Capítulo 22 - Baile na Mansão
Havia se passado mais de seis meses desde que haviam explicitado o namoro.
Agora, estavam juntos há mais de um ano e dois meses, e a normalidade se restabelecera. A muito custo, todos haviam se acostumado com o inusitado casal, e já não implicavam mais, embora vários ainda torcessem o nariz, porém mesmo assim nada diziam. Contrariando a previsão feita por Narcisa Malfoy, passado esse momento tortuoso, o amor entre eles ficara ainda mais forte e ambos sabiam, agora, que poderiam contar um com o outro não importando qual fosse a condição.
Gina estava uma pilha de nervos. A aproximação dos N.O.M.s, que seriam realizados no final do mês, já era o suficiente para deixar qualquer um apavorado. Porém, além disso, recebera uma notícia que a havia deixado praticamente sem cabelos: seus 'sogros' dariam um baile no início de Julho. Lógico que ela fora convidada. Aliás, havia sido convidada para passar uma semana na famosa mansão Malfoy. Gina sabia que isso tinha relação com o convite que seus pais haviam feito. Sr. Weasley, preocupado em conhecer mais o genro, o chamara para passar uma semana na Toca.
Provavelmente, os Malfoys não quiseram ficar atrás, e chamaram Gina pra se hospedar em sua casa uma semana antes do baile. Agora tinha de se preocupar com milhares de coisas. Ficaria no mesmo recinto que Lúcio Malfoy, o principal responsável por tê-la feito sofrer no seu primeiro ano; conheceria os pais do seu namorado de um modo mais profundo; iria para uma mansão, onde certamente havia vários hábitos e ordens às quais não estava acostumada; e ainda havia o bendito baile. Como se portar, agir e o pior, o que vestir. Praticamente agradeceu aos céus, pois as aulas haviam acabado sem que ela tivesse cometido nenhuma tentativa de suicídio (ou homicídio) e agora, felizmente poderia passar uma semana em casa antes de ir para a do namorado.
A semana passou muito rápido, como num piscar de olhos. Logo, Gina via-se na Estação King's Cross, esperando pelo namorado, que em breve apareceria para buscá-la. Pontualmente, às dezesseis horas, Draco apareceu na estação. Deu um beijo leve na testa da namorada e cumprimentou os 'sogros' cordialmente. Limitou-se a olhar para Rony, sem cumprimentá-lo.
- Bom... Acho que nós já fizemos todas as recomendações a nossa filhinha, não é, Molly? - comentou o Sr. Arthur.
- Sim, querido... - choramingou a mãe. - Comporte-se, hein, querida? E, você - disse virando-se para Draco. - Cuide bem da minha filhinha...
- Não precisa se preocupar quanto a isso, Sra. Weasley - Draco disse, seco.
- Ele sabe que precisa tratar bem a Gina, não é, Malfoy? Nós já conversamos sobre isso... - Rony entrou na conversa. Ele e Draco se encararam, e o loiro cerrou os olhos. Sem querer, apertou a mão de Gina, na tentativa de conter seu ímpeto de responder algo mais agressivo e causar uma confusão ali mesmo.
- Que história é essa? - Gina perguntou.
- Algum devaneio do seu irmão, eu suponho. Não me lembro de ter conversado com você, Weasley... - respondeu, controlando-se.
Rony soltou apenas um muxoxo.
- Está na hora de irmos, Gina. Se demorarmos muito aqui, poderemos chegar atrasados para o chá que minha mãe preparou pra você - Draco disse, ainda olhando de um modo ameaçador para Rony.
- Está certo - Gina correu e abraçou seus pais, depois seu irmão.
- Como vocês vão? - Sra. Weasley perguntou, enquanto Draco pedia para que um empregado seu pegasse a mala de Gina.
- O meu carro está parado lá fora - respondeu com tédio.
- Seu pai está lá? Gostaria de dizer-lhe uma palavra - perguntou o Sr. Weasley, meio receoso, como se não tivesse certeza do que estava dizendo.
- Não. Vim sozinho - Draco demonstrava-se cansado das perguntas. Não gostava de ser indagado. - Quer dizer, vim junto com o Sr. Andrews, além do motorista, do qual não lembro o nome. Mais alguma pergunta? - perguntou, displicentemente. Gina pigarreou, sinalizando pra que seus pais não dissessem mais nada. Depois se voltou para Draco.
- Vamos, querido? - disse, com um sorriso torto nos lábios e os dois saíram da Estação. Já no carro, ela se demonstrava aborrecida.
