Capítulo 26- O início de uma nova Era.
Draco aparatou novamente em Hogsmeade. Olhou ao seu redor e viu que todas as lojas já estavam fechadas, o que não era normal, já que nem havia anoitecido ainda, embora faltasse pouco. Mas, ele sabia que o vilarejo estava naquele breu devido ao ataque ocorrido algumas horas antes. Precisava de algum modo chegar até Hogwarts e não via outro jeito a não ser ir caminhando. Estava tenso, nunca se vira em uma situação tão atípica, afinal, não era comum adolescentes irem até a escola, calmamente, carregando o corpo do próprio pai. 'Meu pai. Corpo. Ele está morto'. Tentava a todo custo digerir essa notícia, mas não era nada fácil. Estava se sentindo hipócrita e sujo, mas simplesmente não conseguia olhar para o corpo dele. Era algo que estava acima das suas forças convencionais. Mas mesmo assim, forçou-se a olhar pra ele mais uma vez. Conjurou um feitiço, fazendo com que o corpo dele flutuasse numa maca, e iniciou sua caminhada até a Escola. Sua maior sorte era que ninguém estava na rua nesse momento, portanto não seria importunado por ninguém.
Enquanto caminhava pensava na sua vida. O que faria de agora em diante? Seu pai estava morto! Não teria mais a quem recorrer quando estivesse aflito, quando tivesse alguma dúvida ou quando quisesse um simples conselho sobre o que faria com Potter. Estava sozinho. Tinha sua mãe, é lógico, mas tinha certeza que ela precisaria mais dele do que ele dela. Ela não aceitaria essa perda tão facilmente. Sabia como ninguém o quanto que eles dois eram ligados. Poderiam dizer tudo sobre a sua família, menos que um não amava o outro. Poderiam não amar mais ninguém além disso, mas entre eles, a relação era como em qualquer família exemplar.
E tudo isso era culpa daquele homem! Como a vida era irônica! Seu pai havia passado todos os seus anos dedicando-se a uma pessoa, formulando planos, executando-os, pra no fim ser morto por ela, num ato irracional, apenas para satisfazer um capricho próprio. Mas aquele homem pagaria... Sim... Ele pagaria por fazê-lo sofrer. Mas pagaria muito mais por fazer a sua mãe sofrer, como ele sabia que ela sofreria. Ainda não tinha certo na sua cabeça o que deveria fazer. Uma coisa era querer se vingar daquele que matou seu pai. Outra é querer estar do mesmo lado que o Potter. Isso ele não faria mesmo. Nunca em sua vida.
Nunca... Uma palavra tão forte, mas tão freqüentemente usada. Será que as pessoas sabiam da força que ela tinha ou apenas a diziam para dar alguma ênfase? Ele mesmo já a tinha dito muitas vezes. Disse que nunca se misturaria com um Weasley, e hoje era completamente apaixonado por uma. Disse que nunca deixaria de ser comensal, e hoje já pensava em como matar Voldemort. Será que realmente nunca ficaria do mesmo lado do Potter? Já não tinha mais tanta certeza. A única certeza que tinha nesse momento era querer matar aquele que homem... Matar ainda era pouco para tamanho ódio que estava sentindo. Queria vê-lo sofrer, exatamente como estava sofrendo agora. Queria que ele derramasse as exatas lágrimas que ele estava derramando. Só que aquele homem não amava a ninguém, nem a ele mesmo. Como poderia atingi-lo? Só a morte era capaz de castigá-lo e deixaria ao encargo dela fazer o serviço para ele.
Draco enxugou as lágrimas bruscamente, com a mão livre. Ele sentiu que tremia da cabeça aos pés, embora não sentisse frio. A sua nuca ainda latejava, mas não dava atenção, ela era muito menor do que a dor que estava sentindo dentro do peito. ' Se eu ainda tinha dúvidas que tinha algum tipo de sentimento, ela foi embora agora. Nunca senti tanta dor na minha vida '. Parecia que ele queria que a sua nuca doesse cada vez mais, num método doentio de se sentir melhor. Queria sofrer, queria se punir, numa tentativa frustrada de não se sentir mais culpado pela morte de seu pai.
