Capítulo 15- Entre tapas e beijos
Quando Gina acordou no outro dia demorou um tanto para se acostumar. Mesmo que dormisse naquele quarto e naquela cama a cinco anos, era inevitável que sentisse um leve desconforto no primeiro dia de volta às aulas. Passado o ligeiro momento de adaptação, Gina fez tudo mecanicamente. Levantou, escovou os dentes, tomou banho e desceu para tomar café junto com Cindy. Incrivelmente só se lembrou que havia dado um bolo no Draco quando este entrou no Salão.
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Draco possuía um mau-humor característico ao acordar. Era como se o mundo tivesse de mal com ele e que nunca mais iria falar com ninguém e se fecharia no seu próprio mundo para sempre. Dirigiu-se até o banheiro e não disse uma palavra sequer a Crabbe, que havia lhe dado bom dia. Na realidade, nem havia o visto durante o percurso. Goyle se preparava para entrar no banheiro, mas Draco, num movimento pesado e cansado, empurrou o garoto para o lado e entrou na sua frente. Sentou-se no vaso sanitário com a tampa fechada e sacudiu sua cabeça molemente pra trás, até que esta batesse na parede. "M*rda, é impressionante como faço as mesmas coisas todo o dia. Inclusive as estúpidas", pensou antes de se levantar e ir lavar o rosto. Geralmente, só melhorava deste mal-humor depois de tomar um ótimo banho gelado mas nesse dia, seu humor demoraria um pouco mais para voltar ao normal.
Entrou no Salão ainda emburrado, com Crabbe e Goyle no seu encalço. Ao chegar à mesa, dirigiu-se num assento ao lado de Pansy Parkinson, que abriu um enorme sorriso.
- Bom- dia, Draco!
- Só se for pra você, Pansy. Pra mim será mais um dia péssimo nessa escola fedida.
- Que a escola é fedida, isso é verdade. Mas é óbvio que você está falando da boca para fora. Afinal, todos os dias você fala isso. Sirva-se com um pouco de leite.- falou a menina, educadamente, esticando uma jarra para ele, que aceitou.
- Receio que não, Pansy. Parece que meu dia será muito atribulado.- disse Draco, calmamente, ao terminar de desviar um olhar que Gina o lançara.
- Não importa. Conte-me como foram as suas férias!- Pansy pediu, animada.
Draco se virou para ela começou uma conversa animada, com direito a exclamações escandalosas e vários sorrisos e abraços sempre vindos de Pansy. De vez em quando, Draco lançava um olhar pelo canto de olho e pôde perceber que Gina não retirou os olhos de cima da mesa da Sonserina durante todo o café.
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Gina foi em direção à aula de Transfiguração bastante aborrecida, o que logo fora percebido por Cindy.
- O que está acontecendo, Gina? – Cindy perguntou, preocupada.
- Nada. O que te leva a crer que aconteceu algo?
- O fato de você não ter dito uma palavra sequer desde o café da manhã. É o Draco, não é?
- Não quero falar sobre isso, ok? – Gina pediu, aborrecida.
- Você sabe que assim é pior. Você vai ficar remoendo e pensando em várias coisas sendo que a grande maioria delas são as mais absurdas hipóteses. Fale comigo...
Gina resignou-se.
- É o Draco. Não me lançou nenhum daqueles olhares amorosos que ele costumava mandar, que faziam até meu estômago doer...não... desta vez, quando ele me olhava, o que foram pouquíssimas vezes, ele me mandava um olhar frio, rígido... como ele costumava me olhar a dois anos atrás. Ele está muito magoado, tenho certeza.
- Mas é lógico não é, Gina? Você não foi ao encontro dele. O primeiro depois que vocês voltaram a Hogwarts. Ele deve ter ficado muito chateado.
- Você disse que iria me ajudar e não é o que você está fazendo! – Gina exclamou, entre dentes, ao se acomodar numa das cadeiras duplas da sala de Transfiguração.
- Se mentir pra você for te ajudar, desculpe mas eu não o farei. Você precisa ver a verdade, Gina. Mesmo que tenha sido sem-querer, você errou. É sua culpa que ele está chateado. Converse com ele. Tenho certeza que tudo ficará bem.
- Você acha?
- Lógico. Não conheço o Draco tão bem a ponto de adivinhar como ele deve reagir, afinal ainda falamos daquele menino esnobe da Sonserina...
Gina sorriu.
- Você não gosta dele mesmo, né?- Gina perguntou.