- Que foi, Gina? - Draco perguntou, fitando a namorada que parecia bastante interessada na paisagem.
- Nada. Mais alguma pergunta? - perguntou, irônica.
Draco iria retrucar, mas percebeu que o Sr. Andrews, seu criado particular, mantinha os olhos na conversa. Mandou então que o criado fechasse o vidro entre os bancos traseiros e dianteiros. Ele obedeceu prontamente.
- Então... Está chateada comigo? - perguntou, quando já tinham privacidade.
- Não. Você trata meus pais secamente e eu morro de alegria por isso...!
- Você está se tornando bastante irônica, sabia?
- É a convivência - respondeu, mantendo o olhar para o lado de fora.
Draco aproximou-se da namorada, e passou o braço pelas costas dela.
- Olhe pra mim, Gina.
Ela hesitou por alguns segundos, sabendo que nunca conseguiria se manter com raiva dele enquanto o olhasse tão perto. Mas se virou.
- O que quer? - perguntou, tentando parecer chateada, mas seu olhar estava preso nos lábios dele.
- Quero dizer que eu não tratei mal os seus pais de propósito. Você sabe, não somos íntimos, e era a primeira vez que eu falava com eles sendo os pais da minha namorada. Se para mulheres isso já é difícil, imagine para nós, homens... Ainda mais com um irmão abrutalhado, doido pra partir o seu pescoço.
Gina sorriu e beijou-lhe levemente os lábios. Quando ia se virar pra ver a paisagem novamente, Draco virou o rosto dela para si. Estavam mais próximos do que estavam há um segundo atrás. Ele começou a roçar os lábios nos dela, fazendo com que ela morresse de vontade de ser beijada. Abria seus lábios para que Draco os possuísse, mas ele, deliberadamente, os ignorava. Ela colocou as mãos na nuca do namorado, e forçou-o a abaixar a cabeça, como última tentativa pra que ele a beijasse, pondo fim àquele tormento. Desta vez, Draco não recusou e beijou-a fervorosamente. Era um beijo terno e apaixonado, mas também continha malícia. Beijaram-se durante um longo tempo, até que enfim, mataram a saudade, que parecia interminável.
- Estava morrendo de saudades de você, sabia? - ele sussurrou no ouvido dela, fazendo-a se arrepiar.
- Eu também.
Gina ficou um tempo em silêncio, olhando as casas, que aumentavam gradativamente a cada esquina ultrapassada.
- Eu nunca perguntei onde você mora... - ela comentou, sem olhar para ele.
- Moro em Wiltshire. Aqui em Londres mesmo. Conhece? - perguntou. Gina olhou pra ele com uma expressão meio abobalhada e um pouco apreensiva.
- Lógico que conheço. Mas eu achava que lá fosse uma cidade de trouxas.
- E é. Mas existem algumas ruas utilizadas especialmente por bruxos, enfeitiçadas, assim como Hogsmeade, Hogwarts e outras casas que ficam em meio às dos trouxas. Mas o lugar onde moro, poderíamos dizer que é um bairro dentro de um bairro, entende? Ali só moram bruxos.
- Ah... Agora me lembro. Papai comentou sobre isso alguma vez. Disse que é preciso ter muito dinheiro pra ter alguma propriedade ali e que só tem mansões... É verdade? - perguntou, curiosa.
- Não sei... Espere que já estamos chegando. Aí você tira suas próprias conclusões...
Mas Gina já previa qual seria sua conclusão. As casas apenas ficavam maiores, e algumas delas tinham um jardim tão grande que não se conseguia ver nitidamente uma pessoa parada à porta da casa. Imaginava então como deveria ser esse tal 'bairro de bruxos' em Wiltshire. Sinceramente, não havia imaginado que Draco morasse num lugar tão... Civilizado. De todas as histórias que contavam sobre os Malfoys, o único fato que sempre se repetia era que moravam numa casa no topo de uma montanha, que se parecia com uma prisão, escura e cheia de masmorras. Entretanto, pelo aspecto das casas dali, já via como as pessoas estavam erradas, a começar pelo fato de que não havia montanha nenhuma, nem ao menos uma casa escura.
Acordou de seus devaneios quando Draco murmurou.
- Entramos no nosso 'bairro'.
Gina viu a rua pela qual passavam se alargar, apertando as casas trouxas à beira da pista, fazendo-as pular para os lados, por meio de mágica. À medida que entravam, as casas trouxas pulavam cada vez mais à distância, até serem pontinhos saltitantes lá trás.