Sabia que era exatamente isso que Voldemort queria. Que ele se sentisse cada vez mais culpado e se desestabilizasse emocionalmente. Mas isso não aconteceria. Ele sabia muito bem que seu pai não lhe lançou a Maldição porque o amava, e se ele tivesse algum pingo de ódio, ressentimento, mágoa, ou até mesmo desapontamento, aquela Maldição teria funcionado. E Draco sabia que por mais que seu pai odiasse o seu relacionamento com a Gina, por mais que ele quisesse fazer algo contra, ele nunca seria afetado. Seu pai poderia fazer todo o mal do mundo com relação a Gina, mas nunca faria nada contra ele. Por isso, sabia que seu pai não havia morrido por sua culpa. E sim pela crueldade daquele homem. Ele quis matar seu pai. Ele não hesitou em o fazer. Portanto, ele era o culpado. E era ele que teria que pagar.
Pensando ainda em como se vingaria de Voldemort, em como contaria para sua mãe a morte do seu pai, e em como seria sua vida dali em diante, Draco chegou até Hogwarts.
Já estava de noite quando chegou até a escola. Ventava e a Floresta Proibida parecia mais aterrorizante do que ele imaginava. Lembrou-se de quando entrou ali pela primeira vez, há sete anos atrás. Era apenas um menino mimado que fazia qualquer coisa pra chamar atenção e ser mais conhecido do que já era. Parecia um mundo longínquo, da qual ele se lembrava vagamente. Parecia que o dia anterior havia sido uma outra vida e que aquele garoto que somente pensava em vencer o Potter no quadribol, vê-lo derrotado e em namorar Gina Weasley havia morrido. Agora estava em um outro mundo e tinha que seguir conforme as suas regras. As regras, que agora seriam feitas e ditadas por ele.
Draco caminhou até a cabana abandonada, onde um dia Hagrid morou. Sabia que aquilo não era um lugar pra que seu pai ficasse nem um segundo, nem mesmo depois de morto, só que não poderia entrar com o corpo de seu pai pela escola. Ou deixaria o corpo do seu pai na cabana, ou deixaria no meio do gramado.
Olhou pro corpo inerte do seu pai por um momento. Não queria deixá-lo ali. Era como renegá-lo. Mas era preciso e somente por um instante. Em breve voltaria.Ainda hesitou por um momento, mas saiu da cabana. Tinha claro na sua cabeça que no momento em que pisasse do lado de fora daquela cabana seria um outro Draco Malfoy. Agora ele fazia as regras da sua vida. Agora ele comandava o jogo. E agora era a hora de agir.
[...]
O Salão Principal estava praticamente vazio. Alguns quartanistas corvinais, e alguns poucos grifinórios ocupavam a mesa. Draco passou direto, sem ao menos olhar para o lado. Foi em direção a masmorra, mas não passaria no Salão Comunal. Fora direto para a Sala de Poções.
Respirou fundo antes de bater na porta. Ainda hesitou duas ou três vezes até que o fez. Cerca de segundos, o professor Snape abriu a porta e o olhou com uma cara assustada.
- Draco? O que aconteceu?
O loiro então se tocou de que sua aparência não deveria ser das mais agradáveis. Chorara bastante, e sua pele, por ser clara, ficava facilmente marcada e o denunciava. Tinha ainda os cabelos completamente desarrumados e algumas marcas de sujeira no rosto e nas vestes.
- Preciso falar com o diretor.- disse sério.
- Receio que o diretor não possa lhe atender neste momento, Draco, mas pode me contar o que está acontecendo.
- Já lhe disse, professor.- disse Draco, já impaciente.- Tenho que falar com o diretor e isso têm que ser agora.
- Mas, Dra----
Draco interrompeu-o.