- Não sou eu que tenho que gostar dele e sim você, que é a namorada. Não tenho nada contra e nada a favor. Até agora ele não se meteu comigo, por isso não posso dizer que o odeio ou coisa desse tipo.
- Você acha que eu devo falar sobre o Harry? Que eu estava com ele ontem? Sei que eu não fiz nada de errado mas tenho medo da reação dele.
- Ele tem que confiar em você, Gina. Acho que você deve falar com ele sim. Você sabe que aqui em Hogwarts tem muitos fofoqueiros, logo ele deve saber. É melhor que seja por você. E faça isso confiante, e mostre pra ele que você não fez nada errado.
- Bom!- exclamou Gina, abrindo o livro- Vamos parar de falar de mim e me fale um pouco de você... como está seu coraçãozinho?
- Procurando pela nova paixão do ano...
Gina e Cindy sorriram e levaram uma repreensão da Profª McGonagall. As duas ficaram em silêncio, pois senão começariam o ano perdendo pontos para sua casa e isso não era nada bom.
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Gina ficou a manhã inteira implorando que Cindy fosse levar um recado para Draco. Esta não queria, de maneira alguma. Mas ela não desistia. Já estavam indo em direção ao Salão Principal para almoçar quando Gina tentou mais uma vez.
- Cindyyyyyyy... por favorrrrrrrrrrrr...
- Pelo Amor de Deus, Gina!!! Por quê você não usa uma coruja?
- Já te falei mil vezes o porquê! Corujas não vêem a reação das pessoas pra depois nos contar. Eu quero que você veja como o Draco vai reagir para me contar depois. O quê que custa?
- Custa ir na mesa da Sonserina no meio do almoço!
- Você não precisa ir no meio do almoço... espere ele acabar. Por favor... Eu fico te devendo uma. – Gina fez a maior cara de "pidona" que ela poderia ter feito, o que teve algum resultado.
- Vou pensar. Não garanto nada.
- Eu amo você, sabia??? – Gina exclamou animada, sentando-se na mesa. Colin olhou de rabo de olho para ela que respondeu com uma careta.
Após o almoço, Cindy foi falar com Draco. Sabia que se não fosse Gina ficaria aborrecida com ela durante dias. Não custava nada fazer esse favor para sua amiga.
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- Está tudo certo. Encontre com o Draco após o jantar no mesmo lugar de sempre.
Gina deu um abraço animado na amiga e sorriu. Finalmente encontraria com o seu amor.
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Quando Gina chegou a sala, Draco ainda não estava lá. Já esperava por isso até porque quando ela saiu do Salão, Draco ainda se encontrava na mesa, jantando. Estava bastante ansiosa e nervosa por esse encontro. Durante todo o jantar, Draco manteve a atitude que havia tomado durante o café. Não olhou para Gina em um minuto sequer, mas não parecia triste. Conversava alegremente com Pansy e suas amigas, parando por alguns momentos para que pudesse comer.
Gina caminhou até a janela e a abriu. Era fim de verão mas o tempo estava fechado. Via-se o brilho da lua por detrás das nuvens no céu, mas não conseguia vê-la. Gina permaneceu um bom tempo olhando para o céu mas Draco ainda não havia chegado. Quando já começava a achar que ele iria revidar o bolo que ela havia lhe dado na noite anterior, Draco apareceu na porta.
- Draco... – Gina murmurou e saiu correndo em direção dele para lhe dar um abraço, que não foi retribuído.- Que foi? Não está com saudades?
- Eu estava com saudades sim, mas você não parece ter sentido o mesmo não é?
- Ah... você está assim por ontem... Acredite, não foi minha culpa! Quando Cindy me deu o recado já estava bem tarde e você com certeza não estava mais aqui... Me desculpe.
- Como é que é? Aquela trouxa não te deu o recado? – Draco falou com seu habitual tom inquisidor.
- Bom... ela não me deu o recado porque não me encontrou para dá-lo.
- Como assim?- Draco se afastou e cruzou os braços.- Onde você estava até tarde, Gina?
- É que... você sabe... Hagrid morreu nesse verão e eu sinto bastante falta dele. Então, ontem, após o jantar, surgiu o nome dele no meio da nossa conversa e nós resolvemos ir perto da cabana dele pra ver como estava e matar um pouco da saudade que sentimos dele... só isso, eu juro!
- Ah...- isso saiu quase como um prolongamento dos pensamentos do Draco, que ficou por um momento parado, como se pensasse. Depois, voltou seu olhar para Gina.- Você pode me dizer a quem você se refere ao dizer "nós" ?