A boca de Gina caiu. As ruas, largas, eram excessivamente limpas. Agora, sem exceção, não havia uma casa sem um grande jardim. Eram localidades tão grandes que ela imaginou que fosse preciso ir de carro até a casa do vizinho para pedir um pouco de açúcar, quando faltasse. "Mas é claro, nunca deve faltar nada na casa deles", pensou logo depois, consertando seu pensamento. Diferentemente das casas habituais da Inglaterra, essas possuíam muros, com grandes portões, escondendo os grandes jardins. Só não escondiam as casas porque isso era fisicamente impossível. Havia árvores altíssimas, profissionalmente podadas, dando um toque saudável, além dos pequenos arbustos ao redor de várias das propriedades. A maioria das casas era branca ou de alguma cor clara, dando um aspecto ainda mais imponente a todas elas.
- Aqui mora Cornélio Fudge, Ministro da Magia - quando Draco falou, Gina até se assustou. Estava tão perdida, olhando todas aquelas mansões, que até se esquecera que havia alguém ao seu lado. – Ali, logo adiante, é a casa dos Bones. E aquela ali é a minha - apontou, logo que a mesma entrou no campo de visão.
Se ela já estava temerosa quanto à semana que iria se seguir, nada se comparou ao que sentiu quando viu a casa de Draco.
Um muro branco, muito alto, circundava a casa. No topo, uma planta parecia brotar de dentro dele. As grades do portão, pretas, terminavam em flechas; ornamentadas por dois reluzentes puxadores de ouro, cada um em forma de "M". Eram grandes, mas a espessura fina das letras os tornava discretos, dando um toque final, causando a impressão de que se não estivessem ali, o portão não seria tão belo.
Então, este se abriu, e o carro entrou. Gina contemplou o imenso jardim: árvores bem tratadas, que não conseguiu identificar de qual tipo eram; além de pequenos arbustos e centenas de flores diferentes, organizadas cuidadosamente. Um quadro vivo, dando também um aroma especial àquele lugar. Parecia um outro mundo, e que não havia nada ao redor. Algumas estátuas, em mármore branco, jaziam ao longo do caminho que percorriam.
Em um momento, o pequeno caminho que seguiam, bifurcou-se, dando a volta em um jardim à parte, localizado em direção ao centro da mansão e de sua porta principal. Esse jardim, circular, possuía um imenso chafariz, e ao seu redor, mais flores de vários tipos. Gina se preparava para perguntar sobre elas, mas Draco, parecendo que lia seu pensamento, falou.
- Minha mãe cuida pessoalmente das flores. Possui uma paixão arrebatadora por elas. Quer agradá-la? Dê uma flor de presente. É isso que papai faz todos os anos no aniversário dela. Cada ano é uma muda de uma planta exótica ou rara.
Gina deu um leve sorriso. Ainda estava em transe com o que estava vendo. O carro parou de frente para a mansão, e o empregado, que ela reconheceu como sendo o Sr. Andrews, ofereceu-lhe a mão, para que descesse.
Ela parou de frente para a mansão e agora podia analisá-la. A cor predominante da parte frontal da mansão era branca, porém o resto do lugar tinha apenas as janelas e sacadas adornadas nesse tom; sendo a maior parte das paredes feita de lajotas retangulares de pedra. O telhado, cinza e em formato piramidal, possuía algumas chaminés, e de uma olhada rápida, ela não conseguiria dizer quantas janelas tinha na mansão. Ao contrário do que imaginara, a entrada não tinha uma imensa escadaria, e sim apenas cinco degraus, que davam acesso a uma porta em forma de arco e - também ao contrário do que imaginara - de tamanho normal, mas de uma beleza rebuscada. Gina sentiu quando Draco tocou de leve em seu braço, fazendo com que ela se movesse e entrasse na casa.
E entrou.
Agora estava no interior da mansão, em um hall circular, de paredes e piso brancos. No centro dele, havia uma elevação em forma circular, todo de mármore perfeitamente polido, variando em tons de cinza, de onde saía uma escada espiral. Seus corrimões eram dourados ("Provavelmente ouro", pensou), e os degraus eram feitos do mesmo mármore cinzento, coberto por um carpete de veludo com desenhos de arabescos em tons contrastantes de bege e preto. Gina olhou para o chão onde pisava: era na parte de mármore branco; brilhava tanto que, se fizesse esforço, talvez conseguisse ver seu próprio reflexo nele.
- Mamãe? - Draco chamou, não muito alto. Pouco tempo depois, Gina ouviu um barulho de salto, e logo em seguida, Narcisa Malfoy apareceu em uma das portas do lado direito do hall.