- Se o senhor não quiser me ajudar, eu vou até aquela porcaria que o diretor chama de escritório e esmurro aquela maldita fênix até que ele abra aquela maldita porta. Prefere assim?- sibilou.
Snape o olhou assustado por um momento. Nunca, em todos os dias daqueles sete anos, Draco falara desse modo com ele. Então deveria ter algo sério acontecendo. Ponderou por uns instantes até que disse:
- Venha comigo, Draco.
Foram andando em silêncio até o escritório do Dumbledore. Draco respirava forte e pisava duro. Sua mão estava involuntariamente fechada. Tentava não parar pra pensar no seu pai. Uma imensa vontade de largar tudo estava se apoderando dele. Perdera Gina e agora seu pai. De que adiantaria lutar? De que adiantaria se sacrificar? Tudo parecia ser em vão. Parecia que estava de mãos atadas, e que as decisões que tomava não surtiam efeito. Só que sabia que não poderia dar vazão a esses pensamentos. Deveria honrar seu pai. Não poderia vê-lo morrer e aceitar como um fato natural. Não era corajoso, mas não era um covarde. Lutaria até o fim. Voldemort pagaria.
Ouviu ao longe Snape dizer a senha. Era algo parecido com 'bolhas de sabão', mas não tinha certeza se era isso. Instantaneamente, a enorme fênix se moveu, e ambos entraram no escritório do diretor.
- Prof. Dumbledore...?- Snape pronunciou. Alguns segundos se passaram, em total silêncio. Draco agora estava nervoso, embora tivesse a mesma determinação de antes. Dumbledore, enfim, apareceu do outro lado da sala.
- Esperava pela sua visita, Sr. Malfoy.- disse serenamente.
Draco não entendeu nada. Como assim ele já sabia de tudo? Ninguém sabia ainda! Somente os comensais e ele! Quem poderia ter contado de algo?
- Como assim 'já esperava'?- perguntou rudemente, sem intenção.
Dumbledore apenas lançou um olhar para Snape, que se retirou do escritório.
- Sente-se, Sr.Malfoy.
- O que eu preciso falar com o senhor é algo de muito importante e urgente. Não creio que tenha tempo de sentar.
- Tenho certeza que o que você tem pra me dizer pode esperar por alguns minutos, Draco.- pela primeira vez em todos os anos que ele estudara em Hogwarts, o diretor o chamava pelo primeiro nome.- Sei que o que nós temos pra conversar vai te interessar bastante. Sei que você está com um problema, e é um problema grande, e eu te ajudarei a resolvê-lo.
Draco ponderou por alguns instantes, olhando fixamente para o diretor. Dumbledore não desviou o olhar, mas lhe lançou um olhar condescendente. O loiro, então, se sentou.
- Agora, me conte exatamente o que aconteceu...- o diretor pediu, também sentando em sua cadeira.
Draco não respondeu. Dumbledore deu um leve sorriso.
- Conte-me, então, apenas o que você quer que eu saiba.
Durante alguns segundos, Draco permaneceu calado. Estava juntando forças para poder contar tudo o que tinha acontecido a Dumbledore. Justo a ele. Seu pai sempre falara que Dumbledore era um bruxo idiota e amante dos trouxas. Mas ele era a única pessoa que poderia ajudá-lo no momento. E mesmo que isso traísse os seus princípios, era onde deveria se segurar. Porém, os anos de convivência com seu pai haviam lhe ensinado que não deveria confiar nem em si mesmo, por isso resolveu contar o que havia acontecido, mas com algumas distorções.
- Aconteceu um acidente. O vilarejo foi atacado, como o senhor já deve estar sabendo. E, meu pai tinha ido até lá, para me visitar. Infelizmente, um dos feitiços atingiu-o e agora ele está...- Engoliu em seco. Era a primeira vez que iria admitir em voz alta que seu pai estava morto.- Ele agora está morto.
- Eu entendo... E onde ele está agora? – Dumbledore perguntou, ainda demonstrando calma.
- Na cabana do guarda-caça.
