Apenas Ser



Abri os olhos,
Olhei o mundo.

Novo fundindo-se ao antigo,
Memórias...

Estava de volta
De volta ao mundo
No entanto, ainda à sua margem
Aquém

Minha alma havia se dividido
como eu queria,
Meu poder não,
...não como eu quis.

O poder, meu poder,
Que eu tanto quis
um dia... em outro tempo...,
Tira-me o doce êxtase da vida

Não quero mais o Saber,
Quero apenas Viver!

Preciso encontrar...
A pessoa certa,
Passar-lhe-ei meu poder
e não minha maldição

O coração mais puro,
O jeito mais doce,
A mente mais inocente.
E certamente essa pessoa
Não sucumbirá às armadilhas
Ambição... Poder...

Esperarei por ela...
Espero por ela...
Esperei por ela...

Quando, encontrei alguém.
Alguém com minha mesma missão,
Com minha mesma ambição,
Viver apenas,
sem Saber
sem Poder

Esta tinha algo a entregar
Um poder para minha escolhida

Nossas missões se entrelaçariam.
E eu já sabia... depois,
nossos destinos também entrelaçar-se-iam

Ao tempo certo, tudo começou...

Companheiras minhas de outra vida
Despertaram.

Por momentos saudei-me delas...

Espada,
Minha espada de dois gumes
Fina e delicada
Fria e mortal
Uma beleza incompreensível
Nada pode lhe deter, somente...

Escudo,
Aquele que protege
Tudo que se ama,
Tudo que é importante,
Mas pode ele proteger o coração?
Não... nem ele, nem barreiras, nem paredes podem
reais ou não...

Tranca,
Nem mesmo uma poderosa tranca
Que tudo lacra, que tudo fecha,
Pode fechar, verdadeiramente, um coração

O meu balançou
Sei que não devia mais,
Mas... não pude resistir

Passaria tudo à minha escolhida,
Só que ainda queria...

Queria minhas ânsias mais profundas
Aquelas que o desejo fez iniciar minha jornada
E também minha desgraça

Recriei-as
Em outra forma, outro formato
Duas novas entidades

Minha Lua,
Linda Lua,
Perfeita como nenhuma outra musa
Pele alva e pálida,
Cabelos cor cereja madura
Seu ar sério e sereno, dão-lhe uma etérea beleza
Mas em seus olhos posso ver
O mistério e a ameaça,
Como lado oculto de seu símbolo.
Suas asas rubro-negras de uma bela borboleta
dão-lhe uma poesia pitoresca e sensual
Minha Rubra Lua

Meu Sol
Poderoso Sol,
Forte, vigoroso, graciosa pantera negra
Seus modos sutis, sua intelectualidade...
Um amigo e companheiro para todos os momentos
Possui, como todos, uma doce loucura
Enrustida, escondida.
Seu mistério, sua escuridão
Mostram o quão negro, feroz e destruidor
Pode ser a luz e o calor da Vida
Meu Negro Sol

Enquanto que semelhantes
Diversos são de seus antecessores.
Na verdade,
Outros aspectos das mesmas jóias...
O dia; nele, ao invés da luz, o terror.
A noite; nela, ao invés do romance, o sangue.

Graças à minha experiência
Minha ânsia parou por aí
Nada mais criei
Eu não queria mais o poder!

Minha jovem escolhida aceitou a tarefa
Aceitou sem saber realmente o que aceitava

Mas essas coisas,
Coisas grandes,
já se sabia de antemão como seriam
Aos poucos ela conquistou,
Uma a uma, as minhas fabulosas criações
Ora tranqüilas, ora perversas

Trovão
Seus raios quentes e luminosos
São um esplendido e terrível espetáculo
Sons, cores, gritos, fogo, destruição, beleza...
Tudo que toca, destrói...
Tudo que faz, encanta...
Uma Fera confinada apenas à adoração

Luzes
Singela além de bela
Oh, fada encantada
Coadjuvante dos belos romances
onde, ilumina apenas bruxuleante


Minha jovem herdeira
Conseguiu conquistar toda minha antiga criação
Mas seu poder ainda era ínfimo
Mesmo agregado ao que lhe forneceu
minha amada amiga

Isso eu já previra

Os obstáculos que temos que vencer
Favorecem nosso Crescimento
Foi o que fiz.

Até que ela tivesse poder suficiente
Então...
Realizaria meu desejo
Enfim...

Tempestade
Natural fúria selvagem
Da vida, da natureza
De tudo contra tudo...
Mas depois dela,
depois da adrenalina, do medo
vem a calmaria...

Sombra
Calma e obscura
Um alívio estranho
Uma segurança indefinida
Uma forma sem própria forma
Uma vida sem própria vida
Ainda sim... serena.


Tudo saiu como imaginei
Mas nem tudo realmente foi como pensei

No fim, enfim...
Tudo terminou
Metade de poder a jovem retirou
Dando-o à outra metade de minha alma
mas não de mim mesmo...

Livre!
Finalmente eu estava livre.
Livre de todo o peso,
De todo o fardo do Saber,
Do Sentir...

Agora eu irei apenas viver.
Viver com meus grandes desejos,
Meu sol e minha Lua

E viver com
Minha única e verdade ânsia
Amor
Meu amor...
Àquela que foi minha amada amiga
Será agora minha amada mulher

Mas não foi tão fácil separar-me
De tudo que eu tinha
De tudo que eu "queria"
Eu achei a felicidade na simplicidade
Mas ela poderia estar em qualquer outro lugar

Amo e sempre amarei tudo aquilo que fiz
Mas eu sei que a felicidade deles
Não reside junto a meu ser
Por mais que eles pensem que sim

Meu anjo amante,
Minha primeira Lua
Magoou-se

Mas ele também será mais feliz
Sei que será
Porque eu jamais poderia lhe dar
Aquilo que ele sempre quis

Todos aqueles que entreguei
Estarão enraizados em meu Ser
E agora eu finalmente Serei o que sempre quis
Feliz

Minha jovem,
Sei que ela cuidará bem deles
Ela tem uma alma límpida
como quase não há no mundo.
Ou há?
Creio que deve haver
mais pureza no mundo que penso


É na própria fragilidade
Que esta a força de minha herdeira
Em sua ingenuidade
Não está sua fraqueza
Mas sim a energia vital
Que faz a vida valer a pena
De tanta beleza

Ela não se entregará
À vida vil, mesquinha, ambicionária
Será sempre a cor que dá luz ao mundo

Há alguém que cuidará dela
Com certeza, cuidará bem!
Mantendo aquele lindo sorriso

Ela viverá e fará aquilo que não pude fazer
Viver... e manter o poder límpido

...
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
...

Não estou mais aquém,
nem além.
Não mais só, nem vazio.
Estou com meu Sol, minha Lua,
E meu Amor

Acima de tudo,
Estou,
com meus sonhos,
meu coração,
minha vida
e a verdade.

Minha verdade.
Aqui...



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Diana C. Figueiredo
(Diana Lua)


Poema em negrito, fragmento de: Quase de Mário de Sá Carneiro.

(Tropeçado em 04/12/2003 pela manhã. Revisado 23/01/2004)