade de correr por todos os vagões à procura de Gina, embarcou no trem.

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Faltavam cinco minutos para as onze quando quatro pontos vermelhos junto com dois pontos mais escuros irromperam na Estação King's Cross. Em meio a correria, Sra. Weasley bufava:

- Não é possível que com apenas quatro crianças a gente consiga a façanha de se atrasar.

- Realmente! - concordou o Sr. Weasley, parando de frente para a barreira. - Passem de dois em dois. Hermione e Gina vão à frente!

- Ok - as duas concordaram, e, sem se preocupar com os trouxas na plataforma, correram em direção ao muro.

Logo depois passaram Rony e Harry seguidos pelo Sr e Sra Weasley.

Rapidamente colocaram suas malas na primeira cabine vazia que viram, e embarcaram no trem. Depois que se acomodaram, ficaram um tempo em silêncio, recuperando-se da maratona, até Harry começar a falar.

- Por um momento eu pensei que não conseguiríamos...

- Por um momento? Eu só acreditei que nós havíamos conseguido quando eu pisei neste trem - Rony retrucou tirando uma mecha de cabelo que grudara na sua testa com o suor.

- Se não fosse você ter demorado uma hora no seu banho, nós não teríamos que correr tanto, Rony - Hermione ralhou.

- Se não fosse a Gina ter esquecido primeiro o seu diário, depois os livros e inacreditavelmente ter lembrado que havia esquecido a varinha quando já estávamos quase em Londres, nós certamente não teríamos nos atrasado!

Hermione e Harry seguraram a vontade de sorrir ao ver Gina ficar completamente vermelha.

- Desculpe... Tenho andado um pouco desligada.

- Você sempre foi, Gina. Sempre foi.

- Ah, Rony! Não começa! Já pedi desculpas. Agora, pára! E nós conseguimos. Estamos no trem. Já chega!

Rony fez uma careta, mas parou de implicar. Certamente estava cansado demais para manter uma nova discussão com sua irmã.

- Este trem fica tão diferente sem os seus irmãos, Rony - Harry comentou um bom tempo depois, quando já haviam saído de Londres e estavam em uma paisagem campestre.

- É verdade... Parece uma outra escola... - Gina comentou, saudosa.

Então, um barulho interrompeu os pensamentos dela. Draco Malfoy e seus capangas entraram no vagão. O coração de Gina acelerou, e ela instintivamente sorriu. Depois, parando de sorrir, lembrou-se que seu irmão estava à sua frente, e seria muito difícil explicar o porquê de tanta alegria ao ver Malfoy entrar no vagão.

Draco sentiu seu coração pulsar quase na sua garganta ao ver Gina. Não só por vê-la, mas por vê-la ao lado do Potter. Sua vontade era a de voar no pescoço dele e dizer pra nunca mais se aproximar de sua namorada, mas sabia que isso não era possível, então tratou de agir como se nada demais estivesse acontecendo e tratou de ser o Malfoy de sempre.

- Ora, ora, ora... O casal mais lindo de Hogwarts... O pobretão e a sangue-ruim!

- Malfoy... Ainda te dou um minuto pra que você saia desse vagão inteiro...- Rony retrucou, mas Draco se virou para Gina.

- E então, Weasley? Voltou para o amado Potter? - Draco falou isso com um certo rancor que não foi percebido por ninguém, a não ser por Gina que tratou de responder:

- CLARO QUE NÃO!!! - Gina quase gritou. Todos olharam pra ela. - Er... Quer dizer... Nós não estamos namorando, mas isso com certeza não é da sua conta! - tentou parecer muito chateada, porém não foi convincente.

Draco sorriu levemente, apenas com o canto da boca. Para todos, isso não passava de um deboche, mas para Gina era a confirmação de que ele havia entendido e não estava chateado, afinal ele somente sorria assim quando via Gina preterindo Harry a seu favor.

- Vamos - Draco ordenou para Crabble e Goyle, e os três se retiraram da cabine.

- Ué... Essa eu não entendi...- Rony comentou. - O Malfoy nunca sai do nosso caminho sem que algum motivo maior ocorra. Que estranho.

- Ahn... Ele deve ter ficado sem graça porque nós não demos a devida atenção a ele... Deve ter sido isso... - Gina sentiu-se na obrigação de responder.

- Também acredito que deve ter sido isso...- Hermione concordou. - Afinal, todo palhaço precisa de uma platéia. Como ele não encontrou nada aqui, resolveu sair.