Havia um sorriso em seu rosto muito parecido com o de Draco, um sorriso que não se estendia ao olhar. E a despeito disso, mantinha uma expressão estranha, como se algo estivesse errado. Estava em vestes azul turquesa, que realçava a cor dos olhos; e mesmo sem conseguir ver a sandália, Gina poderia jurar que era altíssima, pelo barulho do salto. Seus cabelos, presos em um rabo de cavalo baixo, parecia ter sido feito de qualquer jeito, dando-lhe um ar descontraído, mas Gina sabia que aquilo era um penteado e provavelmente deveria ter ser o resultado de um bom tempo na frente do espelho. Usava ainda um colar belíssimo, um daqueles que a ruiva só vira em revistas.
- Que bom que vocês chegaram - disse numa voz calma e levemente arrastada. "Todos aqui falam do mesmo jeito. Acho que é a convivência", pensou Gina. - Estava ficando preocupada. Pensei que não chegariam para o chá.
- Nunca faríamos isso, mãe. Só se tivesse acontecido algum imprevisto. Bom, vamos às apresentações: mãe, essa é a minha namorada, Gina Weasley. Gina, essa é minha mãe, Narcisa Malfoy.
- Muito prazer, Sra. Malfoy - Gina falou, esticando a mão. Narcisa olhou rapidamente para mão da menina antes de apertá-la. Em seguida, a olhou da cabeça aos pés, como se a avaliasse. Quando o seu olhar se encontrou com o da ruiva, ela sorriu. O mesmo sorriso de antes, vazio. Gina corou furiosamente, fazendo com que Narcisa fizesse uma leve expressão de desagrado, quase imperceptível, sendo reparada apenas pelo filho.
- Satisfeita em conhecê-la, Srta. Weasley - disse, cordial.
- Por favor, me chame de Gina. É assim que todos os meus amigos e parentes me chamam.
- Ah, sim... Gina... Pois bem, vamos até a sala para tomarmos nosso chá. Aposto que devem estar cansados. Por aqui.
Narcisa terminou de falar e se virou, voltando a entrar pela porta de onde saíra. Gina e Draco a seguiram. Havia um pequeno corredor, com alguns quadros, que a ruiva nem olhou. Estava mais preocupada com o chá.
Chegaram até uma sala belíssima. Tinha uma vista direta para o jardim, através de grandes portas de vidro que iam até o chão. Possuía um tom canela que dava um toque acolhedor. Uma mesinha de vidro, com quatro cadeiras, eram vistas logo de frente. Mais atrás, dois sofás, um de três lugares e outro de dois, perto da janela. E uma planta cujas folhas compridas caíam em volta do vaso, num canto, perto da parede.
Sentaram-se para tomar o chá, que um empregado havia trazido. Na mesa, que mais parecia de café da manhã, tinha tudo: pães, bolos, frios e, é claro, chá, de diversos sabores.
Narcisa foi a primeira a quebrar o silêncio.
- Conte-me sobre sua família, Gina. Onde você mora? - perguntou Narcisa, ao pousar a xícara no pires.
- Moro em Ottery St. Catchpole, com meus pais, Arthur e Molly. E meus seis irmãos: Gui, Carlinhos, Percy, Fred, Jorge e Rony.
Narcisa levantou uma sobrancelha.
- Seis irmãos? Nossa...! Eu, com duas, já ficava louca, imagine com seis - todos sorriram.
- De vez em quando eu também enlouqueço - eles riram e deram uma pausa. Gina então, comentou olhando paro namorado. - Draco nunca havia mencionado que tinha tias...
- Bom... É porque ele nunca teve contato com elas. - disse, simplesmente. Gina não se atreveu a perguntar o por quê.
- Você está no quinto ano? - Narcisa reiniciou o assunto. Gina assentiu com a cabeça. Da Grifinória? - Gina não quis assentir com a cabeça porque queria manter a todo custo um diálogo, já que tinha de causar boa impressão, por isso respondeu:
- Sim, senhora. Sou grifinória.
- E como todos reagiram quando souberam de seu namoro com um sonserino?
- Eles ficaram bastante chateados, tivemos que enfrentar muita pressão, mas agora todos se acostumaram.
- Então, quer dizer que todos em Hogwarts já aceitam o namoro entre vocês... Há quanto tempo isso aconteceu? - Narcisa levou a xícara à boca, disfarçando o descontentamento com a notícia.