- Bom, primeiramente, seria sensato que você fosse até a sua casa, avisar a sua mãe do ocorrido. Você é que tem que dar a notícia para ela, assim ela assimilará melhor a situação. Enquanto isso, o professor Snape e eu regularizaremos essa situação, no mais profundo sigilo.
Draco concordou levemente com a cabeça. Dumbledore prosseguiu.
- Você pode usar a lareira da minha sala para ir até lá via Flu.
O menino se levantou e antes de colocar a mão no pote com o pó, Dumbledore retornou a falar seriamente atrás dele:
- Uma vez eu li algo que dizia: ' O que pensamos é menos do que sabemos. O que sabemos é menos do que amamos. O que amamos é muito menos do que existe. E até esse ponto, somos muito menos do que somos'*. Pense nisso, jovem Malfoy. Poderia te dar todo o significado dessas palavras agora, para você. Mas acho que te fará bem refletir sobre elas. Pense no que você fará daqui por diante e se os seus conceitos valem realmente a pena. Você tem um enorme potencial, só que ainda não o descobriu. Esse é o momento. Essa é a hora. Pense nisso.
Draco nem ao menos se virou para trás pra dizer alguma coisa ao diretor. Apenas pegou um pouco do pó de Flu, jogou na lareira e disse bem alto: 'Mansão Malfoy!'
Depois disso, Dumbledore murmurou no seu escritório: 'Te espero novamente aqui em breve, jovem Malfoy'
[...]
Draco chegou na sua casa e sentiu um arrepio subindo pela espinha. Ainda tinha a impressão que seu pai entraria pela porta, dizendo que tudo tinha sido uma mera brincadeira, que era apenas mais um teste pra que ele se tornasse um comensal. Só que ele mesmo tinha visto o que tinha acontecido e, negar isso, era o mesmo que dizer que ele não sabia mais o que estava vendo ou dizendo.
Escutou o barulho do salto da sua mãe, como já era característico. Chegara a hora de contar pra ela. Olhou para o teto, no intuito de impedir que algumas lágrimas caíssem. Precisava demonstrar força, deveria ser forte para poder amparar a sua mãe.
- Lúcio? É você? Por Slytherin, como você demorou!- ela disse, do topo da escada.
- Não, mamãe. Sou eu.- Draco disse, com a voz embargada. Não conseguia evitar que ficasse abalado. Por mais que tentasse se manter sob controle, não conseguia.
- Draco? O que você está fazendo aqui? Onde está seu pai?- Narcisa já demonstrava sinais de preocupação.
Draco subiu as escadas em passos apressados. Ao chegar do lado da sua mãe, olhou pra ela por um momento.
- Aconteceu algo horrível, mamãe.
- O quê aconteceu? Conte-me logo!- ela pareceu reparar, de repente, nos machucados que ele tinha no rosto e as marcas de sujeira.
- O papai...Ele não está mais... Ele foi...- respirou fundo e abaixou a cabeça. Percebeu que não conseguiria falar olhando pra ela.- Meu pai está morto.
Silêncio.
Ele levantou o olhar e encarou sua mãe. Ela estava com o olhar estático, fixo em algum ponto na parede.
- Mamãe?- perguntou, receoso.
Ela, lentamente, tirou os olhos da parede e mirou seu filho.
- Que brincadeira de mau gosto é essa, Draco?
- Infelizmente não é brincadeira. É verdade. Meu pai está morto. O ataque não deu muito certo. O corpo está em Hogwarts. Dumbledore cuidará de tudo. E...
Ela ainda olhou-o por um momento. Sem dizer mais nenhuma palavra, retornou a caminhar, lentamente, em direção ao seu quarto. Draco ficou preocupado, ela estava muito estranha. Não havia imaginado que ela reagiria desse modo. Estava pior do que ele imaginava. Preferia mil vezes que ela tivesse desmaiado, ou fizesse algum escândalo, menos que ela não tivesse reação. Estava parecendo que havia perdido a sua alma. Resolveu ir atrás dela.