Rony se deu por satisfeito e Gina suspirou aliviada. Mas se ela tivesse visto o olhar de Harry em sua direção e pudesse ver o quanto que ele estava desconfiado, com certeza não teria ficado tão tranqüila assim...

~*~*~*~

Draco ia passando de vagão em vagão sem se preocupar com quem estava neles. Nem ao menos tinha vontade de encontrar um grifinório idiota qualquer para dar um susto, apenas passava...Agradecia a Merlin por Gina não ter lhe trocado por Potter. Às vezes se punia por ser tão inseguro, mas, ao pesar mentalmente numa balança as qualidades dele e do Potter, sentia que qualquer garota preferiria o menino-que-sobreviveu. Não se sentia inferior a ele. Óbvio que não. Era Draco Malfoy, invejado por muitos e odiado por quase todos. Mas para uma garota, seria muito mais garantia ficar com o frágil, valente e romântico Potter do que com o debochado, sarcástico e complicado Draco Malfoy. E Gina, com sua grande dose de romantismo e doçura poderia achar que Harry Potter era o par perfeito pra ela, ao contrário dele.

"Os opostos se atraem, Draco Malfoy", tratou de lembrar para si. E como eram opostos...! Era tão diferentes que Draco nunca iria conseguir mudar tanto a ponto de ficar parecido com Gina e nem ela conseguiria ficar um pouco parecida com ele. E em sua opinião, isso era o mais interessante do relacionamento entre os dois. Nunca cairia numa rotina. Cada dia seria como uma prova, e se no final dele permanecessem juntos, superando todas as divergências, era como se superassem um obstáculo. Sabia que ainda tinham muitas coisas para enfrentar. No início, achara que aquele namoro não iria durar e que nunca chegaria o dia em que contaria para o seu pai que namorava uma Weasley. Agora, tinha certeza de que não era apenas um romance passageiro, fruto de um Baile de Inverno. Não pretendia terminar com ela tão cedo, e por isso já se pegava imaginando o que diria exatamente para seu pai quando fosse contar a verdade. Imaginava também quando chegasse o dia em que a Guerra iria estourar. Sim, porque era evidente que mais dia, menos dia, uma guerra estouraria e todos no mundo mágico deveriam escolher um lado para ficar, ou simplesmente se manter neutro. Draco escolheria a última opção se tivesse a chance de optar por alguma. Apesar da sua vontade enorme de lutar do lado das Trevas, unindo-se àquele que fora o Lorde de seu pai e que fornecera a imagem de temido e, conseqüentemente, respeitado a ele, havia Gina. Ela não aceitaria... Nunca iria aceitar, não importando qual fosse a condição. Por isso, preferia ficar neutro. Só que ele não tinha mais poder de escolha. Não nesse assunto. Certamente, sua escolha deveria ser entre seu pai e sua namorada, mas,  por mais que a amasse, escolheria seu pai. E seria exatamente nesse dia em que Gina lhe viraria as costas. Para sempre. Sentiu até um frio no estômago ao imaginar a cena. Já estava se preparando para passar pro outro vagão quando ouviu alguém resmungar algo. Virou-se para olhar e era Cindy, a amiga de Gina.

- O que foi? Nunca me viu antes?

- Desse jeito avoado? Creio que terei de afirmar que não...

- Avoado... Quem é que está avoado aqui?

- Você... Olhando pra lugar nenhum... Pensando... O pior é que eu sei no que você está pensando.

Draco por um momento ficou intrigado. "Teria aquela menina o poder de ler mentes?", perguntou-se. Mas seu rosto não demonstrou nenhuma reação.

- Você não sabe no que estou pensando...

- Lógico que sei... Na Dama Vermelha...

Draco demorou um ligeiro momento para decifrar o código. Dama era a fantasia que Gina utilizara na festa e vermelho se referia aos cabelos. Lógico que ela falara em Gina. Porém seus comparsas não foram tão longe. Franziram a testa, tentando entender alguma coisa, fazendo todo o esforço em vão.

- Não vou dizer nem que sim nem que não. Tem algo mais a me dizer? Tenho pressa.

- Não... Nada mais... A não ser que você se preocupa sem motivos. Não há razão para desconfiar de nada.

Draco deu sorriso tímido, porém verdadeiro, o que até assustou Cindy. Não achava que o garoto fosse capaz de tal feito.

- Vou me lembrar disso. Pode ter certeza.

Cindy sorriu de volta e Draco seguiu para outro vagão, onde finalmente se acomodou e descansou até o fim da viagem.