- Cerca de três meses para cá... Faz mais ou menos esse tempo que nós não temos mais sido alvo de piadinhas, não é, Draco? - ele concordou.
- Entendo - Narcisa respondeu, unicamente.
Conversaram sobre amenidades durante o resto do chá.
...
- Eu sugiro que você, Gina, vá até seus aposentos e familiarize-se com ele, afinal, é onde ficará por uma semana, não é? Fique lá o tempo que quiser, contanto que esteja aqui em baixo às sete horas, que é a hora em que Lúcio chega do trabalho, certo?
- Sim, senhora.
Narcisa bateu palmas. Uma elfa apareceu de curiosos olhos verdes apareceu, fazendo uma típica reverência exagerada.
- Blinkie, leve a jovem até seus aposentos.
A elfa assentiu, e saiu caminhando na frente de Gina, que a seguiu. Draco foi atrás da namorada.
- E então? O que achou da minha mãe?
- Simpática. Mais fácil do que eu imaginava, tenho que lhe dizer. E você? O que achou de mim? Acha que fui aprovada?
- Você estava perfeita - ele disse, passando a mão pela cintura dela.
- Draco... Você tem algum conselho pra me dar pra quando seu pai estiver em casa?
- Só um: nunca, em hipótese alguma, fale durante o jantar. Se você estiver passando mal, morra na mesa, mas não abra a boca pra dizer que não está se sentindo bem.
- Assim você me apavora - disse com os olhos arregalados.
- Certo, eu exagerei um pouco, mas é sério. Não fale durante o jantar. E não saia da mesa antes dos meus pais. Pode estar sem fome alguma, mas disfarce, coma alguma coisa, e permaneça na mesa. A hora da refeição para eles é sagrada.
- Estou vendo.
- Senhorita... Este é seu quarto. Se precisar chamar Kilt, bata palmas, e Kilt vem - Gina se virou para a elfa.
- Kilt? Seu nome não é Blinkie?
A elfa apenas choramingou. Draco sussurrou no ouvido de Gina.
- Mamãe não sabe o nome de nenhum elfo...
Gina abriu a boca para falar algo, mas nada disse. Apenas se despediu de Draco e da elfa, que fez reverência antes de sumir, e entrou em seu quarto.
Não poderia dizer que se surpreendeu ao ver seu quarto. Não... Isso seria tolice depois de tudo que já vira. O que sentiu foi algo como se tivesse voltado à idade de sete anos, na época do Natal, ganhando um presente que almejou durante todo o ano. Era assim que estava se sentindo.
Aquele quarto era maior do que o seu e o de Rony juntos. Tinha uma cama de casal ao centro, com duas mesinhas de cabeceira, uma de cada lado, e uma poltrona extremamente macia ao lado da janela, cujas cortinas eram duplas: a parte de baixo era branca e a de cima cor de canela. Atrás da poltrona, uma planta igual à da sala em que tomaram chá. Havia ainda uma escrivaninha de madeira rica em detalhes, parecida com os móveis utilizados no século passado; uma penteadeira no mesmo estilo, sobre o qual havia um grande espelho; e alguns quadros com temas florais e de paisagens.
Foi quando viu uma porta no canto de uma parede, a mesma em que a cabeceira de sua cama estava encostada. Seguiu até lá e sua alegria aumentou ainda mais: era um banheiro! E só para ela!!! Tinha tudo que nunca havia pensado em ter só para si: uma banheira; um box para banho de chuveiro, caso dispensasse a banheira; vários tipos diferentes de caríssimas poções para cabelos, rosto e corpo; toalhas felpudas, tão macias, que Gina poderia ficar com o rosto afundado ali durante horas e não se preocupar. Do outro lado do banheiro, uma outra passagem. Foi até lá para ver o que mais a esperava, e deu de cara com um closet. Não era muito grande, mas ali estavam algumas peças de roupa, que com certeza, não eram de Gina. Nunca, em sua vida, teve tanto dinheiro em suas mãos para comprar nem uma blusa que estava ali dentro. Não sabendo o que fazer com aquelas roupas, começou a arrumar as suas no closet e, depois, chamaria Kilt para perguntar-lhe sobre isto.
Depois de arrumar as suas roupas, tomou um banho demorado na banheira, divertindo-se com as bolhas, e usando um pouco das poções que ali estavam. Quando acabou, vestiu uma de suas roupas e voltou para o quarto. Já ia bater palmas, quando escutou alguém bater suavemente na porta.