Quando virou no corredor, ainda conseguiu vê-la fechando a porta do quarto. Resolveu segui-la. Ao alcançar a porta do quarto, escutou um barulho como se algo tivesse quebrado. Pensou que fosse impressão até escutar pela segunda vez. Terceira. Quarta. Até que os sons de muitas coisas começaram a serem quebradas no quarto. Conseguia distinguir perfeitamente quando elas eram lançadas, atingiam a parede e se partiam. Começou a entrar em desespero, estava preocupado com o que a sua mãe poderia fazer e começou a bater na porta do quarto. Não poderia aparatar do lado de dentro, pois o quarto era protegido contra aparatações e a porta contra o 'Alorromora'. Socava a porta com cada vez mais força, porém sua mãe parecia não lhe escutar. Ela gritava cada vez mais alto, parecia descontrolada. A situação estava fugindo das suas mãos. Não sabia o que fazer. Não agüentava mais escutar sua mãe sofrendo sem poder fazer nada ou consolá-la. Quando estava se desesperando, o barulho cessou. Não conseguia escutar nenhum mísero sussurro.
- Mãe..?- Ele bateu na porta, ainda respirando ofegante.
Silêncio total.
- Mãe... Por favor, abra essa porta...- Pediu, novamente.
Nenhuma resposta.
Não sabia o que era pior: escutá-la quebrando todo o quarto, mas saber que ela estava 'bem', ou não escutar nada e não saber o que havia acontecido.
- Eu vou ser obrigado a arrombar essa porta. Mãe, é a última vez que eu peço pra abri-la...
Nada.
Nenhum barulho sequer.
Draco então, tomou distância e se preparou para correr em direção a porta. Quando se virou, ouviu um barulho dentro do quarto.
- Não ouse entrar neste quarto, Draco. Vá embora. Amanhã conversaremos.- ela disse, com a voz embargada, como se fizesse uma grande força para falar.
- Mas, mãe...
- Sem 'mas', Draco. Me obedeça.
Draco obedeceu. Foi até seu quarto na Mansão. Na realidade, queria por mais que tudo no mundo, ficar com a sua mãe, porque não queria ficar sozinho. Estar sozinho significava que ele seria obrigado a pensar em tudo o que havia ocorrido, todo o sofrimento, o ataque, a morte do seu pai... Parecia que tinha sido há tanto tempo, mas foi naquela tarde...Pareciam dias, mas tinha sido apenas algumas horas...
Ele se encaminhou até o espelho do banheiro. Estava com uma aparência deplorável, mas, mesmo assim, ficou se olhando. A sua imagem refletida no espelho demonstrava tudo o que ele havia passado, mas demonstrava também toda a mudança que havia ocorrido com ele. O cabelo, que sempre fora tão perfeitamente penteado, estava caído sobre os olhos, e ele não se importava com isso. Era o q ele menos tinha pra se importar no momento. Depois, ele lavou o rosto, tomou um banho demorado, vestiu seu pijama e deitou na cama.
Por incrível que pudesse parecer, o que mais se passava pela sua cabeça não era a morte do seu pai. Parecia que ele já tinha chorado, pensado e se culpado por tempo demais. O que mais povoava a sua cabeça eram as palavras de Dumbledore antes que ele deixasse o seu escritório. Pensava no que ele deveria estar querendo dizer com aquilo. O que ele queria dizer com ' E, até esse ponto somos muito menos do que somos'? Ele queria dizer que ele ainda não tinha atingido tudo o que ele poderia ser? Que havia muito mais dentro dele que ele sequer imaginava? Não sabia... Precisava pensar. Precisava entender... Faltavam poucos dias para tomar a decisão mais importante da vida dele, ele sabia. Sabia que, a partir do momento que lutasse contra Voldemort, lutaria contra tudo o que ele acreditou em toda a sua vida, mas sabia também que lutaria contra aquele que tirou a pessoa que ele tanto amava. E, foi pensando sobre o ditado de Dumbledore, que ele adormeceu.
[...]