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Ao pisar em Hogwarts, Gina até se emocionou. Lembrou de todos os momentos que passara ali. Seu primeiro ano, exageradamente conturbado e sofrido, sendo salva pelo seu grande amor no fim do ano. Nos segundo e terceiro ano, sem chamar atenção de ninguém, ficando em seu canto e tendo como conquista apenas a amizade de Cindy Landew... A ida ao Baile com Neville enquanto poderia ter ido com Harry. E por fim... O quarto ano. Um lindo baile em uma linda noite e a companhia de um lindo garoto. Seu ego estava nas alturas, mas no outro dia descobrira que sua companhia era ninguém menos que Draco Malfoy, fazendo com que sua felicidade se esvaísse em menos de vinte e quatro horas! E por isso sofreu, chorou e tentou ignorar seus sentimentos. Ao perceber que não seria possível ignorá-los, resolvera aprisioná-los dentro de seu coração. Só que em pouco tempo descobrira que de nada adiantava todo o seu esforço, porque o amor não pode ser capturado nem preso a uma parede. Ele foge das correntes. Se o amor deseja tomar outra direção, ele o faz; e todas as prisões, guardas, correntes e obstáculos no mundo não são suficientemente fortes para detê-lo nem por um segundo. E foi assim que se rendera ao amor de Draco. Seu amor fora maior que a razão e não haveria nada que a impedisse de ser feliz com ele, já que ele também já havia demonstrado gostar tanto dela quanto ela gostava dele. E assim havia sido feliz desde então. Não tão plenamente, pois sabia que era um amor proibido e por isso o mundo não poderia saber que seu coração estava repleto de felicidade. E, mesmo em meio a seus pensamentos amorosos e felizes, Gina percebeu que Hogwarts realmente não era a mesma. E isso não se devia simplesmente a falta dos seus irmãos gêmeos.

Todos na escola pareciam tristes. Os professores, em especial Dumbledore, estavam extremamente abatidos. Ao passar os olhos pela mesa das casas, viu que o número de alunos estava reduzido, à exceção da mesa da Sonserina, que parecia intacta. Um sentimento melancólico se apoderou dela. Quantas famílias deveriam ter sofrido perdas ou até sido dizimadas neste verão? O que seria deles daqui por diante? Era evidente que a tendência era piorar. Em um movimento instantâneo, olhou para Harry. Sempre tão valente e tão corajoso, parecia perceber que a distância entre Lord Voldemort e ele estava cada vez mais estreita. Aquela guerra era basicamente entre os dois, mas muitos pagavam por essa rixa. O pior era saber que Harry não havia tomado para si essa responsabilidade. Apenas a jogaram nas suas costas e ele tivera que aprender a lidar com ela. Com apenas um ano não poderia ter feito nada de propósito. Será que Você-Sabe–Quem não via isso? Por que insistia em acabar com a vida de Harry sem medir esforços e mortes? Isso era cruel...

A apatia se evidenciou na cerimônia de seleção das Casas. Embora o número de alunos que entrasse na escola permanecesse o mesmo, ou até tivesse aumentado ("Deve ser porque os pais ainda acreditam que Hogwarts seja o lugar mais seguro para seus filhos", concluiu Gina), os novatos tinham suas expressões preocupadas. Parecia que ainda estavam ligados com o mundo fora do castelo, preocupando-se com a vida de seus familiares. Nesse momento, Gina sentiu seu estômago afundar. Enquanto pensava somente em Draco, não percebera que seus pais haviam ficado do lado de fora, sem proteção de Dumbledore, nem de ninguém, tendo só a eles mesmos como porto seguro. Como fora egoísta!!! Ela sabia do que Lord Voldemort era capaz, e mesmo assim menosprezara todos os acontecimentos apenas por pensar em Draco. Ele não deveria ter feito o mesmo... "Apesar de quê ele nem deve ter se preocupado com Você-Sabe-Quem, porque enquanto o pai dele for Comensal, nada de ruim lhe acontecerá".

"Ser Comensal tem lá suas vantagens...", Gina olhou para a mesa da Sonserina a admirou Draco por uns instantes, sem que este percebesse. "Veja o do Draco: mora em uma casa confortável, tem dinheiro, vestes e livros novos, boa aparência, é respeitado, ninguém se mete com ele, consegue tudo o que quer e não se preocupa com Você-Sabe-Quem... Enquanto nós, Weasleys, vivemos em uma casa pequena demais pra todos nós, temos que nos contentar com roupas de segunda-mão, somos humilhados pelos que podem mais e convivemos com o medo... É o preço que se paga pela honestidade!". Ao concluir seu pensamento, Gina se repudiou imediatamente. Como poderia pensar nisso? Estava contrariando todos os ensinamentos de seu pai, pensando nesse modo. Era preciso honestidade para que se pudesse viver tranqüilamente, sem medos nem angústias. Continuaria vivendo assim...