- Gina? Posso entrar? - era Narcisa. Gina sentiu seu estômago afundar. Primeiro, porque estaria sozinha com ela pela primeira vez. Segundo, porque se entrasse no banheiro, veria que usara as poções dela. Terceiro, porque ainda nem havia penteado seu cabelo e achava que não estava tão preparada para recebê-la com os cabelos caindo no rosto. Pegou a primeira presilha que viu pela frente, prendeu o cabelo num coque e abriu a porta.
Narcisa sorria inexpressivamente quando entrou no quarto. Virou-se para Gina e falou:
- Só vim ver pessoalmente se você estava bem instalada aqui. Gostou do quarto? Prefere ver algum outro? - perguntou, demonstrando um certo interesse. E isso soava estranho para Gina. Havia algo de errado.
- Não, senhora. Este quarto está ótimo - respondeu com sinceridade.
- Tem certeza? Temos muitos outros quartos aqui. Eu, particularmente, prefiro esse. Depois do meu, é claro - deu um sorrisinho, o qual Gina acompanhou.
- Tenho certeza sim. Este quarto é belíssimo.
- Que bom que gostou. Bom, já vou indo, para deixá-la à vontade - Narcisa começou a caminhar pra porta, quando Gina retornou a falar:
- Senhora... Ahn... Tem algumas roupas no armário... E eu gostaria de saber o que eu faço com elas... – perguntou timidamente, olhando para seus pés. Por mais que a Sra. Malfoy a deixasse à vontade, Gina sempre estaria receosa ao lhe dirigir a palavra. Narcisa permaneceu um tempo de costas e depois se virou para a ruiva.
- Essas roupas eu deixo no closet, para alguma casualidade. Se por algum motivo, eu tiver que hospedar alguém que não trouxe roupas suficientes, já tem o que usar. Mas, infelizmente, isso ainda não aconteceu, portanto aquelas roupas estão novas. Se você quiser usá-las... Não tem problema algum. Caso não sejam do seu tamanho, peça que Gilly, o elfo que está a seu dispor, conserte-as - Gina teve vontade de dizer pra ela que o nome do elfo não era Blinkie, muito menos Gilly, e sim Kilt, mas mordeu a língua a tempo. - Isso serve também para qualquer coisa que esteja neste aposento. Pode usar o que quiser.
Gina concordou com a cabeça. Narcisa deu um último sorrisinho e se retirou do quarto.
Assim que a porta fechou, a ruiva se jogou na cama para descansar um pouco. Afinal, em poucas horas, encontraria Lúcio Malfoy.
*~*~*~*~*
Para evitar que Gina se atrasasse e algum mal-estar se instalasse pela casa, Draco bateu na porta do quarto dela às seis e meia. Gina saiu logo em seguida, já completamente arrumada. Não colocara uma roupa da Sra. Malfoy, e sim sua melhor roupa, apesar de saber que isso, para os Malfoys, ainda significava pouco.
Desceram juntos e foram até a sala de estar, que era belíssima, como todo o resto da casa. Foi o que fez Gina comentar:
- Sua casa é tão bem arrumada... Quem cuida da decoração?
- Minha mãe - Draco respondeu sem entusiasmo. - Ela cuida de tudo que é relacionado à casa. Às vezes, cisma de contratar algum decorador, mas sempre odeia tudo o que ele sugere e meu pai o demite - Gina sabia que isso era uma maldade, mas não pôde deixar de sorrir enquanto Draco falava. - Então ela acaba fazendo tudo sozinha mesmo. Uma vez por mês, pelo menos, inventa de mudar alguma coisa... Isso não me irrita, contanto que ela não toque no meu quarto - Gina sorriu novamente.
- Sua mãe tem um bom gosto imenso - Draco concordou com a cabeça e segurou a mão da namorada.
- Chega de falar dos meus pais. Vamos falar de nós - ele passou a mão por uma mecha dos cabelos dela. - Estou muito feliz por ter você aqui em casa. Por ter você aqui... Como minha namorada.
- Eu também estou muito feliz - Gina fez uma carinha manhosa. - Eu amo você.
- Eu também - Draco disse e se abraçaram. Trocaram um beijo terno, repleto de carinho e amor. Tanto que ficaram acariciando o rosto e os cabelos um do outro, como se fizesse um 'reconhecimento'; sabendo que assim, deixariam para sempre seu toque marcado na pele e na mente do outro. Draco podia sentir o toque leve de Gina contra sua pele, lhe arrepiado. De repente, um medo de perdê-la tomou conta de si. Flashes estranhos passaram em sua mente. Imaginava como ele ficaria se algum dia aquilo acabasse; se algum dia ficaria sem aqueles doces toques que incendiavam seu coração; se um dia deixaria de escutá-la dizendo 'eu te amo'. Draco não sabia muito bem o porquê, mas só o fato de imaginar essas coisas o deixava desesperado. Parou o beijo e abraçou-a forte. Tão forte que chegou a deixá-la sem ar.