No outro dia, bem cedo, Draco levantou-se da cama com um pulo. Depois de fazer toda a sua higiene pessoal, ele correu para o quarto da sua mãe. Ela demorou a responder, parecia que ainda não tinha acordado... Isso se ela tivesse dormido. Mas, em alguns instantes, ela abriu a porta do quarto e, Draco entrou, receoso, como se tivesse medo do que fosse encontrar dentro do quarto.
O quarto estava todo quebrado, completamente revirado, como se tivesse passado um furacão por lá. Percebera agora que sua mãe somente havia parado de quebrar as coisas porque não havia mais nada pra se quebrar. Olhou para ela. Estava deitada na cama, numa posição estranha, completamente encolhida, onde conseguia ver apenas um emaranhado que se tornou o cabelo. Ele conseguia escutar um soluço baixinho. Mas algo o assustou. O lençol, que era branco, estava manchado de vermelho. Era sangue.
- Você está sangrando! – ele disse, correndo ao encontro da mãe.
- Não é nada.- ela respondeu, com um soluço.
- Como não é nada? Estou vendo a mancha de sangue no lençol.
Ele virou cuidadosamente a sua mãe. Ela não ofereceu nenhuma resistência. Parecia não ter força pra tanto.
As mãos dela estavam com vários cortes, em diferentes lugares. Alguns eram superficiais, mas outros eram bem profundos.
- Isso está bem sério. Vou chamar um elfo.
- Não! Eu proíbo! Eu não quero ver nenhum imprestável desses na minha frente. Não quero que eles me vejam assim...
- Mas você precisa cuidar disso... Alguns cortes ainda sangram...
- Eu mesma resolvo.- disse, unicamente.
Ao enxugar as lágrimas, manchou com sangue o rosto, mas pareceu não se importar. Com alguns poucos feitiços, fechou a maioria dos cortes, mas os que eram mais profundos necessitariam de mais alguns cuidados.
Ficaram um tempo em silêncio, onde Draco encarava sua mãe, mas ela parecia não olhar para nada específico. Parecia estar mais entretida nos seus pensamentos, como se tivesse esquecido que ele estava ali ou que todo o quarto estava quebrado. Havia esquecido que havia um mundo ao seu redor.
- Como foi isso, Draco? Quero a verdade total. Não me esconda nenhuma vírgula.- ela disse, ainda sem olhar pra ele.
Draco começou a contar o que havia acontecido. Algumas vezes, ela olhava pra ele, mas não dizia nenhuma palavra. Ele contou sobre tudo, sobre o episódio com a Gina, em como tudo aconteceu enquanto eles estavam no círculo dos comensais e, como ele havia sido morto. Foi a primeira vez que Narcisa disse algo:
- Bruxo desgraçado!- ela murmurou entre dentes.
- Eu sei! Ele pagará!- Draco respondeu. Ela, então, levantou os olhos até alcançar os deles. E sacudiu a cabeça, em sinal de negativo várias vezes.
- Que foi, mãe?
- Não... Não...Não...
- Não o quê? O quê você está querendo me dizer? Diga mãe!
- Você não vai se meter nessa guerra suja, Draco. Você não vai se meter com esse verme! Ele tirou o seu pai de mim, porque ele foi tolo o suficiente pra não me escutar! Eu vinha alertando-o há tempos que o lado do Lord era o mais fraco. Que era pra ele sair enquanto tinha tempo, mas ele não me escutou. Ele deveria ter salvado o pescoço dele e ter deixado aquele homem se danar!- ela respirou fundo- Mas não... Agora, não temos o que lamentar, Draco. O que aconteceu, já aconteceu. Eu só não vou permitir que você se meta nisso. Deixe-o acabar com ele mesmo! Ele vai ter o fim que merece. Por favor, prometa pra mim...
Draco ponderou por um momento.
- Eu não posso fazer isso, mamãe. Sinto muito.
- Mas, filho...