Gina ficou vermelha e gaguejou por um momento.
- Eu, Hermione, Rony e... e Harry.
- Então me deixe ver se eu entendi bem. Na primeira noite que estamos em Hogwarts, você sabia que nós deveríamos nos encontrar, o que era natural, afinal nós ficamos um bom tempo separados. Mas você prefere sair à noite do castelo, ir para os jardins, junto com Hermione e Rony, que são namorados e com Harry, seu ex-namorado e que você sempre amou... enquanto eu estava te esperando aqui... interessante.
- Você está distorcendo as coisas...- Gina já falava com um tom choroso.
- Eu não estou distorcendo nada, apenas repeti o que você havia contado.
- Não é bem assim! Você está com ciúmes de algo que nem aconteceu, Draco! Você precisa parar de desconfiar de mim. Não te dei provas o suficiente de que amo você?
Essas duas últimas palavras fizeram Draco sentir um aperto no peito. Ela novamente estava dizendo que o amava e era tão bom de se escutar... Sabia que poderia estar exagerando, mas não daria o braço a torcer tão rápido.
- Hein, Draco? Responde! Você sempre está com ciúmes do Harry por causa de uma coisa que aconteceu no ano passado e eu mesmo já te disse que quando eu namorava com ele eu já gostava de você. Pra que essa cisma toda? Por quê você não confia em mim??? Por quê?- Draco teve a impressão de que essa última pergunta de Gina era mais como uma súplica do que como uma indagação.
- Eu confio em você, mas você tem que concordar que ter me deixado plantado aqui nesta sala pra ficar andando com o Potter pelos jardins não foi uma atitude muito bonita, não é? E se eu tivesse te dado um bolo pra ficar dando voltas fora do castelo com a Pansy? Você iria gostar?
- Não... não iria. E é por isso que eu te peço desculpas. E se eu tivesse recebido o recado antes de ter saído do castelo, com certeza, não teria ido. Eu nunca faria isso, Draco. Acredite em mim... por favor...- Gina pediu, suplicante e com os olhos já marejados. Se Gina começasse a chorar, Draco nunca iria saber o que fazer. Não tinha uma boa relação com nenhuma pessoa que estivesse chorando, muito menos uma garota. Pior ainda, se fosse sua namorada. Então, concordou levemente com a cabeça e abraçou Gina. A menina, como se estivesse com medo de perder seu namorado para sempre, o abraçou fortemente e afundou a cabeça nos seus ombros. Queria senti-lo ali, junto dela, pra ter certeza que não era um sonho e que era realmente nos braços de Draco que ela estava.
- Você me desculpa?- Gina perguntou, ainda abraçada a ele.
- Não...
- NÃO?!?!?!- Gina pareceu nervosa, com certeza não esperava essa resposta.
- Lógico que não. Onde já se viu uma namorada que está sozinha no mesmo recinto que o seu namorado durante meia hora e nem deu um beijinho sequer nele? Inadmissível!
- Bobo...- Gina ainda murmurou antes de dar um beijo no seu namorado.
O beijo entre eles pareceu evidenciar o quanto se amavam. Era um beijo que demonstrava todos os sentimentos apaixonados que tinham. O quanto sentiam falta dos encontros noturnos, o quanto que estavam intimamente ligados, o quanto que sofriam quando estavam longe e se sentiam extremamente solitários. Era como se a felicidade de um se resumia em estar perto do outro.
O beijo que começara lento, ia se intensificando cada vez mais. Draco puxou Gina mais pra perto de si, encostando cada parte do seu corpo no dela. Colocou a mão na parte de trás da cabeça da sua namorada, emaranhando seus cabelos e puxando-os levemente, de vez em quando. Gina, por sua vez, mantinha uma mão na cintura de Draco e outra em suas costas, mas estas não ficavam paradas. No mesmo ritmo que Draco movia sua mão em seus cabelos, ela movia sua mão pelas suas costas e quando ele puxava de leve seus cabelos, ela pressionava suas mãos contra ele. Num momento, Draco percebeu que Gina precisava de um pouco de ar, mas não queria parar com o momento que estavam tendo, então, ele prosseguiu beijando suas bochechas, até chegar ao seu pescoço, onde permaneceu um tempo considerável. A menina, largou o pescoço molemente para o lado e subiu a mão para a cabeça de Draco. De vez em quando, beijava desordenadamente o rosto do loiro. Voltou à razão quando Draco ameaçou afastar um pouco a blusa da menina para prosseguir beijando-a. Gina o afastou. Ele sorriu, debochando.