- O que houve, Draco? - perguntou, preocupada.
- Não sei... Não sei... Me promete uma coisa... - ele afrouxou o abraço, e embora continuassem abraçados, estavam olhando um para o outro.
- O quê? Me fala.
- Promete que você nunca vai me deixar...Promete? - perguntou com cara de pidão. Ao dizer isso, sentiu uma pontada em seu coração. E isso o preocupou. Definitivamente, estava ficando sentimental demais. E esperava que isso se restringisse apenas a Gina.
- Lógico que eu prometo. Nunca vou te deixar... E mesmo se um dia a gente se separar, eu vou continuar te amando. Eu nunca vou te esquecer.
Draco a abraçou novamente. E murmurou: 'Obrigada'.
Quando Gina ia se aventurar a perguntar se ele faria o mesmo, ouviram alguém falar na sala.
- Será que tem alguém nessa casa? Que insensibilidade!
Draco sorriu e disse:
- Vamos. Meu pai chegou. Ele realmente fica irritado quando não tem ninguém na sala esperando. Vamos.
Draco a puxou pelas mãos e seguiram pra sala. Quando chegaram, Narcisa já retirava o sobretudo do esposo enquanto este dava um beijo leve na testa da esposa. Gina começou a achar aquilo cada vez mais estranho. Lúcio Malfoy tendo uma atitude afetuosa? Não era possível. Estava imaginando coisas...
- Eu chego em casa, depois de um dia estafante no trabalho, aturo milhares de incompetentes, e mesmo assim não tem ninguém pra me receber...! - resmungou.
- Querido, nós temos visitas - Narcisa falou. Depois, abaixando o tom de voz, a ponto de só Lúcio escutar, continuou. - Portanto, controle seus comentários.
- Ah... Então nossa hóspede já chegou - disse com um sorriso torto nos lábios. - Creio que não se importará com o que eu disse, afinal, é verdade. Tem milhares de incompetentes no Ministério...
- Isso é verdade - Gina iniciou. - Mas nem todos são.
- Logicamente que não. Eu trabalho lá.
Narcisa deu um ligeiro cutucão no marido, que ninguém viu. Ele lhe lançou um olhar aborrecido e se aproximou da menina.
- Essa é minha namorada, Gina Weasley. E esse é meu pai, Lúcio Malfoy - Draco fez as devidas apresentações, assim como fizera com a mãe.
Lúcio esticou o braço e apertou a mão da menina. Narcisa deu um novo cutucão no marido, não tão discreto quanto o primeiro, e este se abaixou e beijou a mão da ruiva. Depois, discretamente, virou-se de costas e fez uma careta, vista apenas por sua esposa, que se esforçou para não sorrir.
- A filha de Arthur Weasley na minha casa... Isso sim é uma ironia do destino... Mas, vamos esquecer o que aconteceu no passado. Tudo. E vamos, daqui pra frente, viver em harmonia. Seja bem-vinda, Srta. Weasley.
Agora sim, Gina estava ficando louca ou tinha algo de muito errado ali. Lúcio Malfoy dizendo para viverem em harmonia? Que era bem vinda em sua casa? Esquecer o que aconteceu? Sim... Sabia exatamente o que escutara, e isso a assustava. Sem dúvida alguma havia algo de errado ali. Porém, lembrou-se dos milhões de vezes em que Draco lhe dissera que ninguém conhecia seus pais, e que eles não eram os monstros que todos falavam que eram. E, com tudo o que estava acontecendo, Gina estava sendo obrigada a concordar. Enquanto pensava nisso tudo, ela respondeu para seu 'sogro' que ele poderia chamá-la apenas de Gina, enquanto todos foram, juntos, até a sala de estar. Depois de pouco tempo, Lúcio pediu licença e se retirou para seus aposentos. Quando voltou, todos jantaram tranqüilamente (em silêncio, é necessário acrescentar), e depois seguiram cada qual para seu quarto, onde Gina passou, se não a melhor noite, certamente a mais confortável de sua vida.