- Não adianta! Eu pensei uma boa parte da noite, já decidi!!! Ele matou o meu pai na minha frente. Não teve nem um pingo de consideração. Por quê eu devo considerá-lo? NÃO! Eu quero vê-lo sofrer, eu quero matá-lo com as minhas próprias mãos, só assim poderei dormir em paz. Só assim saberei que honrei o nome do meu pai e que serei digno de usar o nome que ele me deu!
- Eu só tenho a você, meu filho. Se algo te acontecer, o que será de mim?- ela perguntou, não conseguindo evitar que lágrimas viessem aos olhos. Envergonhada, afundou a cabeça no travesseiro.
- Nada te acontecerá. E muito menos acontecerá a mim. Eu prometo.
Ele abraçou a mãe. E ficaram assim durante um bom tempo. Depois, Narcisa se recompôs, vestiu uma roupa adequada, ordenou que um elfo limpasse o quarto. Draco vestiu uma outra roupa, mais adequada, e os dois foram para Hogwarts.
~*~*~*~
Dias depois
- Professor... Eu preciso falar com o senhor...- Draco parou o diretor enquanto ele saía do Salão Principal após o café da manhã.
- Receio que agora não seja o melhor momento, Sr. Malfoy. Vá até meu escritório hoje à noite. Peça para o professor Snape te acompanhar até lá. Creio que você tem aula com ele hoje, não?
- Sim. Tenho sim, senhor.
- Então faça isso...
[...]
À noite, logo após as últimas aulas, Draco seguiu para a sala de Poções, onde encontrou o prof. Snape e foram juntos até o escritório do diretor. Dessa vez, escutou a senha direito, era 'Amendoim caramelado'. Anotou mentalmente, caso precisasse disso no futuro.
- Olá, Sr. Malfoy.
- Por favor, diretor, me chame somente de Draco.- ele nunca pensou que diria tal frase, porém, doía cada vez que escutava alguém chamá-lo de Sr. Malfoy. Doía lembrar que seu pai não estava mais com ele. Doía saber que não havia feito nada...
- Como você preferir, Draco. Eu sabia que você iria vir me procurar. Conte-me o que está acontecendo...
- Eu vou ser direto ao assunto. Eu quero me vingar. Eu quero ir pra guerra e acabar com o homem que destruiu a vida do meu pai. E eu sei que vocês estão lutando contra ele. A única coisa que quero é ir junto com vocês.
Snape olhou pra ele assustado. Provavelmente nunca teria imaginado escutar tal coisa dele.
- Vingança não é o melhor caminho que você pode seguir, Dra—
- É o único caminho que quero seguir. E, se vocês querem ajuda, acho melhor aceitar. Não esperem um ato de gratificação vindo de mim. Isso não vai acontecer. Mas eu sei que eu posso ser muito útil. Eu sei mais coisas sobre Voldemort do que vocês pensam.
Dumbledore permaneceu um tempo em silêncio.
- Eu sei que você pode ser muito útil aqui, conosco, Draco. Sei disso desde quando te vi pela primeira vez. Não duvido da sua capacidade e nunca duvidei. O que eu quero te dizer, é que eu sei que você não está aqui somente por vingança.
- Eu não penso assim.- Draco disse, unicamente.- Você não me conhece, então não me julgue deste modo. O que eu posso oferecer é o que eu te disse. Nada mais do que aquilo. Posso me juntar a vocês, ou não?
O diretor pareceu pensar por um momento e, Draco se sentiu incomodado ao ver que estava sendo analisado. Mas, mesmo assim, manteve-se impassível. Depois, Dumbledore retornou a falar.
- Muito bem, Draco. Eu sei que você está sendo sincero com suas palavras, embora eu não concorde com elas. Nós nos reunimos algumas vezes, para discutirmos o que deve ser feito. Creio que não precisa ser dito que, a partir do momento que você se juntar a nós, todos os seus interesses deverão ser em comum com os interesses do nosso grupo e, que você não poderá desistir. Está ciente disso?
- Estou.- Draco respondeu, sem hesitar.- Eu não desistirei. Tenho uma meta a ser cumprida e um objetivo a ser alcançado. E, eu não ficarei em paz enquanto não o conseguir.