- Você é má... muito má...
- Eu só sou sensata.
- Sensata e má! Acha justo me deixar nesse estado? – Draco falou meio que sorrindo. Gina sorriu também.
- O que você queria??
- Você realmente quer que eu diga o que eu queria? Cuidado... você vai ficar tãoooo vermelha...
- Draco! – Gina repreendeu, rindo, mas já estava vermelha.
- Tá vendo! Eu nem falei e você já está assim... tsc, tsc.
- Ah...qualquer coisa eu já fico vermelha. Eu queria entender como você, mesmo sendo branquinho assim que nem eu, nunca fica ruborizado.
- Eu tenho autocontrole. Só isso.
- Não pareceu que você tinha esse controle todo sobre si há alguns minutos atrás...
- Ter, eu tinha... a questão é que eu não queria me controlar. É bem diferente...
Draco se aproximou novamente de Gina, colocando os braços em volta de sua cintura.
- Se eu for na sua onda eu estou perdida...- disse Gina antes de dar outro beijo em Draco, tão ou mais intenso que o anterior.
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Draco estava deitado em sua cama pensando em Gina. O relacionamento entre os dois estava cada vez mais profundo. Se há um tempo atrás nunca havia imaginado nem conversar com uma Weasley, hoje já pensava coisas que certamente deixariam os pais dela de cabelos em pé. No entanto, sabia que seu sentimento em relação a ela não era puramente carnal. Na realidade, achava que esse interesse físico que vinha aumentando entre os dois era apenas resultado do quanto gostavam e necessitavam um do outro. Saber se amava ou não Gina ainda martelava em sua cabeça. Ela já havia dito que o amava e com convicção e embora achasse que sentia o mesmo com relação a ela, não conseguia admitir. Não fora esse tipo de educação que havia recebido e muito menos um dos conceitos que havia adquirido durante todos esses anos. Não poderia amar... Ela que teria que amá-lo. Muitos morrem por amor, por serem fracos para tomar certas atitudes ou por serem dependentes do seu companheiro. Isso poderia acontecer com ele se realmente admitisse que a amava. Prenderia-se a ela justamente em uma época que não poderia se ligar a ninguém. Já havia recebido alguns contatos de Voldemort. Sua hora estava chegando... apresentaria-se e lutaria a favor do lado das Trevas. Como poderia fazer isso se amasse Gina? Como poderia lutar contra toda a família da pessoa que ele ama, sabendo que ela sofreria com isso? Como poderia contar a ela que ele não é bonzinho sabendo que ela terminaria com ele? Isso não poderia acontecer. Não poderia amar Gina Weasley. Mas tinha claro em sua cabeça que não poderia mais se separar dela. Era mais forte do que ele. Poderia se enganar agora, dizendo que iria terminar o namoro mas só precisaria de um sorriso dela dado em sua direção para que ele desistisse. Estava entre a cruz e a espada. Não sabia o que fazer. Precisava pensar.
E pela primeira vez, alguém tirou o sono de Draco Malfoy.
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N/A 1: Num determinado momento, Cindy cita: Pelo amor de Deus. Sei que em algumas passagens no livro, tem o nome de Deus citado, porém isso não é um assunto muito bem resolvido. Por isso, trato de lembrar que Cindy é filha de trouxas, logo ela foi criada escutando essa expressão e poderia utilizá-la.
N/A 2: Tipo... eu não sou sertaneja não, mas "Entre tapas e beijos" foi o único nome que eu achei pra esse capítulo! Hehe...
N/A 3: Peço mil desculpas (mais uma vez! :-P ) pela demora na atualização deste cap. Continuei tendo problemas pra publicá-lo. Mas já deixo claro que não sofro de "bloqueio" e que até já tenho os próximos 4 capítulos prontos, só que eles precisam ser betados. Minha beta tbm anda passando por dificuldades, isso ajudou na demora na atualização. A propósito, este cap ainda não foi betado, portanto pode sofrer pequenas atualizações futuras mas nda q interfira na condução da fic. Mas qdo mudar eu aviso ok? E recado: Pri... volte logo!
N/A 4: Obrigada por todas as reviews!!!! E mande o que vocês acharam desse capítulo ok? Êta!!! A coisa tá esquentando... onde será que isso vai parar??? Nos vemos no próximo cap!