*~*~*~*~*
Os próximos dias seguiram nesse mesmo estilo, sem nenhum incidente ou mal estar. Pelo contrário, a cada dia que passava naquela casa, Gina se sentia mais à vontade. Inclusive, vira todos os Malfoy sorrindo de verdade, numa noite onde Lúcio Malfoy contara uma história que acontecera com ele. E assim, chegou a noite de quinta-feira.
Todos estavam na sala de estar, após o jantar, conversando, como agora sempre faziam. Quando surgiu o assunto do baile, Narcisa, prontamente, se pronunciou.
- Querido... O baile é daqui a dois dias. Sábado! E eu ainda nem providenciei meu vestido... - resmungou.
- Mas, Narcisa... Você não comprou um vestido na semana passada? - o marido perguntou, descontraído. Olhou para o filho e deu uma piscadela. Draco e Gina sorriram discretamente.
- Você não está insinuando que eu use aquece vestido básico que eu comprei na semana passada, está? - perguntou Narcisa, frisando muito bem as palavras.
Os três sorriram abertamente.
- Estou apenas brincando, querida. É lógico que amanhã você pode comprar seu vestido e o que mais quiser. Aliás, eu sei muito bem o ataque daria se eu não deixasse... E só pararia quando desse meu aval.
- Eu não dou ataques – observou, em tom de ofendida. - E mesmo se você não desse seu aval, esqueceu que eu posso retirar dinheiro em Gringotes?
- Lógico que eu não esqueci. Como eu não esqueci que você odeia aqueles vagonetes... - disse tranqüilamente.
Narcisa soltou um muxoxo e os três sorriram novamente.
- Aquilo me dá náuseas.
- É verdade... Aquilo roda tanto! A primeira vez em que eu andei, queria ficar lá embaixo a pisar naquele vagonete outra vez - concordou Gina.
Narcisa sorriu, concordando. Draco pôde ver seu pai se contorcendo para não dar uma resposta ácida. Sabia que Lúcio estava fazendo isso, porque ele mesmo tivera de se controlar várias vezes para não fazer um comentário maldoso. E sempre agia do mesmo modo: olhava para os lados, sentia um repentino interessante no teto, e ficava fitando-o, até a vontade passar.
- Então... Draco e Gina vão fazer compras comigo amanhã? - Narcisa perguntou, inocentemente. Lúcio e Draco se encararam por um instante, até que o último respondeu:
- Ah, mãe... Sinto muito, mas eu vou ao trabalho do papai amanhã, e de lá nós iremos ao jogo do Puddlemere, não é, papai?
Lúcio olhou para o filho, um olhar repleto de zombaria. Draco pensou que seu pai iria negar tudo, e que assim seria obrigado a sair com sua mãe, mas felizmente Lúcio confirmou.
- Ah... Que pena - realmente parecia estar sentida. - Mas você também vai, Gina?
Draco apertou a mão de Gina, mas a menina ficou com tanta pena da Sra. Malfoy, afinal ela a tratara tão bem, que resolveu ser sincera.
- Não... Não, senhora. Eu posso lhe acompanhar amanhã.
Narcisa abriu um sorriso como se recebesse um presente, e disse:
- Ah, eu adoro fazer compras!
Lúcio e Draco reviraram os olhos ao mesmo tempo.
Durante o tempo em que Lúcio e Narcisa conversavam entre si, Gina resolveu cochichar com Draco.
- Por que você mentiu pra sua mãe?
- Porque simplesmente ninguém atura fazer compras com a minha mãe! Você vai ver, ela vai te fazer entrar em todas as lojas, de todos os lugares, e no fim não estará satisfeita. Se prepare, porque você se deu mal.
Draco sorriu sarcasticamente e Gina revirou os olhos.
Continua...
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N/A 1: Muito obrigada pelas reviews!!!! Elas são muito importantes pra mim! Obrigada msm!
N/A 2: Sei que pode parecer estranho essa 'simpatia' dos Malfoys... Mas lembre-se: para tudo há uma explicação. E com certeza, nesse caso, vai muito mais do que 'você não conhece meus pais' ou pura educação...Em breve vocês verão o que eu quero dizer... *mistério*
N/A 3: Se vocês acharam a atitude do casal Malfoy estranha nesse capítulo... Aguardem... O próximo será pior.
N/A 4: E enfim teremos o Baile!!!! Tcharã!!! Como será? O que acontecerá de diferente? O que nos surpreenderá? Apostem suas fichas! Até a próxima!!!!
Créditos:
- Mansão Malfoy
- Quarto da Gina
- sala de estar 1 - do chá
- Hall Circular
- Embora não tenha detalhado, mas esta é a sala de estar