- Muito bem... Muito bem... A próxima reunião é quinta-feira à noite. Venha, que eu te apresentarei ao grupo.
- Obrigada, diretor.- Draco disse, sem emoção. Com um ligeiro cumprimento, se retirou da sala.
Snape se aproximou do diretor.
- Tem certeza que ele está dizendo a verdade? Quer dizer... Será que é prudente aceitá-lo na Ordem?
- Snape... Eu te dei uma nova chance, há alguns anos atrás. Eu confiei em você. Portanto, nada mais justo que eu dê uma nova chance a esse rapaz. Ele está transtornado, mas sabe muito bem o que quer.
- Mas, dir---
- Assunto encerrado, Snape.
Snape concordou com a cabeça e também se retirou da sala.
[...]
Na quinta-feira à noite, Draco foi até a reunião. Estava ansioso, porque sabia exatamente como seria recebido. E, não deu outra. Fora hostilizado pela maior parte das pessoas que faziam parte da reunião da Ordem. Durante toda a reunião, sentia olhares na sua direção, como se ele fosse impostor, ou como se fosse algum tipo de mal, que precisasse ser erradicado. Porém, ele não se importava. Prestava mais atenção ao que Dumbledore dizia. Não sabia dizer se foi sua sorte, mas a reunião não havia demorado muito. Foi mais para a apresentação dele ao grupo. A reunião durou um pouco mais de dez minutos. Embora, ninguém tivesse contestado a decisão de Dumbledore, Draco viu que ele não era bem-vindo no local. Entretanto, não era isso que o faria desistir. Precisaria ser feito muito mais do que uns comentários atravessados ou cara feia. Ele sabia dos seus objetivos e enfrentaria tudo e todos para cumpri-los. Tinha que ir para a guerra e matar Voldemort. E, não importaria o que ele teria que fazer e o que ele teria que enfrentar. Não existira um obstáculo tão grande que ele não fosse capaz de enfrentar. Não era questão de coragem, era questão de provar para si mesmo e para todos que ele podia. Era questão de honrar o nome do seu pai e, para isso nada o impediria. Nada...
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N/A 1: Primeiro, eu devo milhões de desculpas pela imensa demora pra postar o capítulo. Eu sei que muitos devem estar querendo me matar, assim como a CarpeDiem, que demonstrou publicamente.. rs
Mas eu tenho algo para dizer a meu favor: Primeiro... Eu passei por milhares de problemas pessoais. Tirei nota vermelha na faculdade, e eu tive q me matar de estudar pra passar; Minha mãe operou e tive que tomar conta da casa; Passei por um bloqueio ENORME; Tive que resolver alguns problemas na net... Well... Problema não foi o que faltou... Mas agora eu estou de férias (que duram muito pouco, dia 6 de janeiro, eu começo a estudar novamente.. sux!) e posso postar com mais freqüência... Por isso, peço que me perdoem!!!
N/A 2: Esse capítulo não está betado. A Nici, minha beta, está doente, então ela não pôde betar o capítulo. Então, não reparem nos erros, ok? E se houver modificações no conteúdo do capítulo, eu aviso aqui, ok? Mas creio que isso não acontecerá...
N/A 3: Estou fundando um movimento pra todos os autores de fics: JK Mate o Dumbledore! Céus!!! Um dos motivos desse capítulo ter demorado tanto foi por causa dele... Meu bloqueio aparecia justamente nas frases dele, por isso não reparem, ok?
N/A 4: Gostaria de agradecer muito pelas reviews do último capítulo! Foram ótimas, viu? Amei!!!! Ah... As ameaças de morte tbm foram bem interessantes... hehehehe
N/A 5: O próximo (e penúltimo) capítulo, sai em breve. Mas é em breve msm. Não vou demorar mais um mês para atualizá-lo. Ele está quase completo... Talvez semana que vem eu atualize a fic, ok?
SILVER KISSES!!!!!
*Tenham medo! Os comensais estão chegando...*