Draco percebeu que Gina o olhava e piscou o olho para ela. Gina sorriu, meio que hesitante. Não sabia o porque, mas não tinha vontade de sorrir para Draco neste momento, e logo depois abaixou a cabeça.

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Após o jantar, antes de todos se retirarem para seus dormitórios, Draco se aproximou da mesa da Grifinória. Gina não percebeu, pois estava entretida numa conversa entre ela, Rony, Hermione, Harry e Cindy. Só percebeu a presença dele quando o próprio interrompeu a conversa.

- Ei... Landew... Quero falar com você por um minuto - falou Draco, nitidamente a contragosto.

- Não está vendo que eu estou no meio de uma conversa, Malfoy? – Cindy retrucou. Era lógico que ela não perderia a chance de implicar com Draco.

- Será que vai ser preciso que eu te insulte para que você perceba que eu realmente preciso falar com você agora?

Cindy pensou por um instante.

- Não, não será necessário. Guarde seus desaforos para outro pobre coitado. Com licença... - Cindy se retirou da mesa e se afastou junto com o sonserino.

- Eu, hein! Cada vez menos eu entendo o Malfoy... De papinho com grifinórios, agora! Isso é estranho - Rony resmungou.

- Muito estranho - Harry completou olhando pra Gina, que ruborizou.

~*~*~*~

Cindy já estava em seu dormitório, quando Gina entrou.

- E então? O que o Draco queria? – Gina perguntou meio que impaciente, e se sentou na cama.

- Era pra você se encontrar com ele na sala hoje após o jantar. Mas como eu não te encontrei mais eu não consegui te dar o recado. Onde você estava?

- O QUÊ?! DRACO MARCOU UM ENCONTRO COMIGO E EU NÃO FUI??? Ah, não!!! - começou gritando, mas terminou frase com nada mais que um sussurro.

- Exatamente. Você acabou de dar um bolo no Draquito! Ele deve estar possesso! E você não me respondeu... Onde você estava?

- Ah... Eu, Harry, Mione e Rony resolvemos dar uma chegada perto da cabana do Hagrid... Para matarmos um pouco da falta que sentimos dele. Droga... Draco deve estar muito chateado...

- Chateado ele ficará ao saber que você estava junto com o Harry fora do castelo ao invés de estar com ele.

- Ai... Eu vou falar com ele! - Gina se levantou num impulso.

- Como? – Cindy respondeu tão tranqüilamente que Gina foi forçada a parar.

- Como o quê?

- Como você vai encontrar o Draco? Primeiro: está tarde. Segundo: você vai ter que burlar a proteção do Filch e da Madame Norra... E nós sabemos que você é péssima nisso. Terceiro: você só sabe que a Sonserina fica pro lado das masmorras, mas não sabe em qual delas é a entrada. Quarto: você não sabe a senha, log...

- Tá bom, tá bom! Já entendi!!! É bem capaz de você me dar mil motivos só pra eu não ir!

- Espere até amanhã. É a melhor coisa que você faz.

Gina tornou a sentar na cama, resignada.

- E agora me conta... Deu uns beijos no famoso Harry Potter???

Cindy só conseguiu parar de rir da cara que Gina havia feito quando a menina tacou um travesseiro que pegou em cheio na sua cabeça. Então, ela resolveu que o melhor a fazer era ficar quieta e ir dormir.

Gina se deitou. Sua mente borbulhava... Ela pensava em todas as situações que poderiam ocorrer no seu próximo encontro. Desde momentos tranqüilos até a pior das brigas. Sabia que não tinha feito nada demais, porém Draco era muito ciumento e cabeça-dura. Poderia se recusar a acreditar em sua versão. 

"É... Parece que essa nova temporada em Hogwarts não será das melhores", pensou Gina antes de adormecer profundamente.

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N/A 1: MILLLLLL DESCULPAS!!!!! Sei que demorei anos pra atualizar a fic! Isto não vai acontecer novamente ok? Tive alguns probleminhas mas que já foram todos solucionados. Próximo capítulo em breve!

N/A 2: Como sempre, quero agradecer pelas reviews e pedir comentários sobre esse capítulo! Beijos para todos e até a próxima!